quarta-feira, 29 de julho de 2009

CACILDIS !!!

Já faz quinze anos a morte do Mussum.
O famoso Mussum forévis.
Aliás, o Mussum não morreu, ele se pirulitou ("eu vou me pirulitazis", dizia quando a coisa ficava pretis)
O mais autêntico dos quatro Trapalhões; ele não encarnava um personagem, era ele mesmo.
Mangueirense, sambista (originais do samba, "vou dar um pau nas piranhas lá fora") e cachaceiro boa-praça.
Impossível não lembrar dele armando um fiado no bar, dando uma de pai de "santis", em dupla com Tião Macalé, sempre se dando mal nas apostas com Didi, vestido de Fantasma no quadro de super-heróis, no show de calouros apresentado pelo Dedé, dando pinga para amaciar a carne de um peru a ser abatido para o Natal e depois, ele e o peru bêbados, protegendo o bicho de ir para a panela, a justificar: 'se tocar um dedo no meu amigo, eu te mato... ele é do sindicatis...
"Quero morrer pretis se estiver mentindo" e "negão é seu passadis" eram outras de suas frases clássicas. Frases que arrepiariam até os cabelos do cu dessas afro-ONGs de hoje em dia, essas verdadeiras gestapos negras. Mas ele não tava nem aí pra cor ou raça, queria era fazer rir, o resto era bobagem.
Procurem no youtube por vídeos dele, destaques para "Mussum armando uma pindureta", "na fila do banho", "mussum tomando leite", a participação dele em "Trapalhões - Teresinha", uma paródia da música de Chico Buarque interpretada por Maria Bethânia, o Mussum era o segundo - o segundo me chegou, como quem chega do bar, trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar -, e finalmente "Dedé, Mussum e o companheiris peru", abaixo reproduzo parte do dialoguis do Mussum com o peru:
"Seu piruzis, o senhor é do sindicatis? Da rapaziada que vai à lutis? O senhor mata o bicho? O senhor sabe beber socialmentis? Então tá convidadis pra dar uma beiçada... Vai, vai cumpade, dá uma pancadis..."
Eu, de minha parte, estou aqui revendo esses vídeos e tomando umas geladis em honra a Mussum.
Aliás, geladis, não.
Tomemos um mé em homenagem a Mussum.
Como de fatis! 

domingo, 26 de julho de 2009

Besame Mucho

BESAME MUCHO é basicamente um filme de amigos, dos melhores e mais tocantes que já vi.
Daqueles amigões, que quem tem ou teve, ainda que estejam distantes hoje, sabe do que vou falar.
Besame Mucho (de Mário Prata) narra retroativamente a história de dois amigos, XICO e TUCA.
O filme começa em 1984, com a crise das relações dos dois casais: XICO (José Wilker) está se separando de OLGA (Glória Pires) e TUCA (Antônio Fagundes) está enlouquecido e broxa, ameaçando DINA (Crhistiane Torloni) com uma faca.
A partir desses fatos, a história passa a ser narrada do fim para o começo, retrocede de 1984 até 1968.
Primeiro vem o efeito e depois vão se descobrindo as causas.
XICO veio do interior para São Paulo e é escritor de sucesso. Só que seus livros são escritos por sua mulher OLGA, que também veio do interior, exilou-se em Paris em 1968 e criou reputação como socióloga.
TUCA é amigo de XICO desde a infância, permaneceu no interior como homem de negócios realizado e se casou com DINA, que escolheu ser esposa e mãe. Mas ela tem a cabeça cheia de ensinamentos religiosos e por isso vive as mais loucas fantasias sexuais na tentativa de conseguir gozar.
As relações desses casais são mostradas como um retorno no tempo, com passagem por baile de debutantes, colégio de freiras, concurso de Miss Brasil, PT, machismo e feminismo, Marilyn Monroe, AI-5, as lutas políticas de 1968, a revolução de 64, namoros nas noites interioranas de domingo, ejaculação precoce, campeonato de punheta, bolinação de peitinhos no cinema, bailes com orquestras e cuba-libre... Tem tudo o que todo mundo deveria ter tido e passado um dia.
Esse retorno mágico e realista no tempo, descreve a amizade entre dois homens—nascidos na mesma cidade do interior—que viveram a alegria dos anos 60, o desencanto dos anos 70 e a queda na real dos anos 80. Um retorno que, no final, chega às causas que fizeram dos personagens o que eles são: o namoro com as duas garotas, ingênuas e simples, ao som da música que dá nome ao filme.
Mas aqui vai um aviso:
se o assistir num daqueles dias em que está um pouco melancólico, saiba que irá chorar no fim/começo do filme, ainda mais se tiver tomado umas e outras, e será um choro desavergonhado, choro de homem.
Outro detalhe: é filme para ver sozinho, sem mulher ao lado; no máximo com um amigo.
Não! Sozinho é melhor. Se estiver com um amigo do calibre de Besame Mucho, o melhor é sair com ele, beber, rir, chorar, fazer planos, viver...
Para que outros filmes como Besame Mucho possam ser contados.

