sábado, 28 de dezembro de 2019

Dois Papas

O dois a bordo de um helicóptero oficial da República Italiana, o Papa Bento XVI e o então cardeal Jorge Bergoglio, o futuro Papa Francisco I. Bento XVI vê uma plantinha em um torrão de terra envolto por um saco plástico nas mãos de Jorge Bergoglio.
- Esta plantinha, é manjericão? - indaga Bento XVI.
- Orégano - responde Bergoglio -, foi o seu jardineiro que me deu.
- Ah, sim... você é muito popular - diz Bento XVI -, essa sua popularidade... tem um segredo?
- Tento ser eu mesmo - revela Bergoglio.
- Oh, quando faço isso, as pessoas não gostam de mim - diz Bento XVI.

Nem preciso dizer qual dos dois papas é o meu favorito, né?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Explodiram as Pregas do Porta dos Fundos (Ou : Quem com Humor Fere com a Fé Será Ferido)

Amor com amor se paga. E o humor? Qual a paga recebida pelo humor?
Antigamente, creio que até as décadas de 1970, 1980 e mesmo na nebulosa e de transição década de 1990, humor com risada se pagava; se não com uma gargalhada, no mínimo, com um reflexivo sorriso de canto de boca.
A partir de então, voz dada aos imbecis, aos oprimidos e às vítimas profissionais, às "causas sociais" e a outros oportunistas, o humor começou a ser pago com processos judiciais indenizatórios, por calúnia e difamação, por racismo, por homofobia, por sexismo, por assédio etc. Todo mundo ávido por lavar a honra e, de quebra, levar uma boa duma graninha para casa, graninha pela qual nada fez por merecer, pela qual não trabalhou, uma graninha pro churrasco, pra cerveja e pro pagode, ou pro funk, do fim de semana. Que, no Brasil, honra se lava é com indenização indevida.
Agora, vistos os últimos acontecimentos, parece que humor com bomba se paga.
Estouraram os fundilhos do Porta dos Fundos! Em inglês - filme pornô também é cultura -, backdoor é termo eufemístico para sexo anal, para pôr no cu de alguém : atolaram uma bomba na backdoor do Porta dos Fundos, explodiram as pregas do Porta dos Fundos.
Há tempos que o Porta dos Fundos vinha cutucando a onça cristã com herege vara curta, até que veio o gota d'água, o cutucão final : no vídeo A Primeira Tentação de Cristo, o Porta dos Fundos sugeriu a homossexualidade enrustida de Jesus, cutucou o incutucável, cutucou o cu do Nazareno.
Na terça-feira, na simbólica data de 24 de dezembro, véspera do suposto nascimento do suposto Cristo, três homens encapuzados perpetraram um atentado à bomba contra a sede do Porta dos Fundos, localizada em bairro nobre da região sul do Rio de Janeiro. Foram atirados coquetéis molotov contra a produtora de vídeos.
Normal. Não desejável, mas normal. Um crescente de violência natural do politicamente correto, que culpa e crucifica o humorista, o Bobo da Corte por seus relatos e narrativas, e não aos protagonistas das histórias, simplesmente, por ele observadas e contadas : o rei e toda  uma sociedade hipócrita de costumes. Penalizar o bobo da corte é uma forma da sociedade empurrar todo o seu lixo e a sua podridão para debaixo do tapete.
O humor é uma forma de jornalismo, de registro histórico de uma época, uma factual e sem retoques crônica de costumes. O principal : o humor é a manifestação artística de um dos mais apurados tipos de inteligência, a ironia. Por isso, ele tanto incomoda : demonstrar inteligência em tempos de politicamente correto, que é a uniformidade e o fascismo do pensamento - aliás, do não-pensamento -, que é o fast food de ideias - o sujeito passa no drive-thru de ideias e compra lá, rapidinho, um combo promocional delas, um Mc Lanche Feliz de opiniões pré-fabricadas -, é crime, sim, meus caros. Crime capital. Só não punido com a pena de morte porque a sociedade politicamente correta é hipócrita demais para admitir que deseja a morte de quem lhe esfrega na cara todos os seus desvios, vícios, perversões e mazelas : o  humorista, o Bobo da Corte.
E quando o alvo do Bobo da Corte passa a ser a religião, a situação do bufão se torna mais crítica e arriscada. Sobretudo se sua ironia se indispuser com as três grandes religiões : o Islamismo, o Judaísmo e, neste caso específico, o Cristianismo. Todas as três, fundamentalistas. Todas as três, fundadas por esquizofrênicos que escutavam Deus falar com eles. Todas as três, monoteístas. Um só Deus, uma só verdade, um só pensamento, uma só conduta aceitável, uma só moral. E, àquele que ousar correr por fora, que ousar tomar trilha outra, a espada flamejante do Senhor a lhe cortar a garganta. Sim, porque o Cristianismo, de uns poucos séculos para cá, talvez para limpar a sua barra do Holocausto da Inquisição, vem posando de bom moço, se saiu com a conversa mole do Novo Testamento, do perdoar, do dar a outra face. Não nos deixemos enganar, no entanto; em seu cerne, em seu alicerce, o Cristianismo continua tão sedento de sangue infiel e herege quanto um talibã.
Não é à toa - nem por acaso, ou coincidência - a proliferação desenfreada de religiões cristãs evangélicas cada vez mais radicais nestes tempos de politicamente correto, cada vez mais voltadas às origens do Velho Testamento; que é isso o que o politicamente correto é : o fundamentalismo do pensamento, o monoteísmo das ideias.
O que não isenta o Porta dos Fundos de uma parcela de culpa pela bomba que estourou em seus fundilhos. O que não lhe dá o direito de também e agora posar de inocente, de surpreso, de ingênuo e desavisado quanto à possibilidade do que se deu; enfim, o que não lhe dá o direito de também e agora posar de vitiminha, feito aqueles a quem, frequentemente, ironiza.
O Porta dos Fundos sabe - ou deveria saber - que o humor é o produto fino e acabado da racionalidade (não no caso deles, óbvio) - muitas vezes, o Bobo da Corte é o único ser pensante em todo o reino -, e a religião, o seu extremo contrário : a cristalização da tacanhez e da obtusidade.
