quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fuleco, A Mascote Da Copa De 2014

Sala dos professores e a sua mais aguardada hora, a hora do lanche. À mesa, pão francês com presunto e muçarela, banana, melancia, mamão - são dias de SARESP, dias de visitantes, a merenda fica mais caprichada - e a indefectível Coca Zero, a mitigar a culpa e o remorso dessa classe de tão grandes apetites e formas corporais.
No rótulo preto do refrigerante, a figura de Fuleco, o tatu-bola que simbolizará a Copa do Mundo de Futebol de 2014, a ser realizada no Brasil. O mascote da Copa é nosso, dizia o rótulo. E aí, o assunto começou a girar em torno do bicho, uns a dizer que gostaram da escolha do tatu-bola como mascote, mas que não aprovavam o nome; outros a dizer que acharam o nome bonitinho, porém, gostariam de outro animal em lugar do tatu, o mico-leão, a ararinha-azul etc.
O mascote Fuleco pra cá, o mascote Fuleco pra lá, até que uma colega, professora de português, deu o alarme : não existe "o" mascote porra nenhuma. Mascote é um substantivo unicamente feminino, sobrecomum, não admite contrastes de gêneros. É feito a criança, a pessoa, o cônjuge, a testemunha. É "a" mascote.
Fiquei curioso de como a imprensa em geral estaria se referindo ao já célebre desdentado, dei uma rápida passeada pela net e encontrei :
"Fuleco" é escolhido como nome do mascote da Copa 2014 (esportes.terra.com.br);
Amijubi, Fuleco ou Zuzeco? Escolha o nome do mascote da Copa de 2014 (globoesporte.com.br)
"Fuleco" é eleito o nome do mascote oficial da Copa do Mundo de 2014 (esporteig.com.br); 
Fuleco é o nome oficial escolhido para o mascote da Copa do Mundo da FIFA 2014 (brasil.gov.br); 
O mascote da Copa do Mundo de 2014 já tem nome. (jornal do brasil); entre outros tantos veículos de renome. 
Dos que eu, rapidamente, pesquisei, apenas a Folha de São Paulo, o Estadão e a revista Veja acertaram no uso do sobrecomum. O cara que se mete a ser jornalista não tem que conhecer minimamente a língua? E os revisores desses jornais?
Mas o usual desrespeito às regras gramaticais pelos veículos de comunicação não foi a única coisa que eu constatei em minha pesquisa. O pior ainda está por vir.
O nome "Fuleco", segundo seus idealizadores, é a fusão das palavras "futebol" e "ecologia". Fuleco foi escolhido, via uma eleição que durou três meses, por 1,7 milhões de brasileiros, número que correspondeu a 48% dos votos. Em segundo lugar, com 31% dos votos, ficou o nome "Zuzeco" (combinação entre "azul" e "ecologia"), e na lanterna, contabilizando os 21% dos votos restantes, "Amijubi" (combinação entre "amizade" e "júbilo").
Puta que o pariu!!! Brasileiro tem essa mania, misturar nomes para registrar e batizar as suas crias. Pais combinam seus nomes e registram seus filhos com a mistura maldita; à guisa de homenagem, nomes dos avós também são vasta matéria-prima para a fértil imaginação do brasileiro. Eu, por exemplo, quando cursava a sétima série do ginasial, estudei com um Crisônio, a avó materna era Cristina e o avô paterno, Antônio.
Essas junções, geralmente, só dão merda. Imaginem, então, fundir duas merdas, futebol e ecologia? Deu "Fuleco", deu mais que merda. Deu cu.
Sim, deu cu. Outra coisa que descobri é que o vocábulo "fuleco", independente de ser produto da abominável fusão citada, existe de verdade na rica e poética linguagem coloquial do brasileiro, e é sinônimo de ânus, o famoso cu, botão, fiofó, furico, roscofe, arruela, rosca, redondo, toba, bufante, brioco, jiló etc. O nome da mascote da Copa do Mundo no Brasil é cu! É só aqui. É mesmo o país da piada pronta.
Nem precisava ter feito votação. É pública e notória a predileção do brasileiro por um bom fulequinho. 
O mais grave de tudo, entretanto, não é o desconhecimento do sobrecomum nem o fato de Fuleco ser cu, isso tudo é besteira, e só vem a incrementar o anedotário popular, o imperdoável são os incontáveis milhões de reais gastos - e mais ainda desviados - em um evento inútil e perfeitamente dispensável; obrigatoriamente dispensável, eu até diria, vistas as necessidades muito mais preementes do país. Milhões e milhões de reais verdadeiramente enfiados no fuleco.
Por essas e por muitas outras, vou torcer para que a seleção brasileira de futebol se foda na próxima Copa, vou torcer para que tome no fuleco, literalmente.

Não É Carnaval, Mas É Madrugada (10)

Bandeira Branca, composta em 1970, é talvez o último dos clássicos dos velhos carnavais das marchinhas; depois de 1970, desgraçadamente, predominaram (e predominam até hoje) os nefandos sambas-enredos.
Bandeira Branca é de autoria de Laércio Alves e Max Nunes. Max Nunes, hoje com 90 anos de idade - nasceu junto com a Semana de Arte Moderna -, é o redator, diretor, produtor, e sei lá mais o quê, do Programa do Jô. E isso desde a época do Viva o Gordo, na década de 80, ou seja, desde quase sempre.
Max Nunes é o Jô Soares; melhor, Jô Soares é uma fração de Max Nunes, é um Max Nunes mais gordo, o Jô é um dos heterônimos de Max Nunes, uma de suas subpersonalidades, o Jô é o que o Max Nunes faz nas horas vagas.
Na letra, um Pierrot rende-se à força da dor da saudade; trêmulo, tremula a bandeira branca e pede paz, pede a volta da amada. É carnaval, porra. Não é hora para melindres e orgulhos feridos. Vergonhoso, no carnaval, é o cara passar as quatro noites na seca, no jejum. Bacalhau se come é no carnaval, e não depois da quaresma, na merda da sexta-feira santa. 
Aí, o sujeito perdoa tudo, sacanagens, cornagens, crocodilagens, tudo, o cara quer é rosetar, quer é despetalar a camélia que caiu do galho.
O que muita camélia incauta não sabe, nem sequer desconfia, é que, a hastear cada, aparentemente, submissa bandeira branca, há um mastro rijo, uma benga em riste prestes a lhe comer o rabo; a bandeira branca é a minhoca na ponta do anzol, ou, no caso, a minhoca na ponta do minhocuçu.
No carnaval, a tudo se perdoa e tudo é perdoável. Abandone as reservas, agite sua bandeira branca, sem vergonha e sem culpa. Ainda não é carnaval? Mas já é madrugada : valem as mesmas regras, bandeira branca, amor.
Bandeira Branca
(Max Nunes/Laércio Alves)
Bandeira branca, amor
Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz 


