quinta-feira, 29 de abril de 2021

Diogo Mainardi é Macho das Antigas e Diz : Vai Tomar no Cu!!!

Sempre gostei pra caralho dos textos de Diogo Mainardi. Aprendiz de feiticeiro e herdeiro de Paulo Francis, Mainardi me divertia muito em sua coluna semanal na revista Veja, sobretudo quando marretava o condenado Luis Inácio Sapo Barbudo Lula da Silva. Mainardi fez de Lula a sua anta, o seu animal de caça de estimação.
Depois, não sei a partir de quando e nem por quais cargas d'água, Mainardi, felizmente para ele e infelizmente para mim, abandonou o jornalismo brasileiro e se mudou para a Itália, para Veneza. Se eu tivesse como, também não pensaria meia vez em fazer o mesmo.
De Mainardi, sei que hoje ele compõe a equipe do jornal/revista O Antagonista, que oferece de forma gratuita apenas pequenos trechos de notícias. Ficando guardados, acredito, os textos mais consistentes e argumentativos de Mainardi, apenas para os assinantes.
Sei também que ele faz pequenas participações no programa Manhattan Connection, outrora (até um dia desses) conceituadíssimo dominical e, agora, comprado (literalmente) pelo João Doria e exibido na TV Cultura.
E foi no último Manhattan Connection, exibido ontem, 28/04, que Diogo Mainardi mostrou que continua digno de toda a minha admiração e o meu respeito, que mostrou que é um macho das antigas.
Um dos convidados do programa foi o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, do qual eu nunca tinha ouvido falar, e que atende pelo mimoso apelido de Kakay. Eu nunca ouvira falar do sacripanta, mas o sujeito é famosíssimo e muito requisitado em Brasília. Sua especialidade : tirar político corrupto da cadeia. O que convenhamos, num país de bandidos, de merda e de merdas como o nosso, não deixa de ser um enorme serviço de utilidade pública. 
Num dado momento, não conseguindo, não tendo estofo suficiente para debater de forma séria com Mainardi sobre a questão do absurdo do corrupto não ser preso nem após condenação em segunda instância, quando, na maior parte dos países civilizados, o canalha já vai pro xilindró logo após condenado em primeira instância, o tal Kakay resolveu partir para a pândega, se sair com gracinhas e pilhérias para cima de Mainardi, tentar desqualificar o jornalista, uma vez que incapaz de refutar os argumentos do mesmo.
Disse, o pústula, que nem sabia que Mainardi era jornalista, que sempre pensara que ele fosse um humorista. Disse ter ouvido, certa vez, da boca de Chico Anysio que todo humorista é um mal-humorado, um mal-humorado inteligente, que tem um visão ácida do mundo. Completou dizendo que Mainardi, no caso, parara só no mau humor.
Ao fim do programa, o âncora Lucas Mendes perguntou a Kakay se ele absolveria o Manhattan Connection. No que o pulha respondeu : “Eu acho esse programa quase perfeito. Tem 3 pessoas extremamente preparadas, pessoas que vivem no mundo, e tem um mau humorado pra poder falar, gritar, xingar, isso tudo é alegria, faz parte. Humorista que tem mau humor é tradicional, mas que tem mau humor e não tem inteligência, vocês são muito corajosos”,
Claro que Mainardi poderia ter respondido dignamente a Kakay. Mas um indigno não merece ser tratado dignamente. Mas um biltre desse, um borra-botas que tira ladrões de dinheiro público da cadeia -  assassinos que matam o povo de fome, por falta de assistência médica, educação e segurança - e que defende a prisão para o "bando de Curitiba" (referindo-se à valorosa equipe da Lava-Jato), não é merecedor do verbo de Mainardi, não vale a sua prosa de fina ironia. E Mainardi sabe disso, sabe da inútil perda de tempo que seria.
Mainardi não teve dúvidas. Fechou o programa com chave de ouro : "Como diria Olavo, vai tomar no cu!!! Lucas Mendes e Caio Blinder riram, talvez Mainardi tenha dito o que eles também estavam com vontade de. O outro integrante da equipe, Pedro Andrade, moçoila politicamente correta, pôs a mão à testa, abaixou a cabeça e a balançou negativamente, em sinal de consternação, de vergonhazinha alheia.
Claro que a imprensa filha da puta e "certinha" já deve estar a falar horrores de Mainardi, o que só legitima ainda mais a fala do jornalista.
Diogo Mainardi é macho das antigas! Terá sempre um lugar de honra no Marreta.
A julgar pela estampa do sujeito (à direita na foto) e pela preferência dele por Kakay ao invés de Antônio Carlos, não sei não, posso estar errado, mas talvez ele não tenha achado tão ruim assim o conselho de Mainardi (à esquerda, e só na foto).

Brasas Mortas, Querosenes e Naftalinas

O álcool
Não é amigo que se sente comigo
Para tomar umas
E ocupe uma cadeira vaga
À mesa da minha existência.
Não é amante
Que preencha o catre vazio do meu ser. 
 
