quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, que Fossa...(39)

Clarice Falcão, do alto de suas quase três décadas de vida, é atriz, roteirista, cantora, compositora e humorista integrante da Porta dos Fundos. E uma gracinha - valha-me Santa Hebe Camargo. Parece a mim que faz o gênero menina tímida, recatada, meiga, indefesa, quase que de porcelana. Mas o provável é que seja só fantasia de velho babão. Ela deve ser é geniosa pra cacete, como toda mulher inteligente que se preza. Mas deixa o velho sonhar...
E Clarice também entende de fossa, de levar "bolo", de ser preterida. O que mostra que tem muito canalha por aí, muito crápula, muito mané. Quem seria capaz de deixar Clarice à espera num bar?
A música, por sua temática universal, lembra muito a "Se meu amor não chegar", de um outro rei da fossa e do chifre, Reginaldo Rossi, mas tem mais delicadeza, mais doçura, e melhores rimas, também.

Se esse bar fechar
(Clarice Falcão)
Se esse bar fechar
Ele não vem
Se esse bar fechar mesmo se ele vier, não vai ter mais ninguém
Então se vocês me servirem mais uma
Por mim tudo bem

Se esse bar fechar
Eu fico só
Se esse bar fechar todos aqui vão me olhar com essa cara de dó
Então se vocês me servirem mais uma
Por mim é melhor

Eu sei que eu marquei às dez
E eu sei que já são três
Mas vai que ele se atrasou
E quando ele chega eu já fui e a culpa é de vocês

Se esse bar fechar
Mais um revés
Se esse bar fechar pra me tirar 'cês vão ter que arrastar pelos pés
Então se vocês me servirem mais uma
Eu pago mais dez

Se esse bar fechar
Eu posso ir
Se esse bar fechar faz tanto tempo que eu não consigo dormir
Mas se vocês não servirem mais uma eu quebro isso aqui

Eu sei que eu marquei às dez
E eu sei que já são seis
Mas vai que ele se atrasou
E quando ele chega eu já e a culpa é de vocês

Se esse bar fechar
Se esse bar fechar
  
Para ouvir a doce Clarice, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO  

domingo, 27 de novembro de 2016

Pé-de-Pau

Há coisas que não sei desde quando as sei, informações com as quais tive contato e as retive desde a mais tenra idade - fazer barquinhos e aviões de papel, ver a hora em relógio analógicos, os de ponteiros (uma arte quase esquecida), saber que o metro tem cem centímetros, ler algarismos romanos, amarrar o cadarço do sapato, entre outras.
Há coisas que não sei que não sei, e que nunca me fará falta ou diferença sabê-las - por exemplo : nem faço ideia.
Há coisas que sei que não sei, e que pouco me importa não sabê-las - nome de modelos de automóveis, a escalação da seleção brasileira de futebol, ou de qualquer outro time, o final do novela das oito, o que o horóscopo preconiza para o meu dia, o ganhador do Oscar, ou do Nobel, nomes dos alunos etc
E há, por fim, coisas que eu sei que não sei e que se tornam e permanecem como coceiras daquelas inalcançáveis até que eu as saiba; comichões de fogo, pequenas agonias, inícios de taquicardia, que só cessam ao desvelar do conhecimento - nessa categoria, no meu caso, se encaixa perfeitamente a nomenclatura de plantas e bichos.
Se vejo uma árvore, ou um arbusto, ou um pequeno mato a florir por entre a rachadura de uma parede, ou de uma sarjeta, ou um pássaro, ou um peixe, ou um inseto etc, dos quais não sei o nome, um incômodo se instala, imediatamente.
Saber o nome, por exemplo, do ipê-amarelo se torna mais importante e premente que contemplar seu esplendor dourado; do sabiá-laranjeira, mais aflitivo e urgente que apreciar seu canoro gorjeio. 
A exemplo mais real e recente, enquanto eu não soube ser lavadeira-mascarada o nome de uma espécie de ave muito corriqueira nas margens de um rio que atravessa a cidade e o qual eu atravesso rumo ao trabalho, com corpo branco e asas pretas, tamanho pouco menor que o de um bem-te-vi e, igualmente a esse, com uma faixa preta a pintar-lhe os olhos, não sosseguei, o exaspero perdurou por meses, parecia que a pequena ave caçoava de mim, decifra-me ou devoro-te. Hoje, descoberta sua identidade, passo por ela e consigo bem apreciar a geometria de suas formas e cores, seu voo, seu canto.
Surpreendi-me, por isso, quando, um dia desses, um amigo com quem volta e meia pego carona comentou, ao passarmos ao lado do muro de uma escola por sobre o qual uma frondosa árvore debruçava e debulhava seus cachos amarelos de flores, suas pepitas, o quanto estavam bonitas as acácias.
Acácias?, estranhei. Acácias-amarelas, completou ele, não conhece, não?
Claro que já vira a tal espécie, várias e várias vezes, a árvore era velha conhecida. O que me espantou foi eu não ter sabido o nome dela por tanto tempo sem que isso nunca tivesse me incomodado.
Como? A resposta, de pronto, veio lá do fundo, da infância : nunca me incomodou o fato de não lhe saber o nome, simplesmente porque eu sempre soube. Não a conhecia por acácia-amarela, mas por um outro nome, com o qual a batizamos há praticamente quatro décadas, eu e um punhado de amigos com quem estudei no ginasial em uma escola em que várias delas rodeavam o pátio.
A acácia-amarela tem frutos na forma de vagens cilíndricas, que chegam a vinte, trinta centímetros de comprimento; finda a florada, as vagens roliças ficam pendentes dos galhos, feito móbiles ao prazer do vento.  Portanto, não deu outra, nós a batizamos de pé-de-pau.
Nós - eu, o Márcio, o Wander, o Íris, o André e o Fernandinho Formiga Atômica - vivíamos sacaneando uns aos outros com os paus do pé-de-pau. Bastava que um bobeasse, que desse as costas inadvertidamente ao grupo, para que o outro, correndo, lhe passasse a vagem na bunda, ou que colocasse um pau do pé-de-pau no assento da cadeira. E, claro, rolávamos de rir. Coisa de moleque idiota, mesmo; tínhamos nove ou dez anos, então.
Por isso, nunca me incomodou ignorar que o nome era acácia-amarela; eu a conhecia por um nome, que é o bastante para apaziguar minha obsessão. E, para mim, ela continuará a ser o pé-de-pau; acácia-amarela será uma espécie de apelido.
Lembrei-me, então, do Régis, outro aluno da minha classe, que, embora não fizesse parte exatamente da turma que citei acima - ele era quietinho, comportado, mimadinho, meio que filhinho da mamãe -, ficava sempre por perto de nós. E como era distraído, o Régis. Nunca percebia quando chegávamos pelas suas costas e lhe tacávamos o pau do pé-de-pau no forévis. Nunca percebia, quando ia se sentar, que tínhamos colocados um bem taludo em sua cadeira. Apenas nos olhava com um ar superior, com cara de desdém, como se fosse muito mais maduro que nós.
Hoje, vejo que o Régis não era distraído porra nenhuma. Muito menos maduro. O Régis era viadinho, isso sim! Desde aquela época! Pãããããããta que o pariu!!!
Eis um belo espécime do pé-de-pau.

