sábado, 28 de abril de 2012

Revés

Era certo que um dia você viria. 
E você veio. 
Ver se de sangue e dor 
Meu peito ainda anda cheio. 
Veio e – estupor! – nem mesmo fóssil de qualquer dor. 
Veio e – quem diria? – nem mesmo resto seco de qualquer sangria. 
Não encontrou nem mesmo mais em meu peito 
Naquele peito, o ninho morno de estrume que lhe acolhia.

Era certo que chegaria o dia em que você surgiria. 
O dia não chegou 
E ainda assim você surgiu. 
Ver se em cadeados e tuberculose 
Meu sorriso se consumiu. 
Surgiu e –decepção! – nem sinal de seu grilhão. 
Surgiu e – nem creu em sua vista – encontrou os tubérculos floridos em tulipas. 
Encontrou meu sorriso, mas ele nem lhe percebeu 
Nem sentiu seu cheiro, o meu sorriso 
Sorriso que era o seu travesseiro e seu esgoto.

Era certo que um dia você voltaria 
E, cão faminto, você voltou 
Ver se meus ossos ainda estavam onde você os enterrou. 
Voltou e – quase caiu das pernas! – estava vazia a sua caverna 
Voltou e – quis seus olhos vazados por espetos – havia saído para passear, o meu esqueleto. 
Não encontrou meu crânio: sua lanterna, 
Meu fêmur: seu amuleto 
Nem mesmo minha caixa torácica: seu escudo e alvo principal de sua traição.

Veio para aumentar minha hemorragia, 
Reforçar minhas amarras, cariar meu sorriso, 
Roubar minhas flores 
E parasitar o último tutano de meus ossos. 
Saiu anêmica, com bolas de ferro nos pés, 
Extirpada de seus molares, 
Sem cor, seiva, nem perfume: 
Totalmente desnutrida.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Natureza É Foda

O ser humano, primeiramente, inventou deus, e, depois, inventou que foi criado por esse deus à Sua imagem e semelhança.
Daí ele se vangloriar de suas habilidades - inatas ou adquiridas -, de suas destrezas e potencialidades, julgando-se a nata da ricota, tomando-se por superior aos outros animais, como se somente ele, o inepto humano, fosse capaz de grandes façanhas.
De suas pretensas qualidades, é do sexo que ele mais gosta de se jactar. O ser humano se acha o grande fodão do planeta, o único animal que fez da cópula uma fonte de prazer e diversão, que elevou um mero instinto a uma forma de arte.
Inventa posições, taras, fetiches, perversões, promove bacanais, orgias, festas bunga-bunga (ave, Berlusconi), cria acessórios, cremes, pomadas, óleos, chicotes, algemas, drogas para aumentar a paudurescência, trepa com o pau, boca, cu, buceta, orelha, sovaco.
Morre, é bem verdade, de sífilis, AIDS, HPV etc, mas não importa, ele é o fodão, o bam-bam-bam da metelança, o ás do sexo do planeta, certo?
Certo porra nenhuma. Comparado a alguns animais, o ser humano é praticamente um celibatário, um virgem cheio de acnes e de mãos cabeludas, um punheteiro. Em termos de variantes sexuais, bizarrices e potência caralhal, o ser humano é o mais incipiente dos seres, um mero aprendiz.
O macho do hipopótamo tem uma maneira muito peculiar de mostrar à fêmea que ele é um sujeito apto ao acasalamento, um cara com o qual vale a pena gastar preciosos óvulos. Ele caga e, com a rotação da cauda, ventila a merda em direção à sua amada. Pelo cheiro, gosto, textura e consistência, a fêmea sabe se ele é um reprodutor saudável, dono de um respeitável patrimônio genético. E dá para ele.
Já as fêmeas humanas aprontam o maior escândalo por causa de um inofensivo peidinho que seus maridos, eventualmente, deixam escapar. Os machos dos hipopótamos é que são felizes.
O macho do porco-espinho, para demonstrar sua pujança, lança um longo jato de urina contra a fêmea, seis metros de mijo, o equivalente a trinta metros para os padrões humanos. Já as fêmeas humanas quase antecipam a TPM por causa de simples e singelas gotinhas de mijo que os maridos deixam respingar nas bordas e na tampa da privada. Os machos do porco-espinho é que são felizes.
As fêmeas de cobra da espécie Thamnophis sirtalis infernalis chegam a acasalar com mais de 100 machos ao mesmo tempo. O ato vira um novelo de cobras engalfinhadas, com uma única fêmea ao centro, e os machos ficam lá, enroscados, esperando sua vez. E como cu de cobra não tem dono, volta e meia acontece de um macho ser confundido por outro. Os machos dessa cobra não são nada felizes.
As fêmeas da hiena são extremamente masculinizadas. Além de maiores e mais fortes que os machos, elas apresentam uma pseudobenga, um pênis falso que fica ereto durante o acasalamento e é maior do que a piroca do parceiro. Hiena fêmea é tudo travecão. Cabendo aqui a eterna pergunta : do que o macho da hiena tanto ri?
A lesma da espécie Ariolimax dolichyphallus (dolichyphallus significa pênis gigante) tem um cacete cujo tamanho médio varia de 15 a 20 cm; detalhe, o corpo inteiro desse animal também mede de 15 a 20 cm. É como se um ser humano tivesse um pau de 1,70m, 1,80m, e assim por diante. 
E o ser humano ainda fica venerando alguns dos chamados bem-dotados da espécie. A exemplos, os internacionais Long Dong Silver e John Holmes e o brazuca Kid Bengala, com suas piroquinhas de, respectivamente, 45, 38 e 32 cm.
Mesmo sendo hermafroditas, essas lesmas precisam de um parceiro(a) para o acasalamento, e quando dois desses animais se encontram, a decisão é simples, quem tem o pau maior, come, quem tem o menor, dá. Desconfio que, hermafroditas que são, as lesmas dessa espécie sejam duplamente felizes.
O macho do golfinho nada tem daquela figura dócil, delicada, quase assexuada, que o cinema nos vende. O golfinho macho, na época do acasalamento, pode trepar por horas e horas a fio, com várias fêmeas, acaba com uma e já parte para a próxima. Se, por acaso, faltarem fêmeas da espécie para aplacar seu desejo sexual, ele não se aperta : chega a atacar sexualmente tartarugas marinhas.
O golfinho é adepto do sexo interespécies. O golfinho é zoófilo. Puta que o pariu! A propósito, eu também sou zoófilo. Aliás, zoófilos, todos os machos humanos normais são. Ou trepamos com samambaias, violetas, ipês, flamboyants e cajueiros? Somos fitófilos por ventura? Eu não! Nem vegetariano, sou.
Já começo a olhar para o Flipper com outros olhos, de respeito e inveja. E medo. Surpreendeu-me tamanho apetite dos golfinhos, mas não deveria ter. Afinal, não é o boto o grande fodelão da Amazônia?
E não para por aí. A jeba do golfinho, à semelhança da cauda de certos símios, também é capaz de pegar e manipular objetos. É verdade! Nem é um pau, está mais para um tentáculo. Essa habilidade tátil e prênsil seria de grande utilidade a nós, machos humanos.
Estamos lá, no sofá, em nossos raros e merecidos momentos de ócio, uma mão a segurar a indefectível cerveja, a outra se alternando entre fisgar algum petisco e folhear algum livro, revista ou palavra cruzada. E o controle remoto da TV, sempre à mercê de que a mulher nos tome? 
Seria só segurar com a jeba. Seríamos imbatíveis.

