quinta-feira, 27 de abril de 2017

Um Breve Recesso

Ausentar-me-ei, merecidamente, por uns dias, desse mundo cão, dessa rotina de légua tirana. Estarei, de amanhã à segunda-feira próxima, em outros ares, em outras altitudes.
Volto - talvez - a partir de 2 de maio. 
Abaixo, duas fotos de onde me esconderei nesse feriadão. Quem adivinhar onde é, ganha o direito de dar uma pegadinha no meu Marretão.

Tudo bem, tudo bem... Mas é só porque hoje eu estou de bom humor : quem adivinhar, poderá dar uma pegadinha no meu poderoso Marretão e uma chupadinha, também.

Garça no Esgoto (Ou : o Poeta Sórdido II)

Essa postagem é uma sequência da anterior, na qual respondo ao comentário de meu amigo JB e também me reconheço e me assumo como um discípulo - não em qualidade, mas em intenção - de Manuel Bandeira e de seu poema Nova Poética, que nos traz a Teoria do Poeta Sórdido, que professa que o bom poema tem que chocar, tem que desestabilizar, que o bom poema é uma nódoa de lama no brim da calça recém-vestida.
O poema Garça no Esgoto é minha esquálida interpretação do Nova Poética. Tenho um apreço especial por ele. Meti-me a escrever poemas em 1989 - contava eu, então, com meus tenros, inocentes, puros e bestas 22 aninhos - e o Garça no Esgoto faz parte da leva dos primeiros cinquenta que escrevi. Tinha cá pra mim que meu assunto estaria encerrado no dia em que eu escrevesse cinquenta poemas, que não teria mais nada de novo a dizer a partir daí. Era meio que um projeto, cinquenta poemas e fim. Eu estava certo, não tive mais nada de novo a dizer depois disso, mas continuei ainda assim, perdi a integridade e a vergonha na cara.
Esse vai especialmente para você, JB, a sempre limpa e bem passada calça branca de brim, mas que adoraria, tenho certeza, rolar na lama e se amarrotar toda.

Garça no Esgoto
Sou uma brincadeira de mau gosto do Mau Gosto,
Sou uma garça no esgoto.
Bonito e roto,
O necessário que choca,
Sou quase um arroto.

Sou o gosto amargo do desgosto,
Sou uma garça no esgoto.
Lindo e escroto,
O desejo que encabula,
Sou um nervo exposto.

Sou uma ferida vazando no seu rosto,
Sou uma garça no esgoto.
Atraente e torto,
O prazer que envergonha,
Sou o que já nasce morto.

Sou o que foi belo sem nunca sê-lo,
O sorriso imposto aos lábios da modelo.
Sou a verdade que incomoda,
O que nunca deveria estar solto.
De toda a discórdia, o broto
Sou uma garça no esgoto.

O Poeta Sórdido

Sobre meu poema "Os Abnegados", JB, meu amigo e quase ermitão do Blogson Crusoe, com quem, um dia, ainda tomarei uma cerveja pessoalmente (essa é um do itens de minha lista das coisas que quero fazer antes de morrer), mesmo que ele tome uma sem álcool, comentou :
"Você criou fantásticas imagens neste poema. A do Don Juan e a do vampiro são geniais. Eu só não entendo uma coisa em você. Você parece ter uma compulsão de escandalizar, de chutar o pau da barraca. É como se estivesse em alguma festa, todo bem vestido. Aí, no finalzinho, dá aquela vomitada na própria roupa. Bom, o poema é seu e eu sou uma besta de explicitar minha visão, pois não sou crítico literário nem de revistinha da Mônica."
Bom, devo dizer que, isso de vomitar na própria roupa ao fim da festa, já o fiz muita vezes, e no sentido literal mesmo, não no figurado. Em relação ao sentido figurado, creio que JB se refira ao meu gran finale, em que comparo o abstêmio que bebe escondido da família com o adolescente que toca uma bronha escondido da mãe e de Deus.
JB não gosta nem tampouco se sente à vontade com palavrões. Ele é uma quase Marcela Temer, a bela, recatada e do lar. JB é recatado e do lar.
Sim, acho que tenho mesmo essa compulsão, ou essa necessidade, de escandalizar. Se não for pra causar espanto, choque ou desconforto, prefiro ficar quieto. Isso, claro, é um traço latente de minha índole, nasci assim, mas que, acredito, tenha sido intensificado pela leitura de um de meus autores preferidos, Manuel Bandeira, e, mais em particular e fortemente, por um de seus poemas, o Nova Poética.