Bandeira branca, amor
Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz
 

Saudade mal de amor, de amor
Saudade dor que dói demais
Vem meu amor
Bandeira branca
Eu peço paz

Bandeira branca, amor

Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz

Bandeira branca, amor

Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz
 

Saudade mal de amor, de amor
Saudade dor que dói demais
Vem meu amor
Bandeira branca
Eu peço paz

Pela saudade

Que me invade
Eu peço paz

Saudade mal de amor, de amor

Saudade dor que dói demais
Vem meu amor
Bandeira branca
Eu peço paz

Bandeira branca, amor

Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz

Bandeira branca, amor

Não posso mais
Pela saudade
Que me invade
Eu peço paz

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

No Espaço, A Solidão É Tão Normal

Viu os asteroides vindo em sua direção
E os cometas
E os feixes de fótons
E os de raios cósmicos
E os de raios gama.
Sabia que não conseguiria atravessar a nado
- e nem a tempo -
O vasto éter sideral.

Fechou os olhos
(Não elevou seu pensamento a coisa nenhuma
Nem a ninguém
A nenhum deus, a nenhum grande amor
A nenhuma saudade, a nada.
Apenas ao nada)
E fez o que tinha de fazer:
Nadou.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Ilustrador (parte final)

Fui direto da casa da Bernadete pra boate onde trabalho das dez da noite às seis da manhã, ainda tinha um tempinho, mas resolvi ir direto, fiquei lá no meu balcão olhando pro granito dele, gosto dessa pedra, ela é feita de um monte de pedaços que vão se juntando em desenhos bem legais, queria saber desenhar um granito, nunca nem tentei, sei que não daria. 
Aí chegou a Bárbara do outro lado do meu balcão, a Bárbara é cliente de todos os dias que essa bodega abre, deliciosa, debruçou com os braços apoiados no balcão e eles escorregaram no granito, trazendo os peitos da Bárbara pra mais perto da minha cara, os braços escorregaram no suor de tanta dança que ela tinha dançado, molhou o balcão com seu suor e encharcou o ar com seus feromônios, feromônio é uma puta duma palavra difícil, dessas que sempre me dão dor de cabeça, só que eu aprendi o que era num documentário e agora uso sempre que dá, os peitos gigantes da Bárbara gritavam de dentro da sua pouca roupa, urravam através do decote, os peitos da Bárbara estão sempre gritando, mas parece que só eu é que ouço. 
A Bárbara pediu seu coquetel de sempre e perguntou se eu andava desenhando muito, a Bárbara gosta de conversar comigo, sempre conversa quando vem pegar bebida, acho que nem é pela minha conversa, pela minha beleza é que não, ela só deve achar divertido conversar comigo, poder dizer pros outros que conhece o barman, essas coisas. 
O único desenho que tinha era um que fiz da Bárbara nua, imaginando como a Bárbara seria nua, caras como eu nunca comem mulheres como a Bárbara, e achei que ficou bem legal, bem parecido com ela, pensei em não mostrar por causa da vergonha que eu iria sentir quando a Bárbara se reconhecesse, só que a Bárbara iria achar que eu não sou ilustrador porra nenhuma se dissesse que não tinha nenhum desenho, e isso eu sou, sou um ilustrador, e dos bons, puxei a folha dobrada debaixo do balcão e dei pra Bárbara, a Bárbara olhou e foi pior do que eu pensava, a Bárbara perguntou quem era essa coitada do desenho, toda feiosa e desconjuntada, respondi que não era ninguém, era só um desenho de treino de imaginação, a Bárbara riu com todos os seus 32 dentes e disse que eu tinha que praticar muito a minha imaginação, mas muito mesmo, me jogou um beijo no ar e saiu de volta pra pista de dança, fui atender a um outro cliente e reparei que eu tava de pau duro, agora o desgraçado fica duro, pensei de ir pra casa da Bernadete quando terminasse o serviço, só que é melhor que não, o mais certo é que eu encontrasse a Bernadete já sentada no pau de outro garotão e que ela dissesse que era um pau muito mais duro do que o meu quando me visse chegando. 
Senti uma coisa ruim, teria sido capaz de pular o balcão e mutilar a Bárbara, de pegar uma faca daquelas de desossar lá atrás na cozinha e cortar os peitos da Bárbara fora, os dois, de fazer que parassem de gritar, de levar eles comigo, de empalhar e exibir eles numa placa de madeira, que nem aquelas cabeças de bicho que a gente vê em casa de caçador nos filmes, mas não havia o que eu pudesse fazer, só que fiz foi atender o outro cliente e mais outro, mais outro e terminar a minha noite, e fui embora. 
Agora tô aqui nesse meu quarto, nessa minha vaga alugada de pensão e desenhando, desenhando os peitos da Bárbara, só os peitos, sem a Bárbara, e ficaram bem bons no desenho, bons mesmo, pra mim parecem tão apetitosos quanto os da Bárbara, toco uma punheta olhando pros peitos da Bárbara que eu desenhei e vou me deitar pra ver se pego no sono. Sinto uma coisa ruim, mas não há nada que eu possa fazer.

sábado, 24 de novembro de 2012

O Ilustrador (parte 3)

