sábado, 25 de maio de 2019

Universos Opostos

Sou satélite a monitorar teus movimentos de rotação,
Teu sinuoso, escorregadio, cruel e despreocupado jogo de quadris.
Sou tuas 12 luas, 
A te olhar de longe,
A velar teu sono,
A vigiar tuas marés,
A te proteger de pesadelos com a minha luz roubada.

Exibo-me para ti enquanto dormes,
Só enquanto não podes me ver
(minha timidez não permite que diferente eu faça).
E quando te espreguiças para o teu dia,
Fresca e perfumada
(banhada que foste toda a madrugada por minhas atenções),
Meus olhos já não podem - prateados, pranteados - te alcançar.
E é , então, para outros que passeias e desfilas
Na tua Via-Láctea particular.

Sou um intrometido de um fósforo
Na tua constelação de supernovas.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Chico Buarque, por Mares Nunca Dantes Navegados

Politicamente, muitos o consideram uma lástima - mesmo eu, muitas vezes.
Separemos, porém e sumária e definitivamente, o artista dos defeitos, das eventuais falhas de caráter e dos vícios do homem que o abriga, que é seu hospedeiro.
Mais que isso : permitamos a ele - ao artista - todos os vícios e defeitos morais que ele julgar a que tem direito, ou a todos a que ele julgar que não são defeitos. Não os permitimos a nós mesmos? Mesmo sem sermos artistas? Mesmo sem termos prós a contrabalançarem nossos contras?
Chico Buarque, o artista, foi premiado - muito justamente premiado - com o Prêmio Camões, a maior láurea literária da Língua Portuguesa.
Chico não foi premiado apenas pelos livros que escreveu; sim pelo conjunto da obra : livros, peças teatrais e letras de música. O Troféu Camões reconhece, anualmente, o "escritor cuja obra contribua para a projeção e o reconhecimento da língua portuguesa".
Ouvi Chico dizer por vezes, quando perguntado sobre o processo de escrita de suas belíssimas letras, que, para ele, a música surge primeiro, só depois a letra para vesti-la, nunca o oposto. Conforme a música vai sendo tocada, vai se desenvolvendo, é ela, a música, e não o Chico, isso segundo ele próprio, que vai pedindo pela palavra que vai completá-la, e ele, mero escriba, vai anotando no papel a palavra atraída pela música. A música pede a palavra. E a palavra vem. Vem-lhe. Morro de inveja.
No futebol, é comum dizerem do craque que a bola gosta dele, que ele não precisa se esforçar para pegar a bola, que ela corre por conta própria, guiada por magneto irresistível, direto aos pés dele.
A palavra gosta do Chico. Tem paixão irrefreável por ele. Se aninha, por conta e vontade próprias, nas mãos e no colo do autor.
Defeitos humanos à parte, como não gostar de um cara a quem as palavras adoram?
Parabéns, velho Chico.
em tempo : Chico Buarque foi o 13º autor brasileiro premiado com o Prêmio Camões. Só falta agora algum misto de comunista espírito de porco com numerólogo relacionar o prêmio com o número 13 da legenda do PT. Ver nisso, presságios de uma reascensão de Lula ao poder. Pãããããããta que o pariu!!!

terça-feira, 21 de maio de 2019

A Ideologia Saiu Pela Culatra (Ou : Ganhei o Dia... Pããããta que o pariu se ganhei!)

