quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A Punhetosfera Foi a Mãe da Internet

Tim Berners-Lee é o cacete! Ele que enfie o www no cu! Os punheteiros é quem foram os verdadeiros idealizadores da internet. ARPANET é o caralho! O Pentágono americano que se foda! A Punhetosfera foi o primeiro ambiente virtual do mundo.
Blogosfera é pinto pequeno! A Punhetosfera é a maior realidade virtual criada pelo ser humano! Cyberespaço porra nenhuma. A Punhetosfera é um cyberuniverso. Um cybermultiverso. A Punhetosfera foi a primeira Matrix. Muito antes até do viadão do Platão vir com aquele papinho de sombras na parede da caverna; a mesma caverna onde ele levava os machos dele, e, como estava quase que sempre de costas, ficava olhando as sombras de quem passava fora da caverna, até para não ser pego agasalhando o croquete, dando ré no quibe, empanando a salsicha.
A Punhetosfera surgiu assim que o ser humano se viu dotado pela evolução do polegar oponível ou opositor (imagine tocar uma sem usar o polegar e terá a clareza do que falo). O polegar opositor, garantem os evolucionistas, foi a chave de nosso sucesso como espécie no planeta. Foi ele que nos permitiu manipular objetos e, de posse dessa capacidade, pensar no que fazer com eles, daí o desenvolvimento de nossa inteligência. Todavia, o polegar opositor não nos possibilitou apenas o desenvolvimento de nosso intelecto, ele deu a nós, os machos da espécie, a nossa independência sexual, amorosa e afetiva.
A Punhetosfera foi a primeira realidade virtual do planeta. E ainda é a maior. Até hoje. E sempre será. Milhões e milhões de pessoas pelo mundo não têm acesso à rede mundial de computadores, mas todos os nascidos varões (ou mesmo varinhas) têm acesso ilimitado à Punhetosfera. A não ser que o desgraçado seja maneta.
Não tem que pagar provedor para a Punhetosfera. O sinal não oscila. Não trava. Não cai a conexão. E a velocidade - se discada, banda larga, 10M, 3G, 4G etc - é o usuário quem controla e determina, de acordo com sua necessidade e tempo disponível. Embora alguns gostem de um fio terra durante suas incursões à Punhetosfera, ela  independe de cabos ou de quaisquer outras conexões físicas : a Punhetosfera sempre foi wireless. Desde os primórdios. E não tem limite de downloads. O cara começa a se conectar na Punhetosfera aos 12, 13, 14 anos e aos 80, se ainda estiver vivo, ainda arrisca uma mariquinha, maricota, com a direita e com a canhota.
Repito : assim como a necessidade é a mãe de toda invenção, a Punhetosfera foi a mãe da moderna internet. E explico.
No mundo real, é inegável a supremacia feminina na batalha dos sexos, e digo da boa batalha, daquela em que os dois saem vencedores, do jogo amistoso, da famosa furunfa. É a mulher quem manda, quem escolhe quem vai trepar com ela, e quando, e onde, e de que jeito. No mundo real, é a mulher quem decreta se o intercurso carnal dar-se-á ou não.
E sendo ela, a mulher, a portadora e guardiã da Arca da Aliança, conhecida popularmente como buceta, ela pode ter os seus caprichos, fazer as suas exigências. E como é caprichoso o bicho mulher. Se, por alguma razão, ou só de birra mesmo, ela não for com as fuças do sujeito, fizer buceta doce, e dizer que para o tal não dá de jeito nenhum, o cara pode esquecer, jamais ele irá chafurdar naquela lama.
O duro é que tudo pode ser pretexto para a mulher rejeitar um pretendente : muito feio, muito magro, muito gordo, muito baixo, muito alto, tem espinhas, usa óculos, não tem carro, é CDF, as amigas não gostam dele, tem os dentes tortos, não sabe dançar, é tímido, é ruim de cantada, o signo não combina, o santo não bate, a cartomante garantiu que não é o homem da vida dela, rói as unhas, não deu liga, não tem química, e a pior das desculpas, a que mais fere : porque gosta do cara apenas como amigo. Essa do amigo é foda. 
Já fui posto pra escanteio por todos os pretextos acima. Por um, por outro, por dois ou mais, por todas as combinações, arranjos e permutações possíveis entre eles. Mas a do amigo continua sendo a pior, não tem como argumentar. Na cabeça dela, você é um ser assexuado, ela lhe reduz à condição de um eunuco. E sabe o que é pior? A gente continua sendo amigo dela. 
Teve época em que eu tentava contra-argumentar : sim, sou seu amigo, e você vai dar pra quem, pro seu inimigo? Nunca funcionou. Elas riam, mas não davam a perseguida, nem emprestavam um pouquinho que fosse. Mas até o Super-Homem, o fodão dos fodões, já passou por essa. Numa confraternização de fim de ano na Sala de Justiça, o Homem de Aço passou da conta, exagerou na caipirinha de kryptonita, tomou coragem e chegou junto na Mulher Maravilha, gostosa e peitudíssima. Só para ouvir da Rainha das Amazonas :  - deixa disso, Kal-El, nós somos só superamigos.
Dessa maneira, isso posto, só restou ao homem criar a Punhetosfera, um ambiente em que ele fosse o soberano, o monarca de sua Fortaleza da Solidão. Por isso, se vocês, mulheres cruéis e insensíveis, pensam que o sujeito é um total indefeso ante a vossa rejeição, estão redondamente enganadas. O cara tem as armas dele, as suas defesas, os seus escudos. Por isso, se felizes e jubilosas com a maldade que praticam, pensam que, depois de levar um fora, o cara vai pra casa ficar chorando pelos cantos, chorando por vocês, equivocam-se novamente. Estão pensando pequeno, com vistas apenas ao mundo real, no qual reinam absolutas.
Mas no mundo virtual, a coisa muda de figura, no virtual, mandamos e desmandamos nós, os homens. O cara chega em casa e vai chorar, sim. Mas pela rola. Vai chorar densas lágrimas pela cabeça do caralho. Entra no banheiro, que é sempre o local da casa onde o sinal é mais forte, e conecta-se à Punhetosfera - vinde a mim as bucetinhas é a senha de login. E a de recuperação da conta, em caso de invasão : um cuzinho também, se for possível.
No mundo virtual, na Punhetosfera, a situação se inverte, lá a supremacia é do cabação, do virgem de 40 anos. E não pensem que serão tratadas na Punhetosfera como são no mundo real, com cortesias, com mimos, com gentilezas e galanteios. O cara já chega batendo com o pau na cara de vocês, enfiando tudo na goela, se ainda as tiverem, extrai suas amígdalas com o pau. O cara já chega metendo o cacete em vossos cus doces, a seco. Já chega trazendo a sua melhor amiga para ele comer junto. Pega você pelos cabelos e enfia sua cara na bucetinha de sua amiga enquanto lhe enraba sem dó.
Vocês não imaginam as atrocidades e as barbaridades que um cara rejeitado comete com vocês na Punhetosfera. Soubessem, não negariam uma trepadinha a ninguém. Só para não passarem por essa vergonha. Não tem jeito, mulherada : vocês dando ou não, a gente acaba comendo vocês. Vocês podem se furtar aos nossos abraços e carinhos, mas não podem escapar de nosso polegar opositor.
Foi o que expressou o cabação da foto abaixo, de forma clara, sucinta, precisa e galante.
"Você pode fugir dos meus beijos, ma não das minhas punhetas."
Genial! Perfeito! E diante de tanta sensibilidade, de tanta delicadeza e de tanto lirismo, a mulher vai acabar dando pra ele. Se é que já não deu. Esse cara é o administrador da Punhetosfera!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Receita de Mulher (VII)

