domingo, 28 de julho de 2019

Feminicídio? E do Machocídio? Ninguém Fala?

Do Blog Mulheres Contra o Feminismo.
Gostei pra caralho!!! E pra grelo, também!!!

Cuidado Com o Que Desejas

Não sei se hoje em dia, talvez ainda em pequenas cidades do interior, mas na minha infância, quando Ribeirão Preto era uma pequena cidade do interior e não este leviatã disforme e grotesco em que se tornou, a sabedoria popular fazia sérios e graves alertas a respeito da necessidade imperativa de se satisfazer aos desejos das grávidas. 
Não importando quais eles fossem, não importando o quão estranho, bizarro e excêntrico fosse o apetite da prenha, céus e terras deveriam ser movidos para saciá-lo, tripas deveriam ser feitas em coração. Sob a pena e o risco da criança nascer com a cara do alimento não providenciado, ou com alguma mancha, marca ou cicatriz na forma do objeto de desejo negligenciado.
Eu mesmo tenho uma prima que nasceu com uma mancha vermelha nas costas e cuja origem, minha tia garante, foi um suculento caju que pendia de um galho da árvore do vizinho, o qual ela nunca teve coragem de pedir a ele. Conta que ficou a namorar aquele caju por semanas. Um amor platônico. O resultado : a cajuácea mancha vermelha nas costas de minha prima. Que, a depender dos olhos de quem vê, também pode muito bem ser um grão de feijão, um rim, uma orelha, um anzol, a letra "J" etc.
Pois o bispo Morphou Neophytos, da igreja ortodoxa (grega, suponho pelo nome), está a apregoar justamente o contrário do que diz a voz do povo, que, segundo dizem, é a voz de Deus. Neophytus está a alarmar não para os riscos de não se satisfazer os desejos das grávidas, mas sim para os risco, ainda mais sérios, de atendê-los. Ao menos, certos desejos. 
Pudera. Igreja que é igreja, religião que é religião, condena todos os desejos.
Neophytus afirma que se a mulher fizer sexo por vias não naturais com o marido durante o período gestacional, o Todo-Poderoso lhe será inclemente, lhe castigará com um filho gay, com uma bichona.
Ponho mais às claras as palavras do bispo : se num belo dia, ou numa bela noite, a grávida, ou para não incomodar o feto, ou para agradar ao maridão, ou simplesmente a usar a gravidez como desculpa para dar vazão a vontades sempre tidas e reprimidas, resolver dar o cuzinho para seu conjugê, sentir vontade de liberar o enrugadinho, é melhor que se contenha, é melhor que segure o tesão na argola. Caso ceda ao libidinoso e pecaminoso desejo, terá um filho que sairá por aí a soltar a rabiola, todo saltitante e fagueiro.
Palavras do bispo : "Tudo acontece durante a gravidez, após um ato anormal entre os pais. Para ser mais claro, sexo anal. São Porfírio diz que, quando uma mulher gosta disso (sexo anal), um desejo nasce e ele é transferido para o filho".
Finalmente, descoberta e desvelada a causa da Síndrome Intrauterina da Viadagem Adquirida!!! Valha-me São Porfírio, o santo padroeiro da integridade das pregas!!!
Ah, as religiões e os religiosos... O que a humanidade faria sem vocês?
Acabo de me lembrar de que tenho um primo que é prima, primíssima, que desmunheca desde criança, filho da minha hoje septuagenária tia Célia. Quem diria, hein, tia Célia, quem diria... A senhora sempre tão quietinha, tímida, recatada e do lar. Devota de Frei Serapião. Quem suporia?
Jamais olharei para a tia Célia com os mesmos olhos.
Pããããããta que o pariu!!!
Bispo Morphou Neophytos

sábado, 27 de julho de 2019

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa... (49)

Na sacrossanta e eterna cruzada pela conquista do coração da amada e de sua respectiva buceta, o macho das antigas pode ser valer e reproduzir todos os chavões e os lugares-comuns da literatura e do cinema românticos. 
Ele pode preparar um jantar caprichado, gourmet, até. Ele pode raspar os bolsos e fazer esse jantar ser acompanhado de um bom vinho francês. Pode pôr uma suave e relaxante música instrumental ao fundo. Pode preparar um ambiente à meia-luz com velas coloridas, aromáticas e afrodisíacas.
E uma Lua Cheia? Ele pode preparar uma Lua Cheia? Servir um plenilúnio à amada em uma bandeja de prata? Aí, não dá. Aí, não é pra qualquer um.
Aí, só sendo o Chico Buarque. "Preparei para você uma lua cheia, e você não veio, e você não quis..."
Pãããta que o pariu!!!! O cara preparou uma Lua Cheia para a vadia e ela não foi, e ela não quis. Que mais quererá essa biscate?
Que fossa, hein, Chico, que fossa...
Mas não se apoquente, velho Chico. Sigamos, todos nós, machos das antigas, o conselho e uma das máximas de Adoniran Barbosa : "não seja bobo, não se escracha, mulher, patrão e cachaça em qualquer canto se acha".

Lua Cheia
(Chico Buarque de Holanda)
Ninguém vai chegar do mar
Nem vai me levar daqui
Nem vai calar minha viola que desconsola,
Chora notas pra ninguém ouvir.

Minha voz ficou na espreita, na espera,
Quem dera abrir meu peito, cantar feliz
Preparei para você uma lua cheia
E você não veio, e você não quis.

Meu violão ficou tão triste, pudera,
Quisera abrir janelas, fazer serão
Mas você me navegou mares tão diversos
E eu fiquei sem versos, e eu fiquei em vão.

Para ouvir a canção, é só clicar aqui no meu poderoso e aviagrado MARRETÃO 

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Quem Já Ouviu Dizer de um Rebanho de Gatos?