Um Castanho E Polvorento Pôr-De-Sol

Encontraram-se num crepúsculo marrom
Onde o cheiro da poluição
Pareceu, a ambos, instantes antes de se encontrarem,
Com cheiro de café em torrefação.
Talvez tal cheiro, percebido apenas pela memória dos dois,
Fosse prenúncio do encontro
(coincidência? Um alarme para que desviassem de seu caminho e evitassem o esbarrão?).

Não eram mais jovens
- ele já não podia ter sido assim classificado quando se conheceram -,
Reconheceram que o cheiro de café
Não era de origem atmosférica,
Reconheceram o cheiro do café um no outro.
A cor do café em vossos olhos:
Preto, amargo e ainda combativo nos olhos dela,
Um tom mais arrefecido, leitoso, quem sabe nublado por incipiente catarata, nos dele.

Abraçaram-se forte e tenazmente
Como sempre faziam quando conseguiam se encontrar,
O mesmo vigor no abraço ainda que mais de década houvesse transcorrido.
Abraço que foi tudo o que sempre se permitiram,
Abraço que sempre foi a linha divisória para tudo o que poderiam ter tido,
Abraço - que por isso mesmo - não podia ser mais que isso,
Ainda que naquele reencontro, e nem depois dele,
Abraço que não tinha mais tempo para evoluir.

Convidaram-se telepaticamente a ir tomar um café,
Sentaram-se a aspirar seus próprios cheiros saídos das fumegantes xícaras,
Sentaram-se a olhar um pro outro como antes faziam.
O olhar dele sempre se desviava antes do dela,
Uma derrota que ele nunca se importou em sofrer.
Ele sacou, sem aviso, uma barra de chocolate branco de sua aljava
(outra coincidência?)

E só, então, começaram a conversar.
E a reviver,
Uma vez mais e mais outra...
Puseram-se a reviver
Tudo aquilo que nunca haviam vivido.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

PESTE X deus

Ouvi, hoje, no matutino "Bom Dia São Paulo", das orientações da cúpula da igreja católica aos seus padres de como se comportarem frente à possibilidade da disseminação da Gripe Suína em suas paróquias.
Uma orientação é que os fiés, ungidos em plenitude pelo espírito cristão, não mais se deem as mãos a certa altura lá do ritual deles.
Belo exemplo de solidariedade cristã. Frente à adversidade, frente ao apocalipse ou, pelo menos, a um de seus cavaleiros, a Peste no caso, não dê a mão a seu irmão, recomenda a santa igreja, retire seu apoio fraternal.
A segunda orientação é para que o padre não mais ponha a hóstia diretamente à boca de sua ovelha que atravessa o vale das sombras, para que não se contamine através da saliva.
Outra exemplar demonstração de fé e confiança em seu deus.
Eu, particularmente, também temo a boca católica, abundante de peçonha e maledicência, mas será que um deus tão justo e bondoso não é capaz de proteger os seus sacerdotes da Peste? Ainda mais quando desses nos exercícios de suas sagradas funções?
Ou será que o problema está nos sacerdotes, que não têm a crença suficientemente arraigada de que seu deus possa protegê-los?
Fé fraca ou deus fraco?
Ambos, é a minha resposta.
E todos agem de maneira a confirmar a minha resposta.
Mas ninguém sequer se apercebe disso.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Gosto Do Pato Fu