É só fogueira mortiça,
Que adia a hipotermia;
Lampião aromático de querosene,
Que negocia tréguas com a cegueira definitiva;
Esferas de naftalina,
Que impedem que as baratas se aproximem o bastante
E roam os dedos dos meus pés.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Pau de Bêbado Não Tem Dono

O ditado "cu de bêbado não tem dono" é dos mais notórios e axiomáticos. Mais até que um ditado : uma advertência do Ministério da Saúde, um credo a ser lembrado e rezado diariamente por todos os bebuns das antigas.
Mas e pau de bêbado? Não terá, o cacete, igualmente ao brioco, também proprietário de escritura passada e lavrada em cartório? E não digo do sortudo capotar de bêbado e acordar com marcas de batom na rola, ou de gosma seca de xavasca no sem-osso e nos pentelhos. Digo do pé de cana sofrer um apagão etílico e acordar sem a benga, com a piroca decepada, subtraída. Descaralhado. Um eunuco de Baco.
Pois tal infausto se abateu sobre um homem de 36 anos, morador da pequena comunidade de Macaúbas (MG) e cuja identidade vem sendo mantida em sigilo.
Na madrugada deste domingo para segunda, o pudim de cachaça exagerou na birita e acordou horas depois no meio de um matagal. Com a sua rola cortada e desaparecida. Socorrido pelo SAMU, foi levado ao hospital mais próximo, atendido pelos médicos e seu quadro foi declarado estável.
Agora, o caso ficará sob a jurisdição da 210ª Companhia da Polícia Militar de Bocaiúva. De acordo com o comandante da Companhia, o capitão Michael Stephan da Silva, o mangalho do homem ainda não foi achado para que se tente uma cirurgia de reimplante. "Realmente, este caso é algo inusitado, fora do comum. É uma coisa até desumana", declarou o capitão ao jornal Correio Braziliense.
Investigar o sumiço de um pau... a que grau de humilhação um oficial graduado tem de se submeter... fico imaginando como a PM mineira sairá desta sinuca de bico. Como procurar por um pau desaparecido? Que linhas investigativas adotar?
Inicialmente, cães farejadores da raça pastor alemão poderiam ser postos a vasculhar o matagal e seus arredores, mas a ideia, frente à constatação de sua impraticabilidade, logo teria de ser descartada. E por dois motivos : primeiro, pastores alemães são raça de cachorro das antigas, tudo espada, e se recusariam peremptoriamente a sair por ai a farejar caralhos; segundo, por urgir a localização da benga, não havendo, assim, tempo hábil para se treinar poodles, malteses, shih tzus, lhasa apsos, pugs e lulus da pomerânia.
A polícia, então, poderia pedir à vítima uma foto recente de seu caralho, e, de posse dela, sair a mostrá-la para o dono do buteco, para os frequentadores da birosca e moradores vizinhos, perguntando se alguém tinha aquele badalo por ali nos últimos dias. Caso o homem não seja adepto dos nudes e não possua uma foto do cacete, a polícia levaria um especialista ao hospital para proceder na confecção de um retrato falado da piroca.
Outra estratégia, além do boca a boca, poderia ser os agentes da lei espalharem cartazes com a foto ou com o retrato falado da piroca pelos postes da comunidade, com telefone de contato e promessa de gratificação, feito aquelas fotos de cães e gatos desaparecidos. Assim poderia dizer o cartaz : "Se encontra desaparecido um caralho de muita estimação. O dono está profundamente triste e deprimido. Quem tiver qualquer informação sobre o paradeiro da estrovenga, ligar para o nº XXXXX. O caralho atende pelo nome de Ditão".
Uma vez achado o caralho, uma outra questão : como atestar que ele pertença mesmo ao reclamante, que é de fato o caralho perdido, como verificar a legitimidade de sua posse? A polícia conduziria o homem a uma sessão de reconhecimento, como vemos nos filmes policiais. O homem seria colocado em uma sala, separada de outra, contígua a ela, por uma vidraça que só permite a visão de fora para dentro, e, nessa outra sala, em cima de uma mesa, cinco caralhos, numerados de 1 a 5. O policial diria ao homem : "aponte e diga o número da piroca que você diz ser sua".
A polícia poderia também colocar agentes a postos e de prontidão nos ramais telefônicos da delegacia; para, na hipótese não descartada de um sequestro, tentarem localizar o sequestrador quando esse ligar para exigir o resgate.
Inquirido pela polícia se suspeitava de alguém que pudesse ter motivos para capá-lo, o homem afirmou que não tem inimigos, e que nunca fez nada que pudesse ter motivado uma vingança.
E o caso segue sem solução.
Pois, para mim, está tudo muito claro e evidente. Não há mistério algum em relação à autoria da emasculação do mineirinho comia-quieto. Foi um crime de ódio! De pirocafobia! Um caso clássico de falocídio! Perpetrado por uma feminista suvacuda e muxibenta, que expropriou um potencial estuprador de seu instrumento máximo de opressão. Elementar, meu caro Watson!
Pãããããããããta que o pariu!!!!! 
 O capão, no momento em que era socorrido pelo SAMU.

Bukowski, sem Remédio

Não há remédio para isso

há um lugar no coração que
nunca será preenchido

um espaço

e mesmo nos
melhores momentos
e
nos melhores
tempos

nós saberemos

nós saberemos
mais do que
nunca

há um lugar no coração que
nunca será preenchido

e

nós vamos esperar
e
esperar

nesse
espaço.

domingo, 25 de abril de 2021

Tá Lá o Corpo Estendido no Chão

Nenhum talento
Vocação
Nem vontade de ser alguma coisa
 
(Nenhum empenho ou dedicação,
Ainda assim, o cansaço).
 