Sexta-feira. Dia de comer pastel na feira com o filho, na barraca da japonesa. Ele pede sempre o de carne com queijo; eu, o de bacalhau. Muito bom, o bacalhau da japonesa. Nossos últimos pastéis de feira até a chegada das próximas férias escolares.
Segunda-feira, conduzido coercivamente de volta ao Inferno. Que só nos dá esparsas férias para que continue com o seu poder sobre nós, para que se mantenha como Inferno. Não nos desse, o Inferno, pequenas folgas para vermos que há melhores plagas e climas, o tomaríamos como única realidade possível, perderíamos a esperança de escapar dele, deixaríamos de sofrer, portanto. Porque é disso de que se alimenta o Inferno : do sofrimento causado pela esperança vã de dele fugirmos.
Então, antes mesmo  de nossos pastéis estarem prontos, uma voz, um chamamento às minhas costas. Não do Inferno - ainda. De década, década e meia atrás.
- Homem sem fé! - a voz ecoou e evocou.
A gorda comendo de boca aberta olhou pra mim, também a japonesa, o motoboy e a velha cheia de varizes.
- Dê cá um abraço, ímpio colega.
Levantei e o abracei. Valtinho Barba. Que não é o seu real sobrenome, sim epíteto cuja origem se faz evidente à primeira vista. Reza a lenda que nunca ninguém, que ainda tenha idade para estar vivo, viu o Valtinho sem sua basta e cerrada barba. Acho que nem o Miele uso barba por tanto tempo, ininterruptamente. Nem a Cláudia Ohana.
Valtinho Barba não fez, exatamente, faculdade comigo. Fazia outro curso, o de Biomédicas, mas por conta de umas dependências em Química e Cálculo I que ele havia pego, cursou-as conosco, os da Biologia.
De cara, apegou-se a mim - tenho esse poder sobre os desajustados. Aferrou sua companhia à minha a partir do momento em que me descobriu ateu. Como ele. 
- Esse cara é igual a mim - ele dizia, batendo nas minhas costas, quando já meio alto de cerveja, nos churrascos, nas chopadas da faculdade, no finado bar do finado Ali.
Não somos iguais, Valtinho Barba e eu. Poucas pessoas poderiam, ainda que muito se esforçassem, ser mais distintas que nós. Ele assim julgava apenas porque éramos, ambos, ateus. Éramos, ele assegurava, gêmeos univitelinos em descrença separados no nascimento. Nunca o desmenti. Mas dizer que duas pessoas são iguais tão-somente por serem ateias é o mesmo que dizer que todas as mulheres são iguais, simplesmente, por serem mulheres; todos os negros, por serem negros; todos os boiolas, por serem boiolas; todos os são-paulinos, por serem boiolas.
Valtinho Barba - e isso é a mais pura verdade -, só para dar uma ideia do tipo de louco que eu, involuntariamente, cativo - é mesmo um dom nato -, trabalhou por muitos anos como maquiador de funerária. - Nunca vi Deus, o Espírito Santo nem anjo nenhum vir buscar a alma de ninguém - ele dizia.
Pediu um pastel de palmito para a japonesa e puxou uma banqueta para o meu lado. Perguntou-me da vida. Falei que me casei, apresentei-lhe o meu filho e disse que continuo no hoje poço de areia movediça que outrora foi o nobre ofício do magistério.
Ele nunca se casou. Juntou os trapos um par de vezes. Tudo doida, malucas de pedra, ele me disse à guisa de explicação para a sua solteirice. Depois de formado, trabalhou por muito tempo como biomédico em um laboratório de análises clínicas, mas era pouca a paga para ficar o dia todo fuçando a merda alheia. Até que, em 2011, a avó paterna morreu e, na impossibilidade do já falecido pai do Valtinho receber os espólios da mãe, de quem era filho único, Valtinho Barba foi herdeiro único e direto da velha. Herdou uma propriedade no centro da cidade, um pequeno prédio de três andares com oito apartamentos. Valtinho passou a morar em um deles e a alugar os outros sete. Renda mais que o suficiente para ele levar a vida na flauta. Mas ainda faz uns bicos de vez em quando, me disse. Não perguntei de que tipo. Continuará, vez ou outra, a embelezar defuntos? Terá Valtinho Barba maquiado a sua própria avó, tive vontade de perguntar.
- Como anda essa vida de ateu? - perguntou.
- Acho que da mesma maneira que a vida de quem acredita em deus, uma vez que não faz diferença nenhuma acreditar ou não na hora de pagar as contas.
Valtinho Barba riu. Disse, "acho que você não acredita nem no ateísmo".
Desconfio do ateísmo de ateus feito o Valtinho. Ateus que se apegam à sua descrença e a exaltam como sendo sua melhor qualidade, feito os religiosos o fazem com as suas fés.
Seguindo no assunto que - na visão dele - nos une, Valtinho Barba falou que, com o tempo livre garantido pelos aluguéis da avó, tentou fundar uma organização de ateus aqui em Ribeirão Preto. Aos moldes da ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), da qual é sócio desde a fundação. Uma espécie de franquia, uma subsidiária, uma retransmissora da ATEA aqui na chamada capital da cultura - da monocultura; no passado, a do café; hoje, a da cana-de-açúcar.
Falhou em seu intento. Ribeirão é provinciana demais, um povinho sem educação nem cultura, não tem gente esclarecida o bastante para serem ateus, ele me disse.
Com a primeira parte, que Ribeirão Preto é uma puta duma província de chucros, eu concordo, mas que não haja ateus em número suficiente para uma associação, ou que é necessária certa dose de leitura e ilustração para ser um ateu, eu discordo.
Ateu, nasce. Não se faz, não se converte. Eu já era ateu antes mesmo de ir pra escola, antes de percorrer as primeiras linhas da Caminho Suave. Aliás, foi na escola, aos meus 12 anos, que eu "descobri", que me falaram que eu era ateu. Falaram-me em tom reprovativo e acusatório. Eu gostei. Gostei do termo "ateu". Não o achei tão mau, depreciativo. Se algum desmiolado religioso quisesse chegar perto de conseguir me ofender, teria que caprichar muito mais.
Também divirjo de Valtinho Barba de que não haja ateus em grande número em Ribeirão Preto. Creio que eles existam nas mesmas proporções que em outras grandes cidades. Com certeza, há muitos ateus por aqui.
A questão - e a grande falha no projeto do desocupado Valtinho Barba - é que ateu que é ateu, ateu de nascença, ateu das antigas, não gosta de se reunir em associações, clubes, agremiações, ou qualquer outro tipo de rebanho.
Ateus de verdade não gostam do bando, não gostam do gregário, de congregar, de comungar em torno de um interesse em comum. Se gostássemos, não seríamos ateus, seríamos religiosos. 
Por isso, desconfio muito da autenticidade dessas associações ateístas, desses neoateuzinhos, desses apóstolos de Richard Dawkins (a quem respeito muitíssimo como o grande geneticista que é, mas em nada como o Messias do ateísmo em que se tornou), desses ateus de boutique que acabam por fundar seitas em torno de uma suposta descrença. Destes, tenho certeza, é só questão de tempo até acharem um deus e uma religião que lhes convenham.
Nós, os verdadeiros ateus, somos feito os gatos. Somos seres de hábitos, caminhos e de pensamento independentes, livres. Embora acatemos e nos curvemos, por mera questão de sobrevivência, a ordens e hierarquias, não reconhecemos, de fato, legítimos líderes e lideranças. Olhamos para eles com condescendência, com, nem sempre bem disfarçado, enfado, pois, muitas vezes, deles dependem nossa água fresca e nossa ração na tigela. Só por isso. Gatos não reconhecem machos alfa, beta ou ômega.
Alguém já ouviu dizer de um rebanho de gatos? De uma "matilha" de felinos? Não é possível arrebanhá-los; ou não seriam gatos, seriam gado, ovelhas, andorinhas, patéticos cachorrinhos de madame. O mesmo vale para nós, ateus. Não é possível nos arrebanhar, ou não seríamos ateus, seríamos devotos pagadores de dízimo e papadores de hóstia.
Somos como os gatos. Andamos sozinhos. Sem ninguém para amparar nossos tropeços e nossos tombos - e eles são muitos. Mas caímos sempre de pé. Nunca deitados no divã de algum psicopicareta. Tivemos que aprender desde cedo a cair de pé. Sempre soubemos que não há rede de segurança para nos amparar. Não há deus.
Somos feito os gatos. Cagamos para o mundo. E temos a decência de lamber e de limpar nossos próprios cus. Não creditamos nossas cagadas a ninguém.
Valtinho Barba anotou meu telefone e meu e-mail. Futuramente, combinar uma gelada.

