quinta-feira, 30 de maio de 2013

Amado Batista, Muito a Ensinar a Chico, Gil, Caetano e a Outros Heróis da Resistência (Ou : Os Kids Vinil, Os Verdadeiros Heróis do Brasil)

O Brasil é, para dizer o mínimo e não desanimar logo de cara, um país curioso. Não um país de curiosos, que fique bem claro, não um país que se interessa por informações, muito menos por formação, não curioso no sentido meritório da palavra, curioso no sentido de esdrúxulo, esquisito.
Ao nosso último governo declaradamente autoritário, a chamada ditadura militar, a exemplo do que vou falar, não houve resistência, não houve uma verdadeira luta contra.
Não houve resistência à ditadura militar : a ditadura é que foi a resistência. A resistência, no período de 1964 a 1984, não foi exercida pela oposição, sim pela situação. Resistência aos grupos armados, de safados, guerrilheiros, terroristas, assaltantes de banco, sequestradores, que desejavam tomar o poder à força das armas, transformar o país numa grande Cuba, numa grande merda. Em resumo : a resistência foi feita aos canalhas que se diziam da resistência, à corja que, hoje, atende genericamente pelo nome de PT.
Logo, não houve heróis da resistência. O máximo que conseguimos imitar, copiar, macaquear dos verdadeiros movimentos de resistência de outros lugares do mundo, chegou-nos nas figuras dos cantores da resistência. Que, no Brasil, luta se faz via mãos guarnecidas de, uma, um violão, outra, de um copo de whisky. E, lógico, muita passeata para aparecer no jornal das 20 horas. No Brasil, a sangrenta luta é feita de caminhadas e canções, ou seja, não é feita, nunca existiu.
Atribui-se a Caetano, Gil, Chico, e que tais, boa parte da ferrenha oposição que teria minado e feito ruir o regime militar. Uma oposição exercida pela arte, música, poesia, pela intelectualidade. Balela! Flores não vencem canhões; canhões maiores o fazem.
Esses heróis-cantores nunca se opuseram efetivamente a nada. Aliás, quando a coisa apertou para o lado deles, autoexilaram-se. E em lugares extremamente hostis e inóspitos à vida humana, Roma, Londres, Genebra : autoexilaram-se em cartões postais. Deve ter sido mesmo muito penoso passar temporada em Londres ou Roma, enquanto o cu do país pegava fogo.
E já que falamos de canções, por que não a de Sérgio Sampaio para esses nossos heróis? "Há quem diga que eu dormi de touca/Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga/Que eu caí do galho e que não vi saída/Que eu morri de medo quando o pau quebrou."
E se nunca foram opositores de porra nenhuma, por que são lembrados como tais? Marketing! Comercial, pessoal e histórico. Ótimo para as gravadoras, que detinham os direitos sobre a fala, a música e os pensamentos dos salvadores da pátria; ótimo para os próprios heróis, que tiveram as suas figuras investidas de uma mística guerreira, e que, para muitos, acabou por se transformar em um bom fundo de aposentadoria; ótimo para a história do país, tão deficitária de grandes vultos e que, na urgência deles, faz o óbvio, fabrica-os.
Em outros países, os heróis nacionais são representados em estátuas de bronze, espalhadas por todas as praças públicas. Nossos heróis foram esculpidos em círculos de vinil, amontoados nas prateleiras das hoje extintas e saudosas lojas de discos.
É isso mesmo! São os Kids Vinil, os verdadeiros heróis do Brasil.
Fabricou-se à época, e em vinil, uma inteligência nacional que nunca existiu, fabricou-se uma intelectualidade consciente, combativa e engajada em resolver os problemas do povo que nunca existiu, nem aqui e em nenhum outro lugar do mundo. Quem já viu algum intelectual preocupado com os problemas da população?
Os antigos festivais da TV Record, mostrados hoje como locais de reunião de uma juventude politizada e com esforços rumo a uma nação mais justa, nada mais foram do que o que realmente eram, festivais de música. Ninguém estava ali para protestar de fato, ou, se o fazia, mal sabia contra o que estava a gritar. A juventude da época ia aos festivais para se divertir, cantar as músicas que tocavam nas rádios, e ponto. O bando ia aos festivais porque era lá que o bando estava, o bando vai para onde o bando está.
Guardadas as devidas (e tristes) proporções, os antigos festivais da canção em pouco diferiam das atuais "baladas universitárias". Claro que uma coisa é ter o pessoal da Tropicália e da Bossa Nova a se apresentar nos palcos, outra, totalmente diferente, é ter o atual e abominável sertanejo universitário, nem há termos de comparação, musicalmente falando. Mas dizer de uma maior consciência política, sobretudo do público, e por que não dizer também dos ídolos?, é besteira. É querer fazer História sem que a História tenha havido. Por isso, digo sempre que o Brasil não tem História, tem folclore.
A juventude da época, como a de agora e as de qualquer outras épocas vindouras, cantava e repetia o que lhe era empurrado goela abaixo pelos meios de comunicação; a juventude das décadas de 1960 e 1970 só teve mais sorte em relação à qualidade do que lhe descia garganta abaixo, só isso.
Mas vá lá que seja : consideremos que o regime militar tenha sofrido severa oposição por parte da intelectualidade da época, representada nas figuras dos heróis-cantores e da juventude que acorria em torno deles.
Quem suporia, então, que o cantor Amado Batista tivesse tido suas desavenças com regime militar? Sim, Amado Batista, um dos reis do chamado brega, estilo musical considerado inculto e alienado. Pois ele, sim, as teve, suas desavenças com os militares. Amado Batista também foi preso e torturado.
Nem eu sabia disso. Nem eu, que sei da farsa de nossa intelectualidade, jamais supus.
A revelação veio da boca do próprio Amado, no programa De Frente com Gabi, capitaneado pela chatíssima, prepotente e dona de uma autoestima imensamente superior ao seu real talento, Marília Gabriela.
No último domingo, 27/05, Amado Batista contou que, antes de se tornar músico profissional, quando tinha entre 18 e 19 anos, trabalhava em uma livraria e usava o emprego para facilitar aos intelectuais o acesso a livros considerados subversivos na época.
Disse também ter aceito a incumbência de enviar somas em dinheiro a um professor universitário do Maranhão, professor que, mais tarde, Amado Batista descobriu estar envolvido em ações clandestinas de grupos esquerdistas.
Foi preso por dois meses e torturado. "Me bateram muito. Me deram choques elétricos", disse. "Um dia me soltaram, todo machucado. Fiquei tão atordoado. Queria largar tudo e virar andarilho."
Era do que Marília Gabriela precisava para acionar todo o seu fundamentalismo intelectual. Perguntou a Amado Batista se ele teria vontade de confrontar seus torturadores. Com certeza, Marília Gabriela estava esperando ouvir - queria muito ter ouvido - uma resposta positiva do cantor. Uma resposta positiva imbuída de revolta, ira e sede por revanchismo, a resposta típica que dariam a própria Marília e os considerados de seu meio. Ela esperava que Amado Batista se inflamasse, indignasse-se, clamasse por justiça e defendesse maior rigor nas investigações da chamada Comissão da Verdade.
Marília se decepcionou. O que ouviu foi bem diferente, deixou-a com cara de cu, mais ainda. O que Marília ouviu foi uma resposta muito mais consciente, honesta e repleta de hombridade. Uma resposta calcada na mais absoluta realidade, isenta dos véus e distorções que a memória causa em eventos que há muito se passaram. Uma resposta real, sem lendas nem heróis.
Amado Batista respondeu : "Não. Eu acho que mereci. Fiz coisas erradas, eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho. Acho que eu estava errado por estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força. Fui torturado, mas mereci." 
Claro que dizer que mereceu e, mais ainda, comparar uma sessão de tortura a um ralho ou a umas palmadas maternas foi uma puta duma simplificação. É óbvio que Amado Batista, digamos assim, exagerou em seu eufemismo para sintetizar os suplícios a que foi submetido - existe eufemismo exagerado, eufemismo hiperbólico? Se não, crio-o agora, melhor, Amado Batista o criou, apenas o registro, batizo-o.
Acredito que a comparação de Amado Batista tenha tido por objetivo imediato encerrar rapidamente o assunto, como quem diz educadamente a um entrevistador insistente e levemente sádico, passemos logo à outra pergunta.
Mais amplamente, entretanto, o que Amado Batista disse foi que o passado são águas passadas. Sabia o que estava fazendo, que estava envolvido com grupos opositores ao regime, da clandestinidade e subversão de suas ações, que havia tomado um dos lados de uma guerra. Fez cagada, foi pego pelo inimigo e arcou com as consequências de suas escolhas, todas conscientes.
Quando diz que mereceu ser torturado, e aí é que reside a sua grande mostra de caráter e hombridade, quer dizer que não foi vítima de nada nem de ninguém, de nenhum regime, a não ser de suas próprias escolhas. Amado Batista não fica - nunca ficou, tanto que só agora isso veio a público - posando de coitadinho, de injustamente perseguido. Estava em uma guerra e o lado em que estava perdeu. Apanhou e seguiu em frente com a vida, sem fazer do passado o seu currículo. Só isso. Simples assim.
Amado Batista, o brega, o inculto, o alienado, mostrou uma lucidez e, repito, uma hombridade muito maiores que as de todos os nossos heróis-cantores da resistência, Chico, Caetano e Gil. 
E por que será que nosso cantores cultos nunca disseram o que disse Amado Batista, que erraram, que fizeram cagada, que ajudaram a colocar no poder a quadrilha que aí está? Por que nunca deram a cara a tapa, por que nunca se retrataram publicamente, uma vez que publicamente sempre apoiaram esses sanguessugas que se instalaram no Planalto Central do país? Será que não reconhecem seus atos como erros, será que acreditam mesmo que a tal esquerda ande a fazer bem à nação? Ou será que eles realmente não erraram, que sabiam muito bem quem apoiavam, que era isso, inclusive, o que pretendiam? Ou será que os seus silêncios - eles que dizem tanto ter gritado contra os militares -, estão sendo muito bem recompensados através de benesses governamentais?
Gil, Caetano e a maninha Bethânia nadam de braçadas nos incentivos da Lei Rouanet. Caetano, em 2009, tentou captar R$ 2 milhões governamentais para ajudá-lo na turnê de seu disco Zii e Ziê, a maninha Bethânia, em 2011, mais modesta, tentou captar R$ 1,3 milhões da mesma Lei Rouanet para a criação de um blog de poesias, qualquer um pode fazer um blog de graça, Bethânia precisaria de um milhão e trezentos mil reais para fazer o seu, e Gilberto Gil, além dos recursos Rouanet, "ganhou" o cargo de Ministro da Justiça do governo Lula.
Antes apadrinhados por Antônio Carlos Magalhães, a baianada continua muito bem assistida pelo governo do PT. É a eterna máfia do dendê, que se mantém desde os tempos dos festivais da Record, como muito bem disse o excelente jornalista investigativo Cláudio Tognolli.
Chico Buarque também já deu lá suas mordidinhas. Aproveitando a irmã Ana de Holanda a ocupar o cargo de Ministra da Cultura, conseguiu verba pública para bancar a tradução de seu romance Leite Derramado para o francês, em 2011. O livro de Chico é bom, pode, inclusive, ter até havido real merecimento, pode até não ter havido nada de ilegal na concessão do dinheiro, mas teria sido um ato moral, com a irmã encabeçando o Ministério da Cultura? 
A "ajuda" foi cancelada na época. Com a repercussão do caso, a Comissão de Ética Pública decidiu que Ana de Hollanda estava a cometer a amoralidade e a imoralidade de ajudar o irmão. Mas Chico não se deu por vencido, esperou a poeira baixar e voltou à carga um ano depois, conseguiu de novo a tal verba para a tradução de seu romance, dessa vez para o idioma coreano, o que o ajudará a vender sua obra para o continente asiático.
Por quais motivos os nossos heróis-cantores da resistência diriam mal do atual governo, não é? Por que fariam canções de protesto contra os nossos mensalões de cada dia?
Talentos à parte, ficou bem claro que, quando o assunto é honestidade e caráter, o considerado brega e inculto Amado Batista tem muito a ensinar aos nossos gênios da MPB, aos intelectuais da (cada vez mais) festiva esquerda brasileira.
Fonte : FolhaWeb

