quarta-feira, 31 de agosto de 2016

OS PETRALHAS ESTÃO NO OLHO DA RUA, por Reinaldo Azevedo

"Quinze anos depois de eu ter criado a palavra “petralha” para designar as práticas dos petistas em Santo André, lá se vão eles. Morrem com retrato e com bilhete, mas sem luar, sem violão. Sei muito bem o peso de enfrentá-los ao longo dos anos. Hoje é fácil. Felizmente, os grupos de oposição ao petralhismo se multiplicaram. E ninguém corre o risco de morrer de solidão por enfrentar a turma. Alguns o fazem até por oportunismo. Outros ainda porque farejam uma oportunidade de negócios. O tempo que depure as sinceridades, as vocações, as convicções. Não serei eu o juiz.
Sinto-me intelectualmente recompensado. A razão é simples. Desses 15 anos de combate, 10 estão no arquivo deste blog, vejam aí. Houve até um tempo em que um blogueiro petista sugeriu à grande imprensa que tentasse investigar quem eram e como viviam os leitores desta página. Afinal, integrávamos o grupo, dizia ele, dos apenas 6% que achavam o governo Lula ruim ou péssimo. E é claro que os companheiros tentaram transformar a repulsa ideológica ao partido num crime.
A recompensa intelectual não se confunde, nesse caso, com vaidade. A minha satisfação não decorre de ter antevisto a queda dos brutos. Isso seria fácil. Em algum momento, claro!, eles cairiam, ainda que fosse pelas urnas. O meu conforto deriva do fato de que, então, eu não via fantasmas quando apontava a máquina formidável de assalto ao estado que se havia criado. Ela se destinava não só a enriquecer alguns canalhas como a assaltar as instituições.
Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu exagerava! Ah, quantas vezes tive de ouvir que a palavra “petralha” designava, na verdade, um preconceito! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu criminalizava no PT o que considerava normal e corriqueiro nos outros partidos! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu estava a serviço do tucanato! Essa última acusação, diga-se, em tempos mais recentes, também ganhou as hostes da extrema direita caquética, que precisava que o PT fosse um monstro invencível para que sua ladainha impotente e escatológica continuasse a se alimentar da paranoia dos tolos.
E, no entanto, as coisas estão aí. Os petralhas foram derrotados por sua alma… petralha! Porque a maioria dos brasileiros pôde, afinal, enxergá-los como eles de fato são.
Não! A palavra “petralha” nunca designou apenas uma caricatura a serviço do embate ideológico. Os petistas adorariam que assim fosse. A máquina de propaganda esquerdista tentou até criar o contraponto à direita, que seriam os “coxinhas”. Mas foram malsucedidos no intento. Porque, afinal, de um coxinha, pode-se dizer o diabo. Mas uma coisa é certa: coxinha, em nenhuma de suas acepções, virou sinônimo de ladrão. Marilena Chaui, aquela, pode achar um coxinha reacionário, preconceituoso, abominável… Mas não tenho a menor dúvida de que ela confiaria sua carteira a um coxinha e jamais a deixaria à mercê de um de seus pupilos petralhas.
José Eduardo Cardozo e os demais petistas se zangam quando se diz que Dilma caiu pelo “conjunto da obra”. No seu entendimento perturbado do mundo, entendem que se está admitindo que ela não cometeu crime de responsabilidade. Trata-se, obviamente, de uma mentira. Sim, o crime foi cometido, mas é fato que ele não teria sido condição suficiente, embora necessária, para a deposição. Foi, sim, o jeito petralha de governar que derrubou a governanta, aliado a uma brutal crise econômica, derivada, diga-se, desse mesmo petralhismo: não fosse a determinação de jamais largar o osso, a então mandatária teria tomado medidas para evitar o abismo. Ocorre que ela não devia satisfações ao Brasil, mas ao projeto de poder, tornado realização, que havia se assenhoreado do estado e que vivia de assaltá-lo.
A resistência venceu. Ao longo dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes em que eles tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão acabados. Estão severamente avariados, e cumpre aos defensores da democracia que sua obra seja sempre lembrada como um sinal de advertência. Até porque, a exemplo de todas as tentações totalitárias, também a petista tem seus ditos intelectuais, seus pensadores, seus… cineastas. As candidatas a Leni Riefenstahl do petismo, sem o mesmo talento maldito da original, não conseguiram fazer a epopeia do triunfo; então se preparam agora para fazer o réquiem, na esperança de que o ressentimento venha a alimentar o renascimento.
Vem muita coisa por aí. Não completamos nem o primeiro passo da necessária despetização do estado. O trabalho será longo, vai durar muitos anos. Não temos como banir os petralhas da política, mas é um dever civilizacional combater suas ideias, enfrentá-los, resistir a suas investidas — e pouco importa o nome que tenham.
Publiquei “O País dos Petralhas I”.
Publiquei “O País dos Petralhas II”.
Anuncio aqui, para breve, fechando o ciclo, o livro “Petralhas Go”.
Acabou.
Eles perderam. A democracia venceu."

sábado, 27 de agosto de 2016

Coletivo de Hienas

Multiplica-se a MISÉRIA nos ventres. 
Alegre. 
Alegre a balançar-se nos cordões umbilicais: 
Pés ao alto, cabelos ao vento, 
Risos de boca sem dentes na alma. 
Alegre, a MISÉRIA. 
Alegre. 
E totalmente descompromissada.