Não digo que não haja umas poucas pessoas racionais a seguir uma religião, mas a religião em si é doutrinária, é um dos produtos mais bem acabados da intolerância, embora queira tolerância para consigo.
O Porta dos Fundos sabe - ou deveria saber - que não há diálogo possível com as religiões. Divergências de ideias, de opiniões e de visões de mundo, com um duelo de argumentos, se resolvem, certo? Não. Não há argumentos com religiosos. Religiosos só obedecem e atendem ao comando de dogmas. Religiosos não ouvem argumentos. Ouvissem, e não seriam religiosos. É a condição sine qua non de suas existências. O Porta dos Fundos deveria saber disso.
Deveria saber que, para quem tem uma existência miserável - como é, via de regra, a existência humana -, a crença no inexistente é seu único muro de arrimo, sua única esperança. Que a crença de que todo o sofrimento é só um castigo temporário infringido por um Pai, que, na verdade, o ama e só quer corrigi-lo e melhorá-lo e que, ao final da provação, abrirá seu sorriso e seus braços para ele e o acolherá na Sua casa no Reino dos Céus, é muitas vezes a única coisa que mantém o sujeito vivo, é muitas vezes o seu único sustento - o mundo me odeia, mas Jesus me ama.
O Porta dos Fundos deveria saber que tentar tirar isso do religioso é muito equivalente a tentar roubar a comida da boca de um animal : não dá para fingir surpresa, não dá para se vitimizar (mesmo que vítima tenha sido) nem alegar ignorância quanto à inevitabilidade da mordida.
E não digo de respeitar a fé do sujeito, não; que a fé não respeita os que são alheios a ela, e, por conseguinte, não merece tal contrapartida, mas digo de não tirar da boca do religioso o osso descarnado que torna sua vida mais suportável e, na cabeça dele, com algum sentido.
A bomba santa, seja lá quem a tenha lançado - um grupo integralista reivindica para si a autoria do atentado - nada mais foi que a esperada mordida cristã na mão herege de quem tenta lhe tirar o osso roído da fé. Simples assim. Longe de ser desejável, ou de não ser passível de recriminação, simples assim.
O Porta dos Fundos deveria saber de tudo isso, deveria saber das possíveis consequências, e não se surpreender (ou fingir surpresa) e se colocar como vítima inocente delas ; se  não sabiam, não são verdadeiros humoristas, não são autênticos e respeitáveis Bobos da Corte; são tão-somente filhinhos de papai querendo fazer graça em reuniões familiares, em festas de fim de ano, em confraternizações de amigos.
Declarou, assustado e com o cu na mão, o chato, o boçal e o dublê de ator, roteirista e humorista Gregório Duvivier : “Assustador. Eles não estão sós. É um ódio que tem sido pregado na mídia conservadora e no Congresso".
Errado, como sempre, o tal Gregório. Tentando se fazer de vítima desentendida, o integrante do Porta dos Fundos com quem menos simpatizo. Sempre muito mimado e incensado por uma ala intelectualoide da mídia, ao primeiro revés, Gregório faz birra e busca a saia da mãe. Não há um complô político-reacionário contra o Porta dos Fundos; eles nem valeriam o esforço. Há tão-somente a Terceira Lei de Newton, universal, para cada ação, uma reação de mesma intensidade e com sentido oposto. 
Aos primeiros sinais de indignação cristã e de tentativas de censurar e tirar do ar A Primeira Tentação de Cristo, a defesa do Porta dos Fundos se saiu com essa : ninguém é obrigado a assistir. De fato. Da mesma forma, ninguém, sendo ateu, é obrigado a ler a Bíblia e dela escarnecer. É legal, é divertido? Sim. Eu mesmo faço isso aqui por vezes. Mas há - questão de hombridade e de vergonha na cara - de aguentar a bronca, quando a bronca vier. Hombridade que, ao meu ver, está a faltar no Porta dos Fundos.
Artistas, intelectuais, políticos de esquerda e outros desocupados já se mobilizaram em repúdio ao atentado contra o Porta dos Fundos. Defendem que, mesmo que não gostemos do Porta dos Fundos, fiquemos ao lado dele neste caso, pela liberdade de expressão.
Muitos, feito Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, comparam o atentado ao Porta dos Fundos com o sofrido pela redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, ocorrido em 2015 e no qual doze jornalistas foram mortos por granadas e rajadas de metralhadoras islâmicas : "É mais um atentado à democracia e à liberdade de expressão. Coisa de gente fundamentalista e violenta, impossível não lembrar de Charlie Hebdo”. O presidente do PSOL dizendo contra o fundamentalismo? É mais um arriscado a morrer. Não por atentado à bomba, mas sim por gangrena de tiro de hipocrisia dado no próprio pé.
Será que veremos uma campanha, uma mobilização pelas redes sociais : #Je suis Porta dos Fundos?
Pois eu digo : Je suis qui, visage pâle?
Agora, é aguardar. Aguardemos. Aguardemos para ver, agora que a convicção e a coragem do Porta dos Fundos foram postas à prova por este batismo de fogo, o quanto isto se refletirá em seus textos. Será que o tom e a mão de seus esquetes religiosos manterão o mesmo peso e virulência? Ou se intensificarão em resposta ao atentado? Ou ficarão mais comedidos, mais leves, trocarão o humor pelo "engraçadinho", e sua virulência se tornará em simples resfriado de estação?
Aguardemos para ver o resultado do atentado nos futuros trabalhos dos humoristas do Porta dos Fundos, agora que eles - se antes não sabiam - sabem que suas palavras podem, sim, ferir e que paus, pedras e coquetéis molotov cristãos continuam sendo capazes, sim, de quebrarem os seus ossos.
O choramingas Gregório Duvivier, que viveu o Cristo gay, que passou quarenta dias no deserto dando o cu pro Diabo e que, agora, está com o dito cujo na mão.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser No Coração, Eu Só Quer Ter Você Por Perto (6)

Tua Cantiga
(Chico Buarque)
Quando te der saudade de mim
Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro
Que eu vou ligeiro
Te consolar