É a Podridão, Meu Velho (13)

Baixei
E ouvi 
Dias desses :
(1) o novo CD do Zeca Baleiro
(2) das Velhas Virgens
(3) do Paulo Ricardo
- do Chico, nem mais procuro saber.

(1) Pálido
(2) Esquálido
(3) Inválido.

Bom ver
(ou não)
Que não sou só eu 
Que não escrevo mais merda nenhuma que preste.

Bom ver
Que não é só meu espelho
Que me assusta
Que tem erosões
Que me atraiçoa
(farto de mim)
Que me diz
Que Branca de Neve é mais bela do que eu.

Bom ver
Que não foi só o meu retrato de Dorian Gray
Que craquelou
Que desbotou
Que não consegue mais esconder a farsa
A falsificação
(nem o mais chinfrim dos peritos reconhece minha autenticidade)
Que amarelou
(que amarelei) 
Que não sou Fausto sozinho
Que não consegue ser mais
Mumificação
Embalsamento
Creolina
Formol
Do meu desmoronamento,
Da minha implosão
Da minha decepção,
Da minha podridão, 
Meu velho.

sábado, 26 de novembro de 2016

Morre Fidel Castro. Havendo um inferno, está indo pra lá. Ou: O mistificador da história

Texto de Reinaldo Azevedo.
"Aos 90 anos, morre Fidel Castro. Viveu 57 desses 90 como ditador de Cuba, ditadura esta que, desde fevereiro de 2008, tem Raúl, o irmão, como executivo. As considerações que seguem são quase as mesmas que fiz naquele ano, quando o facínora se afastou do dia a dia do governo.
Tenho um pouco de vergonha de muitos da minha profissão. Com as exceções de sempre e de praxe, afirmo de modo categórico: está tomada por pusilânimes, por idiotas, por cretinos incapazes de escolher entre o bem e o mal, entre a democracia e a ditadura, entre a vida e a morte. Já li nesta manhã muita coisa que a imprensa relevante publicou, no Brasil e no mundo, a respeito da morte do ditador. Não fiz a contabilidade, mas creio que 90% dos textos apelam a uma covardia formidável: seu legado seria ambíguo; Fidel nem é o herói de que falam as esquerdas nem o facínora apontado pela direita. Até parece que ele é apenas um objeto ideológico sujeito a interpretações. Não por acaso, esquece-se de abordar, então, o seu legado segundo o ponto de vista da democracia.
A mais estúpida de todas as leituras é aquela que poderia ser assim sintetizada: “Fidel liderou uma ditadura, mas melhorou os índices sociais”. Isso que parece ingênuo, de uma objetividade crua e descarnada de qualquer ideologia, é, de fato, uma impostura formidável; aí está a fonte justificadora do mais assassino de todos os regimes políticos jamais inventados pela humanidade. A ditadura comunista viria, assim, embalada pelo mito da reparação social: “Não se tem liberdade, mas, ao menos, há saúde e educação para todos”.
Pergunto: uma ditadura de direita, então, se justificaria segundo esses mesmos termos?
Mas atenção! Não se trata apenas de criticar esse postulado indecente que aceita trocar liberdade por conquistas sociais. O milagre social da revolução cubana foi criado em cima de mentiras objetivas. Em 1952, Cuba tinha o terceiro PIB per capita da América Latina. Em 1982, estava em 15º lugar, à frente apenas de Nicarágua, El Salvador, Bolívia e Haiti. A fonte? La Lune et le Caudillo, de Jeannine Verdes-Leroux. O livro, de 1989, tem o sugestivo subtítulo de “O sonho dos intelectuais e o regime cubano”. Estuda como se implantou e se consolidou o regime comunista no país entre 1957 (a revolução é de 1959) e 1971. Não foi só essa mentira. Ao chegar ao poder, Fidel afirmou que 50% da população da ilha era analfabeta. Mentira! Em 1958, a taxa era de 22%, contra 44% da população mundial.
Um ano depois da revolução, já não havia no governo nenhum dos liberais e democratas que também haviam combatido a ditadura de Fulgêncio Batista. Tinham renunciado ao poder, estavam exilados ou mortos. Logo nos primeiros dias da revolução, antes mesmo que se explicitasse a opção pelo comunismo, Fidel e sua turma executaram nada menos de 600 pessoas. Em 1960, pelo menos 50 mil pessoas oriundas da classe média, que haviam apoiado a revolução, já haviam deixado Cuba. Três anos depois, 250 mil. A Confederação dos Trabalhadores Cubanos, peça-chave na deposição do regime anterior, foi tomada pelos comunistas. Em 1962, imaginem, a CTC cobra de Fidel a “supressão do direito de greve”!!! O principal líder operário anti-Batista, que ajudou a fazer a revolução, David Salvador, foi encarcerado naquele ano.
