quarta-feira, 27 de agosto de 2014

E Se o Cristão Só Tiver o Dinheiro do Ônibus no Bolso?

Nesta igreja, em Foz do Iguaçu, se o cristão não tiver no mínimo dez reais  nem é considerado filho de deus, nem tem direito a pedir oração. E se o cristão só tiver o do "buzum" no bolso, ou o da pinga, coisa de dois reais, dois reais e pouquinho? Assina uma promissória com Deus? Manda pendurar, faz uma "pindureta" com deus? Deus, eu não sei, acho que ele até pode fazer fiado, mas o pastor...
Não se aflija, ó ovelhinha perdida no vale da sombra da morte, a minha vara e a minha marreta a consolarão, a guiarão pelas veredas da justiça, refrigerarão sua alma, ouça os messiânicos conselhos do Azarão : mande deus e o pastor da sua igreja à merda, tome tudo em pinga e volte a pé para casa, que tomar umas e andar a pé faz um bem danado para a alma e para o coração. Muito mais que rezar.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Balde de Bosta

Uso a internet, diariamente. Salvo quando viajo, quando fico três, quatro dias fora de casa; aí faço questão de não só não carregar computador e similares comigo como também de não me aproximar de nenhum desses aparelhos caso os haja por perto.
Uso a internet, diariamente. Para checar meu cada vez mais vazio e-mail, para me inteirar das principais notícias do triste cenário nacional, conferir a previsão do tempo em dias que parecem anunciar chuva - dado essencial para que anda a pé -, eventualmente, uma pornografia salutar e básica - aquela coisa de duas gostosas se engalfinhando e colando velcro, e, principalmente, para tentar manter alimentado este meu frugal blog.
O Marreta do Azarão é o meu bichinho virtual, a quem tenho que alimentar com a maior frequência possível; quando o número de acessos diários ao blog começa a cair, significa que o bichinho está a entrar em um quadro de desnutrição e desidratação. E lá vou eu, hidratá-lo e nutri-lo com qualquer besteira, disparate ou desatino que me passar pela cabeça. O Marreta do Azarão é o meu tomagotchi.
Uso a internet, diariamente. Contudo, não adiro, tampouco compartilho o mínimo entusiasmo por seus modismos-relâmpago. Não tenho facebook. Nunca tive o tal do orkut; há por lá algumas comunidades a meu respeito, todas mui "respeitosas", e mesmo uma página falsa montada por um safado de um aluno, que conseguiu, sorrateiramente, obter uma foto minha com seu celular, mas minha, nunca tive. Fotos e vídeos virais? Faço o trajeto inverso do típico internauta, corro deles, evito, recuso-me mesmo em assisti-los; aliás, corro para mais longe e mais rápido ainda do sujeito que orgulhosamente se declara um internauta. Fui bem escolarizado, meninos, falou que é viral, mantenhamos distância. Instagram e WhatsApp (esse eu tive que ver no Google como se escrevia)? Sinceramente, não faço ideia do que se tratam.
Assim posto, não é de se estranhar que até ontem, apesar de muito já ter ouvido dizer, eu não soubesse o que era o tal do "Balde de Gelo", e poderia ter morrido tranquilamente sem essa valiosa informação. 
Acontece que, inadvertidamente, mais por fastio de continuar a acionar o controle remoto do que por interesse no programa em questão - fim de domingão é foda, dá um leseira desgraçada -, acabei parando num desses dominicais da Tv aberta, o Domingão do Faustão.
E lá fiquei sabendo do balde de gelo. A ideia é das melhores, admito, das mais nobres. A campanha foi lançada por amigos do jogador de baseball Pete Frates, diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), como forma de despertar o interesse das pessoas para a doença e arrecadar fundos para pesquisa.
É uma espécie de uma corrente : uma pessoa toma banho de água gelada, divulga o vídeo na internet e desafia três outras pessoas - de preferência, nomes públicos, esportistas, políticos, celebridades - a cumprirem a prova. Inicialmente, quem não quisesse jogar o balde de água e gelo, deveria doar U$ 100,00 à ALS Association, órgão de sem fins lucrativos. No entanto, os adeptos da brincadeira passaram a fazer as duas coisas. No Brasil, as doações podem ser feitas para Associação Pró-Cura da ELA e para Abrela.
Se todo o dinheiro doado chegará de fato às mãos devidas, já é outra história. Se as pessoas que topam o desafio, fazem isso como forma de uma autopromoção eficiente e baratíssima - convenhamos, um artista ou um político estampar a capa de uma revista de grande circulação por meros 100 dólares é uma pechincha em termos publicitários -, também já é outra conversa. Nesses casos, eu ponho a marreta um pouco de molho : o pouco que ajudar, já se mostra de bom tamanho.
Aproveitando a campanha do Balde de Gelo e valendo-se da máxima de Antoine Lavoisier - "Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" -, o jornalista palestino, Ayman al-Aloul, iniciou no sábado passado o movimento do Balde de Escombros.
No vídeo, o palestino aparece sendo banhado pelos escombros de uma zona de guerra da Faixa de Gaza.
"Tinha que fazer alguma coisa e mandar uma mensagem para todo o mundo sobre Gaza", disse Ayman al-Aloul. "Pareceu-me uma boa ideia mostrar toda a realidade, como Gaza está agora, escombros, destruição, cimento, areia, pedras", acrescentou.
E agora, finalmente, entra a minha marreta, ou acharam que não iria sobrar chumbo pra ninguém?
Inspirado pela campanha do Balde de Gelo, agora pela do Balde de Escombros e valendo-me da máxima de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, garoto levado da breca, que também verteu Lavoisier aos seus propósitos - "Na televisão, nada se cria, tudo se copia" -, lançarei neste momento, sem esperar, lógico, grandes êxitos, êxito algum, em verdade, a campanha do Balde de Bosta.
Pelos doentes de ELA, pelos palestinos, pelos sem-teto, pelos sem-terra, pelos indígenas sem-latifúndio? Porra nenhuma. Nada disso. 
Lanço a campanha do Balde de Bosta em prol da educação brasileira. Como uma forma de chamar a atenção para a sua real situação. Metáfora mais precisa, eu não poderia querer, nem encontrar. Nem eu nem ninguém.
O procedimento é de simples execução. Cada nobre docente defeca em um balde e despeja sua própria merda sobre si. Não há a necessidade de doação monetária - querer que professor, com o salário que ganha, ainda doe alguma coisa, é contrariar a já citada Lei de Lavoisier, é querer criar matéria do nada. Embostear-se, nesse caso, é sacrifício suficiente.
E não é necessário, como se trata de um ato simbólico, encher plenamente o balde de bosta, se bem que eu conheço professores que comem o bastante para tal feito. Defeca-se um pouco, completa-se o volume com água, adiciona-se um tanto da velha, eficiente e quase esquecida creolina, para efeito de matar as bactérias fecais, e pronto, é só banhar-se na merda e lançar o desafio a mais três outros colegas de trabalho.
O ideal é que o Balde de Bosta não fique restrito à já naturalmente cagada categoria docente, professor cagado é normal, não sensibiliza mais ninguém. Quanto mais o desafio for subindo na hierarquia educacional, tanto mais efetivo ele poderá se mostrar. Os professores enviariam o desafio para seus coordenadores pedagógicos, que o repassariam para seus diretores, estes para seus supervisores, daí para os dirigentes de ensino, deste ponto para o Secretário da Educação do Estado de São Paulo e, finalmente, chegaria ao gabinete do governador Alckmin.
Aliás, aproveitando que é ano eleitoral, e sendo bem sabido que político em época de campanha topa tudo, o desafio do Balde de Bosta deveria ser proposto a todos os candidatos ao governo do Estado.
Eu voto naquele que topar! Não só voto, faço-lhe também uma aguerrida e favorável campanha.
Quem se habilita?