Se o teu vigia se alvoroçar
E, estrada afora, te conduzir
Basta soprar meu nome
Com teu perfume
Pra me atrair

Se as tuas noites não têm mais fim
Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço
Que eu te alcanço
Em qualquer lugar

Quando teu coração suplicar
Ou quando teu capricho exigir
Largo mulher e filhos
E de joelhos
Vou te seguir

Na nossa casa
Serás rainha
Serás cruel, talvez
Vais fazer manha
Me aperrear
E eu, sempre mais feliz

Silentemente
Vou te deitar
Na cama que arrumei
Pisando em plumas
Toda manhã
Eu te despertarei

Quando te der saudade de mim
Quando tua garganta apertar
Basta dar um suspiro
Que eu vou ligeiro
Te consolar

Se o teu vigia se alvoroçar
E, estrada afora, te conduzir
Basta soprar meu nome
Com teu perfume
Pra me atrair

Entre suspiros
Pode outro nome
Dos lábios te escapar
Terei ciúme
Até de mim
No espelho, a te abraçar

Mas teu amante
Sempre serei
Mais do que hoje sou
Ou estas rimas
Não escrevi
Nem ninguém nunca amou

Se as tuas noites não têm mais fim
Se um desalmado te faz chorar
Deixa cair um lenço
Que eu te alcanço
Em qualquer lugar

E quando o nosso tempo passar
Quando eu não estiver mais aqui
Lembra-te, minha nega
Desta cantiga
Que fiz pra ti

Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu poderoso e natalino MARRETÃO.

domingo, 22 de dezembro de 2019

sábado, 21 de dezembro de 2019

Renas do Papai Noel (6)

Coloquei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal...

Que Apito Jesus Toca?

Um dos temas mais obscuros e velados da Bíblia, seja dos evangelhos canônicos, ou dos livros apócrifos, é a sexualidade de Cristo. O assunto é praticamente um tabu, quase que um undécimo mandamento : "Não especularás sobre em que time o Cristo joga".
A dúvida/curiosidade circula desde sempre pela cabeça da grande maioria, mas pouquíssimos são aqueles, tanto entre os crentes quanto entre os ateus, que ousam verbalizá-la : que apito tocava o Nazareno? Ou não tocava nenhum? Morreu virgem, o Cristo? Comeu, de fato, a Maria Madalena, ou a insinuação, o eterno disse-me-disse de um possível caso amoroso entre os dois, nunca desmentido nem confirmado oficialmente pela Igreja, só tem servido ao propósito de ocultar desejos e tendências sexuais nada católicas, digamos assim, do Filho de Deus? Uma cortina de fumaça?
Pois a mim, Jesus nunca enganou. Com aquelas suas madeixas longas, sedosas, hidratadas e escovadas, com aquela túnica de grife sempre passada e engomada com esmero, e, principalmente, com aquela barba simetricamente aparada, sem um único fio fora do lugar, como que sempre egresso de uma barbearia vintage, de um barber shop. Maior pinta de metrossexual, o Cristo.
Imagino o Cristo em um de seus sermões, lá no Monte das Oliveiras, falando à turba, e aí chega um desavisado,  um gaiato, e pergunta a um dos ouvintes quem é o sujeito de fala mansa. O ouvinte lhe diz que é o nosso Salvador. - Salvador? Mas isto é uma bichona!!! - exclama o gaiato.
Além do quê, uma vez que o cara era o filho de Deus e também o próprio Deus e ainda o Espírito Santo - era um ménage à trois per si, o Cristo - e que poderia ter escolhido o que quisesse, que sua vontade prontamente seria feita, por que não escolheu viver feito um paxá entre as mais lindas beldades da Galileia, entre as modelos e atrizes da Judeia? Por que não escolheu chafurdar nos mais fartos peitos e suculentas bucetinhas de sua época?
Escolheu, por outro lado (literalmente), viver cercado por 12 homens. E gostava de homens rudes e grosseirões, o Cristo. Nada de intelectuais, artistas, poetas e outros afrescalhados. Só pescadores, carpinteiros etc. Só machos das antigas. Dizem mesmo que houve mais de 12 candidatos às vagas de apóstolos, e que os eliminados na entrevista de emprego se uniram e fundaram o Village People.
Agora, e o motivo desta postagem, recentes estudos teológicos de John Dominic Crossan parecem apontar para a confirmação da boiolice de Jesus, parecem apontar para a confirmação de minhas blasfêmias, o que não vai, é óbvio, me salvar do inferno, mas me salvará de ser visto como um autor e propagador de fake news.
Crossan fundamenta a sua hipótese do Cristo de pregas frouxas no texto de um provável Evangelho Secreto de Marcos, muito diferente do oficial, daquele que figura no livro santo com um dos 4 evangelhos canônicos. Crossan vai mais longe, diz que o profícuo Marcos teria escrito três evangelhos : o canônico, o secreto e o erótico. 
Pãããããta que o pariu!!!! Marcos era a Cassandra Rios da época. A Adelaide Carraro. A Brigitte Bijou.
Um dos trechos do Evangelho Secreto de Marcos que apontam para a homossexualidade de Jesus diz respeito à ressurreição de Lázaro : "E chegaram a Betânia. Havia ali uma mulher cujo irmão tinha morrido. Aproximando-se de Jesus, ajoelhou-se e lhe disse: ‘Filho de David, tem misericórdia de mim”, mas os discípulos a afastaram, e Jesus, enfurecido, saiu com ela para o jardim, onde estava o monumento, e logo depois ouviu-se um grito procedente dali. Jesus se aproximou e removeu a pedra da entrada do monumento. Em seguida, entrando no local onde estava o jovem, estendeu sua mão e o ressuscitou. Levantando os olhos, o jovem o amou e começou a lhe pedir que o deixasse ficar com ele. E, ao sair do monumento, eles entraram na casa do jovem, que era rico. Passados seis dias, Jesus lhe disse o que tinha que fazer e, durante a noite, o jovem veio até ele, usando um vestido de linho sobre seu corpo nu. E ficou com ele naquela noite, pois Jesus lhe mostrou o mistério do reino de Deus.”
Pããããta que o pariu!!!! Jesus não ressuscitou apenas Lázaro, ressuscitou também o "morto" do Lázaro. E a lei canônica é clara : ressuscitou, tem que rezar! "Jesus lhe mostrou o mistério do reino de Deus" - sensacional. Quero que o reino de Deus permaneça sempre um mistério para mim!!!
O texto, segundo Crossan, foi censurado e excluído do evangelho oficial de Marcos pelos sacerdotes da ordem carpocraciana, os primeiros a verem nele uma conotação erótica e homossexual.
Nessas horas, eu só consigo pensar e me apiedar do José : além de corno, agora também pai de uma bichona!!! É muita provação para um só cristão!!!
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz... diz Cristo a Judas neste afresco - e bota afresco nisso - do pintor Giotto, do século XIV, o mesmo Judas que o traiu com um beijo. Uma putinha, o Judas.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Abençoai as Hienas

