sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Intervalo

Essa crônica de Mário Prata (se nunca o leram, façam. Urgente!!!), aparentemente, não tem muito a ver com o teor do blog, marretar. Decidi postá-la porque gosto muito dela, e pronto.
Mas, depois, notei que ela tem, sim, coerência com meu blog.
Ela é uma bela duma marretada na ilusão da eterna juventude vendida, cada vez mais, pela mídia. Uma porrada delicadíssima nessa nova geração de velhos que não quer envelhecer, quando deveriam aprender a envelhecer. Uma traulitada nesses idosos que perdem (ou nunca tiveram) o senso do ridículo e passam a agir e trajar-se como seus netos. Uma nova e lamentável subespécie do Homo (dito) Sapiens: os velhos babões e as velhas biscatonas.
Leiam e aprendam com Mário Prata.

O INTERVALO
Depois de uma certa idade, começamos a perceber que, entre uma ação e outra, precisamos de um intervalo maior. Mais ou menos como se fosse um jogo de futebol entre velhinhos. Seriam dois tempo de 15 minutos, com um intervalo de 45. O intervalo é fundamental na nossa vida. E em todos os momentos.

No sexo, por exemplo. Essa garotada (e já fomos assim) praticam três, quatro ações quase que sem intervalo. Com o tempo, eles vão percebendo que as ações vão diminuindo e os intervalos aumentando. Até um dia, coitados de nós, que vamos ficar só no intervalo. Mas ainda não é o caso.

Comecei a pensar nisso outro dia ao ouvir de um escritor mais ou menos da minha idade (não foi o Fernando, Marina) a teoria do intervalo. Antes, porém, tenho que avisar que ele fez tais considerações diante da possibilidade de sucumbir aos galanteios de uma garota bem mais jovem. E muito mais curta, cerebralmente. Quase beirava à debilidade mental, dentro daquele corpo escultural. Mas ele foi categórico.

- Tou fora. Numa hora dessas eu penso é no intervalo. Já pensou?, o intervalo vai ser longo. E sabe-se lá o que essa menina vai falar ou querer nesse momento de meditação e relaxamento. Uma mulher dessas é para ações sem intervalos. Mas aí vão nos chamar de galinha. As mulheres querem a ação e o intervalo. E eu não consigo mais ter intervalos curtos. Entendeu? Tou fora.

E em tudo na minha vida o intervalo vai ficando maior.

O intervalo entre uma garfada e outra. É maior. Entre um gole e outro. Entre ir ver uma peça de teatro e voltar para outra. O intervalo entre uma respirada e outra, é maior.

O intervalo entre uma paixão e outra, meu Deus. A gente quer esticar ao máximo a ação, a paixão, pois sabe que vai cair num abismo demorado. Até voltar à tona, pode ser fatal.

Via-se os filhos todos os dias, todas as horas. Agora o intervalo é cada vez maior. E me parece que vai continuar a crescer. Antes ligavam e diziam:

vamos nos ver hoje? Agora, essa semana. E é normal. Quando meu pai me liga reclamando da saudade, digo: mês que vem, eu vou aí.

Em tudo, para quem já passou dos 50, o intervalo entre duas ações é cada vez maior. Menos na nossa vida digital. O computador, eu quero dizer.

Não nos dão trégua. Quando você consegue um Pentium I, não se usa mais nem o Pentium III. Apesar de eu ter um amigo que ainda está no 486 e nega-se a sair do intervalo. Cansa, diz ele. Quando você aprende uma artimanha nova, ela já está velha. E sempre tem um babaquinha de um amigo a comentar: nossa, você ainda não tem uma quickweb? Você ainda manda e-mail por escrito?

Pronto, você tem que deixar o intervalo digital de lado e partir para novas ações.

Só o tempo é implacável com o nosso ócio. Por exemplo: você já notou que 1980 foi há 21 anos? Doido isso, né? E Woodstock já vai para 40 e tem neguinho que se refere a ele como se tivesse acontecido no ano passado. Ali mesmo, na esquina.

Isso tudo porque na verdade eu queria escrever uma crônica sobre o futebol brasileiro. Mas já escrevi outro dia e sei que o intervalo ainda está pequeno.

Queria dizer umas coisas assim:

- no Torneio Rio-São Paulo, um time com 12 pontos pode ficar de fora e outro com 1 pode se classificar.

- o problema de ninguém saber como vai ser o campeonato brasileiro de futebol deste ano, é normal. O anormal é que desta vez ninguém sabe quem é que vai organizar.

- e o Paulista, onde 0 a 0 não marca ponto? Basta, no finalzinho, cada time deixar o outro fazer um gol. Um a um, marca.

E depois vem um deputado perguntar ao Ronaldinho por que o Brasil perdeu a Copa.

