sexta-feira, 28 de março de 2014

Um Dia Na Vida

Era dessas manhãs comuns e repetitivas, dessas que só diferem da anterior, ou da seguinte, pelo número marcado no calendário, na folhinha. Dessas manhãs que nos fazem pensar que o Universo, ao menos a vida, é uma grande e burocrática repartição pública : cada dia, cada momento, uma cópia em carbono do outro; cada instante, uma 2ª via, um carimbo gasto e borrado nos impingido por um escrivão brocha de braço incansável e furioso.
Dessas manhãs sem previsão nem probabilidade de nada especial, de nada centrífugo. Modorrenta, abafada, de salpicada garoa, de últimas e rarefeitas águas de março a fechar o verão.
Ela e Ele vinham pela mesma calçada, destinos (ou infortúnios) de direções opostas. Ela, com o sono atrasado - talvez noite maldormida, por conta do insistente calor. Ele, com incipientes sintomas de ressaca - talvez aquelas duas latas de cerveja a mais, tomadas para assegurar uma noite bem dormida.
Calcularam mal o espaço que cabia a cada um ao se cruzarem na calçada. Não propriamente o espaço para a passagem de seus corpos, o para a passagem dos apêndices impermeáveis e desajeitados que equilibravam sobre suas cabeças, os seus guarda-chuvas.
Seus guarda-chuvas colidiram. As varetas de um - o dela : vermelho, botão de acionamento automático, novo - se enroscaram nas varetas do outro - o dele : preto, abertura manual, já descosturado e manco em várias partes.
O olhar de um - o dele : castanho-terra-ressequida-infértil - se enroscou no olhar do outro - o dela : cinza-nuvem-que-ameaça-tempestade-mas-que-acaba-por-se-dissipar.
A iniciativa de desenroscar os guarda-chuvas partiu dela - talvez menos tímida, talvez mais atrasada para o trabalho; o pedido de desculpas partiu dele - talvez nem sincero, talvez por condicionado cavalheirismo.
Por ação simultânea de ambos, os olhos também se desenroscaram.
E nunca mais se viram. Sob sol ou sob chuva.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Sinal Fechado

Manhã
Bem de manhã
Hora em que a coruja e o galo
Trocam de turno.
Hora em que só as pessoas
- E outros animais irracionais -
Estão despertas e de pé,
Pro dia nascer infeliz.
Carros, ônibus, bicicletas
Caminhões, pedestres e cavalgaduras
- principalmente cavalgaduras -
Se cruzam, se esbarram
Compartilham seu fedor
Sorriem hostilidades
E rosnam seus bons-dias uns para os outros.
Disputam espaço,
Impõem suas pressas, suas velocidades
Pisam em cabeças, chutam bagos.
E o semáforo está fechado para mim.
Logo hoje
Que já à rua me pus em atraso
E que meu joelho podre
E que meu tendão de Aquiles - obviamente - fraco
Me impedem de passos mais rápidos e anchos
E de ultrapassar os ponteiros do relógio.
O semáforo está fechado para mim.
Sem o quê, paro.
Respiro
Tomo o último trago de minha lata de cerveja
Meu cereal matinal
Meu pão da bavária.
Olho para o rio - uma carpa branca
Com um pouco de cuspe, removo uma remela do olho esquerdo
Futuco o nariz
Puxo o cós da calça para cima
Verifico a braguilha
E,
De uma maneira que imagino
Sutil e imperceptível,
Dou uma bela de uma coçada no cu
Coço com gosto.
Estou preparado e recomposto
Para mais um dia.

Cerveja Colônia, Agora na Versão Tambor

Vivemos em tristes tempos de exageros. Há muito que o consumismo se impôs ao consumo. Há não muito tempo, vivíamos a era do kilo : kilogramas, kilômetros, kilowatts, e vivíamos bem. Hoje, kilo é pouco, é miséria, é obsoleto, é cafona, ou, como diria o francês, démodé.
Consumimos em megas, em gigas, em teras. Porém, ainda recebemos nossos soldos em reais. Led, plasma, TVs com telas maiores que a benga do Kid Bengala, megapixels, 3D, wi-fi, wireless, bluetooth, whatsapp, tablets, ultrabooks, 88ª posição no ranking da educação da Unesco, de um total de 156 países avaliados.
Tudo é anabolizado, bombado, vazio, oco, inconsistente, carne de frango. O inútil se fez imprescíndivel em todos os setores da vida moderna. Tudo cresceu no século XXI, exceções feitas ao cérebro do povo e à sua capacidade de discernir entre o que realmente precisa e o que, simplesmente, deseja; pior, o que simplesmente lhe disseram que deve desejar.
Então, por que não o exagero se instalar também em segmentos e artigos de suma importância à população, em produtos de primeira necessidade?
Pensando nisso - visualizando esse nicho mercadológico -, em tornar Giga o que é o básico, o que é o mínimo, a Cervejaria Colônia lançou não o latão não de 473 ou de 550 ml, mas sim o latão de 710 ml.
Pãããta que o pariu!
Isso é um barril de petróleo. É um daqueles tambores que o povo corta ao meio, longitudinalmente, e transforma em churrasqueira. É a maior lata de cerveja do país.
E ainda avisa quando está na temperatura ideal para ser bebida : o logotipo da marca, ao alto da lata, vem impresso em tinta termocrômica, que passa da cor branca para a azul ao ficar gelada. Recurso desnecessário, frescura, para dizer a verdade. Bebedor de cerveja que é bebedor de cerveja sabe se tá no ponto só de pegar na latinha.
Ainda não encontrei da hipertrofiada lata pelos mercados em que circulo, mas já provei da Colônia : é  boa, e barata!

