sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Diário de Bordo : Data Estelar 27.02.2015. Luto Intergaláctico.

Leonard Nimoy (1931-1966)
Sr. Spock (1966-2015)
Vida longa e próspera, vulcano!

Um Dia na Vida (3)

Sexta-feira. Seis e meia da manhã. Cruzamento de uma grande avenida. Cansaços acumulados e empapados nas frontes e embaixo dos sovacos, esperança (quase sempre vã) de descanso no sábado e domingo, faixas de pedestres empalidecidas, semáforos psicodélicos.
Ela salta de uma van, ao meio-fio, apressada, quase tromba com ele, mas não o vê. Não olha para ele. Loira wellaton, óculos escuros ray-ban caçador (provavelmente um genérico chinês), cabelos presos em um rabo de cavalo, boa crina, boas ancas. Ele a olha. Não com grandes interesses. Com a obrigação biológica do macho que fareja a fêmea.
Atravessam a avenida quase que paralelamente, ela apenas um ou dois passos à frente. Ela tropeça, deixa cair uma pequena bolsa, de nylon azul-escuro, com o zíper mal fechado. Uma banana, um suco de laranja em embalagem tetra pak e um recipiente plástico retangular com a tampa suada pela comida posta ali ainda quente - uma versão moderna dos antigos boias-frias - vão à luz, tornam-se em novos e inusitados pedestres.
Automaticamente, ele se abaixa e a ajuda. Entrega-lhe a banana e o suco em tetra pak. Então, ela olha para ele. Ao menos, mira o rosto em sua direção. Os óculos escuros impedem que ele saiba se ela realmente o olha nos olhos. Ela agradece. É o mínimo..., responde ele.
Os lábios dela se reconfiguram em um sorriso. Ele ainda não vê os olhos. Não sabe se os olhos dela também sorriem; o único sorriso confiável, o dos olhos (Sorris não só com os lábios, com todo o rosto. Até com tuas orelhas, sorris..., lembra ele de um verso de um antigo poema).
Aos lábios, esses escravos do bom convívio social, sempre foi imposto o sorriso, não lhes é uma opção; os lábios, outdoors de publicidade enganosa da alegria e da felicidade. Só é legítimo o sorriso dos olhos. Porque não sabem que sorriem.
Chegam à calçada. Ele segue reto. Ela vira à esquerda. Em direção às suas vidas. Aos seus mínimos.

Que me Roubem os Rins

Há uma história que é tida como invencionice, como uma lenda urbana, a da sedução para roubo de órgãos, sobretudo rins. O sujeito sai à caça, cai na esbórnia, vai para a balada, como se diz hoje em dia. Aí, em certa hora, é abordado por uma supergostosa, aquele mulherão coisa de cinema (pornô), daquelas que um cara comum - leia-se feio e sem grana - não come nem quando tá batendo punheta.
E a bisca já chega toda oferecida e arreganhada. Toda peitões e caras e bocas e línguas. O sujeito até estranha, acha que está na pegadinha do Faustão, do Silvio Santos. Suas cabeças se dividem e se digladiam entre dois ditados populares. A cabeça de cima, quando a esmola é muita, o santo desconfia; a cabeça de baixo, a cavalo dado não se olha os dentes. Vence, lógico, a falta de lógica, a de baixo.
Saem e vão ao apartamento da gostosa, nem com o motel o sortudo vai gastar. Em lá chegando, tudo são carinhos, beijinhos e voluptuosidades, e dá-lhe mais cachaça. De repente, o cara vai ficando sonolento e apaga sob o efeito dos sedativos colocados em sua bebida. Acorda no dia seguinte dentro de uma banheira cheia de água e gelo e com um bilhete ao lado : procure um médico imediatamente ou morrerá. Sente um desconforto na costas, passa mão e encontra um corte já suturado na região lombar. No hospital, descobre que lhe roubaram os rins.
Se é mesmo uma lenda, não sei. De qualquer forma, toda lenda tem seu fundo de verdade e, ao contrário do que se pensa, não é uma versão fantasiosa e exagerada da realidade; pelo contrário, é a sua edição mais plausível e atenuada.
Um exemplo disso foi o infausto que se abateu sobre o ator russo Dmitry Nikolaev. O garanhão das estepes conheceu uma loira escultural em um bar de Moscou e achou que estava abafando, eu hoje vou me dar bem, pensou ele. Beberam juntos e foram a uma sauna, onde, ao acordar, Dmitry, que é casado, estava coberto de sangue e com fortes dores na região genital. Levado a um hospital próximo, constatou-se que Dmitry estava sem os testículos. Que me roubem os rins!!!
Segundo relatório dos peritos da polícia, a retirada dos bagos de Dmitry foi feita de maneira muito precisa e profissional, provavelmente por um médico ou por um veterinário. Suspeita-se de que a loira integre uma quadrilha que atua no mercado negro de órgãos. Transplante de testículos? Nunca ouvi falar. Cirurgia de reversão de eunucos e castrattis? Sei não. Tá mais parecendo coisa de ritual de magia negra, mandinga pra curar broxa.
Se bem que o destino das bolas de Dmitry já era favas contadas. O cara é casado e assim que a esposa descobrisse a pulada de cerca - e elas sempre descobrem -, iria mesmo arrancar o saco do sujeito. Sem tomar um drink antes, sem peitões, sem sedativo e sem a ilusão de que uma gostosa estivesse a se encharcar por sua causa. A loira foi benevolente.
O russo Dmitry, descendente da nobre estirpe dos cossacos, tornou-se um semssaco. Pããããta que o pariu!!!
Dmitry Nikolaev

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (12)

Nada é mais democrático que o chifre. O bom e velho chifre não é de fazer luxo nem de escolher morada : cresce no pobre e no rico, no analfabeto e no doutor, no petista e no tucano, no cara-pálida e no pele-vermelha, no palmeirense e no corintiano, no machão e no boiola, no velho e no jovem, no sambista e no metaleiro (os metaleiros também amam, meu amor...), no normal e no maluco... sim, até no maluco. Até no Maluco Beleza.
É isso mesmo! Raul Seixas, o pai do rock, o maluco beleza, também já pagou de corno. E dos conformados!
Em sua canção A Maçã, em parceira com o alquimista Paulo Coelho, aquele que transforma a merda que escreve em ouro, em uma letra cheia de metáforas e de guéris-guéris místicos (talvez para tentar disfarçar), Raul deixa transparecer o chifre : "Eu quis ser tua alma, ter seu corpo, tudo enfim, mas compreendi que  além de dois existem mais...". Quantos mais??? Pelo jeito, Raul foi corno de múltiplos chifres, zebu de vasta galhada.
E continua : "Se eu te amo e tu me amas e outro vem quando tu chamas, como poderei te condenar? Infinita tua beleza, Como podes ficar presa, que nem santa num altar... Sofro mas eu vou te libertar..."
Tempos depois, em uma entrevista, Raulzito se disse arrependido de ter composto A Maçã, que não concordava com nada daquilo de dividir a mulher etc. Pode até ter se arrependido depois, mas que escreveu, escreveu. Enquanto o chifre estava a lhe doer. E a lhe inspirar.
Não se avexe, não, Raulzito, que chifre é igual a dente de criança, só dói quando está a romper, tem uns que até ficam com febre, mas depois a dor passa, a testa desincha e ele tem até alguma utilidade.