É o caso de se perguntar ao nobre deputado: por que o Brasil é o único país do mundo onde os crimes são investigados pelo Legislativo e não pelo Judiciário? Juiz não gosta de pizza? Nem nos intervalos das novelas brasileiras?

E, como você está reparando, o intervalo entre uma boa crônica e outra, nem sempre é de uma semana.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Miscigenação Diminui Q.I. do Brasileiro

Entrevista com o cientista político Charles Murray, publicada na revista ISTO É (out/2008)

Entrevista - Revista ISTO É
Miscigenação diminui o QI dos brasileiros
Cientista político americano diz que a elevada proporção de negros no País reduz o índice de inteligência nacional
por Rodrigo Cardoso e Daniela Mendes

O cientista político americano Charles Murray tornou- se mundialmente famoso em 1994, com o polêmico livro The bell curve, intelligence and class structure in american life (A curva do sino, inteligência e estrutura de classe na vida americana). Na obra, escrita em parceria com Richard Herrnstein, psicólogo e professor de Harvard, ele discute o papel do QI (coeficiente de inteligência) na sociedade. Segundo ele, o QI é mais eficiente para predizer como será a renda, o desempenho no trabalho e até chances de gravidez fora do casamento do que a escolaridade ou a situação socioeconômica da família quando comparam-se grupos.
Por sustentar que o QI dos brancos é mais alto que o dos negros, foi acusado de racismo e chegou a ter sua foto estampada ao lado da de Hitler. Murray acaba de lançar um livro sobre educação (Real education: four simple truths for bringing America's schools back to reality, em tradução livre Educação real: quatro simples verdades para trazer as escolas americanas para a realidade) e vem pela primeira vez ao Brasil para o seminário O Impacto dos Resultados Pisa e a Formação de Intelectuais na América Latina", organizado pelo programa de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Aos 65 anos, Murray participa do American Enterprise Institute, um centro de estudos conservador sediado em Washington.

ISTOÉ - Se as escolas públicas americanas são ruins, como o sr. diz, que soluções existem para a educação em países do Terceiro Mundo como o Brasil?
 
Charles Murray - Não conheço as escolas brasileiras, mas posso falar em linhas gerais: se ainda há muitas escolas brasileiras que são fracas nas coisas óbvias - instalações ruins, poucos professores, poucos equipamentos -, é fácil fazer melhorias importantes, e ver os indicadores brasileiros de educação melhorar também. Em um país como os Estados Unidos, os problemas são menos óbvios e mais difíceis de se resolver. Por exemplo, a burocracia educacional em muitas de nossas grandes cidades é incompetente. Como se dá um jeito em uma burocracia incompetente?
 
ISTOÉ - O sr. já foi acusado de racismo. Os brancos são mesmo mais inteligentes que os negros? 
 
Murray - Fui acusado de racismo porque mostrei um indiscutível fato empírico: quando amostras representativas de brancos e negros são submetidas a testes que medem a habilidade cognitiva, os resultados médios são diferentes. Isto não é uma opinião.
É um fato, da mesma forma que medidas de altura mostram um resultado médio diferente entre japoneses e alemães. Eu não tirei conclusões racistas deste fato, não advoguei políticas racistas, e tenho escrito explicitamente que a lei deve tratar pessoas como indivíduos e não como membros de grupos raciais. Então por que me chamar de racista? Porque alguns fatos não podem ser discutidos - e os indivíduos que os discutem devem ser pessoas terríveis.
 
ISTOÉ - O Brasil é um país onde a miscigenação é a regra. Isso significa que o QI médio do brasileiro é inferior ao dos nórdicos, por exemplo?
 
Murray - É uma questão de aritmética. Se em testes o QI é sempre maior com amostras de nórdicos do que com amostras de negros, então um país com uma significativa proporção de negros terá um QI médio inferior ao de um país que consiste exclusivamente de nórdicos. Isso é verdade, por exemplo, quando comparamos os Estados Unidos com a Suécia, da mesma forma que é verdade quando comparamos o Brasil e a Suécia. A única questão é empírica: as médias são sempre diferentes? Se são, a questão está respondida por si mesma.
 
ISTOÉ - Especialistas defendem o QI para medir algumas habilidades, mas não como prova de inteligência para a vida. Qual a sua opinião?
 
Murray - Concordo. Habilidades cognitivas medidas pelos testes de QI são importantes, mas para qualquer indivíduo é apenas uma das muitas habilidades e características que determinam como a vida será.
 
ISTOÉ - Estar tão focado no resultado do QI não é muito determinista?
 
Murray - Sem dúvida. Por isso sempre escrevi que as pessoas tendem a colocar muita ênfase no QI. Saber o QI de uma pessoa diz muito pouco sobre se você a achará admirável, gostável, um bom colega de trabalho ou um bom cônjuge. O valor dos testes de QI, para um cientista social, é usá-los para prever resultados em grupos grandes. Por exemplo, se você me mostrar duas crianças de seis anos, uma com 110 de QI e outra com 90, não tenho idéia de quem estará ganhando mais quando elas estiverem com 30 anos. Mas, se você me mostrar mil crianças de seis anos com 90 de QI e mil com 110, posso dizer com muita confiança que a renda do grupo de 110 de QI aos 30 anos será mais alta na média - essa é palavra-chave, na média - do que a do grupo de 90.
 