Dízimo Extraterrestre

A Universidade do Arizona, em Tucson (EUA), de 16 a 21 de março agora, foi palco da realização da confererência científica "The Search for Life Beyond the Solar System: Exoplanets, Biosignature & Instruments" (A Procura por Vida Além do Sistema Solar: Exoplanetas, Bioassinaturas e Instrumentos).
Tal evento, de âmbito internacional, quiça galáctico, foi promovido pela própria Universidade do Arizona em parceria com... o Vaticano, que, para quem não sabe, possui um dos observatórios astronômicos mais bem equipados do mundo.
Sim. A mesma Igreja Católica que, há uns poucos séculos, queimou Giordano Bruno na fogueira da inquisição - Bruno afirmava que cada estrela era um sol como o nosso, com seus próprios conjuntos de planetas e que esses planetas, por suas vezes, seriam habitados -,  a mesma igreja que, um pouco depois, só não fez churrasquinho também de Galileu Galilei porque esse recuou em sua teoria do Heliocentrismo e conseguiu reverter sua pena de morte para prisão perpétua, essa mesma igreja sai agora em busca de vida extraterrestre. Essa mesma igreja admite a possibilidade de vida fora da Terra.
Ilógico e contraditório? Ou será a fé cega e estúpida se rendendo ao avanço inexorável da ciência? Nem uma coisa nem outra.
Não tem nada ilógico, muito menos contraditório na participação da Igreja nessa conferência científica. Pode até ter, se alguém quiser assim considerar, de hipócrita, e muito hipócrita, de cara de pau mesmo, mas nada de incoerente ou discrepante. Aliás, tem é de estratégico. Uma vez que a Igreja não mais detém a hegemonia de seus tempos de Idade Média, uma vez que não mais consegue, apesar de todas as suas constantes tentativas, estagnar o avanço científico, resolveu se aproximar da ciência, conhecer-lhe melhor e aos seus métodos. Lobo em pele de cordeiro. Como sempre.
Também nada há de rendição por parte das ideias da Igreja, nada de dar o braço a torcer, o pensamento religioso continua imutável. Muito longe de ser uma capitulação, a aproximação com a ciência é uma tentativa de cooptar os seus eternos inimigos, os homens da razão, contaminá-los com o pensamento mágico. Ou, pelo menos, ao lhes proporem certas alianças, torná-los mais amigáveis para com os religiosos, mais simpáticos a eles, menos belicosos em seus pronunciamentos sempre que uma descoberta da ciência fizer ruir pilares da religião. A aproximação com a ciência é uma tentativa de parecerem menos embusteiros, quando não forem mais capazes de esconder a verdade. Uma tentativa de fazer parecer que a religião sempre esteve ao lado do verdadeiro conhecimento.
E, nesse caso, a verdade é : os extraterrestres existem. Existem, sim. São 100 bilhões de galáxias, cada um com 100 bilhões de sóis. Vida só aqui? Impossível.
Que fique patente : quando organizações tradicionais, formadoras de opinião, detentoras de poder e mal-intencionadas, como os governos, as comunidades científicas e as religiões, admitem publicamente a possibilidade de algo, é porque eles já têm provas cabais de sua existência. 
Primeiro, foram os cientistas a admitir a possibilidade de vida extraterrestre; depois, e a contragosto, os principais governos mundiais, e agora, mais a contragosto ainda, a Igreja Católica.
Querem indício mais forte da existência de vida alienígena do que o Papa dizer que os ETs são uma possibilidade? E não digo isso por conta da suposta infalibilidade papal, que nela, óbvio, não acredito, não digo isso pela afirmação do Papa em si, mas pelo o oposto, pelo fato de que o Papa só a admite por não mais conseguir negá-la.
Contudo, nessa questão dos ETs, tenho cá comigo certas desconfianças. Creio que o grande interesse da Igreja nem seja o de ficar amiguinha da ciência, o de fazer as pazes com quem sempre tentou destruir. Creio que o interesse real da Igreja sejam mesmo os ETs. A igreja está de olho nos ETs. Quer conhecê-los para melhor catequizá-los.
A Igreja Católica perde seu rebanho a olhos vistos. Suas ovelhinhas andam a debandar para novos e vicejantes pastos, para novas terras prometidas - as religiões evangélicas, sobretudo as neopentecostais. Imaginem só que regojizo, que supremo gozo católico apostólico romano, descobrir novas civilizações, prontinhas a serem convertidas.
Posso até imaginar a cena : num futuro próximo, contato com civilizações alienígenas já oficializados, relações diplomáticas e de comércio ultragaláctico firmadas, o Papa se reúne com os líderes dos ETs. 
Começará por chamá-los de irmãos das estrelas, dirá-lhes que a Igreja Católica sempre soube de suas existências, e que sempre esteve à espera deles. Mais que isso : dirá-lhes que a Igreja Católica sempre os retratou e os exaltou em seu livro sagrado. 
Para provar a verdade de suas dissimuladas palavras, tirará uma Bíblia de sob suas vestes, preferencialmente em aramaico, línguas mortas sempre dão mais credibilidade, e fará desfilar aos olhos do ETs uma série de passagens do texto sagrado. 
Dirá-lhes que os anjos, seres de luz e conhecimento infinito, é a alegoria pela qual a Igreja os representa, que foi a forma que encontraram de dizer a uma população sem nenhum conhecimento científico da existência de seres extraterrenos superiores. 
Mostrará-lhes a subida de Elias aos céus, levado por uma carruagem de fogo : abdução, uma simples abdução, carruagem de fogo, coisa nenhuma, confidenciará-lhes o Papa, uma nave espacial, isso sim, uma nave é que levou Elias para as estrelas. 
Talvez lhes dirá até de Jonas, aquele que foi engolido por um grande peixe de escamas resplandecentes como o mais polido metal. O tal peixe manteve Jonas por 3 dias e 3 noites em seu estômago, e depois o vomitou de volta, numa praia. Outra abdução, dessa vez por um OSNI, Objeto Submarino Não Identificado.
E o Papa seguirá falando, falando, puxando o saco dos ETS, apelando para suas vaiadades, que é o pecado favorito do capeta (grande Al Pacino), e, assim que os ETs baixarem a guarda, enfiará-lhes o Cristo goela abaixo. Catequizar-lhos-á.
A Igreja Católica está de olho no dízimo dos ETS!!!
Dar-se-á, então, um novo apogeu da Igreja Católica. Erguer-se-á a Igreja Católica Apostólica da Via-láctea e Andrômeda. Edir Macedo, na cola do Vaticano, fundará a sua Igreja Intergaláctica do Reino de Deus. 
Duvidam? Quem viver, verá. E depois vai me contar, quando me encontrar no inferno.