O mesmo emprego
Há mais de 20 anos,
A mesma impostura,
A mesma figuração nesse teatro de vampiros
 
 (Nenhuma falta-delito no meu prontuário,
Ainda assim, a vergonha, a sensação/constatação de inutilidade).
 
Nenhuma nova paixão
Há mais de 10, 12 anos,
Só conservas em salmoura e em botulismo das antigas,
Feitas em picles de rabanetes
 
(Nenhuma culpa no cartório,
Ainda assim, boneco intranquilo de um museu de cera).
 
Nenhum livro lido
Nos últimos três meses;
Nenhum publicado
Durante a vida inteira
 
(Pressão arterial, triglicérides e colesterol normais,
Ainda assim, a desistência do coração).
 
Tá lá o meu corpo estendido no chão.

sábado, 24 de abril de 2021

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser no Coração, Eu Só Quero Ter Você Por Perto (15)

Uma Canção no Rádio
(Fagner/Zeca Baleiro)
 
Uma canção no rádio
Eu me lembro de nós dois
Penso, rio, sofro, choro
Deixo a vida pra depois
O amor é um filme antigo
Coração ama e não diz
Tive prazer e ternura
Mas eu nunca fui feliz

Tenho um coração
Raso de razão
Eu amei o quanto pude
Deixei pelo chão rastros de ilusão
Meu coração não se ilude

Tudo se desfaz, vida leva e traz
Fica só o pó da estrada
Que o céu me roube a luz
Mas me reste a voz
Na noite calada
 
Para ouvir a canção, é só sintonizar aqui, no meu valvulado MARRETÃO.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Uma Nova Biblioteca de Alexandria

Ainda escrevo,
É verdade.
 
Mas minha escrita
É café requentado,
É lasanha congelada feita em forno de micro-ondas,
É pão dormido e sonâmbulo.
 
Minhas palavras
São miasmas,
Almas penadas,
Mortos-vivos
Da vida que imaginei
E não tive com você,
Escombros das quedas dos voos
Que planejei para nós e os fiz solitário,
Ao redor dos tetos da sala e da cozinha.
 
Meus parágrafos,
Meus poemas,
São ecos embaçados,
São espelhos inaudíveis :
Do teu cheiro,
Que aspirei
Mas não lambi;
Do teu colo,
Que afofei
Mas não dormi;
Do teu ventre
(minha única chance de renascimento),
Que,
Covarde,
Não fertilizei.
 
Ainda assim,
Ainda escrevo...
 
Imagine
Então
Se eu te comesse...
 
Ah, se eu pudesse te comer...
 
Ah, eu esporraria
Novos Quixotes,
Novas Utopias,
Divinas Comédias,
Paraísos Perdidos,
Admiráveis Mundos Novos,
Casmurros,
EUs,
Estrelas da Vida Inteira.
 
Ah, se eu pudesse deslizar meu pau
Por entre tuas grandes tetas...
 
Eu esporraria
Uma nova Biblioteca de Alexandria.

sábado, 17 de abril de 2021

Mimetismos (35)