ISTOÉ - Até que ponto da vida é possível aumentar o QI?
 
Murray - É muito difícil aumentá-lo.
Nos Estados Unidos temos muitos programas experimentais com o objetivo de enriquecer o ambiente de aprendizado para crianças pequenas.
Eles mostram alguns ganhos a curto prazo, mas esses ganhos sempre desaparecem quando as crianças são testadas novamente anos mais tarde. Não temos nenhum programa que demonstre aumento de QI entre crianças maiores que sete ou oito anos.
 
ISTOÉ - Há pesquisas que mostram que é possível aumentar a inteligência. O que o sr. pensa sobre isso?
 
Murray - Estou sempre disposto a examinar novas evidências. Os trabalhos que conheço não dizem isso.
 
ISTOÉ - O que o sr. pensa sobre outros tipos de inteligência, como inteligência emocional?
 
Murray - Características pessoais como autodisciplina, perseverança, empatia e bom humor são muito importantes. Também há uma qualidade essencial, que Aristóteles chamou de "sabedoria prática", que está relacionada ao QI, mas engloba uma capacidade de avaliação muito mais ampla do que a detectada em um teste.
 
ISTOÉ - Existem diferenças no QI de homens e mulheres?
 
Murray - O consenso entre especialistas é que o QI médio de homens e mulheres é igual, mas o perfil de habilidades cognitivas específicas varia de acordo com o gênero. Uma minoria sustenta que existe uma diferença na média também, mas isso é uma questão extremamente técnica. Fico com a maioria até que surjam novos dados que provem o contrário.
 
ISTOÉ - As ações afirmativas podem consertar erros históricos?
 
Murray - Nos Estados Unidos a ação afirmativa tem sido destrutiva para brancos e negros. Por que não focar toda a nossa atenção em fazer um trabalho melhor tratando indivíduos de acordo com as qualidades que eles têm enquanto indivíduos? Para mim, isso é justiça. Tratar pessoas como membros de grupos, isso é racismo na minha visão.
 
ISTOÉ - Dados americanos mostram que, nos últimos 30 anos, a diferença entre o QI de brancos de 12 anos e negros de 12 anos diminuiu de 15 pontos para 9,5 pontos. Isto não prova que políticas inclusivas que estimulam os jovens funcionam?
 
Murray - Na verdade, dados mostram que a diferença está diminuindo e dados, tão convincentes quanto, mostram que não houve nenhuma redução nos últimos 30 anos.
 
ISTOÉ - O que pensa sobre cotas para mulheres, na política, e para deficientes em empresas e serviço público?
 
Murray - Odeio cotas.
 
ISTOÉ - A habilidade intelectual tem a ver com a geografia: um negro americano é diferente de um negro brasileiro que é diferente de um africano?
 
Murray - Há muita verdade nisso. Por exemplo, nós sabemos que o QI dos negros americanos é muito maior do que o dos negros africanos e uma grande parte desta diferença tem de ser atribuída às diferenças de ambiente onde eles cresceram.
 
ISTOÉ - Qual o peso do ambiente na inteligência?
 
Murray - As estimativas são de que o QI é entre 40% e 60% produzido pelo ambiente e o resto é genético.
 
ISTOÉ - Existem gênios que não têm QI excepcional?
 
Murray - Claro. Qual era o QI de Rembrandt? E de Mozart? Tenho certeza de que eles tinham um QI mais alto que a média, mas não há indícios de que era excepcional. A genialidade deles está em outras coisas. Newton e Gauss tinham habilidades matemáticas que, provavelmente, eram tão grandes que nenhum teste de QI poderia medir, assim como Shakespeare e Goethe tinham habilidades verbais excepcionais.
 
ISTOÉ - Há gênios no esporte?
 
Murray - Existem, claramente, gênios no esporte. Mas evito a palavra inteligência nesses casos, prefiro habilidade. Existe alta habilidade cognitiva e alta habilidade esportiva e elas têm muito pouca conexão entre elas.
 
ISTOÉ - Sem levar em conta sua opção política, quem é mais inteligente, Barack Obama ou John McCain?
 
Murray - Quem tem o QI mais alto certamente é Barack Obama.
 
ISTOÉ - O sr. deve angariar inimigos por causa de suas opiniões controversas. Como lida com isso?
 
Murray - Quando The bell curve foi publicado, fiquei deprimido com as críticas e preocupado em como fazer as pessoas entenderem o que eu tinha dito de fato, em vez de o que os meus inimigos disseram que eu disse. Agora, aos 65 anos, não ligo mais para o que as pessoas pensam.
 