Sempre fui um estranho no ninho. Desde que me entendo por gente, nunca possuí talentos, habilidades ou interesses que me fizessem ser caro a um grupo, a um bando. Nem, e muito menos, eles - os bandos -, atributos e atividades ou assuntos que me despertassem a vontade de a eles pertencer, congregar-me.
Fui assim em criança, em adolescente, em jovem adulto. Não seria agora - eu, um pujante pré-envelhescente - que a situação pudesse ser diferente. Sou um conservador assumido em relação à moral, aos costumes, às tradições e à política. Um conservador que vive num covil de esquerdistas.
Sou professor do ensino médio. De escola pública. Antro e reduto de esquerdistas de boutique, de Ches Guevaras e de Fidéis de diretório acadêmico de faculdade. Furna de comunistas revolucionários, que só se rebelam, só promovem gritaria e balbúrdia, greves e paralisações por terem a garantia de que nenhuma punição significativa lhes recairá sobre o lombo, só por terem a certeza de que não correm nenhum risco real às suas carreiras : são funcionários públicos com estabilidade no emprego garantida por lei. Fossem funcionários de empresas privadas, duvido que se rebelassem tanto assim.
São, esses professores esquerdistas de escola pública, bem como nos diz o gênio Belchior em sua canção "Dandy" : "Mamãe quando eu crescer/Eu quero ser rebelde/Se conseguir licença/Do meu broto e do patrão/Um Gandhi dandy/Um grande milionário socialista/De carrão chego mais rápido à revolução".
São metidos a "justiceiros sociais", esses professores; sempre a favor de todo e qualquer privilégio para os "coitadinhos" desse nosso Brasil dantes mais varonil, de toda e qualquer regalia para os "excluídos", para os "sem oportunidade" desta triste e preguiçosa terra de Pindorama.
Bolsa Família, Bolsa Escola, Bolsa Detento, Bolsa Ditadura, cotas para vagas na universidade, em concursos públicos, em sorteios de habitações populares etc etc. Gozam, esses professores, ao defenderem tais "conquistas sociais".
E não é que hoje, numa semifria terça-feira, que nada prometia além de ser mais um costumeiro dia de trabalho inútil, fui brindado, logo pela manhã, com uma inesperada e esfuziante alegria?
Abrindo um breve parêntese, digo-vos que adoro o Tempo. O Tempo, por ter todo o tempo do mundo, é o mais paciente dos deuses. E o mais implacável, também. O Tempo não precisa promover genocídios, pragas e hecatombes feito o deus cristão para punir os pecadores. O Tempo só precisa dar-lhes tempo. Tempo para que se contradigam e se autopunam. Tempo para que mordam a própria língua e morram pela própria peçonha. Fecho o parêntese e volto à vaca fria.
Cheguei na escola por volta das dez para a sete da manhã - como sempre chego - e enquanto me organizava para mais um período letivo, pegava os diários das salas do dia, abastecia minha caixinha de giz etc, ouvi, involuntariamente, de canto de orelha, um docente a praguejar em voz alta contra a prova de um concurso municipal para vagas no magistério que ele havia prestado - docente que não direi se é homem ou mulher, nem que disciplina leciona, ou seja, contarei o milagre, mas não direi o nome do santo, só direi que pertence a tal área de "humanas.
Até então, tudo normal. O tal docente é destes de esquerda, "politizado", "engajado" e "militante" das causas sociais, vive mesmo revoltado com tudo e o tempo todo. Não sabe falar em voz baixa. Tudo o que diz, diz gritando. Como se estivesse em perpétuo palanque, em perene estado de comício, a discursar e a panfletar para as massas desvalidas.
Supus que ele estivesse a deitar impropérios contra alguma maracutaia no concurso, contra alguma manobra escusa que estivesse, por exemplo, a favorecer "protegidos" de algum político em detrimento de quem honestamente fez a prova do concurso. Tipo de falcatrua muito corriqueiro em concursos municipais.
Qual o quê, meus amigos... qual o quê? Ele, eterno defensor das minorias oprimidas pelo homem branco heterossexual, estava a maldizer, a cuspir marimbondos de fogo - pasmem, leitores do Marreta -, contra o sistema de cotas adotado pelo tal concurso. Sim, criticando o sistema de cotas, meus caros.
Segundo ele, em concursos públicos, a porcentagem usual de vagas destinadas a negros, pardos, indígenas e deficientes físicos perfaz 20%, ficando 10% para negros, pardos e indígenas e 10% para deficientes físicos.
Pois a Prefeitura organizadora do concurso, desta vez, resolveu ir mais longe na justiça social. Destinou 20% das vagas para deficientes físicos e outros tantos 20% para negros, pardos e indígenas, ou seja, uma reserva "social" de 40% do total de vagas.
Ele, que foi muito bem classificado, e que, ideologias idiotizantes à parte, é profissional dos mais capazes e competentes que já conheci, porém branco(a), ficou de fora. Ganhou, mas não levou. Fossem os usuais 20% de reservas, ele teria ingressado.
Adorei. Ganhei o dia... pãããããta que o pariu seu ganhei! A ideologia da justiça social lhe saiu pela culatra. Ideologia no cu dos outros é refresco. Quando é em nosso próprio ânus que ela adentra ardida, já não nos parece mais tão divertida, já não nos parece mais tão justa, né? O docente esquerdista foi vítima de "fogo amigo".
E reclamava disso aos brados, sem nenhum pudor, de modo que todos o pudessem ouvir. Deveria era ter ficado bem quietinho, até fugir de comentar o assunto, deveria ter engolido calado, ruminado e digerido o gol contra, a bola nas costas que levou da ideologia que tanto apregoa. Bebido sua indignação junto ao matutino café amargo. Deveria ter tentado passar despercebido; não fazer alarde de sua ululante revolta contraditória.
Das duas, uma : ou esse pessoal da esquerda não tem problema nenhum em se assumir como hipócritas, ou nem se dão conta de sua hipocrisia, sua burrice os impede.
Sou homem de gostos módicos, de prazeres simples e frugais, mas vos digo que nada poderia, hoje, ter me proporcionado maior prazer do que ter visto um esquerdista ser discriminado pela ideologia perversa e sub-reptícia que defendeu a vida toda. Nenhum júbilo poderia ter sido superior ao de ver um esquerdista a reclamar do cuspe que disparou para cima e que, agora, lhe pousa na cabeça. A se queixar da mordida da cobra cuja boca ele sempre beijou.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