Nesta mesma praça, talvez no ano passado, talvez no retrasado, já vira os estranhos e repugnantes frutos, as bizarras e repulsivas formações vegetais. Mas eram, então, apenas dois ou três, esparsos pela frondosa árvore e - eu não tinha como saber na época  - estavam ainda beeeeeeem no início de seu desenvolvimento. Por isso, não foram dignos de nota na ocasião. Hoje, isso mudou.
Passo pouco por esta praça, só quando, como hoje, pego um caminho alternativo ao usual, não por necessidade, apenas para sair um pouco da rotina.
A árvore continua lá, em uma de suas esquinas, no cruzamento da rua Daniel Kujawski com a Margarida, exatamente como eu me lembrava dela, mas os seus frutos... quanta diferença! Não lhes fazem mais justiça os adjetivos "estranhos" e "bizarros", nem mesmos os "repugnantes" e "repulsivos". "Medonhos" e "assustadores", "horripilantes" e "aterradores", com muito mais fidedignidade, agora lhes qualificam.
Não mais apenas dois ou três; agora, eles pendiam e pendulavam às dúzias dos galhos da árvore. Não mais formações imberbes e nanicas; sim grossíssimos tarugos que atingiam, fácil, fácil, uns 40 ou 50 cm.
Do outro lado da rua, num antigo ponto de táxi, dois motoristas jogavam conversa fora à espera de suas próximas corridas. Fui até um deles e perguntei se ele sabia que árvore era aquela. Ele riu e falou, estranha, né? Bota estranha nisso, eu disse. Não sei como se chama, não, mas já peguei uns três desses negócios ai, falou. Pegou pra ver se era de comer?, eu, na minha santa ingenuidade. Não, pra sacanear com os amigos, pra colocar no banco do carro deles à noite e ver eles sentando, e riu com gosto. Ri também. É claro. E nem poderia ter deixado de. Molecagem de macho das antigas. De tiozão de churrasco.
Motorista de Uber, eu não sei, já deve ter muito viadinho e metrossexual ao volante, mas motorista de táxi raiz é tudo macho das antigas, aquele cara de meia idade, barrigudo, camisa aberta até o terceiro botão a mostrar os pelos do peitos e imensas rodelas de suor sob os suvacos. Chenile alaranjado nos bancos do carro, toca-fitas Motorádio e imã com a imagem de São Cristóvão grudado no painel.
Falei pra ele, olha, eu não uso celular nem tenho câmera etc, será que dá pra você tirar umas fotos e mandar pra mim num e-mail? Não sei disso de e-mail, não, só sei mandar no zap, ele falou. Passei o número do telefone da minha esposa e torci para que ela não apagasse a estranha mensagem antes que eu chegasse em casa.
Ele me deu o celular e falou, vai lá e tira, que depois eu envio, e me acrescenta no contato, Cebolinha taxista, pra se precisar de táxi algum dia. Bati uma meia dúzia de fotos. Devolvi o celular pra ele e ele falou que já tava me mandando. Agradeci e acelerei o passo pra casa.
Por sorte, minha esposa estava ocupada com outras coisas e nem vira ainda a mensagem. Expliquei pra ela e ela as encaminhou ao meu e-mail. Juntou o celular do taxista, que não me pareceu dos mais novos, e mais a mão sem nenhuma habilidade em manejá-lo desse que vos fala e as fotos saíram uma boa merda, meio desfocadas, sem muita defínição. Escolhi as duas "melhores" e as combinei abaixo.
Não obstante a baixa qualidade das fotos, o buscador de imagens do Google conseguiu reconhecer os frutos e me forneceu mais fotos - muito melhores que a minha -, o nome e outras informações sobre a agigantada espécie.  Abaixo, uma imagem que mostra exatamente como foi o horror por mim presenciado.
A espécie é registrada no Cartório Lineano como Kigela Pinatta, mas é chamada popularmente, é óbvio,  de árvore-de-salsicha. Seus frutos são venenosos para o ser humano e podem atingir 60 cm de comprimento e 7 kg de peso.
Descobri também que ela não é nativa do Brasil, sendo pouquíssimo difundida por aqui, apesar de se adaptar bem ao clima. Seu cultivo é mais restrito a parques, jardins botânicos e coleções particulares de apreciadores de espécies exóticas, ou seja, de "entendidos" no assunto. 
A Kigelia Pinatta é de origem - é óbvio, de novo - africana!!!
E tem gente que ainda não acredita na Evolução, que não acredita que todos os seres vivos derivaram de uma mesma protomatriz biológica. E tem gente que ainda acredita que as diversas semelhanças de forma observadas entre plantas e animais, das quais os últimos muitas vezes se valem para se proteger de predadores, ou para melhor se aproximarem de suas presas, sejam meras coincidências. Quem um dia poderá dizer que a Kigelia Pinatta não é o ancestral botânico do Kid Bengala? Que mão, que olho imortal, se atreveu a plasmar a terrível semelhança?
Também tomei conhecimento de outras variedades da árvore-de-salsicha, de adaptações da Kigelia em outros continentes. Nenhuma, é claro, tão colossal quanto a africana. Há até uma subespécie japonesa. Uma árvore-da-salsicha bonsai, se quisermos assim considerar. Abaixo, os frutos da variedade nipônica.
Pãããããããããta que o pariu!!!!!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Vírus em Mim

