domingo, 29 de setembro de 2019

Um Filme do Cacildis!!!

As Escalas Termométricas de Nosso Analfabetismo

Comecei minha vida escolar no ano de 1974, sob os auspícios do governo Ernesto Geisel. Tempos de retrato de presidente a encimar os quadros-negros. De carteiras escolares de madeira aparafusadas ao chão. De disciplina, respeito à hierarquia e seriedade. De quando escola era escola.
Ingressei no antigo grupo escolar. Durante os meus 1º e 2º anos do grupo, tive meu aprendizado e meu rendimento escolar abalizados numa escala de notas de 0 a 100. Um 85 já nos era motivo de vergonha e de esconder a prova dos pais. Tenho uma amiga, professora de português, que, embora ela negue veementemente, eu  tenho certeza, é do tempo da nota dada em algarismos romanos.
A partir do 3º ano - já transformado em 3ª série -, porém e desgraçadamente, começou, eu vejo hoje, o desmonte programado do ensino, o desmanche proposital dos valores morais e acadêmicos. Tinha começado a farra peidagógica, a libertinagem dos peidagogos. E o estupro das mentes das gerações vindouras.
Foi-nos comunicado, e aos nossos pais, que, doravante, nosso aprendizado não mais estaria sob o jugo e o látego dos inflexíveis, cruéis e opressores números. Números não mentem, meus caros, não são capazes de hipocrisia, e isso, revelar a verdade nua e crua, numa sociedade com inato pendor para a indolência e para o "coitadismo" feito a nossa, é considerado tirânico e ditatorial.
O peso das notas sairia de nossas cabeças, ficaríamos menos preocupados, mais livres e descontraídos para estudar. Sem os números a nos vigiar, passaríamos a ter mais prazer no estudo, aprenderíamos mais. Os professores não mais nos carimbariam com um número em vermelho na testa. Emitiriam um "conceito" que representaria nosso desempenho. Conceito? Não entendi isso na época; aliás, até hoje não entendo. 
Os conceitos nos seriam dados em letras : A, B, C, D e E. O "A" equivaleria a um rendimento ótimo, o "B", bom, o "C", regular, e o "D" e o "E", insuficientes. Mas e a média? Como fazer a média matemática de letras? Os intrépidos peidagogos foram geniais : muito simples, o A valia 5,0, o B, 4,0, o C, 3,0, o D, 2,0 e o E, 1,0. Ou seja, os peidagogos mantiveram os números, só reduziram a escala de 0 a 100 para 1 a 5. Redução essa, em causa e proveito próprios. Para que eles, os próprios peidagogos, fossem capazes de fazer as contas das médias dos alunos. Alguém já viu peidagogo que saiba somar corretamente quando o resultado ultrapassa o número de dedos das mãos?
Se ao fim do ano, ao encerrar do quarto bimestre, somássemos 12 ou mais pontos, estávamos aprovados. Senão, enfrentaríamos a repescagem de janeiro.
Mas, então, começaram as bizarrices alfanuméricas. E se o aluno tirasse 3,5? A nota era C ou B? Problema que foi, novamente e de forma genial, resolvido pelos peidagogos. Que orgulho eu tenho dessa gente! Não era nem C nem B : era C+. E 2,5? Simples : C-. Mas o C+ também não poderia ser como um B-? O que valia mais, um C+ ou um B-? Será que o C+ era 3,5 e o B-, 3,75?
Fiquei até a sétima série sem nunca saber ao certo a exata nota de minhas avaliações.
Na oitava série, por conta de uma transferência do local de trabalho de meu pai, fomos morar num cafundó do país, onde a escola pública já era quase tão sucateada quanto é hoje no Brasil inteiro. Lá fui eu estudar em colégio de padres. E digam o que quiserem da padraiada, que são queima-roscas, pedófilos etc, até porque tudo é verdade, mas uma virtude eles têm : a disciplina. 
Voltei a ser avaliado pelos bentos e sacrossantos números. De 0 a 10. E com peso na nota. O primeiro bimestre tinha peso 1, o segundo, 2, o terceiro, 3, o quarto, 4. Ao fim do ano, as notas eram somadas e divididas por 10. Média ponderada, meus caros, os padres nos avaliavam com média ponderada. É de infartar qualquer peidagogo, de dar curto-circuito no "tico e teco" deles. Resultado maior ou igual a 6,0, aprovados; menor que 6,0, era rezar na bacia das almas para ser aprovado na recuperação.
Minha irmã, dois anos mais nova que eu, e a estudar num colégio de freiras - na época, em tal localidade, os colégios não eram mistos - era avaliada em "O", ótimo, "B", bom, "R", regular e "I", insuficiente. Qual seria a média final de um B mais um R? Jamais saberemos.
O sistema Sesi, não sei se até hoje, mas até tempos atrás - tive dois sobrinhos que lá estudaram -, também adotava letras. "PS", plenamente satisfatório, "S", satisfatório, e "I", insatisfatório. É a escala peidagógica Mike Jagger para maus alunos, "I can't get no satisfaction". Meu sobrinho vivia cantando essa música.
Enfim, ao longo dessas décadas, foram adotadas as mais diversas escalas termométricas para tentar disfarçar e maquiar a incurável febre nacional do analfabetismo e da ignorância feitos em patrimônio nacional. Mudar a escala para negar a febre. Dar o remédio, nem pensar. Pois o remédio - perguntem a um chinês, a um indiano, a um japonês ou a um alemão se acharem que eu estou errado, ou a exagerar - é o rigor, a disciplina, a dedicação e horas a fio de estudo, horas de bunda pregada na cadeira, até dar calo no cu, e de olhos nos livros, até sangrarem as órbitas. Terapêutica por demais amarga e intragável para a preguiça e o vitimismo tupiniquins.
Mas, algum de vocês poderá perguntar, e você, mestre Azarão, que escala adota para avaliar seus valorosos apedeutas?
Ora porra! Nada mais simples. Sou um educador moderno, conectado ao mundo e às novas tecnologias. Vivemos em era digital, informatizada. Nada mais lógico e natural que eu dê a nota a meus alunos me valendo da linguagem dos computadores. Adoto como escala de notas o sistema binário de numeração : 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1. 
Só zero e um. Raríssimos os casos que vão além disso.
Pããããããããta que o pariu!!!!