Com o recesso do blog e meus atuais desânimos e deprê, tinha me esquecido completamente de dar sequência ao Dodecálogo do Azarão, as doze leis divinas para a mulher moderna e independente arrumar um homem para chamar de seu, uma rola amiga. Eis o oitavo mandamento.
8 - Procura se mostrar sempre feliz - Presenteie-o com um grande sorriso e mostra sinceridade em seu desejo de deixá-lo satisfeito. Sua felicidade é a recompensa pelo esforço diário dele.

domingo, 27 de dezembro de 2015

O Tempo e o Acaso

Excerto do livro "As Filhas Sem Nome", da chinesa Xinran. Recomendo.

 "Os chineses dizem que se o Acaso reúne duas pessoas, mas essas pessoas não têm Tempo, o amor não florescerá. O amor tampouco vingará se as duas pessoas têm Tempo para estarem juntas, porém nenhum afeto em seus corações. O único amor verdadeiro se dá quando Acaso e Tempo estão em harmonia."

E o que controla essa sincronia entre Acaso e Tempo? O Acaso, esse desleixado, esse bon vivant, ou o Tempo, esse burocrata metódico, esse trem alemão? Quanto Tempo o Acaso necessita para ser certeiro em seu alvo, para suas deliciosas e excruciantes tentativas e erros? De quantos Acasos o Tempo precisa para ser preciso, para acertar seus ponteiros, para colocar os amantes no mesmo fuso horário, sob o mesmo despertador e cobertores e rotinas de merda? Dar Tempo ao Tempo? Dar Tempo ao Acaso? Confiar nos Acasos do Tempo? Nos Acasos do Acaso?
Renato Russo : agimos certo sem querer, foi só Tempo que errou.

Bukowski, Pra Baixo

"As fotos das strippers estavam expostas atrás de um vidro junto à porta de entrada. Aproximei-me e comprei um ingresso. A garota no guichê parecia melhor do que as fotos. Naquele momento me restavam 38 centavos. Entrei no teatro escuro equipado com oito fileiras de poltronas. As três primeiras estavam lotadas.
Tive sorte. O filme já havia terminado, e a primeira stripper já estava no palco. Darlene. A primeira geralmente era a pior, uma veterana decadente que não conseguiria, no mais das vezes, nada além de uns números de bailado na segunda linha do coro. Seja como fosse, tínhamos Darlene para a abertura. Era provável que alguma das dançarinas tivesse sido assassinada, ou estivesse menstruada, ou tivesse tido uma crise histérica, explicando assim a nova oportunidade para Darlene de um número solo.
Darlene, no entanto, era boa. Magra, mas peituda. Um corpo que lembrava um salgueiro. Ao fim daquelas costas esguias, no meio daquele corpo magro, brotava um enorme traseiro. Era como um milagre – o suficiente para levar um homem à loucura.
Darlene trajava um vestido negro de veludo, longo e muito justo – suas panturrilhas e pernas pareciam de um branco mortiço contra aquela negrura. Ela dançava e nos olhava com olhos de maquiagem extremamente carregada. Era sua chance. Ela queria retornar – ter novamente o seu número no programa. Eu estava com ela. À medida que o zíper descia, mais e mais do seu corpo ficava à mostra, saltando para fora daquele sofisticado vestido de veludo negro, pernas e carne branca. Logo ela estava apenas com seu sutiã cor-de-rosa e uma tanga cheia de penduricalhos, falsos diamantes que balançavam e reluziam aos seus movimentos.
Darlene seguiu dançando e se agarrou à cortina do palco, que estava puída e coberta por uma grossa camada de pó. Ela se agarrou ao pano, dançando no compasso que o quarteto de músicos impunha e sob a luz rosada dos holofotes.
Começou a trepar com a cortina. A banda acelerou o ritmo. Darlene realmente se entregou para a cortina. As luzes rosadas passaram de súbito a púrpuras. A banda veio com tudo. Ela pareceu chegar ao orgasmo. Sua cabeça se curvou para trás, sua boca se abriu.
Então ela se endireitou e voltou dançando para o centro do palco. De onde eu estava sentado, podia escutá-la cantar para si mesma por sobre a música. Agarrou seu sutiã cor-derosa e o arrancou, enquanto um cara três filas abaixo acendia um cigarro. Agora restava apenas a tanga. Empurrou o dedo contra o umbigo e gemeu.
Darlene seguiu dançando no centro do palco. A banda tocava com mais sutileza. Ela começou a se mexer com doçura. Então o quarteto começou a esquentar a coisa novamente. Os músicos avançavam para o ato culminante; o baterista atacava o aro da caixa lembrando o fogo de uma metralhadora; eles pareciam extenuados, desesperados.
Darlene manipulou seus seios nus, mostrando-os para a gente, seus olhos reluziam com a plenitude do sonho, seus lábios úmidos e entreabertos. De repente, ela se voltou e balançou seu imenso rabo para nós. As contas tremularam e brilharam em um bailado louco e cintilante.
O canhão de luz acompanhava a dança e os movimentos como uma espécie de sol. O quarteto seguia botando para quebrar. Darlene girava e girava. Ela lançou as contas para longe. Eu olhei, eles olharam. Podíamos ver os pêlos de sua buceta através de sua segunda pele. A banda realmente fazia sua bunda vibrar.
E eu não conseguia ficar de pau duro."