ISTOÉ - Qual é o seu QI? O sr. está feliz com ele?
 
Murray - O sistema escolar da cidade onde eu cresci aplicava testes de QI nos estudantes aos 13 anos, e os resultados eram usados pelas escolas para guiá-las. Os estudantes nunca sabiam os resultados, por isso nunca soube qual é o meu QI. Sou feliz com minha habilidade verbal e gostaria de ter mais habilidade matemática.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

APEOESP, Um Covil de Encostados

A APEOESP, o maior sindicato dos professores do Estado de São Paulo, conseguiu suspender, via liminar, a utilização da nota obtida, em prova seletiva, na atribuição de aulas a milhares de ACTs, professores que nunca foram aprovados em concursos e dão aulas livremente pelo Estado, fazendo seu estrago pedagógico. Pela primeira vez, um governador tomou uma atitude decente em relação a isso.
E aí vem o tal sindicato e entra na "Justiça" para impedir essa tentativa de moralização. A APEOESP não é diferente de qualquer outro sindicato, é formado pela ralé da categoria, composto por "professores" que nunca deram conta de uma sala de aula, portanto há uma lógica na atitude da APEOESP, que é defender seus iguais.
Foram feitas perto de 200 mil provas, sendo que 3500 dessas provas obtiveram nota ZERO. Isso mesmo, um número próximo a 3500 "professores" nada acertaram sobre a disciplina em que são "especialistas". E, agora, com essa liminar de suspensão, essa corja de semianalfabetos já tiveram aulas atribuídas, estarão a partir de amanhã, 16/02, a cometer seu genocídio educacional.
Será que os "grandões" da APEOESP tem filhos estudando em escola pública e tendo aula com algum desses ZEROS? Ou será que é a dona juíza, concedente da liminar, que tem?
Alguém conhece algum outro cargo público onde se trabalhe sem aprovação em concurso?
Não, né? Só no de professor.
Abaixo um texto sobre a liminar, incluindo o nome da juíza.
"A APEOESP obteve medida liminar em ação civil pública que impede que o Estado não atribua aulas aqueles que não fizeram a prova seletiva, realizada no dia 17 de dezembro, e impede também que a nota obtida seja utilizada na classificação dos admitidos pela Lei 500/74 no processo de atribuição de aulas para o ano de 2009.
A juíza Maria Gabriela Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo, concedeu liminar favorável ao sindicato contra a prova imposta pela Secretaria da Educação. A liminar vale para todos os professores admitidos pela Lei 500. A liminar não abre a possibilidade de nova prova porque não houve pedido de anulação, e sim de desconsideração dos seus resultados. No texto da liminar, a juíza declara que "o quadro de professores da rede pública conta com profissionais antigos, especializados nas suas disciplinas. A este contexto, acrescente-se que a seleção realizada em 17.12.2008 pautou-se por disciplinas diversas as quais, deduz-se, integram compartimentos estanques entre as matérias lecionadas. Em outras palavras, esta avaliação repentina veio desprestigiar a especialização dos professores mais antigos da rede pública de ensino. Afeta o interesse jurídico de milhares de professores. Constitui um divisor de águas para a renovação deste quadro docente.".

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Deus, o Cansaço de Todas as Hipóteses

O título é citação de Fernando Pessoa, perfeito, aliás, sem nenhuma novidade.
Posto também outras citações, de outros autores.
“Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser. O cansaço de todas as hipóteses...” Fernando Pessoa;
“A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia, uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.” A. Einstein;
“Se não há um deus, estamos corretos; se há um deus indiferente, não sofreremos; se há um deus justo, não temos nada a temer pelo uso honesto da racionalidade; mas, se há um deus injusto, temos muito a temer – assim como o cristão.” George Smith;
“Não confio em gente que sabe exatamente o que Deus quer que elas façam. Sempre coincide com aquilo que elas próprias desejam.” Susan Brownell Anthony;
“Mitologia é o nome que damos às religiões dos outros.” Joseph Campbell;
“Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e estabelecidas.” Feuerbach;
“Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?” Epicuro;
“Você diz que acredita na necessidade da religião. Seja sincero! Você acredita mesmo é na necessidade da polícia.” Nietzsche;
“O médico vê o homem em toda a sua fraqueza; o jurista o vê em toda a sua maldade; o teólogo, em toda a sua imbecilidade.” Schopenhauer;
“Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.” Anatole France;
“O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.” Nietzsche;
“Para os peixinhos do aquário, quem troca a água é Deus.” Mário Quintana.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Carta de Desbatizado

Com certeza, você não foi consultado(a) quanto à realização de seu batizado. Se, de lá para cá, você ficou mais esperto(a) e não quer mais seu nome constando nos registros do Vaticano como parte da comunidade católica, preencha o modelo de requerimento abaixo e o entregue ao atual padre da paróquia onde foi batizado
CARTA DE DESBATIZADO

Senhor Padre,

Tendo sido batizado na Igreja...................................................... será
do meu agrado possuir no registro de batismos relacionado ao meu nome a seguinte menção:
Renunciou a seu batismo por carta datada de .............................