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(23)

Lupicínio Rodrigues não só foi/é um dos expoentes máximos - grandeza de mol mesmo, de dez elevado a vigésima terceira potência - da canção de dor de cotovelo. Ele foi o inventor do termo dor de cotovelo, que se refere à prática de quem crava os cotovelos em um balcão ou mesa de bar, pede um whisky duplo, ou um rabo de galo, ou um traçado, e chora pela perda da pessoa amada.
Perda o cacete!  Ninguém se perde da pessoa amada. É abandonado. Toma um pé na bunda. E Lupicínio, constantemente abandonado pelas mulheres, valendo-se de seu gênio de compositor, colocou os seus fracassos amorosos nas paradas de sucessos.
São dele : Ela disse-me assim, Judiaria, Quem há de dizer, Esses moços, pobres moços, Vingança, Nervos de Aço, Volta e, a que agora aqui coloco, Nunca.
Ouvi Nunca, pela primeira vez, acredito que ainda na década de 80, época em que eu dormia - tentava dormir - com o rádio ligado, sintonizado na rádio Regional FM, especializada em MPB; sofria, então, de severos períodos de insônia. E foi numa dessas noites claras que ouvi Nunca, na voz incomparável de Zizi Possi - a filha dela, a Luíza, é mais bonita e gostosa, mas a voz... quanta diferença!!!
Eu tava lá, meio que dormindo, meio que acordado, e aí veio : quando a gente perde a ilusão, deve sepultar o coração, como eu sepultei...
Pãããta que  pariu!!! Aí é que eu não dormi mesmo.
Nunca
(Lupícinio Rodrigues)
Nunca!
Nem que o mundo caia sobre mim,
Nem se Deus mandar,
Nem mesmo assim,
As pazes contigo eu farei.
Nunca!
Quando a gente perde a ilusão
Deve sepultar o coração
Como eu sepultei.
Saudade,
Diga a esse moço, por favor,
Como foi sincero o meu amor,
Quanto eu te adorei
Tempos atrás.
Saudade,
Não se esqueça também de dizer
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Em Nome de Jesus, Mulher, Me Faça Um Boquete

Sou ateu. Não de caso pensado. Não de múltiplas leituras filosóficas e/ou teológicas que tenham me conduzido à conclusão de que não existe um deus.
Ateu de nascença, mesmo. Eu já era ateu antes mesmo de alguém dizer que eu era, antes mesmo de saber da existência teórica de deus.
Não sinto - nunca senti - a onipresença toda-poderosa desse ser - muito mais que invisível, improvável.
Há - e são a maioria - os que sentem esse deus a reger o Universo e, com mesmo afinco e desvelo, as suas vidas e seus problemas pessoais. Ou que, pelo menos, dizem sentir, acreditam sentir, foram condicionados a pensar que sim, induzidos a ver manifestações desse deus em tudo que os rodeia.
Até aí, tudo bem. Não tenho nada a ver com isso, cada um que pense e que acredite no que quiser. Cada um que lide - sofra ou se reconforte - com sua percepção de mundo.
É como bem já disse meu velho camarada, freguês das antigas, o dr. Gregory House : "se você fala com deus, você é uma pessoa religiosa; se deus fala com você, você é um esquizofrênico".
Mas isso, louvar um ser inexistente, nem é o pior, nem é o mais estranho. Pior é acreditar que esse ser todo-poderoso tenha nomeado representantes terrenos - padres, pastores, rabinos, faraós, ou quem quer que seja - e lhes delegado poderes de representação, que tenha lhes passado uma procuração para falar em seu nome, que os tenha sacramentado como seus porta-vozes. Pior é acreditar que esse deus tenha autorizado uns poucos escolhidos a abrir franquias de seu nome - as religiões, os Mc Donald's de deus.
Pior que acreditar em deus, é acreditar nas religiões. Deus é bondoso, dizem as religiões, mas seus livros sagrados o mostram rancoroso, iracundo, vingativo, genocida. E misógino. Sim, deus detesta as mulheres, nutre-lhes profundo desprezo e aversão, considera-lhes uma sub-raça.
Isso é o pior de tudo : as mulheres. Como podem as mulheres adorar um deus e seguir religiões que as colocam sempre como seres inferiores?  Há um sem-número de trechos bíblicos em que as mulheres são expostas a situações de humilhação e de aviltamento. Para a Bíblia, a mulher é o receptáculo do capeta, é o excipiente dos males da humanidade, a fonte de todos os pecados, é suja. A Bíblia coloca a mulher em total submissão ao homem, como lhes fosse uma virtude.
Vejamos apenas alguns que pesquei pela net :
"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição". 1 Timóteo 2:1;
"Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem". 1 Coríntios 11:8;
"Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio". 1 Timóteo 2:1;
Efésios, 5 
22 Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
23 porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo.
24 Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos.
Colossenses, 3 
18 Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor."