Só nos anos 1960, o regime de Fidel fuzilou entre 7 mil e 10 mil pessoas. Caracterizá-lo como um assassino não é uma questão de gosto, mas de fato; não se trata de tomar essa característica como parte de seu legado supostamente ambíguo. Não há nada de ambíguo em fuzilar 10 mil. É coisa de facínora. Como é incontroverso que ele e seu amiguinho, o Porco Fedorento Che Guevara, criaram campos de concentração na ilha, os da UMAP (Unidade Militar de Apoio à Produção), formados por prisioneiros políticos, que chegaram a 30 mil!!! Ali estavam religiosos, prostitutas, homossexuais, opositores do regime, criminosos comuns…
Os movimentos gays, que costumam ser simpáticos à esquerda, deveriam saber que a Universidade Havana passou por uma depuração anti-homossexual. Isso mesmo. Em sessões públicas, os gays eram obrigados a reconhecer seus “vícios” e a renunciar a eles. As alternativas eram demissão e cana (em sentido literal e metafórico). Segundo O Livro Negro do Comunismo, desde 1959, estima-se em 100 mil o número de pessoas que passaram pela cadeia ou pelos “campos” de reeducação no país. Os fuzilamentos são estimados entre 15 mil e 17 mil pessoas.
Quando Fidel fez 80 anos, escrevi neste blog o seguinte:
“Em 1961, estima-se que Cuba tivesse 6,5 milhões de habitantes. Nada menos de 50 mil já tinham fugido da ditadura para o exílio. Ou seja: 0,77% da população. Isso não impediu, é claro, que José Dirceu fosse buscar abrigo na ilha quando veio o golpe militar. Ali ganhou uma nova cara e consta que treinou guerrilha — há quem diga que nunca deu um tiro. Em 1964, o Brasil tinha 80 milhões. Se os militares tivessem feito aqui o que o ditador cubano fez lá, nada menos de 616 mil brasileiros teriam ido embora. Cuba tem hoje 11 milhões de habitantes. Desde 1959, foram executadas na ilha 17 mil pessoas — não se sabe quantas morreram nas masmorras. Só os reconhecidamente executados são 0,154% da população. Postos os números em termos brasileiros, dada uma população atual de 180 milhões, os mortos seriam 277.200. Só nos primeiros cinco meses da revolução, foram sumariamente executadas 600 pessoas (0,0092% da população). É pouco? No Brasil de 1964, isso significaria 7.360 mortes logo de cara.
Os 21 anos de ditadura militar brasileira mataram, em números superestimados, 424 pessoas, incluindo os guerrilheiros do Araguaia. Desse total, por razões comprovadamente políticas, foram 293 pessoas. Os números sobre o Brasil estão no livro “Dos Filhos Deste Solo”, do petista e ex-ministro de Lula Nilmário Miranda. Em Cuba, de 1959 para cá, passaram por prisões políticas 100 mil pessoas (0,9% da população atual). Em Banânia, isso representaria 1.620.000 pessoas. Essa é a democracia que um grupo de petistas estava — ou está — se preparando para saudar no próximo dia 13 de agosto, quando Fidel faz (ou faria) 80 anos, 47 dos quais à frente de uma das ditaduras mais fechadas e sanguinárias no planeta. Mais detalhes no texto “A América Latina e a Experiência Comunista”, de Pascal Fontaine, que integra “O Livro Negro do Comunismo – Crimes, Terror e Repressão” (Editora Bertrand Brasil), recebido com um silêncio covarde e cúmplice por aqui. E também em “Loué Soient nos Seigneurs”, de Régis Debray (Editora Gallimard), que conheceu de perto, em Che Guevara, parceiro de Fidel, “o ódio que faz do homem uma eficaz, violenta, seletiva e fria máquina de matar”.
Nota: ainda hoje, as prisões cubanas são um exemplo acabado da degradação humana. A totalidade dos presos de Fidel preferiria, sem sombra de dúvidas, dividir celas com os terroristas de Guantánamo. Mas o mundo, claro, acha Bush um bandido e para quando discursa o ditador de opereta.”
Então… Viram só? Por que os nossos ditadores, que não passam de soldadinhos de chumbo perto da máquina de matar que foi Fidel Castro, também não têm reconhecida a sua herança ambígua, não é mesmo? Já imaginaram. “Há quem diga que o general Emílio Médici foi um ditador, mas, para alguns, foi um verdadeiro herói…” Não! Isso os nossos jornalistas isentos jamais dirão.
Mas cobram isenção diante de um dos maiores assassinos da história.
Não saúdo a morte de ninguém. Mas vai que o inferno exista… Existindo, Fidel foi pra lá.

Ela é Puro Êxtase (II)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Tanajura Gourmet