sábado, 26 de dezembro de 2015

Pequeno Conto Noturno (59)

Duas e dezessete da madrugada. Rubens na sacada. Queimando fósforos. Um atrás do outro. Para distrair o pensamento. Para se distrair do pensamento. Para deixar que a Insônia, à sua espera na cama de casal, pegue no sono e ele não tenha que de novo trepar com ela. Queima fósforos. Há tempos não tinha uma caixa de fósforos em casa. Não fuma. Não cozinha. Além disso, para a feitura do café, sua última habilidade culinária, a chama do fogão se acende por ignição elétrica. Queima fósforos e bebe. Porque não há nada a se pensar. Ou, pelo menos, porque pensar sobre as coisas não altera em nada a natureza ou o rumo delas.
Enganam-se os dicionaristas quando definem "coisa" como algo inanimado. Coisas têm vontade própria. Queima fósforos. Porque achara a caixinha na rua, na volta do mercado. Queria que o mercado ainda estivesse aberto. Calculara mal o quanto iria precisar de cerveja hoje. E também de fósforos.
Rubens encanta-se com cada inicial explosão da cabeça do fósforo - o barulho, o lume (a iluminação) e a névoa (o obscuro, o mistério) coexistentes, simbiontes -, o lampejo, a beleza e a fugacidade gerados pelo atrito, pelo incômodo, pelo conflito, pelo exaspero entre a cabeça do fósforo e a lixa da caixinha, que é o único lugar em que há o elemento fósforo (P), na cabeça do palito só há pólvora. Não é o fósforo que fosforesce ao som do último blues. São o carvão, o enxofre e o salitre, lacaios da luz, suas buchas de canhão, peões de manobra. O fósforo apenas lhes inspira, lhes traz a informação para a luz, é Lúcifer nas trevas do Céu, do Paraíso dos obedientes e cordeiros a deus, pensa Rubens, que, mais uma vez, percebe que sua tentativa de fuga ao pensamento fora malfadada.
Rubens toma mais um grande gole e risca outro fósforo. Fiat lux! E um novo nanouniverso de fótons, que continuará ad infinitum em expansão, é criado. Fiat Lux! Embora os fósforos sejam da marca Paraná.
Rubens segura o fósforo e deixa o fogo consumi-lo em toda a sua extensão. Deixa que a chama se aproxime o mais possível, ou mesmo lamba as pontas de seus dedos indicador e polegar, mas coloca o palito a queimar na vertical, com a cabeça para cima, assim seus dedos são tocados pela parte inferior da chama, aquela mais azulada, com pouquíssimo calor. Sete anos de uma inconclusa faculdade de Química teriam, afinal, que se prestar àlguma coisa, pondera Rubens. Acende outro fósforo e brinca com o fogo sem se queimar. Brincar com fogo sem se queimar... o passatempo predileto de Rubens, porém, não sua maior especialidade, muito pelo contrário.
Vai à cozinha e volta com uma dose de rum no copo e a garrafa destampada na mão, as cervejas já eram, e o rum, além do que está no copo, só se bastará a uma outra dose. Pensa que sempre gostara de brincar com fogo. Em todas as possíveis interpretações e conotações. Literalmente, inclusive, que é como começa tudo, literalmente, ao pé da letra, só depois é que as coisas se complicam.
Quando criança, muita aprazia a Rubens atear fogo a terrenos baldios, cheios de mato e de lixo, cuja limpeza era negligenciada ou por seus donos, ou pelo eterno descaso da administração pública. Não podia ver um terreno abandonado que a chama da criação lhe dominava, que já planejava a sua limpeza, a sua purificação pelo fogo. Seu modus operandis favorito era pegar uma embalagem plástica - as garrafas verdes de água sanitária eram as melhores -, enfiá-la em um galho de árvore, tacar-lhe fogo e ir andando com ela pelo terreno baldio. Cada gota do plástico derretido que caía criava um pequeno foco de incêndio, cada gota, uma lágrima de estrela cadente, cada gota, uma migalha deixada a marcar o caminho de volta de João e Maria, em uma bela época em que os labirintos não possuíam GPS. Só Minotauros.
A vizinhança reclamava e várias foram as surras que Rubens levara por conta de sua piroidolatria. Mas ver as labaredas dançando, crepitando, se entregando a afogueada orgia, valia cada marca ou vergão de chinelo, ou de cinta, nas pernas e na bunda.
Rubens pega dois palitos de fósforo. Fecha a caixa. Um, ele enfia entre o compartimento dos palitos e a tampa, posiciona-o em ângulo; o outro, ele risca, acende e aproxima lenta e cuidadosamente do outro; assim que a cabeça flamejante toca a outra, transfere-lhe a beleza e a morte rápida; as duas cabeças colam, Rubens larga do fósforo e os dois continuam grudados cabeça a cabeça, feito cachorro engatado em cadela de rua. Os dois vão sendo consumidos, e o que está suspenso, enquanto queima, vai se envergando para cima, uma ereção, até que nada mais resta dos dois.
Rubens pega então quatro palitos. Fecha a caixa. Enfia dois palitos prensados nas laterais da caixa, como se as traves de um gol; encaixa outro entre as traves, o travessão; acende o quarto palito e leva sua chama de encontro às duas cabeças, a do fósforo-travessão e a do fósforo-trave. O incêndio provoca um deslocamento de ar e o palito-travessão é catapultado para longe.
Rubens abre a caixa de fósforo, pega mais três palitos, fecha a caixa. Quebra um palito rente à cabeça e joga o corpo fora. Coloca a cabeça junto à cabeça do outro palito e as enrola fortemente com uma tira de papel laminado. Aperta o papel na parte de baixo e enrola-o na parte de cima, formando uma ponta cônica, um pequeno foguete. Posiciona o foguete entre a tampa da caixa e o compartimento dos palitos, procura posicioná-lo em ângulo de 45º, o que faz o projétil cobrir a maior distância horizontal, segundo as aulas de Física do Colegial. Acende o terceiro fósforo e põe a chama na ogiva, que vai aquecendo até que as duas cabeças dentro do laminado se inflamam e o ar é propelido para trás num silvo e o foguete, a obedecer a 3ª Lei de Newton, para a frente, para o alto e avante, deixando um rastro de fumaça e cheiro de pólvora queimada. Atravessou os limites da sacada - esse foi dos bons, pensa Rubens -, indo pousar no jardim abaixo.
Rubens entorna a garrafa, põe o último suspiro do rum no copo e vira-o de uma vez. Uma espada enferrujada de pirata a lhe varar o esôfago.
Três e doze da madrugada. Rubens veste uma calça, enfia uns trocados no bolso de trás, coloca uma camisa que tira da pilha de roupas sem passar e sai do apartamento em direção a um posto de combustível para comprar mais meia dúzia de latas. Já do lado de fora do apartamento, no meio do segundo lance de escadas, estaca e volta. Entra no apartamento, pega a caixa de fósforo e a enfia no bolso. E sai.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Por Que Evito Festas