De fato, minhas convicções filosóficas não correspondem àquelas das pessoas que, de boa
fé, acharam que deviam me batizar.

Será, assim, a perfeita expressão da verdade, que você e eu respeitamos, evitando a mentira que poderia fazer crer, vendo meu nome nestes registros, que eu faço parte da comunidade católica.

Assim, meus escrúpulos e os seus serão preservados, e vossos registros livres de qualquer ambigüidade.

Note que, legalmente, a igreja não pode recusar um requerimento de desbatismo, porque seria possível recurso legal contra, não importa que seita.

Aguardando vossa confirmação escrita, vos peço que aceite a expressão de meus distintos
sentimentos.

Data: ... /.../...

________________________________
assinatura

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Inveja Que Eu Tenho dos Fungos e Bactérias

Há um consenso burro, de uns tempos para cá, de que todo conhecimento passado nas escolas deve ser atrelado ao cotidiano do aluno, de que a escola deve falar a “linguagem” do aluno.Paulo Freire, por quem não nutro menor apreço ou admiração, antes pelo contrário, considero-o mais um embuste pedagógico, escreve em seu Medo e ousadia. Rio de janeiro, Paz e Terra, 1987 :“O conhecimento lhes é dado como um cadáver de informação- um corpo morto de conhecimento- e não uma conexão viva com a realidade deles. Hora após hora, ano após ano, conhecimento não passa de uma tarefa imposta aos estudantes pela voz monótona de um programa oficial.”Sim.
Mas isso não é ruim.Cabe aos que recebem esses "cádaveres" ser assemelhados aos decompositores, fungos e bactérias.
Esses seres tomam e degradam a matéria morta em seus componentes básicos e inorgânicos, que serão utilizados como "tijolos" de novas vidas, plantas, animais e outros fungos e bactérias.
Fungos e  bactérias não reclamam, trabalham.
Não esperam cestas básicas ou liminares de promotores para que sejam "incluídos" em um ambiente ao qual não se ajustam e só desequilibram. Bactérias e fungos desconstroem o que não lhes serve e criam o que lhes é adequado.
Com o conhecimento tem que ocorrer o mesmo. Temos que conhecer o tradicional para podermos construir o inovador, conhecer os clássicos para escrever o moderno.
O conhecimento acadêmico passado nas escolas NUNCA esteve diretamente conectado à sua época, sempre foi uma velha fotografia, sempre foi luz de estrela distante.
É dever de quem o recebe, decompô-lo e transformá-lo em novo conhecimento, passá-lo à frente para que outros o decomponham, ad infinitum. 
Bactérias e fungos, considerados organismos inferiores, não reclamam da vida, se viram, dão um jeito.
Reclamar e querer tudo de mão beijada é coisa de organismos "superiores", não querer realizar trabalho e esforço, idem.
Ainda mais se amparados por estatutos de tolerância e bons samaritanos em geral, sociólogos, psicólogos e outros "ólogos" da vida.
O conhecimento não tem que estar obrigatoriamente ligado à realidade, ao cotidiano; isso não é conhecimento, é senso comum.
E não foi o senso comum que projetou vossas casas, os remédios a que recorrem numa doença, vossos carros, vossos insuportáveis e inseparáveis celulares, tampouco esse computador através do qual me comunico.
Por que vocês que tanto defendem o conhecimento anexado ao cotidiano não levam seus filhos a uma benzedeira ao invés de um médico?
Para que o educando mude a realidade que o cerca, ele precisa de elementos alheios a ela e não mais e mais do mesmo.
"Falar a linguagem do aluno", morro de nojo quando escuto isso.
É dever da escola apresentar-lhe novas linguagens.
Bombardear o aluno, na escola, com seu cotidiano é condená-lo para sempre a esse mesmo cotidiano.
Mostrar-lhe outras esferas é dar-lhe uma chance.
Repisar o cotidiano do aluno é colocar a realidade dele – ruim, muitas vezes – como a única possível e alcançável; desejável, até.É domesticá-lo para que continue servindo aos propósitos do Estado.É manter o status quo, os estratos.Se essa é a vossa intenção, “educadores” e pedagogos teóricos, estão de parabéns.Parabéns também aos que, na prática, ainda que a vejam tão diversa, abraçam tais elocubrações de gabinete feito vacas de presépio.
São, todos vocês, técnicos de manutenção desse Novo, porém nada Admirável Mundo.
Por isso, morro de inveja dos fungos e das bactérias.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Deus Gosta de Ver Meninos Tocar Punheta