Teco-tecos e Meteoros

Vamos amigo, 
A nos fazer tácita companhia, 
A ficar calados no escuro. 
Que as únicas luzes 
Sejam as cintilações do gelo fundente 
Em nossos whisky. 
Legítimo, o gelo, 
Peixes de vidro fluorescentes 
A decomporem-se em mar irrespirável. 
Falso, o whisky 
- que para o escocês nunca bastou nosso numerário -, 
Mas que, mordaça líquida-volátil, 
Serve a nos manter em silêncio 
E de adubo e formol se presta à amizade. 
Não comentemos acerca: 
Do carro berrando, rua acima, a plenos falantes, 
Do caminhão de lixo de fétido ruminar, 
Da ambulância a vociferar desgraças 
Por sobre os viadutos e sonos dos menos infelizes, 
Das matilhas de adolescentes, hienas insuportavelmente alegres, 
Dos gatos em cio a trepar por sobre os telhados 
E por sob a lua falciforme. 
(Nada comentemos, ainda que, dos gatos, inveja esmagadora abata-se sobre nós). 
Não conjeturemos do iminente dia, 
Duro de rotina, sonado, de ressaca. 
Contemplemos de línguas anestesiadas 
Os teco-tecos e os meteoros a pintar o 7 no céu. 
E se, 
Lá pelo fim da segunda ou início da terceira garrafa, 
For imprescindível algo dizer, 
For caso de legítima defesa romper o escuro, 
Conversemos, pois, sobre defuntos: 
Que é para esquecer da vida.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A Vaca do PT Vai Pro Brejo, Finalmente

Começou o julgamento final do impedimento da presidanta Dilma Rousseff, aquela que foi sem nunca ter sido. Agora, finalmente, a vaca do PT vai definitivamente para o brejo.
O processo todo segue um ritual digno de um circo, é verdade; de um teatro burlesco, de teatro de revista, com vedetes de perna de fora e tudo; horas e horas de muita palhaçada, de muito discurso desse e daqueloutro senador sobre o que todo mundo já sabe : que Dilma e o PT são os maiores ladrões que esse país já teve - e olha que sempre fomos muito bem servidos nesse quesito -, e que o impeachment da presidanta já são favas contadas.
Mas apesar de toda a encenação, de todos os protocolos, de todos os prolegômenos, o motivo é dos mais justos : colocar o PT para fora do Planalto, e , com ele, espero, liquidar, exterminar com todas as chances da esquerda assumir novamente o poder, seja por detrás de qual legenda ela se esconda feito lobo em pele de cordeiro. É o fim da esquerda.
Lula, que sem mais o quê, só pode mesmo falar suas besteiras costumeiras, pronunciou-se : classificou como "a semana da vergonha nacional" o início do julgamento do impeachment de Rousseff. 
"Estou envergonhado de perceber que o Senado, que deveria estar debatendo os interesses do povo brasileiro e os interesses dos trabalhadores, está discutindo a condenação de uma pessoa inocente", disse Lula, que questionou a legitimidade do julgamento. "Hoje é o dia em que começam a rasgar a Constituição do país". 
Grande e fedorenta bosta o que Lula diz. Que credibilidade o sapo barbudo ainda julga ter? 
A Constituição do Brasil não está a ser rasgada; pelo contrário, está é a ser respeitada, seguida à risca. E é justamente isso que causa estranheza e deixa sem defesas os do PT, é isso que os faz espernear inutilmente. São os vermelhoides os que não têm o costume de seguir as leis, são eles que sempre viveram e tiraram suas forças da ilegalidade, da clandestinidade, eles é que sempre fizeram das sombras a sua plataforma política.
É chover no molhado, eu sei, mas foi a corja vermelha que, na década de 1960, quis tomar o poder na marra, na base da metralhadora, de ações de guerrilha, de muito sequestro e assalto a bancos. Foi a corja vermelha que, em 2003, no início do primeiro mandato de Lula, começou sub-repticiamente, um trabalho de aparelhamento do Estado, como forma de tornar propriedade de um partido o que é público, o que é patrimônio de toda uma nação, e que é o que todo governo comunista faz, toma o Estado como sua propriedade particular.
Da primeira vez, foram impedidos pelo valoroso Exército Brasileiro, sempre pronto e treinado a repelir e a rechaçar os inimigos da nação, sejam eles externos ou internos - alguém ainda é capaz de dizer que os militares erraram em seu julgamento de que essa canalhada é inimiga da nação?; os militares pecaram por certos excessos no combate aos criminosos, vitimando igualmente alguns inocentes úteis, mas o julgamento deles a respeito do risco iminente à soberania nacional foi exato e preciso.
E, agora, foram impedidos de trocar o verde de nosso lábaro estrelado pelo vermelho-stálin por um Estado democrático de direito, que é para não terem a desculpa de dizer que foram presos e julgados sumariamente.
Mas continuarão insistindo nisso. Lula e seus sei lá quantos ladrões insistirão na história do golpe até os últimos de seus dias, até os seu leitos de morte.
Não foi golpe. Uma vez que tudo foi - está- sendo feito seguindo os trâmites previstos na Constituição, não é golpe. Golpe, deu o PT no país.
E também, a essa altura do campeonato, pouco importa se foi golpe ou não, o mais importante é que mais uma vez a tentativa de instalar no Brasil um estado comunista foi frustrada, foi derrubada.
Querem viver num país esquerdista? Vão para Cuba, para a Venezuela, para a Coreia do Norte.
Vão pra lá, vão, seus porras! Provar da democracia comunista!
Dilma expressando os seus mais sinceros sentimentos ao povo brasileiro. Tomar no cu? Ora, vá você, Dilma. Aliás, já tomou, né?