Nova Poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfa, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.

Assino embaixo do que diz o Bandeira, e emborco um licencioso trago de rum para reconhecer firma. O poema, o bom poema, de ser como a lama no brim, na roupa limpa, deve tirar o sujeito do sério, do lugar comum. Do orvalho, das estrelas alfas, das virgens cem por cento e das amadas que envelheceram sem maldade há, aos montes, quem já cuide : psicólogos, terapeutas, padres confessores, "escritores" de livros de autoajuda etc.
Para jogar a necessária merda no ventilador, a necessária lama no brim, poucos. O Bandeira e, modestamente, sem jamais me colocar no mesmo patamar de qualidade, só no de mesma função, eu, o Azarão, essa criatura abominável que vos fala.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Vidro Azul

O sol filtrado por um vidro azul, 
Como a se deixar exalar 
De uma garrafa de Liebfraumich
Para a minha taça soporífera de haste torta,
Ou a se largar em sedimento 
No leito de um velho vidro de leite de magnésia, 
Transmutado em cantiga de ninar para a minha azia. 

Assim pretendo você e seu amor: 
Arrolhado com a calma de um porão. 
Fluido e antiácido: 
Um sol filtrado por um vidro azul.

domingo, 23 de abril de 2017

Os Abnegados

Ah! A ab-negação do celibatário priápico;
Da mãe que resiste em não descer ao sepulcro com seu filho natimorto.
Ah! A ab-negação do Don Juan,
Que deixa de sua máscara,
De sua Veneza
E vai viver como funcionário público em Salt Lake City;
Do vampiro,
Que usa aparelho de correção ortodôntica,
Não para corrigir sua mordida,
Mas para encabrestrar o seu desejo por sangue;
Do Hermes,
Que pendura suas chuteiras aladas
(A da esquerda com asas de condor,
A da direita, de colibri)
E caminha,
Descalço e pedinte,
Pelo asfalto candente.
Ah! A ab-negação do alcoólatra em reabilitação,
Que, em público,
Que, em festas da família,
Só toma cerveja sem álcool
Mas que, de madrugada,
No banheiro,
Com a desculpa de que ainda não cagou hoje,
Se senta e entorna um latão das boas.
Feito um adolescente que toca punheta escondido,
Da mãe
E de Deus.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Os Gays de Direita