Que eu me lembre, Deus - o conceito de Deus - não chegou a me incomodar muito até os meus 13 anos.
Houve ligeira perturbação à época da primeira comunhão, eu, então, com uns 9 ou 10 anos, amigos no catecismo e tudo. Cheguei a ter em mãos tal material, um livreto impresso em azul e com desenhos toscos, mas eu já havia tomado contato com os mitos gregos e os desenhos de John Buscema, Jim Steranko, Jack Kirby, e aquele catecismo me pareceu paupérrimo em argumento e ilustração, não me interessei por aquela balela de Adão e Eva.
Além disso, ouvia pela boca dos amigos, havia a hora da confissão ao padre e eles ficavam inventando e combinando "pecados" entre si, responder à mãe era o mais recorrente e plausível do acervo, os outros eram puramente ficcionais. E que pecado eu tinha, então? Os mesmos que tenho agora com mais de 40 anos, ou seja, nenhum.
Como tudo em qualquer religião absurda - e todas o são -, os pecados só existem para quem neles acreditam. Mas, como disse, não cheguei a ficar incomodado pela ligeira estranheza dos meus conviventes.
Uns três anos depois, por uma série de contingências que aqui não são relevantes, fui posto a estudar em um colégio de padres salesianos. E lá havia um, padre Filinto, cuja missão de vida era pregar contra a masturbação. Onanismo, nas palavras dele. Sempre rebuscado de eufemismos, ele desancava a masturbação, a quiromania, a lúdica e salutar punheta.
A figura materna era colocada, por ele, como primeira vigilante desse vício solitário (sabem que no Aurélio, ainda hoje, vício solitário é um dos significados de masturbação ?). E se o zelo materno falhasse, era acionada a cavalaria : Deus.
Desse não havia como escapar ou esconder, ele via e sabia de cada menino punheteiro.
Foi a partir daí que comecei a pensar verdadeiramente no conceito de Deus, a partir disso, estabeleci, pela primeira vez, uma relação com Deus, a de descrença.
Ora, porra. Por que um cara que é onisciente, onipresente e onipotente, com um puta e enorme universo para gerenciar, ficaria olhando para um bando de punheteiros?
Era muita incoerência, mesmo para minha cabeça de 13 anos. Ou esse cara não era "oni" em coisa nenhuma ou era um pervertido. Se não era "oni", não se sustentava como deus e, portanto, não existia; se era um pervertido, também não me interessava como Deus.
Um padre me fez rejeitar o conceito de Deus.
E quando ele falava dos olhos de Deus sobre nós, os dele brilhavam de inveja, queria ele, também e com certeza, observar as piroquinhas duras da molecada.
Mas o que eu sei é que eram inícios da década de oitenta, início da chamada "Abertura" no país e com ela, os primeiros peitos e bucetinhas nas "Playboy", "Status" e "Ele e Ela".
Contra isso, óbvio, o discurso do padre Filinto sempre capitulava, a molecada mandava ver, havia um tal Silas cuja fama era de cinco punhetas por dia. Eu mesmo já tentei atingir tal marca, nunca passei de quatro.
A culpa vinha, é claro, mas o confessionário aliviava o delito da meninada e fornecia "material" para as posteriores punhetas do padre confidente. Ficavam todos satisfeitos, tudo em nome de Deus.
Depois disso, fui me dando conta de outras contradições na construção de Deus, Deus é uma teoria cheia de furos, mas isso também não vem agora em questão.
Só sei - tenho certeza disso - que o mundo e as pessoas seriam bem mais felizes se tivessem feito o que eu fiz : troquei Deus por uma boa e relaxante punheta!!!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Conto Cruel

A uremia não o deixava dormir. A filha deu uma injeção de sedol.
- Papai verá que vai dormir.
O pai aquietou-se e esperou. Dez minutos...Quinze minutos...Vinte minutos...Quem disse que o sono chegava? Então, ele implorou chorando:
- Meu Jesus-Cristinho!
Mas Jesus-Cristinho nem se incomodou.

Manuel Bandeira; Estrela da vida inteira

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Inutilidade da Teologia

Autor: Richard Dawkins
Tradução: Vinicius de Abreu Waldow
Fonte: Sociedade da Terra Redonda
Original: Free Inquiry magazine, Volume 18, Número 2.