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Professor Sandrão : Por uma Vereança Sóbria

Aberta, de novo, a temporada de caça ao eleitor! As eleições municipais estão aí! Recomeça a corrida pelo ouro das urnas! Todo mundo querendo uma boquinha, uma sinecura, uma teta pra mamar sem ter que se preocupar com a chifrada do boi. Me ajeita que eu te ajeito, é a ideologia vigente entre os candidatos, independente de partido
Carros de som já estão nas ruas esburacadas da malcuidada Ribeirão Preto a vomitar os toscos jingles dos candidatos a vereador; "santinhos" começam a entulhar as ruas, as praças, os para-brisas dos carros e as caixas de correios das residências; semianalfabetos desdentados e desempregados estão nas esquinas das principais avenidas a envergar as bandeiras dos partidos e dos candidatos, porta-bandeiras desse nosso eterno e triste carnaval de horrores.
E dá de tudo nas Olimpíadas pelo pódium da Câmara Municipal : velhas raposas de sempre, vendedores de bilhete da loteria federal, aposentados do INSS, ex-jogadores de futebol, socialites decadentes, lipoaspiradas, botocadas e falidas, donos de padaria, carteiros, garis, motoristas de ônibus, motoboys, travestis, pedagogas, assistentes sociais, o chinês da loja de R$ 1,99, o garçon da chopperia famosa, cantor de sertanejo universitário, pastores evangélicos, radialistas e apresentadores de programas vespertinos de TV etc etc etc. Só a elite da sociedade. Só a nata da ricota.
Mas essa eleição promete ser diferente, acena-nos com uma novidade. Um luminoso, ainda que cambaleante, raio de esperança desponta no seco e enfumaçado pelas queimadas de cana-de-açúcar horizonte de Ribeirão Preto.
É o Professor Sandrão. Conhecido também como o Sandrão da Luta, o Sandrão da Força, o Sandrão da Causa, entre outros vários epítetos, alcunhas e codinomes, sendo o mais notório, o Sandrão da Breja. Conheço Professor Sandrão desde as priscas eras, desde o tempo do Sarney, e muitas já entornei em sua companhia sempre animada e ilustrativa.
Professor Sandrão é professor de História e esquerdista juramentado; não obstante, é gente boa pra caralho, é boa-praça que só. Professor Sandrão fala sobre política, mas não faz catequese, não faz partidarismo. Professor Sandrão é de boa, é da paz; não quer brigar nem doutrinar ninguém, só quer passar o seu recado e tomar sua cervejinha no sossego.
Professor Sandrão é multitarefa, acumula atividades à de professor. É boêmio das antigas, estilo Nélson Gonçalves. É músico da melhor qualidade, conhece tudo do bom samba, de Adoniran a Nei Lopes, de Germano Matias a Hermínio Bello de Carvalho, personalidades que, à exceção de Adoniran, Sandrão já acompanhou com seu grupo Os Etanóis. 
Professor Sandrão esmerilha na percursão, é um virtuose da timba, seja lá o que isso for; reza a lenda - uma das muitas que o cercam - que Professor Sandrão já tocou até com a lendária Vitória-Régia, banda do não menos mitológico Tim Maia. 
Professor Sandrão é folião de antigos carnavais, defende o estandarte do bloco Os Alegrões, no carnaval de rua meio triste de Ribeirão - as águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, é o carro-chefe do bloco.
Professor Sandrão é bebe-quieto, é aquele cara que fica despercebido em seu cantinho, bebericando devagar e sempre a sua cervejinha num copo americano Nadir Figueiredo e, quando você se dá conta, acabou com o estoque do boteco.
Reza outra lenda que, em certa feita, Sandrão foi pescar com dois amigos em uma represa de Miguelópolis, cidade da região, mas não os acompanhou a bordo do barco alugado para que alcançassem águas mais profundas e piscosas. Professor Sandrão, modesto, preferiu ficar no barranco do rio, com sua varinha de bambu e a zelar pelo container de isopor com a provisão de cerveja estimada para os três dias de pescaria.
Os amigos passaram o dia no barco e, ao retornarem ao pôr-do-sol, contam que lá estava o Sandrão, no mesmo lugar, na mesma posição, sem ter fisgado um mero lambari - não devia ter saído dali nem pra mijar, não tinha trocado uma única minhoca do anzol. E o isopor, a cápsula de sobrevivência, é claro, vazio!
E, agora, Professor Sandrão promete fazer história na política da provinciana Ribeirão Preto, terra, até hoje, de disfarçados cabrestos e coronelismos, uma capitania hereditária legada pelos barões do café aos usineiros da cana-de-açúcar.
E, agora, Professor Sandrão é candidato a vereador. É o nº 50.000 do PSOL - 51.000 melhor se lhe adequaria.
A cereja do bolo de sua plataforma política é, claro, a Educação Pública, o seu pão de cada dia, o seu porto seguro. Professor Sandrão não é ingrato à sua ingrata profissão, não cospe no copo em que bebeu.
De chofre, Professor Sandrão propõe : "Salário de vereador igual ao de professor".
Cagou logo na entrada, Sandrão. Cagou. Que porra é essa, meu velho? Inverte isso, Sandrão, inverte isso! Salário do professor igual ao de vereador, isso sim! Para que tirar o doce da boca dos nobres edis e arrumar briga assim logo de cara? 
Estenda, simplesmente, as regalias dos vereadores também à classe professoral. Faça aprovar um projeto que estabeleça a isonomia salarial entre as classes políticas e a do magistério, afinal, produtividade por produtividade, produzimos, ambos, merda nenhuma. Zero. Também quero assessores! Assessoras, professoras assessoras gostosas e novinhas, cheias de vontade de aprender e servir ao velho, porém, não morto, mestre.
O Marreta apoia o Professor Sandrão! Em Ribeirão, vote no Professor Sandrão.
Ribeirão é 50.000! 
Professor Sandrão, por uma vereança sóbria!!!
Ajude o Sandrão a garantir o seu (o dele) litrão!!!