A Maçã
(Raul Seixas/Paulo Coelho/Marcelo Motta)
Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...

Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...

Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Caça Às Buças

Por que o sexo - sobretudo a visão de seus órgãos periféricos - ainda causa, e sabe-se lá por quanto tempo ainda causará, tanto incômodo, ofensa, repulsa e indignação às pessoas em geral, à sociedade como um todo, ou pelo menos aos veículos e instituições que a governam, que a conduzem gado manso para o abate?
Por que a foto de uma bela buceta, de um delicado, nectarado e rosado entrefolhas, ou mesmo a de um caralhão em riste são taxadas de sujas e pornográficas? Nem são necessárias fotos, na verdade; a simples menção dos termos referentes aos genitais já causa profunda perturbação.
Já ouvi dizer por algumas vezes, por alguns das tais áreas das humanas - sociólogos, psicólogos, antropólogos, filósofos e outros que tais -, que uma pessoa sexualmente bem resolvida é uma pessoa livre e que pessoas livres são perigosas, que podem, com suas ideias e asas subversivas, pôr a perder o bom andar da manada, causar um motim no castrado rebanho.
Não concordo com uma coisa nem com outra. Nem com que uma pessoa sexualmente liberada  seja livre - ela pode ser travada e conservadora em uma série de outras questões; inúmeros são os calabouços do cérebro e do comportamento humano - nem com que esse ser mítico, o ser humano livre, possa ser, de algum modo, perigoso por incitar os cativos às próprias liberdades - o livre só quer saber do usufruir de ser livre e de deixar cada qual ser livre para o que bem entender e escolher, inclusive ser cativo. O livre pode até suscitar no cativo a vontade de se desagrilhoar; despertar a vontade, mas nunca lhe dar a coragem para tal, muito menos o talento. O preso, o ocluso - a panela de pressão -, é que é o perigoso, e não o passeio ao ar livre, e não a contemplação do horizonte. É do oculto e do enrustido que brotam os estupradores e pedófilos, não do explícito.
No início da postagem, disse do sexo e de seus órgãos periféricos, que são exatamente isso o que são o pau, a buceta, o cu, os peitos, a boca, o nariz, as orelhas etc; periféricos, feito o teclado, o mouse, a impressora e o monitor que respondem ao comando do HD. O cérebro é nosso legítimo órgão sexual. Pensamos em sexo o tempo inteiro. Concretizamo-o, com uma boa dose de sorte, duas ou três vezes na semana. Alguém, alguma vez, ousou taxar de suja e pornográfica a foto de um cérebro, ou o registro de um eletroencefalograma, o seu máximo desnudamento?
Garanto-lhes que há muito mais sujeira, pornografia e podridão na cabeça de um padre celibatário, ou na de uma solteirona virgem encruada, ou na de uma dona de casa frustrada, ou na de um austero e respeitável chefe de seção que na fatigada buceta de uma puta, que no valente pau de um ator de filmes pornô.
Por que essa eterna e incansável perseguição ao nu? Pelado todo mundo gosta, todo mundo quer, pelado todo mundo fica, todo mundo é... já disse acertadamente Roger Moreira. 
Por que essa eterna e empedernida Caça às Buças?
Digo tudo isso - na verdade, mais pergunto - porque a Google está a comunicar os usuários da plataforma Blogger, talvez a plataforma com o maior número de blogs hospedados do mundo virtual, sobre sua nova política de conteúdos considerados adultos. Reproduzo abaixo alguns trechos do novo "acordo" entre a Google e seus usuários :

"A partir de 23 março de 2015, não será mais possível compartilhar publicamente imagens e vídeos que sejam sexualmente explícitos ou mostrem nudez de forma ostensiva no Blogger";
"Se seu blog já existente não tem nenhuma imagem ou vídeo de sexo explícito ou nudez ostensiva, você não notará nenhuma alteração. Mas se ele tiver, passará a ser privado a partir de 23 de março de 2015. Nenhum conteúdo será excluído, mas o conteúdo privado só pode ser visto pelo proprietário, por administradores do blog e pelas pessoas com quem o proprietário compartilhou o blog";
"Se seu blog foi criado antes de 23 de março de 2015 e apresenta conteúdo que viola nossa nova política, você tem algumas opções para alterá-lo antes do início da nova política: remover do blog as imagens ou os vídeos sexualmente explícitos ou com nudez ostensiva ou marcar seu blog como privado".