domingo, 24 de agosto de 2014

Gárgulas Inexistentes

E a estranha luz vermelha
De mais um dia comum
Banha tua pele já cheia de limpeza e frescor;
Cobre – cor de cobre – tua epiderme
Plena de alvura e frio.
Tu te encolhes – nua – ligeiramente
Aconchegando-te a ela
(Preteriste meu calor),
A essa estranha luz vermelha.
Que me expele porta afora
Para fora da tua aorta,
Do teu respiro,
Para fora da tua circulação.

E eu atravesso ruas,
Salto canyons,
Evito ratos,
Deslizo por enxurradas,
Cumprimento cágados
E erro.
Erro por infindáveis calçadas
Desviando-me dos jorros de vômito
Debulhados pelas gárgulas que não existem
Nos parapeitos dos prédios
Da cidade onde moro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Propaganda Política do Tiririca 2014

A cena se abre e aparece o Tiririca, devidamente caracterizado com sua camisa estampada e apertada (cada vez mais apertada, a boa vida de deputado fez Tiririca ganhar uns tantos quilinhos), a peruca branca e o chapéu com motivos infantis enterrado até à altura dos olhos. Sem mais, o palhaço diz:
"Não foram só as pessoas simples que votaram em mim. Até você votou em mim, bicho?", e aponta para a sua direita.
Entra em cena, então, o Tiririca travestido de Roberto Carlos, sentado a uma mesa, com o que me parece ser um terço enrolado em uma das mãos e, à sua frente, um prato com uns belos bifões suculentos : uma gozação em cima do comercial da Friboi protagonizado pelo Rei Roberto no início desse ano, e que tanto pano deu pra manga.
Começa a cantar o Rei Roberto/Tiririca, uma paródia da canção "O Portão":
"Eu votei. De novo, eu vou votar. Tiririca, Brasília é o seu lugar...", e aí fisga um dos bifes com o garfo, levanta-o para a câmera e arremata : "Que bifões, bicho! Hehehe! Tiririca com certeza! Hehehe! 2222 Deputado Federal! Hehehe" E vai rindo, hehehe, até quase cair da cadeira.
Pensam que acabou? Nada disso. Em seguida, aparece de novo o Tiririca/Tiririca sentado na plateia de um cinema e diz :
"Obrigado, meu Rei. Vamos ver de novo. Você tá muito lindo! Quer ver de novo? Vamos ver de novo! Vamos lá, vamos ver, vamos!" E a cena do rei Roberto/Tiririca se repete.
Para finalizar, ressurge Tiririca/Tiririca : "Tá de saco cheio da política? Vote no Tiririca!"
Um quadro engraçadíssimo. Uma esquete das mais jocosas e inspiradas, digna dos velhos programas televisivos de humor, Balança, Mas Não Cai, Planeta dos Homens, Viva o Gordo, Os Trapalhões, Chico City etc. 
Uma brincadeira das mais inocentes, a paródia de Tiririca. Mais que isso, na minha opinião, uma homenagem sincera ao Rei.
Mas estamos em desgraçados tempos do politicamente correto. Para o politicamente correto, não há crime maior que ser bem-humorado, que ser espirituoso. 
A pequena propaganda político/humorística, com meros 1 minuto e 25 segundos, pode render ao palhaço um processo na justiça por infração de direitos autorais, movido pela EMI Songs, a gravadora de Roberto Carlos, que já conseguiu que vários vídeos fossem retirados do youtube.
Querem calar o palhaço, querem calar o humor. Deixem Tiririca cantar, ele não quer ofender ninguém, só quer fazer rir, o palhaço, que para isso ele nasceu, que é da sua irrevogável natureza. Deixem o bobo da corte zombar do Rei, dar cabriolas à sua volta.
Tiririca é cria legítima dos picadeiros dos circos populares, e quem sai aos seus não degenera. Tiririca é legítimo herdeiro de Mazzaropi. Tiririca é o Macunaíma!!!
Podem dizer o que quiserem do Tiririca! Que o cara é um analfabeto - e ele é - , que ele não devia ocupar o cargo legislativo que ocupa - e não devia mesmo, nem ele nem os outros 512 um pouco mais letrados que infestam a Câmara de Deputados -, mas uma coisa ninguém pode negar sobre o abestado mais votado de todos os tempos : o cara é um gênio.
O Tiririca é um gênio do humor. E do marketing eleitoral. Quantos viram o vídeo por ocasião de sua apresentação no horário eleitoral? Quantos o viram - e ainda vão ver - depois da polêmica montada em torno dele pela EMI, a gravadora do Rei? A EMI conseguiu fazer com milhares de pessoas quisessem assistir ao vídeo, pessoas que, inicialmente, não teriam o menor interesse por ele. O Tiririca vai ter que pagar salário de cabo eleitoral para a EMI.
Agora não tem jeito : vou ter que votar no Tiririca, de novo!!!
Se, como diz o iletrado, uma imagem vale por mil palavras, um vídeo de 1 minuto e 25 segundos do Tiririca vale por todos os léxicos do mundo.
Abaixo, a paródia do genial Tiririca
Em tempo : para mais posts sobre o Tiririca : Vou Votar no Tiririca e O Tiririca é o Macunaíma