Continuo muito puto! Fulo da vida com toda essa "sensibilidade" moderna, com essa verdadeira indústria da viadagem. Sim, existe uma enorme indústria planetária que lucra bilhões vendendo frescura, pedantismo e falsa sofisticação. Tô um brucutu. Um troglodita. Chuck Norris. Charles Bronson. Jair Bolsonaro.
Ontem, mostrei mais uma vez toda a minha estima pela tal arte contemporânea; hoje, o alvo e motivo de minha santa ira é a cozinha gourmet, um dos segmentos da indústria da viadagem que mais cresce no mundo.
Acordo às 5 h da matina. Levanto, espero o pau descer pra eu poder mijar, limpo a areia das gatas e reabasteço suas vasilhas com água e ração, rego uns poucos vasos da sacada (quem pensa que o "nordestino é um forte", devia conhecer as plantas da minha sacada), arrumo a mochila da escola do filho e, finalmente, faço um café forte, ligo a TV e me sento uns minutos para pensar na vida, para amaldiçoar o dia.
Geralmente, deixo em algum telejornal matutino - os mais recentes escândalos políticos, um pouco do mundo cão, os gols da rodada, a previsão do tempo e, quando dou sorte, muita sorte, aparece até a bela Cecília Malan. Mas acontece também de eu assistir, às vezes, a uma parte de um filme, de algum documentário etc.
Hoje, acabei parando num programa de culinária; na verdade, no que me pareceu ser uma série que acompanha e retrata o dia a dia de um chefe de cozinha. No episódio em questão, o protagonista da série foi convidado a elaborar e apresentar novos pratos a uma bancada de outros chefes de cozinha, isso lá no Amazonas, em Manaus. O desafio era a confecção de pratos sofisticados, de nível gastronômico internacional, utilizando-se de ingredientes locais, de carnes, frutos e especiarias amazônicas.
O chefe visitou até uma tribo indígena para pesquisar in loco os ingredientes nativos e decidir quais comporiam seus pratos, quais melhor se encaixariam e harmonizariam com sua culinária, com seu estilo. Tudo encenação! Tudo mise-en-scène. Tudo firula, isso de ingredientes locais, de "sabores da terra".
Na prática, o que é feito é, por exemplo, trocar o salmão pelo pirarucu, o molho de maracujá por banana, e voilá : estão agregados os sabores da terra ao prato, os paladares regionais.
Mas a coisa não parou por aí. O pior ainda viria, a piecè de resistance.
O chefe foi, serviu e submeteu suas criações à apreciação dos outros chefes. Aqueles pratos todos enfeitadinhos - uma folhinha de manjericão da Provença aqui, outra de hortelã da Manchúria acolá, uma pétala de amor-perfeito de Amsterdã no meio - e com porções mínimas, miseráveis do rango em si - um marmitex de faquir.
Os chefes começaram a degustação. Puseram fiapos da pequena porção na boca e passaram a olhar para as câmeras com cara de êxtase, de gozos múltiplos, dando a subentender que estavam imersos em uma miríade de novos sabores, um caleidoscópio de novos aromas e sensações, toda a biodiversidade amazônica contida numa única garfada, toda a exuberância do encontro das águas, uma pororoca de sabores que remetem à nossa ancestralidade, texturas e paladares que evocam as nossas origens silvícolas, até mesmo leves, porém, distintas notas da primeira porra que Cabral derramou sobre uma índia - e olha que Cabral nunca nem foi praquelas bandas de lá.
Mas o que mais agradou a uma das chefes, foi um toque especial do cozinheiro no seu prato de pirarucu com farofa de banana : a encimar a pequena posta do peixe, uma menor ainda formiga, crocante e caramelizada. Uma espécie de formiga (esqueci o nome) consumida comumente por certas tribos.
A chefe foi ao delírio, elogiou a ousada composição do cozinheiro, enalteceu as propriedades gustativas do pequeno artrópode, salientou sua crocância etc etc. É a tanajura gourmet!!!
Ora porra! Primeiro que o índio não come a tal formiga por considerá-la um banquete dos deuses,um manjar de Tupã. Come porque é mais fácil do que pegar numa enxada e fazer lá uma rocinha de mandioca, milho, batata, banana, ou do que caçar uma esquiva capivara, ou um beligerante jacaré-açu.
E segundo que se uma pessoa acha um inseto na salada de um restaurante comum, de um self service, por exemplo, ela dá um puta dum escândalo, arma o maior pampeiro, se recusa a pagar a despesa, chama toda a mídia local, chama o Procon e a Vigilância Sanitária, quer ganhar polpuda indenização, quer fechar o restaurante. Um inseto num prato gourmet, celebra-se a ousadia e a originalidade do cozinheiro e se fartam da exoticidade do inusitado ingrediente.
Aliás, isso do cara querer fechar o restaurante me lembrou de uma piada.

O cara tava lá no restaurante, saboreando seu macarrão ao sugo, quando notou um corpo estranho. Pegou-o, olhou, olhou : um pentelho. Olhou melhor, deu uma cheirada : pentelho de buceta! Chamou o rádio, o jornal, a tv, os Direitos Humanos, a Vigilância Sanitária e a puta que o pariu.
Tantos seriam os gastos do proprietário com multas, indenizações e adequações do estabelecimento que ele não teve outra saída a não ser fechar o seu restaurante. Mas continuou no ramo da comida. Juntando uns últimos caraminguazinhos, raspando suas últimas economias, o ex-dono do restaurante, abriu um puteiro, um zonão.
Passado algum tempo, estava lá o cara a gerenciar a putada quando viu entrar pela porta do bordel o filho da puta que havia fechado seu restaurante. Escondeu-se atrás do balcão para não ser reconhecido por ele e ficou só observando-o. Quando o cara pediu uma puta pra ir pro quarto, o ex-dono do restaurante mandou que a mais peluda delas o acompanhasse, colocou-o aos cuidados da Neide Mata Atlântica, como era conhecida no métier (e no chupiér, também). Mandou-os para um quarto em que havia uma câmera estrategicamente colocada e ficou de olho. 
Quando o sujeito caiu de boca no matagal da Neide Mata Atlântica, ele não aguentou, não se conteve, chutou a porta e irrompeu quarto adentro : - Seu filho da puta, há alguns meses você fechou meu restaurante porque achou a merda de um pentelhinho na macarronada e agora taí com a boca cheia de pelo e se lambuzando todo.
No que o cara, tirando a boca do bucetão e desembaraçando uns pentelhos do meio dos dentes, retrucou : - E se eu achar um fiapo de macarrão nessa buceta, eu mando fechar a zona!!!

O cara tá certo! É a gourmetização da buceta! Pããããããta que o pariu!!!!

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Bukowski, um Sorriso Para se Lembrar

Um Sorriso para se lembrar
nós tínhamos peixes dourados e eles ficavam dando voltas
no aquário sobre a mesa perto das cortinas pesadas
cobrindo a vista da janela e
minha mãe, sempre sorrindo, querendo que todos nós
estivéssemos felizes, me disse, 'seja feliz Henry!'
e ela estava certa: é melhor ser feliz se você
pode
mas meu pai continuava a bater nela e em mim várias vezes por semana enquanto
se enfurecia em seus 1,88 de altura, porque ele não conseguia
entender o que estava atacando-o por dentro

minha mãe, pobre peixe,
querendo ser feliz, apanhando duas ou três vezes por
semana, dizendo-me para ser feliz: ‘Henry, sorria!
por que você nunca sorri?’

e então ela sorria, para me mostrar como se fazia, e era o
sorriso mais triste que já vi

um dia os peixes dourados morreram, todos os cinco,
eles boiaram na água, de lado, seus
olhos ainda abertos,
e quando meu pai chegou em casa ele jogou-os para o gato
lá no chão da cozinha e nós observávamos enquanto minha mãe
sorria.