Inspirada por tão valorosos e, até mesmo, lúdicos ensinamentos, Constanza Miriano, católica fervorosa, escreveu o livro Cásate y sé sumisa (Case e seja submissa), em cujas páginas atualiza tais preceitos bíblicos, adapta-os para o cotidiano da dinâmica e moderna mulher do século XXI; utilizando-se de situações corriqueiras, ela dá exemplos práticos de como aplicá-los em favor da boa manutenção do matrimônio. Em linguagem atual, coloquial e descomplicada, Constanza torna mais inteligíveis os, muitas vezes escritos de forma hermética, ensinamentos de deus.
E o livro está tão de acordo com os ditames da igreja católica que sua publicação foi assumida pelo Arcebispado de Granada (Espanha), sob o comando do arcebispo D. Francisco Javier Martinez
O livro se pretende um manual de instruções para as mulheres casadas do século XXI bem conservarem seus matrimônios, e dá conselhos preciosos para tal : 
"Deus colocou-te ao lado do teu marido, esse santo que te suporta apesar de tudo. Obedece-lhe e submete-te com confiança".
Constanza ainda dá conselhos às mulheres de como aproveitar o tempo de maneira produtiva: “Sê uma mulher do século XXI. Pratica o coito de costas. Assim, entretanto, podes aproveitar para passar a ferro” 
Isso é que é ser uma mulher multitarefa. Enquanto dá o rabicó, vai passando a roupa do marido. Levando ferro e passando o ferro : isso sim que é igualdade de direitos, isso sim é o que eu chamo de uma justa divisão de tarefas.
A publicação do livro Cásate y sé sumisa, em dezembro do ano passado, causou muita polêmica em torno do arcebispo D. Francisco, que, apesar de não ser o autor do livro, avalizou a publicação, o que pode dar margem à interpretação de que os conselhos são um item da doutrina da Igreja Católica.
Mas parece que o arcebispo não tá nem aí, que tá cagando e andando para a língua do povo. Tanto que voltou a provocar celeuma. Durante uma missa, tomando para si as palavras do livro de Constanza Miriano, ele tirou todas as dúvidas de suas fiéis em relação ao sexo oral, orientou-as na prática da chupeta sem pecado, do boquete cristão:
“Mulher, praticarás felatio ao teu marido sempre que ele te ordenar. Mas, quando o fizeres, pensa em Jesus. Recorda-te: não és uma pervertida!”
Puta merda! Deixa ver se eu entendi. Se a mulher fizer um boquete no marido pensando no marido, ela é uma pervertida, uma pecadora irrecuperável, digna de apedrejamento em praça pública; se, no entanto,  fizer uma gulosa na rola do cônjuge e estiver pensando em Cristo, ela é uma virtuosa, recebe da igreja um atestado de boa conduta e sanidade mental. É isso?
Será que o mesmo vale para a punheta? Será que quando o arcebispo toca sua punhetinha, ele também está a pensar no Cristo, pregado na cruz, seminu, todo suado? 
Cuidado, molecada! Bater punheta vendo revistas e filmes pornô, ou pensando na vizinha gostosa, ou na colega peituda da escola, é pecado mortal, deus tá vendo, faz crescer cabelo na mão, deixa retardado. Se pensar em Cristo, tá perdoado.
Portanto, quando forem tocar suas bronhas, elevem seus pensamentos a Cristo, rendam suas "homenagens" ao Nazareno. Afinal, vocês não são uns pervertidos, uns degenerados, não é?
 O arcebispo Francisco Javier Martinez e o livro Cásate y sé sumisa

domingo, 16 de março de 2014

Old Spice, o Desodorante do Homem Homem. Será?

Vi hoje a propaganda de um novo artigo que desembarca no variadíssimo, quase que psicodélico, mercado de higiene pessoal : Old Spice, o desodorante do homem homem, o único com partículas de cabra macho, diz o comercial.
A campanha publicitária do desodorante convoca os homens a serem masculinos. Promete, com seu produto, auxiliar no resgate da masculinidade da espécie, na retomada do orgulho de ser macho.
Propaganda enganosa, meninos.
O comercial começa com um náufrago, ele se aproxima de um coqueiro, dá uma "voadora" no pacato e indefeso vegetal, com uma cambalhota no ar se põe de pé, estende o braço, pega o coco que cai vítima de seu chute e, com a mão em cutelo, desfere um golpe de caratê, arranca-lhe a tampa e desfruta de sua refrescante e revigorante água. Macho pra caralho, né? Nem a pau! O ator em questão é um bombadão de academia - desses que andam com os braços abertos para exibir uns centímetros a mais nos bíceps, tríceps, peitorais -, músculos inchados, como que insuflados a ar, tórax depilado, até a barba do sujeito, pretensamente rústica, é bem aparada, não tem um pelo fora do lugar. Um Hércules de boutique. Machão?
Na sequência, um casal desce do carro à entrada de um evento, com tapete vermelho e tudo. Atrás do casal, um veículo passa por uma água parada à sarjeta e arremessa uma saravaida de lama contra eles. O macho não tem dúvidas : abre seu paletó, bem ao estilo Clark Kent quando vira o Super Homem, e recebe todo o barro em suas costas, garantindo que sua bela acompanhante continue limpa, linda e radiante. Macho e cavalheiro pra caralho, né? Até seria, se não fosse um cara todo alinhado, smoking brilhante, calça com vinco, muito gel no cabelo, sobrancelha feita e uma cara tão lisa que só pode ter passado por sessões de limpeza de pele, esfoliamento, tratamento com ácido retinoico e barbeada a laser; já ouvi dizer que tem depilação definitiva pra homem, para que nunca mais lhe nasçam pelos na cara, e sabe-se lá mais aonde. Em suma, o macho em questão nada mais é que um exemplar da abominável raça dos  metrossexuais.
Por fim, o ator Malvino Salvador acende as velas de um jantar romântico para dois com um lança-chamas. A mocinha se deleita com tamanha macheza, encharca-se de feromônios. Até que a escolha de Malvino Salvador foi boa, adequada. Dessa nova geração de galãs globais é um dos poucos que tem cara de homem, mas não chega nem perto de ser um Zé Mayer, um Antônio Fagundes, ou mesmo um Fábio Jr., o eterno Jorge Tadeu.
E nem seriam necessárias tantas e ululantes evidências para mostrar que essa campanha publicitária é pura perobagem enrustida. Basta ver o seu público-alvo, o homem que compra um desodorante feito "só" para ele, pensado e projetado para as suas necessidades masculinas, um produto feito por especialistas e direcionado às suas viris características. E especializou, já era, entrou especialista na conversa, pode desconfiar da integridade das pregas do sujeito. Aliás, só de haver um público-alvo para o produto já mostra a frescura por detrás da marca. 
Homem que é homem, o macho das antigas, usa qualquer coisa, usa o mais barato do mercado ou da farmácia; melhor, compra seu desodorante no armazém, junto com o rolo de fumo. De Avanço a Mistral, de Rastro a Cashmere Bouquet, de Italian Pine a Très Brut de Marchand. O macho das antigas não precisa de desodorante temático para lhe dar ares de homem.E mais, comercial para macho é o do desodorante Axe (notem que digo que o comercial do desodorante é para macho, não que o desodorante o seja ou deixe de ser, pouco me importa), que são propagandas cheias de mulheres, de gostosas, de bucetudas. O do tal Old Spice só tem cuecas! É pra macho que gosta de macho, isso sim.
Desodorante do homem homem... pois sim. Perobagem legítima. Tem até a versão roll-on, precisa dizer mais alguma coisa?
Não se deixem enganar meninos, não se deixem enganar.
Ainda traz escrito : incrivelmente cheiroso por 48 horas.