Primeiro foi o caso de Thais Godoy Azevedo, mulher, nova, bonita, inteligente, feminina e anti-feminista, cujo coerente e sensato texto publiquei aqui.
Agora, deparo-me com isso : gays anti-viadinhos, gays anti-bichas loucas. São os Gays de Direita, com página no feicibúqui e tudo. Porém, aos que pretendem se aventurar na página dos Gays de Direita, uma advertência curta e grossa já é apresentada logo ao início : Veado é animal, Bicha louca aqui não tem voz, Somos Gays de Direita e o recalque da esquerda passa longe !
Pããããããta que o pariu!!! O lema dos caras é bicha louca aqui não tem voz!!!
E vão mais longe : apoiam o intrépido Jair Bolsonaro. "Todos nós apoiamos o Bolsonaro pela situação em que o País se encontra. Só ele, em meio a toda essa bagunça, mantém o patriotismo e a consciência de que o País está acima de tudo", diz o arquiteto Clóvis Junior, de 30 anos, um dos fundadores do grupo. Clóvis Junior diz ainda que "o objetivo do grupo é "quebrar a hegemonia da esquerda" entre os gays. "Eles (os gays de esquerda) vão destruindo a moralidade da sociedade com uma pauta que não tem nada a ver com a sexualidade"
São gays sem frescura e sem melindres, os Gays de Direita. São gays das antigas. Gays de respeito. Gays de uma época em que o cara tinha que ser muito macho pra soltar a rosca. 
São gays sem viadagem. Gostam de rola, sim, mas não carregam a foto do pinto do namorado na carteira nem usam um pingente de ouro 18K em forma de uma piroquinha pendurado no pescoço. Enterram a brachola até o talo, sim, até as bolas, mas o fazem ao estilo gaúcho, não gemem e rebolam na vara feito uma cadelinha no cio. Casam entre si, sim, mas nenhum deles se veste de noivinha virginal das pregas ilibadas. Passeiam juntos, vão ao shopping, ao cinema, às compras no mercado, fazem caminhadas em parques públicos, sim, mas não andam de pedalinho em forma de cisne negro, um comendo algodão-doce (rosa) e ou outro, maçã do amor.
Mulheres anti-feministas? Gays anti-viados? Estará o mundo, irreversivelmente, enlouquecendo de vez? Estarão as pessoas, definitivamente, perdendo o senso?
Não. Talvez seja bem o contrário. Talvez as pessoas - ainda que apenas algumas delas - estejam, justamente, a recuperar o bom senso, ou começando a ter coragem de manifestar o senso que sempre possuíram e conseguiram preservar nesses tempos de evidente complô para a subversão e a derrubada dos valores básicos e fundeadores da sociedade.
É possível que pessoas que, teoricamente, pertencem a essa ou àquela "minoria" se coloquem não só de fora como também em oposição aos "movimentos sociais" que dizem defendê-las e representá-las, que rejeitem essas máfias sempre em busca por privilégios?
Sim, é perfeitamente possível. E coerente. É possível viver de forma honesta, sem se aliar a grupos esquerdistas, sem ser um pedinte ou um oportunista social, sem atribuir as causas de seus fracassos e frustrações a outrem, a um "inimigo comum", cada "movimento social" elege e declara o seu algoz. Para a feminista, o homem é o culpado por todos os insucessos dela; para o LGBT, o heterossexual é que é o responsável por todas as suas desgraças e infortúnios; para o negro, o branco; para o operário, o empresário que lhe dá emprego; para o pobre, o bem-sucedido; para o sem-terra, o latifundiário, e a coisa por aí vai, de chororô em chororô. Arregaçar as mangas, poucos querem. Aliás, se forem esquerdistas, nenhum.
Sim, é possível viver de forma honrada, admitindo que, no mais das vezes, somos os fatores de nossa falta de êxito, seja por incompetência ou por real falta de esforço, dedicação e disciplina.
O movimento é incipiente, quase que imperceptível, mas começa a bocejar e a se espreguiçar em berço esplêndido. É um movimento ainda embrionário, protoembrionário, até; com maiores chances, inclusive, de não vingar, de sofrer aborto espontâneo, ou de natimorrer, mas que foi fecundado.
É, na verdade, um início de reação. Uma reação de pessoas de bem. Pessoas que, independente do gênero a que pertencem (homem ou mulher), da orientação sexual que as satisfazem (hetero, homo, bi, pan), da etnia que congreguem (branca,  negra, oriental, indígena), da fé que professem (católico, evangélico, espírita, macumbeiro) ou da ideologia política que defendem, não se utilizam dessas características pessoais como meio de vida, não arrolam suas particularidades como sendo itens de seus curriculum vitae nem como prova de sua competência, não esperam nem almejam nenhuma vantagem ou dividendo simplesmente por terem nascido ou mulher, ou gay, ou negro etc.