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

De Bolsonaro para Trump : Amor Y Love You

Love is in the air!
Os saudosos tempos da Era do Rádio voltaram. 
Quando a família se reunia ao redor de um rádio a válvula General Eletrics, com ondas curtas, médias e tropicais, para escutar melodiosas serestas, acompanhar as novelas radiofônicas, informar-se com o Repórter Esso, ouvir os anúncios publicitários de Biotônico Fontoura, Rhum Cresotado, Leite de Magnésia, sabonete Eucalol, máquina de costura Singer e das pílulas de vida do Dr. Ross, e comover-se com o momento romântico da programação, a seção Dedique Uma Canção a Quem Você Ama, na qual todos os Arlindos Orlandos desse nosso Brasil dantes mais varonil ofereciam canções, bouquets de notas musicais, para as suas Mariposas Apaixonadas de Guadalupe.
E quem é que nos traz de volta essa época de pureza, doçura e ingenuidade? Quem é que gira o dial do passado e ressintoniza as ondas em kilociclos dessa época de ouro?
Ele, é claro! O intrépido Jair Bolsonaro. O apaixonado Messias.
Num ato que beira as raias da viadagem, o Capitão oferece a Donald Trump a canção Amor Y Love You!
"Deixa eu dizer que te amo, deixa eu gostar de você..."
Bolsonaro acaba de perder a patente de macho de respeito lhe dada pelo Marreta.
Fora as pregas, é claro
Pãããããããta que o pariu!!!!

Amor Y Love You
(Marisa Monte/Carlinhos Brown) 
Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você.
Isso me acalma
Me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui?

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu gostar de você
Isso me acalma
Me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui?

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor que está aqui
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you(bis)

(Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas
sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saia
delas
Como um corpo ressequido
que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma!
E parecia-lhe que entrava enfim numa existência
superiormente interessante...
Onde cada hora tinha seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase...
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações...)