Esta virtual caça às buças talvez explique os mais de 6000 acessos que o Marreta recebeu em um único dia, todos oriundos dos EUA. Certamente, o Marreta e todos os blogs da plataforma Blogger estão sendo varridos à cata de buças e de bengas. Na época, há cerca de um mês, brinquei aqui que talvez a CIA ou o FBI estivessem a monitorar o Marreta. Pelo visto, é a Google, muito pior e mais eficiente que os dois anteriores.
O Marreta não é um blog erótico ou pornô, longe disso, aliás; mas também não é de ferro. Vez ou outra, para arejar e perfumar o ambiente, posto fotos de umas gostosas, de umas peitudas, haja vista às seções regulares Calendário do Mês e Dona das Divinas Tetas; assim como, uma ou outra gostosa em eventuais e esporádicas postagens.
Não sei o que os censores da Google considerarão como "explícito" e "ostensivo". Assim sendo, não sei se o Marreta sofrerá alguma sanção, se de privada será elevado ao status de privado. Será que nunca mais nos orientaremos no tempo através do Calendário do Mês, sempre a trazer um belo interlúdio sáfico? Nunca mais aconchegaremos nossos sonhos entre os belos montes de uma Dona das Divinas Tetas?
O que será considerado como inadequado pela Google? Que critérios serão utilizados como base desse novo "acordo"? Um blog, uma vez classificado como privado, poderá voltar a ser aberto caso o conteúdo inadequado seja retirado? Os blogs assim considerados receberão prévio comunicado da Google os informando sobre seus "problemas"? Não bastaria apenas marcar o blog como de conteúdo adulto ao invés de torná-lo privado? Uma única imagem "ofensiva" já colocará o blog na categoria de proscrito, restrito só a leitores cadastrados? E nem faço ideia de como é isso de privado!
Muito do atrativo dos blogs vem justamente do fato deles serem abertos, de serem verdadeiras garrafas de naufrágos no oceano binário, o cara escreve e lança a garrafa. O acaso cuida do resto. Escrever para um público específico, só para quem você conhece? Qual a graça? Qual o sentido? Muito do charme dos blogs vem do fato das pessoas os descobrirem por acaso, o acaso acaba por ampliar as áreas de interesse de quem navega pela net. Quantas vezes você já não caiu, por acaso, em um blog à procura de um assunto e deu de cara com vários outros, um dos quais chamou sua atenção e lhe foi de alguma valia? Todos os blogs que conheço e sigo, conheci-os assim, por acaso, caindo neles de paraquedas; da mesma maneira, a maioria esmagadora das pessoas que se tornaram leitoras do Marreta ao longo desses seis anos aterrissou por aqui.
A nova política da Google entrará em vigor a partir de 23/02/2015. Não pretendo mudar nada por aqui nem retirar as fotos das gostosas. Só esperarei. E, se for o caso, tomar novos rumos, usar meu tempo (bem) gasto aqui no blog para outras coisas, ou talvez exportar o blog para outra plataforma, o que daria um trabalho maior a que eu estou disposto. Veremos.
Mas um manifesto, nem que seja meu derradeiro, eu deixo : Viva a buceta! E quanto mais arreganhada e cabeluda, melhor! E viva o cu, também!

Em tempo : comentei com meu amigo do Blog CHUMBO GROSSO, aquele que não usa linguajar de conventos, sobre essa nova política. Ele, como sempre, não ficou de prolegômenos nem de viadagens, foi direto na chincha : "JUSTO AGORA, AZARÃO!!! PORRA, LOGO AGORA QUE O CHUMBO IRIA APRESENTAR, AOS SÁBADOS, HOMENS COM A PICA DE JUMENTO(medindo 37 centímetros de comprimento por 16,5 ctm. De espessura) E MULHERES BUCETUDAS(priquito com mais de três quilos). Esse tal de BLOGGER virou mesmo uma fudelância de patricinhas e boiolinhas..."

Preparado Para a "Guerra", Lula Ataca a Semântica; por Josias de Souza

"Lula foi ao Rio de Janeiro na noite desta terça-feira para estrelar um “ato em defesa da Petrobras”. Ao discursar, fez o que os presidentes americanos costumam fazer quando precisam unir a nação em seu apoio: declarou guerra ao inimigo. “Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também.'' Provou que falava sério. Armado do microfone, fez sua primeira vítima. Fulminou a semântica.
Ao insinuar que a Petrobras virou escândalo pelas mãos de uma “elite que não se conforma com a ascensão dos mais pobres”, Lula deixou claro que o Brasil vive uma crise de significado. Mostrou que a crise é terminal ao dizer que irá às ruas para “defender a Petrobras e a reforma política”. Considerando-se que o orador avalizou as nomeações dos petrogatunos e governou por oito anos com o apoio de sarneys, renans, collors e malufs, fica claro que o vocábulo “significado” perdeu o significado (veja trechos abaixo).
O correto, se as palavras ainda valessem alguma coisa, seria Lula pedir perdão por ter levado a Petrobras ao balcão da baixa política. Mas como qualquer coisa quer dizer qualquer coisa, Lula chama o crime de “caca” e sai de fininho: “Que vergonha eu posso ter se, no meio de uma família de 86 mil pessoas, uma pessoa comete um erro, faz uma caca. […] Não podemos jogar a Petrobras fora por causa de meia dúzia de pessoas ou 50 pessoas.''
O razoável, se a semântica não estivesse na UTI, seria Lula expiar o pecado de ter deflagrado a sangria que levou a Petrobras a perder o grau de investimento que fazia dela um porto seguro para quem quisesse investir. Mas como nada mais quer dizer coisa nenhuma, na hora em que a agência Moody’s dava a má notícia, Lula jactava-se: “Tenho orgulho da maior capitalização do capitalismo mundial, que foi a capitalização da Petrobras, que se tornou uma das empresas mais importantes do mundo.”
Lula sustenta que “eles” —eufemismo para FHC e a mídia golpista— “continuam fazendo hoje o que sempre fizeram antes. A ideia básica é criminalizar antes, tornar bandido antes de ser investigado e julgado.” Pessoas que não sabiam de nada, como ele e Dilma, são tratadas com base na “tal da teoria do domínio do fato. […] É o pressuposto de que a mãe tem que saber que o filho é drogado ou não foi bem na escola e o boletim dele está ruim.”
Para não dizer que Lula é um cínico, deve-se deduzir que ele é apenas mais uma vítima da crise de semântica. Alguém que chama o mensalão de fábula tem imunidade para comparar ladrões a filhos desgarrados e seus padrinhos a mães relapsas. É isso ou Lula adotou para se isentar de responsabilidade o velho adágio segundo o qual não se faz omelete sem quebrar os ovos. A frase aniquila qualquer princípio ético. Mas absolve tudo, do “Paulinho” manejando contratos ao Vaccari operando a caixa registradora.
Lula aconselhou Dilma Rousseff a levantar a cabeça. Apresentou-se como exemplo: “Sou filho de uma mulher analfabeta, de um pai analfabeto. E o mais importante legado que minha mãe deixou foi o direito de eu andar de cabeça erguida. E ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país. Honestidade não é mérito, é obrigação.”
É reconfortante saber que Lula não perdeu a fronte alta que traz do berço. Com alguma sorte, ainda vai cruzar com um espelho qualquer hora dessas. E talvez perceba que a crise semântica fez dele um personagem sem nexo."