Uma reação contra as máfias conhecidas por movimentos sociais, cujos integrantes se unem e se mancomunam, justamente, em torno dessas particularidades para gritar que são vítimas disso ou daquilo ou daquiloutro, e gritarem mais alto ainda por privilégios e regalias, nunca por igualdade. Uma reação a esses grupos vermelhoides mal-intencionados que, sob os falsos estandartes do bem comum e da causa coletiva, defendem interesses pessoais. Grupos dispostos sempre a ganhar no grito, na forma de benesses legais, o que a maioria da população obtém via estudo e trabalho.
Uma reação de pessoas de bem que, inclusive, rejeitam o muitas vezes confortável rótulo de "minorias", de pessoas de bem que não se sentem, de forma alguma, representadas por essas máfias sociais desprovidas de qualquer fundamento ou lógica, puramente midiáticas, e que, no mais das vezes, depõem mais contra que a favor das classes que dizem representar, que mais estimulam e fomentam a desavença e o confronto que o entendimento, pois são imensamente mais radicais e intolerantes do que aqueles que consideram seus opressores. Uma reação de pessoas de bem que não querem "causar", que não querem oba-oba, que querem, simplesmente, levar suas vidas tranquilamente, que só querem o justo, só o que merecem por seu talento e por sua capacidade profissional. Pessoas de bem que, ao contrário dos tais movimentos sociais, só querem mesmo levar uma vida normal, igual a todo mundo.
Conheço muitas mulheres que não se veem representadas pelos grupos feministas, mulheres que jamais participariam de uma passeata das suvacudas de tetas caídas, jamais dariam apoio a uma marcha das vadias; antes pelo contrário, que consideram ridículas e mesmo ofensivas tais manifestações, mulheres que reconhecem que o real objetivo das meninas dos grelos duros é transformar o homem em inimigo, não em companheiro.
Conheço alguns homossexuais que não concordam nem se reconhecem numa Parada Gay, muito menos na fala fascista de Jean Willys, o Bolsonaro do Arco-Íris.
Conheci dois estudantes negros que não optaram pelo sistema de cotas quando de suas inscrições para o vestibular. Um deles me disse que, primeiro, considerava um pouco humilhante, que lhe parecia que uma esmola estava a lhe ser jogada, e que, segundo, sentia que estava um pouco trapaceando por passar na frente de outro concorrente que tivesse estudado tanto quanto ou até mais que ele. Os dois estudaram com afinco e vontade. Um deles entrou na Universidade Federal de Uberlândia; o outro, depois de um ano de cursinho, na USP - São Carlos.
Um movimento ainda incipiente dessas pessoas de bem, repito, mas extremamente bem-vindo e, mais ainda, necessário. Até para diferenciar as reais vítimas e os reais necessitados (sim, eles existem, nunca neguei isso) dos que se fazem de vítimas e que existem em um número muito maior que os primeiros.
Tudo isso posto, tenho certeza de que uma trepada com uma anti-feminista seria espetacular. À ocasião do primeiro encontro, ela se poria como uma mulher, como uma fêmea da espécie que quer impressionar o macho. Viria toda fresquinha, banho recém-tomado, perfumada doce e discretamente, com as axilas e as pernas depiladas (o bucetão poderia deixar cabeludo, mesmo) e trajando insinuantes e paudurescentes calcinha e sutiã. 
Em contrapartida, eu me poria como um homem, como um macho da espécie pronto a satisfazê-la. Iria também de banho recém-tomado (com sabão de pedra, que macho que é macho não usa sabonetinho Dove), barba por fazer (há uns 6 meses), sovacos, pernas, peito e saco cabeludos, uma garrafa de um bom vinho e tendo, uma hora antes, tomado um viagrinha, de leve, só metadinha.
Tenho certeza de que ela não reclamaria nem faria discursos nem distribuiria panfletos contra o domínio e a opressão do macho quando eu a tomasse de quatro, pernas bem abertas, ancas arrebitadas e conduzisse a ação com uma das minhas mãos a puxá-la fortemente pelos cabelos feitos em rédeas e com a outra transformada em suave, porém, firme palmatória.
Tudo isso posto, tenho certeza também de que seria muito interessante e divertido passar uma noite sentado à mesa de um bar com mais dois ou três gays de direita. Tomar cerveja, comer torresmo, falar palavrão, coçar o saco, contar piadas de bicha etc. 
Eu só não iria ao banheiro mijar junto com eles. Porque aí também já é muita viadagem.
Pããããããta que o pariu!!!