terça-feira, 28 de maio de 2013

Padre Venezuelano Entrará Para os Alcoólicos Anônimos

A Venezuela pós-morte de Hugo Chaves, atualmente sob o comando de Nicolás Maduro, passa por um de seus mais difíceis períodos de recessão econômica. Maduro reconheceu que o país enfrenta uma crise de abastecimento, em que os víveres básicos ao consumo começam a rarear, arroz, feijão, batata, carne, leite, açúcar, óleo de cozinha, e até o redentor de todas as horas, o papel higiênico, item para o qual já se providenciou uma grande importação.
Diante deste quadro de um quase apocalipse bíblico, o Monsenhor Roberto Lucker, diretor de comunicação da Conferência Episcopal Venezuelana, veio a público externar toda a sua consternação, revelar sua profunda apreensão em relação ao momento, manifestar uma preocupação legitimamente cristã e humanitária : caso a crise não seja urgentemente solucionada, faltará vinho para a celebração das missas.
O país sem arroz e feijão para comer, de cu sujo e a Igreja se preocupando com o estoque da birita. Bem católico, mesmo.
A coisa é séria, garante o monsenhor. O estoque de vinho está se esgotando, e o único fabricante do país está enfrentando problemas em seu sistema de produção. 
"As reservas estão acabando. Teríamos que importar o vinho, mas não temos dólares para isso. O vinho armazenado dá apenas para mais dois meses", disse o monsenhor.
Um estoque de birita para mais dois meses e o cara já está preocupado? Esse entende realmente do santo ofício. Esse, como diria o saudoso Mussum, é do sindicatis.
Mas o que é isso, monsenhor? Onde está a sua crença no Senhor e em Sua divina providência? Cadê a sua fé no milagre do transubstanciação?
Transubstanciação é o fenômeno através do qual qualquer substância ingerida por um católico, desde que com muita fé no Senhor, transforma-se no corpo, carne e sangue de Cristo. 
Sem abordar agora o canibalismo explícito do ato, é o que acontece, dizem, com a hóstia consagrada ao ser ingerida em comunhão; feita com água e farinha, torna-se na carne de Cristo. Teoricamente - isso lá pela "teoria" deles -, ela poderia ser feita de qualquer outro material. Ingerida com fé, em corpo de Cristo se torna. O mesmo vale para o vinho, que se transmuta no sangue do Nazareno.
Pois estenda a sua fé, monsenhor, intensifique suas orações nesse momento de provação. Uma vez que, em presença da verdadeira fé, tudo vira corpo e sangue de Cristo, substitua o vinho da missa por uma cristalina água mineral e a beba em comunhão com o Cristo. Quem sabe ela não se verte no mais licoroso dos vinhos? Mantenha a sua fé, monsenhor, não é hora de fraquejar frente ao mundano.
Caso sua fé não seja o bastante, ou o objeto dela não seja eficiente, ou existente, ou esteja cagando e andando para a sua episcopalidade e para a sua crise de abstinência, paciência, tenha muita paciência. Onde a fé falha, só nos resta a paciência.
Um dia de cada vez, monsenhor. Só por hoje.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