Jessé Florentino Santos, ou, simplesmente, Jessé, foi das mais belas vozes já surgidas em nossa hoje claudicante MPB, e também intérprete de eclético, singular e primoroso repertório - seja no aspecto das letras, seja no da melodia, arranjos, harmonia etc.
Jessé despontou como uma supernova no outrora lábaro estrelado de nossa música popular em 1980, mas eu só fui descobrir e admirar, de fato, o seu trabalho há cerca de 15 anos. Eu era muito menino à época de seu surgimento, tinha lá meus 12, 13 anos, e tanto a temática quanto as letras mais elaboradas das canções de Jessé ainda não diziam respeito ao meu pequeno mundo.
Aí, lá por 2003, 2004, eu, dando uma conferida nos últimos lançamentos de CDs piratas na banca de um camelô, dei de cara com uma coletânea do Jessé, "Jessé, o inesquecível". Comprei-a-a. Só, então, me dei conta da real dimensão do talento do precocemente finado Jessé, morto aos 40 anos em um acidente automobilístico. Em seguida, pesquisei e consegui recolher na internet oito do total dos 12 LPs gravados por ele; reuni-os em uma mídia de CD e até hoje, volta e meia, coloco-o para ouvir no meu velho toca-CDs.
Das suas canções, as mais conhecidas : Porto Solidão, Solidão de Amigos e Voa Liberdade.
Das minhas preferidas : Campo Minado e Paraíso das Hienas. Sobretudo a última.
De um brilhantismo ímpar e de uma ironia e de um sarcasmo lancinantes, a letra, escrita por Accyoli Neto, é um dos retratos mais fidedignos e, diga-se de passagem, mais corajosos já feitos do povo brasileiro, da patuleia tupiniquim, deste continental paraíso de hienas que é o Brasil.
Mas por que paraíso das hienas?
A hiena é um animal que ri. É também um animal que se alimenta de restos de caça rejeitados por outros animais e até mesmo, em tempos de carniças magras, de fezes alheias. Ri de quê, a hiena? A hiena é um animal que ri. É também um animal que acasala apenas uma vez ao ano. Uma única bimbadinha a cada 365 dias; isso se ela der sorte de não ser ano bissexto. Ri de quê, a hiena? Mas a hiena ri!
O brasileiro, igualmente, é um animal que ri. É também um animal que não tem educação, cultura e nem, em quase 60% das residências, saneamento básico; é um animal que toma água podre e caga num buraco no chão. Ri de quê, o brasileiro? O brasileiro é um animal que ri. É também um animal analfabeto, descamisado, descalço, desdentado e feito em gado de corte por políticos que ele insiste em eleger e reeleger. Ri de quê, o brasileiro? Mas o brasileiro ri. E como ri, o brasileiro. É povo festeiro, o brasileiro. Longe de ser trabalhador e cumpridor de seus deveres, como é festeiro, o brasileiro. Autodeclarado dos povos mais felizes do mundo, o brasileiro. Em um pesquisa de 2016 feita com 158 países do mundo pela Sustainable Development Solutions Network (SDSN), entidade que se propõe a "medir" a felicidade dos povos e divulgar a lista dos mais felizes, o Brasil ocupou a 16ª posição; só ficando atrás de países como Suíça, Dinamarca, Holanda, Suécia, Islândia, Noruega e outros assemelhados, nações felizes com razão, felizes por justa causa e por merecimento, pois muito estudaram e se disciplinaram para atingirem o patamar de qualidade de vida em que hoje se encontram. Ri de quê, o brasileiro?
Alguns versos da letra de "Paraíso das Hienas" são de uma pungência que beira a crueldade, que beira chutar cachorro morto. Tanto mais cruéis por ser, de fato, o brasileiro, cachorro morto. "Abençoai as hienas, principalmente as morenas, tricampeãs mundiais" - referindo-se ao tri de futebol de 1970; "Abençoai as hienas, principalmente as "da Silva", campeãs de carnavais"; "Novena não paga ao homem da venda, não adianta nada, não enche barriga, subir de joelhos as escadarias".
A música é da década de 1980, e o brasileiro continua rindo, idolatrando jogadores de futebol, vibrando à passagem das escolas de samba e rezando e subindo de joelhos as escadarias.
Paraíso das Hienas 
(Accyoli Neto)
 Abençoai as hienas
Principalmente as morenas
Tricampeãs mundiais
Pois desse lado do muro
O jogo é tão duro, meu pai
Que só ter piedade de nós não vale a pena (3x)

Oração não voga quando não há vaga
Coração não roga quando só há raiva
E a roupa do corpo três vezes ao dia
Novena não paga ao homem da venda
Não adianta nada, não enche barriga
Subir de joelhos as escadarias

Abençoai as hienas
Principalmente as "da Silva"
Campeãs de carnavais
Pois desse lado do beco
O olhar é tão seco, meu pai
Que só ter piedade de nós não vale a pena (3x)
Oração não voga quando não há vaga
Coração não roga quando só há raiva
E a roupa do corpo três vezes ao dia
Novena não paga ao homem da venda
Não adianta nada, não enche barriga
Subir de joelhos as escadarias

Abençoai as hienas
Principalmente as morenas
Tricampeãs mundiais
Pois desse lado do muro
O jogo é tão duro, meu pai
Que só ter piedade de nós não vale a pena (3x)
 
Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu poderoso e histriônico MARRETÃO.
em tempo : o vídeo do link é praticamente uma raridade, Jessé se apresentando ao vivo no extinto programa Perdidos na Noite, de quando o Faustão ainda era bom.