Um editorial infeliz e ingênuo do jornal britânico Independent recentemente pediu uma reconciliação entre ciência e “teologia”. Dizia que “As pessoas querem saber o tanto quanto possível sobre suas origens”. Com certeza, espero que elas queiram, mas o que diabo faz alguém pensar que a teologia tem algo de útil para dizer sobre esse assunto?
A ciência é responsável pelas seguintes informações sobre nossas origens. Nós sabemos
aproximadamente quando o Universo surgiu e porque ele é, em sua maioria, de hidrogênio. Nós sabemos por que as estrelas se formam e o que acontece no interior delas para converter hidrogênio em outros elementos, dando origem à química em um mundo físico. Nós sabemos os princípios fundamentais de como um mundo químico pode se transformar em biologia através do aparecimento de moléculas autoreprodutoras.
Nós sabemos como o princípio da auto-reprodução deu origem, através da seleção
darwiniana, a toda a vida, incluindo os humanos.
Foi a ciência e apenas a ciência que nos ofereceu esse conhecimento e, além disso, o ofereceu em
detalhes fascinantes, preponderantes e que se confirmam mutuamente. Em cada um desses aspectos, a teologia tem mantido uma visão que se mostrou definitivamente errônea. A ciência erradicou a varíola, pode imunizar contra a maioria dos vírus e matar a maioria das bactérias que anteriormente eram mortais. A teologia não tem feito nada a não ser falar das doenças como punições para nossos pecados. A ciência pode prever quando um cometa em particular irá reaparecer e, de quebra, quando o próximo eclipse irá ocorrer. A ciência colocou o homem na Lua e lançou foguetes de reconhecimento ao redor de Saturno e Júpiter. A ciência pode lhe dizer qual a idade de um fóssil específico e que o Santo Sudário de Turim é um embuste medieval. A ciência sabe as instruções precisas no DNA de vários vírus e irá, durante a vida de muitos leitores presentes, fazer o mesmo com o genoma humano.
O que a teologia já disse que teve qualquer valor para alguém? Quando a teologia disse algo que foi demonstrado como verdadeiro e que não seja óbvio? Tenho ouvido os teólogos, lido o que escrevem, debatido com eles. Nunca ouvi algum deles dizer algo que tivesse alguma utilidade, qualquer coisa que não fosse trivialmente óbvio ou categoricamente errado. Se todas as realizações dos cientistas forem apagadas do mapa no futuro, não haverá médicos, e sim xamãs; não haverá meio de transporte mais rápido que o cavalo; não haverá computadores, nem livros impressos e, muito menos, agricultura além das culturas de subsistência. Se todas as realizações dos teólogos forem apagadas do mapa no futuro, alguém perceberia a mínima diferença? Até mesmo as realizações negativas dos cientistas, como as bombas e navios baleeiros guiados por sonar funcionam! As realizações dos teólogos não fazem nada, não afetam nada, não significam nada. Afinal, o que faz alguém pensar que “teologia” é um campo do conhecimento?

Richard Dawkins é professor de entendimento público da ciência na Universidade de Oxford, e autor de "O Gene Egoísta", "A Escalada do Monte Improvável" e "Desvendando o Arco-Íris"
.

Preparados para perder

A marretada vai agora no mito da "moderna" educação, da peidagogia de "vanguarda". Com vocês: Gustavo Ioschpe, economista e especialista em educação (a verdadeira, não a do assistencialismo fajuto, não a da condescendência, não a da permissividade).

"No mês de julho, foram disputados outros Jogos Olímpicos: os escolares. Tivemos as Olimpíadas de Química, Física, Matemática e Biologia. Das 142 medalhas de ouro distribuídas nessas competições, o Brasil ganhou... zero."

O Brasil foi excepcionalmente bem nos últimos Jogos Olímpicos. Com catorze medalhas de ouro, ficamos em 14º lugar – destaque para o nadador Clodoaldo Silva, seis ouros. Infelizmente falamos da Paraolimpíada de Atenas, já que na última Olimpíada convencional o Brasil teve desempenho pífio: três ouros, 23ª posição, atrás de países como Jamaica, Quênia e Etiópia. Creio que essa diferença de performance entre os dois tipos de competição não seja totalmente acidental.

As razões costumeiras não parecem explicar bem os motivos do nosso fracasso. O primeiro vilão apontado é a nossa pobreza. Mas o Brasil é hoje a décima economia do mundo, não a 23ª.

A segunda razão comumente apontada é o pouco investimento em esporte no país. Em 2008, não foi o caso. Segundo a Folha de S.Paulo, apenas o governo federal investiu 1,2 bilhão de reais em esportes olímpicos desde Atenas. Sem incluir o orçamento de fontes próprias do COB, esse valor significaria um custo de 400 milhões de reais por ouro. O custo do Comitê Olímpico americano – financiado basicamente sem dinheiro público – foi de 32 milhões de reais por ouro.

A impressão que ficou de nossos atletas é que seus fracassos se deveram mais a questões psicológicas do que financeiras ou estruturais. E isso importa não por causa da Olimpíada, que tem valor apenas simbólico, mas porque essa mentalidade se reproduz em toda a vida nacional, com conseqüências reais.

No mês de julho, foram disputados os Jogos Olímpicos escolares: Química, Física, Matemática e Biologia. Das 142 medalhas de ouro distribuídas nessas competições, o Brasil ganhou... zero.