E deus Criou os Idiotas, À Sua Imagem e Semelhança

Como você se sentiria caso sua pequena filha, de 10 anos de idade, cursando a quarta série do primário, chegasse em casa com uma avaliação em que ela obteve nota 100, A+ ?
Orgulhoso, o superpai, todo cheio de si, convicto de ter posto seu petiz nos corretos trilhos do conhecimento e do saber, certo? Será? Depende. Nem sempre.
Lá vem o Azarão zicar a alegria alheia, dirão alguns; lá vem o Azarão tentar azedar tudo com seu mau-humor. Vejamos se é o caso.
E se sua filha, em sua prova nota 100, tivesse "acertado" ao assinalar como falsa a afirmação de que a Terra tem bilhões de anos de idade? E se ela tivesse também "acertado" ao dizer que é falso os dinossauros terem vivido há milhões de anos? "Acertado" ao dizer que pessoas e dinossauros já chegaram a conviver no planeta? "Acertado" o dia em que deus criou os dinossauros, o sexto?
Continuaria a se sentir o pai do ano? Só se você for o escroto de um crente, um fanático religioso, um ser com um QI ainda menor que o dos dinossauros, extintos há 65 milhões de anos e com os quais o homem nunca deu de cara.
Se você for um pai racional e mininamente preocupado com a formação de seu filho, vai se sentir um verdadeiro merda. Um incompetente por ter demorado tanto em perceber o tipo de arapuca educacional em que jogou seu filho. Vai é ficar com um puta dum remorso pelo estrago, talvez irreversível, feito na cabeça de seu filho, e com seu consentimento.
É o que se deu com um pai de uma criança matriculada em uma escola privada do estado norte-americano da Carolina do Sul. O pai sabia se tratar de uma escola religiosa, mas acreditava que apenas os valores morais do cristianismo fossem transmitidos às crianças, que a visão religiosa não influenciasse no restante do currículo.
Ele conta que percebeu a cagada quando a filha "corrigiu" o locutor de um documentário a que assistiam juntos. Assim que o narrador disse dos 65 milhões de anos da extinção dos lagartões, a menina protestou, dizendo que eram apenas 4 mil anos. O pai confirmou o dito no documentário e ouviu : "Você estava lá?"
No dia seguinte, como prova do que falava, a menina chegou com a avaliação em que fora premiada com nota máxima. A avaliação foi realizada em 28 de março deste ano, mas o pai preferiu manter o silêncio até o fim do semestre letivo, para que sua filha não sofresse qualquer tipo de perseguição na escola. Transferirá a filha de escola, óbvio. Abaixo, a tal prova.
Infelizmente, não precisamos ir às terras de Tio Sam para nos deparar com esses absurdos. Em 2004, Rosinha Garotinho, a então prefeita da cidade do Rio de Janeiro, impôs o ensino do criacionismo como a "teoria" válida sobre a origem dos seres vivos, Darwin era apenas uma lenda, uma curiosidade.
Muitas das chamadas escolas religiosas trocam o material convencional por apostilas de conteúdo criacionista até a 4ª série, algumas só introduzem a teoria da evolução no ensino médio.
A exemplo, Débora Muniz, diretora do Colégio Presbiteriano Mackenzie, de São Paulo, diz : "O evolucionismo é apresentado no momento certo".
O que é o momento certo? Quando as capacidades cognitivas do sujeito já estão destruídas e incapazes de qualquer curiosidade ou vislumbre racional do mundo que o rodeia? Quando o sujeito já for um lavado cerebral, repetidor de ladainhas e um feliz pagador de dízimo?
Para essas escolas, Darwin e sua teoria da evolução é que são mitos, é que são histórias de ninar.
Segundo esses idiotas, homens e dinossauros coabitaram o planeta há até 4 mil anos, quando, esquecidos de embarcar na arca de Noé, foram extintos. Aliás, para essas religiões, o planeta não teria idade superior a 6 mil anos. 
Dos dinossauros, só teria sobrado um, o monstro de Loch Ness. Pensam que estou brincando? Não estou. Escolas cristãs da Lousiana (EUA) usam o monstro de Loch Ness como "prova" de que dinossauros e humanos coexistiram. O simpático Nessie seria um pleiossauro, que, uma vez aquático, teria sobrevivido ao dilúvio.
Se deus criou os dinossauros no sexto dia, e os idiotas feitos à sua imagem e semelhança, em que dia foram criados? Em todos os dias. Até hoje. Aos montes. Às fornadas.
Fonte : Snopes

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sacaneemus Papam

O brasileiro odeia o argentino. Talvez por o argentino jogar bola melhor que ele, talvez por fazer churrasco melhor que ele, com certeza por fazer vinhos melhor que ele e ser mais instruído que ele. E o argentino também odeia o brasileiro, pela implacabilidade da Terceira Lei de Newton.
Na verdade, acho que se amam. Feito velhos amigos que morrem de vontade de se atracar num forte abraço quando se encontram, mas, machos latinos que são, demonstram seu afeto através de brincadeiras, palavrões e sacanagens mútuas. 
Mas deixemos estabelecido o que já está : brasileiro odeia argentino, e vice-versa. Um adora sacanear o outro.
Até se for o Papa. Até o Santo Padre. Até o representante terreno do Todo-Poderoso.
O Papa é o Papa. Respeito e reverência absolutos e subservientes lhe são devidos por todos os católicos. Mas para o brasileiro, por mais católico e temente a deus que ele possa ser, o Papa é, antes de tudo, um argentino. Deus é deus, argentinos à parte!
E o Papa é argentino dos legítimos, dos insuportáveis, torce para um time de futebol, come churrasco, toma mate, e é um sujeito dos mais cultos que possa haver. Com todos esses predicativos, não teria mesmo como o Papa Francisco I escapar de uma sacanagenzinha por parte dos brasileiros.
O Papa virá ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, a acontecer em julho na cidade do Rio de Janeiro. É esperada a participação de 3 milhões de jovens católicos, ou seja, três milhões de jovens que passarão os cinco dias da Jornada a cantar, a louvar e a adorar um deus inexistente. E a se ajoelharem, claro. Que é disso que o deus cristão gosta, de joelhos dobrados e esfolados e de cabeças baixas. O que mostra que, se o jovem for mesmo o futuro do país, nós estamos fudidos.
Durante a Jornada, o Papa será tratado com toda a pompa e circunstância que sua posição lhe garante, vai ter sua mão beijada até não poder mais, vai ficar com hérnia no saco, voltará a Roma com o saco rendido.
Mas, salamaleques à parte, o Papa não sairá do Brasil sem levar chumbo grosso. O Papa será alvo de uma verdadeira "pegadinha", muito pior que as do Faustão, que as do Silvio Santos, pior ainda que as do João Cléber.
No encerramento da Jornada, quando o Papa, já cansado, doido para se recolher ao conforto do Vaticano, pensar que a presepada, finalmente, está prestes a acabar, será submetido a uma tortura digna da Inquisição Espanhola, a um suplício à altura dos infligidos por aqueles aparelhos medievais de tortura, aos quais a Igreja Católica tanto era afeita.
O Papa será exposto a um show oferecido pelos padres cantores!!! Pãããããta que o pariu!!! Nem o Papa merece. Nem um argentino merece. E seis deles, de uma vez só!!! Seis padres cantores.
Pe. Marcelo Rossi, o milionário do terço bizantino; Pe.Fábio de Melo, o padre-galã-bombadão-amigo-do-chalita; e mais outros quatro de que nunca ouvi falar, Reginaldo Manzotti, Omar, Juarez e Gleuson. E terá até uma freira cantora, Kelly Patrícia. Pois é, Kelly Patrícia, isso lá é nome de freira? Nome de freira é Anunciação, Sebastiana, Maria, Tereza, Emengarda, Justina. Kelly Patrícia está mais para alguma periguete do funk.
E já está tudo armado. O canto dos padres não se perderá ao léu, não se esvaiará ao fim da Jornada. O arcebispo do Rio, Dom Orani, pedirá ao Papa a autorização para que a missa final, quando deverão estar reunidos 1,5 milhão de pessoas em Guaratiba, se torne um DVD. O sinal da transmissão será aberto, mas a organização da Jornada contratou uma empresa para fazer toda a parte de captação. Depois, sendo aceita a proposta de dom Orani, o lançamento do DVD será negociado com as gravadoras. E mais ouro nos cofres do Vaticano, mais faz-me-rir nas caixinhas das igrejas.
Sei, desde tenra idade, quando fui ensinado por meu tio Sérgio, que todo Papa é um filho da puta, mas seis padres cantores e mais uma periguete de Cristo? Chego quase a ter pena do Papa.
Nunca pensei que diria isso um dia : que seu deus lhe proteja, Papa, os seus tímpanos e a sua sanidade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Joaquim Barbosa e os Partidos-Lego