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Luas Ladras De Bagdá

Os cafés da Tia Nastácia,
As siestas em tapetes voadores
Por entre os minaretes de Bagdá
(espantando as garças que voam e me fazem chorar);
O vinho de algas azuis
Tomada à beira de uma Atlântida
Ainda não submersa;
Os pergaminhos roubados
E os mapas-múndi de nossos mundos
Esboçados à magna luz do olhar de Alexandre
Em sua fênix-biblioteca,
Nossas meias-noites em carruagens de abóboras.

Tão pequena a probabilidade de voltar a acontecer
Que começo a considerar a grande probabilidade
De nunca ter acontecido.
De ter sido mera travessura de Sandman
E seu embornal de areia,
Poeira colhida do teu Mar da Tranquilidade.
Traquinagem de João Pestana
Que invadiu nosso Sonhar
Sem escrúpulo, crápula
Sem pestanejar.

Se disseres que não,
Que nada aconteceu,
Que tudo é novidade para ti,
Ficarei tranquilo em vida,
Mas angustiadíssimo na hora da morte
(por não ter velejado no mercúrio líquido do teu ventre prateado, pulsante e maravilhosamente sem som).

Se disseres que sim,
Que igualmente tudo é boa memória para ti,
E certeza de impossibilidade futura,
Viverei atormentado
Mas estarei sereno na hora da morte
(feito astronauta que arranca voluntariamente o capacete e sucumbe feliz sem ar nas tuas invaginações, na tua cratera mais acolhedora).

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Pênis de Japonês o Elimina das Finais do Salto Com Vara. Fui Traído Pela Minha Própria Vara, desabafou.