Evito festas.
Não só pelas pessoas.
Se esforçando o tempo todo,
Exagerada e artificialmente,
Para parecer que são mais felizes que as outras
Mais bem-sucedidas
Mais bonitas
Mais bem fodidas
Mais fodões
Com os filhos mais inteligentes
Com as TVs de maiores telas
Com os celulares de mais "Gês"
Com os maridos mais cornos
Com as mulheres mais putas.
Elas são péssimas nisso.
Nas duas coisas.
Em serem e em fingirem.
Evito ir a festas.
Não só pelas pessoas
Apesar delas serem 
O que de pior há em uma festa.
É que só existem
Para mim
Dois tipos de festas.
Um que eu odeio
Que me é mesmo insuportável
E que é 99% dos casos.
Outro que eu gosto
Só que gosto demais
Que quero ser o último a sair.
Faço merda em ambas as situações.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Melhor Presente, o Bom Velhinho Guarda Pra Ele

Que nozes, avelãs e castanhas que nada! Perus, chesters e pernis às putas que os pariram! Jingle Bells e o menino Jesus que se fodam! Ouro, incenso e mirra?, que os reis magos os enfiem nos respectivos rabos. Presentes dentro de meias ou embaixo da arvorezinha nevada com estrela na ponta é o caralho. Presente bom não dá embaixo da árvore. Dá em cima do tronco. Atolada até as bolas.
O Bom Velhinho é quem sabe das coisas. Deu folga aos elfos e mandou Rodolfo, a rena do toba vermelho, ir pastar na tundra. Noite feliz, noite feliz...
Carne mijada e cerveja. O que mais um cristão pode querer na noite de Natal?

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Escala Kinsey : A Escala Richter Para Tremores e Abalos das Pregas

O ser humano a tudo mensura, quantifica, gradua, classifica numericamente, tabela, organiza em escalas comparativas. Há as escalas termométricas, a de pH, a diatônica, a logarítmica, a cromática etc.
Há, inclusive, a temível escala Richter, que atribui um número que quantifica o nível de energia liberado por um sismo, um terremoto, medido a partir de seu epicentro; a escala Richter também é conhecida com Escala de Magnitude Local.
O que eu não sabia - vivendo e aprendendo, e nem sempre o que presta, o que é útil, aliás, na maioria das vezes - é que existe uma escala Richter para tremores anais, para abalos sísmicos do brioco, para o tremelique das pregas, para o tesão na argola.
É a escala Kinsey, que bem poderia também ser conhecida, aos moldes da Richter, como Escala de Magnitude Anal. A escala vai de zero (os machos de respeito, aqueles que as pregas se negam a abrir até para a passagem da merda) a seis (aqueles que têm dó do pau, que não querem gastá-lo, e aí dão a bunda).
Os níveis de energia liberados por um tremor anal, a exemplo da escala Richter, são medidos também a partir de seu epicentro, ou seja, a partir do olho do cu, da prega-mestra.
Abaixo, a Escala Kinsey de Magnitude Anal. O marco zero da escala é o cu de macho, tremor zero, que cu de macho não pisca, nem se entrar um cisco; aliás, em cu de macho, nem cisco, por menor que seja, entra, é o marco zero da escala Kinsey; no extremo seis, as bichonas de profissão e de fé, as pregas que se agitam mais que asa de beija-flor, ops, de colibri.
NívelDescrição
0Exclusivamente heterossexual
1Predominantemente heterossexual, apenas eventualmente homossexual
2Predominantemente heterossexual, embora homossexual com frequência
3Bissexual
4Predominantemente homossexual, embora heterossexual com frequência
5Predominantemente homossexual, apenas eventualmente heterossexual
6Exclusivamente homossexual
XAssexual
O que seria "eventualmente" homossexual? Qual a diferença de "frequentemente" homossexual? Eventualmente também não revela uma certa frequência? E tem também bichona que dá uma de macho de vez em quando? Macho enrustido, com vergonha de sair do armário? Imaginem, nos dias de hoje, a decepção dos pais : o filho reúne a família e, em baixo e pesaroso tom, comunica que gosta de buceta, que o negócio dele é mulher, que bem que tentou ser gay, que bem que se esforçou para se comportar de acordo com o que a sociedade esperava dele, mas que não conseguirá esconder por mais tempo, que está infeliz, e pede que a família o apoie em sua opção sexual. A tabela mais gera dúvidas do que as esclarece.
Buscando bem informar meus leitores GLS, fui em busca de uma escala com melhores definições e achei essa outra, adaptada à bandeira do arco-íris.
Aí é que a coisa fodeu de vez! Homo incidental? Por acidente? Por imprevisto? O cara saiu à noite e previu que conseguiria uma buceta pra fuder, porém, um imprevisto ocorreu, não conseguiu nenhuma xavasca, aí foi e deu o cu? Ou, o cara tava andando de volta pra casa, meio bêbado, tropeçou e, por acidente, caiu sentado e pelado em cima de um pau duro, que estava justamente ali, fazendo sabe-se lá o quê?
Recorro, pois, à minha consultoria de leitores GLS. Meu caro ex-boiola, que tanto abrilhanta o blog com seus dúbios comentários, explique-nos essa escala de gradação.
E você, meu grande e velho amigo Margá, companheiro fiel das festas da época da faculdade, nas quais eu sempre tentei introduzi-lo, sem sucesso, na bela arte e no nobre esporte da buceta, em que faixa da escala você se encontra? Como bom exagerado que é, aposto que você estourou a escala. E as pregas também, claro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Perus, Leitões, Chesters e Outros Cadáveres de Fim de Ano. Ou : Música, Rojões, Fogueiras, Espumantes e Outras Celebrações dos Idiotas