BUKOWSKI, escrita formal

Quando o espírito se desvanece, aparece a forma.
Quando um artista,
Um poeta,
Ou qualquer coisa assim perde o seu espírito...
Isso afeta tudo o que ele vai fazer.
E quanto mais fracos eles ficarem,
Mais preocupados com a forma eles ficarão.
E tentarão esconder o fato de que eles não estão
Mais escrevendo bem.
Pela escrita formal.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Greve de Buceta Pelo Direito de Continuar Matando Inocentes

A atriz estadunidense Alyssa Milano (atriz? sério? quem já ouviu falar dessa fulana?), há uns três ou quatro dias, convocou a feministada a fazer greve de buceta!
Em tempos de "lacração" ideológica - sobretudo por parte das frentes esquerdistas, das quais o feminismo é um dos tentáculos mais rançosos e pegajosos -, a famosíssima atriz convocou a mulherada a lacrar a xavasca.
Greve de buceta em protesto contra o aumento das restrições e do rigor na lei que regulamenta a prática do aborto indiscriminado no estado da Geórgia. 
A mudança na lei estabelece um novo limite de tempo para a interrupção da gravidez, para o extermínio covarde do feto : a detecção dos primeiros batimentos cardíacos. A partir do momento em que as batidas do coração do desavisado e jurado de morte feto puderem ser ouvidas, o seu aborto se torna ilegal, criminoso. O que ocorre, em média, por volta da sexta semana de gestação. Da sexta semana de VIDA do novo ser.
A tal da atriz se queixa da rigidez deste limite. A infanticida "argumenta" que a maioria das mulheres demora mais de seis semanas para saber que está grávida. Oh, tadinhas... tão distraídas, as biscates.
A lei não tem nada de rígida. É frouxa, é permissiva, isto sim. 
Qualquer lei neste sentido, que permita matar de forma premeditada e indiscriminada um feto que não está colocando a vida da gestante em risco (caso em que poderia ser justificado como legítima defesa) e/ou que não tenha sido concebido sob violência ou coação, por obra de um estupro, é uma lei permissiva. Licenciosa. Canalha.
Estabelecer limites, mais ou menos rígidos, para a matança ainda é permitir a matança.
A tal atriz, rezando a cartilha feminazista feito o autômato que é - que são estes ativistas, sejam lá de que causas forem -, se saiu, óbvio, com a nojenta ladainha de que a mulher deve ter plenos direitos sobre o seu corpo, de que pode dispor dele como bem entender.
Até concordo. Sobre o próprio corpo, sim. E sobre o de mais ninguém. 
Porém, uma criança, um feto, não é o corpo da mulher, é o corpo de um outro ser, temporariamente abrigado no dela. Quer dispor sobre a vida de alguém? Disponha sobre a própria. Se alguma abortista resolver se matar, é só falar comigo, tenho dicas maravilhosas para um suicídio (quase) indolor.
Matar um feto é decidir sobre a vida e a morte de um outro corpo, que não o da mulher.
Greve de buceta para manter o direito de matar inocentes? Deveriam ter feito greve de sexo, deveriam é ter fechado as pernas, quando deram de qualquer jeito, para qualquer um, e engravidaram "sem querer". Tivessem, na dúvida de uma possível gravidez indesejada, fechado as pernas, trancado a periquita. Não teriam engravidado, não seria "necessário" o aborto.
A tal da atriz, ferrenha discípula de Herodes, ainda "argumentou" em seu twitter : "Até que as mulheres possam ter controle total sobre os próprios corpos, não podemos arriscar uma gravidez. Junte-se a mim em não fazer sexo até que recuperemos a autonomia sobre nossos corpos".
Arriscar uma gravidez? Será que a fulaninha nunca ouviu falar de métodos contraceptivos? Será que nunca lhe passou pela cabeça mandar o macho que lhe come encapar a rola?
Eu só fui saber o que era meter sem camisinha quando estava com meus 40 anos. Antes disso, com todas as namoradas e mulheres com quem me relacionei, nunca dispensei a sim incômoda e sim mais ainda necessária capa de látex. Cheguei a ter uma namorada que tomava a pílula e mesmo assim nunca abri mão do preservativo. Pílula mais camisinha. Nem o Espírito Santo consegue emprenhar uma mulher nestas condições.
Na hora do bem-bom, na hora de "virar os zoinho", poucos se precavem ou pensam nas possíveis e prováveis consequências. Querem é meter. Querem é gozar. Depois, simplesmente, querem extirpar - feito furúnculo, feito tumor - a criança e se livrarem das responsabilidades de suas irresponsabilidades? Jogar privada abaixo e dar descarga na consequência de suas inconsequências?
Ora, vão tomar no cu! Aliás, se tivessem tomado no cu, não teriam engravidado. O cu é mais seguro dos métodos contraceptivos.
Fica a dica do Azarão para as abortistas : na dúvida sobre o risco de engravidarem, deem o cu. É uma solução natural. Sem contraindicações. E que pode até ajudar nos problemas de constipação e prisão de ventre, males tão comuns ao universo feminino. O cu, feministada, é o futuro do controle de natalidade.
Adotem minha sugestão. Não abortem esta ideia.
E que merda de limite é este adotado para a realização do assassinato?  Somente a partir da primeira batida do coração é que o feto está vivo? Pois vos digo que a vida - seja lá o que ela for - se instala a partir do momento da fecundação. Quando óvulo e espermatozoide se unem, formando a primeira célula do novo ser, a vida ali já se encontra. Aquela primeira e, inicialmente, única célula, o zigoto, já consome oxigênio, já processa energia, já tem metabolismo, e, em poucas horas, começará a se multiplicar, virará duas, quatro, oito, dezesseis e assim por diante. Se isso não for algo vivo, deem-me agora a nova definição para o que o é.
Repito : aborto, sem que haja risco à vida da gestante, ou sem que a criança seja fruto de uma grande violência contra a mulher, é assassinato. Se esta modalidade de assassinato é, ou não, tipificada como crime, é uma outra história, uma outra questão. E diz muito a respeito dos valores em que se alicerça, ou em que chafurda, esta ou aqueloutra sociedade.
Abaixo, a tal Alysson Milano. Bonita, gostosa e tal. Do tipo que, como dizia meu velho amigo Porpeta, "dá pra comer beijando". Apenas mais uma infanticida. Que se esconde por detrás, que tem por álibi uma ideologia criminosa e perversa.