Renas do Papai Noel (5)

Oh, Senhor, deus do amor...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Sempiterna

O que fazer
Com esta saudade,
Que não é biodegradável,
Que nem fungos nem bactérias nem vermes
Se lançam a ela em banquete,
Por medo de intoxicação alimentar?

O que fazer
Com esta saudade,
Que é sempiterna,
Que não é feita em pó pela moenda dos anos,
Que nem o deus Cronos
Ousa matar, cremar e guardar na urna funerária de uma ampulheta,
Sob o risco de esgarçar o tecido espaço-temporal?

O que fazer 
Com esta saudade,
Que não é reciclável,
Que nem catadores de lixo e de latinhas de cerveja querem,
Por não darem centavo pelo quilo dela nos ferros-velhos
(e eu a tenho às toneladas)?

O que fazer
Com esta saudade,
Que não vira fossa
Nem vira festa,
Que não some das fotos,
Que já virou fóssil?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Natal é Época de Reafirmar a Fé

Se o Brad Pitt,
Que nasceu o Brad Pitt,
E já passou o rodo
Na Gwyneth  Paltrow,
 Na Jeniffer Aniston
E na Angelina Jolie,
É ateu,
Não acredita no Todo-Poderoso,
Por quais motivos, razões ou circunstâncias,
Nós, os mal-acabados,
Eu e você, leitor do Marreta,
Iríamos acreditar?

sábado, 14 de dezembro de 2019

Uma Praia do Caralho

It's raining men! Aleluia! It's raining men!
Ou, pelo menos, a parte mais importante de suas anatomias.
Tá chovendo rola na praia de Drakes Beach (Califórnia, EUA)! 
Os banhistas que estiveram por lá na última sexta-feira (06/12) foram surpreendidos pela presença de milhares peixes-pênis a cobrir as areias do balneário. Era piroca pra tudo quanto é lado!
Os frequentadores da praia ficaram, literalmente, pisando em ovos enquanto caminhavam por suas areias. O peixe-pênis, na verdade, não é um peixe, é um verme, um invertebrado, um "sem-osso" - é óbvio -, de nome científico Urechis unicinctus. O peixe-pênis é um verme marinho do hemisfério Norte, marrom amarelado e com um corpo cilíndrico que vai do japonês ao Kid Bengala, podendo medir de 10 cm a 30 cm.
Eles vivem em tocas no fundo do mar e é comum que alguns sejam arrastados pela maré até a praia após a ocorrência de tempestades, mas nunca antes tinham sido vistos em tal quantidade.
Com o fenômeno da "maré de rola" ganhando notoriedade mundial, a Drakes Beach se tornará em um dos principais destinos turísticos da comunidade LGBTQI-alfa-ômega-etc e também das encalhadas, da mulherada do MST, o Movimento das Sem-Tarugo.
Consigo visualizar caravanas imensas de divorciadas, desquitadas, mal-amadas e avulsas afins aportando nas promissoras areias de Drakes Beach. Consigo ver cruzeiros e mais cruzeiros de transatlânticos abarrotados de boiolas, baitolas, bichas loucas e cervídeos de todas as espécies atracando em Drakes Beach. Todo mundo louco para sentar em suas areias. Para pescar em suas piscosas águas.
A praia será point dos mais badalados e concorridos para o próximo verão. Os novos frequentadores disputarão, literalmente, cada centímetro da orla de Drakes Beach!
Aliás, deixo aqui a sugestão de viagem para o ex-boiola e o seu crush, o Renatão, que, em todos os carnavais, dirigem-se a destinos turísticos paradisíacos para curtirem juntinhos a folia de Momo.
Finalizando, deixo aqui registrado um protesto formal contra a Natureza, deixo lavrado aqui um boletim de ocorrência contra a Evolução, por preconceito e discriminação  a nós, os heterossexuais, os machos das antigas.
E o peixe-buceta? Cadê? Não buceta com cheiro de peixe, que é coisa muito diversa. Cadê o peixe-buceta? Alguém já ouviu falar no peixe-buceta?
Pescador de piroca exibindo um peixe-pênis e revelando a um repórter que irá soltá-lo : "este ainda é pequeno, miudinho, vou devolvê-lo ao mar, para que cresça mais um pouco".
Pããããããta que o pariu!!!!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Definitivo AI-5

Dizem, 
Das ditaduras,
Sejam elas destras, canhotas, ambidestras, ou deficitárias de um dedo,
Que são regimes totalitários,
Opressores,
Tirânicos,
Cruéis e algozes.

De fato.
Até o são.
Porém, não os mais.

Apresento-vos, agora
- e não finjam surpresa nem falsas pudicícias -,
A mais eficiente forma de controle, de submissão e de pisoteio das massas,
O mais absoluto e absolutista sistema de governo,
O definitivo e irretocável AI-5 :
A democracia instalada em um país de analfabetos.

Renas do Papai Noel (4)

Noite feliz, noite feliz...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

People Don't Change (Ou : o iluso e o abnegado)

Dois ofícios dos ditos mais abnegados,
O do padre e o do professor.
Dos dois, o mais iluso,
O do professor.
Explico:

O padre perdoa incondicionalmente ao pecador.
Absolve-o.
Não por bondade. 
Sim por condescendência.
Sabe que o pecador não pode mudar.
Não o perdoa sob a cláusula pétrea dele não mais pecar
(até porque, num mundo sem pecadores, perderia o seu emprego, o padre).
Aceita, o padre, a imutabilidade da natureza humana
Ou, ao menos, resigna-se a ela.
Acredita em Deus, talvez, o padre. 
Não no ser humano.