domingo, 21 de julho de 2019

Quando é que vão criar o Smart Human?

Televisão inteligente (smart tv), telefone inteligente (smartphone), aspirador de pó inteligente (Smart HOM-BOT), a casa inteira pode ficar inteligente, virar uma smart house se conectada ao Smart Manager.
E, agora, fiquei sabendo por uma amiga viciada em artigos de papelaria (entre outros vícios) que foi criado o Caderno Inteligente, que, nas palavras dela, nada mais é que um fichário metido a besta e caro pra caralho.
Quando é que vão criar - e urge cada vez mais que ele o seja - o humano inteligente? Para me fazer companhia.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa... (48)

E quem disse que Rei não sofre com fossa? "Regue as plantas na varanda, elas devem lhe dizer, que eu morri todos os anos, quando esperei você". É o Rei.
Abandono
(Roberto Carlos/Erasmo Carlos)
Se voltar não faça espanto, 
Cuide apenas de você
Dê um jeito nessa casa, 

Ela é nada sem você...

Regue as plantas na varanda, 

Elas devem lhe dizer
Que eu morri todos os anos, 

Quando esperei você.

Se voltar não me censure, 

Eu não pude suportar
Nada entendo de abandono, 

Só de amor e de esperar.

Olhe bem pelas vidraças, 

Elas devem lhe mostrar
Os caminhos do horizonte
Onde eu fui lhe procurar
Não repare na desordem, 

Dessa casa quando entrar
Ela diz tudo que eu sinto, 

De tanto lhe esperar.


Para ouvir Abandono, é só clicar aqui, no meu poderoso e melancólico MARRETÃO.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Vade Retro Ré no Quibe