Devia ter percebido que minha carreira de ilustrador não fosse talvez tão promissora quando tava fazendo um curso de desenho da anatomia humana e, sem conseguir grandes resultados, ouvi do professor que aquele curso era que nem a escola normal, a escola normal ensina pra gente as letras, alfabetiza a gente, mas daí a ser um escritor é só com a gente, eu gostava desse professor até esse dia, e que o curso de desenho também é assim, ensina as técnicas pra gente, mas ser um bom ilustrador é nosso encargo, outra palavra que nunca tinha ouvido, achei o professor um filho da puta nessa hora, mas achei que ele tinha razão. 
Senti uma coisa ruim, teria sido capaz de invadir a casa desse professor, de amarrar esse professor numa cadeira pelos pulsos e tornozelos, sem amordaçar pra poder ouvir seus gritos e, bem na frente dele, comer a sua esposa, comer de todos os jeitos, esbofetear a cara dela com meu pau e esporrar tudo na boca dela, depois iria embora e deixaria a esposa ir soltar o professor, ir curar as feridas de seus pulso e tornozelos com beijos cheios da minha porra, mas não havia o que eu pudesse fazer, só o que fiz foi passar na secretária da escola e dar baixa na minha matrícula, o professor disse que eu já tô alfabetizado, eu disse pra moça do guichê e fui embora.
Não estava ainda com vontade de encarar a Bernadete, fui passear no Mercado Municipal, no mercadão, gastar mais um tempo, sempre gostei desse lugar, o problema é que vive apinhado de gente, não gosto muito do cheiro de gente, só que lá tem aquele monte de mercadorias que eu gosto de ficar vendo, sacos de pano com grãos, ervas, pimentas, fumo de rolo, queijos, presuntos e peixes defumados, e aí o cheiro disso tudo esconde o cheiro das gentes, fica bom. 
Sentei no tamborete duma lanchonete, pedi uma ampola de cerveja da mais barata e comecei a rabiscar outra folha, uma loja em uma das esquinas do mercado com a frente quase fechada de mercadorias, vidros com pimentas, queijos amarelos de todos os tons, queijos brancos, uns empilhados, outros dentro de uma redinha de barbante pendurados no teto, uns tantos salames juntos, fiquei olhando praquilo e tentando passar pro papel, não consegui, só que consegui foi tomar três ampolas. 
Senti uma coisa ruim, teria sido capaz de quebrar toda a loja, pegado a dona e feito ela mastigar cada uma daquelas pimentas das prateleiras, feito ela comer, comer, até sua boca e sua língua incharem e ela ter oferecido a vida em troca dum copo d’água, mas não havia o que eu pudesse fazer, só o que fiz foi pagar as três ampolas, e fui embora.
Cheguei na casa da Bernadete e a Bernadete me recebeu com aquela cara calma de quem já tinha estado muito brava e perguntou se eu queria jantar, eu fui respondendo as perguntas da Bernadete apenas com movimentos da cabeça enquanto engolia sua comida. Bernadete me levou pro quarto dela, pra relaxar, ela disse, pra esquecer as agruras do seu dia, pensei em perguntar que raio de agrura era essa. Nem o corpo nem os beijos nem as palavras de sacanagem ou o cheiro da Bernadete conseguiram provocar alguma reação no meu pau, ficou lá, murcho, a Bernadete percebeu, desceu até o meio das minhas pernas e abocanhou tudo, caprichou, e era uma coisa triste de ver, a Bernadete lá com aquela carne emborrachada na boca, parecia que tava mascando um chiclete, não teve jeito. 
Bernadete perguntou que merda era aquela, já não era a primeira vez, gritou comigo querendo saber se eu tava comendo outra, eu disse que sim, e nem tava nada, só que assim a conversa acabava mais rápido, eu não tinha como explicar pra Bernadete as minhas preocupações, a Bernadete nunca teve que se preocupar com nada, nasceu rica, casou com marido rico, nunca soube o que fosse isso. 
A Bernadete levantou da cama com os olhos vermelhos e a boca tremendo e correu pro banheiro, deve ter ido lavar o rosto e a boca pra tirar o gosto de pau mole, não deve existir gosto pior do que gosto de pau mole, deve ter um gosto de derrota, deve ser gosto parecido com aquele que fica na minha boca quando meus desenhos são recusados, a Bernadete demorou bastante, não chamei nem fui lá, deve ser difícil mesmo tirar esse gosto da boca. 
A Bernadete voltou com os olhos claros e a boca firme com cheiro de pasta de dentes, tava enrolada numa toalha e disse que se eu quisesse comer outras por aí, ela não ligava, mas quando estivesse com ela, eu tinha que dar no couro, era isso ou eu podia ir embora. Não senti uma coisa ruim nem uma coisa boa nem tive vontade de nada, não havia o que eu pudesse fazer, só o que fiz foi guardar meu pau mole na cueca, e fui embora.
A Bernadete só ficou me olhando sair, sabendo que dessa vez eu não voltava mais, nem eu sabia disso direito naquela hora, a Bernadete sabia, as mulheres sempre sabem dessas coisas mais do que a gente.

Bukowski, A Ressaca É Uma Atividade Solitária

"Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.”
"Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto."
"Me sinto bem em não participar de nada. Me alegra não estar apaixonado e não estar de bem com o mundo. Gosto de me sentir estranho a tudo..."
"Posso viver sem a grande maioria das pessoas. Elas não me completam, me esvaziam."
"De alguma forma, nunca consegui me ajustar na sociedade. Não gosto da humanidade. Não tenho o menor desejo de me ajustar, nenhum senso de lealdade, nenhum objetivo de fato."
"Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim."
"Enquanto um homem tivesse vinhos e cigarros à sua disposição, ele poderia resistir."
"Você sabe, algumas vezes, se um homem não acredita no que está fazendo, ele pode fazer um trabalho muito mais interessante, porque ele não está emocionalmente envolvido em sua causa."
"Observava as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e eu era platéia de um homem só."
"Ache o que você ama e deixe isso te matar."
"Não são as grandes coisas que mandam um homem para o hospício."
"Costumo levar coisas para ler, para que eu não tenha de olhar para as pessoas."
"Não era meu dia. Não era minha semana. Não era meu mês. Não era meu ano. Não era a porra da minha vida."

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Será Que Eu Me Pareço Com A Angelina Jolie?