O professor não perdoa incondicionalmente
Ao mau aluno, ao relapso.
Ainda que ele demonstre o mesmo falso arrependimento do pecador ao padre.
Tasca-lhe uma nota vermelha, o professor.
Não por maldade (nem sempre)
Sim por correção de conduta.
Pune-o.
Porque acredita, o professor, que ele pode mudar
Acredita que ele abandonará o conforto de sua ignorância,
Acredita na mudança e no aprimoramento humano via educação,
Via conhecimento.
Acredita na remição humana, o professor :
Muito mais provável a existência de Deus,
Até para mim, 
Que sou ateu.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Bukowski, Sozinho

Sozinho como todo mundo
a carne cobre os ossos
e colocam uma mente
ali dentro e
algumas vezes uma alma,
e as mulheres quebram
vasos contra as paredes
e os homem bebem
demais
e ninguém encontra o
par ideal
mas seguem na
procura
rastejando para dentro e para fora
dos leitos.
a carne cobre
os ossos e a
carne busca
muito mais do que mera
carne.


de fato, não há qualquer
chance:
estamos todos presos
a um destino
singular.


ninguém nunca encontra
o par ideal.


as lixeiras da cidade se completam
os ferros-velhos se completam
os hospícios se completam
as sepulturas se completam


nada mais
se completa.

Renas do Papai Noel (3)

Veja o Que Você Pode Ganhar do Papai Noel Se For um Bom Menino Durante o Ano Todo

Nunca acreditei em Papai Noel. Pelo menos, não guardo - ou não consigo acessá-las - nenhuma lembrança de ter, um dia, crido no bom velhinho.
Não me lembro de ter ficado alguma vez esperando pelo Papai Noel na noite de Natal, de ter tentado me manter acordado até a meia-noite e flagrá-lo a colocar meu presente aos pés e à sombra da árvore de Natal - lembro-me de primos e primas e mesmo da minha irmã empenhados em tal vigília.
Não me lembro de ter escrito alguma vez uma cartinha ao Papai Noel, a dizer do meu bom comportamento durante o ano e tentando barganhá-lo por uma bola de futebol, ou por um carrinho a pilha - aliás, também nunca cri em bolas de futebol e carrinhos a pilha. Lembro-me  de colegas de escola escrevendo cartas endereçadas ao Polo Norte; em sala de aula, incentivados pela própria professora, pela "tia", que, a pretexto de nos ensinar a escrever uma carta, matava a aula na cara dura e deixava de trabalhar assuntos mais relevantes.
Lembro-me - embora não avalize em 100% a fidedignidade desta lembrança - de que, em uma festa de Natal na casa de minha avó materna (eu devia ter meus quatro ou cinco anos de idade), meus tios arrumaram lá uma grande camisa vermelha de mangas compridas, um pacote de algodão e, com eles, me transformaram em Papai Noel, para que eu entregasse os presentes de amigo secreto para a parentada.
Acredito que soube desde sempre da fraude que era o Papai Noel. Sempre tive dificuldades para crer em seres imaginários. Nunca acreditei em Papai Noel. Idem para o Coelhinho da Páscoa, para o Saci Pererê, para o Bicho Papão, para Deus etc.
Nunca tive medo de monstros que pudessem sair do guarda-roupas durante a noite, ou que pudessem, ocultos embaixo da cama, me puxar pelos pés. Nunca tive medo de fantasmas e de assombrações. Coragem? Porra nenhuma. Só descrença, mesmo.
Cheguei, confesso, a cogitar a possível existência da Loira do Banheiro, lenda urbana surgida na década de 1970; lenda criada - foi revelado há alguns anos - pelo extinto (infelizmente) jornal Notícias Populares, o famoso NP, que, quando não havia notícias, as criava. O NP foi o precursor das fake news; depois do Cidadão Kane.
Lembro-me de que vários amigos da escola seguravam o mijo por todo período letivo com medo de dar de cara com a Loira do Banheiro; alguns não passavam nem pela porta do sanitário. Eu entrava pra mijar sem problemas. Entrava atento e ressabiado, com um olho no pinto e o outro no espelho, que era onde diziam que a Loira do Banheiro aparecia. Mas entrava sem medo.
Hoje, vejo que nunca acreditei também na Loira do Banheiro, vejo que eu queria acreditar. Vejo, hoje, que, na verdade, visto que eu estava a entrar na puberdade, na fase da paudurescência, eu tinha muito mais tesão em encontrar com a Loira do Banheiro do que medo. Afinal, encontrar uma Loira no banheiro da escola está muito mais para roteiro de filme pornô do que de filme de terror.
Meu filho - hoje com 10 anos - sempre acreditou em Papai Noel. Por tempo demais, inclusive. Até o Natal do ano passado, quando contava com 9 anos. E acreditaria até hoje, se a verdade não tivesse lhe sido contada. Coube a mim contar-lhe a verdade. Não que me incomodassem a crença e a alegria dele. De forma alguma. Acontece que, com o crescer da idade, cresciam também os preços dos brinquedos que ele pedia para o Papai Noel. Quando eu falava que aquele presente era muito caro, ele, simplesmente, dizia : mas é o Papai Noel quem vai me dar. Ou seja, o Papai Noel estava era botando no meu toba.
Por conta de minha incapacidade de acreditar em seres imaginários, vejo hoje que eu tive, em comparação com meu filho, meus primos, irmã, colegas de escola etc, uma infância menos mágica, talvez menos feliz. Mas, por outro lado, deixei de me expor a sérios riscos, como, por exemplo, e o motivo desta postagem, o que ocorreu com o inglês Jason Greaves.
O britânico contou ao tabloide The Sun que, ao fazer compras numa filial do supermercado Tesco, assaltou-lhe a vontade de adoçar um pouco o amargo do cotidiano e ele acabou comprando um chocolate no formato de um Papai Noel. Levou o chocolate para casa, para compartilhá-lo com sua namorada, e ao rasgar a embalagem colorida de papel-alumínio que envolvia o chocolate, deu de cara com uma inusitada guloseima : o Papai Noel ostentava uma piroca! Uma piroquinha minúscula. Rídicula. A la Davi de Michelângelo, mas, ainda assim, uma piroca.
"Eu só o peguei porque estava à mão e eu queria comer algo doce. Levei para casa, pois queria dividi-lo com a minha namorada. Não sei se era o último dia de trabalho do funcionário da fábrica ou se foi apenas um acidente. Mas estava exatamente no local onde deveria estar. Parece muito mais que uma coincidência", disse Jason Greaves
A filial da loja se pôs à disposição do surpreso cliente para efetuar a troca do produto, caso seja da vontade do mesmo. Não vejo o porquê da troca, afinal, o cliente levou de graça alguns gramas a mais de chocolate. 
Menos ainda, vejo o porquê de tal surpresa e consternação. É célebre e notório que o Papai Noel tem um saco. Por que, então, não teria uma piroca?
Não vejo o porquê do espanto do inglês. Sendo o Papai Noel, ele esperava encontrar o quê? Uma bucetinha?
Pãããããããããta que o pariu!!!!
Ainda bem que nunca acreditei nestas coisas.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Renas do Papai Noel (2)