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Fui Cagar e Achei 2 Reais

Conta a estória que um cara, professor de escola pública, com início do batente às 7 horas da manhã, chegava sempre pontualmente à sua escola; literalmente, exatamente às 7 horas, zero minuto e zero segundo, com o sinal para a entrada dos alunos já a tocar.
Chegava e não falava nem bom-dia para ninguém, nem se dirigia ao seu armário para se munir dos diários de classes, livros, giz e apagador. Chegava e corria direto para o banheiro, onde aliviava seus intestinos.
Isso, todos os dias. Invariavelmente. Muitos eram curiosos acerca de tal comportamento; nenhum era corajoso o suficiente para abordar diretamente o escatológico assunto com o cagão concursado.
Até que um dia, um professor novo, um ingressante no oitavo círculo de Dante, perguntou-lhe sobre seu estranho e infalível hábito. Por que sempre na escola? Por que sempre em cima da hora? Não poderia acordar uns minutos mais cedo e cagar em casa?
Sim, poderia cagar em casa, respondeu o assíduo evacuador, mas, em casa, não estaria ganhando para isso.
Tá certíssimo, o cagão. Cagar em horário de trabalho é receber numerário pela merda que faz. Literal e metaforicamente. É o que, no sempre mal pago funcionalismo público, chama-se agregar valores.
E se, além do costumeiro soldo, houvesse ainda um bônus pelo barro arriado durante o expediente?
Pois foi exatamente o que se deu comigo, hoje.
Normalmente, antes de sair para o trabalho, reservo lá um tempinho para me sentar ao privadão e dar minha matutina contribuição ao mundo, para me despojar da insustentável leveza do ser. Hoje, porém, atribulações não rotineiras se fizeram imperativas e não pude me reservar tal tempo, pus-me à rua ainda enfezado.
E aí, não deu outra. O impacto de cada passo, dos quase 5 km percorridos a pé para o trabalho, foi compactando e adensando a massa; cada passo, auxiliado pela força da gravidade, foi trazendo e acomodando a carga ladeira abaixo. Grande apuro passei até chegar à segurança do banheiro do meu local de trabalho. Nessas horas - e por muitas destas já passei - é que agradeço por não ter nascido viado, não ter nascido com comichão no brioco e apresentar, portanto, as pregas intactas, eficientes porteiras do cu. Não estivessem em dia, todas as pregas, um desastre ecológico teria se dado.
Cheguei ao banheiro, tirei uma boa metragem de papel do rolo, dobrei-a em um grosso quadrado e forrei com ele a água do vaso : para evitar respingos e ricochetes quando a bosta atingisse a flor d´água, aquelas gotas que, com pontaria guiada por satélite, cismam de acertar bem no meio do nosso cu. A referida técnica de forrar a água da privada, aprendi com o grande mestre Porpeta, mas isso já é outra estória, fica para uma próxima.
E o alívio veio. Imediato. Um dilúvio, um delírio. Farto e denso. Daqueles que saem de uma só tacada. O que, no basquete, se chama cesta chuá, sem relar nas bordas.
Passado o sufoco, começando a secar-me o suor frio da fronte, fiquei sentado ainda por uns instantes, à espera de algum resto de troço retardatário, de um possível rescaldo.
Foi quando, no chão do espaço privado, vi um papel azul meio que dobrado meio que amassado, que me pareceu uma nota de dinheiro. Ainda sentado, estiquei o braço, alcancei o papel e desdobrei-o : era mesmo uma cédula monetária.
Uma nota de dois reais. Com singelas tartaruguinhas e a inscrição Deus Seja Louvado. Deus seja louvado! Além de receber o salário de praxe pela cagada, hoje ganhei um adicional, um bônus. Meu dia começara no lucro.
Dissipada a surpresa do achado, quis a razão se sobrepor à minha rara sorte : tal nota, perdida no chão de um banheiro de uso comum de dezenas de pessoas, estaria cheia de todos os tipos de bactérias, coliformes fecais, urinais e, quem sabe, até porrais.
Enfiá-la ao bolso ou devolvê-la ao infecto chão?
Lembrei-me, então, do caso do judeu. Diz que o judeu, ao fazer uso de um banheiro público, deparou-se com uma nota de um real jogada dentro da privada, misturada a alguns cagalhões. O judeu pôs-se a pensar se compensava enfiar a mão na bosta alheia por uma nota de um real. Concluiu que não. Imediatamente ao quê, abriu sua carteira, tirou uma nota de 100 reais e a jogou também na merda, a fazer companhia à de 1 real.
"Por 1 real não compensa pôr a mão na bosta, mas por 101 reais..." E pegou as duas notas.
Espelhando-me na milenar e cabalística sabedoria judaica e verificando atentamente que a nota, aparentemente, não fora usada, em sua natureza de papel, para outras vocações que não a de moeda, guardei-a no bolso.
Dois reais não são nada nada. Mas já dá para comprar um latão de Bavária.
Ou, ocorreu-me agora, talvez eu nem a gaste, talvez a carregue sempre ao bolso, misturada às outras. Para dar sorte. Uma espécie de moeda nº 1 do Tio Patinhas.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Qual(is) O(s) Seu(s) Tipo(s) Preferido(s) ?