O ano não foi bom nem ruim
O próximo não será pior nem melhor.
Não será
Não foi
Não é.
Não há ano
Não há Tempo.
Há uma continuidade não-linear
À qual o ser humano decidiu chamar de Tempo
E a tentativa de dividi-la
Compartimentá-la
Encaixotá-la
Agrilhoá-la
Em segundos, minutos, horas, séculos
E pô-la a correr em retos trilhos de trem,
Para que sinta que ele está ao leme e ao timão dessa continuidade
Que bem a navega
E conhece suas rotas,
Para não querer ver
Que ele é apenas um troço de merda
Cagado do cu de algum deus
(tantos são criados)
E ejetados no esgoto
(isso é verdadeiramente o Tempo)
Olimpo abaixo.
Não há Tempo
E agora é tempo das confraternizações
Das reuniões do bando em volta das fogueiras,
Assar a carne de animais
Que nenhum dos frouxos ali caçou
Carne indigna
Hienas comedoras de carniça fresca.
tempo de dançar em volta do fogo
Celebrar a colheita maldita
A safra estéril
O fruto podre no pé.
tempo de tocar os tambores, batucar os tantãs
E encher a cara
Pelas metas atingidas
Pelo dever cumprido
(e pouco importa se são inúteis) :
Beber pelos fracassos coletivos
Pelas inabilidade e pela incompetência corporativa.
Erguer taças e vivas e hurras
Pelo décimo terceiro
Pela cesta de Natal
Pelos fogos, pela Cidra Cereser do reveillon
Pela certeza do pau do chefe cravado em seus cus.
Eu não confraternizo.
Se asso alguma carne
É a dos peixes cintilantes e transparentes
Pescados de minhas fossas abissais
De minhas depressões,
É a dos pássaros azuis aprisionados 
Nesse alçapão que sou eu.
Se bebo,
Bebo por nada.
E se danço
É em torno de meu próprio umbigo,
Da fogueira mortiça
De minha alma extinta.

domingo, 13 de dezembro de 2015

O Sagrado e o Profano

O profano, é claro, é o crucifixo.

Receita de Mulher (VI)

O sétimo mandamento do Dodecálogo do Azarão.
7 - Faça Silêncio - Na hora da chegada dele, desligue a lavadora, secadora e aspirador e cuida para que as crianças fiquem caladas. Pensa em todo o ruído que ele teve que suportar durante seu pesado dia no escritório.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (21)

O Diabo é pai do rock! O pai biológico do rock. Mas é pai canalha e desnaturado. Abandona suas crias ao deus-dará. O Diabo é o pai do rock. Mas o sobrenome de registro do rock é Seixas. Raul Seixas adotou o pequeno rebento. E pai é quem cria. Raul é o pai de fato do rock.
Raul Seixas foi e ainda é o cara do rock no Brasil. Raul é rocker, é contestador, é mosca na sopa, é irônico, cáustico e sardônico. E macho pra caralho!
Mas nem todos esses atributos foram capazes de proteger o Maluco Beleza do bom e velho chifre. Raul também já levou suas galhas. O chifre é eclético. Não faz distinções nem tem preferências de credo, raça, cor, classe social ou gênero musical. O chifre é uma entidade espiritual, um encosto. Vaga à toa por aí e pode encarnar em qualquer um. E dá o que fazer pra tirar o encosto. Só mesmo indo na Universal do Reino de Deus.
A canção Babilina é o desabafo do cara que é casado com uma puta de zona. "Oh, Babilina, Babilina, sai desse bordel." Pede um Raul injuriado."É dentro de casa que eu te quero meu amor, larga desse emprego, baby, por favor."
Pois é. Raul Seixas já teve seus dias de Odair José.
Toca Raul! Se toca, Raul!
Babilina
(Raul Seixas)
Babilina babilina
saia do bordel
Oh babilina babilina
sai desse bordel

Eu quero exclusividade do teu amor
Cutis cubidu-bilina por favor!
Eu tava seco a muito tempo quando eu lhe conheci, 
Provei do seu chamego e nunca mais me esqueci
A noite cê trabalha diz que é pra me sustentar, 
Passa o dia exausta que nem pode me olhar
É dentro de casa que eu te quero meu amor, 
Larga desse emprego baby por favor

Babilina babilina
saia do bordel
Oh babilina babilina
sai desse bordel
Eu quero exclusividade do teu amor
Cutis cubidu-bilina por favor!

Quando cê chega com a bolsa entupida de tutu
Imagino quanta gente se deu bem no meu baú
Você me garante que não sente nada não
E que só comigo você tem satisfação
É dentro de casa que eu te quero meu amor, 
Larga desse emprego baby por favor

Babilina babilina
sai desse bordel
Oh babilina babilina
larga desse bordel minha filha

Eu quero exclusividade do teu amor
Cutis cubidu-bilina por favor!

She is my girl, and i love her so
I sad Cutis-cubidu-bilina go girl go!

Receita de Mulher (V)

O sexto mandamento do Dodecálogo do Azarão. Que nem só de cuidar do marido vive a mulher. Há também os filhos. Que devem estar prontos e arrumados à chegada do pai. Janta e banho dados. A recebê-lo sorridentes e prestativos.

Telas de Proteção

Tenho uma sacada grande
Ampla e ancha
Um pequeno latifúndio
Onde caberiam e vicejariam
Felizes
Orquídeas
Samambaias e avencas
Crisântemos roxos que descoram
Rosas que falam
Suculentas
Cebolinhas e manjericões
Mas na qual eu prefiro
Cultivar o vazio
O árido do ócio e do pensamento.
Uma sacada abraçada
Com o abraço de tamanduá
De uma tela de polietileno
Que permite a paisagem
Mas não o pé no asfalto
Na noite
Não o necessário sangue a escorrer do nariz.
Tenho duas gatas
Castradas
Telas de polietileno em seus cios.
Muitas vezes
Ficamos
Eu e elas
A olhar através de nossas telas
(nossos confortos e nossas Alcatrazes).
Eu ainda me conforto
Me consolo
Me acomodo
Me convenço
Quase que me venço
Depois de uma meia dúzia de latões.
E as minhas gatas?
Com que tarja preta serenam seu sono?
Com que chá?
Com que resignação?
Com que sonho de mil gatos?

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Para o Planalto, Tiririca! Porque Pior Que Tá Não Fica!