Uma vez ao ano, às vezes nem isso, mas quando sim, geralmente nas férias de julho, lavo minha bolsa de lona cáqui, que carrego a tiracolo com os apetrechos de meu triste e desprestigiado ofício.
Desocupada, lavada e a secar no varal, o seu conteúdo, espalhado por sobre a mesa da sala, estava a atrapalhar a faxina iniciada por minha esposa, também de férias.
Recebi peremptória ordem de dar um jeito àquilo. Aos livros, cadernos e folhas avulsas, fiz-lhes uma gaveta no fundo de uma cadeira, posta com o assento no tampo da mesa e pernas ao ar para permitir a limpeza do piso. Às canetas, vi uma garrafa plástica vazia de água mineral (500 ml) e, com ela, fiz-lhes um estojo improvisado.
Gostei do resultado. Achei-o interessante. Contemplei-o por um momento.
Então, a ficha me caiu : eu tivera uma ideia de um designer de móveis e interiores. Pãããããta que o pariu!!! É o complô internacional para o embichamento planetário tentando pegar o Azarão.
Eu acabara de criar um objeto-conceito, que traz em si, e ao mesmo tempo, a fusão do elemento utilitário com o decorativo; a função mecanicista e pragmática do porta-canetas exercendo também a função artística do adorno.
Eu acabara de conceber uma peça dessas vendidas em modernosas lojas de decoração, tipo Tok & Stok, uma peça dessas expostas em salões de utensílios arrojados e pra frentex. Minha criação só não é mais vanguardista porque poucas coisas são mais antigas do que a expressão "pra frentex". Tanto que só o Jotabê entenderá.
Pra piorar : além do utilitário em união com o artístico, percebi que minha criação também atendia e comungava com as prementes necessidades ambientais do planeta, por se tratar de um exercício de reuso da embalagem. Meu porta-canetas se revelou utilitário, artístico, ecológico e autossustentável.
Pããããããta que o pariu!!! Foi por pura sorte que meu cu não começou a piscar, que minhas pregas não começaram a bater palminhas. 
Mas, por vasta experiência, sei que não posso me fiar na sorte. Olhei fixo para o porta-canetas. Tentei espanar as desmunhecantes ideias da minha cabeça. Concentrei-me em vê-lo como um simples e prático objeto. Um porta-canetas das antigas.
Foi então que, olhando para as canetas encapsuladas na garrafa - as tintas em suas cargas, germens de textos e de poemas à espera de viris reprodutores e de hábeis parteiras que os fecundem e os deem à luz do papel em branco -, ocorreu-me que elas são como óvulos congelados em nitrogênio líquido nos bancos de uma clínica de fertilização. Tanto podem explodir em cores e vida como continuarem ali, inertes, para sempre. Para sempre apenas possibilidades, potenciais.
Então, mais uma vez, a ficha me caiu : eu tivera uma ideia de artista de Bienal.
Uma ponte transgressora entre o prosaico e o acadêmico, a minha obra; entre o aterro sanitário e o vernissage. A desconstrução da água mineral enquanto recurso natural monetizado. A revalorização da caneta como obra de arte em si, como fonte geratriz, não apenas como um vetor, como ferramenta condutora de grandes clássicos. Os bastidores feitos em palco e protagonista.
Pãããããta que o pariu!!!! Embichei de vez!!!
Gostei do porta-canetas improvisado, é bem verdade; mas por via das dúvidas e em prol da integridade de minhas velhas pregas, assim que a bolsa secar, as canetas voltarão para um de seus bolsos internos. De onde nunca deveriam ter saído.
Vade retro ré no quibe!!!