Japonês praticar salto com vara é pedir pra ser zoado. Não dá pra resistir. É piada pronta. Japonês treinar salto com vara é implorar para virar alvo de chacotas e zombarias. É pregar por conta própria um papel na costas escrito Me chute, Me passe a mão. É masoquismo. É autobullying.
Japonês não tem vara, tem, no máximo, hashi, que são aqueles pauzinhos de comer sushi. A varinha do japonês mal chega pra comer o peixe cru da japonesa e o cara quer ganhar medalha em salto com vara.
Mas há os persistentes - marca, aliás, do oriental. Há os que não aceitam conformados a predestinação e o determinismo biológico, há os que não se rendem aos limites impostos pela natureza, e, em nobres e inspiradores exemplos de força de vontade e da superação nascida da perseverança, os rompem, os ultrapassam.
É o caso do atleta varudo japonês Ogita Hiroki, de 28 anos - uma espécie de Kid Bengala nipônico, com seus, talvez, sete ou oito centímetros de piroca. Ogita Hiroki desafiou todos os prognósticos em contrário, desmontou paradigmas e disputou nesta segunda-feira (15/08) uma vaga nas finais olímpicas do salto com vara. Um herói nacional, sem dúvida.
Só que na hora H, na hora da onça beber água, na hora do sapeca iá-iá, o japonês se fodeu. Foi traído e desclassificado pela própria vara.
Acontece que três varas estão em jogo no salto com vara masculino. Três varas sobre as quais o atleta deve exercer completo domínio e imprimir perfeita sincronia. Não à toa, é considerada a modalidade mais técnica do atletismo.
A primeira é a vara em si, aquele varão, composto por camadas de fibra de carbono e fibra de vidro, que o atleta usa à guisa de uma alavanca para se alçar às alturas do Olimpo e tentar passar por sobre uma segunda vara, o sarrafo, aquela barra vertical que estabelece a altura a ser superada, e que, em hipótese alguma, pode ser tocada, sequer triscada, qualquer contato, de qualquer parte do corpo do atleta, por mais tênue e leve, derruba o sarrafo, o salto é invalidado e o atleta, eliminado.
Pois o atleta japonês coordenou com maestria e passou célere e incólume pelas duas varas. Alavancou-se do chão com coreografados força e ângulo de subida, subiu reto, impecável, um falcão peregrino, transpôs o sarrafo e curvou o corpo em medido semicírculo para evitá-lo. Mas se esqueceu da supracitada e ainda não esclarecida terceira vara.
Ogita Hiroki esqueceu-se de coordenar a terceira vara do jogo, a sua própria vara, a benga. O corpo passou rente ao sarrafo, já caindo para a classificação, mas aí a piroca do japonês enroscou no sarrafo. Foi ela, a piroquinha do japonês, e não um braço, um joelho ou um pé, que tocou e derrubou o sarrafo. Desclassificado. Eliminado pela própria piroca.
Taí a benga do japonês enroscando no sarrafo. Piroquinha de anjinho barroco. Do Davi, de Michelângelo. É isso o que eu chamo de um azar do caralho! Pãããããããta que o pariu!!!

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

XV de Agosto (II)

Hoje
O dia veio com sintomas de extinção em massa.
O vento correu
Seco, afiado e castanho
Roubando a umidade
Dos olhos
Das narinas
Das vulvas.
Motosserrando o verde
E os ipês amarelos,
Soterrando os vivos
Do pó dos que dele vieram
E que a ele já retornaram
(engana-se quem pensa se tratar de queimada de cana-de-açúcar),
Abastardando o azul do céu.
As nuvens coraram-se de açafrão
De gás mostarda
Para sufocar o sol
Para asfixiar a luz
Para criar ocre mortalha
Sépia sepulcro.
Mas o cio resiste
O verde, fotossíntese
O sol ainda arrota dinamite.
A vida,
Capenga,
Maratonista aleijado
Que manca sobre próteses que lhe causam escaras nos cotocos dos membros amputados,
Insiste em nos cuspir à cara seu degradante espetáculo
E nos sorri,
Canalha, filha da puta,
Vencedora vencida, 
De seu pódio sem concorrentes,
Sem outras bandeiras
Nem hinos de outras nações. 
(e um pterodáctilo, aproveitando-se da minha distração, do meu porre, achega-se de mansinho e faz seu ninho no velho boldo de minha sacada)

XV de Agosto

Despertemo-nos! 
E aos outros, também!
Despertemo-nos!
E a todos os de nossa ninhada!
É instante de recontar a história,
De alavancar nossos mortos do túmulo, portanto.
Arranquemo-nos de nossas clausuras,
Coloquemo-nos em ruínas,
E também aos nossos telhados,
Para que a tempestade convença à consciência
Os ainda reticentes em seus sonos :
Nem um único ouvido surdo deve sobrar.
A história, é necessário, seja redita, reouvida
E os mortos, incomodados,
Espezinhados em seus repousos de órbitas despalpebradas.
A história,
A bem da sanidade,
Seja esquecida, depois;
E os mortos, vital, reocupem-se, ao término, de suas putrefações;
Só depois, porém.
De todos, assim, toda a atenção!
E, de cada qual, uns poucos cobres para a cerveja
- nosso veneno espumante -,
Para a cerveja, uns poucos cobres devem chegar,
Que é comum do homem os seus venenos custarem pouco,
Quem já viu, entretanto, uma cura a preço módico?
Sem lástimas : é do homem, é do homem!
Tomemos, pois, gelado, o nosso veneno
Que, atenuante, é de mais agrado ao paladar.
Às crianças, mantê-las de ouvidos despertos,
Qualquer beberagem de cafeína e noz de cola,
Aos mortos, nada
Que de nada precisam, os mortos.
Acomodemo-nos em nossas cadeiras
(e há assentos para todos, com o nome de cada um em seus espaldares, a exemplo das lápides)
Para mais uma coletânea de atrocidades,
De pecados a ser justificados.
Para impulsionar a roda de mais um ciclo de sofrimentos:
Purguemo-nos em mais um XV de Agosto.