O Dia Do Corno

Hoje é comemorado o dia de uma das figuras mais emblemáticas do folclore nacional, o corno.
Mais que emblemática, fundamental, imprescindível a certos setores da cultura popular. Ao anedotário, obviamente, e, sobretudo, à nossa chamada MPB.
Não tem jeito. De Reginaldo Rossi a Chico Buarque, de Odair José a Tom Jobim e Vinícius de Moraes, todo mundo é corno na MPB. Não há como fugir. Há os cornos menos letrados e os mais refinados, mas a boa e velha peruca de touro, todo mundo já vestiu. Noventa e dois por cento da cancioneiro nacional tem sua origem no corno.
Dei uma pesquisadinha e parece que o dia do corno é oriundo do arquipélago de Açores, o Dia de Cornos, uma festa profana realizada em intenção a São Marcos. O evento consistia numa procissão que levava uma coroa com um chifre na ponta à igreja, coroa que, após receber a bênção, coroava todos os homens casados.
Após o coroação, o sacerdote recitava o Sermão dos Cornos :
"Pelo sinal Da Santa Cruzada, 
A capela dos cornos 
Está bem armada.
Êste dia de S. Marcos,
 Também tem o seu sermão, 
Que este dia para nós 
É dia de grande função.
Todo o homem que é casado 
E vive neste destêrro, 
De cornos anda pesado 
Sem ser bode nem bezerro.
Quantos nós podemos ver Q
ue vivem mui bem armados, 
Sem nunca o perceber.
Pobre irmãos! Coitados!
Não há maior irmandade 
Que a do corno retorcido, Que a falar a verdade 
Enfeita tanto marido.
Os cornos, estamos vendo, 
É uma praga geral, 
Que cada um vai roendo 
Conforme sente o seu mal.
Podemos assegurar 
Bem nos termos desta lei, 
Que ninguém pode afirmar 
Dessta água não beberei.
E assim desconfiados, 
Vamos passando a vida, 
Com mêdo de ser armados 
Dalguma ponta retorcida.
Nós os pobres humilhados 
Que nos tratamos de irmão, S
empre fomos mais poupados 
Neste mal de encornação.
Se os cornos flores abrissem 
Como na roseira as flores, 
Quantos jardins não teriam 
As testas dalguns senhores!
Quanto mais velha endurece 
A coroa da armadura, 
É fruta que não apodrece 
Nem cai de madura.
Nem é preciso dizê-lo, 
Em muita casa rua ou beco 
Quanta "dôr de cotovêlo" 
Se vai engulindo em sêco.
Há p'r'aí muito torrão 
P'ra riba, p'lo rol já feito, 
É casa sim casa não; 
P'ra baixo é tudo a eito.
Se alguém o corno apanhar "Meta a viola no saco", 
É ouvir ver e calar 
E nunca dar o cavaco".