terça-feira, 16 de julho de 2019

Nós Vamos Invadir Sua Praia

Há mais de vinte anos que eu vinha habilmente me safando, até que meus ardis e artifícios se esgotaram e eu me vi, sim, na semana passada, jogado na praia.
Na verdade, não sei se foram meus talentos houdinescos de escape que se extinguiram, ou se a minha disposição para pô-los à prática. Com a idade, perdi a disposição para tudo. Até para me opor em fazer o que não gosto. Dou cada vez menos importância à prevalência ou ao subjugo de minhas vontades e convicções. A testosterona em baixa não mais me premia com doses cavalares de júbilo e euforia ao fim de uma batalha. Tornou-se mais satisfatório, simplesmente, ceder. Fazer, do que brigar para não. É o caminho rumo à entropia. É a podridão, meu velho.
Mas voltando à vaca fria, vi-me jogado na praia e, devo admitir, não foi tão ruim quanto os meus prognósticos. Meus problemas não são exatamente em relação à praia e ao mar. Não me enjoa o balanço e o vaguear hipnótico das ondas. Não me incomoda a areia por entre os dedos dos pés. Gosto de andar descalço, por quilômetros. O que não suporto são o sol e, sobremaneira, gente. Não tolero ficar livremente exposto ao sol por mais de cinco, dez minutos. Aglomerações humanas me afligem, dão-me claustrofobia.
Por que você detesta tanto ficar exposto ao sol?, perguntou-me, há tempos, uma amiga num churrasco da faculdade à beira de uma piscina. Porque ele queima, respondi. E por que detesta tanto gente? Porque vivem me fazendo perguntas deste tipo.
Contudo, como eu disse, foi bem melhor que o esperado. Dentro do cenário e do contexto em que estava inserido, pode-se dizer que tive sorte. E explico.
É inverno no Brasil. Enquanto que, no sul e no sudeste, inverno é sinônimo de baixas temperaturas, no norte e nordeste - para onde fui - significa chuva, muita chuva. Não esfria por lá. Chove.
Choveu em todos os dias em que lá fiquei. Chuvas curtas. Rápidas. Após as quais era perfeitamente possível andar pela praia e entrar na água, sempre morna. A chuva cessava, mas o sol, tirante na terça-feira, não se abria a plena potência. Ficava toldado por oportunas e misericordiosas nuvens. Mantinha-se apenas o mormaço. Assim, um de meus problemas, o sol, foi amenizado e, a reboque, também o outro, gente. Com a ausência do exibicionista astro-rei, um menor número de pessoas acorria às praias.
A experiência mais traumática foi, justamente, a da terça-feira, dia de mais sol e mais gente, na tal Praia do Francês, a maior concentração demográfica de vendedoras ambulantes do planeta, como já retratei no meu homônimo poema-homenagem a este aprazível local.
A mais compensadora, no sábado. Dia com menos sol e menos gente, na Praia do Toque (nada a ver com o famigerado e temido exame), no pequeno povoado de São Miguel dos Milagres, distante quase duas horas da capital Maceió.
Por lá chegamos às nove da manhã. Chovia. Uma chuva que deus Posseidon mandava. Pouco antes das dez horas, a chuva deu trégua, mas durante todo o tempo em que por lá fiquei, até as três da tarde, não surgiu nesga de sol.
Mar calmo. Ideal para crianças e pais paranoicos. Superfície lisa. Sem ondas. Um espelho. Não um verde espelho, uma vez que um tanto quanto embaçado e turvo pela recente chuva. Mas todos os espelhos não são mesmo embaçados para e em quem a presbiopia avança a olhos vistos? Praia plana. Bela pista de caminhada. O melhor : uma boa diversidade de vida a ser observada em suas areias. Animal e vegetal.
Conchas de moluscos de variadas formas, cores e tamanhos. Nenhuma, contudo, exuberante o bastante para se guardar de recordação. As que havia em maior profusão eram as conchas dos búzios. Muitas, mesmo. Pensei em recolher um tanto delas, abrir meu terreiro e me dedicar à divinatória e picareta arte do jogo de búzios. Espanei, logo, a ideia para longe. Ainda ouriços-do-mar com espinhos roxos e caranguejos Maria-Farinha. Até um pequeno caranguejo-ermitão. Este crustáceo não tem lá uma carapaça própria muito resistente, que lhe garanta efetiva proteção. Assim, invade, ocupa e toma posse de conchas vazias de moluscos mortos. Conforme ele vai crescendo, vai se mudando para conchas maiores. Certeza de que este bicho é integrante do MTST, o Movimento dos "Trabalhadores" Sem-Teto. Companheiro de luta do safado do Paulo Boulos.
A atração maior ficou por conta do reino vegetal. Uma ocorrência de espécies de algas rara de se ver em um único local. De três das principais divisões, pardas, verdes e vermelhas. Deu para matar saudade das minhas aulas de Botânica I - Sistemática, dos tempos da faculdade. O povo odiava sistemática. Pura decoreba. Chaves e mais chaves de classificação. Tudo em latim. Na época, eu sabia mais latim que o Papa.
Das algas pardas, as feófitas, o gênero Sargassum; das verdes, as clorófitas, o gênero Caulerpa; das vermelhas, as rodófitas, o gênero Gorgonia; colocadas da esquerda para a direita na foto abaixo.
Depois, ainda achei um belíssimo e viçoso exemplar da famosa alface-do-mar, do gênero  Ulva - Ulva, não vulva. Lavei-a na própria água do mar e a comi, ante os olhos atônitos da minha esposa, que exprimiam um misto de asco e de preocupação de que eu passasse mal e lhe desse mais trabalho que o já de costume. Disse-lhe apenas : ulva, eu como de qualquer jeito.
Mas que porra é essa, Azarão?, poderão protestar os leitores machos das antigas do Marreta. Prefere tirar fotos de plantinhas do que de gostosas? Na verdade, não. Contingências, meus caros, contingências. 
Primeiro que tirar fotos de gostosas me traria sérias - e dispensáveis - aporrinhações conjugais. Segundo que isso de gostosas em praia é pura lenda. História de pescador. Só existem duas praias no mundo onde as gostosas abundam e apeitam : na das novelas da Globo e na da série S.O.S Malibu, peitões das antigas. Fora estas, tudo lenda.
Elas até existem, as gostosas. Porém, escassas e de aparições rarefeitas.
Para cada gostosa, uma procissão de barangas paquidérmicas com bundas, pernas e barrigas que são um combinado de gelatina com queijo suíço.
Para cada gostosa, duas com cicatriz de operação de vesícula, quatro com de apêndicite, três com de cesárea e uma com perna mecânica.
Para cada gostosa, uma excursão da terceira idade repleta de velhinhas coquetes, sacudidas e doidas para rosetar.
Ou seja, não vale a tocaia à espera da gostosa passar.
Vejo mais gostosas no supermercado perto de casa no qual me abasteço do que numa praia. Na sombra e com ar-condicionado. Aliás, para o tal me dirigirei agora. Ainda estou em férias laborais, mas os afazeres domésticos nunca entram em recesso. As obrigações do lar e o almoço de amanhã urgem. Vou lá, comprar uns legumes, uns filés de frango, umas latinhas e ver umas gostosas.
Tem lá uma promotora da marca Vigor, com um uniforme azul e branco, bem colado ao corpo, de acrobata de circo, que fica num balcão servindo torradinhas com requeijão - o tradicional e o cheddar - para velhos babões, que é um espetáculo, ou, como dizia o poetinha Vinicius, uma catedral de mulher.
Pããããããta que o pariu!!!!!

segunda-feira, 15 de julho de 2019

City Tour

Praia, prédios históricos, feiras de artesanato...
Prédios históricos, feiras de artesanato, praia...
Feiras de artesanato, praia, prédios históricos...

No fim,
Nada passa disso :
Areia, poeira de homens e de construções e arte de mau gosto.

Tudo perecível,
Felizmente.

domingo, 14 de julho de 2019

Praia do Francês

                                                                                                                                              O poema do beco
                                                                                               Que importa a paisagem, a Glória, 
                                                                                                     a baía, a linha do horizonte?
                                                                                                        — O que eu vejo é o beco
                                                                                                                (Manuel Bandeira)
Camarão assado e embalado em saco plástico,
Sardinha na brasa,
Chapéus de palha, viseiras,
Capa impermeável para celulares,
Pau de selfie,
Brincos de pena.


Água de coco,
Chinelo de dedo,
Protetor solar,
Colar de conchinhas,
Apanhador de sonhos,
Cangas e miçangas.
 

Milho verde,
Churros e queijo coalho,
Canecas, bonés e camisas de times,
Caipirinha no coco,
No abacaxi
E cerveja - tudo a preço de zona.
 

Acarajé,
Cocada preta e branca,
Picolé de mangaba, graviola e de cachaça,
Camisetas "lembranças de ...",
Saídas de banho de renda,
Tererê,
Tapioca.
 

Conserva de pimenta,
Manteiga de garrafa,
Garrafas com paisagens de coqueiros, veleiros e pôres-do-sol desenhadas em areias coloridas,
Licor de jenipapo,
Castanha-de-caju,
Tatuagem de henna, de fênix, do Bob Esponja, da Nossa Senhora Aparecida. 