Vá Peidar na Água Pra Ver Se Faz Bolinha

Se você for como meu primo Leitinho, um ardoroso simpatizante, quiçá um voraz aficionado da tal arte moderna, contemporânea, conceitual e outras picaretagens mais, não concordará comigo quando eu digo que ela é uma merda.
Contudo, será forçado a admitir que, no mínimo, e também no máximo, ela é um peido, uma bufa fedorenta e volátil, sem a menor consistência.
O "artista" israelita Micky Zilbershtein produziu um vídeo de 20 segundos intitulado “Underwater flatulence in 120 fps”, no bom português, “Flatulência Subaquática em 120 fotogramas”. O curtíssima-metragem nos apresenta, inicialmente, um dorso longilíneo e uma bem torneada bunda feminina submersos em  uma piscina, uma bunda que, de repente e sem aviso, começa a liberar bolhas, a soltar borbulhas de amor. São, porém, bufas artísticas, "As Bodas de Fígaro", de Mozart, faz as vezes de trilha musical para o vídeo.
A "obra", que, segundo seu idealizador, é parte de um projeto artístico sobre liberdade, liberação e censura, consiste nisso : uma mulher peidando embaixo d'água. O vídeo, pasmem, já conta com mais de 3 milhões de visualizações - inclusive a minha.
É foda. É de revoltar. Ficamos, muitas vezes, eu e meu amigo JB, eu aqui e ele lá no Blogson Crusoe, por horas e horas a matutar, a brigar com nossos textos, com revisão e correção, a nos preocupar com concordância, regência, sintaxe e o escambau e conseguimos, quando muito, uma meia dúzia de visualizações de nossos rebentos.
Então, vem o "artista", entope uma modelo de repolho e batata-doce, a coloca pra peidar na água e voilà : fica rico, o desgraçado.
Se isso é arte ou não, sinceramente, não me interessa, quero que se foda, tô cagando e andando, ou, melhor, tô peidando e andando, mas que é uma bunda bem ajeitadinha, isso é. E o tamanho e volume das bolhas fornece indícios de que há um cu meio frouxo por entre as bochechas, lasseado, bem aclimatado a uma rola.
Se é arte ou não, não quero nem saber, mas que eu traçaria essa bundinha, eu traçaria. Tranquilamente. E pode até peidar no pau se quiser. A gente prende a respiração e prega fogo!!!!
Pãããããta que o pariu!!!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Novembro Azul : A Parte Que Lhe Toca.

É o mês do alcaguete, do X9, do dedo-duro. Valha-nos, São Bezerra da Silva!
Novembro é o décimo terceiro do urologista. E o décimo quarto. E o PIS/PASEP. Em novembro, o cara garante o IPVA, o IPTU, a rematrícula e o material da escola das crianças. Tudo às custas do nosso cu. Novembro azul na conta bancária do médico, e vermelho no nosso toba.
Tem urologista sem horário pra atender, tá tendo que "encaixar" entre uma consulta e outra. Tem urologista até com o dedo mole. Tá pondo prótese no dedo médio, o fura-cu, tá tomando viagra pra falange, pra falanginha e pra falangeta.
Novembro é o mês do fio terra. Vou pôr é cerca elétrica no meu!
Em alusão ao Outubro Rosa, mês dedicado ao combate ao câncer de mama e, principalmente, à venda de camisetas promocionais, postei aqui uma foto com duas gostosas peitudíssimas a bolinar os melões uns da outra e sugeri às leitoras do Marreta, as Marretetes, que convidassem uma amiga para se auxiliarem mutuamente na apalpação das tetas - uma forma lúdica, leve, travessa, menos sisuda e carregada de preocupação de realizar tão importante exame.
Recebi, dias depois, um comentário anônimo, provavelmente de um viadinho politicamente correto - que, doravante, por economia de digitação, representarei por VPC - me chamando de otário, perguntando se eu já passara por tal drama, ou alguém a mim próximo, um parente, um ente querido, por eu brincar dessa maneira etc.
Não publiquei o comentário. Não publico comentários de patrulheiros ideológicos, de politicamente corretos. Tenho verdadeiro nojo dessa gente. São subvermes. Tumores, já que o assunto é esse. Dos malignos. Metastasearam o planeta, os VPC.
O VPC, com certeza, considerou imprópria, mesmo desrespeitosa, a minha abordagem lúdico-erótica do assunto - vai ver que nem é chegado nuns tetões.
Gente assim pensa e espera que, por tratar melhor o mundo e as outras pessoas (por pensar que trata, petulantes cagadores de regras que são), por ser (na equivocada e mal-intencionada concepção dela) educada, polida e cordial com os diferentes a ela e usar da nomenclatura aprovada pela ONU e pelos Direitos Humanos para se referir a tudo e a todos, o mundo e as outras pessoas também a tratarão melhor, de forma especial. O caralho.
Gente assim pensa que tratar com seriedade, circunspecção e solenidade a questão do câncer, vá fazer com que ela fique imune a ele; ou, no mínimo, que o câncer, vendo com que grande respeito ela se lhe dirige, a acometerá de forma mais branda. O caralho.
Gente assim pega câncer é no cu! E daqueles brabos. Que não deixa prega sobre prega. Gente assim, antigamente, sempre em baixo tom de voz, chamava câncer de "doença ruim", ou de "c.a."
E pra não dizerem que não falei das pregas, para não me acusarem de novembrofobia, a proceder de mesma forma que para o Outubro Rosa, deixarei uma dica lúdica e peralta para auxiliar o VPC em tão delicada e dolorida questão.
Chame um amigo - VPC sempre tem um amigo do peito, no caso, do cu, um "parça", um confidente -, vá para o apartamento dele, ou o convide para o seu, apague as luzes, acenda umas velas aromáticas, ponha um Elton John, um George Michael, um Rick Martin, um Renato Russo cantando em italiano (strani amore...), ou um Village People na vitrola, ops, na vitrola, não, que vitrola é coisa de macho das antigas, VPC tem é ipod com bluetooth , abra e faça um brinde com uma boa cerveja artesanal, ou com um vinho orgânico e autossustentável - VPC adora degustar... -, converse amenidades para quebrar a tensão e o gelo, então, é só se colocar ou de quatro, ou de ladinho, ou de franga, caprichar no KY e pedir que o amigo proceda com o preventivo e fraternal exame.
Só fique atento para que apenas uma mão do amigo lhe pouse sobre o ombro; se, de uma hora pra outra, sem avisar nem pedir licença, você sentir as duas mãos do amigo postas em seus ombros, ele não estará mais a fazer o exame de toque, estará a realizar o sonho de sua vida!
Pããããããta que o pariu!!!
Até o reino animal aderiu ao Novembro Azul
Exemplos de exercício da cidadania consciente não faltam, muitos vindos de onde menos se espera. Até os gladiadores machos pra caralho do futebol, esporte brasileiro por excelência, embora bretão na origem, não vacilam quando o assunto é o câncer de próstata. Assumindo seus compromissos para com a sociedade, mostram como realizar o (quase) autoexame.
Por essas e por outras que eu nunca joguei futebol. Nem pebolim. Nem de botão. Aliás, muito menos o de "butão".