domingo, 12 de maio de 2019

Te Lembra Disso?

Agora, a sala está completa. A aula pode começar.
Lúcio Mauro
1927 - 2019

Ruim Pra Caralho, Porém em Oferta

Hoje, em minha costumeira ida ao supermercado, lembrei-me de meu velho e há muito não visto amigo Samuel, o famoso Nariz. Em nossos idos tempos de boteco, o Nariz era o enjoado do bando, o gourmet, quando este termo nem havia ainda entrado em voga. Enquanto tomávamos ampolas de Antarctica, Brahma, a que estivesse mais barata, o Nariz só tomava da Original.
Uma vez, dei uma bicada no copo dele para experimentar o tal néctar e não achei nada de mais. Não achei nada, aliás. Não achei gosto, não achei cheiro, não achei nem álcool. Falei pro Nariz que aquela porra não tinha gosto de nada. É mesmo uma cerveja mais leve, justificou-se. Ora, porra, disse eu, se for pra tomar algo mais leve, tomo logo água de torneira, que é de graça.
Anos voaram, décadas galoparam e eu nunca mais pus a tal da Original na boca. Até hoje.
Havia visto que a Original ganhara, de um mês, mês e pouco para cá, uma versão em lata de 350 ml, por um preço que tenho até vergonha de publicar aqui. Hoje, no entanto, ela estava em oferta : R$ 1,99 a lata.
Não chega a ser um preço que eu considere módico, mas está dentro do praticável. Cheguei a pensar em comprar uma meia dúzia de latinhas; imediatamente, uma voz vinda de dentro de mim (ou de dentro de meu bolso, mais provavelmente), disse : compra só uma, só para guardar a latinha. Obedeci à voz, e foi a minha sorte.
Cheguei em casa, guardei as compras, fiquei só de cuecas e fui à sacada, degustar a preferida do Nariz. Talvez o tempo tivesse lhe trazido mais gosto, mais corpo,  e, a mim, um pouco mais de condescendência. 
Abri e tomei direto da latinha. Tomei mais um gole. Deixei-o marinando na boca, algum gosto, eu teria de ser capaz de identificar. De novo, como há 30 anos : nada. Nem gosto de malte nem de lúpulo nem de álcool. Cheirei-a. Talvez o grande diferencial da Original fosse o seu aroma, o seu bouquet, o que justificaria plenamente a preferência do Nariz por ela. Com muita boa vontade, um leve aroma de um chá de camomila, melissa, carqueja, ou sei lá, desses dados para mitigar cólicas de bebês.
Pensei : fui logrado. Botaram outra coisa na lata, ao invés de cerveja . Deitei-a ao copo. Fez uma espuma de sabão em pó. Pouquíssimos gradientes de bege e palha separavam a sua cor da cor da água. Gosto, aroma e aparência de nada com coisa nenhuma.
Bebi-a até o fim. Havia pago por ela. Boa e barata? Porra nenhuma! Ruim pra caralho, porém, em oferta.
Valeu só pela latinha, pela embalagem, que guardarei junto a outras que tenho. O rótulo tem daqueles desenhos clássicos, antigos. Gosto deles. Linhas e cores - paradoxalmente - sóbrias.
Poderão me perguntar uns degustadores : um visual vintage, Azarão? Vintage é a puta que vos pariu!!! Que vintage é biba velha! É o Clóvis Bornay!
Vendo meu exaspero, e querendo prolongá-lo à guisa de diversão (deles), talvez ainda insistam, como vi escrito em alguns sites em que pesquisei sobre a Original em lata : um design retrô, Azarão? Retrô é o cacete. O cara que fala que o visual é retrô só pode tá dando é retrô no quibe!
Em suma : a latinha é legal, a cerveja é uma merda! Só não perde para a Skol. Até a Krill é melhor!
Eis a superestimada Original. Num copo Nadir Figueiredo, este, sim, um clássico que justifica sua fama.