Agora é oficial, irrevogável e irreversível : estou contaminado com o vírus chinês!
O governo do estado de São Paulo ampliou a campanha de vacinação contra a peste chinesa para os profissionais da educação com idade a partir dos 47 anos.
É o Doria Calcinha Apertada querendo acabar com a nossa mamata de ficar em casa!
E lá foi, então, esse vetusto escriba a providenciar o seu lugar na fila da vacina, a peregrinar pelos trâmites burocráticos.
Primeiro, fiz meu cadastro na Secretaria Estadual de Educação; no dia seguinte, recebi a confirmação do meu patrão de que, realmente, eu sou professor, com QR Code e tudo - é o Azarão nessa frescura. De posse do tal, agendei meu atendimento no site da Secretaria Municipal da Saúde; dia seguinte, a confirmação da data, hora e local. O local foi surpresa.
Eu já estava contando em ser direcionado ao posto de saúde mais próximo de casa, já contava com uma longa espera na fila, igual às que vejo nos telematutinos jornalísticos. Comprara até um caderno de palavras cruzadas especialmente para a ocasião.
Estranha e inesperadamente, no entanto, nós, os professores, fomos todos vacinados no centro médico do Ribeirão Shopping, o shopping mais luxuoso da cidade. Eu nem sabia que shopping tinha centro médico. Pois esse tem. Meu horário, o das 09h30min.
Então, hoje, munido de RG, CPF, QR Code (pããããta...), comprovante de agendamento e ficha de cadastro manual Vacivida, dirigi-me ao shopping. Cheguei meia hora antes do meu horário. Para garantir qualquer contratempo. Qualquer entrave que pudesse surgir. Qualquer exigência documental não informada e que nos fosse agora cobrada.
De novo, estranha e inesperadamente, nenhum obstáculo houve. Desnecessário se mostrou o meu cuidado de chegar um tanto antes. Havia, é verdade, muitos professores no local - há muitos de nós a circular por aí, muitos conseguem até transitar despercebidos pelas ruas, mercados etc., muitos até conseguem se fazer passar por pessoas normais -, porém, em contrapartida, havia também um esquema de organização excelente - e inédito em se tratando de algo promovido pelo Estado . Um atendimento de Primeiro Mundo. Ou o que eu, nascido e (mal) criado nos tristes trópicos, julgo o que seja um atendimento de Primeiro Mundo.
Houve, é claro, antes de eu chegar à sala de vacinação, quatro barreiras alfandegárias burocráticas, cada uma verificando a autenticidade de um único documento dos exigidos, porém, não houve lentidão no trânsito, não ocorreu congestionamento de professores. Uma equipe de moças  bonitas, bem-educadas e bem vestidas e de coroas simpáticas, bem maquiadas, serelepes e das mais apetecíveis percorria as filas em pré-conferência dos documentos, para agilizar o processo.
Resumindo : cheguei ao centro médico do shopping às nove horas com o meu horário marcado para as nove e meia. Às nove e vinte, eu já estava vacinado e na rua.
Pãããããããta que o pariu!!! Em mais de vinte anos de magistério no serviço público, nunca vi o professor ser tratado tão bem e dignamente, ser tratado, aliás, como todo cidadão deveria ser.
É o Doria Calcinha Apertada querendo agradar as "tias", as PEB I, querendo que o professor deposite o seu voto na urna devassada dele!!!
Antes de me aplicar a vacina, o rapaz me mostrou a ampola que continha o cobiçado líquido, exibiu-me o logotipo do Butantan estampado no rótulo, para me informar da procedência da mesma, extraiu um tanto com a seringa e me fez constatar a dose de 0,5 ml que me seria aplicada.
Vacina do Butantan. A chinesa. Deixei-me inocular sem medo ou apreensão. O Butantan produz eficientíssimos soros antiofídicos e antirrábicos há tempos. Por que não iria dar conta de uma picada de chinês? Por que falharia fragorosamente em fabricar uma boa vacina contra o sinovírus?
Agora é oficial, irrevogável e irreversível : estou com o vírus chinês! E também com um microchip, que permitirá, doravante, que os chineses vigiem todos os meus movimentos. E daí? Eu já tenho um chip implantado pelos greys e outro pelos reptilianos. Julguei que mais um, ainda que Made in China, não fará grande diferença.
Só não sei o que o governo chinês pode querer me monitorando. Que informações e dados sobre a minha vida pode lhe ser de alguma valia. Só sei que se, de fato, o governo chinês, a partir de hoje, começar a rastrear os meus passos, do jeito que eu ando, logo, logo, o satélite espião deles estará de língua de fora. Vai dar pane, na certa. Só hoje, foram uns bons quinze ou mais quilômetros, contando a ida e a volta da vacinação. E é capaz que mais ao fim da tarde, ao crepúsculo, ao lusco-fusco, eu ande mais uma légua tirana.
Eis a vacina.
Ou acharam que eu fosse postar uma foto minha a tomar a vacina e fazendo sinal de "joinha"? O caralho que eu ia!
Quaisquer efeitos colaterais, reações adversas e transmutação para jacaré, eu informo ao longo dos próximos dias.

domingo, 11 de abril de 2021

Narcisos Murchos

Há muito morto,
Sempre gostei de,
À madrugada,
Da sacada,
Olhar para a cidade viva :
Voyeur de seus porres e de suas cópulas.

Hoje,
A cidade também morta,
Desvio-me de seus olhares :
Nunca gostei de me mirar no espelho,
Seria como flertar com a minha imagem
Na superfície limosa e estagnada
De um lago margeado por narcisos murchos.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Apodrecido 12 anos em Barris de Carvalho

Quantos anos, meu bem?
Quantos anos sem nos vermos,
Nos falarmos,
Nos sentirmos,
Nos farejarmos,
Nos sabermos?
 
Quantos anos, meu bem?
Quantos anos só a nos recordarmos
A nos relermos
Em bibliotecas de livros apenas sonhados
Mas nunca escritos?
A matarmos saudades
Em inexistentes álbuns de fotografias
(nunca tiramos uma fotografia juntos)?
A pegarmos no sono
(o meu sempre leve e atribulado)
No travesseiro estofado com a cortiça
Das rolhas dos vinhos
Que bebemos juntos
Brindando à Atlântida que naufragava à nossa frente?
 
Reencontrássemo-nos hoje
Revíssemo-nos
Retocássemo-nos
Ainda estaríamos apaixonados,
Impondo-se agora a realidade à lembrança?
 
Eu, sim;
Tu, talvez,
Enquanto a memória fosse consumida em fogo-fátuo :
O último brilho do teu olhar dirigido a mim.
 
Peço-te-me desculpas por isso,
Por ter-me-ti tornado nisso,
Num autômato anedônico,
Desapaixonante.
 
(segue anexo um ramalhete de peônias)

Azarão Proibidão

Ontem, por nove votos a dois, o STF não liberou os cultos, manteve a proibição a eles. Os cultos estão vetados, proibidos.
Então, eu não poderei sair de casa? Circular pelas ruas? Virei um proibidão?