Sensacional!
Mas deixando de lado a origem histórico-religiosa, hoje é o dia do amigo do Ricardão, do cara que compartilha a marmita, que divide a quentinha, que abre franquia da mulher, que terceiriza a assistência.
E é dele, Reginaldo Rossi, a canção-tema dessa data cívica. Coloco a letra abaixo em homenagem, e à guisa de parabéns, a todos os meus amigos. Aliás, Fernandão, Keler e Marcelo, faz tempo que nós não tomamos um bom porre pra comemorar.
O Dia do Corno
(Reginaldo Rossi)
-"Ninguém!
Nem homem nem mulher
Poderá esquecer o dia de hoje"

Hoje é o dia do corno
Foi bom te encontrar
Vamos tomar um bom porre
Prá comemorar
A mulher que você ama
Eu amo também
Pelo que eu sei
Ela já enganou mais de cem...

Até um galã de novela
Que dela gostou
Tornou-se um pobre coitado
Que ela arrasou
Contigo fez gato e sapato
Do teu coração
Comigo deixou-me de quatro
Me arrastando no chão...

Hoje é um dia prá gente
Jamais esquecer
Vamos unir nossas dores
Chorar e beber
Vamos tomar um bom porre
Prá comemorar
Hoje é o dia do corno
Foi bom te encontrar...

Mas homem adora mentir
E enganar a mulher
Homem adora trair
Mas a quer bem fiel
Então tem que levar o troco
Ele tem que pagar
Sofrendo! Chorando! E Bebendo!
Na mesa de um bar...

Hoje é um dia prá gente
Jamais esquecer
Vamos unir nossas dores
Chorar e beber
Vamos tomar um bom porre
Prá comemorar
Hoje é o dia do corno
Foi bom te encontrar...

Hoje é um dia prá gente
Jamais esquecer
Vamos unir nossas dores
Chorar e beber
Vamos tomar um bom porre
Prá comemorar...

Hoje é o dia do corno
Foi bom te encontrar...(3x)

-Prazer Bicho!
Muito Prazer!
Prazer Imenso!

domingo, 22 de abril de 2012

Dando o "Rabino"

É o fim do mundo. É o 2012 dos Maias. É o tempo do não-tempo. Abraão está se revirando na tumba, à procura de sua espada sanguinária e vingativa, flamejada pela ira do Senhor, para decepar cabeças e, principalmente, prepúcios.
A cultura judaica, uma das mais antigas, tradicionais e machas do mundo, também está capitulando à boiolagem. A ala conservadora do judaísmo aprovou, nessa sexta-feira, dia 20, a ordenação de rabinos gays. Ala conservadora? E os liberais, então?
Dezoito rabinos participaram da votação, e o resultado não deixou dúvidas : dezessete votos a favor dos rabinos queimadores de quipá e um voto de abstenção.
Tá todo mundo dando o rabino.
Abaixo, texto extraído do blog Paulopes, tem até a foto do rabino de quipá frouxo:

Rabino Maurício Balter: 
"Somos todos iguais
O Movimento Conservador de Israel aprovou na sexta-feira (20) a ordenação de rabinos homossexuais, a exemplo do que já ocorre como sua ramificação nos Estados Unidos e na Argentina. A decisão foi quase unânime, por 17 votos contra uma abstenção.
Essa corrente do judaísmo segue à risca a lei judaica, adotando costumes e práticas comuns à ortodoxia. Outras correntes são a ortodoxa e a reformista (dos liberais) — esta já aceita gays e lésbicas como sacerdotes.
O rabino Maurício Balter (foto), presidente da Assembleia Rabínica do Movimento Conservador, disse que a decisão foi um avanço. “Somos todos feitos à imagem de Deus e, portanto, somos todos iguais”, disse. “Foi uma decisão democrática e correta, como mostra o resultado, ninguém foi contra.”
Os judeus ortodoxos têm sido destaque na imprensa internacional por causa de sua discriminação contra as mulheres, mas a aceitação dos homossexuais pelos conservadores significa que o judaísmo, como um todo, está avançado, adaptando-se à contemporaneidade, diferentemente do que ocorre com a Igreja Católica, por exemplo.

Só Jesus Salva (?)