O vocábulo "partido" deriva, obviamente, do verbo partir, e pode significar, entre outras coisas, algo que partiu - que se foi -, ou algo que se partiu - que se separou, quebrou, rompeu-se.
Os chamados partidos políticos se encaixam (deveriam se encaixar) na segunda situação.
Quando uma representação política dá origem a outras duas ou mais representações, quando um partido se subparte em outros dois ou mais, é porque coabitavam, sob a mesma égide, grupos moral, ética e ideologicamente discordantes.
Teoricamente, são as suas diferentes posições ideológicas que os partem, são os seus divergentes modos de pensar e atuar em prol da cidadania e do bem público (essa doeu até em mim).
Teoricamente. Não sei em outros lugares do mundo, mas, no Brasil, novos partidos são fundados não por dissidências de opiniões, e sim como forma de melhor repartir o bolo dos tributos dos contribuintes entre um maior número de canalhas, como forma de aprimorar e tornar mais plena a gatunagem. No Brasil, não há partidos, há repartidos, há um butim coletivo em cima do público.
O mecanismo de formação partidária no Brasil é claro e evidente. Um partido tem lá o direito de lançar x candidatos a vereador, y candidatos a deputado estadual, w a deputado federal, z a senador etc. Ora, se o mesmo bando se quebrar em 10 bandos, camuflados sob diferentes 10 legendas, terá o direito de lançar a candidatura de 10x candidatos a vereador, 10y a deputado estadual, e assim por diante.
No Brasil, há uma única ideologia, a do poder. No Brasil, há uma única dissidência política : você está no poder, eu quero estar. É o poder sem face da direita, é o poder sem face da esquerda, o do centro. Ou melhor, o poder com a mesma face, da esquerda, da direita, do centro.
No Brasil, os partidos são montados como aqueles jogos infantis de blocos que se encaixam - são os partidos-lego. No brinquedo, todos os blocos, independentemente do tamanho, formato e cor, encaixam-se perfeitamente, são todos intercambiáveis, e a criança os vai unindo de acordo com sua vontade, em montar um carro, uma casa, um animal...
No Brasil, os políticos são os blocos de Lego. Independentemente de suas origens sociais, formações e "ideologias" politicas e partidárias, todos eles se encaixam perfeitamente uns nos outros, são todos igualmente intercambiáveis, vão se unindo (e desunindo) de acordo com suas conveniências.
Não são partidos reais. A prova cabal do que falo aparece claramente em épocas de eleição, são as coligações estabelecidas entre os aparentemente mais improváveis aliados. Ora, primeiro eu me parto do outro grupo, nossas diferenças são inconciliáveis, logo em seguida, eu me coligo a ele, ao mesmo grupo de que me declarei inimigo anteriormente. Primeiro, penso diferente, depois, volto a pensar igual?
Porra nenhuma. Nunca houve divergências. Só uma maneira de melhor pilhar o dinheiro público.
E se não são partidos de verdade, são o quê? Partidos de mentirinha! São partidos de mentirinha!
E não é esse humilde e confuso escriba que lhes diz isso, foi ELE quem afirmou tal fato a todo o país. Ele, o Vingador Negro da cega, surda e muda Justiça Brasileira. Ele, Joaquim Barbosa.
O presidente do STF desancou nossos parlamentares. De modo educado, ainda que nada sutil, Barbosa disse o que todo mundo sabe, que são partidos de mentirinha, que são todos farinha do mesmo saco.
Abaixo, trechos do pronunciamento de Joaquim Barbosa em uma palestra proferida no IESB (Instituto de Educação Superior de Brasília), instituição da qual é professor. 
"Nós temos partidos de mentirinha. Nós não nos identificamos com os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partidos. E tampouco seus partidos e os seus líderes partidários têm interesse em ter consistência programática ou ideológica. Querem o poder pelo poder. Esta é uma das grandes deficiências, a razão pela qual o Congresso brasileiro se notabiliza pela sua ineficiência, pela sua incapacidade de deliberar";
"O Poder Legislativo, especialmente a Câmara dos Deputados, é composto em grande parte por representantes pelos quais não nos sentimos representados por causa do sistema eleitoral que não contribui para que tenhamos uma representação clara, legítima. Passados dois anos da eleição ninguém sabe mais em quem votou. Isso vem do sistema proporcional";
"Hoje temos um Congresso dividido em interesses setorizados Há uma bancada evangélica, uma do setor agrário, outra dos bancos. Mas as pessoas não sabem isso, porque essa representatividade não é clara".
As verdades ditas por Barbosa inflamaram os ânimos do Legislativo, ofenderam e melindraram Henrique Alves, o presidente da Câmara dos Deputados, que classificou a declaração como "desrespeitosa". Claro que ofenderam, caso contrário, não seriam verdades.
Dá-lhes, Barbosa! Não vai resolver porra nenhuma, mas dá-lhes!!! É sempre bom ver alguém cagar na cabeça de quem embosteia a nossa. É a vingança do anão que pisa na sombra do gigante. Mas dá-lhes!!!

domingo, 19 de maio de 2013

Tá Todo Mundo Louco! Oba! Tá Todo Mundo Louco!