Cerveja-Feira (37)

Animais de apoio emocional são mais do que simples pets. Mais até que os animais de serviço, como os cães-guias dos cegos, por exemplo. Ocupam um status maior dentro de nossa sociedade frouxa, decadente e afrescalhada. São animais que "proporcionam conforto e auxiliam no controle de doenças psiquiátricas de seus donos (ops, donos, não : tutores, que bicho também é gente, e vice-versa), com depressão e ansiedade".
O animal de serviço é treinado para desempenhar uma tarefa exclusiva. O animal de apoio emocional (AAE) não recebeu nenhum treinamento específico, ele traz benefício simplesmente pela sua presença, reconforta através de seu companheirismo.
Resumindo, o cão-guia é uma bengala branca que mija nos postes; o AAE é um rivotril de pulgas e quatro patas. Um é o pastor alemão capa preta, o outro é o poodle tarja preta. Pããããããta que o pariu!!!
Para um animal ser registrado como um AAE, para poder acompanhar seu dono em ambientes normalmente vetados aos pets comuns, como cabines de aviões e ônibus, locais de trabalho, restaurantes etc., o dono deve ter uma carta de um profissional da saúde, um psiquiatra, no caso, que ateste que o sujeito é doido e que também prescreva o animal como forma de tratamento.
O AAEs mais comuns são os cães e os gatos, porém, em princípio, qualquer animal pode ser adequado a essa categoria, tartarugas, papagaios, calopsitas, hamsters, porquinhos-da-índia, iguanas, furões, pôneis etc. Ouvi dizer que a jiboia opera verdadeiros milagres no tratamento à depressão e à ansiedade de quarentonas descasadas, de cinquentonas sem porvir e de rapazes alegres, porém deprês.
Assim sendo, se algum louco de dar estilingada na lua declarar que um elefante é seu AAE e quiser viajar de avião, a empresa aérea que se vire para arrumar um C-130 Hércules da FAB e satisfazer ao cliente, sob pena de, caso não o fizer, ser acusada de "não inclusiva", ganhar milhares de "deslikes" e ser cancelada nas redes sociais, as novas fogueiras da Inquisição. 
Se um outro louco de comer bosta disser que uma vaca é seu AAE e quiser que ela o acompanhe ao trabalho, o seu empregador que se vire para transformar o escritório do maluco num curral, sob pena de, se assim não proceder, sofrer sérios e intermináveis processos trabalhistas.
É o viadisticamente correto a imperar no triste século XXI!!!
Há os que ficam, feito eu, indignados, putos da vida com tanta frescurada. Outros, muito mais inteligentes que eu, embarcam na onda e tentam também tirar vantagem dela. Uma vez no inferno...
É o caso de Floyd Hayes, morador de Nova York (EUA), que se intitula como diretor criativo e "produtor de ideias". Fazendo mais do que jus ao que declara em seu currículo, Floyd, em 2020, tentou registrar a sua cerveja preferida como seu animal de apoio emocional. 
À época, Floyd admitiu que a tentativa de registro era uma brincadeira (e uma crítica ao exagero dos AAE), mas que se "colasse", ele poderia conseguir permissão para entrar no metrô tomando uma cerveja, o que é proibido em Nova York.
Gênio! Coisa de gênio! Gostei pra caralho da ideia! Se Floyd consegue o registro de sua cerveja por lá, imediatamente eu entro com pedido de registro da minha boa e barata por aqui, alegando jurisprudência internacional. Vou aos tribunais da Organização dos Estados Americanos se preciso for. 
Fim de semana ou feriadão na casa da sogra? Já vou bebendo na viagem! Reunião pedagógica? Levo um fardo! Mas não é um animalzinho só?, alguns poderão questionar. É que esse deu cria, direi eu. Aniversário de criança filha de crente? Um engradado.
Floyd não conseguiu o registro de AAE para o seu cão enlatado, mas produtor de ideias que é, pensou numa maneira de ganhar uns dólares com a brincadeira.
Em parceria com a Woodstock Brewing, Floyd lançou a Emotional Support Beer, uma IPA, uma loira gelada do estilo India Pale Ale com lúpulo Citra, com notas de maracujá e manga.
Parte do lucro obtido com a cerveja de apoio emocional, cujo pacote com quatro latas de 473 ml está a ser vendido por US$ 20, coisa de 28 reais o latão, será revertido em benefício de um abrigo que cuida de animais abandonados. 
Claramente, a cerveja de apoio emocional de Floyd não cabe no meu bolso. Muito mais que a minha saúde emocional, a minha saúde financeira ficaria seriamente abalada.
Dessa forma, longe de ser o hábil produtor de ideias que é Floyd Hayes, uma centelha de imaginação me ocorreu, foi-me inspirada por ele. 
Vou tentar registrar também um AAE, e já escolhi a espécie que pretendo adotar : uma perereca. Uma perereca-felpuda da obscura Floresta Ohânica, o ecossistema mais desmatado da atualidade e de cuja devastação pouco ou nada se fala.
Minha esposa entra e me pega no sofá : - Que perereca é essa no seu colo?  - É meu AAE. 
Serei crucificado do mesmo jeito. Pelas bolas do saco!!!