TUDO VAI FICAR BEM
(John Ulhoa / Andrea Echeverry)
Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também

Eu faço tanta coisa
Pro mundo melhorar
Eu faço de um tudo
Que posso pra ajudar

Eu distribuo amor
Eu curo solidão
Mas peço por favor
Alguém me dê a mão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Estoy comprometida
El mundo hay que cambiar
Y en esta corta vida
El verbo es ayudar

Yo distribuyo amor
Con toda soledá
Y pido por favor
Que mi tengan piedad

A vida da trabalho
Se lo digo señor
Eu digo pra senhora
La muerte es un horror

Eu luto só por paz
Ajudo meu irmão
Mas sinto que o destino
Quer me jogar no chão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também

Minha Rendição A Morpheus

Os Sonhos, e aqui digo dos que temos quando acordados, são realidades alternativas, estradas vicinais, rotas de fuga, dimensões paralelas, sim!
São tudo isso. E também são o que dá solidez à estrutura da realidade.
A realidade desmoronaria em escombros não fossem esses Sonhos de olhos despertos.
Os Sonhos de pupilas arregaladas são as babás, são as amas-de-leite da realidade; são nossas usinas de força, nossas pequenas hidrelétricas.
Ótimo seria - isso é consenso geral - os Sonhos tornarem-se realidade.
Eu nunca tive a menor simpatia pelo consenso geral, pelo senso comum.
E não seria essa a primeira vez.
Pobres e ilusos meninos são os Sonhos recém-nascidos que almejam, um dia, serem promovidos à realidade (esses moços, pobres moços, ah se soubessem o que eu sei).
Se um Sonho converter-se em realidade, outro Sonho deverá ocupar o seu posto;
Se um Sonho se transubstanciar em realidade, outras usinas de força terão de ser construídas, outros terrenos serão alagados para novas hidrelétricas;
Se um Sonho se cristalizar em realidade, uma outra ama-de-leite, a toque de caixa, terá de ser providenciada, e a cujos peitos iremos ter que nos adaptar.
E eu gosto tanto do meu Sonho atual...
Nunca gostei tanto assim de outro!
Não quero os peitos de outra ama-de-leite!
Logo, esforçarei-me em me afeiçoar à minha realidade, farei o máximo para mantê-la exatamente como está.
Sustentarei minha realidade:
Para sustentar meu Sonho.

(até porque não são apenas cidades encantadas que Morpheus gosta de comprar; Ele igualmente se apraz em adquirir dias passados à beira de lagos)

domingo, 19 de julho de 2009

SATÉLITE

Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
- Satélite.

(Manuel Bandeira)

sábado, 18 de julho de 2009

Nós, Universos Enevoados

Quando dois mundos tão diversos,  
Tão distintos, tão distantes no multiverso,  
Colidem,  
Se agradam, se afobam,  
Se afagam, se agridem,  
Há estragos em ambos os lados.

Mas, invariavelmente, um e apenas um
 
- taxadamente o mais infeliz –  
É arrancado de sua órbita.

Para o outro,
 
Os dias e as noites rotacionam  
E se sucedem  
Sem a menor diferença.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Corvo Sou Eu, Seu Vizinho

Excerto de "O despertar dos mágicos", de louis pawel e jacques bergier:
"Descobrir outro mundo, diz ele, não é apenas um facto imaginário. Pode acontecer aos homens. Aos animais também.
Por vezes, as fronteiras resvalam ou interpenetram-se: basta estar presente nesse momento. Vi o facto acontecer a um corvo. Esse corvo é meu vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele tem o
cuidado de se conservar no cimo das árvores, de voar alto e de evitar a humanidade. O seu mundo principia onde a minha vista acaba. Ora, uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num nevoeiro extraordinariamente espesso, e eu dirigia-me às apalpadelas para a estação. Bruscamente, à altura dos meus olhos, surgiram duas asas negras, imensas, precedidas
por um bico gigantesco, e tudo isto passou como um raio, soltando um grito de terror tal que eu faço votos para que nunca mais oiça coisa semelhante. Esse grito perseguiu-me durante toda a tarde. Cheguei a consultar o espelho, perguntando a mim próprio o que teria eu de tão
revoltante...
"Acabei por perceber. A fronteira entre os nossos dois mundos resvalara, devido ao nevoeiro. Aquele corvo, que supunha voar à altitude habitual, vira de súbito um espectáculo espantoso,
contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem caminhar no espaço, mesmo no centro do mundo dos corvos.
Deparara com a manifestação de estranheza mais completa que um corvo pode conceber: um homem voador. . .
"Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos, e reconheço nesses gritos a incerteza de um espírito cujo universo foi abalado.
Já não é, nunca mais será como os outros corvos..."