Burrice é o Que Interessa, o Resto Não tem Pressa

Respeito muito a prática de atividades físicas. A pessoa que caminha, corre, nada, pedala. Eu mesmo, quando me sobra um tempo, gosto de fazer caminhadas de médias distâncias, 8, 10 km.
Respeito muito a prática de atividades físicas como uma forma de respeito ao corpo, como uma forma de reverência - não de devoção -, como uma forma de manutenção - não de culto. Como um cuidado - não deixá-lo enferrujar ao relento feito um Fiat 147 -, como um zelo - conservá-lo sempre pronto a um funcionamento satisfatório.
Respeito muito a prática de atividades físicas como forma de proporcionar ao corpo o que a leitura, a escrita, um bom filme, uma boa música, proporcionam à mente e ao intelecto.
Não obstante e sem nenhuma paradoxalidade, detesto os esportes! Que é a atividade física colocada a serviço da competição, da rivalidade e do fanatismo. Que é a atividade física que não serve ao salutar; antes pelo contrário, à violação e profanação de todos os limites naturais do corpo, ao massacre dos joelhos, quadris, coluna, ossos, ligamentos etc. E também a transformar imbecis em heróis nacionais.
Mais ainda que ao esporte, detesto as academias de ginástica. Abomino-as. Que é a atividade física colocada a soldo da mais reles vaidade, do mais fútil da imagem. Que não serve ao corpore sano; antes pelo contrário, ao insano da busca por uma beleza das mais questionáveis - homens com bíceps do marinheiro Popeye e mulheres com coxas e panturrilhas de jogador de futebol.
Ambiente dos mais tristes e degradantes, as academias. De atmosfera mefítica de suores rançosos. De grandalhões em autoadoração em frente a grandes espelhos. Grandalhões puxando ferro para endurecer os glúteos e depois levarem ferro. Grandalhões fazendo "rosca" para depois queimarem a rosca. O fundo do poço do frívolo e do exibicionismo, as academias.
O fundo do poço? Não. Quando o assunto é o inútil, o superficial e o vazio, o ser humano sempre arruma jeito de cavar mais fundo.
De uns tempos para cá, as academias foram "elevadas" a um novo grau, a um novo estágio de insignificância : surgiu o Crossfit. Que é a atividade física posta a serviço do retorno às cavernas e ao paleolítico, do retorno à cauda prênsil e do regresso às árvores. Que é a atividade física posta a serviço do atavismo da espécie. Um templo, um altar erigido em honra e adoração ao Australopithecus.
Anteontem, justamente voltando de uma de minhas caminhadas, passei defronte a uma dessas academias de Crossfit, a Centaurus, com um enorme desenho a decorar a parede lateral de sua entrada, o desenho estilizado de uma criatura, representada apenas da cintura para cima, de um homem com cabeça de cavalo a exercitar o bíceps com um pesado haltere. De onde se vê que Jumentus seria um nome muito mais apropriado ao estabelecimento.
Os gorilas, os orangotangos, os babuínos e os mandris estavam todos lá, distribuídos pelas diversas modalidades de exercícios. Um fazia agachamento com um peso de 200 quilos nos ombros (com certeza treinando para melhor aguentar o macho nas costas), outro subia por uma grossa e áspera corda presa ao teto da academia, outro escalava uma parede, outro abraçava um grande tambor de ferro e marchava pelo recinto com ele, outro ainda quase estourava as pregas do cu para carregar um pneu de caminhão.
Claro que também não podia faltar outro elemento importantíssimo à prática tribal : a música. A música a alavancar, a propelir e a comungar num transe catártico a elite da espécie. A música a servir de mantra motivacional para quando os músculos e os ânimos começarem a fraquejar e a esmorecer. Alto, a vedar os tímpanos e a enxotar qualquer resquício de pensamento que, por acaso, ou por ousadia, por ali pudesse passar ou surgir, tocava um funk : "Senta, senta, senta! Senta, senta, senta! Senta, senta, senta!". 
Ao chegar em casa,  comentei o horror que havia presenciado com minha esposa. Que me deu uma bela duma espinafrada. Falou que eu parasse de ser implicante, que deixasse as pessoas fazerem o que bem quisessem e agradasse a elas. Não retruquei.
Até porque ela pode muito bem estar certa. Afinal, mas que sujeito chato sou eu, que não acha nada engraçado? Macaco, praia, carro, jornal, tobogã, crossfit... eu acho tudo isso um saco!
Afinal, o que de maior um ser humano do século XXI pode almejar para a sua vida, para a sua realização pessoal e para a sua felicidade do que carregar um pneu de caminhão no lombo ao som de um "Senta, senta, senta! Senta, senta, senta! Senta, senta, senta!" ?
Esse aí, não só não inventou a roda como também não descobriu ainda que é muito mais fácil, simplesmente, rodá-la.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Thanos Sofre Queimaduras de Sol no Cu