O Sorriso de Marina Silva (Ou : Cada País Tem a Mona Lisa Que Merece)

Um novo mistério - de solução mais urgente que as causas que abateram o avião que levava o terceiro colocado, em intenções de voto, na sucessão presidencial de 2014  - se acumula feito neblina, melhor, feito poluição, sobre o "acidente" que matou Eduardo Campos : por que ri Marina Silva, sobre o caixão de seu aliado político? Por que esse riso demente, pouco mais que um esgar nervoso? O que se esconde, ou revela, seu enigmático, fanático e fundamentalista sorriso debruçado sobre o esquife de quem a acolheu como sua vice?
Enigmático é o caralho!!! Fanático, fundamentalista e sedento de poder, sim.
Marina Silva saiu do PT - ou saíram com ela -, Marina Silva saiu do PV - ou saíram com ela -, Marina Silva tentou fundar um novo partido, o Rede, o TSE não engoliu tal embuste, houve até tentativa de fraude no número de assinaturas necessário à fundação do grei.
Sem eira nem beira, conformou-se, brasa encoberta, animal ferido, em ser a vice de Eduardo Campos. Engoliu a seco e com sorriso amarelo esse troféu abacaxi, essa humilhação, esse degrau decrescente em sua escalada política, um prêmio de consolação para quem, em 2010, no pleito presidencial, teve expressiva e inesperada votação.
Por que ri Marina Silva? Ri porque a morte de um, a tristeza de vários, é o renascimento, é o júbilo de outro.
Marina Silva, antes do "acidente" que pôs fim a Eduardo Campos, era a vice do terceiro colocado, bem distante dos dois primeiros, nas pesquisas das eleições presidenciais de 2014. Ou seja, era o cocô do mosquito que fica rodeando a bosta do cavalo do bandido de filmes de bang-bang.
De repente, BANG, está lá um avião estendido no chão. E de repente, BANG, está lá Marina Silva, lançada com força igual à da explosão do avião, porém em sentido oposto, para cima, para o alto e avante.
De um dia para outro, de um instante para outro, Marina Silva deixou de ser a vice de um improvável presidente da república e foi alçada à candidata substituta natural do partido. Ainda que não oficializada a transferência do bastão para Marina, ela já conta, segundo pesquisa publicada hoje pela Folha de São Paulo, com 21% das intenções de voto, contra 20% das intenções em Aécio Neves, até então o mais provável rival de Dilma Rousseff num eventual segundo turno.
Politicamente falando, a morte "acidental" de Eduardo Campos foi, para Marina Silva, acertar na megassena acumulada. Foi a salvação da lavoura, a salvação da pátria. Por isso, ri Marina Silva. Já no velório, já no momento em que recebeu a notícia da morte do aliado, Marina ficou ciente da mudança de seu status na corrida  presidencial.
Acredito que talvez - um talvez, assim, bem longíquo - a pessoa Marina Silva fosse incapaz de rir sobre os restos mortais da pessoa Eduardo Campos. Mas a política Marina Silva não rir, sorrir, frente aos despojos fúnebres do político Eduardo Campos, já é pedir demais. É impossível. É querer conter um ato falho, um arco reflexo. Refrear publicamente tal satisfação, denotaria uma retidão de caráter imensamente maior que a possuída por qualquer político brasileiro, seja ele de que partido for.
Por que ri Marina Silva? Porque ganhou na megassena acumulada. Porque herdou uma fortuna de um parente distante, aqueles parentes que a gente nem sabe que existem. Ir ao funeral do remoto consaguíneo, prestar condolências aos filhos e à viúva, tudo bem, tudo nos conformes. Mas chorar? Convenhamos :  você também não riria?

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Masturbadora Que Fez Vídeo em Igreja é Identificada e Presa