Ela é Puro Êxtase

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

As Casas Bahia de Cristo

É o crediário de Deus! É o título de capitalização do Senhor! É o fundo de renda fixa do Altíssimo! É o Minha Casa, Minha Vida do Todo-Poderoso!
O fiel paga religiosamente em dia (literalmente) o carnê do dízimo, ou o boleto bancário, ou autoriza o débito automático no cartão - Deus é high tech, é um cara antenado e logado às novas tecnologias, velho testamento é o caralho -, e, no fim da vida (literalmente, de novo), é contemplado com um lotezinho no latifúndio do Céu, ou com setenta e tantas virgens, ou funde sua essência a uma Consciência Cósmica Universal, ou qualquer outra pataquada prometida por seu respectivo líder espiritual, por seu esculápio da alma. É o consórcio de Deus, o IPTU do Céu.
E aos fiéis que não honrarem com os seus débitos ao Pai? E aos caloteiros de Cristo? E aos inadimplentes do Espírito Santo e da Virgem Maria, amém? O Inferno? Também. Mas não somente. Que, aos bons pagadores, o Cristianismo reembolsa só depois da morte; aos maus, o castigo é automático. Que Deus pode até ser infinito em sua paciência, o que é fichinha para quem tem todo o tempo do mundo, mas seus representantes terrenos não o são. Que se foda o castigo eterno da alma, os pastores querem é ver o sangue verter da carne dos que lhes dilapidam os cofres.
Nos últimos tempos, só a ameaça do Inferno, do Chifrudo, do Rabudo, do Coisa-ruim, não tem ser mostrado eficiente cobradora. A crise atinge também o plano espiritual e os cofres santos : segundo os contadores da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), o prejuízo está na casa do um bilhão/ano.
Mas o que fazer, de que expediente lançar mão quando nem a antevisão de uma eternidade imerso em fogo, enxofre, merda e tridente no cu faz com que o fiel salde seu débito?
Fácil : além de jogar a alma aos quintos dos infernos, ponha o nome dele no SERASA/SPC, o Serviço de Proteção ao Crédito, ou melhor, Serviço de Proteção ao Cristo. 
É isso mesmo, o famoso e temido cadastro de devedores do sistema de crédito lojista será acrescido com dados dos devedores do crediário de Deus.
A brilhante ideia de lançar a alma do caloteiro na rola do Capeta e os seus nome e honra no SPC não poderia ter partido de outro : Edir Macedo. O fiel passa a ter o nome sujo na praça, como se devesse numa loja de eletrodomésticos. A IURD virou as Casas Bahia do Senhor.
A sacada do bispo Macedo é genial. O caloteiro, ao se dar conta do montante de sua dívida e de sua incapacidade em solvê-la, pode muito bem querer sair à francesa das hostes da Universal e ingressar sorrateiramente em outra denominação evangélica, na qual ninguém sequer desconfia de seu passado de dívidas, na qual surge como um ficha limpa.
Pois Edir Macedo fechou essa brecha. Sempre que o pastor de uma igreja receber um novo fiel, ele poderá consultar o SPC de Cristo. O cara sai da Universal e vai bater às portas, por exemplo, da Igreja Internacional da Graça de Deus. Lá chegando, o R.R. Soares puxa o CPF dele no SPC; havendo um nada consta, o fiel é aceito, um novo crediário espiritual é aberto em seu nome; constando débito, o novo crediário lhe será negado.
Da mesma forma que o cara que foi pro SPC por dever nas Casas Bahia não consegue crédito no Ponto Frio enquanto não quitar seu débito, o fiel devedor na Universal terá grandes dificuldades de crédito em outras igrejas evangélicas.
É o SPP, o Serviço de Proteção ao Pastor. Dando mostras de suas magnanimidade e benevolência de homem de Deus, Edir Macedo garante que quem quiser pode fazer um acordo com a igreja e renegociar a dívida, que pode ser parcelada no cartão de crédito com desconto de 50% nos juros. Desconto só nos juros, só no que é do homem, o que é de Deus é irredutível.
Não sei se a ideia do bispo poderá ser concretizada, posta juridicamente em prática, pois, teoricamente, uma igreja não é uma empresa, não tem CNPJ, não paga impostos etc. No entanto, no que depender do apoio de seus fiéis bom pagadores, a ideia do bispo já pode ser considerada vitoriosa, afinal, o maior prêmio para o bom não é ele ser reconhecido como tal, mas sim ver o ruim se fuder.
Para José da Silva Pimenta, que ganha mil reais por mês e paga um dízimo de duzentos, a medida é justa e vai fazer com que os fiéis fiquem pontuais com Deus.
Pagar dízimo atrasado é um pecado, um descumprimento da bíblia e colocar o membro da igreja no SPC vai ajudar o membro a não errar com Deus. Tem gente que ganha muito mais que eu e ainda tem a cara de pau de atrasar o dízimo”, disse José .
Não que Edir Macedo não creia ou não confie na justiça de Deus; aliás, se tem alguém que tem mesmo que acreditar e confiar em Deus, esse alguém é Edir Macedo. Porém, fé, fé, negócios à parte.
Com Edir Macedo, o tal do Deus lhe Pague não cola.
Pãããããta que o pariu!!!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Teu Mero Vigia

És linda.
Isso é fato, é exato.
Mas és linda de exceder escalas,
De iluminar salas,
És linda além de qualquer trato.
E eu, no meu silêncio, no meu recato,
Invisível a te ver passar.

És linda.
Isso é dogma, é axioma.
Mas és linda de causar sismos,
De florir abismos,
És linda de reverter estados de coma.
E eu, na minha solitude, na minha redoma,
Estatelado a te ver planar.
Eu: teu mero vigia.