Há idiotas de todos os tipos. E, com raríssimas exceções, são motivações religiosas que os impulsionam. Há os que se explodem com coletes cheios de bombas, há os que caminham léguas à exaustão ou trituram meniscos e ligamentos a subirem escadarias de joelhos, há os que se chicoteiam a sangue jorrante e visto, há os que deixam de beber, há os que fazem jejum à desnutrição, há os que se crucificam na semana santa, e outras tantas estupidezes.
E há os que se enforcam. De verdade.
Morreu hoje, na cidade paulista de Itararé, o ator que fez o papel de Judas na representação do circo de horrores que é a Paixão de Cristo.
Segundo familiares, ele ensaiava há seis meses para caguetar o Cristo, e todo o "equipamento" a ser utilizado na cena do enforcamento foi vistoriado pelo corpo de bombeiros, um colete e uma cadeirinha usados por baixo da túnica.
O arrependido Judas subiu numa pedra e saltou, porém, deu merda. Alguma coisa aconteceu - uma intervenção divina com certeza - e um dos cadarços da túnica se enroscou ao colete, provocando um enforcamento real.
O ator ficou pendurado durante quatro minutos, sem se mexer, inconsciente, até que os outros atores percebessem que a representação estava realista demais.
Com hipóxia cerebral grave e prolongada, ele estava internado na UTI desde o dia 06/04, esperando, quem sabe?, por um milagre que o salvasse.
O milagre não veio. Jesus nem se importou. Se só Jesus Salva, não quis salvar o ator.
Acontece, eventualmente, de pessoas promoverem tiroteios e massacres - ou mesmo suícidio - inspiradas por algum livro, filme ou música. Essas obras, que supostamente induziram os doidos, ficam marcadas como malditas, discussões e mais discussões a respeito do poder da mídia sobre as pessoas invadem todos os telejornais e programas de debates da TV, é um prato cheio de merda para psicólogos, pedagogos e sociólogos; muitos desses idiotas tentam imputar a coautoria da desgraça à obra em questão.
Será que alguém vai ter a coragem, agora, de indiciar a  bíblia e a igreja católica por homicídio culposo? Porque esse rapaz - fraco das ideias, é verdade - foi condicionado desde pequeno a acreditar e a venerar um livro dos mais absurdos e sanguinolentos; tudo na bíblia é vingança, culpa, genocídio, castigo, sacrifício, flagelação, tem até muita poligamia e incesto.
Será que algum psicólogo, pedagogo, ou algum jornaleco sensacionalista, vão ter a coragem de trazer à baila uma discussão acerca dos prejuízos causados pela bíblia ao bom senso das pessoas?
O pior é que, com certeza, rezarão a Cristo no velório do rapaz, as pessoas prestarão suas condolências à família e recomendarão que busquem força em deus para superar esse momento difícil. E os familiares farão. Passivos e cordeiros, ainda acreditando num deus bom, justo, que "escreve certo por linhas tortas" e cujos "desígnios são insondáveis".
O padre, por sua vez, já vislumbra possibilidades futuras. Logo, o rapaz começa a fazer milagres, a cidade vira mais um dos estúpidos centros de peregrinação e os cofres da igreja serão testemunhas de mais um milagre da multiplicação : de dinheiro e de fanáticos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bukowski, Louco Como Sempre Ele Foi

louco quanto sempre fui
bêbado e escrevendo poemas
às 3 da manhã.
o que importa agora
é mais uma
buceta
apertada

antes que a luz
se apague

bêbado e escrevendo poemas
às 3h15 da manhã.

algumas pessoas me dizem que sou
famoso.

o que estou fazendo sozinho
bêbado e escrevendo poemas às
3h18 da manhã?

sou tão louco quanto sempre fui
eles não entendem
que não parei de me pendurar pelos calcanhares
da janela do 4° andar -
eu ainda o faço
agora mesmo
aqui sentado

ao escrever estas linhas
estou pendurado pelos calcanhares
vários andares acima:

68, 72, 101,
a sensação é a
mesma:
implacável
banal e
necessária

aqui sentado
bêbado e escrevendo poemas
às 3h24 da manhã.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Movido A Álcool

Com a crise do petróleo, em 1973, o mundo começou uma corrida desenfreada na busca de combustíveis alternativos em larga escala. E a solução não veio dos EUA, da Europa ou do Japão. Por incrível que pareça, o mais bem sucedido desses projetos nasceu no Brasil.
Em 14 de novembro de 1975, o governo do general Geisel criou o Pró-Álcool (ou Programa Nacional do Álcool) através do decreto nº 76.593.
Sim, o maior programa mundial de combustível alternativo ao petróleo tem tecnologia 100% nacional, e nasceu pelas mãos dos militares. Esse é mais um belo contraexemplo para calar a boca daqueles que dizem que os militares não investiam em pesquisa, em educação etc.
O Pró-Álcool fez desenvolver também outras tecnologias além da do etanol; a exemplos, a de motores, a de fertilizantes, a de polímeros, a do plástico biodegradável.
O Brasil produziu 600 milhões de litros de etanol entre 1975-76, e deu um salto para 3,4 bilhões de litros entre 1979-80. Os subsídios governamentais praticamente obrigavam os usineiros a produzirem o etanol combustível em detrimento do açúcar e do etanol, digamos assim, potável.
E foi esse cenário que causou um imenso assombro e preocupação em um de nossos maiores e mais emblemáticos músicos, Raul Seixas. Apavorado com a possibilidade de todo álcool ser destinado aos tanques dos automóveis, e nada sobrar para os bebuns, Raul compôs a pouco conhecida (injustamente) Movido A Álcool, de seu LP Por Quem Os Sinos Dobram (1979).
Na letra, Raul se declara confuso com a situação, pergunta : "Por que que o posto anda comprando tanta cana, Se o estoque do boteco, Já está pra terminar? "
E segue protestando, ironizando : "colocar cachaça em automóvel é a coisa mais estranha de que eu já ouvi falar"
Delírios paranoicos de um bebum? Não, nada disso, e sim visões, pré-visões, vaticínios de um autêntico profeta.
A preocupação de Raul frente a um possível racionamento da água que passarinho não bebe era estritamente artística. Lá na letra, ele diz : "veja o poeta inspirado em coca-cola, que poesia mais sem graça ele iria expressar".
É verdade!!! Ninguém escreve nada que preste tomando fanta uva ou chá de camomila.
Não que o álcool dê talento para alguém, de forma alguma. Se o cara nascer um asno, ele pode tomar um tonel de cachaça, só irá se tornar um asno bêbado. Se, no entanto, o sujeito possuir uma certa capacidade criadora, o álcool a potencializa, cataliza-a, torna-a mais patente, mais fluida, libera os poderes do sujeito.
O álcool é o SHAZAM do poeta.
De novo, pergunto, exagero do Raul? Não, definitivamente não.
O cérebro - o bom cérebro - realmente funciona mais rápido e se torna capaz de soluções mais criativas sob a influência de adequadas concentrações alcoólicas.
É o que constatou um estudo realizado na Universidade de Illinois, EUA. Os participantes do estudo foram divididos em dois grupos : metade deles foi alcoolizada até atingir a concentração de álcool no sangue de 0,075, que é acima do permitido para motoristas na maioria dos Estados norte-americanos; os demais - os azarados - continuaram sóbrios durante o estudo. 
Os dois grupos foram submetidos a testes de livre associação, uma forma simples, rápida e eficiente de avaliar a solução criativa para problemas propostos. Cada participante ainda teve que explicar como chegou na resposta correta, se por algum método de associação ou por mero lampejo espontâneo.
Entre os alcoolizados, o índice de acertos espontâneos atingiu os 58%, contra os 42% alcançados pelos sóbrios. Além do maior índice de acertos, os bebuns também apresentaram as respostas de forma mais rápida - uma média de 12 segundos, contra os 15 segundos dos caretas.
O álcool deixou os cérebros dos participantes mais rápidos e eficientes, o que sugere, segundo os pesquisadores, que o álcool pode, em determinados casos, contribuir para que as pessoas encontrem respostas mais rápidas e de forma mais criativa. Eu não diria de forma mais criativa, diria de forma mais inspirada.
Em suma : o cérebro é movido a álcool. Como já dizia Raul! Há mais de 30 anos, há dez mil anos atrás.
Raul Seixas, como bom poeta e profeta, antecipou-se à nossa claudicante ciência. O álcool nos deixa mais livres, mais imunes à nossa autocensura (muitas vezes inconsciente), põe um pouco mais de penas em nossas vestigiais asas.
E eu aqui, com ainda mais três dias de antibiótico pela frente, tomando minha cervejinha sem álcool, tentando invocar um improvável efeito placebo, cerveja sem álcool é mais sem graça do que dançar com a irmã.
A cerveja sem álcool é a kryptonita do poeta.
E toca Raul!!!!