"Padre, padre..." - o coroinha de uma igreja em Hörsching, Áustria, entra esbaforido, com as faces afogueadas, o pau não lhe cabendo nas calças, no aposento sacerdotal - "padre, uma pecadora, uma herege se masturbou aqui na nossa igreja, filmou e colocou o vídeo na internet."
Acomodaram-se, coroinha e padre, para assistir e analisar o citado vídeo.
Uma gostosa, com trancinhas, trajada com roupas xadrez, tipo colegial, aquela coisa das meias três quartos, e com um rosário a lhe descer pelos peitos, grandes peitos, peitudíssima a moça, abre a blusa, acaricia seus cornucópicos peitos, besunta-os com um óleo, pode-se dizer que os unge, e se masturba, larga-se languidamente na nave da igreja, goza gostoso à vista de todos os santos, que já foram homens de pecado.
O cenário de fundo não deixa dúvidas, é mesmo a igreja de Hörsching, mas o padre não quer levantar falso testemunho. Reassistem ao vídeo, padre e coroinha, por diversas vezes. Aproveitam para tocar suas respectivas punhetinhas, talvez um para o outro.
Até que, ultrajado, ofendido em sua fé e, principalmente, exaurido e de pau mole, o padre dá o veredicto : "Heresia! Profanação de solo sagrado! A casa do Senhor não é lugar de peitudas se masturbarem, é local de se comer cu de coroinha." 
O coroinha até se animou, até esboçou um sorrisinho matreiro, mas o padre precisaria ainda de um tempo para se reestabelecer, e estava possesso pela violação de sua franquia de Deus.
O padre Bernhard Pauer, acompanhado do coroinha, procurou a polícia e denunciou que o seu ajudante nas coisas de Deus vira um vídeo sexual filmado no interior da igreja, enquanto navegava na internet. 
O delegado assistiu ao vídeo com olhos técnicos, de quem procura por pistas que pudessem levar ao criminoso, uma vez, duas, três, quatro vezes, e concluiu que seria muito difícil a identificação da siririqueira de Cristo, pois o rosto da moça não aparecia em nenhum momento da gravação.
De qualquer forma, cumpridor de sua obrigação, iria chamar um artista-perito para proceder na feitura do retrato falado do suspeito, dos sus...peitos, no caso; dos sus...peitões. Retrato falado que seria publicamente divulgado, na esperança de um improvável reconhecimento e posterior denúncia.
O delegado saiu, passou pelo banheiro, tocou sua punhetinha, e voltou com o artista-perito.
"Muito bem", disse o artista-perito, "quem foi que viu o suspeito?"
"Foi ele!!!", gritaram em uníssono e apontaram simultaneamente, o padre e o delegado, para o coroinha.
O coroinha foi descrevendo o peito - forma, textura, cor e consistência, tamanho e rugosidade dos mamilos - e o perito foi desenhando. Terminado o desenho de um dos peitos, o direito, o artista confrontou sua obra com o parecer do coroinha, a testemunha ocular do delito, e obteve a aprovação deste, que confirmou ser aquela mesma a aparência do criminoso. 
O perito disse que iria se retirar por um momento, à escusa de buscar mais lápis e carvão para terminar o outro peito, lápis HB, para esfumaçar melhor o retrato, dar-lhe mais perspectiva e volume, qualquer detalhe pode ser de suma imporância num retrato falado, pode significar a impunidade ou a captura do criminoso. Foi, bateu também a sua punhetinha, voltou com seus apetrechos e terminou o retrato falado. O padre pediu uma cópia, para afixar no mural de sua igreja, óbvio.
Não obstante o pessimismo do delegado, de que seria difícil o reconhecimento sem o rosto da herege, mal o retrato falado (e gozado) dos peitos da profana havia sido espalhado pela cidade, o telefone da delegacia tocou : um outro punheteiro, em denúncia anônima, garantiu ter reconhecido aqueles peitos.
Eram os deliciosos e suculentos peitos de Babsi, uma jovem de 24 anos, originária da Polônia, e que já havia postado outros vídeos semelhantes na internet. Que punheteiro filho da puta. Filho da puta e alcaguete. Filho da puta e ingrato.
"Nós identificamos a suspeita. Ela já foi interrogada e confessou", disse o porta-voz da polícia, David Furtnerteich. Confessou para quem? Para o delegado, como forma de atenuar sua pena, ou para o padre, para obter perdão de Deus? 
Pela gostosa estripulia, a peituda poderá pegar 6 meses de xilindró. E os punheteiros - o coroinha, o padre, o alcaguete -, pegarão quanto de pena? Nada, né? Fica parecendo aquela coisa do traficante/usuário : vender droga é crime, usar, não. Só a biscate é que é culpada, herege, pecadora? E os seus "usuários"?
E no cu do punheteiro, não vai nada?
Parece que não!!!
Ainda bem!
Uffa!!!
Eis a profana masturbadora. Peitões ao léu e dedinho na buceta. Antes que alguém pense que o Azarão se tornou um censor, adianto que o quadriculado nos mamilos, como forma de ocultá-los, não foram postos por mim. Adoro mamilos. Os dela, imagino-os brônzeos e encrespados.
Para ver o vídeo que o coroinha viu, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.
Compensa ver. Eu garanto!!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Vamos Organizar Essa Suruba

País civilizado é outra coisa. Neles, as leis são implacáveis e inflexíveis. Pisou fora da linha, não tem choro nem vela, a punição vem rápida e rasteira; no minímo, uma multa dilapidará o bolso do infrator. E vale para todos, sem reservas nem distinções, o infrator pode ser até estrangeiro,  não tem relaxamento nem alívio da pena, não tem essa de invocar imunidade, não tem essa de recorrer a embaixada etc. 
Pois foram justamente a isonomia e a imparcialidade da lei espanhola o que sentiram na pele seis turistas suíços em passagem pela paradisíaca Ibiza, um dos balneários mais famosos do mundo, um dos maiores e mais requintados puteiros a céu aberto do planeta. Nove em cada dez filmes pornô tem locações nas praias de Ibiza. Puxe pela memória "afetiva", caro amigo punheteiro que me lê, você já deve ter assistido a pelo menos uns três com a "história" passada em Ibiza.
Os seis suíços, aparentemente três casais, estavam realizando uma suruba dentro de uma van em movimento por uma das principais avenidas de Ibiza. Um comia a mulher do outro, o outro comia a mulher do um, a mulher do outro lambia a mulher do aqueloutro, o aqueloutro lambia o cu do um, que levava uma enrabada do outro e assim por diante, de trás para frente, de ré.
Parados pelos policiais e lavrado o flagrante, a punição veio de imediato : multa no valor de R$ 610,00 por cabeça (os homens pagaram R$ 1220,00 cada um). Grave atentado ao pudor? Exibicionismo? Obscenidade pública?
Nada disso. Que, em Ibiza, fazer sexo dentro de um carro não é ilegal, não é crime previsto em lei. Os suíços foram multados por não usarem cinto de segurança.
Pããããta que o pariu!!! Se estivessem com os cintos de segurança, estaria tudo certo. Isso sim é o que eu chamo de sexo seguro!!!
Uma das mulheres ainda tentou argumentar, mostrou que estava, sim, a usar um cinto. Um daqueles cintos que vem com uma benga de borracha gigante acoplada, atolada ainda até a metade no buraco do queijo de um dos suíços Não convenceu o policial de sua inocência. Multa nela, também.
Os seis se vestiram e pagaram a multa no ato, à vista, com o que ganharam um desconto de 50% no valor total da autuação.
Só uma dúvida : quem é que estava a dirigir a van?
Fonte : Daily Mirror

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Não Sabe Fazer o "Ó" com o Cu