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you(bis)
 Para ouvir a música, é só clicar aqui, no meu radiofônico MARRETÃO.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser No Coração, Eu Só Quero Ter Você Por Perto (3)

Entre Seus Rins
(Edgard Scandurra)
Te amo
Isso eu posso te dizer
Como eu gosto de você
Como eu gosto de você

Te quero
Isso é tudo que eu sei
Que eu gosto de você
Ah, como eu gosto de você

O que eu sinto
Não é difícil explicar
É o amor, como uma fonte a jorrar
Pura emoção

E o meu sonho
Nem consigo me lembrar
Mas o certo é que você estava lá
Sonho real, sonho real

Seu beijo
Minhas mãos em seu quadril
Madrugada tão febril
Ah, como eu gosto de você

Meu exílio
É em seu corpo inteiro
És meu país estrangeiro
Ah, como eu gosto de você

Me deu o dedo
Eu quis o braço e muito mais
Agora estou a fim
De ficar entre os seus rins
De ficar entre os seus rins


Me deu o dedo
Eu quis o braço e muito mais
Agora estou a fim
De ficar entre os seus rins
De ficar entre os seus rins


De ficar entre os seus rins
De ficar entre os seus rins
Seus rins

Para ouvir a música, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Infarto Fulminante (porém, anunciado)

Levamos tudo a cabo.
Acabei-me
Acabou
Acabou-te
Acabamo-nos.

Não mais nos cabemos.

E não são estes
O destino
O endereçamento postal
A correnteza do rio
E a morte por infarto fulminante
Cabais?

terça-feira, 17 de setembro de 2019

E Se o Menino Chegar Para o Pai e Pedir uma Barbie?

Madrugada na TV é mesmo o reino dos charlatões e dos picaretas.
Ontem, que já era hoje, por volta das três da matina, o sono cansou-se de mim e lá estavam todos eles na telinha : os pastores evangélicos, os padres-cantores carismáticos, os vendedores de inutilidades domésticas, de semijoias, de sêmen bovino e, a corroborar a minha afirmação inicial, uma psicopedagoga, uma orientadora educacional. E feminista das brabas. Antes um poltergeist emergir da tela que esse povo.
A tal falava do simbolismo por detrás de brinquedos comumente dados a crianças e pré-adolescentes, das mensagens subliminares e sub-reptícias fundidas junto às suas plásticas anatomias, do uso desses brinquedos como instrumentos de reforço e perpetuação de estereótipos machistas e opressores. 
No caso dos meninos, segundo a suvaco cabeludo, presenteá-los com os chamados "bonecos de ação" é pecado lesa-humanidade, a ser julgado e condenado pela Corte de Haia. E usou como exemplo o icônico e sacrossanto boneco Falcon. De acordo com a desocupada, que não deve ter cueca suja de marido pra lavar, o Falcon faz apologia da truculência do macho alfa, do poderio bélico das potências militares, deixa subentendido que tudo pode e deve ser resolvido pela força, é um estandarte da supremacia branca e heterossexual.
No caso das meninas, a das tetas caídas, se pudesse, decretaria pena de morte aos pais que presenteassem suas filhas com uma boneca Barbie. A também emblemática boneca representa e glorifica a submissão da mulher a modelos sociais estabelecidos pelos machos opressores e a sua consequente objetificação. Alta, magra, loira, escrava de padrões inatingíveis de beleza (para uma feminista, então, inimagináveis) e, sobretudo, bela, recatada e do lar. A Barbie, segundo a psicopicareta, é a mulher-eletrodoméstico que todo macho chauvinista sonha em ter.
A tal falava alto, gesticulava amplamente, vociferava, sua boca metralhava rajadas de perdigotos pelo ar. Dava para ver fogueiras inquisidoras em seus olhos, onde queimavam e derretiam Falcons e Barbies.
Vamos lá que seja. Vamos dar  um crédito à orientadora educacional, afinal, ela estudou para isso, não foi, se formou na "ciência" da psicopedagogia, não é? Vamos lá que acatemos as suas recomendações : nada de Falcon para os meninos; nada de Barbie para as meninas.
Mas, então, o capetinha sempre pousado no meu ombro esquerdo (nasci sem o anjinho no ombro direito) e o parasita cerebral com que nasci, um oxiúro neural que, ao invés de dar-me prurido às pregas, dá-me incoçáveis comichões no encéfalo, acordaram : e se um menino chegar para o pai e pedir uma Barbie?
E se um menino chegar para o pai e pedir uma Barbie?
Ah, meus caros... Aí eu tenho certeza de que a psicofeminazi se abriria em largos sorrisos, se desarmaria, baixaria a sua guarda. Tenho certeza de que, nesse caso, ela recomendaria, veementemente, que o pai desse a Barbie ao seu rebento quase macho.
Pois caso o genitor recusasse o pedido do periclitante filho, estaria reprimindo a sexualidade do indeciso petiz, não estaria permitindo que o menino exercesse a sua identidade de gênero, o legítimo e inato direito sobre o seu próprio corpo. Que o pai estaria agindo como um Falcon se não desse a Barbie para o menino.
Dê a Barbie para o menino, ela ordenaria. Via receita médica, se necessário. Por decreto-lei. Por Ato Institucional!
Pããããããããããta que o pariu!!!!!
Bons tempos em que o menino ganhava o Falcon, a menina ganhava a Barbie (ou a Susie, a depender da época) e, quando não havia ninguém por perto, o moleque ia lá, pegava a Barbie da irmã (ou da prima) e a colocava pra meter com o Falcon.
Bons tempos, bons tempos...
Isso sim é que é ensinar valores morais e cívicos pra molecada! Isso sim é que é educar para a vida! Pãããããta que o pariu se é!!!!