Quem lê o Marreta de vez em quando sabe do meu desprezo por todos os psicocharlatães, os ólogos, os eutas e os atras. Todos esses empoados que dizem entender da mente humana, que dizem conhecê-la e - que filhos das putas - até curá-la.
Nem do corpo sabem, nem do que é palpável e mecânico. O que dizer, então, dos meandros e labirintos da mente, cada qual com seu Minotauro feito em zelador? Farsantes.
Desses, sem dúvida, os psiquiatras são os mais perigosos, pois, com suas insígnias de James Bond, têm licença para matar, digo, para medicar.
Em conluio com os grandes laboratórios, gerem uma das máfias mais organizadas e rentáveis desse planeta de máfias, a da indústria farmacêutica. O psiquiatra inventa a doença, os laboratórios, o remédio. Creio até ser o contrário : os laboratórios criam uma droga que supostamente combateria um quadro de sintomas, o psiquiatra dá um nome pomposo qualquer a tal quadro - síndrome disso, distúrbio daquilo - e convence as pessoas de que elas são portadoras dele, o psiquiatra vende a doença ao paciente, juntamente com o remédio.
Nada de mais, aliás. É uma indústria como qualquer outra, a vender coisas supérfluas. Modelos novos de carros, roupas, computadores, celulares, televisões etc são criados a cada ano - até várias vezes ao ano - e enfiados goela abaixo de um consumidor cada vez mais retardado e glutão por novidades.
Por que não o mesmo com as doenças? O distúrbio do ano, o transtorno da estação outono-inverno. E que melhor doença para ser inventada que a impossível de ser detectada em exames laboratoriais, de ressonância, ultrassom, laser e que tais? Que melhor embromação que as doenças psicológicas, psiquiátricas e outros psicoembustes?
E as pessoas anseiam por novas doenças como anseiam pelo lançamento de um novo smartphone, acham chique ter a doença da moda, a do personagem da novela. Em certos meios, quando a pessoa fala que foi diagnosticada com transtorno bipolar, ou síndrome do pânico, ou déficit de atenção, ela é olhada com certa inveja, com reverência, até; dá-lhe status.
Assim, a Associação Americana de Psiquiatria lança, de tempos em tempos, edições atualizadas do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, em sigla inglesa), que define que comportamentos são normais e quais são doentes, é a chamada Bíblia da psiquiatria; quão oportuno o nome, já que tão fantasiosa e enganadora quanto.
 Lançada ontem, a nova edição do DSM passa a classificar diversas atitudes e sentimentos até agora considerados normais como doenças mentais. Dentre um desfile de absurdos, uma nova doença mental me chamou a atenção.
É o transtorno chamado, em inglês, de "skin-picking", que consiste em cutucar a pele constantemente, o que resulta em ferimentos leves, pequenas escoriações, arranhadelas. A nova "doença" foi incluída no capítulo sobre transtornos obsessivos-compulsivos. Nada mais é que o cara que cutuca os cantos dos dedos, tira uns fiapos de pele, arranca umas cutículas, distraídamente.
Eu faço isso! Sobretudo quando estou concentrado em alguma atividade mental, distraio-me e cutuco os cantos dos dedos; às vezes, sentado ao sofá, também cutuco o calcanhar e retiro alguns excessos de queratina do casco grosso, que só duas coisas engrossam no velho, o nariz e o calcanhar. Sou louco, então?
O curioso é que o DSM, até a década de 1970, classificava o homossexualismo como um distúrbio mental, hoje não o classifica mais. Hoje, o furor na argola é considerado um comportamento absolutamente normal.
Vejamos se entendi.
Quer dizer que gostar de um tarugo de carne de 20 cm de comprimento por mais uns tantos de diâmetro lhe rasgando as paredes intestinais, fazendo-o cagar pra dentro e lhe dando uma surra, um cacete (literalmente) na próstata, glândula das mais sensíveis e mais propensas a um tumor, dá ao sujeito um certificado de plena sanidade mental? Ter prazer em ser seviciado confere um diploma de mens sana ao entubador de brachola?
E aquele que arranca uma pelezinha aqui, outra ali, recebe o atestado de transtornado mental, a carteirinha de louco de pedra?
Pããããããta que o pariu!!!
E qual seria o genial "tratamento" a nós destinado? Calçar-nos luvas de boxe, devidamente presas com cadeados? Ou, quem sabe, pôr-nos uma daquelas focinheiras a la Hannibal Lecter, já que alguns de nós também se valem dos dentes para o "autoflagelo"? E, óbvio, tarja preta, muito tarja preta, que é o objetivo primeiro disso tudo.
E para o cara que curte ser empalado, o médico prescreve o quê? Só um pouquinho de KY. Nem uma rolha de cortiça no cu? Sacanagem. Isso é sacanagem!!!
Essa história me lembrou uma piada.
O viadinho tava lá, de quatro, levando uma surra de vara nervosa, e o cara que estava fazendo o favor, enquanto comia o viadinho, roía as unhas e as cuspia para longe, roía as unhas e cuspia, roía e cuspia. Aí, o viadinho olhou para trás e disse : que mania feia, essa sua! No que o cara respondeu : tá, bonita é a sua, né?
Pãããããta que o pariu, de novo!!!
A esses psiquiatras idiotas, o conto O Alienista, de Machado de Assis, deveria ser leitura obrigatória. Simões Bacamarte com PhD, é o que são esses crápulas.
Fonte : BBC Brasil

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Lista

Uma das mais belas letras de Oswaldo Montenegro. Coloco-a aqui para meus amigos, aqueles que eu mais via há 10 anos atrás, e que nos perdemos, que nossas vidas nos perderam, nos desviaram. E Oswaldo, brilhantemente, fala de todos os "amigos", não somente do camarada com quem estudávamos, íamos às festas, sentávamos à mesa do buteco, com quem íamos chorar nossas dores de corno.
Os amigos com os quais Oswaldo nos desafia a fazer uma lista são também os sonhos antigos, abandonados e esquecidos, são os mistérios que não insistimos mais em desvendar, são os segredos que a gente guardava, são as mentiras que condenávamos, os defeitos que nos definiam, enfim, o conjunto de tudo o que nos fazia o que éramos à época. E de que tanto gostávamos.
Os nossos amigos esquecidos da lista de Oswaldo Montenegro somos nós mesmos. Cada um é o próprio amigo esquecido e abandonado de si mesmo. Oswaldo pergunta : onde você ainda se reconhece? Na foto passada ou no espelho de agora? Genial! E verdadeiro. 
O cara da foto antiga nos lembra muito mais de nós que o rosto atual no espelho. Feche os olhos e mentalize uma imagem de você. É a atual? Ou é uma de suas versões mais antigas, uma que elegeu para representar você para você mesmo, nos seus momentos mais íntimos e introspectivos? A foto da carteirinha da escola, a da faculdade? A do RG? A do crachá do primeiro emprego? A da viagem com a primeira namorada? A do nascimento do filho?  
Pois você acaba de se lembrar de um grande amigo relegado aos cantos de sua vida, de um grande amigo deixado no fundo de suas gavetas, entre traças e naftalinas : você mesmo.
E você? Ainda lembra de você de vez em quando? Vez ou outra, ainda dá uma ligadinha para você? Volta e meia, sai para beber, conversar e ouvir música com você?
A Lista
(Oswaldo Montenegro)
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu poderoso (e nostálgico de mim mesmo) MARRETÃO.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os Sem-Terra e os Sem-Pregas