Era para ser apenas mais um dia de minha sem significado e inútil labuta, apenas mais um dia de fingimento, de encenação de meu ofício - outrora nobre e edificante, hoje um misto do castigo de Sísifo com o de Prometeu, penalidade que nem mesmo os deuses gregos - exímios e requintados punidores - puderam conceber, ou que, ao menos, nem eles próprios, longe de serem famosos por sua benevolência, tiveram coragem de impingir a um vivente.
Mas não. O dia de hoje foi especial. Um dia coroado.
O ambiente : uma sala de 2º ano do ensino médio, o antigo e saudoso colegial, alunos na faixa etária dos 16 anos, predominantemente de classe média, todo mundo bem nutrido, de banho tomado, roupinha lavada, celularzinho no bolso etc etc. Ou seja, nenhum motivo ou desculpa para o baixo nível de escolaridade, para o cada vez mais frequente semianalfabetismo.
A aula : Trocas de calor em recipientes termicamente isolados. Tão somente um nome pomposo para um fenômeno natural dos mais simples e corriqueiros : dois ou mais corpos, cada qual com suas respectivas massas, seus calores específicos e suas temperaturas iniciais, quando colocados em um recipiente que não permite trocas de calor com o meio, e apresentando diferentes temperaturas, trocarão calor entre si até que seja atingido um equilíbrio térmico. Ou seja, o corpo mais quente cede calor para o mais frio.
As aplicações em sala de aula de tal conceito são as mais pobres possíveis, restringem-se a meros exercícios de fixação de uma fórmula, na qual as várias variáveis (todas fornecidas de mão beijada pelo enunciado do exercício, o aluno não tem que "descobrir" nada) são substituídas para que se encontre a temperatura final do equilíbrio térmico.
É ler o enunciado e ir encaixando a massa do corpo, a temperatura inicial etc na fórmula, o que sobrar é a grandeza a ser calculada. É ler e fazer as continhas, "de mais", "de menos", "de vezes" e "de dividir". Saber a tabuada e contar nos dedos mostrariam-se o suficiente para tais exercícios.
E aí é que a porca torce o rabo. Ler? Só mensagem de texto no celular e olhe lá. Decorar a tabuada? A maioria se complica até na tabuada do 1. Contar nos dedos? A grossa massa desses adolescentes até já se esqueceu de que possui 5 dedos em cada mão, uma vez que apenas um é o suficiente para ele se comunicar com o mundo via seu celular.
Até o exposto, tudo bem. Tudo bem, não, mas tudo normal, tudo dentro do comum e esperado. Mas hoje, como eu disse, foi especial.
Eu passara lá um exercício de trocas de calor, o mais fácil que pude achar no livro, dei um tempo para que a sala tentasse fazê-lo (por sala, entenda três ou quatro alunos de um total de 40 ou mais) e pus-me, em seguida, a corrigi-lo no quadro-negro.
Numa dada passagem da correção, um aluno se manifestou, 'professor, não estou entendendo esse negócio aí'. A passagem em questão era : 400 x 0,11 x (Tf - 230)
Devolvi-lhe a pergunta em seus próprios termos : 'que negócio?'. Na minha santa ingenuidade, pensei que a dúvida fosse em relação a algum dos conceitos trabalhados, calor, temperatura, o significado do calor específico, enfim...
Não era. 'Esse negócio aí', tornou o aluno, 'que vem logo depois do 400'. O "negócio aí" era o 0,11, o calor específico do ferro. 'E o que você não está entendendo?', insisti. Aí veio a chave de ouro : 'Isso aí é um zero antes da vírgula ou é um "ó" (a letra o, pasmem). 
Pããããããta que o pariu!!!! A dúvida do apedeuta era se o termo que sucedia o 400 era zero vírgula onze ou "ó" vírgula onze.
Quis fazer o que fez o corno de um dos clássicos do sertanejo : me perguntou, por quê?, mas eu não respondi, só pra não te ofender, disse adeus e parti. Se eu pudesse dizer adeus e partir, teria-o feito na mesma hora; aliás, nem diria adeus, apenas partiria. Não posso. Não posso igualmente furtar-me a dar uma resposta. Ofender o educando, então, nem pensar. É crime inafiançável perante o Estatuto da Criança e do Adolescente. De onde se vê que há destinos muito piores que o de ser corno.
Respondi-lhe : 'Faça o teste, multiplique 400 por "ó" vírgula onze e me diga o resultado'.
Ele, óbvio, não efetuou a bizarra operação alfanumérica. Se bem que não a teria efetuado ainda que eu tivesse lhe pedido para que calculasse 400 multiplicado por 0,11, não sem o auxílio nada luxuoso, e emburrecedor, de uma calculadora, aparato cujo uso é vetado em minhas aulas.
"Ó" vírgula onze... E esse nem é dos piores da sala, pelo contrário.
À minha época de jovem pupilo, dizia-se do incapaz, ele não sabe fazer o "ó" com o cu.
Décadas depois, ele continua sem sabê-lo. Mas especializou-se : hoje, ele também não sabe fazer o zero com o cu.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Robin Williams, Assim Ele Quis o Seu Último Poema

(Robin Williams, 1951 - 2014)
Acima, Robin Williams na "pele" de Andrew Martin, o Homem Bicentenário, do conto homônimo de Isaac Asimov, e o meu personagem favorito de Williams. Na verdade, o único de que realmente gosto.
Andrew Martin nasceu robô, mas um defeito em seu cérebro positrônico o fez querer, pinóquio de titânio, tornar-se homem. E tornou-se, na forma. Porém, o robô queria mais, queria ser reconhecido como humano em sua essência, queria o reconhecimento oficial do governo lá da época em que se passa o conto, queria ter seu status mudado de robô para humano. Pedido negado por várias vezes. Humanos envelhecem, morrem, Andrew Martin era eterno.
Planejou, então, seu próprio envelhecimento, programou sua morte, seu desligamento, que se deu ao completar de seu ducentésimo aniversário, no mesmo instante em que os manda-chuvas do governo, finalmente, reconheciam oficialmente sua condição humana.
Adquiriu a condição humana e, instantes depois, morreu. Teve sorte, Andrew Martin.
Robin Williams programou seu desligamento para um pouco mais cedo, aos 63 anos.
Quis assim o seu último ato, o seu último poema:

O Último Poema
(Manuel Bandeira)
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Réquiem Para Uma Mãe Que Perdeu Seu Rebento, Ainda Não Desmamado, de 45 Anos de Idade

Sei que ele morreu. 
Sei que Ela fez tudo o que podia por ele.
Que fez tudo
O que a obrigação moral cobra,
Escraviza, 
Que uma mãe faça por um filho.
Que fez muito além do que a obrigação biológica 
Determina que uma mãe faça. 
Que agora Ela possa descansar em paz.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Ofício do Palhaço

- Por que choras, palhaço?
Isso é lá exemplo que se dê à petizada?