Movido A Álcool
(Raul Seixas)
Diga, seu dotô as novidades
Já faz tempo que eu espero
Uma chamada do senhor
Eu gastei o pouco que eu tinha
Mas plantei aquela cana
Que o senhor me encomendou
Estou confuso e quero ouvir sua palavra
Sobre tanta coisa estranha acontecendo sem parar
Por que que o posto anda comprando tanta cana
Se o estoque do boteco
Já está pra terminar
Derramar cachaça em automóvel
É a coisa mais sem graça
De que eu já ouvi falar
Por que cortar assim nossa alegria
Já sabendo que o álcool também vai ter que acabar?
Veja, um poeta inspirado em Coca-Cola
Que poesia mais sem graça ele iria expressar?
É triste ver que tudo isso é real
Porque assim como os poetas
Todos temos que sonhar.
É triste ver que tudo isso é real
Porque assim como os poetas
Todos nós temos que sonhar

Fonte : BBC Brasil

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(7)

Atrás Da Porta
(Chico Buarque/Francis Hime)
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho.

Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua,

Só pra provar que ainda sou tua...

domingo, 15 de abril de 2012

Showzaço Imperdível !!!

Quem fotografou e me mandou foi meu amigão Keler Margá, de Mogi Mirim, maior figuraça, grande bichona.
O Margá me garantiu que vai, já comprou o ingresso antecipado, só para ver o "tripé dos teclados". Até me convidou para ir junto.
Declino, Margá. Fica pra próxima, depois você me conta.

O Verdadeiro Espírito Cristão

"O álcool pode ser o pior inimigo do homem,
mas a Bíblia diz para amar seu inimigo"
, Frank Sinatra.

Nem Cristo seria tão cristão.

Mário Gomes, A Volta Do Cenourinha (Ou : O Complexo De Spock)