quarta-feira, 7 de abril de 2021

STF só Libera Realização de Cultos se Deus for Vacinado

Em tempos de pandemia da Praga Chinesa - muito pior que todas as pragas do Egito somadas -, em tempos de quatro mil mortos/dia pelo vírus xing ling, o nobre e honrado STF despende tempo e dinheiro público para decidir se libera ou não a realização de cultos religiosos. 
A mim, parece que a volta das ovelhas às igrejas interessa muito mais aos seus tosquiadores do que a elas próprias. A pandemia chinesa pode não ter abalado a fé dos crentes, mas abalou pra caralho o  comércio da fé. Os defensores da volta da manada aos bancos das igrejas se apoiam no direito constitucional do livre exercício de crença religiosa. Defendem que o exercício da fé é um componente importante de nossa saúde global.
Eu não entendo picas de Direito, mas tenho cá pra mim que o direito a uma crença religiosa, ou mesmo o seu exercício, nunca foi proibido, nem a realização de cultos. O que está proibido, por razões óbvias, é o espaço físico em que o culto é realizado.
O culto pode ser realizado virtualmente. Padres, pastores e outros assemelhados podem muito bem trabalhar home's god office. Podem transmitir via on line os seus sermões, suas bênçãos, suas curas milagrosas; assim como empresários emitem ordens e tomam decisões por videoconferências; assim como professores continuam a dar suas aulas.
E mais : por que o exercício da crença depende da realização de um culto? O sujeito não pode fazer de seu quarto, de sua sala, da sua cozinha e até de seu banheiro, a sua igreja? (E me lembrar sorrindo que o banheiro é a igreja de todos os bêbados). Ou a crença e a fé são tão frágeis e quebradiças a ponto de precisarem do aval e da confirmação da manada?
Hoje, num matutino local, ouvi um pastor dizer que é justamente neste momento de pandemia que as pessoas mais precisam da igreja, mais precisam rezar.
Rezar para quê? Esperando o quê? Que a pandemia chinesa passe? É igual a rezar por chuva. O sujeito reza todos os dias pela chuva... um mês, dois meses, dois anos... um dia, ela cai. Da mesma forma que cairia se ele nunca tivesse rezado. Um dia a pandemia vai passar (o vírus chinês, não), reze você ou não.
Mas eu fico imaginando Deus a ouvir as súplicas para acabar com a pandemia. A imaginar alguns pensamentos e pronunciamentos a respeito que o Todo-Poderoso poderia fazer.
1) Deus se autocriaria por alguns segundos, diria : Eu não existo, e se descriaria de novo;
2) Eu tô cagando e andando pro que acontece aí embaixo (supondo que o Céu esteja acima, o Inferno, abaixo, e nós, Midgard, a Terra do Meio).
3) Eu fiz vocês como Eu, imagem e perfeição, e dei-lhes o livre-arbítrio, emancipei-lhes, lavei as minhas mãos. E joãobaptistafigueiredamente, concluiria :  Me esqueçam.
4) O vírus chinês também é filho de Deus; referindo-se a si próprio na terceira e, ao mesmo tempo, na primeira pessoa (a terceira pessoa é o Espírito Santo; a segunda, o Filho);
5) Eu assumo : eu criei o vírus chinês, para tentar limpar a cagada que fiz ao criar vocês. O vírus chinês é o meu agente de queima de arquivo
Em tempo : entre outros significados, dizimar é matar um em cada grupo de dez. Se os fíéis forem dizimados, se morrer um fiel em cada dez, o dízimo também não será dizimado? Os padres e pastores, idem? Olha aí o lado bom da coisa.
Em tempo (2) : Gilmar Mendes, um dos juízes a se pronunciar sobre a questão, assim que a sessão foi suspensa, teria perguntado a um colega de toga : "Quando é que vai chegar a parte em que eu inocento e mando soltar o Judas?"

sábado, 3 de abril de 2021

Quem é? Que Não Sofre por Alguém? Quem é? Que Não Chora Uma Lágrima Sentida?