- E o que queres,
Ó idiota,
Mais do palhaço?
Que queres além de escarnecer de mim
Como se não fosse de ti mesmo
Que verdadeiramente estivesse a zombar?
Que queres além de poder rires
Da tua ridícula existência,
Exarcebada e representada pela minha figura burlesca,
E não te dares conta
De que é da tua própria insignificância que ris?
Queres minha risada cênica perene,
Um espelho de Dorian Gray para ti?
Queres que o caricato vermelho
Eu tatue em definitivo?
Queres que uma buceta encarnada
Eu suture à minha face
Em imutáveis grandes lábios sorridentes?
Choro porque o riso não é de minha natureza.
Choro porque o riso é meu ofício
É labuta pesada e enfadonha como outra qualquer.
O choro é o meu dia de folga
O choro é o meu sábado
É minhas merecidas férias.

Insônia : A Companheira das Noites sem Sono

A insônia 
Me joga no covil das noites famintas, 
Das madrugadas de garras tetânicas 
Ávidas pela minha pouca carne. 

A insônia 
Amarra com anzóis, 
Com ganchos de frigoríficos, 
Minhas costas ao ontem. 
Mija sulfetos no meu focinho, 
Rouba meu faro para o nascer do sol, 
Põe-me broxa para os grandes lábios suculentos do amanhã. 

A insônia escalpela minhas córneas, 
Faz brotar cactos peçonhentos em meu esôfago. 

A insônia, 
Dissimulada garçonete, 
Oferta-me em copo abissal 
Vodka com areia fundente. 

Mas o pior, 
De tudo, o pior: 
A insônia tem a tua cara, 
O teu jeito, teus seios, 
O teu cheiro.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pequeno Conto Noturno (43)

Em um daqueles cochilares do deus Cronos, em um daqueles dobrares de esquinas que nos lança a outra linha temporal, e não simplesmente a outra rua, em uma daquelas madrugadas, de céu lilás, em que os bueiros transpiram vapores de café recém-coado ao invés de pútridas emanações, Rubens esbarrou em seu passado. Com uma parte dele. Uma parte boa e rara : Yrina.
Embora regido pelo Acaso, o reencontro, não houve nenhuma manifestação de surpresa; nem da parte de Rubens nem da de Yrina. Porque nenhuma surpresa havia a ser manifesta. Seus encontros eram de tal forma naturais à época em que conviviam que surpresa foi o afastamento, antinatural foi o desligamento, o não mais ver.
Não só isso, irrelevante a longa data há que não se viam, sempre que saíam às ruas em suas vidas separadas, fossem para onde fossem, ao trabalho, ao mercado, à biblioteca, à procura de novos amores, imaginavam que encontrariam o outro pelo caminho.
Não houve surpresa no reencontro. Surpresa sempre houvera nos milhares de desencontros.
Até que em um dia, não feito um sonho sonhado concomitantemente por mil gatos, mas como um sonho sonhado milhares de vezes por um só gato, o reencontro se deu.
Se o esbarrão com o passado fê-los - a ambos, ou a só a Rubens, ou só a Yrina - vislumbrar uma possibilidade de futuro, nunca saberemos. Mais provável que não tenham lhes ocorrido tais cogitações, que tais considerações venham mais do desejo piegas deste narrador em vê-los juntos, narrador que deveria limitar-se à sua mera condição de vigia, do que das tramas e tramitações do velho safado, encarquilhado, banguelo e verruguento que costuma atender pelo nome de Destino.
E caminharam, Rubens e Yrina, pelas ruas do velho centro - de paralelepípedos, com nomes de presidentes -, como se fosse sábado, como se fosse mágica, como se ouvissem música, e agradecidas lhes ficaram as ruas, por tornar alguém nelas a caminhar.
E se sentaram, Rubens e Yrina, aos bares que ainda havia para se sentar, tomaram as cervejas relegadas aos fundos das geladeiras, com as quais ninguém quis formar par. Quantas? De que marca? Estavam geladas? Quanto deu a conta?
E antes que o dia raiasse, e lhes desnorteasse os caminhos, rumaram ao apartamento de Rubens, para a saideira e o clássico café; Yrina a cantarolar "Choro Bandido", do Chico, e Rubens a entoar mentalmente "À Distância", do Roberto.
- Rubens... - fala Yrina, Rubens de costas, indo à cozinha pegar as bebidas.
- Diz... - responde Rubens
- Eu te amo, Rubens. Seja lá o que isso signifique.
- Significa - começa a dizer Rubens, voltando da cozinha com duas doses de vodka e tônica - exata e unicamente o que você disse 'Eu te amo'. Sem mais nem o quê.
- Sem implicações, sem desdobramentos? Como um 'eu te amo' pode ser um evento isolado, alheio e imune ao que o cerca?
- Nem isolado nem alheio nem imune. Autossuficiente.
- Explique-se, meu caro, embora eu esteja quase certa de que não gostarei da explicação.
Rubens retorna à cozinha, reabastece os copos e volta.
- É a velha insatisfação humana, minha cara. Num primeiro instante, o sujeito diz 'Eu amo" e vai dormir felizinho da vida. Pouquíssimo tempo depois, isso não mais lhe basta, pior, começa a lhe causar desconfiança, apreensão, quer saber por que ama, de onde isso surgiu, para onde o levará.
- E não é normal, ocupar-se dessas questões?
- É comum. Mas longe de ser saudável, racionalizar o impulso, o instinto, o irracional.
- Ainda não percebi onde você quer chegar...
- Aí é que está a verdadeira questão; nesse caso, a falta dela. Um 'eu te amo' não é para chegar a nenhum lugar. Nem vem de algum. Se pudesse haver um ilha, que, de tão isolada, nem água tivesse a lhe cercar por todos os lados, figuraria nos mapas como a ilha 'eu te amo'. Não existem vias de acesso ao 'eu te amo', muito menos rotas de fuga. 'Eu te amo' não é uma rodoviária, um ponto nevrálgico de chegadas e partidas. 
Um 'eu te amo' é a coisa per si. Sem destinos nem destinações. Ou, como bem resumiu e grafou em definitivo Mário de Andrade : Amar, Verbo Intransitivo. Aquele que não requer ou carece de complemento.
Adereçá-lo não só é desnecessário como também inútil e, principalmente, temerário. Corre-se o risco de mudar-lhe o foco, opacificá-lo com tantos balangandãs, sabotá-lo em seu sentido intrínseco e  intransferível.
- Até parece, né, Rubens... quem ouve até pensa que você é romântico assim.
- E sou. Numa intensidade capaz de estourar toda e qualquer escala de autocrueldade.
Rubens se levanta e vai para a cozinha mais uma vez, agora para passar um café.
- Yrina... - diz Rubens, do meio do caminho
- Sim...
- Sabe essa coisa do 'eu te amo'?
- O que tem?
- É recíproco, viu? Recíproco pra caralho! Sempre será. Seja lá o que 'sempre' signifique.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Brutus, o Crocodilo Gigante, Finaliza Tubarão