É comum ouvirmos dizer - e mesmo constatarmos visualmente - que, ao envelhecerem juntos, os cônjuges se tornam mais e mais assemelhados fisicamente.
Sempre pensei que, em parte, essa semelhança adquirida, digamos assim, fosse devida à longa convivência, em que um assimila do outro a maneira de falar, o linguajar, o gestual, os maneirismos, as manias etc. Feito os imitadores que em nada se parecem fisicamente com as pessoas que imitam, mas nos fazem lembrar imediatamente delas ao realçarem um timbre de voz, um gesto, uma expressão fisionômica, um tique nervoso.
E que também, por outra parte, devesse-se a drástica redução hormonal na mulher : com a redução quase que a zero da produção dos hormônios sexuais, a mulher mais idosa passa a perder as características femininas dadas por esses hormônios e vai se "masculinizando", algumas ficam mais com cara de velhos que de velhas.
Mas parece que a coisa não é bem assim. Evidências recentes indicam que, talvez, essa semelhança não venha com o passar do tempo, que, talvez, ela sempre tenha existido; e que essa parecença tenha sido justamente a responsável pela união do casal.
O que faz uma mulher parecer bonita a um homem e não a outro? Os cientistas sempre tentaram vincular a beleza física às taxas de hormônios e às características ligadas à fertilidade, quadris largos e tamanho dos seios. Mas como explicar a preferência por características que em nada são relacionadas à fecundidade, como a cor dos cabelos ou dos olhos?
Agora, uma nova pesquisa, publicada pela revista PLOS ONE, mostrou que os homens também são atraídos por mulheres que se parecem com eles, consideram bonito um padrão físico em que eles próprios se reconhecem. É óbvio. É o velho adágio popular, quem ama o feio, bonito lhe parece.
Puta que o pariu!!! Será que eu me pareço com a Angelina Jolie?
Os resultados do estudo levaram os cientistas a avaliar duas hipóteses evolutivas. A primeira é a homogamia - que não tem nada de viadagem, não -, um fenômeno observado em várias espécies de animais que faz com que alguns indivíduos tenham a tendência em buscar parceiros que lhes sejam geneticamente próximos, ou, em outras palavras, que se pareçam com eles.
Puta que o pariu!!! Será que eu pareço com a Scarlett Johansson?
A segunda é o velho medo do macho de ser corno, a ricardãofobia, cientificamente chamada de "a incerteza da paternidade". Os homens teriam uma tendência a preferir (inconscientemente, claro) traços recessivos nas mulheres, uma vez que isso facilitaria o reconhecimento de seus traços genéticos nos filhos do casal. Assim, um homem preferiria os olhos azuis ou os lábios finos, que são características recessivas em relação aos olhos marrons e aos lábios grossos.
Os dados obtidos dão um clara prevalência à primeira hipótese, a homogamia, ficando a "incerteza da paternidade" na categoria de inconclusiva. Os pesquisadores, agora, darão sequência ao estudo para tentar elucidar a importância da homogamia na escolha dos parceiros, desvendar se há alguma vantagem evolutiva nos filhos gerados por pais geneticamente semelhantes.
Sei lá. Pesquisa científica é aquilo que a gente bem sabe. O pesquisador tem uma ideia, uma impressão inicial sobre um fenômeno e, via experimentação e observação, tentará prová-la a todo custo; inclusive, e muitas vezes, induzindo os resultados em direção a essa comprovação, escolhendo - ainda que inconscientemente - objetos de estudo que condigam com sua hipótese.
Tratando-se de seres  humanos, cada um é uma lei científica, cada um é uma regra em si, o que vale também dizer que cada um é uma exceção. O pesquisador é aquele cara que possui a habilidade inata de reconhecer um grupo significativo de pessoas com um comportamento muito particular - e de interesse à sua pesquisa -, um grupo numericamente significativo de exceções, portanto; e usa esse grupo particular em seus estudos para "confirmar" e estabelecer tal comportamento como uma regra que ele julga geral. É o famoso "acochambrar".
Ou você acham mesmo, por exemplo, que toda criança adora comer merda e sente tesão pela mãe? Nesse caso, acho eu, Freud usou um número reduzidíssimo dessas exceções para vertê-las em regra geral; na verdade, acho que ele usou apenas a si próprio.
Fazendo uma breve retrospectiva do meu não tão variado histórico amoroso, não noto semelhanças significativas entre mim e qualquer uma de minhas ex-namoradas, ou entre mim e minha esposa, ou, mesmo, semelhanças consideráveis entre elas.
De qualquer maneira, escolhendo alguém semelhante a nós ou não, ainda acho muito mais atraente um belo par de peitos do que minha barba escassa, falha e desgrenhada.
Fonte : Revista Veja

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Um Comentário Inusitado

Mês passado, comentei aqui o caso de uma candidata evangélica que tinha como plataforma de campanha a total erradicação dos católicos da cidade de Ibirité (MG), a 25 km de Belo Horizonte. Ela prometia, em quatro anos, livrar sua cidade das igrejas católicas e dos padres. A postagem é intitulada Trocando Merda Por Bosta.
Agora, nesse exato momento, entro no blog e me deparo com um comentário dos mais inabituais, inédito. Uma pessoa que assina o comentário como Prof. Pe. Paulo faz considerações muito ponderadas sobre minha postagem, cita outros exemplos tão absurdos quanto o dessa evangélica, e, pasmem (eu, pelo menos, pasmei), até fez um belo elogio ao Marreta no final.
Um padre me elogiando?!?! Puta que o pariu!!! E olha que eu não livrei a cara dos padres em minha postagem, não. Disse que os pastores evangélicos são piores, mas não morri de amores pelos clérigos, não.
O Pe. Paulo diz até que eu estou fazendo um bem à nossa esquálida cidadania. Sei não, Pe. Paulo, mesmo porque o atual conceito de cidadania não é algo que eu pretenda defender, direitos excessivos e escassos deveres, o que é um prato cheio para o mau-caratismo. De qualquer forma, obrigado. E parabéns pela isenção com a qual leu e interpretou minha postagem.
Reproduzo, abaixo, ipsis litteris, o comentário do Prof. Pe. Paulo.
"A degradação da vida pública e política nos rincões (mesmo a 25 Km de BH!!) preocupa. O crescimento "quantitativo" da nação crente ainda vai render muitos dissabores a nossa pobre e esquálida república, com novos oligarcas fanáticos substituindo os pachorrentos coronéis de antanho. 
A Igreja católica, apesar de suas mazelas matêm um controle limitador das ambições desmedidas de algum de seus membros, o que não acontece nas igrejolas que vicejam pululantes, sem eira nem beira. 
Na esfera local, municípios pequenos e médios, alguns grandes como Manaus, Natal, João Pessoa etc, o concluio de favorecimento entre prefeitos e lideranças "crentes", sob o cochilo covarde do Ministério Público, já dilapidaram extensas áreas de patrimônio público. 
São praças, escolas, creches e equipamentos ambientais negados, substituidos por barulhentas igrejolas. Em Mossoró-RN, os moradores de um conjunto, o Ulrich Graff impediram na Justiça a doação de uma praça inteira a Assembleia de Deus, irresponsavel e ilegalmente feita pela Prefeita Fafá Rosado.
Trata-se pessoal esclarecido, de classe média, igual sorte não tiveram comunidades pobres que foram despojadas de suas áreas verdes sem que autoridades competentes tivesses feito algo para impedir. Continua com essa linha, vc está fazendo bem a nossa esquálida mas aind viva cidadania."