Agnaldo Timóteo
1936 - 2021

Loquidau de Birita

A notícia chegou-me há dois dias, na quinta-feira. Estarrecedora. Vinda de Passos (MG), terra natal da minha sogra.
Diego Oliveira (PSL), prefeito da cidade, resolveu aderir à fase roxa do combate à disseminação do vírus chinês e endureceu, perdendo totalmente a ternura, ainda mais as medidas restritivas à população.
Com vistas ao feriadão da Semana Santa, usufruído e gozado por católicos, evangélicos, espíritas, judeus, budistas, macumbeiros, daimes, krishnas, amishs, mórmons e até por ateus feito eu, proibiu a venda de bebidas alcoólicas na cidade. Segundo o despótico alcaide, a medida foi tomada para evitar aglomerações e festas clandestinas durante o feriadão.
É o loquidau da birita!!!
Que se restrinja o contato social, dou o maior apoio. Que se decrete loquidau que cerceie o superestimado convívio humano, assino embaixo. Em minhas aulas de zoonoses, em que abordo as principais doenças transmitidas por outros animais ao bicho homem, as encerro sempre dizendo : "não podemos nos esquecer, no entanto, que o bicho que mais transmite doença ao ser humano é o próprio ser humano". E já digo isso há anos; há décadas.
Loquidau de gente? Beleza! É o lado bom do comunavírus. Mas loquidau de cerveja, de biritas em geral? E logo na Semana Santa, quando muito católico já passou a quaresma sem entornar? Logo na Semana Santa? Não há cristão que mereça tamanha penitência. E muito menos nós, os ateus, que não temos culpa nenhuma no cartório do Éden.
Loquidau de gente é proteger nossa saúde e nossa integridade física. Loquidau de birita é impedir o contato com nós mesmos, é impedir que nos conectemos, que nos religuemos à nossa alma.
Esse tipo de demonstração de poder por parte de nossos pseudogovernantes é uma ótima maneira deles dizerem que estão fazendo de tudo no combate ao vírus chinês sem, ao mesmo tempo, fazerem porra nenhuma.
Desde quando a proibição do comércio legal de algum produto impediu a sua aquisição? Eu não conheço nem tenho notícias de nenhum traficante morrendo de fome. De bala, sim; de fome, não. Impedir festas clandestinas? Ora porra, será que o prefeito acha mesmo que o cara que organiza festas clandestinas não tem como conseguir bebidas para elas da mesma forma, clandestinamente? Que o sujeito não tenha lá o seu fornecedor, o seu Al Capone?
Esse tipo de medida ditatorial em nada coíbe a ação do vagabundo e dos vagabundos que participam de suas festas, só põe é no cu do comerciante honesto e do cidadão ordeiro, do cara que só quer tomar a sua cervejinha em casa, sozinho, ou acompanhado da esposa, a assistir a um filme, a ouvir uma musiquinha, a dar uma metidinha. É o comerciante honesto que verá seus ganhos mirrarem ainda mais; é o cidadão ordeiro que irá ter um sono menos tranquilo e feliz.
Acontece que é muito mais fácil se engrandecer como governante marretando decretos na cabeça do honesto e do ordeiro, pois não haverá resistência da parte deles, pois eles, uma vez honestos e ordeiros, os acatarão; revoltados, sim, porém pacíficos, mansos e resignados. 
Mais fácil, muito mais fácil, valer-se da certeza da obediência civil do honesto e do ordeiro do que fazer o necessário, do que fazer o que deveria ser feito, intensificar a fiscalização e o policiamento destas festas clandestinas. Chegar chutando a porta e descendo o pau na moleira e metendo o ferro na boneca da vagabundada dos "pancadões". Exatamente a mesma situação em que se desarma a população para diminuir a violência, mas em que o bandido continua a ter acesso a armas cada vez mais potentes.
O que por um lado, porém sem diminuir o meu desprezo pela medida, eu até entendendo. Caso um prefeito, durante a fase roxa de combate ao vírus chinês, vire um cabra do saco roxo e mande descer o cacete nos organizadores e frequentadores (mentores e cúmplices do crime), ele será acusado de ditador, de fascista, de nazista, de filho do Bolsonaro.
O pior de tudo, e o que muito me preocupa, é que esse tipo de medida pode acabar por "inspirar" prefeitos de outros municípios. Enquanto o loquidau de birita está lá em Passos, está tudo bem. Lei Seca no cu dos outros é cerveja sem álcool. O duro é se a moda pega.
Mas o decreto foi decretado! Semana Santa sem birita só com muita fé em Jesus! E o pior : nem vai dar pro Nazareno transformar uma água em vinho aqui, um suquinho de caju Maguary em batidinha lá, um chazinho de camomila em cerveja acolá. Ele ainda está morto. Só ressuscita no Domingão.
O decreto caiu feito uma bomba na pequena e outrora pacata cidade de Passos. Cidadãos largaram seus expedientes, esqueceram a comida a queimar no fogão, deixaram filhos e animais de estimação sem água nem comida, não compareceram à consultas médicas do SUS que esperavam há mais de 6 meses, esqueceram de tomar o remédio da pressão alta, a insulina, de fazer a hemodiálise, faltaram a encontros com amantes, o padre suspendeu a missa das seis, o bicheiro cancelou os sorteios da tarde, o zonão fechou as janelas e apagou a luz vermelha.
E todos, todos desabalaram rumo aos armazéns, mercadinhos, hipermercados, lojas de conveniência e distribuidoras de bebidas para se abastecerem e resistirem a esse inverno nuclear, a mais essa provação do Senhor.
As imagens abaixo mostram as aglomerações em busca de birita causadas pelo decreto do prefeito, cuja intenção era justamente evitá-las.
As filas estavam maiores que a fila para tomar a coronavac. Há inúmeros relatos, inclusive, de pessoas que passaram a sua vez na fila da vacina para irem garantir o seu fardinho e a sua 51. "Vacina é o caralho! Vacina, eu tomo outro dia! Eu vou é garantir a minha puro malte!", disse um idoso, e saiu célere, a claudicar com sua bengala.
E esse aí de cima gastou o auxílio emergencial em Amstel. Tudo em Amstel! Que Crystal, Bavaria, Schin, Lokal e Serrana, tomo eu!!!
O seo Zé da Zefa, vizinho da minha sogra, está sossegado. Tendo previsto o loquidau de birita, cujos rumores já circulavam há quase uma semana, fez antes a compra do mês.
Pãããããããããta que o pariu!!!!!