sábado, 13 de agosto de 2016

Não Tem Cura Pra Puta

A cachaça não é apenas mais uma bebida alcoólica, uma mera aguardente de cana-de-açúcar. A cachaça é uma instituição nacional. Deveria figurar ao lado dos símbolos nacionais, a saber : a bandeira, as armas, o selo e o hino. É a alma tupiniquim tridestilada em alambiques de cobre e envelhecida em barris de pau-brasil.
A cachaça é bem inalienável do Patrimônio Cultural Imaterial do país. Faz parte do folclore. Abrilhanta as letras e as canções de nossa MPB. Desequilibra quem a toma, mas equilibra a balança comercial da nação - é um dos nossos principais produtos de exportação.
Não lhe bastassem todos esses atributos e relevâncias, algumas cachaças guardam em si também propriedades medicinais e curativas, sobretudo para os males da alma, do coração e do bom e velho chifre. É água que se passarinho bebesse, cantaria muito melhor e feliz. 
É uma verdadeira panaceia. Deveria constar dos compêndios da farmacopeia brasileira, ao lado do boldo, da carqueja, do capim santo, da babosa, do barbatimão, do guaco e do agrião, do quebra-pedra e da catuaba.
Cura desde a dor no velho chifre até rosca frouxa, passando por acalmar sogra e corno brabos.
Presta-se também, é claro, a levantar pau mole e encharcar buceta seca 
Também é eficiente beberagem contra a feiura e a baranguice. A cachaça opera milagres na supervalorizada área da estética e do embelezamento.
Mas sempre existem os oportunistas, os picaretas de plantão, os aproveitadores da boa-fé do povão. Charlatães que, valendo-se da credibilidade da cachaça junto à população, lançam produtos fraudulentos no mercado, falsos paregóricos, meros placebos que não se prestam nem a paliativos para a moléstia à qual dizem se destinar. Até porque, para certos males, não há cura. Encontrei, dia desses, dando uma flanada pela net, um desses falso elixires.
Se você tem namorada, esposa ou outras que tais com o famoso calor na bacurinha e, de repente, viu nessa cachaça uma esperança para os seus problemas, a perca - a esperança - de vez, meu amigo. Não existe ex-puta, não há cura para o furor uterino e bucetal. Até porque uma única vacina jamais seria capaz de abarcar todos os tipos de puta que existem. Puta tem mais tipos e mais cepas que o vírus da dengue e da influenza. Tem a puta psiquiatra (aquela que dá com hora marcada), a puta freira (aquela que dá aos pobres), a puta bavária (a preferida dos amigos), a puta Casas Bahia (te olha e diz : quer pagar quanto?), a puta 11 (vai um atrás do outro), a puta coração de mãe (sempre cabe mais um), a puta MST (não pode ver um pau que já quer armar a barraca e assentar), puta Skol (aquela que dá o redondo), a puta duvido (duvido que alguém pague para comer isso) etc etc. E a pior das putas : a puta filha da puta, aquela que dá pra todo mundo menos pra você. Pããããta que o pariu!!! Literalmente.

em tempo : as propriedades esculápicas da cachaça são cantadas em verso e prosa pelo cancioneiro nacional desde as priscas eras. Uma bem-humorada canção a respeito é Água Benta, composição e interpretação de ninguém mais ninguém menos que ele, o maior catedrático do assunto que o Brasil já teve : Mussum, o Mussunzis, com a luxuosa participação de Alcione, a Marrom, outra grande conhecedora do tema.
Água Benta
(Mussum)
Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer
Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer

Eu já vinha bem cansado, quando alguém me avisou
no final daquela estrada tem água que cura desamor
lavei minha alma, refresquei meu coração
e aprendi que tendo calma nunca vou sofrer desilusão

Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer
Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer

Agradeço a vós, que me deu a indicação
Hoje eu tenho meu corpo fechado e purificado de amor e paixão
Se não fosse a água, que curou a mágoa do meu coração
minha vida era tristeza e eu morreria de tanta paixão

Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer
Eu peguei, eu peguei para beber
a água benta que faz a gente esquecer.

para ouvir Água Benta, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

É a Podridão, Meu Velho (11)

E olha que eu trapaceei,
Dormi a tarde inteira
Para que a madrugada pensasse
Que ainda sou viril.
E olha que rondei a cidade
A me procurar.
E olha que pus o arado de diamante na vitrola
Para reaerar e adubar
Os sulcos dos velhos vinis
(Pus Chico, pus Nélson, pus Ney, pus Adoniran, pus Raul, pus o Rei).
E olha que escavei as velhas gavetas
As velhas cartas
As velhas fotografias
Reli os velhos gibis.
E olha que tomei rum
Puta que o pariu se tomei rum!!!
O meu superamendoim,
O meu espinafre,
O meu soro do supersoldado,
A minha picada de aranha radiativa,
A minha explosão gama,
O meu mjolnir.
E nada dos ossos soldarem,
Das asas reinflarem.
E olha que eu esperei,
Parado,
Pregado na pedra do porto...
E nada do meu galeão-fantasma,
Do meu holandês voador
Atracar.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

RECL - AMAVA

Do blog http://p-o-e-s-i-a.blogspot.com.br/ - muito bom, Gianndre, muito bom.