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(13)

Down Em Mim
(Frejat/Cazuza)
Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
A versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Na privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Secretária Da Educação De Haddad É Ré Em Processo Por Desvio De Dinheiro Público

O brasileiro é burro, idiota, estúpido, nascido com uma cegueira cerebral sem cura.
A campanha eleitoral de 2012, que elegeu prefeitos e vereadores, correu paralela aos julgamentos do mensalão, e às condenações de toda a canalhada petista.
Ainda assim, os paulistanos, os habitantes da cidade teoricamente mais progressista do país, votaram e elegeram Fernando Haddad, um candidato do PT.
Será que as pessoas não conseguem fazer a clara relação entre candidato e partido? Se toda a alta cúpula do PT é da mais baixa estirpe (e é o STF a dizer isto), por que achar que os escalões subalternos (Haddad, no caso) sejam de outra cepa? Claro que não são. É muito complicado perceber que filho do PT, petralha é?
Mas não podemos acusar Haddad de falta de sinceridade política, de tentar enganar seu eleitorado. Se ser candidato pelo PT não era o suficiente para dar mostras de seu caráter (ou da falta dele) ao seu ingênuo eleitorado, Haddad foi mais veemente, aliou-se a ninguém mais ninguém menos que Paulo Maluf. 
O lendário Paulo Maluf. O homem, o mito. O gigante cujo lema deveria substituir o ordem e progresso em nosso lábaro estrelado : rouba, mas faz.
Haddad apertou mão de Maluf. Poderia ter apertado a de Mefistófeles, até a do Papa. Mas não. Apertou a de Maluf, um dos facínoras mais procurados pela Interpol; o dia - se esse dia chegar - em que a Interpol puser as mãos em Maluf, a cabeça de Salim vai virar um troféu na parede. Haddad e Maluf  firmaram um pacto. Misturaram seus sangues negros e almas sulfurosas. Ao se aliar a Maluf, Haddad gritou em altos brados que não prestava. Porém, de novo, o povo não ouviu. É complicado entender que quem se alia ao Ali Babá, no mínimo, é um dos quarenta ladrões?
Claro que não foi só isso. Claro que, na eleição de Haddad, teve o dedo do ex-presidente Lula, os nove dedos. Lula passeou com Haddad por toda a cidade de São Paulo a fazer as vezes de seu cabo eleitoral, levou Haddad a tiracolo para todos os redutos de metalúrgicos e nordestinos, para os quais Lula é mais que o Padim Ciço, mais que o Antônio Conselheiro.
Juntaram-se os devotos de São Lula e a Torcida Organizada de Paulo Maluf (sim, Maluf ainda tem um bando de fanáticos por ele na capital) : deu-se a desgraça, Haddad ganhou.
Haddad ganhou, e agora é hora das nomeações, de ajeitar a petralhada toda nos cargos de confiança. O novo prefeito já começou bem, já indicou a sua Secretária da Educação, e vejam que escolha acertada.
Quem melhor para comandar a Educação da maior cidade do país, nesses tempos carentes de honestidade e vergonha na cara, que uma ré de um processo por suspeita de desvio de verba pública? Quem melhor para capitanear todos os professores e diretores de São Paulo que alguém acusada de "malufar" R$ 49 milhões da prefeitura de Santo André, quando era titular da pasta da Educação do munícipio?
A tal do processo citado é Cleuza Repulho, indicação de Haddad para a Secretaria de Educação. Ela é ré do processo juntamente com ex-prefeito de Santo André, João Avamileno (PT); os dois, lógico, negam as irregularidades. 
Afirmam que as denúncias são decorrentes de disputas políticas. Exatamente o mesmo pronunciamento do ex-presidente Lula em relação aos condenados pelo mensalão : disse que o julgamento e as condenações foram politicas. É a cartilha do PT. São sempre vítimas, são os eternos perseguidos, desde a época do governo militar, em que assaltavam bancos e sequestravam embaixadores.
Cleuza Repulho teria repassado verbas para uma ONG, o Instituto Castanheiras, que não comprovou a realização dos serviços pelos quais recebera; a presidente da ONG era uma vizinha de Cleuza, e um dos idealizadores do instituto era um ex-namorado dela. Tutti buona gente.
Sempre desço a marreta nas tais ONGs. São, muitas vezes, ramificações de partidos e sindicatos, ou seja, tentáculos da mesma máfia. Desconfie sempre de qualquer um que integre uma ONG, e proteja sua carteira.
Normal. Ou alguém achou que o PT, na capital paulista, fosse nomear pessoas de ilibados comportamento e moral, de fichas limpas?
Parabéns, paulistanos, vocês merecem. E vocês, brasileiros, também.

O Ilustrador (parte 2)