Pergunta do Azarão : será que o povo que ainda idolatra esse petralha é só burro ou é safado igual? Para a burrice costuma haver solução, já para falta de caráter...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Lactoxavasccus Vivos

Quando de minha infância, há coisa de 40 e poucos anos, felizmente não havia a criminosa publicidade infantil - arma a lavar pueris cérebros e a pilhar paternos bolsos.
Ainda assim, volta e meia, um produto se tornava sucesso de público e de vendas, a divulgação do produto se dava através da aprovação popular e da mais honesta e confiável das propagandas, o boca-a-boca, uma moda que independia da televisão, já existente à época, é verdade, porém, ainda ausente na maioria dos lares.
O leite fermentado Yakult com lactobacilos vivos, indicado para bem compor a flora intestinal da meninada, foi um desses fenômenos do boca-a-boca. Uma amiga o recomendava a outra amiga; uma vizinha, a outra vizinha (era época em que vizinhos se falavam aos portões, às calçadas, nas feiras livres, por sobre os muros das casas; para o bem e para o mal); as professoras, às mães de seus pupilos; lembro-me, inclusive, de que, em certo dia da semana, havia Yakult na merenda escolar.
A popularidade do Yakult se fez tanta que, ao sorveteiro com sua gaita de Pã, a fazer-se seguir pela molecada de Hamelin, e ao vendedor de algodão-doce, fiandeiro de diáfanos e açucarados sonhos, juntou-se, ao imaginário da criançada, outra muito aguardada figura : a da moça do Yakult.
Ela surgia semanalmente a conduzir seu carrinho refrigerado, batia de porta em porta e deixava pequenos fardos de saúde fermentada; uns com 6, outros com 12 pequenos frascos de conteúdo bege. E o melhor é que a moça do Yakult e seu elixir eram também benquistos pelas mães, diferente da água com anilina e do nocivo açúcar em fios vendidos, respectivamente, pelo sorveteiro e pelo homem do algodão-doce. Todos ficavam felizes com a moça do Yakult, uma espécie de sorveteira probiótica.
O tempo - esse hábil engenheiro e igualmente exímio demolidor - passou, mudamo-nos para um novo e distante bairro, talvez, supunha eu, inalcançável para as pernas da moça do Yakult. Meus pais continuaram ainda a nos abastecer, a mim e à minha irmã, com suprimentos regulares de Yakult, porém, adquiridos em supermercados; muito do gosto do Yakult se perdeu pela ausência da moça do Yakult, mas seu efeito terapêutico se mantinha, função sem alegria, bactérias burocráticas, enfim.
Então, chegou o fatídico dia em que fomos informados de que não mais precisávamos de Yakult (não precisávamos, quem, cara-pálida?), de que ele sairia de nossos cafés da manhã, de nossos lanches, de nossas sessões da tarde. Não éramos mais crianças, e só a elas o Yakult era destinado.
Hoje - dei uma pesquisada no site do Yakult antes de escrever essa postagem -, vejo que nosso Yakult não foi cortado por sovinice paterna ou materna; o próprio fabricante o recomenda apenas para crianças.
Crescemos, pois, órfãos do Yakult e da moça do Yakult, toda uma geração de constipados - afinal, onde adultos poderiam obter suprimento de lactobacillus
A resposta é : na moça do Yakult! E o melhor : toda moça é uma moça do Yakult! Toda mulher é inesgotável cornucópia de lactobacillus - bactérias que conseguem atravessar, vivas e incólumes, o fosso de ácido clorídrico do estômago e se instalar no intestino, em cujas vilosidades, via fermentação, produzem ácido láctico, que torna o meio fértil e propício à proliferação das bactérias de nossa flora íntima e pessoal, do nosso jardim de inverno.
A vagina é um enorme (umas mais enormes que outras) biotério de bactérias do gênero lactobacillus. É o Yakult da xavasca! São o lactoxavasccus vivos.
Foi o que constatou Cecilia Westbrook, estudante de doutorado da Universidade de Wisconsin (EUA). Através da análise de material colhido da própria vagina, ela verificou que os lactobacillus são o gênero de bactérias mais comuns da casa do caralho. E pensou : por que não fabricar um iogurte pessoal e intransferível? Uma coalhada customizada?
Cecilia usou três recipientes em seu afrodisíaco experimento : no primeiro, colocou apenas leite, sua amostra de controle; no segundo, leite com uma cultura tradicional de lactobacillus; e na terceiro, leite com os lactoxavasccus. Deixou as amostras à temperatura ambiente e foi dormir; ao acordar, surpresa!, a maior quantidade de iogurte fora formada na cultura de lactoxavasccus vivos.
Era chegada a hora da prova dos nove. Cecilia misturou umas frutinhas lá deles - cranberrys, blueberrys, chuckberrys etc - ao iogurte, degustou-o e descreveu o "bouquet" : "azedo e com um aroma especial, deixando um leve formigamento na língua".
Pãããããta que o pariu!!! Aroma especial? Adoro e odeio esse eufemismo ianque, esse politicamente correto norte-americano. Formigamento na língua? Sempre achei, quando me sirvo dos lactoxavasccus in natura, que fosse o início de uma cãibra na língua.
Larry Forney, microbiologista do mesmo departamento de Cecilia, adverte : não é aconselhável ingerir bactérias vaginais, sob o risco de contrair más cepas. Por acaso, algum macho das antigas já passou mal depois de lamber uma buceta? Deve ser uma bichona enrustida, esse Forney; deve é gostar de lactorolludus erectus.
Portanto, machos de plantão, saudosos do Yakult, nossos problemas terminaram. Usemos, abusemos e nos lambuzemos de lactoxavasccus vivos. Lamber uma boa buça gosmenta é melhor que lactopurga e activia! Lamber, meter e bem cagar... o que é a vida, além disso? O que mais alguém pode querer?
Às mães dos pequenos machos desse nosso Brasil cada vez menos varonil, fica o conselho do Azarão, deemYakult às mancheias para seus pequenos varões, condicionem-os ao gosto azedo do produto dos lactobacillus, para que, nostálgicos, quando adultos, procurem pelos lactoxavasccus.
O Yakult, portanto, pode ser não só a solução para a merda empedrada, como também para a viadagem galopante. É o Yakult feito em profilaxia contra a boiolagem!
Cecilia Westbrook e o iogurte de xavasca

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ao Birdman Aninhado em Cada um de Nós (Ou:As Minhas Sinceras Desculpas a Michael Keaton)