Sobre Donald Trump, Reações Alérgicas e Choques Anafiláticos (Ou : a Necessária Dose de Xenofobia)

Muitas vezes, o desejo desesperado de nos livrarmos de um mal, acaba por nos colocar em prejuízo e perigo ainda maiores.
Não. Não tirei a frase acima de um para-choque de caminhão. Nem de um livro de autoajuda do Augusto Cury, ou do Rubem Alves. Tampouco da folhinha da Seicho-no-ie.
Ela é uma estratégia de guerra; no caso, uma falha tática de guerra. Do exército mais bem equipado, comandado e eficiente de que já se teve notícia ou conhecimento : o nosso sistema imunológico.
Quando um elemento estranho ao nosso patrimônio bioquímico nos adentra sem pedir licença, à traição, pela porta dos fundos (mas sem viadagem), é comum que nossos radares imunológicos o detectem e encetem uma reação no sentido de neutralizá-lo e expulsá-lo : nossos glóbulos brancos começam a produzir e a liberar anticorpos e outras substâncias para aniquilar o invasor - chamado de antígeno.
Nosso organismo não gosta, não aceita, não tolera, e rechaça tudo o que lhe é estranho. Nosso organismo é xenófobo! E nosso sucesso evolutivo como espécie mostra que há grande sabedoria nisso.
Acontece que nossa tropa de elite imunológica, às vezes, está tão beligerante, com tanta sede de sangue, com tanta vontade de ostentar seu arsenal imunoglobulínico, que acaba por exagerar na dose, acaba por nos pegar em fogo amigo, por minar nossos próprios campos de batalha, por dinamitar nossos próprios paióis e pontes : é a reação alérgica.
Os mastócitos - um tipo de glóbulo branco - são responsáveis pela liberação da histamina, substância que, em condições normais e adequadas concentrações, é grande auxiliar dos anticorpos. Porém, volta e meia, um erro de avaliação faz com que nosso sistema imune superlative a ameaça, e, então, quantidades de histamina muito maiores que as normais são liberadas, causando-nos reações inflamatórias, na pele, nos olhos, nas mucosas respiratórias etc. É a alergia.
A cada reação alérgica desencadeada pelo mesmo agente, o sistema imune vai liberando mais e mais histamina, o desejo desesperado de se livrar do mal faz com que, a cada novo contato com o agente, a dose da histamina liberada seja gradualmente maior, podendo atingir um quadro grave e crítico, o choque anafilático, o nosso fogo amigo; fatal, muitas vezes.
Donald Trump é a reação alérgica do organismo chamado Estados Unidos da América, é o desejo desesperado de se livrar do que julga ser um mal, é a providência exacerbada contra a invasão de elementos estranhos. E há tempos os EUA tentam se ver livres deles com medidas mais moderadas, com doses de histamina pautadas pela razoabilidade.
Repetidos e malfadados contatos com os agentes estranhos fizeram o sistema imune dos EUA - dos seus cidadãos comuns, médios, aqueles que se levantam cedo e pegam no batente todos os dias, os seus operários, os que carregam a grande nação nas costas - despirocar, chutar o balde, descarregar sobre o invasor todo o seu estoque de histamina : Donald Trump.
Do que tanto o sistema imunitário dos EUA se defende, contra o que aponta seu poderio nuclear-imunológico? Simples. Contra o estrangeiro - do imigrante ilegal aos produtos importados, sobretudo os chineses, que realmente estão a quebrar empresas caseiras pelo mundo todo.
Os EUA são uma nação xenófoba (aliás, todas as nações o são, em maior ou menor grau, de hipocrisia, inclusive) e, a exemplo do nosso sistema imune, há uma grande sabedoria nisso.
Uma pequenina dose de xenofobia - só não digo uma dose homeopática porque não acredito nessas charlatanices -, da mesma forma que um adequado suprimento de histamina garante a sobrevivência do organismo, assegura a integridade de um país, conserva a identidade de uma nação, cultural, étnica, religiosa, social, intelectual, política, folclórica etc.
Se o mundo fosse - ou se tornasse - o que apregoam os viadinhos politicamente corretos defensores das tais diversidade e pluralidade, se todos os povos e culturas aceitassem e assimilassem passiva e pacificamente a interferência e a influência de outros, se tudo se imiscuisse, se todas as barreiras e diferenças fossem extintas, acabaria no planeta justamente o que os viadinhos dizem defender, a diversidade.
Se tudo se mesclasse e coexistisse em harmonia, teríamos uma única cultura planetária, única etnia, religião, história, manifestações artísticas etc. Seria tudo o mesmo pastiche. Uma merda só. Os tais defensores da pluralidade são radicalmente contra ela, querem exterminá-la com seus delírios politicamente corretos. Odeiam a diversidade. Querem, os viadinhos politicamente corretos, reduzir tudo e a todos a um único denominador comum. Que é isso o que almeja o sempre mal-intencionado e afrescalhado politicamente correto, acabar com as diferenças para acabar também, e principalmente, com o mérito. Tratar o bom e o ruim, o certo e o errado, o produtivo e o parasita da mesma maneira. 
Entoar eternamente o mantra da tolerância - seja o sujeito merecedor dela ou não, seja, inclusive, o sujeito também um praticante dessa tolerância para com outro ou não, o que é recorrente ao militante do politicamente correto, cobrar um respeito do outro que ele próprio não demonstra ter. Mantra sob o qual tantos canalhas e sanguessugas se escondem e sobrevivem à alheias custas.
Donald Trump também é uma reação alérgica dos EUA ao opressor politicamente correto.
Xenofobia é uma coisa, preservação da identidade nacional, de um modo de vida, é outra, e bem diferente. A primeira é ato a ser combatido; a segunda, um direito a ser assegurado. 
Aliás, muito do que os viadinhos politicamente corretos chamam hoje em dia de xenofobia, em outros tempos, melhores tempos, era chamado de patriotismo - valor tão em desuso atualmente, que ganhou até, pela perniciosa ação do politicamente correto, uma conotação pejorativa. Declarar-se patriota hoje em dia é algo malvisto em certos círculos, principalmente entre os "inteligentinhos" da esquerda. Canalhas. Patriotismo não é xenofobia.
Donald Trump é uma dose cavalar de histamina frente à ameaça da perda do modo de vida americano, o american way of life - quem pode condená-los por isso, quem pode culpar os eleitores de Trump?
Donald Trump é uma reação alérgica à promiscuidade da globalização. Alergia que, desde quarta-feira, tem deixado os EUA todos empolados, o Tio Sam se coçando todo, e também o resto do mundo.
Se essa dose cavalar de histamina, ao longo da gestão Trump, evoluir para uma dose elefantina, fazendo jus ao animal-símbolo do Partido Republicano, advirá um choque anafilático, um colapso do organismo EUA - o desejo desesperado de se livrar de um mal que se torna pior que o mal que queria sanar.
Torçamos para que não aconteça, nunca. Ou, torçamos para que aconteça, logo. Depende do ponto de vista.
I want you, cucarachas!!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Que Juventude de Merda, por Régis Tadeu