Uma das lendas mais antigas e duradouras (e engraçadas) da TV brasileira surgiu em fins da década de 1970, começo da de 1980.
Mesmo quem nem sonhava em nascer naquela época, sabe dela. Ela vai passando de geração para geração. E se equivocará gravemente quem pensar que ela faz parte da tradição oral de um povo. Até porque não é o tipo de história que um pai conta ao filho, ou que um ancião narra às crianças em torno de uma fogueira, numa noite fria.
A propagação dessa lenda nunca dependeu da oralidade. Ela se dissemina pelo ar, pelo inconsciente coletivo, pelo campo morfogenético, por vetores além de nossa compreensão : é a lenda do Cenourinha.
O Cenourinha foi, em outros tempos, o homem que se chamou Mário Gomes. Há quase quarenta anos, ele era mais um desses atorzinhos de carinha bonita que surgem a cada nova novela, aquele garotão de praia, bronzeado, olhos claros, no auge de sua juventude, falando gíria, com cara de bobo, ou seja, o autêntico idiota que tanto sucesso faz entre os corações femininos.
O novo latin lover estava no ápice de sua carreira, e de sua fama de machão e mulherengo, quando uma notícia pôs a casa abaixo.
Carlos Imperial, compositor e produtor musical da Jovem Guarda, jornalista e colunista de revistas de fofocas, ligou para diversos órgãos de imprensa e informou que Mário Gomes dera entrada no hospital com uma cenoura entalada no cu.
A história foi crescendo, havia uma ala do hospital isolada secretamente apenas para atender ao ator, uma junta médica só para tirar a cenoura do toba do machão. Apareceu até uma enfermeira que teria atendido Mario Gomes em sua chegada ao hospital, surgiram testemunhas e conhecidos que afirmavam já ter visto Mário Gomes com uma cenoura.
A carreira de ator foi pro vinagre. Fez ainda vários papéis em novelas, mas nunca mais convenceu a ninguém de sua macheza e virilidade.
Mário Gomes saiu da vida artística; porém, entrou, para todo o sempre, para folclore nacional, morreu o homem, nasceu o mito, o Cenourinha.
Agora, quase quatro décadas depois, Mário Gomes vai lançar uma autobiografia, onde pretende esclarecer a lenda da cenoura de uma vez por todas.
Ele se diz vítima de um boato maldoso engendrado por Carlos Imperial e Daniel Filho, um dos diretores globais de maior influência na emissora até os dias de hoje.
Mário Gomes teria corneado Daniel Filho quando passou a vara em Betty Faria, mulher do diretor à época. Além disso, Mário Gomes estava estrelando um filme dirigido por Carlos Imperial, não gostou do cartaz de divulgação da fita e obteve o embargo do filme na justiça, o que causou um grande prejuízo ao diretor. Os dois "traídos" se uniram e dispararam a história da cenoura contra o ator.
Inventaram ou apenas revelaram? E o cara só vem falar isso agora? Trinta e tantos anos depois? Eu acho que Mário Gomes está querendo é reavivar a lenda, que lhe deu muito mais notoriedade do que o seu suposto talento e do que as novelinhas sem vergonhas que fazia.
Quanto mais o ocorrido se distancia no tempo, mais o fato perde seus traços de verdade e adquire as feições de lenda. Hoje, quem fica sabendo da história, e não era vivo na época, toma-a apenas como isso, uma lenda, nem suspeitam de quem seja o homem que lhe deu origem.
Sob o pretexto de limpar sua imagem e tentar ganhar uma indenização no valor de R$ 40 milhões, Mário Gomes volta à cena e revela quem é o homem por trás do mito do Cenourinha às novas gerações. Para os novos, só havia o Cenourinha, o personagem mítico, agora saberão do homem. Se fudeu. Ou não.
Isso me lembra muito (com exceção da viadagem, claro) a história do ator estadunidense Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock da série original de Star Trek.
Com o fim da série, Nimoy começou a culpar o personagem Spock (como o Mário Gomez culpa a cenoura) por não conseguir outros papéis, fossem no cinema ou na TV. O orelhudo vulcano o havia marcado para sempre, estigmatizado-o.
Nimoy chegou a lançar um livro, Eu Não Sou Spock, no qual desabafava sobre a ruína de sua carreira causada por Spock, dizia que não era Spock, que era um ator, uma pessoa independente do personagem que lhe dera fama mundial, com sentimentos, com necessidades, e outras chorumelas e lenga-lengas.
Não foi Spock quem impediu o prosseguimento da carreira de Nimoy. Nimoy, assim como toda a tripulação da USS Enterprise, sempre foi um péssimo ator, um tremendo dum canastrão. Se ele não tivesse sido Spock, nada teria sido. Spock tornou Nimoy em algo. Não o contrário.
Anos depois, mais maduro e apercebido de sua injustiça contra o vulcano Spock, Leonard Nimoy lançou outro livro : Eu Sou Spock. E daí em diante, assumida sua metade vulcana, Nimoy passou a ganhar a vida dando palestras e participando de convenções de fanáticos pela série Star Trek, viaja pelos EUA e por outros países envergando a farda da Frota da Federação dos Planetas Unidos e as indefectíveis orelhas pontudas.
Mário Gomes vai lançar sua autobiografia, que bem podia ter como subtítulo, Eu Não Sou o Cenourinha. Será um fracasso, ninguém acreditará que ele não é o Cenourinha, como não acreditaram que Nimoy não era o Spock.
A imagem de um galã com um cenoura enfiada no cu é forte demais para ser esquecida, ou desmentida. Todo mundo sempre olhará para Mário Gomes e o verá com uma cenoura no rabo; como sempre olhamos para Nimoy e o vemos com suas orelhas de elfo interplanetário.
Não se espantem se, dentro de alguns anos, Mário Gomes lançar a segunda parte de sua biografia : Eu Sou o Cenourinha.
Porque o que importa é aparecer, é não sair da mídia.
Pouco me importa se a história da cenoura é verídica ou não. Ninguém tem que ser fiscal de cu de ninguém. Mas vejam a foto abaixo, de Mário Gomes em sua juventude. Se esse cara nunca sentou numa cenoura, ninguém mais sentou.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Descrucificar

Não há foto, estátua, gravura
 - ou qualquer representação - 
De Darwin nas paredes ou nos altares de uma igreja. 
Nem de Mendel, Mendeleiev, Lavoisier. 
Tampouco de Newton, Celsius, Paracelsus, Pasteur, Pascal. 
Nenhum Albert, seja o Einstein, seja o Sabin. 
Nem Fleming, Flamel ou Faraday.