Assisti a Birdman. Por acaso. E improvavelmente. Assistia muito a filmes em minha infância, adolescência e substancial parte de minha idade adulta. Arriscava-me em filmes russos, catalãos, escandinavos, iranianos, vi muita coisa boa, muita coisa ruim, também. Arriscava-me. Tinha tempo para me arriscar. Nunca fui cinéfilo, desses chatos que sabem o nome do diretor, o ano da filmagem, o autor da trilha sonora, o nome do contrarregra, do iluminador etc; fui um grande assistidor de filmes, somente. Hoje, assisto-os de forma cada vez mais rarefeita. Um pouco por falta de tempo, um pouco, falta de paciência, e muito pela incipiente velhice, fase em que temos definidas nossas preferências e desagrados, já estabelecemos do que gostamos e do que não. Não arriscamos nosso escasso tempo remanescente em duas horas de algo do qual poderemos não gostar; preferimos rever, reler, reouvir; que a velhice não quer atribulações, adrenalina, sobressaltos ou coração saindo pela boca, a velhice quer apenas mais tempo para ser velha.
Assisti a Birdman. Por acaso. Estava a saltar por 180 canais de mais do mesmo, a sacizar pela paisagem imutável da TV a cabo, e parei num canal em que alguém comentava algo sobre Birdman, essas entrevistas, esses making ofs que passam entre os intervalos dos filmes, coisa rápida, 10, 15 minutos, e já o peguei da metade para o final. De forma que, ao assisti-lo, não sabia que era obra do cultuado diretor Iñárritu, muito menos que fosse um dos favoritos ao Oscar. Tanto melhor. Tivesse sabido previamente, provavelmente não o teria assistido. Outro preconceito de velho que trago comigo desde que era jovem : se ganha o Oscar, não pode ser bom.
Assisti a Birdman. Por acaso. Principalmente por curiosidade : pela primeira vez, olhei para Michael Keaton, o protagonista de Birdman, e não vi a sombra do morcego a pairar por sobre a sua face; pela primeira vez, olhei para Michael Keaton e não o associei ao inexpressivo Bruce Wayne, de Tim Burton. Sim, Bruce Wayne de Tim Burton; hoje percebo que a canastrice que Keaton imprimiu a Bruce Wayne nunca veio de suas habilidades (ou da falta delas) como ator, sim da visão deturpada de Tim Burton de como deveria ser o semblante de um milionário fútil e leviano. Maldito seja Tim Burton. Vi o envelhecido Keaton e nenhum bat-sinal estampou-se no céu. Algo havia mudado ali.
Assisti a Birdman. Baixei o filme e o assisti. E gostei (repito : sem saber de que porra de diretor era e que fosse um dos favoritos à estatueta da Academia). Gostei do começo ao fim. No começo, apesar de Keaton (velhos preconceitos são difíceis de demolir); do meio para o fim, por causa de Keaton. Registro aqui minhas mais sinceras desculpas a Michael Keaton.
O mote do filme não é dos mais originais, antes pelo contrário, é a recorrente e aflitiva indagação a respeito da decripitude humana, seja ela física, mental, moral, emocional ou profissional. Keaton é Riggan Thomson, ator que angariou fama e fortuna na pele de Birdman - um personagem de quadrinhos adaptado às telas dos cinemas -, e que caiu em ostracismo ao recusar o papel para estrelar o quarto filme da franquia, para tentar se dedicar a trabalhos mais sérios e significativos, conquistar o reconhecimento como grande ator, e não ser lembrado apenas como uma celebridade do entretenimento.
O filme começa com um já envelhecido Riggan Thomson em um momento de decisiva encruzilhada existencial, numa puta sinuca de bico, na hora do ou vai ou racha. Riggan Thomson apostou todas as suas fichas, tudo o que restou dos dólares de seus dias de glória, na adaptação de uma peça teatral, da qual é produtor, diretor e protagonista, e que ou lhe trará o buscado reconhecimento como ator, ou lhe arruinará por completo.
Ao longo do filme, Thomson tem a companhia luxuosa de ninguém mais ninguém menos que o próprio Birdman. Nos momentos de percalços e contratempos da produção e execução da peça, Birdman voa à volta e assombra Thomson, a mau agourá-lo e a tentar demovê-lo de seu objetivo, a tentar convencê-lo a voltar a ser o Birdman; não voltar a ser, mas convencê-lo de que ele é o Birdman, de que sempre o foi.
Ora Birdman se manifesta apenas como voz, ora como corpo. Em alguns momentos, Thomson cede à pressão de Birdman, às suas lembranças de um áureo tempo, parece mesmo prestes a jogar a toalha, sua realidade mistura-se aos seus delírios e reminiscências, Thomson e Birdman fundem-se, confundem-se. A ponto de, a exemplo, em uma das cenas mais belas do filme, Thomson ter a percepção de que está mesmo a voar por entre os desfiladeiros de arranha-céus de Nova York a caminho do teatro onde irá se apresentar, quando, na verdade, está a realizar o trajeto a bordo de um táxi. Pura esquizofrenia. Da mais tocante e poética.
Muitos viram em Birdman uma relação direta com a carreira do próprio Michael Keaton : alçado ao firmamento de Hollywood pelos filmes Batman e Batman, o Retorno, o ator nunca mais igualou tal sucesso. Haveria em Birdman, portanto, uma dose deliciosa e irresístivel de autoironia, de autodeboche, uma evisceração de Keaton e a consequente exposição em praça pública de suas entranhas, de seus fracassos. E sempre há um grande público para a desgraça alheia.
Mas acredito que não tenha sido essa a origem do inusitado êxito alcançado por Birdman - a morbidez em se consolar com o infortúnio de outrem, tampouco a arte que imita a vida, que imita a arte etc.
E sim porque todos nós, sobretudo os homens, mais ainda os acima dos 40 ou 50 anos, fomos Birdman um dia, por um tempo; e sim porque também já tenhamos tido nossos nunca repetidos sucessos de bilheteria. Aquela fase da vida em que tínhamos mais amigos, divertíamo-nos mais, rendíamos barbaridade em nossos estudos, fazíamos mais planos, comíamos mais mulheres. Aquele período do qual, quando estamos hoje em nossos raros e necessários momentos de solidão e contemplação, nos recordamos e dizemos : bons tempos, bons tempos... Só que chega a hora em que temos que recusar o quarto filme da franquia, em que temos que virar as costas a Birdman : tchau, Birdman, divertimo-nos muito, sou-lhe muito grato, mas tenho que ir cuidar da vida, trabalhar, pagar as contas, amadurecer, casar, criar os filhos, bye-bye, so long, farewell, Birdman, fly, robin, fly. Mas o Birdman não voa para longe, fica nos arredores, nas sombras do quarto, atrás das portas, nos interstícios do guarda-roupas e, sobretudo, em nossas gavetas. E naqueles nossos momentos de fraqueza, de guarda baixa, Birdman vem nos assombrar, deixa disso, diz-nos Birdman, largue de tanta chatice e seriedade, vamos dar uma voadinha por aí, beijar umas nuvens e cagar em alguns telhados. E todos bem sabem da saudade que temos das nuvens e dos telhados.
Para alguns, o Birdman pode ter acontecido aos 15, 18 anos; para outros, aos 30; aos 40; para outros, que afirmam nunca terem sido Birdman, o Birdman pode estar a acontecer no presente tempo, e ser, portanto e por ora, imperceptível. Só sabemos do Birdman, que fomos Birdman, e damos real valor a ele, quando nossas asas perdem sua efetiva função; só nos damos conta de que voávamos quando a dura, áspera e gravítica realidade do chão se impõe como nossa última estação.
Ainda e talvez : o que julgamos ter sido nosso Birdman pode apenas ter sido o ovo do Birdman; tomado erroneamente, em nossa azáfama de fazer a vida se cumprir e se definir, pelo próprio pássaro.
Foi o caso do personagem de Keaton no filme. O Birdman, a celebridade aclamada e ovacionada, foi apenas o ovo do verdadeiro Birdman, do verdadeiro voo, do ator completo e acabado. O fracasso, o ostracismo, o descrédito de público e de crítica, o aprender a lidar com isso - e mesmo a esquizofrenia - foram a ideal bunda de galinha que chocou o ovo, que o burilou, lapidou.
Ou, talvez, e muito provavelmente, não seja nada disso. Talvez nem seja eu a escrever nesse momento, talvez seja meu Birdman, de asas desfraldadas e libertas, pela madrugada e pelo álcool.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Bengala de Selfie