sábado, 11 de maio de 2019

O Imbecil Juvenil, por Olavo de Carvalho

O texto a seguir, escrito por Olavo de Carvalho para o jornal A Folha da Tarde, pode ser considerado antigo, uma vez que datado de 1998, ainda mais em tempos de velocidades estonteantes, internéticas - ninguém sabe para onde está indo, mas, parece-me que é o que lhes importa, estão indo a grande velocidade. Não obstante, o texto é, cada vez mais, de uma cruel e irreversível contemporaneidade.
Só discordarão do que eu falo - e mais, do que Olavo de Carvalho escreve - aqueles que tiveram a sorte de ter que conviver com a juventude apenas durante a duração de sua própria, apenas aqueles que foram jovens, sobreviveram a isto, adulteceram, envelheceram, e o único cheiro de juventude que tiveram que respirar depois disso foi o dos próprios filhos.
Com vocês, Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro, mas não o julguem por isso; afinal, ninguém escolhe ou controla os admiradores que tem. 
Os grifos em vermelho são por minha conta.
O imbecil juvenil
"Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentirem-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
O jovem , é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. 
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram , desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo com o membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento? Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria — a supressão, em suma, da personalidade. É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação — literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador. 
Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação, impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge com o o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem . Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam . Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo com o homem , mas àqueles que o aceitam com o criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige. 
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama. 
Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não- ser: o jovem , em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudorreligiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior. 
Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum." 

Caixa de Ódio, o Universo de Lupicínio Rodrigues

Destaques para "Migalhas", "A Rainha do Show", "Aves Daninhas" e "Pra São João Decidir"

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Amores Longa Vida Também Expiram Seus Prazos de Validade (Ou : uma Balada Tetra Pak)

Você embalava
Meus sonhos
Minha insônia.

Meteu-me
Depois
Uma bala ao peito.

Fiquei embalagem vazia.
Sangrando molho de tomate
Água de coco
Suco de laranja.

Tudo sem vodka.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Todo Castigo Pra Broxa é Pouco

No bucólico e campestre ambiente da reserva ecológica Monkey World Affenwelt, em Sondershausen (Alemanha), um assassinato brutal, com requintes de crueldade e levado a cabo por motivos torpes estarreceu a todos os seus funcionários e frequentadores.
Um assassinato, não. Um macaquicídio! Um justiçamento coletivo promovido por um bando de macacos contra um outro símio, o outrora líder do bando, o macaco Cornelius, de 18 anos de idade, que, com esse nome, nasceu mesmo destinado ao infausto.
Cornelius, há tempos, ficara com a pele enrugada, perdera quase todos os dentes e - sua perdição final - ficara broxa. Incapaz de ter uma paudurescência e satisfazer o calor na bacurinha de suas nove fêmeas.
Foi dado o alerta entre a macacada. Os tambores da floresta anunciaram aos quatro ventos : tem bucetinha sobrando na área. 
A notícia da paumolescência de Cornelius foi o que bastou para torná-lo em alvo dos machos mais jovens, mais viris, que, privados durante muito tempo das bucetinhas do bando pela hegemonia de Cornelius, tinham que bater três, quatro, cinco bronhas por dia.
Chegara a hora da desforra. A hora da onça beber água. A hora do macaco jovem perder o cabaço.
Os macacos de pau duro se reuniram e mataram Cornelius a dentadas, pauladas e pedradas.
O pau do rei está morto! Vida longa ao pau do novo rei! Gritava a macacada em uníssono!
"Quando um macho não pode mais produzir filhotes ele se torna inútil para o grupo. Até perder o vigor físico, Cornelius era dominante no terreno de 1,5 hectare no zoo. Uma vez impotente, ele era apenas tolerado, já não tinha mais respeito de nenhum outro. Sem as presas, ele não pôde se defender.", declarou o diretor do parque, Silvio Dietzel, ao jornal "Mirror", justificando o ato dos assassinos e se saindo como advogado de defesa do bando.
A ONG alemã de encostados Schlaffe Banane (banana flácida, vertido para o bom português) disse que casos de macaquicídio vêm aumentando exponencialmente nos últimos tempos, numa curva de inclinação inversamente proporcional à perdida ereção de Cornelius. Também disse que seus alertas vêm sendo sistematicamente ignorados pelas autoridades ambientais e zoológicas do mundo inteiro.
"O preconceito e a violência contra o idoso, contra o indivíduo símio com deficiência de irrigação sanguínea nos corpos cavernosos penianos, têm de acabar.", disse o presidente da ONG, Weich Schmidt.
E seguiu dizendo, o presidente da ONG  Schlaffe Banane :"Estes indivíduos precisam ter a sua autoestima trabalhada, precisam se sentir pertencentes ao bando em que nasceram, programas sociais de inclusão e de conscientização da população quanto à importância do idoso precisam ser implementados urgentemente, iniciativas de assistências médica e psicológica devem encabeçar as pautas da administração de todos os zoológicos, parques e reservas do mundo. E não é só de banana que vive o macaco idoso, suplementos alimentares à base de citrato de sildenafila devem ser adicionados sem tempo ao cardápio do símio avançado em anos. E o principal : o macaco da terceira idade deve ter lugar preferencial na fila do acasalamento" - concluiu, enfaticamente, Weich Schmidt.
Eis o broxa Cornelius, momentos antes de seu linchamento.
O novo dono do pedaço e das bucetinhas é o macaco Jonas, de 6 anos de idade, que, uma vez perguntado de como será o seu reinado, disse : "que seja eterno, enquanto de pau duro".
Pããããããta que o pariu!!!!