domingo, 15 de setembro de 2019

Dorflex com Cerveja

Mastigo
E engulo
Comprimidos de Dorflex
Com cerveja.

Um para dores e contrações musculares,
A outra
Para deficiências vitamínicas da alma,
Anemia do coração,
Aflições e taquicardias da mente.

Dorflex e cerveja,
Qual o mais ilusionista paliativo,
Qual o mais charlatão placebo?

Músculo
Alma 
Coração
Mente,
Qual o mais distendido,
O mais destonificado,
O mais fora de tom?

Qual precisa da mais rígida e vigilante enfermeira alemã,
Do mais autoritário diapasão,
Dos mais carcereiros repouso e isolamento?

Ah, o repouso...
Ah, o isolamento...
Drogas que não podem ser sintetizadas em cativeiro
Nem engaioladas em drágeas plásticas bicolores.

Ah, o repouso...
Ah, o isolamento...
Santos Graais não encontrados,
Não comercializados ou disponíveis,
Em drogarias 
Ou em fast foods
Ou em almoços e macarronadas dominicais
Ou em puteiros
Ou em igrejas.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Quem Não se Corromperia Por Uma "Rachadinha"?

Todos somos corruptos. Uns mais facilmente corruptíveis, mais "compráveis", outros menos.
Tudo é uma questão de acertar o preço.
Quando escuto alguém dizer que nunca se vendeu, logo me ocorre a indagação : e será que alguém já tentou comprar o tal?
Eu nunca me vendi. Nunca ninguém ofereceu um vintém furado por mim.
Nem o capeta nunca quis comprar minha alma. O dia em que ele quiser, vendo fácil por uma aposentadoria de juiz federal.
Uns se vendem por merrecas, por cestas básicas; outros por malas de dólares.
Há subornos, propinas e pixulecos para todos os gostos e bolsos.
Há modalidades de corrupção às mancheias. Tentações para as mais resistentes e para as mais fracas carnes. 
As formas de corrupção vão se adequando aos tempos e às leis, são mutantes em constante evolução e adaptação. 
O sujeito segue uma vida exemplar. Sempre correto, reto e probo. Sempre resistiu, incólume, às mais sortidas tentativas de aliciamento.
Até que, num belo dia, ele é atingido em seu ponto fraco, em seu calcanhar de Aquiles, que, ele próprio, julgava não existir. Até que, num belo dia, alguém chega e lhe oferece uma "rachadinha".
Pãããããããta que o pariu!!!!
Muitas vezes, o cara nem está pensando na "rachadinha". Há muito que já não pensa. Conformou-se com sua vida de terno e gravata, de calvo e barrigudo, de porco capão e eunuco. Então, do nada, alguém lhe chega e - pimba! - coloca uma "rachadinha" na sua frente.
Aí, meus caros, sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar. Pããããta que o pariu se volta!!! Aí, o cara desmorona. Pede arrego. Joga a toalha.
Anos de exemplar vida pública. Décadas de lisura. Tudo vai ao chão por uma "rachadinha".
Se eu fosse um desses parlamentares e suspeições sobre meu decoro fosse levantadas, se dúvidas a respeito de minha honra fossem cogitadas, se começassem a dizer que ganhei milhões em licitações fraudulentas, em vendas de medidas provisórias etc, eu não só autorizaria como eu próprio pediria uma CPI que me investigasse. Nada encontrariam em meu desabono.
Por outro lado, se acusações levianas começassem a circular sobre a minha pessoa ter participação num esquema de "rachadinha", nem haveria a necessidade da abertura de uma CPI. Entregaria-me de pronto à Justiça. Sou réu confesso.
Tem que ser muito macho pra resistir a uma "rachadinha". Melhor : só não sendo macho pra resistir.
Só sendo o Jean Wyllys.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Pornô Feminista? Que Putaria é Essa?