Por pura coerência,
Até por justa simetria,
Cristo não tem nada o que fazer
Pelas paredes e corredores de uma escola,
Pendurado, de tanga, e sangrando,
Exalando culpa, vingança e castração :
Crucificado em corpo,
Crucificando mentes e voos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Clodovil Vai A Leilão

Clodovil Hernandez, estilista de renome internacional, artista plástico, homem de TV e teatro, e - porque todo mundo tem seus pecados - deputado federal.
Um polêmico por excelência. Como só os inteligentes podem ser. Suas declarações incomodavam justamente por serem recheadas de lógica, quase que irrefutáveis. Foi um dos apresentadores mais processados da história da TV. Porque no Brasil é assim : contra o argumento e a inteligência, o processo por danos morais.
Teve seu auge entre fins da década de 1970 e meados da de 1980. Vestiu grandes estrelas da nossa música, quando estrelas existiam. Elis Regina e Maria Bethânia o tinham como um de seus preferidos. Vestir essas cantoras era o equivalente a ser um compositor e ter uma canção gravada por elas. Pode-se dizer que Clodovil foi uma espécie de Chico Buarque, de Belchior, de Milton Nascimento da moda.
Sempre gostei de ouvir suas controversas entrevistas. Era farpa para tudo quanto é lado. Tudo com os mais finos sarcasmo, ironia e deboche. Clodovil era engraçadíssimo, como só os inteligentes podem ser.
Em uma entrevista, mostrou um livro que estava preparando. Era um tratado das diversas espécies de orquídeas nativas da região onde ele morava, Ubatuba, litoral paulista. Os desenhos, em aquarela, eram daqueles que conseguem ser mais realistas do que o objeto que representam, se é que isso é possível. Os desenhos de Clodovil revelavam detalhes e particularidades de cada espécie que, talvez, nem fotos conseguissem alcançar.
Clodovil foi um esteta, no sentido mais amplo da palavra.
Se sempre gostei do Clodovil por seu talento artístico e por suas declarações cáusticas, foi em uma outra entrevista que ele angariou minha admiração completa, a admiração, também, por seu caráter, lucidez e integridade. Talentos artísticos como o dele são raríssimos; grandes caráteres, então, são altamente improváveis nos dias correntes.
Clodovil respondeu ao repórter, um desses idiotazinhos quaisquer que andam por aí, que ele, Clodovil, não era homossexual. Nem homossexual nem heterossexual nem coisa sexual nenhuma. Ele, Clodovil, era o que o seu cartão de visitas trazia impresso : Clodovil Hernandez, estilista.
Perfeito. Incontestável. Maiores retidão e lisura são impossíveis. Ele era o seu talento e sua arte, não o seu sexo ou orientação sexual. Honestíssimo.
Muito diferente dessa viadada de hoje, que quer se impor simplesmente porque nasceu gostando de dar a bunda, e não pelo talento e capacidade. Viado virou item de currículo. É a primeira informação que o cara fornece : sou viado. Como se isso lhe conferisse, automaticamente, alguma genialidade. A genialidade vem do cérebro, não vem do cu.
Clodovil, inclusive, não se envolvia com esses movimentos de conquistas gays, disse várias vezes que considerava a Parada Gay uma manifestação de mau gosto e ofensiva à família. Que existem maneiras muito mais educadas e honestas de lutar pelos seus direitos. Existem, sim : para quem tem inteligência, para quem não, o negócio é mostrar o cu.
Clodovil era o que se podia chamar de uma bichona de respeito.
Morreu em 2009, vítima de um AVC. Morreu, mas deixou propriedades e empregados que ainda geram altas despesas, em torno de R$ 10 mil por mês, segundo sua advogada. Há despesas, mas não há mais receita, explica a advogada responsável por seu espólio.
Como maneira de saldar as dívidas do estilista, a advogada organizou um leilão com objetos pessoais de Clodovil. O leilão tem data marcada para hoje, 12/04, e conta com quase 160 peças.
São joias com as iniciais de Clodovil, pratarias, um piano, quadros, uma gravata borboleta em ouro e cravejada de brilhantes, esculturas em bronze - a mais famosa delas é uma cobra naja, que ele chamava carinhosamente de Martha, em referência à Martha Suplicy, um de seus desafetos.
Porém, a peça mais cobiçada pelos colecionadores de Clodovil não está entre as supracitadas. Nem é sabido se ela estará entre os itens leiloados, menos informações ainda se têm do preço inicial que será pedido, caso ela esteja.
A peça que vem causando tanta cobiça e expectativa é um lustre. Feito sob encomenda para Clodovil, todo em cristal.
A ambicionada peça, reza a lenda, foi desenhada por Clodovil e confeccionada pela estilista mato-grossense Chiquita Folharal, responsável pelos ornamentos do caixão de Clóvis Bornay; o lustre teria custado a bagatela de R$ 300 mil reais, fora o valor "sentimental", por assim dizer.
Abaixo, a foto do lustre. Porque, no fim das contas, bicha é bicha. Perigooosa!!!!!