Régis Tadeu. Não o conhecia. Nunca ouvira falar dele. É crítico musical, logo, é de se supor que pouco ou nada entenda da atual educação brasileira. Nenhuma suposição poderia se mostrar mais equivocada que essa. No texto a seguir, Régis Tadeu pinta, melhor que qualquer um dos chamados "especialistas" em educação jamais conseguiria, ou teria a coragem de, um quadro hiper-realista da educação brasileira e da atual geração de "estudantes".
Régis Tadeu é marretador de primeira, de primeiríssima! Taí um texto que eu adoraria ter escrito. Não mudaria única vírgula. Os destaques em vermelho são por minha conta.

ENEM apenas comprova a burrice generalizada
Qualquer pessoa com sensibilidade que lhe permita uma mínima capacidade de raciocínio e interpretação daquilo que lê e ouve se sente como um náufrago em uma pequenina ilha, só que cercado por um vastíssimo oceano de burrice líquida. Não é preciso ser um sociólogo/antropólogo/ para se certificar que as recentes gerações de estudantes foram completamente dominadas pela ignorância cultural e emocional.
Em todo o Brasil, são raras as exceções encontradas. Senão por conta de uma genuína vontade de evoluir e fazer a diferença no futuro, mas principalmente pela ambição em conseguir recompensas financeiras na diferenciação profissional em um mercado de trabalho cada vez mais diminuto e competitivo. Não é à toa que conheço vários pais que estão preparando seus filhos para estudarem em universidades estrangeiras.
Veja o caso do ENEM, por exemplo. A cada ano, a média das notas cai vertiginosamente, o que reflete o fato de que nas mais variadas áreas do conhecimento,  o que mais se vê são verdadeiros retardados que teriam muita dificuldade em ter uma passagem ilesa por um mata-burros.
Testes e provas são aplicados o tempo todo nas escolas, com resultados que quase sempre levam os professores ao desespero. Experimente perguntar a respeito disso a alguém de seu convívio que lecione em qualquer estabelecimento de ensino para sentir a dimensão do drama. A honra de ser um bom aluno foi substituída pelo sucesso de popularidade, seja lá por quais motivos.
Nas redes sociais então, o que mais se encontra são “doutores” em assuntos dos quais os paspalhos não fazem a mínima ideia. A estupidez de nossos alunos em todos os níveis escolares tiraria até mesmo o Dalai Lama do sério.
Infelizmente, o perfil do aluno brasileiro deste século está muito longe do aceitável. Não tenho a menor dúvida de que a grande maioria dos alunos é incapaz de interligar cada disciplina aplicada no ENEM, sem qualquer competência para sacar que Matemática e Física caminham lado a lado, que Química e Biologia são co-irmãs, que Geografia e História apresentam imensas áreas de intersecção. Essas gerações sequer demonstram habilidade para entender que a importância de se tornar um ser humano dotado de senso crítico e de observação.
Evidentemente que toda essa molecada não saca que conhecimento é algo que precisa ser adquirido a partir de uma vontade interna. A informação é adquirida, assimilada, compreendida e devolvida ao mundo externo de acordo com o que você é e deseja ser. Professores não ensinam propriamente. Eles são “iluminadores” de caminho, formadores de uma “personalidade cultural” cujos elementos realmente transformadores já estão dentro de cada pessoa. Sim, querer é poder.
Só que há um problema: para não perder seus “clientes”, escolas se tornaram cúmplices dessa manada de ignorantes, criando currículos que não oferecem nada daquilo proposto por um exame como o do ENEM. As baixas notas demonstram a que ponto o estudante brasileiro é dependente de ‘decorebas’, seja em fórmulas matemáticas ou conceitos de Biologia, por exemplo. Professores se transformaram em meros coadjuvantes de um cenário de horror educacional poucas vezes presenciado no Brasil.
Para piorar, a mídia não colabora ao fazer matérias toscas com ‘dicas’ para os alunos se prepararem para esse exame. Porra, a única dica que realmente funciona é E-S-T-U-D-A-R!!! Sim, para valer. Entendendo realmente aquilo que está sendo estudado e não relembrando professores picaretas que preferem apelar para musiquinhas, coreografias ridículas e outras “micagens” para ajudar o aluno bucéfalo a se lembrar de alguma coisa. Pode apostar que esse tipo de bizarrice não ajuda em nada na hora em que o energúmeno tem que demonstrar algum conhecimento.
Seja sincero: você conhece algum jovem que tenha lido ESPONTANEAMENTE livros de Nietzsche, Freud, Sartre, Foucault e Schopenhauer? Ou textos de Física Quântica, Química, Nanotecnologia ou mesmo de Informática? Tem contato com algum moleque ou garota que pelo menos demonstre algum interesse em saber por que alguns cientistas e pesquisadores foram agraciados com o Prêmio Nobel em áreas como Medicina, Física ou Química? Não, né? Pois aí é que está a questão: os jovens brasileiros, em sua imensa maioria, não estão a fim de “ler” o planeta em que vivem a partir das várias formas de estética e linguagens existentes, muito menos dos pontos de vista econômico, social e político. Somos o país da “balada, uhuuuu!!!”.
Infelizmente, o Brasil está na contramão da História cultural do planeta. Moleques e garotas que chegam atrasados e não conseguem fazer o exame por conta da rigidez do horário são os mesmos que passam dias, às vezes, meses, acampados na porta da bilheteria para comprar ingressos para shows de Justin Bieber, Demi Lovato e outras porcarias musicais.
Que juventude de merda…