quinta-feira, 13 de março de 2014

João Baptista Figueiredo e a Copa do Mundo de 1986

Durante a chamada ditadura militar brasileira, período de nossa história compreendido entre 1964 e 1985, muitas coisas eram ditas sobre os militares que comandavam a nação. Basicamente que militar era burro, desprovido de qualquer inteligência, em suma, umas cavalgaduras, e que os militares queriam destruir o país, acabar com a educação, saúde, que não tinham qualquer espécie de preocupação social etc.

Sobre a primeira afirmação existia, inclusive, uma profusão de piadas. Perguntavam, qual é o menor pasto do mundo? É a farda, porque só cabe um burro. Diziam que fora criada uma maneira científica de medir a inteligência com precisão, e a unidade de medida era o TAR, daí os fardados de verde-oliva serem graduados em miliTAR. Apesar de também rir das piadas, nunca acreditei na burrice dos militares. Muito pelo contrário. Na época, eu um pré-vestibulando, os alunos dos colégios militares eram os que melhor se classificavam nos vestibulares mais concorridos do país. E isso se mantém até hoje, os colégios militares são os que alcançam as melhores médias, por exemplo, em provas como o ENEM. Não bastasse, são os militares que ainda formam os engenheiros mais capacitados e conceituados do país, vide IME e ITA.

Em relação à segunda afirmação, a de que queriam acabar com a nação, massacrar a população, confesso, um pouco envergonhado, que acreditava nela à época, desinformado que eu era e influenciado por professores metidos a comunistas.

Por acaso a saúde e a educação melhoraram com a saída dos militares e o retorno da "democracia"? Começou a aparecer dinheiro para a educação e a saúde? Começou foi a aparecer muito dinheiro em cuecas de políticos, isso sim. Nunca ouvi dizer de um general que tivesse enriquecido às custas do dinheiro público, nunca dizer de um militar que tivesse sido pego com dinheiro escondido nos coturnos. Mas, na democracia, o que falta para a educação e para a saúde sobra para a construção de estádios de futebol.

Será essa a ideia de preocupação social de nossa democracia, sediar uma vergonhosa e fraudulenta Copa do Mundo de Futebol?

Comparemos o que vemos hoje em relação a esse assunto com a atitude tomada, em 1983, pelo então Presidente João Baptista Figueiredo. A notíca que reproduzo abaixo foi publicada no Jornal Zero Hora.
"Governo Brasileiro Veta a Copa do Mundo"
O Presidente João Figueiredo negou, ontem, aval do governo federal para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pleitear junto à FIFA que o Brasil seja a sede da Copa do Mundo de 1986. A decisão foi tomada depois de reunião com ministros e anunciada pelo porta-voz Carlos Átila. A crise econômica, que recomenda "irrestrita austeridade", segundo o despacho, foi um dos fatores para a decisão.
O Havelange ofereceu a Copa do Mundo no Brasil e o presidente Figueiredo lhe respondeu : Você conhece uma favela do Rio de Janeiro? Você já viu a seca do nordeste? E você acha que eu vou gastar dinheiro com estádio de futebol?

Demagogia. Pura demagogia, diriam os eternos opositores dos militares, os órfãos e as viúvas do sonho comunista da instalação da ditadura do proletariado em terras brasileiras. Diriam que Figueiredo nunca teve real preocupação com as favelas ou com a seca nordestina, que usou dessa falsa preocupação como forma de não assumir o compromisso de uma Copa do Mundo e, ainda por cima, sair-se de bonzinho, mostrar-se possuidor de uma consciência social. Pode ser... Não vou dizer que não. Todo discurso de político, seja ele civil ou militar, tem muito de demagógico.
Agora, que atitude é a mais demagógica? Figueiredo fingir preocupação com as misérias do país e, no fim das contas, não ter mesmo gasto bilhões de dinheiro público num evento inútil, numa palhaçada, ou a Dilma gastar bilhões em estádios para dar ao brasileiro a ilusão de que ele é campeão mundial em algo e fazer ele se esquecer dos serviços públicos de qualidade que lhe são devidos, porém, que lhe são negados, subtraídos?
Quem demonstra maior burrice? Menor preocupação social?

terça-feira, 11 de março de 2014

Não Aceita, Não, Zé Mayer!!!