Há quem diga
Que consegue ver verdes mares.
Eu só vejo
Um fúnebre desfile carnavalesco de vendedores ambulantes,
Tristes, peles curtidas pelo sol, sorrisos banguelos de dar vontade de chorar. 


Desfilando um samba-enredo atravessado, disritmado, sem nenhuma originalidade
De nossa patética história às avessas:
Índios vendendo, agora, espelhos e outras quinquilharias
Para os descendentes dos europeus.

sábado, 6 de julho de 2019

RECESSO PARLAMENTAR

Há vinte e dois anos que venho me esquivando com sucesso, mas agora se acabaram tanto a minha sorte quanto os meus subterfúgios : vou ter de encarar uma semana na praia.
Não gosto de praia. Nem como paisagem. Nem como fundo de tela de computador. Que dirá, então, como espaço de convívio humano, de interação e de lazer. Não gosto da proximidade dos corpos, da intimidade obrigatória, da promiscuidade forçada, do exibicionismo.
Não gosto de praia. Aliás, nunca entendi o fascínio que o mar exerce sobre o grosso das pessoas, uma imensidão de água, e só. Talvez o fato da vida ter surgido no mar explique um pouco tal atração, talvez a procura inconsciente e atávica pelo velho berço, pelo útero primevo, sei lá. Ou, o mais provável na minha opinião, as pessoas gostam tanto de praia pelo mesmo motivo que gostam tanto de Coca- Cola : publicidade maciça e subliminar. Indiscutível que a praia é item de consumo dos mais desejados.
Prefiro montanhas. Isolamento. Frio. Pessoas vestidas, andando a uma distância civilizada umas das outras. Aquecendo-se cada qual à órbita de seu próprio sol, de sua própria praia com lareira.
Mas a esposa gosta e há tempos que não vai, e o filho não conhece e anseia por.
Então, vamos a la playa! Não digo onde para evitar o assédio dos paparazzi.
Não bastasse, viagem de avião. Com duas ou três escalas no caminho. Me cago de medo de avião. E quanto mais escalas, mais pousos e decolagens, mais possibilidades de extravio de bagagem, mais chances de dar merda, mais eu me cago. Sempre tenho comigo a máxima que garante a "segurança" do avião : é mais pesado que o ar, funciona com motor à explosão e foi inventado por um brasileiro. E querem mesmo que eu fique tranquilo? 
Mas vamos a la playa
Tentarei me divertir. Pelo menos, não atrapalhar a diversão dos outros. Ver quem gostamos se divertindo, não é, per si, uma diversão à parte? Um prazer não egoísta? Só pra variar?
Mas eu não gosto mesmo de praia. Lembro de que, quando eu tinha meus 10, 12 anos, meu pai era sócio do SESC e, por vezes, nas férias de janeiro, íamos a uma colônia de férias em Bertioga. A colônia, além da praia bem em frente, oferecia várias outras atividades, gincanas, salas de jogos, quadras esportivas, uma pequena sala de cinema e até uma biblioteca. Eu pouco via a praia, só sob intimação e coerção paterna/materna. Preferia ficar na biblioteca. Lembro de ter lido Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra e Moby Dick, além da coleção quase completa de Asterix, nessas minhas idas à praia.
Eu ir à praia é a mesma coisa que viado ir à zona. Não temos muito o que fazer por lá.
Ficaremos por lá de sete a catorze do corrente mês. É o recesso do Marreta. Se lá pelos dias quinze, dezesseis, dezessete, eu não der notícias aqui é que o avião caiu.
E não esperem de mim presentes nem lembrancinhas, camisetas com o nome da cidade e aquelas esculturas de aves feitas com conchinhas.
Pãããããããta que o pariu!!!

sexta-feira, 5 de julho de 2019

07 :50 h

Sacada do meu apartamento.
Meu ponto de encontro preferido comigo mesmo.
07:50 h, uma vez que não mais vigor tenho para a exigente e ninfomaníaca madrugada
(a manhã se contenta e se satisfaz com um café passado no coador de pano e com um beijo na testa).
Abro o segundo latão de uma - dizem - puro malte,
Aproveitar da melhor forma que posso o pouco tempo que tenho.
Ainda hoje, passar nos correios, no mercado, na quitanda, na padaria, no banco, pegar filho na escola.

Chega,
No lado oposto da rua à minha sacada,
O dono de uma empresa de vendas, reparos, manutenção e assistência técnica de impressoras para abrir a loja.
É o mundo inteiro a acordar e eu sem sono para voltar a dormir.
Rapaz novo, bem-sucedido
Sempre bem-disposto.
Odeio as pessoas que estão sempre bem-dispostas,
Elas têm sempre algo a esconder.
Tênis da moda, calça jeans da moda, camiseta polo da moda, corte de barba da moda.
Trocou sua caminhonete da moda, seu blindado urbano, por um novo utilitário da moda, um SUV da Jeep.
Branco, capota preta, comprido.
Pegando na rua
As vagas de estacionamento de uns três fuscas.
Entra na loja e volta com um balde de água e sabão e uma flanela.
Fica por vinte ou mais minutos
Só limpando, 
Lustrando,
Acariciando,
Punhetando o seu comprido SUV.

Eu tomando meu terceiro latão,
Ouvindo Edvaldo Santana em meu velho toca-CDs.
Pernas ao alto,
Cruzadas em cima da mesa empoeirada,
Vejo que não tenho limpado sequer os cantos das minhas unhas dos dedões do pé;
Nem lixado meus calcanhares rachados.

Olho para o cara enclausurado na moda,
Olho pro Jeep, brilhante, possante, com computador de bordo, wi-fi, muito mais inteligente do que quem "pensa" que o conduz,
Olho pro cara prestando vassalagem à máquina, ao verniz da por fora bela viola.
E sorrio.