Um evento de vale-tudo pra ninguém botar defeito!
De um lado, Brutus, crocodilo quase octagenário, com 5,5 metros de comprimento, e um velho conhecido da população ribeirinha do Rio Adelaide, no norte da Austrália. No outro corner do ringue, o incauto desafiante, um tubarão, oriundo de uma categoria visivelmente inferior à do réptil peso-pesado, e também de outra categoria taxonômica, a dos peixes, que, entre outras desvantagens frente à primeira, não são capazes de respirar fora da água.
Brutus foi rápido e rasteiro. Não perdeu tempo em fazer um reconhecimento do adversário, não fez questão de mostrar um grande repertório de golpes, não quis exibir grandes técnicas nem habilidades marciais, não abriu a guarda para a troca franca de golpes. Brutus foi de luta de chão, de greco-romana, de jiu-jitsu dos Grace. Deu uma chave de mandíbula no tubarão.
Aferrou suas poderosas arcadas dentárias no corpo esguio e fusiforme do adversário e o arremessou para o barranco, para terra. O tubarão tornou-se presa fácil e indefesa, um peixe fora d'água. Um nocaute inquestionável. Finalizado o tubarão, Brutus embrenhou-se no mato, para saborear um belo filé de cação.
Morda-se de inveja, Mike Tyson!
Foram espectadores da luta, os turistas que faziam um cruzeiro pelas águas do rio Adelaide, no Parque Nacional de Kakadu, e o guia da expedição.
A primeira imagem que viram foi o crocodilo Brutus pulando para fora da água com um peixe dentro da sua boca. "Foi durante o caminho de volta para o cais. Quando olhamos, o Brutus estava sobre o banco de areia", disse Andrew Paice, um dos turistas.
"Conforme os minutos foram passando, percebemos que estava chegando ao fim. Primeiramente, pensamos que era um filé ou algo assim. Porém, o guia aproximou o barco e vimos que era um tubarão", continuou Paice.
Veterano dos ringues da Austrália, a vida de lutas deixou suas marcas gravadas no campeão Brutus : chegando aos 80 anos, ele já perdeu vários dentes e uma das patas dianteiras, esta, garante o guia, na luta contra um outro tubarão. Sim, este não é o primeiro tubarão que o velho Brutus encara. Algumas pessoas levantam a hipótese de que esse teria sido o motivo do atual ataque de Brutus a outro tubarão : vingança pela pata perdida.
Vingança porra nenhuma. Território ou comida. Ou as duas coisas. É a velha prepotência humana de estender o seu comportamento para os outros animais, de achar que suas motivações são universais, bem como suas falhas morais. Nenhum animal, daqueles chamados por nós de irracionais, remói rancores e maquina vingança contra outro, tampouco premedita mortes. Só o homem. Tal "evolução" é característica exclusivíssima de nossa espécie.
Brutus, finalizando o tubarão.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Instantâneos de um Saudoso e Remoto Passado (8)

Aprenda a treinar sua esposa em 5 lições
Grátis um folheto explicando o como.
Ensiná-la a :
- Pegar seus chinelos e seu cachimbo
- Massagear os seus pés
- Servir-lhe cerveja gelada e petiscos
- Sentar-se quieta enquanto você assiste ao seu canal de TV favorito
- Atender a estímulos não verbais, como o estalar de seus dedos
- Responder "sim, querido" a todo e qualquer pedido
- Cumprimentá-lo à porta vestindo nada além de um avental de celofane

domingo, 3 de agosto de 2014

Para Nenhum Mal, a Cura

O negócio
É o ficar, o permanecer
O ser e o estar
O estar para ser.
Virar sequóia
Baobá.
Para que tanto mar
Tanto ar
Tanto hiato
Tanto intermédio
Tanta estrada para nenhum lugar
Ou para o mesmo?
Navegar é preciso
Porém não é necessário
É inútil, em verdade
É vão.
Só se presta a outro navegar
E a outro, e a outro...
Para que tanto açodamento
Tanto vai e vem
Se o máximo que se consegue
É dar a volta ao mundo
Ou seja
Andar em círculos?
Só sei que tenho feito mais visitas ao médico
Que aos amigos...
Talvez aí
A verdadeira doença.