Diga o que disserem e o que quiserem de nós, os machos das antigas nascidos nas décadas de 1950, 60 e 70 (a partir da de 1980, a coisa já começou a ficar estranha, e da de 1990 pra frente, embichou de vez). Difamem-nos, caluniem-nos, emporcalhem-nos, arrastem nossos nomes pela lama, se bem lhes apetecer e se for o caso.
Mas, em um assunto, somos, indubitavelmente, superiores. Incontestes, incontestáveis, soberanos e imbatíveis. A pornografia.
Ninguém entende mais de pornografia do que nós, os machos de respeito dos anos 50, 60 e 70. Vimos nascer e acompanhamos o crescimento e a evolução de todos os tipos de pornografia. Desde a pornografia imaginada e onírica (as homenagens que rendíamos no banheiro àquela vizinha casada gostosa e/ou àquela atriz da novela das oito), passando pela desenhada (os famosos catecismos do Papa Carlos Zéfiro I e único), indo para a fotográfica (primeiro em preto e branco, mais para frente, em cores) e, finalmente, para a cinematográfica (inicialmente nos mofados cinemas pornôs proibidos para menores, depois para as fitas VHS, para as locadoras e para o conforto de nossos lares e, hoje, espalhada pela internet).
E nós, machos dos 50, 60 e 70, a tudo acompanhando com o maior empenho, a tudo estudando e monitorando com duro afinco. Quanto esforço para nos mantermos atualizados, quanto suor, quanto material genético vertido no vaso sanitário? Quantos "oh, pedaço de mim", quantas "oh, metade afastada de mim" a escoar pelo ralo?
A todas as modalidades de pornografia vimos nascer e vivenciamos. Não há vertente da oitava arte que não conheçamos e que não sejamos capazes de versar e tergivesar sobre.
Por isso, causou-me estranheza, e mesmo uma sensação de obsolescência, quando vi, anteontem, no portal UOL, a manchete : Pornô Feminista me Fez Mudar de Vida.
Pornô feminista? Que putaria é essa de que nunca ouvi falar? Estarei a ficar pra trás, desatualizado, um dinossauro?
Apesar da palavra "feminista" adjetivando o sujeito "pornô" me parecer sintaxe das mais descabidas e contraditórias, afinal, para mim, "pornô" está intimamente ligado à excitação e à paudurescência, e "feminista", a um chute bem dado nas bolas do saco, dispus-me a ler a matéria. Cliquei no link para a reportagem. Só duas ou três linhas escritas, nada revelando sobre o tema. Para mais detalhes, o "leitor" precisaria assistir a um vídeo, de quase oito minutos, no qual uma "cineasta" pornô e feminista versaria sobre sua obra.
Oito minutos ouvindo uma feminista? O caralho!!! Em oito minutos, eu assisto a um vídeo da Brandi Love se pegando com a Mia Malkova e ainda soco um punhetão!!! Além disso, cineasta pornô é igual a pedreiro, encanador, eletricista e modelo fotográfico de rola : é coisa de homem!!! Oito minutos de pura broxidão a ouvir uma feminista explicar a sua arte? Fechei a janela da reportagem.
Mas acredito que não seja preciso muito esforço para imaginar o tal do pornô feminista. Acredito, mesmo sem ter assistido ao vídeo, e seguindo a linha Raulseixista do "eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz", que não deva ser muito diferente o pornô feminista do pornô tradicional.
Imagino que seja basicamente a mesma dinâmica, as mesmas combinações e variantes dos, digamos assim, elementos cênicos, os mesmos intrincados e complexos enredos, tramas e desfechos.
Com uma diferença básica : as atrizes, militantes e empoderadas, exibem todas, sem única exceção, tetas caídas, buço e sovacos e pernas cabeludos. Ah, sim, e claro : um grelo duro maior que muito pau de japonês por aí.
Pornô feminista? Tô fora!!! Não passo nem perto!!! E se tiver que passar, se não for possível desviar o caminho, passo com a bunda virada para a parede.
Abaixo, em nu frontal e despudorado, Samantha Baguete, a mais bem paga atriz do pornô feminista. E prima em segundo grau do Kid Bengala.
E isso porque ainda tá meio mole, meia-bomba. Pãããããta que o pariu!!!