Tinha prometido ir almoçar na casa da Bernadete, mas não tava com paciência para a comida da Bernadete e nem para comer a Bernadete depois disso, sei que ela ficaria furiosa, mas logo se acalmaria, sabe que eu apareceria mais tarde, sabe que não tenho muito mais pra onde ir. 
Preferia ter almoçado sozinho, mas a despensa vazia me fez ir almoçar na casa da minha mãe. Minha mãe me recebeu dizendo que eu devia aparecer mais, que tô que é só pele e osso, que devia arrumar uma mulher pra cuidar de mim, quase disse da Bernadete, fiquei quieto mastigando uma batata frita, a Bernadete não é o tipo de mulher que minha mãe aprovaria, chupei uma laranja e disse que tinha que ir, ela me fez prometer que iria cuidar mais de mim, da minha saúde, eu prometi e ela acreditou, quer dizer, eu fingi prometer e ela fingiu acreditar, eu sabia que não ia cumprir minha promessa e ela sabia mais ainda, mãe sempre sabe mais que a gente, mas pensam que fingindo acreditar, os filhos cumprirão o prometido para não magoá-las, nós nunca cumprimos. Senti uma coisa boa quando me despedi dela, uma vontade de dar um beijo na sua testa, não dei, só fui embora, nunca tinha dado um beijo nela, só levaria a mais perguntas, e eu tinha pressa, não havia o que eu pudesse fazer, e fui embora. 
Para que eu tinha pressa?, só se fosse para não chegar ainda na casa da Bernadete. Fui prum parque da cidade cheio de árvores, lagos, ver se conseguia desenhar alguma coisa, umas paisagens. Foi nesse parque que conheci Bernadete, estava rascunhando lá umas tartarugas tomando sol nas pedras e a Bernadete chegou por trás de mim e disse que tava muito bonito o meu desenho. Nem duas horas depois, eu já tava no apartamentão da Bernadete, enfiado no meio das pernas da Bernadete. Depois, enquanto Bernadete se lavava no chuveiro, a Bernadete sempre se lava depois, eu pensei que tudo bem, meus desenhos não me davam o sustento, mas já era alguma coisa se me traziam alguma buceta. Muito depois soube que não foi meu desenho que pegou a Bernadete, nem pra isso servem, foi a Bernadete que me pegou usando meu desenho, tempos depois confessou que achou meu desenho horrível, a cabeça da tartaruga parecia um champignon, champignon é um cogumelo, a Bernadete me disse quando perguntei, mas que elogiou só pra me comer, que nem aqueles caras que dizem pruma gorda que ela não precisa perder peso e a idiota cai direitinho na arapuca, eu também caí, tudo bem, Bernadete é boa.
A Bernadete tem 44 anos, é 18 anos mais velha que eu, tá com tudo em cima, é viúva, viúva fresca diz ela e ri, nunca consegui entender a graça disso, perdeu o marido de quem não gostava e ganhou a pensão dele, que não é muita coisa segundo sua boca, mas é capaz de sustentar uma vida de pequenos vícios e manter os dentes brancos e saudáveis, nunca vi Bernadete fumar, cheirar, injetar, raramente tomava vinho, então achei que seu pequeno vício fosse dar morada a garotões como eu, não era morada grátis, ela cobrava em suor e porra, mas não dava pra reclamar, também nunca perguntei isso pra Bernadete, futebol e religião a gente até discute e condena, os vícios, não, ninguém deve falar e julgar os vícios dos outros, todos nós precisamos de alguns, e se esse era um dos da Bernadete, tudo bem, não importava pra mim. 
Tava sentado num banco lembrando disso e desenhava um martim-pescador que tava morgando na beira d’água, nem sei pra que tava desenhando essa merda, quando chegou um velho e disse que queria saber desenhar bonito assim, pergunto pra ele, se por acaso, ele é, ou conhece, algum editor de livro ou revista de vida animal, ecologia, essas coisas, ele olhou pra mim com estranheza e disse que não, então eu mandei ele ir passear, encher o saco de outro, o velho saiu naquele passo de velho que a gente nunca sabe se é falta de força ou se é só pra gente ter dó, não fui rude com o velho porque ele achou meu desenho bonito, foi porque de que adiantava isso? Senti uma coisa ruim, teria sido capaz de afogar o velho num dos lagos, amarrar seu corpo descarnado nas pedras para ele não flutuar e voltar todo dia pra ver o quanto os cágados e as tilápias já tinham comido dele, mas não havia o que eu pudesse fazer, só o que fiz foi rasgar o esboço do martim-pescador, levantar do banco de cimento, jogar uma pedra no martim-pescador, o filho da puta nem piscou, de tão longe que a pedra passou, e fui embora.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Guarani Kaiowá De Boutique - Luiz Felipe Pondé

Pondé foi direto ao alvo em relação aos nossos "bons" indígenas : "Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo"
Abaixo o texto na íntegra, publicado na Folha de São Paulo de hoje, 19/11; os trechos destacados em vermelho são por minha conta.
Guarani Kaiowá de boutique
As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.
As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.
Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética.
Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.
Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia.
O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso Inaugural", parte da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.
Este fenômeno dos "índios de Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade.
Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.
O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?
Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um "mito", sua releitura de Adão e Eva.
Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.
Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um "passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar mal da "opressão social".
Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta.