domingo, 5 de maio de 2019

Boxe é o Caralho!!! Cadê as Tetas?

Venho registrar aqui o meu protesto contra o mundo da chamada  nobre arte do pugilismo, o boxe.
Registro contra a violência trocada entre seus atletas, contra o sangue e suor espirrando na tela em imagens HD? Registro contra uma modalidade que em nada preserva a integridade física de seus praticantes; antes pelo contrário, os expõem a uma série de lesões, muitas delas com sequelas físicas e mentais irreversíveis? Registro contra o esporte visto por muitos como uma apologia à brutalidade e à selvageria? 
Nada disso! Porra nenhuma! Que a violência, liberá-la, extravasá-la, é inerente ao ser humano, principalmente ao macho da espécie. O boxe e outras lutas marciais são uma maneira "civilizada" de dar vazão a este instinto básico, com regras e tal. E àqueles que não as praticam, aos que são meros espectadores, ou por falta de atributos físicos para estarem no ringue, ou por covardia, elas servem como uma catarse.
Meu protesto não é contra a profusão de nariz quebrados e supercílios rasgados.
Meu protesto é contra a falta de peitos!!! De tetas!!!
Ontem - já era hoje -, assisti - mais dormi que assisti - ao combate Canelo Alvares vs. Daniel Jacobs, válido pela unificação de três cinturões da categoria peso-médio. No intervalo do primeiro para o segundo round, me preparei para ver o desfile da ring girl passando com a placa a anunciar o round seguinte, de pernas esguias e torneadas, empinando a bunda do alto de seus saltos altos e estufando os peitos dentro do sumário biquíni.
Decepção, meus caros, decepção.
Não é que a garota do ringue desfilou de corner a corner do quadrilátero trajada com um longo e recatado vestido vermelho? Exatamente as moças e os respectivos vestidos com que aparecem na foto abaixo, na hora em que os lutadores se confrontam em coletiva de imprensa.
Vestidos?!?!? Pããããããta que o pariu!!!! Vestidos usam as nossas avós, a crentes dos cus quentes e pernas cabeludas e as damas de honra!!!
Ring Girl tem é que usar biquíni! Tangas e sutiãs minúsculos! Porque se há duas coisas que macho que é macho, macho das antigas, muito aprecia - e necessita - é de quebrar a cara de seu inimigo e de tetas!!! Pããããta que o pariu!!! Como gostamos de tetas!!!
O boxe, atualmente, já não tem mais um Cassius Clay, um Éder Jofre, um Mike Tyson. Não vai mais ter, agora, também tetas???
Nunca mais assisto a esta porra!!! De agora em diante, ficarei atento às apresentações iniciais da luta, a entrada dos lutadores, as suas subidas e mise en scènes no tablado, a apresentação dos juízes, mas, principalmente, ficarei atento se as ring girls estarão de biquíni ou de vestido. Na segunda hipótese, eu desligo a merda da TV. Aceito também, só para não dizerem que sou radical, shortinhos mínimos e tops reveladores. É o meu limite!
Isso só pode ser coisa, só pode ser encheção de saco das feministas, tudo buchudas, pelancudas, tetas caídas e com buço! Só pode ser! Tenho certeza de que é!
Só espero que esta palhaçada não contamine também às lutas de MMA, último reduto de verdadeiros gladiadores, descendentes e herdeiros do Coliseu romano.
Porque gostamos, sim, de apreciar uma boa luta. Festejamos cruzados de direita no queixo. Vibramos com incontestes nocautes. Mas gostamos mesmo é de peitos!!!
Gostamos da nobre arte! Mais ainda de nobres peitos!