domingo, 8 de setembro de 2019

Profissões do Futuro Para Uma Geração Sem Futuro

Eu tento. Sério mesmo que eu tento aposentar minha marreta. Mas sinto que é o próprio Universo - haja vista às provações que ele interpõe em meu caminho - que clama e implora pelo meu malho verbal. Que faz da minha marreta um instrumento de sua vontade, uma ferramenta para dar uma ligeira equilibrada na balança de dois pratos da idiotia humana vs. o cada vez mais raro bom senso. Minha marreta a encabeçar um pelotão de choque na luta contra as passeatas da estupidez e da futilidade humanas.
Briga inútil, esta nossa, contra a estupidez humana; guerra perdida, esta nossa, contra a idiotice e a futilidade. Sabemos disso, o Universo e eu; ele há muito mais tempo. Mas, uma vez que estamos aqui, o que mais podemos fazer, que não lutar contra os moinhos da ignorância?
Estava lá eu, na terça ou quarta-feira passada, na minha faina e calvário diários, em uma sala de um segundo ano do Ensino Médio (o substituto anêmico do antigo, robusto e saudoso Colegial) a dar vistos em uma tarefa encomendada na semana anterior. Uma fila formada pelos alunos dos números 11 ao 20 da lista de chamada se estendia à minha esquerda. Todos a esperar pelo meu visto e pela minha benção. Às vezes, nestes momentos, sinto-me como um padre a comandar a fila da hóstia - um trabalho tão inútil quanto o meu. Percebi, então, que o aluno sentado na carteira à minha frente manuseava um paquímetro.
E, neste ponto da minha narrativa, julgo ser necessário um interregno, pois creio que poucos saibam o que seja um paquímetro e, menos ainda, tenham alguma familiaridade com seu uso. Julgo ser necessário um breve interlúdio, para uma curta aula do Telecurso 2º Grau - disciplina, Tecnologia, ao fim do qual retornarei à vaca fria.
O paquímetro é um instrumento usado para aferir com grande precisão as dimensões de pequenos objetos, inclusive com formatos redondos e cilíndricos, não acessíveis a uma régua vulgar. O paquímetro vai onde a régua comum, a fita métrica e a trena jamais estiveram. O paquímetro é uma régua graduada - e bota graduada nisso, uma régua PhD, eu diria -, cheia dos guéri-guéri, com um apoio fixo sobre o qual desliza um cursor e com duas hastes de medição, uma ligada à escala e a outra, ao cursor. Abaixo, um desenho do paquímetro, que vale por muito mais que mil das minhas palavras.
Para realizar a medição é só apoiar o objeto em 8, a parte interna da haste fixa 7, deslizar a haste 10 sobre a escala graduada até que a peça fique justa entre 8 e 9 e fazer a leitura da medida. O paquímetro mede objetos das mais variadas formas - porcas, parafusos, tubulações. Mede-lhes os diâmetros externo e interno, a profundidade, os ressaltos etc. É pau pra toda obra, é uma espécie de canivete suíço para cursos técnicos de mecânica, tornearia, projetista de peças, hidráulica etc. Muito utilizado também em cursos superiores de exatas nas aulas de propagação de erro. Ou seja,  paquímetro é para coisa séria, para coisa de macho.
Fim da aula Telecurso Tecnologia.
Animado - e iludido - perguntei ao aluno que brincava com o paquímetro para que ele o usava. Pensei que ele me diria que, além do Ensino Médio, estava também a se desdobrar e a cursar um curso técnico de mecânica, tornearia etc.
- Não é meu, não, professor, eu peguei ali com o Fulano - ele respondeu - e apontou para o Fulano, sentado na terceira carteira da fileira ao lado.
Perguntei, então, para o Fulano o que ele fazia com o paquímetro.
- Também não é meu, eu peguei ali com a Beltrana - e apontou para uma aluna na fila do visto, a esperar pela minha benção.
Olhei para a Beltrana : - Beltrana, para que você usa o paquímetro?
A Beltrana saiu da fila, tomou o paquímetro das mãos do outro, distanciou a haste móvel de medição cerca de cinco, seis centímetros da haste fixa e levou o paquímetro à testa. Encaixou a sobrancelha direita dentro do espaço aberto no paquímetro. Olhou para mim e disse : - eu faço curso de Designer de Sobrancelhas, professor!
Pããããããta que o pariu!!!!! Um nobre instrumento da Física, da Engenharia e dos sacrossantos cursos de Exatas em geral sendo usado para medir sobrancelhas de dondocas, patricinhas, cachorras e periguetes.
- A gente mede a sobrancelha para ficar (sic) as duas iguaizinhas, o tamanho, a largura - ela concluiu, fazendo com que a cena de um paquímetro sendo usado como ferramenta de fútil estética tomasse ainda mais corpo na minha cabeça.
Falei : - ah, que legal! - afinal, de um jeito, ou de outro, a menina estava indo à luta, estava tentando se virar de alguma forma na vida. E também porque a atual sociedade brasileira dá mesmo muito mais importância e, consequentemente, se dispõe a pagar um valor muito maior para uma sessão de design de sobrancelhas do que, por exemplo, o valor que recebo hoje por uma hora-aula. Eu ia dizer o que para ela? Deixa disso, menina, vá estudar pra ser professora?
Imaginei se o paquímetro poderia, igualmente, ser usado num curso de Designer de Buceta, para medir certinho a depilação da perseguida, a simetria das entrefolhas.
Voltei aos vistos nas tarefas.
Eu tento. Sério mesmo que eu tento aposentar a minha marreta. Porém, por essas e por muitas outras, sinto que os planos da Previdência do Universo para o meu poderoso Marretão são ainda piores e mais nefastos que os da Previdência do intrépido Bolsonaro.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser no Coração, Eu Só Quero Ter Você Por Perto (2)