Dizem que a necessidade faz estranhos aliados, eu digo que é a conveniência que os une. Nesse caso, porém, o aglutinador da esdrúxula aliança não é uma nem outra. Nesse caso, o elo entre eles é a ociosidade, a vagabundagem, a falta de serviço, de uma enxada nas mãos de sol a sol, a falta de vergonha na cara, de caráter mesmo, e a imensa vontade de conseguir privilégios e, de quebra, dar uma mamadinha nas tetas do governo.
Hoje, com cruzes nas mãos e ao som de baterias e gritos de ocupação, os manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegaram em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao lado de integrantes do Movimento LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. 
Sem-terra e viadada lado a lado? O que eles têm em comum? Nem Stanislaw Ponte Preta poderia prever tamanho samba do crioulo doido.
Pelo pouco que consegui entender, o motivo inicial da manifestação parece ter sido a realização da 4ª Marcha contra a Homofobia. Aproveitando o espaço, o MST foi reivindicar a reforma agrária (que, para eles, significa ganhar uma terra do governo e, depois, vendê-la ou arrendá-la) e chegou até a encenar um teatrinho mambembe, simulando o assassinato dos trabalhadores do campo, representando o massacre em Felisburgo (MG). 
Massacre? Ou legítima defesa por parte de quem tem sua casa invadida por uma turba? Imagine sua casa sendo invadida por um bando aos gritos e com enxadas e foices nas mãos - enxadas e foices limpíssimas, uma vez que nunca usadas na lida -, o que você faria? Convidaria-os a entrar, serviria-lhes um cafezinho e os acomodaria confortavelmente em sua cama? Esses sem-terra apanham é pouco.
Mas a sandice não parou por aí. Com participação minoritária, praticamente simbólica, apenas à guisa de apoio moral, uniram-se aos sem-terra e aos sem-pregas o Movimento da Maconha e o das Mulheres. Sem-terra, sem-pregas, maconheiros e feministas suvacudas...Pããããta que o pariu!!! Nem o capeta os reuniria, até no Inferno, Mefistófeles os manteria separados em diferentes círculos. É muita gente à toa nesse país, vivendo às custas de quem trabalha, é muita gente querendo tudo sem nada produzir.
Se irão conseguir algo do que pleiteam junto ao STF e aos parlamentares, eu não sei, e espero sinceramente que não. Cadê as tropas de choque da polícia numa hora dessas? Cadê as balas de borracha e o gás lacrimogênio? Em professor, que trabalha pra caralho, e vai às ruas para pedir melhor salário e condições dignas de trabalho, o governo manda a cavalaria para cima, e para essa vagabundada, para esses escrotos, não sobra nem um cassetetezinho no lombo?
De qualquer forma, mesmo que não nada consigam das autoridades governamentais, os sem-terra e os sem-pregas só sairão de mãos abanando se quiserem. Os dois grupos bem que podem entrar em um acordo amigável, com vantagens para ambos os lados. Basta que os sem-terra convidem os sem-pregas para uma visita às suas rocinhas, para trocarem uma ideia, baterem um papinho, tomarem uma pinguinha de engenho, fumarem um cigarrinho de palha... E o pessoal do MST descobrirá, talvez surpreso, que terreno para plantar suas mandiocas é o que não falta nesse Brasilzão de merda.
Falando sério, eu só queria saber quem é que patrocina esses vagabundos, e com que intenções políticas.

Mais Um Trago de Bukowski

“Para aqueles que acreditam em Deus, a maioria das grandes perguntas foi respondida. Mas para aqueles de nós que não podem aceitar prontamente a fórmula de deus, as grandes respostas não permanecem cravadas na pedra. 
Nos ajustamos às novas condições e descobertas. Somos flexíveis. O amor não precisa ser um comando, nem a fé um ditado. Eu sou meu próprio deus. Estamos aqui para desaprender os ensinamentos da Igreja, estado e nosso sistema educacional. 
Estamos aqui para beber cerveja. Estamos aqui para matar a guerra. Nós estamos aqui para rir das probabilidades e viver nossas vidas tão bem que a morte vai tremer para nos levar.”
Charles Bukowski 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Angelina de Milo

A bela, um belo dia, recebeu a notícia de uma rachadura em seu mármore renascentista; eufemismos à parte, uma fenda, uma cratera.
A bela (que, verdade seja dita, não vive mais da beleza, mas que via ela se fez e lhe é inegável e evidente atributo, que ainda a carrega feito uma cicatriz agradável de se olhar, que é isso o que a beleza em demasia é, uma anomalia, uma deformidade agradável de se olhar) foi informada de uma falha em seu gene BRCA1, um fantasma a lhe assombrar com a chance de 87% de desenvolver câncer de mama, de um tipo dos mais selvagens, indomável.
A mesma falha gênica que matou prematuramente a também bela mãe da bela. A bela tem filhos. Pequenos. Quer vê-los crescer sob seus auspícios, não quer gravar-lhes o trauma de uma mãe a definhar e a apodrecer, de não ser mais capaz de ser mãe.
Contar com os 13% de probabilidade do câncer jamais eclodir? Com a sorte? A bela também é inteligentíssima, sabe que não existem essas crendices de sorte; existissem - ou, no mínimo, uma mínima justiça -, e ela não teria nascido com o gene troncho.
A bela não teve dúvidas - ou se as teve, não foi detida por elas, como a maioria dos mortais se deixa deter : submeteu-se a uma mastectomia dupla, à retirada de seus dois seios, como forma de reduzir as probabilidades de uma futura manifestação do câncer.
Decidiu, a bem dos  seis filhos, "ser proativa e reduzir o risco o máximo que eu podia".
Já não deve ser fácil se decidir pela e autorizar a amputação de um órgão condenado, por gangrena, trombose, necrose, metástase, ou o que for. O que dizer, então, da decisão de se alijar de órgãos ainda saudáveis? Órgãos que, apesar de carregarem grandes chances, ainda não manisfestaram a moléstia, nem indícios dela? O que dizer, então, se esses órgãos forem precisamente os seios, o diferencial supremo da beleza feminina?
A bela em questão é a mais bela das belas, é Angelina Jolie. A atriz de 37 anos explicou que sua mãe lutou por uma década contra o câncer, em vão, e que ela, Angelina, procurou dessa forma, através da mastectomia, garantir aos seus filhos que a mesma doença não a tire deles. A cirurgia, diz a atriz, reduziu a chance de câncer para menos de 5%.
Surgida como filha do grande ator Jon Voight, Angelina foi uma das maiores porras loucas de Hollywood, rebelde, doidivanas, drogada, ninfomaníaca bissexual, uma delícia, em suma. Desde a primeira vez que a vi, não me lembro em que filme, e isso é o de menos, percebi logo de cara que não se tratava de  uma mulher, era uma força da natureza que assumia as formas de uma - e que formas! -, um elemental, um desses agentes zombeteiros da natureza que, vez por outra, resolvem passar umas férias em corpos humanos.
De uma hora para outra, transfigurou-se. Chocada pela realidade com a qual se deparou no Cambodja, onde gravou o filme Amor sem Fronteiras, e atordoada por um grau de miséria que jamais supôs existir, miséria humana imposta por humanos, a bela e inconsequente Angelina parece ter sido exorcizada de seu elemental.
De pronto, adotou uma criança cambodjana orfã, e passou a se dedicar, junto à Unicef, órgão da ONU do qual se tornou embaixadora, a causas humanitárias por todo o planeta, sobretudo questões que envolvem crianças expostas a condições sub-humanas. De elemental, promoveu-se a mãe adotiva dos desvalidos.
Agora, do meu ponto de vista, a amputação dos seios saudáveis em prol de sua prole, o sacríficio da carne por sua carne, coloca Angelina Jolie em um patamar infinitamente superior ao da elemental gostosa, tanto que nem sei dizer que patamar seria esse. Só não a digo uma deusa-mãe porque deuses são idiotas inventados por idiotas. 
Oh, pedaço de mim, Oh, metade arrancada de mim, diz a música do Chico, canta a mulher cuja metade foi levada pelo amor que partiu canalhamente, que a abandonou, que arrancou-se, enfim. A metade arrancada pelo amor que se foi, e sem a qual a personagem declara-se à míngua, era o pedaço mais importante da mulher.
Oh, pedaço de mim, Oh, metade amputada de mim. O pedaço de mim de Jolie não foi extirpado por um amor fujão, sonso e ladrão, não foi a metade que se perdeu por amor; antes pelo contrário, foi a metade que ficou por amor, a metade que se quis deixar ficar por amor, que não foge nem abandona os seus. A metade exilada de Jolie, a que se foi, os seus seios, não era sua parte mais importante, sua metade melhor é a que ficou, a mãe. Não há lamento, feito a desiludida de Chico, pela metade que se perdeu, há o acolhimento e o festejo à metade que permaneceu, viva e providente.
De elemental ninfomaníaca, Jolie se elevou a muito mais que uma deusa-mãe. Alçou-se a canção do Chico Buarque, uma canção melhorada do Chico.
E chega. Que elogio maior, desconheço.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sr. Testículos