domingo, 18 de novembro de 2012

2º Encontro Nacional De Ateus

O 2º Encontro Nacional de Ateus, a ser realizado em 17 de fevereiro de 2013, já conta com a adesão de nove estados, além do Distrito Federal, São Paulo, Sergipe, Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás e Paraíba.
Sou ateu. Mas um encontro nacional de ateus me parece uma idiotice descomunal. O que poderia nortear uma reunião de ateus, eles se congregariam a fim de quê?  Para não rezar? Para não louvar a deus, para discutir a inexistência dele? Patético!
Fica parecendo uma festa baile para tetraplégicos, ou uma convenção de broxas realizada num puteiro. Não tem o menor sentido. É triste.
Segundo os organizadores do evento, haverá debates em torno do racionalismo e do ceticismo. Então, que chamem de encontro de racionalistas e céticos. Ateu é outra coisa, é coisa bem diferente.
Uma reunião desses neoateus - desses filhotes de Richard Dawkins, que como cientista evolucionista é brilhante, mas que como militante do ateísmo prestou um grande desserviço aos verdadeiros ateus - deve ser um porre. Corrijo : um porre, não, que um bom porre é das melhores coisas que podem ocorrer a um sujeito, uma reunião de ateus deve ser uma ressaca daquelas brabas, daquelas de Vesúvios a regurgitarem pela boca e um bloco inteiro do Olodum a tocar em nossa cabeça. Mais que chato, repito : triste.
Explico : o crente, por mais burro que ele seja (e ele o é), reúne-se em torno de algo, de uma crença, de um objeto que ele julga existente e palpável. E esses neoateus de merda? Reúnem-se em torno do nada, do vazio, da descrença. E, acreditem, ter a descrença como elemento agregador é coisa das mais tristes que há.
O vazio que um deus preenche no mundo dos crentes, permanece imensa lacuna no dos ateus. Para a grande maioria das pessoas, o vazio, o nada, o abismo, são exasperantes, aflitivos, causam pânico, devem ser preenchidos a qualquer custo, mesmo às custas de seu livre pensamento, de sua identidade; trocam o penso, logo existo pelo creio em deus, logo sou feliz. Existir e ser feliz costumam não ser atividades muito relacionadas.
Ser ateu é ter a noção de que o vazio existe e aceitar - entender - que vazio ele deve continuar, que há um sentido no vazio, embora não o conheçamos, que o Universo é constituído de mais de vazios que preenchimentos, de mais interrogações que pontos finais, de mais vácuos que respirações.
Ser ateu é conviver com o vazio, não é querer dar um sentido a ele, muito menos cultuá-lo como se fosse a um deus, que é o que fazem esses neoateus em seus encontros.
Já disse, aqui no blog, que os ateus são mais honestos, mais inteligentes e até melhores fodedores, mas nunca disse que são mais felizes. Não são. Não são festivos em torno de sua descrença. Não ficam se reunindo em grupinhos ou irmandades.
Proselitismo ateu? Não tem jeito. Ateu nasce ateu, não é convertido. O ateu verdadeiro é aquele cara que tem coragem de olhar ao abismo sabendo-o, pura e simplesmente, abismo, e nada mais. Se o sujeito olhar para o abismo procurando seja o que for nele, já não é ateu, já é alguém à procura de um preenchimento, de um deus.
O cara pode nem acreditar ou se satisfazer com o deus atual e vigente, mas se não suporta o vazio, a visão do abismo, não é um ateu genuíno, é só um crente em potencial à espera de um novo deus que se encaixe em seus anseios, necessidades e conveniências, que estofe seu travesseiro e lhe proporcione um sono tranquilo. No fim das contas, deus é isso : paina para travesseiros e consciências pesadas. Ateu não tem sono tranquilo. Nem está em busca de.
Digo mais : o ateu macho de verdade é o que encara o vazio e se deixa ser olhado por ele; não tem medo do que verá (ou, no caso, do que não verá) no vazio e  nem do que o vazio verá nele.
Se você não tem os colhões necessários para coabitar com o abismo, não se diga ateu, não fique promovendo encontros de outros frouxos feito você, não organize missas ateias. Vão logo procurar uma religião, seus neoateus do caralho, ou fundar uma nova.
Reunir-se em torno de uma divindade imaginária, erigir templos em nome dela, já é de causar dó e não mostra grandes sinais de inteligência, praticamente nenhum. Agora, congregar-se em torno do nada, promover encontros em torno do vazio, é mais triste ainda, e só revela uma estupidez total e absoluta. Irreversível.
Para finalizar, e piorar ainda mais, o encontro desse ano traz uma novidade, vide cartaz : foi declarado o Dia do Orgulho Ateu.
Dia do Orgulho Ateu ???  Sei não, seus neoateus... parece coisa de viado.
O 2º Encontro Nacional de Ateus, que vai se realizar no dia 17 de fevereiro de 2013, um domingo, já tem a adesão de 9 Estados, além do Distrito Federal: São Paulo, Sergipe, Paraná, Maranhão, Rio, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás e Paraíba.

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2012/11/encontro-2013-de-ateus-ja-tem-confirmacao-de-nove-estados.html#ixzz2CbUKiWHb
Paulopes informa que reprodução deste texto só poderá ser feita com o CRÉDITO e LINK da origem.
O 2º Encontro Nacional de Ateus, que vai se realizar no dia 17 de fevereiro de 2013, um domingo, já tem a adesão de 9 Estados, além do Distrito Federal: São Paulo, Sergipe, Paraná, Maranhão, Rio, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás e Paraíba. Em cada um desses Estados o encontro será promovido por uma associação de livres-pensadores.

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O 2º Encontro Nacional de Ateus, que vai se realizar no dia 17 de fevereiro de 2013, um domingo, já tem a adesão de 9 Estados, além do Distrito Federal: São Paulo, Sergipe, Paraná, Maranhão, Rio, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás e Paraíba. Em cada um desses Estados o encontro será promovido por uma associação de livres-pensadores.

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O 2º Encontro Nacional de Ateus, que vai se realizar no dia 17 de fevereiro de 2013, um domingo, já tem a adesão de 9 Estados, além do Distrito Federal: São Paulo, Sergipe, Paraná, Maranhão, Rio, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás e Paraíba.

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sábado, 17 de novembro de 2012

E Quem Um Dia Irá Dizer Que Existe Razão Nas Coisas Feitas Pelo Coração? E Quem Irá Dizer Que Não Existe Razão?

Aconteceu em Oklahoma, EUA.
Ele (à esquerda na foto) nasceu Esmerald e se tornou Arin Andrews; Ela (à direita na foto) nasceu Lucas e se tornou Katie Hill. Encontraram-se e se apaixonaram.
A menina que virou menino se apaixonou pelo menino que virou menina, e vice-versa.
Confuso? Que nada. Bonito, isso sim. Bonito pra caramba.
Tivesse a menina continuado menina e o menino, menino, teriam se apaixonado? Sim. É certo que sim.
"Menino e menina se conheceram quase sem querer/Não foi por obra do acaso/Tinha mesmo que acontecer/Eles se julgavam diferentes como todos os amantes imaginam ser/Faziam tantos planos que seus vinte e poucos anos eram poucos pra tanto querer/Ah, se eles soubessem/O que eles pensam saber..."