Enquanto a preguiça de escrever algo que preste não passa, vou postando umas merdas, só para manter a marreta em riste.
E essa postagem vai especialmente para meu primo Leitinho, fervoroso adepto do pau de selfie!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O Que Teria Mudado? Meu Carnaval ou Eu?

Então repito a pergunta
Que o tempo não respondeu
O que teria mudado?
O meu carnaval ou eu?

Saudosismo
(João de Barro)
Onde andará a Colombina
Que o carnaval esqueceu
Com seu olhar de menina
Travessa que Deus lhe deu?

Onde andará a Colombina
Onde andará seu Pierrô?
Sempre à procura de um sonho
Que nunca realizou

Hoje o carnaval está mudado
E o palhaço vai ao baile de "blu-jim"
O Arlequim não muda de bermuda
E a Maria Antonieta nua é o fim

Não há mais lança perfume
Nem serpentinas no ar
Meu carnaval se resume
Em ver a escola passar

Então repito a pergunta
Que o tempo não respondeu
O que teria mudado?
O meu carnaval ou eu?Saudosismo
(João de Barro)

Onde andará a Colombina
Que o carnaval esqueceu
Com seu olhar de menina
Travessa que Deus lhe deu?

Onde andará a Colombina
Onde andará seu Pierrô?
Sempre à procura de um sonho
Que nunca realizou

Hoje o carnaval está mudado
E o palhaço vai ao baile de "blu-jim"
O Arlequim não muda de bermuda
E a Maria Antonieta nua é o fim

Não há mais lança perfume
Nem serpentinas no ar
Meu carnaval se resume
Em ver a escola passar

Então repito a pergunta
Que o tempo não respondeu
O que teria mudado?
O meu carnaval ou eu?


A mesma máscara negra que cobre teu rosto; confetes, pedacinhos coloridos de saudade; e lança-perfume Colombina, cuja embalagem, depois que o conteúdo era vaporizado e inalado, ainda dava muita alegria para a mulherada e aos Cabeleiras do Zezé de plantão.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

De Volta aos Velhos Carnavais

Ausentar-me-ei por uns dias desta virtual esfera. Aproveito as brejeiras folias de Momo e parto em retiro espiritual. Muita contemplação. Muita meditação. E muita cerveja!
Não vos deixo, no entanto, desamparados. Fica a dica de carnaval do Azarão. Sobretudo para os saudosos dos velhos carnavais : O Carnaval da Brasileirinhas, com Rita Cadilac.
Mais velho que isso, impossível!
"Quanto riso, oh, quanta alegria... "

Não é Carnaval, Mas é Madrugada (14)

Carnaval é época de euforia, de carnalidades, de novos amores. Por isso, também é tempo de traições. E Chico Buarque compôs uma das mais belas canções de perfídia de nossos carnavais. Nem é só a traição da mulher ao seu homem, é a infidelidade da cabrocha à sua escola, ao seu próprio sangue, samba, seiva. É a deslealdade da porta-bandeira que troca a avenida pela galeria, pelo camarote, provavelmente bancada por um coroa rico.
A canção Quem Te Viu, Quem Te Vê é o lamento do corno, o desabafo do mestre-sala que marcava seu samba na cadência dos passos da infiel cabrocha, que a vestia de dourado pra que o povo admirasse. 
Mas o corno não perde a pose nem a classe, mantém-se altaneiro, sustenta feito um Atlas o peso dos chifres e dá uns belos tapas com luva de pelica na vagabunda : "Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia Quem brincava de princesa acostumou na fantasia"; "Se você sentir saudade, por favor não dê na vista Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista"
Faz de conta que é turista... É pra fazer qualquer puta chorar por onde mais lhe dói a saudade. É o Chico!
Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer


Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista


Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Tem Culpa Eu?

O estilista Sérgio K. (o qual nunca vi mais gordo) resolveu tirar partido da merda em que se encontra o país e lançou uma camiseta de sua grife com uma mensagem de apoio a Aécio Neves, ou contra Dilma Roussef.
A camiseta traz a inscrição : A culpa não é minha - Eu votei no Aécio.
Eu também votei no Aécio. Tem culpa eu?
Contudo, se Sérgio K., por um lado, veste literalmente a camisa pró-Aécio, por outro lado, quer enriquicer ilicitamente feito a máfia do PT. O estilista tem a cara de lula de cobrar noventa e nove reais por uma camiseta Hering com um silk mais ou menos.
Noventa e nove reais... É quase um japonês, ou seja, cem pau!!!