Tenho um velho amigo que é dos sujeitos mais curiosos que conheço. Curioso no sentido de se ilustrar sobre as coisas, não de ser mexeriqueiro, de cuidar da vida alheia. Ele lê de tudo, de tudo sabe um pouco, de tudo já ouviu falar. E também é a pessoa mais ressabiada que já vi, é mais desconfiado que mineiro. Tá sempre com um pé atrás em relação a tudo. Cachorro mordido por cobra, tem medo de linguiça, ele sempre repete.
Fervoroso adepto e estudioso da teoria da conspiração. Ele vê maquinação em tudo. Para ele, tudo no mundo é secretamente orquestrado pelos donos do poder, governos, sociedades secretas, os illuminati, até os extraterrestres. Nem os ETs conseguem enganar e/ou escapar de seus olhares atentos e analíticos.
Uma de suas conspirações favoritas é o complô mundial que, segundo ele, existe para o embichamento do mundo. De acordo com ele, há a intenção de que até uma certa data (que agora esqueci, depois pergunto para ele) metade da população seja convertida em gay. Tal trama dos donos do poder visaria uma redução da superpopulação planetária, um modo de diminuir a natalidade.
E para conseguir tal intento, os mandatários do mundo não poupam esforços tampouco estratégias. Tudo pode ser usado por eles - e efetivamente é usado, garante - para embichar o planeta.
Alguns dados que ele fornece para sustentar sua teoria:
- Hormônios nos alimentos, principalmente na carne de vaca e de frango. Para ganhar peso mais rápido?, ele pergunta. E ele mesmo responde : pode até ser, também; mas os hormônios são femininos, reduzem a testosterona do macho que dessa carne se alimenta a vida inteira, e baixou a testosterona, a rosca afrouxa, conclui.
- Têm os ftalenos e o bisfenol, substâncias colocadas no plástico de embalagens de alimentos e em produtos de uso infantil, como copos e mamadeiras. Com o uso, esses componentes vão sendo liberados lenta e continuamente e também afetam os hormônios e a macheza do cabra.
- Os chemtrails, aqueles rastros de fumaça deixados por alguns aviões. Fumaça coisa nenhuma, partículas de gelo o caramba. Tem de tudo naquilo, vírus, bactérias, DNA mutante e componentes químicos para causar comichão na argola, garante convictamente.
- Nem a merenda escolar à base de soja (leite e carne) é poupada. Todo mundo sabe, esclarece ele, que a soja tem uma substância que é precursora do hormônio progesterona, tanto que os médicos receitam dieta à base de soja para a mulherada que entra na menopausa, uma maneira natural de repor hormônios femininos. E o menininho que desde de pequeno fica comendo soja, o que acontece com ele?, pergunta, e deixa a pergunta no ar.
E não é só o embichamento químico, exalta-se. Tem também o embichamento via lavagem cerebral, promovido pelos meios de comunicação, dominados pelos homossexuais e utilizados por eles como uma festiva agência de publicidade. Todo filme, novela, seriado, todo comercial de TV, tem pelo menos um bambi, um torcedor do São Paulo, que é pra incentivar a meninada a sair saltitante por aí.
Tem que aceitar e respeitar o cara que é gay, ele proclama a altos brados, mas incentivar e dar medalha, aí já é outra história.
Apesar de sempre citar suas fontes, de nos mostrar que todas essas substâncias realmente existem e que há estudos sérios e relevantes sobre seus efeitos, a maioria nunca deu muita pelota pra ele. Quase todos o escutam sem muita atenção, sem dizer nada, para não gerar mais discussão. Ele é o excêntrico por quem todo mundo tem apreço, o cara é gente boa mesmo, é o paranoico de quem todos gostamos. Ninguém nunca lhe deu grandes créditos. Às vezes, até eu considero suas revelações conspiratórias como puros delírios. Até hoje.
Li hoje uma notícia que bem pode ser a prova cabal dessa conspiração há tempos alardeada por meu amigo. Um indício muito mais forte que hormônios na comida, que ftalenos e bisfenóis, que chemtrails etc. A evidência definitiva que os teóricos da conspiração esperaram por anos e anos. 
Depois do que li, começo a pensar que ele esteve certo durante esse tempo todo. É como já disse o grande Marcelo Nova : e o paranoico foi aquele que sacou.
Li que Aguinaldo Silva, autor de novelas da Globo, convidou José Mayer a fazer parte do elenco da próxima novela das 21 h, Falso Brilhante. Caso aceite o convite, Zé Mayer, o maior comedor da história da TV brasileira, irá encarnar um personagem homossexual de meia idade, ou melhor, uma bichona da terceira idade; afinal, Zé Mayer já está com 65 anos, se isso é meia idade, significa o quê, que ele vai viver até os 130? Aguinaldo Silva deseja criar um gay diferente dos já mostrados em folhetins, mostrar a relação entre pessoas do mesmo sexo na meia idade.
Mas justo o Zé Mayer fazendo papel de biba? E de biba véia ainda por cima? Dessa vez, os conspiradores mundiais exageraram, passaram dos limites, deram muito na cara, se entregraram, a máscara caiu. Meu velho e desprezado amigo sempre esteve certo! Se isso não for parte de uma conspiração para detonar de vez a imagem do autêntico macho - aquele que não faz limpeza de pele, que não usa creminho hidrante, que não tira a sobrancelha, que não vai tirar cutícula na manicure, que não depila a perna e o saco, que não toma caipirinha de kiwi -, eu não sei mais o que pode ser.
Não aceita, não, Zé Mayer!
Estão querendo levar o Zé Mayer para a irmandade.
Não aceita, não, Zé Mayer!
José Mayer é um dos maiores passadores de rodo de toda a história da telenovela brasileira, quiça até das fotonovelas. É o cara que comeu beldades a vida toda e ainda recebeu para isso. Ser o José Mayer é a ambição de todo macho de respeito.
José Mayer é um baluarte da macheza nacional, um bastião da rusticidade e da virilidade perdidas pelas novas gerações de homens sensíveis - os metrossexuais -, um dos últimos guardiões do cromossomo Y. José Mayer tem até cara de homem, ora pois. José Mayer já é um personagem do folclore nacional. Mais temido que o boto amazônico. José Mayer é um exemplar da raríssima espécie homem-jurubeba, tipo criado pelo cronista e contador de causos da gota serena Xico Sá, ele próprio também um digno representante dessa raça tão ameaçada de extinção.
Não aceita, não, Zé Mayer!
José Mayer já traçou a Vera Fischer, a Helena Ranaldi, a Deborah Secco, a Mel Lisboa, a Malu Mader, a Christiane Torloni, a Silvia Pfeifer, a Carolina Ferraz, a Taís Araújo, a Camila Pitanga, a Letícia Spiller, a Danielle Winitis, a Juliana Paes, e tantas outras. Tudo bem que já pegou também a Marília Gabriela, ninguém é perfeito, meu caro.
E agora, no auge da maturidade profissional do ator, Aguinaldo Silva propõe a José Mayer que ele faça o quê? Que deite a cabecinha do Antônio Fagundes no colo e lhe faça um cafuné??? Que se esfregue e se enrosque nas costas peludas do Tony Ramos???
Não aceita, não, José Mayer!
Não aceita, não, Zé Mayer!!!