Caso a nossa indigníssima presidanta seja impedida e escorraçada do Planalto, caso o PT desça a rampa do Planalto enxotado feito o cão sarnento que é, a linha sucessória presidencial será acionada; com toda a certeza, a hierarquia política mais podre de todo o planeta.
O sucessor natural e imediato é o vice Michel Temer, mas vá que as investigações derivadas do processo de impeachment comprovem que o dinheiro da roubalheira da Petrobrás engordou o caixa da campanha Dilma Rousseff/Michel Temer. Nesse caso, Dilma e Temer ficariam impedidos.
Na sequência, a faixa presidencial seria abiscoitada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que, por sua vez, está sob investigação da Operação Lava Jato, o que invalidaria seu nome para o mais alto cargo da República.
A batata quente, em seguida, iria para o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que, por razão idêntica à de Calheiros, também não poderia assumir a Presidência da República.
Em quarto lugar no pódio da sucessão, viria o deputado federal mais votado das últimas eleições, Celso Russomano, condenado por peculato em 28/11/2015, o que também o inviabilizaria para o cargo.
E, finalmente, ultrapassando todos os outros e cruzando a linha de chegada na condição de o maior azarão de todos os tempos, o segundo deputado federal mais votado : ele, senhoras e senhores, ninguém mais ninguém menos que ele, Francisco Everardo Oliveira da Silva, o abestado Tiririca. Que, de todos, é o único honesto, o único contra o qual não pesa nenhum processo ou investigação. E, portanto, apto a ser o próximo Presidente da República.
No Brasil, o palhaço é o mais sério e confiável dos políticos.
E o palhaço, o que é? É ladrão de mulher!
De mulher, pode ser; mas, pelo menos, não de dinheiro público.
É Tiririca no Planalto. Pior que tá não fica!

Receita de Mulher (IV)

Eis o quinto mandamento do Dodecálogo do Azarão.
5 - Faça com que ele se sinta no paraíso. Durante os meses mais frios do ano, você deve preparar a lareira antes da chegada dele. Seu marido sentirá que chegou a um paraíso de descanso e de ordem. Isto levantará não só o ânimo dele, mas o seu também. Depois de tudo, cuidar da comodidade dele lhe brindará com uma enorme satisfação pessoal.

Café de Um Futuro Esquecido

O café ensolarado,
O sonho dos grãos cremados jovens e vivos
Erguem volutas
Promessas
E miragens entre eles.

O clima,
Ameno,
O sol de raios cordiais
Como que passados
Por velho coador de pano.

Há um enigma de lavanda
A ser adivinhado no ar.
Mesmo sem único canteiro
Ou solitário vaso de espigas roxas por perto
Mesmo sem um pedaço da Lua
Nem mesmo perfume francês
Nem mesmo desinfetante de banheiro.

Talvez da memóra
Ou do desejo de se ter uma memória.
Memória criada
De uma outra Atlântida
De um café de um futuro esquecido.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Receita de Mulher (III)

Eu, o Azarão, atendendo a um chamado divino, subi o monte, o Monte de Vênus. Lá no cume, Deus me legou os doze mandamentos e me deu a missão de propagá-los em seu Nome. Os doze preceitos que entrarão para a história como O Dodecálogo do Azarão. O Estatuto do Matrimônimo Duradouro e Feliz. As Leis de Diretrizes e Bases para que vocês, mulheres, consigam um macho para chamarem de seu, para conseguirem a sua rola cativa.
E, em verdade, vos apresento o quarto mandamento do Dodecálogo do Azarão.
4 - Arrume sua casa - Ela deve ter uma aparência impecável. Faça uma última vistoria pelas principais dependências da casa, antes que seu marido chegue. Levante livros de escola, brinquedos etc. E limpe-os com um espanador. 

sábado, 5 de dezembro de 2015

O Nunca e o Sempre

O Nunca,
Às vezes,
Falha;
O Sempre,
sempre.

Receita de Mulher (II)

Mais um capítulo do manual prático para conseguir um bom marido. Mais  um mandamento para recuperarem a delicadeza perdida. Não precisam agradecer, meninas. O que é que eu não faço por vocês?
3 - Esteja fresca e interessante - O chato dia de trabalho dele necessita melhorar. Você deve fazer todo o possível nesse sentido. Uma de suas obrigações é distrai-lo. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Por Que Que Você Nunca Fica de Castigo, Pai?