Luíza
(Tom Jobim)
Rua
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a Lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer, Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de Sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu plenilúnico MARRETÃO.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ESCAFANDROS

Houve um tempo
Em que nossas bocas se buscavam,
Se aderiam
Feito ventosas de polvo,
Desentupidores de pia.

Se enroscavam
Feito carrapicho em meia e em barra de calça,
Fechos de velcro.

Se colavam,
Nossas salivas se combinando feito cola Araldite,
Feito massa durepox,
Fechando-se a vácuo como sanguessugas no cio.

E de tanto,
E de tão inseparáveis que eram,
Respirávamos
Mesmo
Um pelo nariz do outro.

Hoje,
Dormimos em câmeras hiperbáricas de solteiro;
E, acordados,
Nos falamos
Nos sorrimos
E nos beijamos
De dentro de nossos escafandros particulares.

domingo, 1 de setembro de 2019

Míriam Lane

Às vezes, até parece que eu e o Jotabê, o filho pródigo do Blogson Crusoe (e também o pai e, quiçá, o espírito santo), ficamos disputando para vermos qual de nós é o mais velho. Ou, pelo menos, para vermos quem de nós conhece mais velharias, detém mais cultura inútil das antigas.
Em um comentário feito na postagem Brightburn, Jotabê elogia minhas reflexões sobre o bom mocismo do Super-Homem etc e, ao final, se diz do tempo em que a Lois Lane era Míriam Lane.
Míriam Lane
Pois eu também sou do tempo em que Lois era Míriam. Li muito gibizinho do Super-Homem, publicados pela lendária EBAL (Editora Brasil-América Limitada), em que a amada do homem de aço era tratada por Míriam Lane.
Tanto que, quando da estreia de Super-Homem, o Filme, o clássico de 1978, com Christopher Reeve, eu muito estranhei - e muito me incomodou - aquele nome que surgia nas legendas sempre que alguém se dirigia ou se referia à repórter mais gostosa do Planeta Diário : Lois Lane. Cheguei a pensar que fora um erro do tradutor, ou do cara que digitara as legendas - que nas décadas de 1970 e 1980, mesmo que o filme tivesse um público infanto-juvenil, não tinha essa moleza que tem hoje de versão dublada, não; a molecada tinha que ler o tempo todo - ainda bem.
Então, assistindo ao filme, sentado em um dos degraus acarpetados em vermelho do saudoso Cine Bristol, entre duas fileiras de suas poltornas, pois os seus mais de 700 lugares estavam ocupados, apurei meus ouvidos e "vi" que o nome dito pelos atores era este mesmo, Lois. 
Lois nunca fora Míriam. Foi um soco no estômago. Uma das primeiras de minhas jovens surpresas a cair. O tradutor do filme não errara em seu ofício; aliás, neste caso, ele nem mesmo o praticara, ele a nada tinha traduzido, apenas mantido o nome verdadeiro da personagem, Lois.
A equipe da EBAL é que se metera a "traduzir" Lois para Míriam.