Construindo o Cidadão Jeca Tatu

Chegue para um engenheiro e diga-lhe : olha, não precisa se preocupar em cumprir com o prazo da obra, amanhã, mês que vem, daqui a dois anos, não há problema, cada obra tem suas peculiaridades, o seu tempo, devemos respeitar o ritmo de cada obra. Não dê, igualmente, tanta importância em seguir à risca o projeto da planta; se a edificação sair com dois ou três andares a menos, paciência, imprevistos acontecem, coisas da vida; se algum cômodo for esquecido de sua fiação, encanamento, ou mesmo de seu teto, distrações acontecem, errar é humano, também não há grandes inconvenientes, não se exaspere por tão pouco. E deixe de rigores extremos, liberte-se de cálculos e precisões opressoras, inflexíveis, tirânicas; uma infiltração aqui, uma rachadura ali, um desmoronamento acolá, são naturais percalços, vicissitudes do ofício.
Absurdo? Sandices? Surreal?
Pois é isso, exatamente isso, apenas trocando-se pelos jargões específicios da área, que é dito cotidianamente ao professor. Não apenas dito. Imposto.
Não se preocupe em cumprir  com o conteúdo de cada série, professor. Se o aluno não aprender a ler nesse ano, aprove-o, promova-o de série, ele aprenderá no ano que vem, no outro, ou no outro, cada aluno tem seu ritmo de aprendizado e devemos observá-lo para que não hajam traumas que bloqueiem para sempre seu processo cognitivo; idem para os rudimentos de ciências e matemática. O importante é ele estar na escola, socializando-se, construindo-se como um cidadão.
(E aqui não invento tampouco exagero; eu, em inícios de carreira, inocente, puro e besta, por algumas vezes fui "advertido" quanto à minha rigidez em querer cumprir com o conteúdo, que já é o minímo do mínimo. Não imaginam quantas vezes eu ouvi da boca de coordenadores que o conteúdo não é o mais importante. O que mais é, então, em uma escola?)
E deixe de rabugices e absolutismos, caro mestre. Deixe de cobrar que o aluno chegue no horário à sua aula, que ele esteja de uniforme, que ele traga o material e que realize as opressoras tarefas que são lhe são dadas, que ele tenha comportamento adequado; a escola é a continuação da casa do aluno, professor.
(De novo, não estou a carregar nas tintas; antes pelo contrário, até as diluo, até as pinto em aquarela ao invés de em densa pasta a óleo que lhe faria mais jus).
A Lei de Diretrizes e Bases do Ensino, a LDB, garante a entrada do aluno na escola e em sala de aula de maneira incondicional : se ele entra às 7h e chega, por exemplo, às 10h na escola, a escola é obrigada a deixá-lo entrar, ainda que nenhuma justificativa ele dê para o atraso; se ele chega sem uniforme, idem; sem material didático (que é lhe fornecido gratuitamente pelo Estado), ibidem. O aluno pode chegar às 10h na escola, de chinelos havaianas, bermuda verde, camiseta laranja fosforescente, boné, sem portar um único caderno ou caneta que seja : ele vai entrar.
E o que é que tem isso, professor? Ensiná-lo a ser responsável, disciplinado, compromissado com suas obrigações, para quê? De que servirá a ele responsabilidade e disciplina? Deixe de recalques, caro educador. Cada um tem o seu tempo para amadurecer. O importante é ele se sentir acolhido pela escola, sentir-se pertencente a um lugar, o importante é a inclusão social, é trabalhar a autoestima do educando, é construi-lo como cidadão.
Química, Física, Biologia, Literatura? Ora, professor, são meros detalhes, adereços, atávicos apêndices herdados da antiga escola - elitista e excludente-, insignificantes pretextos para a escola existir em seu objetivo maior : construir o cidadão.
Direcionar os temas de sua disciplina para o vestibular, professor? Onde o senhor pensa que está, numa escola? Deixe de arcaísmos e obsoletismos, professor, desvencilhe-se dos velhos ranços. Professor, construa o cidadão (irresponsável, indisciplinado, semianalfabeto), que ele, uma vez erigido, estará apto a trilhar com sucesso o caminho que bem escolher. É a escola-cidadã! A escola-cidadã é o discurso em voga nas últimas duas décadas, já a entrar na terceira. Construa o cidadão, professor!
Um cidadão com dois ou três andares a menos que a planta original, com algum cômodo esquecido de fiação e encanamento, marejado e mofado de infiltrações, com rachaduras e inevitavelmente sujeito a desmoronamentos. Paciência, professor, não se exaspere por tão pouco, dedicado mestre; são naturais percalços, vicissitudes da vida.
Que venha, pois, o Carnaval. Que é o único título que ainda nos resta : o país do carnaval. Título demeritório, é verdade, mas ainda um título; que, ao idiota, se for dito que ele é o rei dos idiotas, ele muito se alegrará, estufará o peito de orgulho, assumirá ares de fidalgo.
Fomos também, outrora, o país do futebol. O holocausto alemão dos 7 a 1 arrancou as chuteiras da pátria de chuteiras; e descalços, do glorioso amarelo-canarinho, restou-nos apenas o amarelão nacional, o da verminose, o do Jeca Tatu.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Viúva Negra, Comê-la ou Não Comê-la, Eis a Questão.