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Completa com Etanol, por favor...

"Vá tomar no cu" é certamente a expressão de raiva, desprezo, desafeto, mal-querer e xingamento mais difundida da língua portuguesa, ao menos do português do Brasil.
"Vá tomar no cu" todo mundo conhece. Faz parte do nosso patrimônio cultural imaterial. Deveria figurar, se é que não, nos anais de nossos registros históricos e folclóricos mais remotos.
"Vá tomar no cu", independente de classe social, faixa etária, credo, etnia e regionalismos, todo brasileiro já mandou alguém, e/ou também já foi enviado a abjeto destino. 
Embora, é verdade, de umas décadas para cá, o "vá tomar no cu" perdeu muito de seu poderio bélico-ofensivo. Há trinta ou quarenta anos, tempos de hegemonia do macho das antigas, sugerir ao sujeito que profanasse a sacrossanta basílica de suas pregas, introduzindo cu adentro seja lá o que fosse, era ofensa mortal. Famílias contraíam rixas eternas e ficavam gerações a se odiar. Era injúria a ser resolvida com sangue derramado em duelo ao pôr-do-sol.
Hoje, nem tanto. Antes pelo contrário. Em tempos de embichamento planetário, muitas vezes, dependendo de quem, mandar que um sujeito "vá tomar no cu" é o mesmo que lhe desejar boa sorte, fazer-lhe votos de eterna felicidade.
E "tomar pelo cu"? Sim, caro leitor macho do Marreta, não é tomar no cu, em+o cu; é tomar pelo, por+o cu, através do cu, via cu.
"Tomar pelo cu", confesso, nunca tinha ouvido, era novidade para mim. Até anteontem, ao ler uma reportagem cujo link me foi enviado nos comentários do blog por um anônimo.
Conta a reportagem, publicada no portal Terra, que atualmente - tristes tempos de pregas frouxas e piscantes -, entre jovens dos Estados Unidos e da Europa, está a se consolidar a moda - ou a tendência, como preferem os viadinhos mais descolados - de se embriagar pelo toba, de tomar um porre pelo cu.
Tem aumentado significativamente o número de jovens a darem entrada nos hospitais depois de terem "ingerido" grandes quantidades de uísque, vodka ou vinho através de um tubo enfiado no cu. Até em coma alcoólico, alguns. Então, é coma alCUólico!
Se cu de bêbado já é, notoriamente, propriedade devoluta, sem escritura passada, cu bêbado, então, é mesmo terra de ninguém, nem assentamento de sem-terra quer.
E não é só pelo cu que a juventude de hoje do primeiro mundo está a se embriagar. Pela buceta e pelo olho, também. Pelo olho, órgão da visão; além do já citado olho do cu, o terceiro olho. Vídeos na internet mostram jovens praticando o "vodka eyeballing", que consiste em pingar vodka no olho. Meninas encharcam absorventes tipo tampão, o famoso OB, de vodka, enfiam na xavasca, vão para as baladas e o absorvente fica lá, dando de beber a noite toda à perseguida.
Segundo os médicos, os riscos de quem ingere álcool por vias alternativas são os mesmos do método convencional, os efeitos positivos e colaterais nada diferem entre si. Porém, tomar pelo cu dificulta o controle do quanto o viadinho está bebendo.
Quando bebemos, vamos tomando de pouquinho em pouquinho, de gole em gole, parando de vez em quando, dando um tempo, comendo um tira-gosto, se percebemos que estamos a passar do ponto. Pelo cu não tem jeito. A bichona vai, enfia o tubo e já injeta logo uma garrafa de vodka inteira, não vai ficar indo ao banheiro toda hora para dar de beber aos poucos para o cu. Além disso, a absorção do álcool pelas mucosas do intestino e da vagina é muito mais rápida, ocorrendo em minutos, enquanto que pode levar horas para a bebida ser processada se tomada por via oral.
Dei uma ligeira procurada por casos ANÁLogos no Brasil e não encontrei nada. Pelo visto, a moda ainda não aportou em terras tupiniquins. Ainda bem.
Se a moda pega por aqui, a bichinha vai chegar para o frentista do posto de combustíveis, abaixar a calça, empinar o toba e pedir : "completa com etanol, por favor...".
Pãããããããta que o pariu!!!