Não temos apenas carências materiais a nos complicar a vida: temos uma cultura que abomina a competitividade, desconfia dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando o nadador César Cielo, não por acaso treinado nos EUA, declarou que iria em busca do ouro, o desconforto dos comentaristas televisivos foi audível: muita saiva gasta para deixar bem claro que se tratava de "autoconfiança" e não "arrogância".

Porque melhor um bronze humilde do que um ouro arrogante! Se Michael Phelps tivesse nascido no Brasil, seria provavelmente exilado ao declarar a intenção de bater o recorde de medalhas em uma Olimpíada. Só num país de perdedores uma classificação para final olímpica é vista como "garantia de prata", e não uma chance de 50% de ouro. Só no Brasil se ouvem atletas dizendo que o bronze valeu ouro, só aqui se vê um chororô constante e público de favoritos que foram vencidos por seus nervos.

Só aqui um atleta como Diego Hypólito, depois de cair sentado em sua competição e ainda ter a pachorra de culpar os céus ("Deus não quis. Deus decidiu isso."), é recebido com festa e escola de samba.

Nós nos preocupamos mais em ser campeões morais do que campeões de fato.
Valorizamos o esforço mais do que o resultado. Acreditamos que o sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, ao contrário dos países que dão certo, em que o sucesso do resultado é que redime o sofrimento do percurso.

As desigualdades que se acentuaram ao longo de governos autoritários parecem ter originado a idéia estapafúrdia de que, em uma democracia, os cidadãos devem ser iguais. Não tratados da mesma maneira: pelo contrário, tratados de maneira desigual, para que no resultado final se estabeleça a igualdade.

Como é impossível elevar todos aos píncaros da glória, já que as aptidões individuais são diferentes, o objetivo passa a ser a mediocrização total. Por isso a palavra-chave dos tempos que correm é a "inclusão", e não o "mérito": para trazer todos à média, é preciso focar a atenção nos deficientes e ignorar – quando não reprimir – os talentosos.

Esse é sem dúvida um traço cultural, difuso, do brasileiro. Mas não há dúvida quanto ao locus no qual essa mentalidade é mais amplamente difundida e inculcada: a nossa escola. Há leis sobre o acolhimento de crianças com deficiências físicas e mentais na sala de aula; há preocupação com a questão dos excluídos no programa de livros didáticos do MEC, até da área de ciências.

Mas não existe nenhuma preocupação oficial com a identificação e o desenvolvimento daquilo que o país tem de mais precioso: grandes mentes. Pelo contrário: quando esses esforços existem, normalmente vindos da iniciativa privada, são rechaçados pelos políticos dos mais diversos matizes.

Quando uma ONG chamada Ismart, capitaneada por Marcel Telles, quis institucionalizar seu programa de bolsas a jovens talentos pobres de São Paulo, ouviu do então secretário estadual, Gabriel Chalita, que o instituto estava proibido de aplicar suas provas na rede estadual para descobrir os talentos e também de divulgar a iniciativa.

Caberia à secretaria, com seus métodos e em privado, identificar os candidatos. Na secretaria municipal da gestão Marta Suplicy a recomendação foi mais direta: se havia uma preocupação com os alunos fora de série, por que não focar naqueles com síndrome de Down? Não é por acaso que o nosso censo escolar identifica míseros 2 553 alunos superdotados em um universo de 56 milhões de estudantes da educação básica: é preciso uma cegueira proposital para ver tão pouco.

A ojeriza à meritocracia em nossas escolas vem sob a desculpa de que a competitividade pode causar profundos danos à psique das crianças.

Um sistema educacional como o chinês, em que os melhores alunos de cada sala são identificados publicamente – em algumas escolas, através do uso de lenços coloridos – e posteriormente transferidos às melhores escolas, desperta em nossos professores os seus instintos mais primitivos. Freqüentemente ouve-se que sistemas assim levam as crianças ao suicídio, depressão etc.

É a senha para que criemos uma escola inclusiva, afetiva, que cria seres felizes e éticos. É uma empulhação sem tamanho. A literatura empírica educacional aponta o benefício de o aluno fazer dever de casa e ser avaliado constantemente, por exemplo. Práticas malvistas por nossos professores, porque supostamente significariam acabar com o componente lúdico da infância e, com certeza, roubariam o tempo lúdico do professor.

Pior ainda: a suposta escola do afeto e da felicidade produz muito mais miséria, e por período bem mais longo de tempo, do que as agruras de um sistema meritocrático que premia o trabalho.

O que é melhor: "sofrer" por algumas horas por dia na infância estudando com afinco e ter uma vida próspera e digna ou passar a juventude em brincadeiras e amargurar toda uma vida na humilhação do analfabetismo, do subemprego e da pobreza? Qual a sociedade que produz menos violência e infelicidade: aquelas em que os alunos brincam ou aquelas em que estudam?

Enquanto prepararmos a futura geração para que escolha entre o sucesso e a felicidade, o Brasil permanecerá sem os dois.