Sorrio em íntima reconfirmação:
Não trocaria
Os acúmulos pretos de sujeira nos cantos dos meus dedões dos pés
Pela vida, pelas posses e pelos poços de ilusões movediças desse cara.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Grimbergen, a Santa Cerveja

A busca pelo Santo Graal? Pela Arca da Aliança? Pelos evangelhos perdidos de Judas e Maria Madalena? Pelo Sagrado Prepúcio do Menino Jesus? Desvendar o terceiro segredo de Fátima? Porra nenhuma!
Que toda essa lenga-lenga religiosa-profética-transcendental-apocalíptica só se presta é a embromar o povão, a manter sempre tementes os leigos nos assuntos do Senhor. Os verdadeiramente iniciados e letrados nos meandros e nas linhas tortas do Criador - sacerdotes e outro clérigos - sabem, e não é de hoje, que há buscas e cruzadas muito mais urgentes e divinas, muito mais caras à causa da humanidade e das suas coisas do espírito.
Há mais de 10 anos, um grupo de quatro monges belgas se dedica a uma messiânica jornada de tradução de fazer corar de vergonha e de inveja o próprio Champollion. Empenham-se em decifrar os apócrifos Manuscritos dos Mar Morto, os devotados monges belgas? Porra nenhuma! Assim como a Inês, o Mar é morto. Já era. Ponto final. Os monges belgas, por suas vezes, bem vivos.
Os abnegados monges conseguiram resgatar, traduzir e reconstituir a receita original da cerveja formulada em 1128 d.C. pelos monges da Abadia de Grimbergen e que, afirmam, foi a precursora de todas as conceituadas cervejas belgas da atualidade.
Os monges, contudo, não trabalharam sozinhos nesta santa tarefa. Tiveram a ajuda de um sem-número de cristãos e desinteressados voluntários, que doaram parte de seu valioso tempo à igreja nesta empreitada arqueológica. Sim, meus caros. Voluntários. Porque se fosse para dar de comer aos que têm fome, para limpar suas chagas e feridas e acolher e agasalhar os seus órfãos, os padres se veriam sem pai nem mãe. Mas para fabricar cerveja, os monges tiveram de distribuir senhas e trabalhar com turnos e escalas. Que o ser humano, verdade incômoda seja dita, só segue os seus próprios desígnios; os de Deus, quando forem coincidentes.
Ainda assim, árduo foi o caminho em busca da cerveja perfeita : “Já tínhamos os livros com as receitas antigas, mas ninguém as conseguia ler. Estava tudo em latim antigo e neerlandês antigo. Então trouxemos voluntários e passámos horas nos livros e descobrimos listas de ingredientes das cervejas produzidas nos séculos passados, os lúpulos usados, o tipo de barris e de garrafas, e até uma lista das cervejas produzidas”, explicou o padre Karel Stautemas.
A cerveja dos monges, que recebeu o mesmo nome do mosteiro, Grimbergen, será produzida e engarrafada em escala industrial pela cervejaria Carlsberg. Porém, para não desagradar aos paladares mais modernos e afrescalhados, não será reproduzida na íntegra de sua receita, sofrerá pequenas modificações : “Não me parece que as pessoas agora gostassem do sabor da cerveja feita na época; a cerveja não tinha grande sabor, era como pão líquido”, explica Marc-Antonie Sochon, perito da Carlsberg responsável pelo fabrico da cerveja medieval. Pão líquido? O meu sem manteiga, por favor.
A cerveja Grimbergen é oferecida em várias versões, a Blonde Belgian, a Rouge, a Ambrée etc. A estrela da abadia, o carro-chefe do mosteiro é a Grimbergen Triple d’Abbaye, com 10,8% de graduação alcoólica e envelhecida por cinco meses em barris de whiskey, à moda do que seja fazia nos anos 1500.
Abaixo, o monge Karel Stautemas, dando uma soberba de uma talagada, com a graça de Deus. Tomando da água que a pomba do Espírito Santo não bebe.

Pondo Pra Quarar

E quem disse que lá o sol não bate?

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Vegana Que Eu Gosto (4)

Pela mais absoluta falta de assunto e, mais ainda, de inspiração, que esta é uma dádiva da juventude, volto com minha sangrenta e malpassada cruzada contra o vegetarianismo/veganismo, que, como bem me disse o Jotabê, que vive com sua linguiça no fumeiro, são o politicamente correto das dietas.
Hoje, no entanto, não me deterei - e nem a vocês - em longas explanações de cunho evolucionista. Hoje, deixarei um outro grande pensador e filósofo falar por mim : o cantor compositor brega Falcão.
Na canção autobiográfica "A cura da homeopatia pelo processo macrobiótico", Falcão nos dá um emocionante testemunho de vida. Conta-nos de sua pouca saúde, de seu debilitado estado de ânimo, de quando era vegetariano - ele vivia triste e encrisiado -  e da transformação sofrida quando passou a se empanturrar de carne - ficou bonito, lindo e joiado, alegre, gordo e corado.
Quem gosta de folha é elefante, coelho, burro e asno! Quem gosta de alpiste e de gergelim é passarinho! Quem gosta de nabo, berinjela, mandioca é veado!

A Cura da Homeopatia pelo Processo Macrobiótico
(Falcão / Tarcísio Matos)
Eu vivia triste, encrisiado
Moribundo, empanzinado
Cheio de peitica e um caé lascado
Vivia destiorado.

Mas não era pra menos, eu só comia
Folha de pau, raíz e vagem
Mel de abelha e gergelim
Arroz integral
Bife de soja, pepaconha
Chá de boldo e própolis.

Mas eu mudei minha alimentação
Graças ao Mané Bofão
E passei a comer seguindo a sua orientação.

Eu mudei minha alimentação
Graças ao Mané Bofão
E passei a comer seguindo a sua orientação.