No mundo dos insetos e do aracnídeos, o canibalismo pós-copulatório não é ocorrência incomum. Ao término da foda, a fêmea (essa eterna ingrata) de certas espécies, ao invés de relaxar, fumar um cigarrinho, tomar um banhozinho pra ficar cheirosa e cobrir de carinhos e agradecimentos o macho que lhe deu tanto prazer, ataca seu nobre e dedicado consorte e, sendo normalmente maior que ele, mata-o e o devora na grande maioria das vezes, raros são os afortunados don juans que conseguem se pirulitar. Matam sem dó nem remorso o macho que lhes permitiu cumprir com o sagrado desígnio da natureza, o da maternidade.
Ingratidão, ingratidão, teu nome é mulher!
O louva-a-deus é um desses casos da eterna ingratidão feminina. Sim, o louva-a-deus, aquele bichinho com ares zen, contemplativo, que parece estar sempre a meditar e a orar com sua patas postas em posição de prece. Não vou dizer que ele não esteja mesmo a rezar e a louvar a deus, a questão é : pelo que ele tanto reza, o que tanto pede a seu deus? A suculenta cabeça de um macho!
O macho vai lá, todo solícito e disposto, de pica em riste - a maior demonstração de respeito que um macho pode ter pela fêmea -, dá aquela assistência, faz um amorzinho gostoso. Mal o pau do louva-a-deus amolece, a fêmea já o imobiliza em certeiro bote, e seu alvo primário é a cabeça do macho, que ela decepa com suas patas serrilhadas e devora com prazer maior que o sexual. O macho ainda tenta brigar por sua vida, debata-se, luta valorosamente para escapar das mãos que tanto beijou - sim, amigo, a mão que afaga é a mesma que apedreja -, mas tomba em campo de batalha, morre heroicamente.
Mas, sem dúvida, a mais notória devoradora (literalmente) de homens do reino dos artrópodes é a famosíssima viúva-negra. E como toda fama que se preze, seja para o bem ou para o mal, a da viúva-negra também é injustificada. A viúva-negra não mata o macho depois da trepadinha. O macho morre, sim, é devorado por ela, sim, mas sua morte não se dá pelas mãos da fêmea, por nenhuma da oito. 
A morte do macho da viúva-negra tampouco tem de combativa e heroica, tem é de patética, eu diria. O macho não luta por sua vida contra uma oponente maior e impiedosa; ele morre por hemorragia do pau. Pããããta que o pariu!!! 
É isso mesmo. Acontece que o macho, depois de dar aquela gozadona e entupir a fêmea de esperma, retira bruscamente o pênis de dentro dela; ou melhor, tenta retirar, pois o pau do macho (chamado de bulbo) quebra no tranco e fica dentro da fêmea, ele sai eunuco, emasculado, perde grande quantidade de seu fluido vital através do ferimento, a hemolinfa, e morre.
Uma vez morto, não há porquê desperdiçar o cadáver, a fêmea o devora; que, na natureza, nada se perde e nada se cria, tudo se transforma. 
E não há quem possa orientar as novas gerações de machos jovens acerca dos perigos do amor e do sexo. Instrui-los, por exemplo, na técnica e na arte do coito interrompido : mete à vontade, meu filho, mas goza fora. O macho impúbere cresce iludido, não vendo a hora de dar sua primeira trepada, afoito para perder o cabaço. Mal sabe ele. Quem poderia lhe alertar, já era. A castração pós-coito não é conhecimento que passa de pai pra filho.
Feito a história do instrutor de pilotos kamikazes. Ele se dirige aos novos cadetes e diz : prestem atenção, que eu só vou explicar uma vez. O macho da viúva-negra só trepa uma vez.
E você, caro amigo, arriscaria sua benga em uma trepada com uma fatal viúva-negra, aventuraria-se nas entranhas de uma aranha devoradora de cobras? E se fosse a viúva-negra abaixo, a dos Vingadores, a Scarlett?
Deixo aqui uma enquete aos leitores machos do Marreta (vale para você também, ex-boiola que comenta sempre por aqui) : se fossem lhes dadas apenas duas opções, perder o pau na Viúva Negra - nessa Viúva Negra -, ou passar o resto da vida na bronha, qual você escolheria?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Homem Olha a Chuva

O homem olha a chuva.
De seu aquário seco,
De sua ilha cercada de vácuo por todos os lados,
O homem olha a chuva.

O homem olha a chuva.
Com olhos de confusão e de embaraço
De quem reconhece de pronto a um velho amigo
E esse nem faz ideia de quem ele seja,
O homem olha a chuva.
Com a prostação e a paraplegia
De um abraço que não encontra outros braços,
O homem olha a chuva.
Com as retinas saudosas de quem,
A procurar
Por meias, cuecas,
Comprovantes de votação
Ou simplesmente
A pôr novas naftalinas nas gavetas
A proteger o passado do apetite desrespeitoso das traças,
Dá de cara com foto de amante antiga,
O homem olha a chuva.

O homem olha a chuva.
À qual já serviu de superfície,
A qual já usou por cobertor e samovar.

A chuva olha o homem
Estranha não vê-lo metido e a nadar em seu útero,
Mas precipitada
Tempestuosa que é
Esquia
Enxurrada
Meio-fio abaixo
A ninar barquinhos de papel.
Esquece do homem,
Mantém-se chuva.

O homem olha a chuva.
Fere-lhe não ser mais girino
Em sua bolsa amniótica,
Mas contido, prudente
Covarde que é,
Conforma-se
Convence-se
Deserta do convés
Põe fogo em seus galeões de papel.
Abstém-se da chuva,
Desfaz-se como homem.

Bukowski Manda um Olá

Olá, como você está?
esse medo de ser o que eles são:
mortos.

pelo menos eles não estão na rua, eles
têm o cuidado de ficar dentro de casa, aqueles
malucos que se sentam sozinhos na frente de suas tvs,
suas vidas cheias de enlatados, riso mutilado.

seu bairro ideal
de carros estacionados
de pequenos gramados
de pequenas casas
as pequenas portas que abrem e fecham
quando seus parentes os visitam
durante as férias
as portas se fechando
atrás do moribundo que morre tão devagar
atrás do morto que ainda está vivo
em seu tranquilo bairro de classe média
de ruas sinuosas
de agonia
de confusão
de horror
de medo
de ignorância.

um cão parado atrás de uma cerca.

um homem silencioso na janela.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Mimetismos (14)

A flor é o órgão sexual das plantas. A florada de uma árvore é seu período de cio exuberante. Um ipê florido, a exemplo, é uma fêmea arreganhada a conclamar toda a espécie de fornicadores para fecundá-la, borboletas, vespas, abelhas, besouros, pássaros etc.
A flor é o órgão sexual das plantas. Não é à toa que o mancebo apaixonado oferta belos e portentosos buquês de rosas à sua amada. A intenção do canalha é bem clara. O cara está a lhe dar, minha cara donzela incauta, um ramalhete de órgãos sexuais. E a moça toma aquele buquê de órgãos sexuais e o abraça, leva-o junto ao peito, esfrega aqueles órgãos sexuais no rosto, aspira seu cheiro, suspira, enleva-se e extasia-se. E vai alegre mostrar para a mãe, que também se derrete toda, elogia o pretendente, é o genro que ela pediu a deus, e aproveita para criticar o marido, que há tempos não lhe manda flores - óbvio, o cara já comeu o que havia para.
A flor é o órgão sexual das plantas. As fotos abaixo não me deixam mentir. A semelhança de formas é impressionante. Já o cheiro... quanta diferença...
Tem até uma cabeludinha! E uma hermafrodita! Pãããããta que o pariu!!!!

Deixe Estar

Eu queria deixar :
De acordar antes do despertador alarmar um novo dia;
Do excesso de café
(sorriso para o cérebro e ácido sulfúrico para minha gastrite);
A cerveja só para os fins de semana,
Para as comemorações.
Mas a vida não deixa.
Deixar a vida?
Ainda não.

Na Boca da Noite

Oh, Lua
De pouca gravidade
E menos ainda siso,
Tomo de assalto o teu sorriso
Com minha capadócia espada.
E se te inflamas,
Se te intumesces
Se te pões túrgida
E escorres
E te liquefazes,
Ordenho-te
Mamo-te
Esgoto-te
Deixo-te à míngua.
E minguante
Te boto no colo
Te faço cafuné
Te dou café forte
Para que te restaures
Te renoves.
E nova, 
Pouso em ti 
Outra vez.