terça-feira, 10 de abril de 2012

É Proibido Peidar Em La Toba

Todo mundo sabe do alívio que é satisfazer uma necessidade fisiológica básica, ainda mais quando ela se faz urgente, seja fome, sede, vontade de urinar. 
Tomar um copo d'água bem gelado num dia de 40ºC à sombra ou chegar ao banheiro e esvaziar a bexigão prestes a estourar são prazeres muito próximos ao sexual, até o ultrapassando em certos casos.
Desses necessários alívios fisiológicos, poucos são tão mal entendidos, tão rebaixados à mera escatologia e tão vilipendiados quanto o flato, o popular peido, carinhosamente chamado de pum pelas criancinhas - que peidam tão fedido quanto qualquer adulto.
Quando pequenos, sofremos as sanções e as punições da mãe, das tias e das avós - em casa de avó, tudo pode, mas nem o peido é bem visto pelos olhos progenitores. 
Maiorzinhos, na escola, a professora é a vigilante da bufa, peidar na sala de aula já foi motivo de muito aluno ser posto para fora.
O cara cresce, e peidar perto da namorada é quase certeza de fim de namoro, certeza de mais uma longa temporada "morrendo" na punheta.
Note que toda censura ao natural - e necessário - flato parte de figuras femininas. Parece até que elas não peidam. Parece mesmo. Mulher peida menos.
Dizem os imbecis comportamentalistas que a mulher é ensinada, desde cedo, a reprimir suas necessidades, a considerar feio tudo o que é de seu corpo, sejam cheiros, secreções ou desejos; assim, elas são muito mais hábeis em segurar seus gases. Você pode passar uma vida inteira ao lado de uma mulher e nunca pegá-la em um flagrante (e fragrante) peido.
Talvez até haja um fundo de verdade nessa baboseira comportamentalista, uns 0,01%. O fato é que o metabolismo do homem é diferente do da mulher.
Somos máquinas que processamos o alimento e o convertemos em energia de maneira muito mais rápida e eficiente do que as mulheres. Somos verdadeiros biodigestores. E precisamos ser assim. Não fôssemos, e nenhum de nós estaria por aqui hoje.
Não éramos nós, homens, em nossa época mais peluda, quem caçávamos, guerreávamos e lutávamos contra as feras na proteção de nossos clãs?
Pois é. Muita energia é necessária para isso. Muito alimento sendo rapidamente digerido, fermentado, transformado em puro poder muscular e...liberando gases, claro.
Nos dias de hoje, o homem, o macho da espécie, só passa a exercer sua merecida livre flatulência quando vai morar sozinho, é um dos grandes prazeres de. 
Numa escala de zero a dez de liberdade, o grau dez só é alcançado pelo cara que pode andar pelado e peidar alto. É a alforria plena.
Mas aí o cara se casa e a esposa passa a exercer o poder moderador sobre as ventosidades dele. A maior liberdade que se perde com o casamento nem é não mais sair com os amigos etc : é não poder mais peidar em paz. 
Tem muito cara que dá a desculpa de que vai beber com os amigos só para poder peidar um pouco em paz, na rua. No que a mulher responde : "Beber com os amigos? Pensa que me engana, é? Você quer é sair peidando por aí. Não vai sair coisa nenhuma. Tá pensando que ainda é solteiro, é?
Agora, toda uma cidade está prestes a perder o direito de peidar em espaço público.
O prefeito da cidade espanhola de La Toba, na província de Guadalajara, assinou uma lei que proíbe os moradores de peidarem em ambientes públicos - ruas, praças, escolas, hospitais e outros logradouros -, a proibição é extensiva a mastigar de boca aberta, cuspir no chão, tossir sem pôr a mão na frente.
Segundo o prefeito, a medida quer coibir toda e qualquer manifestação de comportamento não civilizado de seus concidadãos.
Os trangressores não serão presos nem terão que pagar multas, apenas receberão "uma reprimenda pública em nome da moral e da ordem cívica".
Como é que vai ser isso? O cara vai ser levado à Câmara da cidade, levará um "pito" e será exposto ao riso público? E se alguém da plateia soltar um peido na hora?
E o peidador reincidente, aquele que não for mais réu primário? Vai se tornar inelegível? Não poderá prestar concursos públicos?
Depois, como é que vão provar que foi o tal sujeito que peidou? Como vão descobrir, num espaço público, o autor da bufa? Será que vão olhar quem está com as palmas das mãos amarelas?
E o nome da cidade? La Toba. 
É justamente isso o que um bom toba faz, caga e peida - alguns até agasalham uns croquetes. Não tem como proibir La Toba de peidar, só se costurar La Toba.
O prefeito Julian Atienza quer costurar La Toba. Só pode ser sacanagem.

LATINS


Hoje preciso de outra boca.
Enchi-me do meu hálito,
Da minha saliva que não se mistura,
Do meu monólogo, da falta de respostas.
Hoje preciso de outras falas
Exauri-me do deserto em meus tímpanos,
Da microfonia, do vácuo em meus pavilhões,
Da falta de controvérsias.

Hoje preciso de outra língua
Enfastiei-me das minhas sempre mesmas rimas,
Mesmas verbais esgrimas,
Mesmos períodos, mesmos pontos e ações,
Mesmas pontuações.

Quero outras bossas, outras glossas,
Outra língua a enroscar-se na minha
Em impronunciáveis neologismos.