RECL - AMAVA
Ela sempre reclamava
ou do amor que era demasiado
ou do amor que faltava,
engraçado é que me tinha ao lado
e sorria.
Aquela santidade nunca convenceu.

Eis que num belo dia,
de certo por falta de poesia
disse-lhe,
"o problema não é você, sou eu".

Ela já irritadiça com meus dilemas,
disse-me
"de agora em diante
ainda que o amor novamente se levante
é cada um com seus problemas".

Eu, que de besta tenho tudo
fui desbravar o mundo,
fui raso, fui fundo, fui leve.

Eis que num belo dia
em vários, para não mentir,
retorna a maldita poesia
como quem nada quer
fazendo-me correr
atrás daquela mulher.

Ela, sempre no seu orgulho
agora vem e me diz
"cada um com seus poemas".

Atente-se bela dama,
Leminski também dizia

"Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima".

digo eu nesse instante
quem não valoriza
a quem te ama
sente um dia a vida vazia.
 
Raiva ou rima
de agora em diante?

domingo, 7 de agosto de 2016

Escola Sem Partido, Já (2)

Estudantes de nosso Brasil dantes mais varonil, sobretudo os do ensino médio, atentem-se : estão querendo lavar suas cabeças, estão querendo aliciá-los para o exército vermelho de vagabundos que sangra os erários desse país, que nada produzem, que vivem às custas dos impostos do verdadeiro trabalhador, do pagador de impostos.
A canalhada vermelha vagabunda se disfarça de várias formas : de movimentos sociais, de ONGs, de sindicatos, de partidos políticos e, sim, de professores. 
Atente-se, jovem formando, querem seu cérebro moldável e ingênuo para formatá-lo, para chipá-lo.
Eu, na minha época de estudante de ensino médio, isso em inícios da década de 80, já senti esse tipo de assédio político e doutrinador. De um professor de História, um barbudo boa-pinta por quem as menininhas se molhavam, um cara metido a cool, frequentador do boêmio bairro paulistano da Vila Madalena, conhecia músicos e artistas e outras merdas. Esse cara queria porque queria converter todo mundo pro PT, pedia pra gente falar bem do Lula em casa, para que nossos pais votassem no canalha etc.
Isso em 1982, 1983. Imaginem, então, hoje. Hoje, os missionários do PT, as Testemunhas do Lula, estão exponencialmente mais abusados. Vejo isso todos os dias na escola em que leciono.
Leiam com atenção os seis itens a seguir, que são os deveres do professor imparcial, do professor que informa sobre todos os lados da moeda sem demonstrar pendor nem tampouco predileção por nenhum deles, que informa friamente sobre as principais versões, opiniões (não a dele) e perspectivas sobre o assunto e deixa que o aluno decida por si. 
Se algum professor violar algum desses itens, se tentar fazer com que você mude de opinião política, se disser que seu candidato não presta, denuncie, converse com seu diretor, seu coordenador, e, se não adiantar, recorra à Diretoria de Ensino de sua região, na figura do Supervisor de Ensino. Não se deixem enganar, não se deixem seduzir pela fala mansa desse povo, que posa de muito democrata e tudo, mas que são incapazes de aceitar qualquer opinião que divirja da deles. Cuidado com os formados nas tais "ciências humanas", nos cupinchas de Marx, sobretudo as sociólogas e as pedagogas.
Para mais informação sobre o projeto Escola Sem Partido:

"Em uma sala de aula, a palavra é do professor, e os estudantes estão condenados ao silêncio. Impõem as circunstâncias que os alunos sejam obrigados a seguir os cursos de um professor, tendo em vista a futura carreira; e que ninguém dos presentes a uma sala de aula possa criticar o mestre. É imperdoável a um professor valer-se dessa situação para buscar incutir em seus discípulos as suas próprias concepções políticas, em vez de lhes ser útil, como é de seu dever, através da transmissão de conhecimento e de experiência cientifica."
                                                                                                               Max Weber

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Buceta Go!