Panelada, buchada
Sarrabulho, tripa de porco
Fuçura, linguiça, rabada, miúdo
Bife, passarinha, mocotó, carne de lata
Chouriço, tutano, sarapatel, mão de vaca.

Hoje eu estou mudado
Bonito, lindo, joiado
Alegre, gordo e corado
Pareço um artista.

Hoje eu estou mudado
Bonito, lindo, joiado
Alegre, gordo e corado
Pareço um artista.

Para ouvir a música, é só clicar aqui, no meu poderoso e carnudo MARRETÃO

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Vegana Que Eu Gosto (3)

Como foi preanunciado ao fim da postagem Vegana Que Eu Gosto (2), a inclusão da carne nos hábitos alimentares do Homo sapiens não apenas deu mais volume e vigor e pujança ao nosso cérebro, à nossa massa encefálica; trouxe também maior envergadura e potência ao nosso membro viril, à nossa massa fálica, o famoso caralho.
Temos não só o maior cérebro entre os primatas, temos também o maior cacete da categoria.
O gorila tem um pênis com média de três centímetros de comprimento; os chimpanzés, de seis. E você, meu amigo minidotado, reclamando de cueca cheia dos seus dez, onze centímetros. Que ingratidão para com a Mamãe Natureza.
Ressaltei, porém, ainda ao fim da postagem anterior, que não fora o consumo de qualquer carne - mais até o desejo ardente de querer continuar a consumi-la - que nos conferiu uma pica GG em relação aos nossos primos macacos, mas sim o consumo sem moderação de uma carne especial e específica: a carne mijada, a famosa carne de buceta.
Acontece que no processo de evolução, o esqueleto humano passou por várias adaptações que acabaram por nos conferir a nossa postura bípede. Uma dessas adaptações fez com que a pélvis, que é larga, achatada, em forma de bacia e em posição quase que paralela ao solo nos outros primatas, assumisse, nos humanos, uma conformação mais estreita e compacta, para melhor suportar o peso todo sobre apenas duas patas, em forma de taça e com uma angulação de quase 90º com a horizontal.
Nas fêmeas humanas, estas mudanças fizeram com que a entrada da vagina, antes de fácil acesso, sempre exposta e arreganhada, sempre virada para a lua, na postura quadrúpede, fosse para baixo do corpo, em região mais resguardada e recôndita. Só pelo novo posicionamento já não seria qualquer piroquinha que, agora, adentraria fácil o salão de festas. Mas não foi só. A profundidade do canal vaginal também foi drasticamente alterada : quadrúpede, anterior à pélvis, era cova rasa; bípede, posterior à pélvis, profunda gruta. Não seria mais qualquer piroquinha que conseguiria bem depositar o esperma no fundo da vagina e assegurar boas chances de fecundação.
A partir daí, a seleção natural começou a agir. Homens de maiores pênis conseguiam copular mais facilmente do que os de pinto pequeno e, igualmente, suas cópulas tinham uma eficiência maior de fecundação. Os pirocudos deixavam mais descendentes, que, por sua vez, herdavam o material genético bem dotado dos pais e também iriam copular mais e mais eficientemente que os descendentes dos de pinto pequeno, e assim por diante, ad infinitum. Ao longo do tempo, o material genético para rola grande foi sendo selecionado dentro de nossa espécie.
Voltando, agora, à questão inicial - por que os machos humanos são os mais pauzudos de todos os macacos? -, a resposta é simples, clara e evidente : porque a fêmea humana tem, igualmente, o maior bucetão da paróquia. Com a postura bípede e o aprofundamento do canal vaginal, nós, machos humanos, tivemos que correr atrás do prejuízo. Ou era aumentar o pau, ou parar de comer a carne mijada. Ou era aumentar o pau, ou era perder terreno para as zebras, os rinocerontes e os gnus. A carne foi o que nos bem dotou. A carne mijada.
Por isso, amiga vegana/vegetariana (ou amigo vegano/vegetariano, vai saber, né) se você um cacete para chamar de seu aí de seus 15, 16 ou mais centímetros, agradeça ao consumo humano da carne. Ou vai me dizer que o pau do seu macho é feito de quê, de tofu?
Alguns outros teóricos evolucionistas dizem, ainda, que o bipedalismo, ao mesmo tempo em que tornou a vagina em uma região de mais difícil acesso, expôs totalmente o pênis. Antes, o pênis ficava meio que escondido pelas nádegas, pelas pernas, pela barriga; uma vez em pé, passou a só dar ele, ele passou a ser o centro das atenções, todo lá exposto e balouçante. Uma vez visível, o pênis passou a atrair a atenção das fêmeas e se tornou objeto e critério de seleção na hora do acasalamento. As fêmeas eram atraídas pelos pênis maiores e, assim, mais uma vez, a seleção natural atuou no sentido de privilegiar o material genético dos bem dotados. De mais a mais, não dava pra ficar andando lá pelas savanas de nudismo a exibir uma minhoquinha no meio das pernas.
E o bicho cresceu. Cresceu pra caralho. Cresceu tanto que, hoje em dia, na maioria dos homens, ele se tornou em um ser independente, com vontades e caprichos próprios, uma segunda cabeça pensante. Tão emancipado de nós que, por vezes, acaba nos colocando em indevidos lençóis e, consequentemente, em maus lençóis com nossas monogâmicas fêmeas.
Deem-nos um desconto, queridas mulheres, a evolução é um processo lento, ainda estamos nos acostumando aos nossos grandes pênis, ainda estamos aprendendo a dominá-los. Mas ou era isso, a possibilidade de eventuais deslizes, ou era uma piroca de três centímetros.
Deem-nos um desconto, amores de nossas vidas, ou era isso, a eventualidade de fortuitas escorregadelas, ou a piroquinha do Davi, do Michelângelo.
Deem-nos um desconto. E crédito infinito.