Quando vou ao supermercado nos fins de semana, levo meu filho junto. E moleque de 6 anos é moleque de 6 anos. Moleque de 6 anos em supermercado é igual a macaco em loja de louças. Perigosíssimo. Para a loja e para ele mesmo.
Mas também o mercado provoca. Para adultos, o mercado é só um mercado, um local de abastecimento de nossos víveres básicos. Para a criança, aquilo é um caleidoscópio de estímulos. Visuais, sonoros, olfativos, táteis e gustativos. Uma psicodelia. As prateleiras, verdadeiras babéis de logomarcas, que já são gigantescas às vistas de um adulto, tornam-se em vertiginosos Everests para uma criança com pouco mais de um metro de altura. Um Everest estroboscópico de cores.
Moleque fuça em tudo. Exigem um puta trabalho de vigilância dos pais. E de educação, também. A não ser aquelas crianças - e tenho visto cada vez mais desses tristes casos - cujos pais lhes põem um celular ou um tablet nas pequenas mãos. Essas não dão o menor trabalho. Não mexem em nada. Não veem nada. Não escutam nada. Comportam-se como autistas. Seguem os pais feito poodles amestrados; pior, feito pequenos autômatos idiotizados. O frango congelado no carrinho de compras dá mais sinais de vida que essas crianças. E do que seus pais, também. Tablets e smartphones são os tarjas pretas que não precisam de receita médica. Na França e na Bélgica, é crime previsto em lei dar uma merda dessa para crianças menores de 5 anos.
Aliás, é essa a mesma laia de pai e mãe que leva a criança a um psiquiatra para que lhe sejam prescritos "remédios" para déficit de atenção, para hiperatividade e outras invencionices da indústria farmacêutica aliada à máfia dos divãs. "Remédios" para a energia excedente e sobrenadante própria de uma criança saudável; "remédios" para a alegria e para a peraltice, que é a melhor forma de descobrir o mundo ao seu redor; "remédios", enfim, para curar a criança de sua infância. 
Dopar a criança para que não tenham o trabalho, eles, os pais, de bem educá-la, para que não tenham o trabalho de ser pais. Para que possam, um na TV da sala, ver o futebol e o outro, na do quarto, acompanhar a novela. Ou ficar cada um, em seus smartphones e facebooks, a tramar putarias e pequenas infidelidades.
Moleque fuça em tudo. É normal. E o meu fuça em algumas coisas bem interessantes, incomuns. Não é de mexer nas prateleiras, mas, se eu me descuido por poucos segundos, ele realiza pequenos atos de sabotagem. Adora desligar aquelas geladeiras que guardam refrigerantes e cervejas; se bobeio, ele as desliga, quantas puder, num botão colocado ao rés do chão. Se o caixa ao lado do que passamos está sem funcionário, ele se abaixa e aperta o botão de reset do terminal do computador colocado ao chão; já deu reset num monte.
Moleque fuça em tudo. É normal. É saudável. O que não significa que não devam ser coibidos, corrigidos, censurados, repreendidos, educados, enfim. E eu, sim, coíbo, corrijo, censuro e repreendo. Tentando me manter no tênue limite, na corda bamba entre não deixar que ele cause algum dano ou que atrapalhe as demais pessoas e que eu, por excessivas proibições, destrua a sua curiosidade.
Dia desses, porém, ou ele estava mais encapetado que o de costume, ou eu estava com a paciência mais curta, ou ambas as coisas, e eu acabei por lhe aplicar um castigo. Peguei um daqueles grandes carrinhos de compras e o coloquei dentro, "engaiolei-o", enquanto fazia as compras. Foi em um dia em que tive que comprar uma quantidade de itens maior que o normal e lembrar de tudo e correr atrás de moleque ao mesmo tempo é foda. Não faço lista de compras. Memorizo tudo antes de sair de casa. Divido as compras por setores em meu cérebro. Isso de fazer listinha de compras no papel, ou, pior e imperdoável, no celular é para frouxos, para voluntários ao Alzheimer.
Ele ficou o tempo todo lá, engaiolado no carrinho. Inclusive, durante a longa espera na fila do caixa. Todas aquelas tentações passando aos seus olhos e ele sem poder tocá-las.
Na saída do mercado, ele me disse que não gostara de ficar de castigo. Eu respondi que castigo é para não gostar mesmo, que não seria castigo se ele gostasse. Castigo é isso mesmo, disse a ele, é não poder fazer coisas de que a gente gosta.
- E por que que você nunca fica de castigo, pai? -, perguntou-me.
Pergunta de criança nunca é simples.
Por que que você nunca fica de castigo, pai? Pensei um pouco, respirei fundo e, quase que num suspiro, respondi a ele:
- Você é que pensa, meu filho... você é que pensa.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Receita de Mulher (I)