A terapia perineum sunning, já descrita e comentada aqui no Marreta na postagem Lá Onde o Sol Não Batia, que consiste em expor o toba aos raios solares como forma de captar a radiação do Astro-Rei e utilizá-la como reforço energético para realizar as atividades cotidianas, e que vem sendo muito recomendada por terapeutas naturistas e holistas desse mundão de desocupados, acaba de fazer a sua primeira vítima.
Ninguém mais ninguém menos que o todo poderoso Thanos, o detentor da manopla do Infinito, ou, ao menos, o ator Josh Brolin, intérprete do Titã louco nos cinemas.
Intrigado com os resultados da técnica de dar uma carga no brioco, o ator resolveu experimentar. E queimou a rosca!!! Sofreu insolação onde o sol não bate!!!
O sol abriu um rombo no buraco do ozônio de Josh Brolin!
"Tentei esse perineum sunning do qual estava ouvindo falar e a minha sugestão é: NÃO FAÇA ISSO durante o tempo que eu fiz. Meu ânus ficou com queimadura. Eu passaria o dia fazendo compras com a minha família e, em vez disso, estou colocando gelo e usando aloe e cremes contra queimadura por causa da gravidade da dor", escreveu Brolin no Instagram, onde tem 2,8 milhões de seguidores.
Brolin não informou quanto tempo ficou com o cu arreganhado pro sol, se obedeceu, ou não, ao limite de exposição de cinco minutos recomendados pelos terapeutas holísticos.
A prática começa a ter opositores. Sérios opositores. Seríssimos. Gente do maior gabarito científico. Jennifer Gunter, ginecologista canadense e autora do best seller "A Bíblia da Vagina", disse que a prática, além de não possuir nenhum fundamento científico, pode aumentar as chances de câncer de pele na genitália. Ainda mais - acrescento eu em protesto - com essa mania desgraçada da mulherada ficar passando máquina zero na buceta.
E eis Thanos, exibindo o traseiro queimado, de glúteos durinhos e sarados, dignos de um boiola de Cross Fit.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Renas do Papai Noel

Embora possa parecer às vezes, embora eu cause esta impressão a muitos, não sou um rebelde, um anarquista, um revolucionário.
Antes pelo contrário, sou um conservador, um homem apegado às tradições.
Isto posto, a bem começar dezembro e a manter a tradição natalina aqui do Marreta, trago-vos de volta o presente que todo adulto macho das antigas, que bem se comportou durante o ano, deveria ganhar do Papai Noel : a seção "Renas do Papai Noel".
E não se empolguem nem se iludam os baitolas e aboiolados de plantão, não serão vistos nem exibidos aqui os Viadinhos do Papai Noel. Só as renas. Gostosas. Cavaludas. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Lá Onde o Sol Não Batia

Depois da acupuntura sem agulha, da homeopatia, dos florais de Bach, da aromaterapia, da quiropraxia, da cromoterapia, do reiki, do shiatsu, da reflexologia e demais avanços da medicina científica, uma nova terapia desponta como a mais nova promessa de proporcionar os tão almejados equilíbrio e bem-estar físico, mental e sexual ao ser humano; quiçá, conduzi-lo ao próprio nirvana.
A nova terapia consiste em levar à luz os lugares mais sombrios do ser humano. Iluminar o que ele tem de mais oculto, de mais recôndito, e por vezes ignorado. Explorar e energizar chacras nunca dantes alinhados.
E a nova terapia é só vantagens. Não requer tecnologia nem medicamentos caros nem mesmo a consulta a um especialista. É autoaplicável. E totalmente gratuita.
A terapia consiste em expor o ânus ao sol. Pegar uma cor nas pregas! Quarar o olho do cu! Pãããããta que o pariu!!! Isso sim é que é terapia holística! Ou, seria "olhística"?
É a perineum sunning, que,  em tradução livre do Azarão, significa sol no toba.
Uma das adeptas da prática é a autodenominada terapeuta Meagan, Califórnia (EUA). Tomar banho de sol, moderadamente, faz bem à saúde. Entre outros benefícios confirmados pela ciência, uma exposição diária e comedida ao sol melhora o sistema imunológico e faz com que nosso organismo sintetize vitamina D, essencial à fixação do cálcio em ossos e dentes.
Por que não estender os benefícios dos raios solares a outras partes do corpo?, diz Meagan. Por que não deixar o sol bater lá onde o sol não bate? Melhor : onde não batia. Ferrenha defensora da técnica, Meagan afirma que ela dá energia, aumenta a libido (pudera, fica-se com fogo no cu), regula o ritmo circardiano e ajuda a ter uma boa noite de sono.
"Dá mais energia do que xícaras de café. Não apelo mais ao café para dar partida ao meu dia. Estou tirando a energia de que preciso do sol. Estou dormindo melhor e precisando dormir menos. Cinco minutos de banho de sol no local fornecem energia para horas de atividade física, disse ela em reportagem ao, óbvio, tabloide  "The Sun"
Pããããta que o pariu!!! É o cu fotovoltaico!!! 
O ponto vital da captação dos raios solares, segundo Meagan, é o períneo, a região entre o ânus e a vagina, ou entre o cu e o saco, a famosa região da "costura", ou o "campinho", onde a gente bate bola.
Eis Meagan dando uma carga para bem iniciar o seu dia :
Um outro aficionado da energização anal é Ra of Earth, terapeuta e naturista holístico, que divulga a técnica postando fotos de seus seguidores com o cu virado para o sol em seu instagram.
A técnica, segundo seus adeptos, é originária de uma antiga prática taoísta de Cingapura, que acredita que o períneo (ou Hui Yin) seria um “portal onde a energia entra e sai do corpo”. Stephen T. Chang, escritor, especialista em medicina oriental e praticante da técnica, afirma que, além dos benefícios energéticos, a exposição do cu ao sol também promove a assepsia da área, livra a genitália de germes.
Alguns pontos, alguns detalhes da terapia, no entanto, não ficaram muito claros para mim. Por exemplo, deve-se usar protetor solar nas pregas? Ou será que o uso do protetor bloqueia parte da radiação solar, diminuindo, assim, a eficiência da terapia? Que FPS garante, ao mesmo tempo, a eficácia do processo e a proteção contra um câncer de pregas?
Ou será, que devido ao pouco tempo diário de exposição (cinco minutos), o protetor solar é dispensável, bastando apenas o uso de óculos escuros para não ofuscar o olho do cu? De um monóculo escuro, no caso.
Correm rumores de que a empresa Ray-Ban já está de olho no promissor mercado do olho do cu. Que já pensa em lançar uma linha de monóculos de sol com proteção UVA e UVB.
Pois para mim, isto só tem um nome : tesão na argola! Vontade de dar o toba!