Na louvável e árdua tentativa de informar e conscientizar a nossa inculta gente da necessidade de exames regulares de prevenção de câncer, a filial da Associação de Assistência às Pessoas com Câncer em Viçosa (MG) resolveu lançar mão do lúdico.
Talvez inspirada no abobalhado - porém, simpático - Zé Gotinha, símbolo da campanha de vacinação infantil contra a poliomielite, a AAPEC resolveu também criar a sua mascote. O resultado foi, na melhor das hipóteses,com muita boa vontade, catastrófico.
Nasceu o Sr. Testículos, um boneco em forma de saco escrotal, que, tripulado por uma pessoa que o veste, anda pelas ruas de Viçosa a alertar a população masculina sobre os riscos de câncer nas bolas. 
O boneco tem pelos, olhos, bochechas e até dentes. Sim, dentes. Eu já ouvi dizer da vagina dentata, lenda popular presente em várias culturas sobre mulheres que possuem vaginas com dentes, contadas como histórias de moral, avisando dos perigos do sexo com mulheres desconhecidas. Mas saco é a primeira vez.
A população de Viçosa tão bem acolheu o Sr. Testículos que ele já virou parte da paisagem local, um cidadão viçosense, uma coisa normal e corriqueira. 
Tanto que o sacudo só virou notícia porque o site americano Gawker publicou fotos do Sr. Testículo (traduzido para Mr. Balls) e se mostrou alarmado com a naturalidade com que as famílias e suas crianças convivem com o saco andante. "As crianças e os adultos amam tirar fotos com a mascote", escreveu o editor do site.
"Meu Deus, é repugnante", escreveu ainda o site, afirmando não saber o que é mais "repugnante: os pelos pubianos ou os dentes".
Em vista da repercursão negativa na imprensa internacional, Adriana Balbino de Melo, funcionária da associação, disse que a direção está estudando se continuará utilizando a mascote, e se pronunciará em breve sobre a questão.
Primeiro que os americanos não têm nada que vir encher o saco alheio, mesmo que esse saco tenha braços e pernas, abrace as pessoas e tire fotos com elas, e depois que, em questões de bom gosto e refinamento, os americanos não são nem de longe os melhores consultores ou conselheiros. São tão bregas quanto os brasileiros, só possuem mais dinheiro que nós.
Não obstante, acho que a AAPEC deva mesmo reconsiderar o uso do Sr. Testículos. Se a moda pega, em breve teremos a Sra. Grandes Lábios andando pelas ruas, a fazer par com o Sr. Testículos. E os alegres filhos do casal, a menina Botãozinho Roxo e o guri Caralhinho a Quatro.
É uma escrotidão !!!
Abaixo, umas fotos do Sr. Testículos interagindo com a população local. Fellini, Dali, Buñel : morram de inveja!
Alô, criançada, o Sr. Testículos chegou, trazendo alegria pra você e o vovô!!!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Azeitona Com Caroço

Tenho um amigo - em certos aspectos, um mestre - que é um fervoroso adepto da Teoria da Conspiração. Para ele, governos, cientistas, sociedades secretas (maçonaria, illuminati e que tais) e até extraterrestres vivem em eterno conluio para orquestrar os rumos e os destinos do ser humano.
Política, economia, religiões, usos e costumes, controle populacional, conhecimento, informações e contrainformações, sexualidade, tudo. Para ele, tudo está sob a mira incansável e a batuta inflexível dos donos do poder.
Até concordo que não seja conduta das mais salutares olhar para a vida e para o mundo como se fossem um jogo de futebol cujo resultado já fora comprado, decidido nos vestiários, em que o placar final independa dos aparentes esforços dos jogadores e do apoio da torcida. A constante desconfiança, sem que se perceba, pode se verter em grossa paranoia; além disso, pode se instalar no sujeito um quê de desesperança frente à inutilidade de suas ações, uma vez que tudo está, de alguma forma, predeterminado, desesperança que, se não muito bem monitorada e cuidada, pode se encorpar em uma profunda depressão.
Mas será que, por outro lado, é prudente desprezarmos todas as teorias conspiratórias, taxá-las de simples maluquices e acreditarmos que estamos no total controle de nossas vidas e decisões? Será que não seria recomendável, vez em quando, nem que a título de elocubração, considerar a possibilidade de uma orquestração global por seletos grupos de poderosos?
E não digo isso porque tenha passado a última década a escutar as histórias de meu amigo e possa ter sido contaminado e cooptado por seus deliciosos "causos". Digo isso porque não vejo mesmo explicações outras, que não essa, a da conspiração, para algumas coisas que estão a acorrer mundão afora.
Falo, nesse caso, da crescente e galopante idiotização das novas gerações. É notório que boa parte dos jovens, que conclui, hoje, o chamado Ensino Médio, sai analfabeta das escolas. Semianalfabeta que seja, ou analfabeta funcional, como preferem, sabe-se lá por quê, os peidagogos.
Não há nenhum mistério a rondar as causas do analfabetismo funcional. Ele é produzido pelo descaso proposital do Estado, que quer criar verdadeiros exércitos de mão de obra barata e de consumidores vorazes, e pelo descaso cômodo da maioria das famílias, que pouco se interessam pelo real aprendizado dos filhos, para as quais basta que o filho esteja preso na escola, pajeado e bem alimentado.
Contudo, não é do analfabetismo que falo, é de algo muito pior, é da idiotização. Já conheci algumas pessoas analfabetas totais, sobretudo pessoas de mais idade, que foram jovens em épocas em que realmente não tiveram acesso a uma escola. Analfabetas, sim; espertíssimas, porém. Essas pessoas não sabem as letras, mas sabem ler perfeitamente o mundo em que vivem, percebem claramente o que lhes rodeia. São analfabetos, não são burros.
Essa atual leva de aprendizes nada lê, ainda que decifrem capengamente a escrita, dela nada entendem ou extraem. E suas leituras de mundo, então? Aí é que desgraça tudo, aí é que a porca torce o rabo. Não têm a menor noção do mundo em que estão inseridos, nada percebem da realidade, são incapazes de absorver e, muito menos, de processar qualquer informação que lhes chegue pelos cinco sentidos, chegue essa informação via texto, som, imagem ou cheiro.
Como professor, tenho vários e vários exemplos desse triste alheamento dos jovens, do estado de embotamento em que estão seus cérebros. O caso que irei contar (e que muito me assustou) ocorreu há poucos dias, e já conquistou um nada glorioso lugar na minha galeria dos campeões.
Estava eu no supermercado - sempre o mercado, esse circo de horrores - a comprar uns frios para beliscar com a cerveja minha de cada dia. A atender no balcão, um rapaz com idade que estimei entre 16 e 20 anos. Solicitei-lhe um pedaço de uns tantos gramas de muçarela e outro pedaço de uns tantos gramas de presunto, e tudo bem até aí. 
Então, pedi-lhe um certo peso de azeitonas verdes com caroço. Ele se dirigiu às prateleiras em que ficam aqueles recipientes globulares de vidro, aqueles aquários em que os produtos são mantidos em conservas de salmoura, e parou em frente a dois deles, um contendo azeitonas verdes com caroço e o outro, azeitonas verdes sem caroço. Ao menos, ele parecia saber o que era uma azeitona e conhecer a cor verde, ponto positivo para ele. Mas aí, ele estacou. Olhava para um aquário, olhava para outro, olhava de novo, e de novo. Virou-se e perguntou a um outro funcionário : "Ô, fulano, qual é a azeitona com caroço?"
Qual é a azeitona com caroço?!?!?! Garanto que não estou a inventar isso. O que ele não sabia, o que o colocou frente a tão excruciante dilema, o que o encalacrou nesse verdadeiro enigma da esfinge?  Será que ele não sabia o que era um caroço, ou desconhecia o significado das preposições com e sem? Será que o enorme buraco no centro de algumas azeitonas não lhe denunciou a ausência de algo, talvez do caroço? Será que ele sabia que azeitona que tem caroço?
A coisa não parou por aí. Para finalizar, pedi-lhe uns quantos gramas de cebolinha em conserva. Dessa vez, ele nem se arriscou, perguntou direto ao outro rapaz qual era a cebolinha, e foi informado de que eram as bolinhas brancas da prateleira de cima. Ele foi ao lugar indicado e enfiou a concha num aquário, no aquário do tremoço!!! Que estava bem ao lado do da cebolinha. Pããããããããta que o pariu!!! O colega imediatamente o corrigiu e, finalmente, eu recebi minha encomenda. 
O que teria sido dessa vez? Será que o sujeito nunca antes vira uma cebola em sua vida?
Eu vejo casos e mais casos similares a esse, ainda que não tão gritantes. Todos os dias, pelas salas de aula por onde passo.
Entendem o que estou tentando dizer? Por mais descaso que os governos tenham para com a educação - e eles têm -, por mais desinteresse que as famílias tenham pelas vidas escolares de seus filhos - e elas têm -, por mais que existam deficiências na formação dos novos professores - e elas existem -, não pode ser só isso. Mesmo que tudo isso seja muito, não pode ser só isso.
Tem que haver algo a mais por trás do rapaz que não sabia o que era o caroço da azeitona. Não é só analfabetismo funcional. Parece uma nova, desconhecida e desconsiderada modalidade de autismo. Causada pelo quê?
Meu amigo responderia, convicto : "excesso de flúor na água, hormônios na comida, mercúrio nas vacinas, micro-ondas dos aparelhos celulares a fritar o pouco cérebro com que o sujeito nasce, partículas aspergidas na atmosfera - pó de alumínio, fungos, vírus -, espalhadas pelos chem trails dos aviões".
Total delírio, loucura absoluta? Duvidam?
Eu, não. Não mais.