A Democracia E O Bonde Do Capeta

O texto abaixo pode conter erros relacionados a certos fatos históricos (ao menos à versão oficial deles) ou, no mínimo, pequenas distorções desses fatos. Distorções feitas para corroborar minha opinião sobre o dito.
Esse não é um blog de opiniões, é um blog de opinião: a minha.
Ei-lo:
1984: fim da ditadura, advento da democracia, no Brasil.
Outra mudança artificial de regime de governo do país. Artificial, sim. Nunca houve, nesse país, uma mudança de regime por insatisfação popular, por pressão legítima das massas.
(E, por favor, não me venham dizer do movimento registrado como “Diretas Já”, basicamente uma pseudoelitizinha de pseudointelectuais composta por meia dúzia de cantores de violões capengas e fanhosas vozes e outra meia dúzia de artistas peitudas a berrar do alto de um palanque embandeirado. Pobre do país que tem cantores e atrizes como defensores)
As mudanças de regime, no Brasil, sempre se deram através de acordos escusos, sempre foram decididas nos bastidores, com a chancela das elites, sempre o comando sendo passado em revezamento de uma elite a outra; monarquistas, inconfidentes, escravocratas, abolicionistas, republicanos, ditadores, democratas, neoliberais, todos se encontram pra beber juntos quando não há uma câmera de TV por perto.
Todas as transições de regime foram praticadas na base da “canetada”. O Brasil é, entre outras desgraças, o país da canetada, do acordo, do deixa-disso.
O povão mesmo – aquele da boca banguela, da cachaça e do pagode, da fila dos postos de saúde, da sopa e da previdência social -, esse nunca se revoltou contra nada, nunca se rebelou, nunca sequer cogitou pegar em armas, nunca mudou ou pressionou para que se mudasse regime algum, até porque nunca entendeu sob que tipo de regime vive ou viveu. O povão, a grossa massa nunca legitimou porra nenhuma nesse país.
É óbvio que não!
Para haver revolta é preciso haver conscientização da situação lastimável em que vivem, para a conscientização é necessário se educar e, consequentemente, estudar. Só passar fome não resolve, só passar fome não faz ninguém se rebelar, a gente se acostuma a tudo, até à fome. É preciso ser educado (não confundir educado com cortês, cordial, cordeiro) para se rebelar.
Mas aí é que a coisa emperra e sempre emperrou. Educar-se é trabalhoso em demasia para a indolência inata ao brasileiro.
Se o povo não estuda, não se educa; se não se educa não se apercebe da necessidade da mudança; se não luta pela mudança, se não sofre por ela, não é capaz de entendê-la quando ela ocorre.
Essa, eu acho, é, e sempre foi, a grande sacada das elites brasileiras (aliás, sinceras palmas para elas): “dão”, na base da canetada, as mudanças ao povão antes que esse sinta a real necessidade delas. Assim, o povo, sem ser capaz de compreendê-las, fica feliz em saber que alguém mudou as coisas por ele, fica feliz em saber que tudo mudou, que as coisas agora vão melhorar. E tudo continua sempre igual.
Foi assim com a Independência (alguém conhece outro caso no mundo onde o próprio conquistador tenha feito a libertação da colônia?), com a abolição da escravidão (uma branca fez a abolição; e alguém acha mesmo que a bichona do Zumbi fez alguma diferença? Ele queria era um lugar sossegado para montar seu bloco afro, seu olodum), com a Proclamação da República (descendentes de D. Pedro moram confortavelmente em Petrópolis e recebem “salário” por seu pedegree), com o Estado Novo, com o fim do Estado Novo, com as “forças ocultas”, com a ditadura militar (não à toa, o “golpe” se deu em 1º de abril), com o fim da ditadura, o início da democracia.