Vinicius de Moraes, sem papas na língua, órgão que, juntamente com os dedos, autodeclarou ter lhe sido de inestimável valia, logo no início de seu poema Receita de Mulher, manda na lata : As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental.
Claro que o Poetinha, safado e mulherengo que só ele, numa primeira instância, refere-se à beleza física de fato, a das belas e bem fornidas formas, a das curvas e dos entroncamentos, a das protuberâncias e dos recôncavos femininos. Mas sendo poeta, e incapaz de se livrar de tal sina, nas entrelinhas do poema, ele pode muito bem estar a versar sobre a beleza metafórica do sexo frágil. Diria mesmo a beleza metafísica. A beleza inerente ao simples fato de se ter  nascido mulher. A beleza intrínseca e intransferível das habilidades, dotes e atributos de quem nasce mulher - a delicadeza, a sutileza, a sensibilidade, o esmero para consigo mesma e para com os outros, o gostar de cuidar, de aconchegar, de aninhar.
Em suma, a beleza e os encantos das prendas femininas, a quintessência da fêmea, a ser sempre guardada e preservada e mantida em perene estado de maturação em adega subterrânea, feito vinho raro de safra especial. A mulher nem precisa ser uma Afrodite. Se ela bem exercitar as suas prendas - e, lógico, tiver um bom "saculejo" -, o cara se apaixona da mesma maneira.
Acontece que, de uns tempos para cá, a expressão mulher prendada foi tornada em pejorativa. Virou sinônimo de mulher submissa, de Amélia, passou a ser rejeitada, a ser vista como um câncer pelas mulheres modernas e independentes.
Grande equívoco, meninas, essa confusão entre prendada e subserviente. E com sérias consequências para vocês mesmas, como direi mais a seguir. Um verdadeiro tiro no pé.
Equívoco propositalmente induzido pelas alas mais azedas, encruadas, recalcadas e rançosas do feminismo. As suvacudas que queimam sutiãs. Que apregoam que homens e mulheres são iguais. E tem uma mulherada burra que cai nessa esparrela, nessa conversa para boi dormir, e vai, aos poucos, se despojando de sua feminilidade, de suas prendas, de seus encantos. 
Homens e mulheres não são iguais, meninas! Ainda bem! Adoramos as nossas nada sutis diferenças. Homens e mulheres têm, sim, têm que ter, é indiscutível, direitos constitucionais iguais. E deveres, idem. Mas não são iguais. Isso é 171 de feminista sapatão que quer tornar homens e mulheres em inimigos. Para que lhes sobrem mais bucetinhas.
Toda essa minha lenga-lenga porque trabalho em ambiente predominantemente feminino. Muitas dessas mulheres com que convivo encontram-se na faixa etária compreendida entre o pós-balzaquiano e o pré-sucateamento. Ou seja, estão entre os 37, 38 anos e os 50, 50 e poucos. Ainda apetecíveis. Ainda dando um bom caldo. Muitas dessas são descasadas, ou estão avulsas, como preferem dizer. E a reclamação é geral e unânime entre elas : tá faltando homem na praça. Até que não é tão difícil encontrar um cara para dar uma metidinha casual, garantem elas. Porém, um cara para um compromisso mais sério, um cara que as assuma como companheiras, enfim, um homem para chamarem de seu, é artigo cada vez mais raro e arisco. Os homens, sobretudo na mencionada faixa etária, não querem se comprometer com elas.
Pois tenho duas notícias para vocês, meninas : uma boa e uma ruim.
Primeiro, a ruim. A culpa por grande parte dessa "covardia" masculina, por esse descompromisso do macho,  cabe, única e exclusivamente, a vocês, meninas.
Ouvi, um dia desses, um desses humoristas do stand-up brasileiro dizer que o homem não gosta de mulher, ele gosta é de algo que só a mulher tem, a buceta. Seguiu dizendo que, se o homem tivesse buceta, o cara se casava com o melhor amigo. Sei não. Eu não me casaria com meu amigo Fernandão caso ele tivesse uma buceta. De jeito nenhum. Se ainda ele tivesse também um grande par de peitos, uns bons melões, já dava pra considerar a questão.
Claro que é uma piada de stand-up, em que uma observação do cotidiano é elevada ao nível do absurdo, do surreal, para fazer rir. Mas que, se pensarmos bem, tem lá seu fundo de realidade. Se não estão os homens a adquirir xavascas, por outro lado e de certo modo, as mulheres estão se transformando em meros homens com bucetas. Estão se desfazendo, propositalmente, de caso pensado, de sua feminilidade, de suas preciosas e já mencionadas prendas. Estão a se tornar, em comportamento e atitudes, homens com rachas no lugar do pau e do saco.
São as ditas mulheres modernas e independentes. Que estudaram. Que têm diploma de ensino superior. Que têm bons empregos e neles são bem-sucedidas. As mulheres, hoje, e ainda bem, são financeiramente independentes do homem. E digo que é assim que tem de ser. Cada vez mais. Quero que minha mulher ganhe cada vez melhor que eu (ela já ganha). Até porque,  na eventualidade de um rompimento, quem vai pedir pensão sou eu.
Só que muitas de vocês, meninas, confundem independência financeira com total desobrigação para com os afazeres de suas vidas particulares. Ser independente é uma coisa; ser desobrigada, descompromissada, desleixada etc, é outra. E totalmente diferente.
Muitas de vocês, meninas, consideram humilhante a realização de qualquer serviço doméstico. Ter uma rotina caseira de lavar uma louça, fazer uma faxina, passar uma roupa, entre outras atribulações, é, às suas vistas de homens com xanas, aviltante, degradante. Não foi para isso que vocês estudaram. Não foi para isso que vocês se formaram. E notem que eu digo de realizarem tarefas de manutenção e organização de suas próprias casas, de seus próprios lares, de afofarem o próprio ninho.
E como a casa não se autogere, o que vocês fazem, meninas? Pagam para que outras mulheres executem as tarefas que vocês consideram degradante que uma mulher como vocês realizem - uma faxineira, diarista, doméstica, chamem do que quiserem, dourem a pílula como melhor lhes convier.
Pãããããta que o pariu!!! E, depois, eu é quem sou o machista!!!
Cuidar da própria casa, cuidar dos filhos (e lhes cobrar o devido respeito em troca), cuidar um pouco do marido (e exigir que também por ele seja cuidada), não tem nada de desonroso, de servil. Tem é de privilégio. Essa semana mesmo, no programa Papo de Segunda, exibido pela GNT, foi relatada uma pesquisa feita com homens e mulheres, na qual 73% dos entrevistados, de ambos os sexos, concordaram que uma justa e igualitária divisão das tarefas domésticas evitaria muitas crises em um casamento.
Então, pensem bem, meninas, por que um homem se ligaria afetivamente a mulher não prendada, a uma mulher que escolheu deliberadamente não ser prendada? Por que assumiria um compromisso estável com uma mulher que mimetiza as piores características de muitos homens? Por que se casaria com uma mulher sem qualidades femininas? Com um homem com buceta? Só para curtir uma TPM? De jeito nenhum. Eles correm, Lola, eles correm. Nós gostamos de buceta, sim, e muito lhes agradecemos por elas. Mas também gostamos, e muito, ao contrário do que diz o comediante de stand-up, de mulher.
E  homem é o bicho mais fácil de agradar. Surpreenda-o, nem que seja uma vez por semana, com a cerveja já gelada a lhe esperar no refrigerador, prepare para ele uns petiscos, uns tira-gostos, assista com ele, nem que seja esporadicamente, a um jogo do time dele, dê o cuzinho para ele de vez em quando, uma vez por mês etc etc. E essa é a notícia ruim, meninas, a culpa da escassez masculina é de vocês, é consequência da também cada vez mais rara feminilidade. 
A notícia boa, por fim, é que eu, o Azarão, estou aqui para ajudá-las no resgate das prendas perdidas. Sigam as minhas instruções, meninas! E logo terão capturado uma rola para chamarem só de sua! Na verdade, não são orientações minhas, são conselhos de uma revista feminina (argentina se não me engano) publicada na década de 1950, e que o Azarão, gentilmente e preocupado com a seca em que vocês se encontram, irá publicar e compartilhar com vocês aqui no Marreta. Publicarei os conselhos de forma homeopática, um a cada postagem, com o título Receita de Mulher. São doze dicas infalíveis. Um verdadeiro manual do lar feliz. São dicas curtas, escritas em linguagem de fácil entendimento. E o que é melhor, mulherada : são ilustradas com desenhos. Não tem como não entender.
Nessa primeira Receita de Mulher, excepcionalmente, publicarei duas dicas, feito quando uma editora lança uma coleção de fascículos, o primeiro sempre vem com dois.
1- Jantar Pronto. Planeje com antecedência um delicioso jantar para sua chegada. Esta é uma forma dele saber que você esteve a pensar nele e que se preocupa com suas necessidades. A maioria dos homens estão famintos quando chegam em casa.
2- Esteja Linda. Descanse 5 minutos antes de sua chegada para que ele lhe encontre fresca e reluzente. Retoque sua maquiagem, ponha uma tiara em seu cabelo e fique o melhor possível para ele. Lembre-se que ele teve um dia duro e só lidou com companheiros de trabalho.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Fingidor? Sempre. Mentiroso? Só Se Por Descuido. Só Se Sem Intenção.

O poeta é um fingidor.
Quem sou eu para discordar do Pessoa?
Aliás, quem é qualquer um para discordar do Pessoa?
Aliás (2), quem é a humanidade para discordar do Pessoa?
O poeta é um fingidor.
O que é, porém,
(Enganam-se os pseudointelectuais afeminados frequentadores de saraus)
Muito distinto
E anos-luz longínquo
De ser um mentiroso.
O poeta é um ilusionista;
Antes ainda
Um iluso.
Um charlatão que tem por café da manhã
A poção inócua que vende em sua carroça de cidade em cidade.
O poeta é o prestidigitador
Que crê mesmo que sua cartola
É uma manjedoura de coelhos,
Que acredita no fundo falso.
O poeta é o fundo falso!
O poeta não é um pintor de realidades,
De naturezas mortas,
É um restaurador de quadros vivos.
E nem por isso
Menos canalha.