Muito tempo depois, alguém me disse, ou eu li em algum lugar, que o rebatismo de Lois para Míriam se dera pela preocupação dos editores da época de que o nome da repórter, incomum para nós, brasileiros, pudesse vir a ser confundido com Luís. Será que os editores pensaram que tal confusão pudesse levantar suspeitas e aleivosias a respeito da masculinidade, da macheza do homem de aço?
Qual o nome da namorada do Super-Homem? - alguém pergunta. Luís! - um gaiato responde. Pããããããta que o pariu!!!
"De viado, já basta o Batman" - posso imaginar o editor a justificar sua decisão -, "bota Míriam e pronto". É bem verdade que poderia ter sido mudado para Luísa, mas, enfim...
Se não me engano - e aqui, embora ele nem fosse nascido à época, o Ozymandias Realista pode me ratificar ou me retificar -, Míriam só virou Lois por definitivo, em terras brasileiras, lá pelos meados da década de 80, acredito que em 1984. Quando a Editora Abril abraçou vários títulos da DC Comics e a partir do evento da Crise nas Infinitas Terras, uma maxissérie que teve a intenção de organizar o universo DC e que, na minha opinião, só o bagunçou ainda mais. Em 1984, Míriam Lane morreu, e ressurgiu como Lois Lane.
Lois Lane
Mas o que, provavelmente, muito pouca gente sabe, acho que nem o Jotabê, é que existiu mesmo uma Míriam Lane. Repórter e radialista. E brasileira.
Mírian Cléa dos Santos Tavares Barcelos Garcia, natural de Muzambinho (MG), tornou-se em Míriam Lane e comandou por anos um programa noturno na rádio Jovem Pan da cidade de São Paulo. Míriam Lane era uma das poucas vozes femininas nas rádios FMs da década de 80.
E que voz, meus caros, que voz. Sensual sem ser vulgar, como se uma atendente de telessexo tivesse recebido educação suíça. Rouca e aveludada ao mesmo tempo. Uma voz que acolhia, abraçava, agasalhava. Um moletom, uma pantufa de voz, a de Míriam Lane. Míriam Lane muito fez companhia às minhas madrugadas insones e muito povoou as minhas fantasias eróticas de adolescente. 
Até que, numa triste noite (eu ainda de nada sabia), a rastrear a Jovem Pan no dial de meu velho rádio-gravador Sanyo - na época, eu morava em São José dos Campos, a 100 km da capital paulista, e só conseguia sintonizar a Jovem Pan à noite, quando o ar estava mais livre de interferências -, chegou-me a fatídica notícia : o programa de Míriam Lane não seria exibido naquela noite. Nem nunca mais.
Na flor de seus 21 aninhos, em janeiro de 1984, Míriam Lane fora assassinada em frente ao prédio em que residia. Lex Luthor, Brainiac, em vendeta contra o Super-Homem? Nada disso, meus caros. Estamos no Brasil. Um mero assaltantezinho de merda, mesmo. Um filho da puta rastaquera qualquer havia posto fim à vida de Míriam Lane.
Coincidência, Míriam Lane ter sido assassinada em 1984? No mesmo ano em que sua homônima dos quadrinhos deixou de ser Míriam para ser Lois Lane?
O que sei, tristemente, é que não houve, para a nossa Míriam Lane, um Super-Homem que a socorresse.
Míriam Lane, em uma das duas únicas fotos que consegui achar na net.