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Deu$ Seja Louvado

O Ministério Público Federal, na pessoa do procurador Jefferson Aparecido Dias, entrou com uma ação civil pública nesta segunda-feira (12/11) em que pede que as novas cédulas de real passem a ser impressas sem a expressão "Deus seja louvado". 
A expressão surgiu em 1986, por ocasião do Plano Cruzado, que trocou a moeda do país, o cruzeiro (Cr$) pelo  cruzado (Cz$). A inclusão da frase foi sugestão de José Sarney,  o então presidente da república.
O procurador justifica sua ação pela observância da laicidade do Estado, e diz que manter a expressão se configura numa predileção pelas religiões adoradoras de Deus como divindade suprema, o que impediria a coexistência em condições igualitárias de todas as religiões praticadas no país.
Não acho! Se a expressão fosse Cristo seja louvado, eu concordaria, seria uma clara preferência pelo cristianismo. Mas deus não. Toda e qualquer religião cultua um deus (ou vários) como entidade suprema.
O problema é que quando se fala em Deus (com letra maiúscula) ocorre a correspondência imediata ao deus cristão. O cristão é tão pouco criativo e sem imaginação que não conseguiu dar um nome ao seu deus, resolveu simplesmente chamá-lo de Deus.
Acontece que "deus" é um substantivo comum, é um termo genérico que se refere a toda e qualquer divindade cultuada pelo ser humano, as que já existiram e morreram, as atuais e as vindouras. O cristão transformou deus em substantivo próprio, Deus. Tão próprio, que dele, Deus, se apropriou, tornou-o sua patente e propriedade. 
Deus não é Deus, é deus, vale para qualquer um.
Dessa forma, a expressão Deus seja louvado nas cédulas de real não é capaz de ferir nem ofender ninguém, de injuriar nenhuma religião. Se o cara é muçulmano, ele lê deus na nota e o associa a Alá, se é testemunha de Jeová, óbvio, a Jeová, se é judeu, a Adonai, e assim por diante. Não vejo o porquê de tanto barulho em torno disso.
Teoricamente, os ateus seriam os únicos que poderiam se sentir ofendidos com a "presença" de deus no dinheiro. Teoricamente. Porque, na prática, o ateu não está nem aí, está cagando e andando para deus e as religiões. Digo do ateu verdadeiro, do ateu sério, não o chamado neoateu, o que sai por aí professando o ateísmo feito uma religião às avessas.
Para o verdadeiro ateu - o que é o meu caso -, tanto faz estar escrito Deus seja louvado ou Papai Noel seja louvado, ou Coelhinho da Páscoa seja louvado, ou Mula-sem-cabeça seja louvada. São todas entidades míticas; e o que não existe, não pode ofender ninguém.
Além disso, a própria Igreja Católica se posicionou contra a petição do procurador, quer que seu Deus seja mantido no dinheiro - por que será, hein? Será que a Igreja Católica leva uma comissão da Casa da Moeda do Brasil? Ora, se os próprios donos de Deus não se ofendem em ver o sacro nome Dele estampado no vil metal, no símbolo máximo de um sistema econômico desigual e nada cristão, quem sou eu, um ateu, para me ofender, para ficar com melindres?
O que ofende mesmo é um procurador da República, um funcionário público bem remunerado e regiamente pago pelos impostos dos cidadãos, não se ocupar de assuntos mais sérios e relevantes à nação.
Deus? Quero que deus se foda!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Verde Que Te Quero Verde

O vermelho nunca foi inclinação natural da terra brasilis,
O verde sempre foi nossa nativa vocação,
Ainda que desmatado, sempre o verde.
Carnavalizaram demais com o verde,
Vestiram o papagaio com pele de lobo,
Lobo das estepes, o lobo do homem.
Fantasiaram o portuga-afro-índio de cossaco,
Puseram a foice e o martelo em suas mãos
(logo nas de quem...).
Deu no que deu!
Uma transfusão se faz urgente,
Do sangue pela seiva,
Do vermelho pelo verde.
Pelo verde-oliva, se necessário for ou se mostrar.
Sim, pelo verde-oliva
E por que não?
Já deu certo uma vez, não deu?
Não é mais hora
Nem há mais espaço para conciliações e conchavos.
É hora de redefinições e novos maniqueísmos,
Que as elocubrações, intermédios e meios tons
Sejam deixados nos lugares que bem lhes cabem,
Nas conversas de boteco e nos livros de filosofia.
A realidade é dicotômica:
Verde é verde, vermelho é vermelho.
Tente misturá-los e terá um marrom-merda em suas mãos,
O marrom-merda que tomou conta do país nas últimas décadas,
Marcadamente na última.
Não é mais hora de moderações,
Do equilibrista em cima do muro,
Não é mais hora de confusões e conluios cromáticos,
Não é mais hora para daltonismos:
Verde que te quero verde.

O Ilustrador (parte 1)

Saí pelas grandes portas de vidro verde de uma editora de livros infantis com minha pasta cheia de ilustrações recusadas debaixo do braço. Pronto. Caí o mais que pode cair um ilustrador, acho que é o mais, fui recusado para ilustrar as páginas de livros infantis. 
Fui recusado diversas vezes para outros tipos de ilustrações, agora ser rejeitado para fazer uns rabiscos em livros infantis é foda. Foram a geladeira e o estômago vazios e as contas a pagar que me aconselharam a esmolar esse serviço, não devia ter ouvido esses mendigos, nunca devemos dar atenção a mendigos, e agora isso, mais uma recusa. 
Eu sou um ilustrador, dos bons, só que ninguém mais se tocou disso, tenho certificado e diploma de desenho artístico e perspectiva, diploma do Instituto Universal Brasileiro, tem neguinho que ri disso, mas não é pouca coisa, não, garanto que não é qualquer um que passa por todos aqueles módulos, não, e em quase todos módulos eu recebia grau dez dos avaliadores que eu nunca vi, um ou outro grau nove, menos que isso, não. Acho que sempre quis foi desenhar quadrinhos de heróis, cresci vendo os bons, os clássicos, Jack Kirby, Jim Steranko, Neal Adams, Sal e John Buscema, Paul Gulacy, Barry Smith, Frank Miller, só os grandes. Fui recusado, disseram que faltava ação, cinética, sei lá o que é isso, ao meu traço.
Tentei então coisas menores, caricatura era meu caminho, fui recusado, meu traço não tinha a verve, sei lá o que é isso, humorística necessária; parti para tiras de jornais, uma coisa descartável, tosca, fui recusado, minha composição era muito prolixa, sei lá o que é isso, não tinha a síntese, sei lá também que porra é essa, a que se pretende o veículo, pensei em perguntar que merda de veículo era esse, mas não discuto quando sou recusado, sinto uma coisa ruim, mas não há o que eu possa fazer.
Achei que seria fácil com livros infantis, criança se contenta com qualquer rabisco, inda mais essas crianças meio retardadas que ficam lendo esses livros escritos para elas por adultos meio retardados, achei que seria fácil, criança se contenta com qualquer rabisco, mas parece que os adultos retardados que escrevem para essas crianças não se contentam tão fácil, fui recusado, seu colorido não tem a candura, sei lá que porra é essa, que desejamos imprimir aos nossos livros, foi o que me disseram a gorda muxibenta, tentando equilibrar a bunda na cadeira, e o viadinho de óculos de armação retangular e grossa.
Quis perguntar o que era candura, se fosse alguma tinta, alguma cor diferente, eu podia acrescentar no desenho, mas pensar nessas palavras difíceis acabou me dando dor de cabeça. Senti uma coisa ruim; na hora, teria sido capaz de pegar o viadinho e enfiar ele de cabeça na buceta gorda da gorda, mas não havia o que eu pudesse fazer, só o que fiz, foi sair e atravessar as grandes portas de vidro verde da editora.