A democracia, mais uma vez, foi dada de presente, caritosamente, ao povo brasileiro, na figura simpática do velhinho Tancredo, já perto de “bater as botas”, a democracia começou como uma puta que casa com um velho contando com a morte rápida dele.
E o povo, como mais uma vez não lutou por ela, nem sabia se a queria, de novo não entendeu a mudança. Simplificaram para o povo: antes você não podia nada, agora liberou geral, você pode tudo. Então o povo entendeu e riu se riso de hiena.
Houve a transição de um extremo ao outro sem que houvesse uma preparação para tal. Os limites foram derrubados do dia para a noite ou, melhor, da noite para o dia, que é a hora em que tudo acontece por aqui, nas caladas.
E democracia pode até ser muito bom lá pro Suíço, pro Dinamarquês, pro Norueguês, pra povo educado. Para bestas-feras, democracia dá em baderna.
Ainda não suficiente, em 1988, na figura de outro velhinho, veio a malfadada Constituinte, dando cria a uma Constituição permissiva, cheia de brechas legais, dizem que escorada na Declaração dos Direitos Humanos (e como errar é humano, é uma constituição que protege sempre o errado), uma constituição que torna efetivamente impossível alguém ser honesto sem se sentir um otário.
Não bastasse, vieram depois os suprapermissivos estatutos especiais. Ora, porra, se é uma constituição igualitária, não há necessidade de estatutos especiais. Mas eles vieram: do índio, do idoso, do negro, logo, logo, o do viado e, o pior deles, o Estatuto da Criança e Adolescente, a desgraça do ECA, elaborado por sociólogos, assistentes sociais, pedagogos, psicológos, educadores, acho que até a CNBB deu seus palpites.
Esse tal ECA (olha aí o país da piada pronta) tornou cada adolescente simplesmente INIMPUTÁVEL, blindado à ação da lei. De um pretenso escudo, o ECA tornou-se em arma atômica na mão do adolescente. Mas o adolescente também tem deveres..., dizem os defensores do ECA, os “pais” do ECA, defendendo seu estatuto como esse defende o mau adolescente; o ECA é bom, continuam eles, o que ocorre é que muitas vezes é que ele é mal interpretado pelos juristas. De novo, defendendo o estatuto do qual foram os geradores, como a mãe que defende o seu “santinho” que, por exemplo, pôs fogo na cortina da escola, dizendo que a culpa foi da cortina por estar ali.
Pois bem, defensores dos direitos humanos, sociólogos, CNBB, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e que tais, aí está o Bonde do Capeta.
O Bonde do Capeta é a mais perfeita tradução do ECA, é a melhor interpretação do ECA que jamais um jurista poderia dar.
Meus sinceros parabéns! Vocês finalmente conseguiram o que vieram preparando nessas duas últimas décadas, vossa cria veio à luz, doutores Franksteins.
Mais: o Bonde do Capeta tem legitimidade. Seus integrantes se sentem incomodados, sentem a necessidade de mudar o que lhes incomoda, vão lá e mudam. E dentro da lei, caríssimos! Dentro da mais absoluta conformidade do ECA e de seus idealizadores já listados acima.
O Brasil é, entre outras desgraças, o país onde as leis “pegam” ou “não pegam”. O ECA pegou.
E eu, como cidadão cumpridor das leis, só tenho a festejar o Bonde do Capeta. Até porque não sou loiro, estou longe de ser bonito, não ando nem nunca andei com roupinhas da moda e tampouco sou ou fui estudioso, CDF.
O Bonde do Capeta é só o começo, discíspulos de Piagets, Skinners, Freires e outros blá-blá-blás. Que o Bonde caia sobre vossas cabeças e que não lhes seja leve. Se eu fosse adolescente hoje e pudesse arrancar escalpos impunemente, certamente eu o faria; teria muitos escalpos para arrancar, uma lista deles. A começar pelos dos senhores.
Vivas ao ECA.
Longa vida ao Bonde do Capeta.