Nos últimos dias, semanas, sei lá, tenho visto de soslaio, ouvido de canto de orelha, em jornais, revistas, tv, internet, manchetes sobre o jogo Pokémon Go. Que ele já teve um porrilhão de milhões de downloads (mais um idiota cibernético que fica milionário), que está prestes a se tornar uma verdadeira pandemia, que já cativou uma legião imensa de seguidores zumbis eletrônicos, que absorve de tal forma o jogador, deixa-o tão alheio ao mundo real, que já foi responsável por atropelamentos e até por mortes em países como os EUA e o Japão, onde foi primeiramente lançado. Nas rápidas manchetes em que meus olhos bateram inadvertidamente, nada era dito do jogo - em que consistia, como funcionava, parecia que era algo tácito, ele foi lançado hoje e era como se o mundo todo, instintivamente, soubesse suas regras. Também não fui atrás de me informar de detalhes. Não me interesso. Quero que o Pikachu se foda!
Só que agora essa merda chegou ao Brasil, e como infecta, principalmente, o público adolescente, em cujo meio eu passo grande parte de meu dia, acabo não tendo escapatória, todas minhas rotas de fuga ficam bloqueadas e acabo por tomar ciência desses modismos.
Hoje, na aula antes do intervalo, naqueles cinco minutos finais em que os alunos já guardaram o material e ficamos esperando, todos, o soar do gongo da liberdade, dois deles se chegaram a mim e perguntaram se eu também ia caçar pokémons. Perguntaram de sacanagem, claro, pois é notória a minha aversão por celulares e congêneres. Eu ri e perguntei que porra é essa de caçar pokémons, pois ontem ainda, dentro do ônibus, vira três idiotas com seus celulares nas mãos a trocar informações sobre a localização desse e daquele pokémon.
O que entendi sobre o jogo foi o seguinte : uma vez feito o download e concluída a instalação, o programa do jogo utiliza o GPS do celular para localizar a cidade em que se encontra o jogador, e, a partir daí, utilizando os recursos do Google Maps, distribui as criaturinhas pelas ruas, avenidas, praças, parques e até cemitérios da cidade do jogador. E está pronto o cenário do jogo. Daí, é só o cara sair seguindo as instruções do GPS, andando pela rua feito um autômato, com olhos grudados na telinha, à cata dos pokémons. Quando o jogador é bem sucedido em seguir as coordenadas e chega corretamente ao local onde está um pokémon, uma pokébola aparece na tela e é com ela que o jogador irá tentar aprisionar o pokémon.
E qual o objetivo do jogo, perguntei eu, caçar pokémons para quê? Ué, respondeu o aluno, para virar um treinador de pokémons, é claro. Claro, porra! Que burrice a minha! Para que alguém caçaria pokémons? Para virar treinador de pokémons, ora! Os caras capturam os pokémons, os treinam e depois se reúnem em ginásios para realizar batalhas entre eles - no jogo, também há coordenadas de locais na cidade em que jogadores devem se encontrar para travar suas contendas. Ou seja, o cara vira uma espécie de cafetão de pokémon; melhor, é um tipo de briga de galo.
Caçar pokémons... pããããããata que o pariu!
Quase não me contive - a fala chegou-me à garganta e eu a engoli de volta, feito vômito que conseguimos conter -, quase falei : caçar pokémons? virem homem, porra, vão caçar buceta!!!
Sim. Na minha época, na idade em que esses meninos estão, 16, 17 anos, a gente saía pelas ruas era a caçar a famosa buceta! Não à toa, a meladinha é conhecida também pela alcunha de A Perseguida. Caçávamos era buceta. Quase sempre fracassávamos, é verdade. Na época, há trinta ou mais anos, a buceta era presa muito mais difícil, não andava tão exposta como hoje, era mais furtiva, se camuflava melhor ao meio, era mais esquiva, arisca e arredia, era muito mais difícil de ser localizada, encurralada e, finalmente, capturada. Tanto que muitos meninos que queriam ver uma buceta acabavam indo na zona, mas aí não tinha muita graça, pegar buceta em zona é a mesma coisa que pescar em pesque-pague, não me dá nem nunca me deu tesão nenhum.
Caçar pokémons... Hoje, o jovem tem a internet como uma arma poderosíssima de localização, captura e abate de bucetas. Há sites em que o cara se cadastra com um único objetivo, trepar. Não é pra namorar, não é pra casar. É só para trepar rapidinho e nunca mais ver. Sites como o Tinder, Badoo etc, também se utilizam de mecanismos de geolocalização para colocar pintos e bucetas em contato. O cara se cadastra e assim que faz o login já aparece um mapa com a localização dele e de todas as bucetas disponíveis num raio de tantos quilômetros, é só o cara escolher a que está mais perto e partir pro crime. É um GPS de buceta!
Se houvesse um GPS de buceta quando eu era adolescente, eu não faria mais nada da vida, eu ia era gastar a rola, nem sei se estaria vivo até hoje.
Hoje, o jovem tem um GPS de buceta em suas mãos e faz o quê? Vai caçar pokémons! Ora, vão à merda, meninos. Caçar pokémons é o caralho! Vamos parar de perobagem, molecada. De queimar a rosca, de morder a fronha, de beijar pra trás, de dar ré no quibe, de agasalhar o croquete e de empanar a salsicha.
Vá caçar buceta, molecada! Vão caçar buceta, meninos. Vão armar alçapão pra pegar xereca. Vão bater tarrafa para pescar xavasca!
Buceta Go, meninos! Buceta Go!
 Taí, a Pikachana.