domingo, 9 de março de 2014

Siririca, Mulherada, Siririca

É o Azarão ainda no clima do Dia Internacional da Mulher, trazendo conselhos e recomendações para a máxima criação da evolução : a mulher. 
A mulher é o ápice da criação, o pináculo que a evolução podia alcançar nesse planetinha perdido no Universo. A mulher é o homem com peitos e sem pinto. Dá pra criar coisa melhor?
Poucas coisas são mais inspiradoras, mais idílicas, mais dignas de reverente contemplação do que uma mulher. Peladinha, peitos levemente abaulados pela juíza força da gravidade, um anúncio de barriguinha a tornar mais fundo e confortável o umbigo, peluda em suas intimidades - que o negócio é a caranguejeira, nada dessas coisas raspadas que parecem bonecas de plástico -, de olhos fechados, absorta em seu mundo, a se masturbar. A se tocar só onde ela sabe que lhe dá mais prazer, a experimentar os dedos encharcados de suas necessidades.
E uma boa siririca faz um bem danado à mulher. E por que seria diferente? A punheta não satisfaz e apazigua a homarada? Pois então.
Acontece que mulher é mais recatada, mais pudica. Ainda que o faça, não sai por aí, feito o homem, dizendo se tocou três ou quatro siriricas no dia. E quando digo mulher, eu que sou das antigas, estou desconsiderando algumas classificações do que hoje se considera o sexo frágil : periguetes, cachorras, bandidas, poderosas etc, que isso nem dá pra levar em conta, que isso, num passado não muito distante, tinha um só nome : puta. E nem aparecia na televisão. Se quiséssemos ver, era só na casa da luz vermelha.
Digo da mulher normal, que trabalha, que é esposa, mãe responsável. Essas, a grande maioria, ainda tem medo de se autoestimular. Besteira. Faz um bem danado, minhas filhas. E não precisam acreditar em mim, não. Os dados que apresentarei são do blog Tempo de Mulher, da jornalista Ana Paula Padrão.
Ana Paula Padrão... ah, a Ana Paula Padrão.
Só fazendo um parênteses, dando um espaço a uma reminiscência - que é quase só da memória que um velho vive -, antigamente, quando eu era solteiro, isso lá no século XX, eu chegava em casa tarde da noite, trabalhava até tarde. Chegava, tomava um banhão, pegava da cerveja já gelada no congelador e me ajeitava no sofá para meu programa de fim de noite : ver o Jornal da Globo, com Ana Paula Padrão.
Eu nunca gostei muito de ver jornal na TV, sempre preferi o papel, mas tinha a Ana Paula... Aí, o papel que se foda; aí, o papel que se destine a limpar bundas.
Todas as noites, das 23:30 às 00 :10 h, eu tinha um encontro com a Ana Paula Padrão. Foram anos de boa convivência. Nunca tivemos sequer uma discussão. Concordava com tudo o que ela dizia, com seus cabelos pretos, curtos e lisos, com sua tez pálida, com suas olheiras sensuais. Depois, ela saiu do JG, foi pro SBT, pra Record, sei lá. Hoje, acho que nem está mais na TV. 
É do blog dela, hospedado no msn.com, que vêm os dados científicos para a mulherada perder o medo e, principalmente, a culpa pela siririca.
"Para se ter uma ideia, 6% das mulheres afirmam que se masturbam com frequência de duas a três vezes por semana. O dado é da pesquisa "Mosaico Brasil", coordenada pela sexóloga Carmita Abdo, que também é psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da USP. O estudo foi divulgado em 2009, mas ainda é um dos mais completos sobre a sexualidade dos brasileiros."
Seis por cento? Seis por cento até pode ser um número bom para a inflação anual no país, mas para siririqueiras de nosso Brasil varonil é muito baixo.
"Outra pesquisa revelou que 28% das mulheres chegam mais facilmente ao orgasmo quando se masturbam. A pesquisa "Durex Global Survey Sex", divulgada em 2014 com a chancela de Carmita Abdo, entrevistou 1.004 homens e mulheres brasileiros, entre 18 e 65 anos. "Conhecendo mais o seu corpo, elas acabam tendo mais facilidade, tanto na masturbação quanto na parceria sexual", analisou a psiquiatra durante o lançamento da pesquisa.
E precisava pesquisa para constatar isso? Nutre imenso respeito pela ciência, mas acho que tem pesquisador que vive na vida mansa, que recebe verba pra pesquisar e não tem mais o quê. O cara fica pensando : o big  bang já foi postulado, o genoma humano, mapeado, o viagra, desenvolvido..., procurar por mais o quê? Então, o sujeito, para justificar as verbas que recebe, se mete em pesquisas que comprovem o óbvio, em pesquisas que não têm como dar xabu. Como essa, por exemplo. Claro que quem se masturba, goza mais fácil. Claro que quem mantém o equipamento azeitado, obtém dele um desempenho melhor.
"Fatores como a repressão ou educação sexual que algumas mulheres tiveram ou têm, ou mesmo a falta de comunicação dos pais sobre o assunto, estimularam a ausência de conversa sobre masturbação. A sexóloga e personal Sexy, Karina Brum, está acostumada a atender mulheres que não falam, literalmente, sobre masturbação e sexo porque foram criadas de maneira "mais fechada".
Personal sexy? Que profissãozinha mais boa, hein, minha filha? E eu aqui, professor há quase vinte anos.
"Para Regina Racco, colunista de amor e sexo do Tempo de Mulher e professora de Ginástica Íntima, a masturbação feminina é importante demais para a mulher. Isso porque, sem a prática, dificilmente ela alcançará boa compreensão dos seus pontos de prazer e, consequentemente, terá uma boa resposta sexual."
Professora de Ginástica Íntima? Isso sim é livre docência. E não dar aulas de matemática, física ou biologia. Tem um pessoal que tem as manhas, que sabe ganhar dinheiro fácil.
Regina Racco, a professora de ginástica íntima, sabe do que fala, é catedrática, é autora do livro "O livro de Ouro do Pomporaismo"; pompoarismo é aquela técnica de musculação da buceta que ensina a mulher a arrancar prego de uma tábua com a xavasca.
"Gosto de dizer que a masturbação feminina auxilia nos exercícios dos músculos vaginais, o que favorece a produção das secreções (lubrificação). Estas que são tão importantes para manter nossa região íntima segura e protegida. Fora que o hábito 'masturbatório' torna a saúde das genitálias mais 'viva'," explica a personal sexy Karina Brum. Ela recomenda sempre ter ao alcance das mãos um bom lubrificante, de preferência, para usar na masturbação. Pode ser algo à base de silicone que vai permitir movimentos ágeis, macios e com maior sensibilidade ao toque. "Reforçando: você pode melhorar tudo! Experimente utilizar uma dedeira vibratória ou uma luva de silicone texturizada. Assim, as manobras 'masturbatórias' vão fazer você ir ao paraíso", completa a personal sexy."
Não tenho a erudição científica dos pesquisadores, nem o conhecimento fisioterápico das personal trainners de buceta citadas, mas também quero dar minha contribuição à mulherada, em gratidão a tudo de bom que já tive com elas : além da dedeira vibratória, da luva de silicone texturizada (alguém entendeu mesmo o que é isso?), dos lubrificantes, dos consolos etc, procurem também por uma rola, arrumem um caralhão de respeito, que, no fim das contas, é o que resolve. 
Mas enquanto não encontram um homem para chamar de seu : masturbem-se, meninas, masturbem-se.
Façam como a mulher da letra da canção "Essa mulher", de Arnaldo Antunes
Essa Mulher
(Arnaldo Antunes)



Ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher.

Ela goza com o sabonete
não precisa de você
Ela goza com a mão
não precisa do seu pau

Ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher

Que não sente a sua falta
e quando você chega em casa ela não sente a sua presença
ela tem um travesseiro mais macio do que o seu braço
e um acolchoado muito mais quente que o seu abraço

Ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher

Em tempo : aos que, como eu, consideram-se órfãos da Ana Paula Padrão, uma foto da musa, para matar as saudades, ou para atiçá-las ainda mais.
E quando, ao final do jornal, ela se despedia? E quando ela dizia : Boa-noite? Eu respondia, boa-noite, gostosa!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Chico Buarque e o Dia Internacional da Mulher

Da boca da mulherada : o Chico é lindo, o Chico é gênio, o Chico é sensível, o Chico entende como ninguém a alma feminina.
Sem nenhum tipo de viadagem, eu concordo! Sobretudo com o último aspecto. O Chico é um craque, um expert na essência e no comportamento feminino. As músicas do Chico escritas e cantadas no eu-lírico feminino são um bálsamo para a mulheres, confortam-lhes o espírito e lhes encharcam o entrepernas. Que melhor canção, então, para servir de homenagem ao Dia Internacional da Mulher, que não uma do Chico?
E um clássico do Chico! Uma canção em que ele dá um sábio conselho à mulherada; conselho muito útil, diga-se de passagem, nestes atuais dias de escassez do verdadeiro macho no mercado. Mais que um conselho : essa canção é um manual de conduta para a mulher que quer bem manter o homem que escolheu para chamar de seu. O bê-á-bá da mulher que pretende conservar o seu benquerer, uma verdadeira cartilha de educação sentimental, a Caminho Suave da nem sempre tão suave relação homem-mulher.
Com Açúçar, Com Afeto! É lógico. Escutem o Chico, ele sabe das coisas. Mirem-se no exemplo dessas modernas mulheres de Atenas.
"Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato e abro os meus braços pra você". Isso é que é letra, isso é que é exemplo.
E viva a mulherada! E viva o Dia Intenacional da Mulher! E, homessa, viva o Chico, o gênio, o lindo, o sensível, o da alma feminina, sumo tradutor!

Com Açúcar, Com Afeto
(Chico Buarque de Hollanda) 

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, vai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, existe um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer? Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.

terça-feira, 4 de março de 2014

Sanidades Particulares, Íntimos Hospícios

Um, berra
O outro, cala
Um, se enterra
O outro, escala
Um, digladia
O outro, joga a toalha.

Um, se tranca

O outro, se espalha
Um, rói as unhas
O outro, baila
Um, supunha
O outro, declara.

Um, o assíduo

O outro, o relapso
Um, o da certeza
O outro, o do "eu acho"
Um, o narciso
O outro, o relaxo.

Um, o abismo

O outro, a cordilheira
Um, o abalo sísmico
O outro, a ovelha
Um, camufla
O outro, espelha.

Cada um arruma o seu jeito de não enlouquecer,
Ou de se manter seguro e confortável dentro de sua loucura.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Bukowski, o Solitário

estar sozinho



quando você pensa em quantas vezes

tudo dá errado

você começa a olhar para as paredes

e permanece lá dentro

porque as ruas são o

mesmo filme antigo

e todos  os heróis acabam como

o velho herói do filme:

bunda gorda, cara gorda e o cérebro

de um lagarto.



não é de admirar que

um homem sábio irá

escalar uma montanha de 10.000 pés

e sentar-se lá esperando

e vivendo de baga de arbusto

em vez de apostar em duas covinhas dos joelhos

que certamente não vão durar a vida inteira

e 2  em cada 3 vezes

não sobreviverá por uma noite.



montanhas são difíceis de escalar.

as paredes são suas amigas.

conheça suas paredes.



o que eles nos deram lá fora

é algo que mesmo as crianças

se cansaram.



Permaneça com suas paredes.

elas são o amor mais verdadeiro.



construa onde ninguém constrói.
é o último caminho que resta.