Fonte : Terra

Pequeno Conto Noturno (76)

- Precisas mesmo ir?
- Quero - diz Rubens.
- ???
- Mudar de ares, de bares, de mares e de marés.
- Não tens medo de se perder?
- Pois é o que eu mais quero. Me perder. Melhor : me desfazer, desvanecer-me.
- ???
- Enterrar a lenda, o personagem.
- Haverá alguém a carpir por ti neste velório?
- Não haverá velório.
- Um suicídio?
- Assistido.
- Por quem?
- Por mim. Só por mim. Espero.
- E conseguirás mesmo enterrar a tua lenda, a tua glória pretérita que tanto te assombra por te veres retalhos de lençóis fantasmagóricos de ti?
- Sim, darei cianureto à lenda, que, inadvertidamente, criei, deixei que criassem de mim. Leiloarei barato o retrato de Dorian Gray que pintei de mim mesmo. Ou...
- Ou?
- Ou, desgraçadamente, ela ressurgirá no novo ambiente, em nova reencarnação.
- E aí?
- Aí, não terei mais tempo para outra tentativa; aí, será de vez o fim, o fim do projeto de homem que pretendi ser um dia.
- E o que fará, neste caso, da ressurreição do teu melhor que queres tanto matar?
- Beberei.
- E já não é o que estamos a fazer?

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Feriadão Bom e Barato

Feriadão. E no meio da semana. Pra professor, é uma maravilha. Ontem, os "estudantes" deste nosso Brasil dantes mais varonil já emendaram, fizeram um "paredão", como costumávamos dizer na minha época de apedeuta. E, se tudo der certo - se der errado, não será por falta de reza docente -, emendarão amanhã e depois.
Feriadão. Lapsei-me. Esqueci-me de que o supermercado perto aqui de casa não iria abrir suas portas. Ele quase nunca fecha. Apenas em uns três ou quatro feriados no ano. O de hoje, um deles.
O alimento para o estômago, o antepasto, não foi o problema. As provisões na geladeira - arroz, feijão, frango grelhado, salada de berinjela, macarrão com calabresa, brócolis, tomate-cereja e manjericão - são suficientes até para o fim da semana, para a sexta-feira.
Mas e o alimento para a alma, a cerveja, o sacrossanto etanol? Nem me atinei para o feriado. Não estoquei latinhas de cerveja para o apocalipse do 1º de maio, para o blecaute do dia do trabalho.
Como assistir aos telejornalísticos do meio-dia com a Andréia Sadi, aos programas de culinária (recomendo muitíssimo o Comidas de Praia com Kate Lee - não as comidas de praia, que quero que os camarões e as manjubas se fodam, mas sim a Kate Lee) e aos documentários turísticos sem uma latinha ao lado, bebericando e beliscando um tira-gosto?
Lancei-me à rua. À rua Henrique Dumont, a aorta comercial do bairro. Fui subindo-a à procura de um estabelecimento cujo  gerente fosse o Al Capone e que teimasse em abrir na lei seca do 1º de maio. Subi mais de dez quarteirões e fui recompensado.
Um posto de combustíveis sem bandeira conhecida, de bandeira branca, gasolina cristã, batizada. E daí? Que se fodam os motoristas e seus apêndices fálicos, os seus carros. Entrei na loja de conveniência e dei de cara com inúmeras geladeiras com altíssima densidade demográfica de cervejas, das mais variadas marcas. Surpresa ainda maior e melhor : preços melhores que os do mercado.
Para a minha esposa, fui incumbido de comprar Subzero. Elas estavam lá. Quatorze centavos por lata a menos do que pagaria no supermercado desertor. Escrutinei as geladeiras em volta para ver qual levaria para mim e lá estava ela : a Dama de Vermelho - garçon, olhe pelo espelho, a Dama de Vermelho que vai se levantar; note que até a orquestra fica toda em festa quando ela sai para dançar...
Lá estava ela, a Dama de Vermelho, a Lokal Bier. Exposta por detrás do grosso vidro da geladeira, sob a sua luz fria. Uma prostituta  nas vitrines de Amsterdã. E o melhor : sem cobrar em euros ou em florins. Em reais. Em pouquíssimos reais. 
R$ 1,69, o latão de 473ml!!!!
O transtorno do mercado fechado levou-me a uma grata surpresa e à economia de uns reais. Como dizem, há males que vêm pro bem, quando deus fecha uma porta, abre uma janela e outros blás-blás-blás conformistas.
A Lokal é boa. Não é, claro, uma puro malte. Mas tem mais gosto de cerveja que a maioria das cervejas de pobre mais consumidas. Tem mais amargo de lúpulo do que, por exemplo, a Subzero, a Kaiser, a Itaipava, a Bavária e, óbvio, a superestimada Skol, cuja composição é 50% de milho e 50% de propaganda enganosa.
Boa, a Lokal. Fabricada em Teresópolis, região serrana fluminense de famosas, cristalinas e cervegênicas águas.
Ei-la, meus caros, a Dama de Vermelho, a 1,69 o latão!!!