Aprendam Com Os Gatos. Ou, Calem-se Para Sempre.

Reciclagem, uso racional dos recursos naturais não renováveis, protocolo de Kyoto, metas do milênio, autossustentabilidade, e blá, blá, blá.
Autossustentável é o gato, que toma banho sem única gota de água, cuida da própria merda e, dobrando-se sobre si mesmo, limpa o cu com a língua.
Cuidar da própria merda e limpar o cu com a língua, isso é ser autossustentável!
O resto é perfumaria, é para inglês ver, é macumba pra turista.
Querem realmente tentar? "Salvar" o planeta?
Então, não venham me falar do verde, do mico-leão, do detergente biodegradável, da foquinha a derreter com o calor.
Não me venham com chorumelas!
Vejam se não é verdade! Tenho certeza, sempre tive, desde que vi pela primeira vez, de que o símbolo da reciclagem, criado por Gary Anderson na década de 1970, foi inspirado em um gato lambendo o respectivo toba.

domingo, 5 de maio de 2013

Serguei Não Morreu

Escutei, anteontem, que o cantor Serguei havia falecido, que batera as botas talvez o mais velho roqueiro em atividade do planeta - só para efeito de comparação, Mick Jagger e Keith Richards nasceram em 1943, Serguei, em 1933.
No Brasil, então, Serguei não é nem o pai do rock, ou o avô, ou mesmo o bisavô, Serguei não é nem o Tutankamon do rock no Brasil : Serguei é a Lucy, a ossada mais velha já encontrada no território do rock tupiniquim.
Nascido Sérgio Augusto Bustamente, Serguei é a sua identidade nada secreta, o seu alterego espalhafatoso, que, do alto de seus quase oitenta anos, ainda se apresenta, pula, rebola e canta pelos mais diversos palcos do país, sempre a defender os clássicos do rock'n'roll, Stones, Beatles, Jim Morrison, Janis Joplin, além de composições próprias.
Contudo, mais que por sua música, Serguei é conhecido por suas peripécias sexuais, narradas de forma absolutamente não linear nas entrevistas que concede aos canais de televisão, isso quando consegue se lembrar do que lhe foi perguntado, Serguei é mais lapso do que memória, Serguei senta-se à frente de seu entrevistador e vai falando do que lembrar, e, às vezes, a resposta coincide com o que lhe foi perguntado, é o entrevistador que tem que ir encaixando as perguntas na fala de Serguei, engraçadíssimo.
Jô Soares foi o primeiro a trazer Serguei à baila de um grande meio de comunicação, em seu programa Jô Soares Onze e Meia, ainda no SBT. Foi lá, em uma entrevista já antológica, que Serguei surgiu para o grande público, e já veio com uma declaração bombástica, que marcaria, doravante, sua figura e sua carreira.
Serguei declarou-se pansexual, ou seja, transava com tudo o que se mexia, e com o que não se mexia, também. Homem, mulher, peixe e árvore. Árvore, um cajueiro de tronco grande e grosso localizado num parque de Saquarema (RJ), cidade onde Serguei reside. Num dia de escaldante sol, conta Serguei, ele estava no maior tesão, estava possuído, e como não havia ninguém por perto, abraçou-se a um velho cajueiro e fornicou com a árvore, aliviou-se ali mesmo.
Não vi à época, e muito menos vejo agora, motivos para tanto impacto e polêmica. Para quem já comeu a Janis Joplin, o que é dar uma roçadinha num cajueiro? De mais a mais, no ramo do fetiche vegetal, Serguei é praticamente um iniciante, um amador. Muito antes dele, Mário Gomes já se saciara com sua emblemática cenoura.
Voltando à vaca fria, a morte de Serguei, felizmente, foi só mais um boato. O velho Serguei não morreu. Esteve bem perto, mas ainda não foi dessa vez. Foi internado com um quadro de anemia, desidratação e desnutrição profundas, na quinta-feira, 25/04, num hospital de Saquarema. Submetido a reidratação intravenosa e dietas hipercalórica e hiperproteica, recebeu alta médica já no sábado, 27/04.
Nos últimos tempos, dizem as más línguas, Serguei teria passado a morar em uma casa na árvore (o cajueiro, talvez?) e se tornado adepto da doutrina do Respiratorianismo, que afirma que comida e até mesmo água não são necessárias e é possível viver somente de prana (a força vital do Hinduísmo), ou ainda, de acordo com alguns outros idiotas, se alimentando de luz solar. Tentar fazer fotossíntese teria sido a causa do grave quadro de saúde apresentado por Serguei à sua entrada no hospital. 
Outros ainda dizem que Serguei teria contraído fitossífilis, rara doença vénerea transmitida por uma planta exótica, endêmica da região de Saquarema. 
De qualquer forma, mais histórias, lendas e munição à sua extensa biografia.
O velho roqueiro está vivo. Pleno, reestabelecido e cada vez mais sexy, segundo ele. Já mandou avisar que está prontíssimo para o show em Brasília, dia 11 de maio, acompanhado de sua banda Pandemonium.
Longa vida a Serguei e aos clássicos do rock'n'roll.