Aos que se interessarem : https://www.facebook.com/GaysDireita/

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Todo Dia Era Dia de Índia

Hoje, 19 de abril, é o Dia do Índio. Antigamente, quando eu era aluno do primário, recebíamos, assim como em todas as datas comemorativas, um desenho tosco mimeografado das mãos da "tia". Aquele que vinha com cheiro de álcool e a molecada, antes de qualquer coisa, antes de começar a colori-lo, dava uma boa de uma cheirada.
Atualmente, as escolas não mais comemoram tais datas, nem mesmo lembram aos alunos da existência delas. Não tem mais desenho mimeografado para ilustrar nossos conhecimentos gerais, ou para dar aquele baratinho.
Se você perguntar a algum aluno que dia é hoje, jamais ele saberá que é o Dia do Índio.
Para suprir essa lacuna do atual sistema de ensino, que é regido por pedagogos e não por verdadeiros professores, por picaretas que rejeitam o tradicional (afinal, o tradicional dá muito trabalho), mas não propõem nada melhor para colocar no lugar, deixando apenas um vácuo de conteúdo e gerando gerações de semianalfabetos, eu, o Azarão, sempre preocupadíssimo como a cultura geral nacional, farei aqui as vezes da saudosa "tia" do primário. Eu trarei à lembrança e comemorarei o Dia do Índio.
Aliás, Dia do Índio, não. Dia da Índia. Primeiro porque não vou comemorar aqui dia de macho nenhum. Segundo porque pode aparecer alguma índia feminista e me acusar de machismo e sexismo.
Feliz Dia da Índia!
E se alguma das índias abaixo quiser apitar no meu apito, manejar meu tacape e minha borduna, assoprar na minha zarabatana e dar uma fumadinha no meu cachimbão da paz, pode ficar à vontade. Tudo em nome da preservação da cultura e da identidade nacional!

terça-feira, 18 de abril de 2017

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (25)

A cornaiada que lê o Marreta, sobretudo meu caro amigo Fernandão, já estava a reclamar da minha negligência para com a seção TCPCP. Deveras.
Volto a ela, então, com a carga toda, em alto estilo, com ele, ninguém mais ninguém menos que o saudoso Reginaldo Rossi e a composição de sua própria lavra e guampa, Aceito Tudo de Você (Dor de Corno), mais direto no feridão impossível.
Dor de corno faz bem pra qualquer coração, garante Rossi, o pai da matéria; ou, pelo menos, a mulher dele falou que ele era o pai.

Aceito Tudo de Você (Dor de Corno)
(Reginaldo Rossi)
Hoje, você veio me dizer que não quer mais
Continuar com esse romance entre nós dois
Te encher o saco e que eu tenho que aceitar
Eu aceito todos os caprichos de você
Eu faço tudo, tudo que você quiser
Eu só não posso é deixar de te amar

Eu vou tomar todos os porres que o corpo aguentar
Pra lembrar que um dia o meu grande amor
Me deu um pé na bunda sem qualquer razão
Mais não vou mover uma palha pra te esquecer
Por que eu te adoro eu amo você
Dor de corno faz bem para qualquer coração

Ah, eu sei você não gosta tanto mas de mim
E se tiver alguém que você tá afim
Não perca tempo vá correndo se entregar
E se por acaso esse alguém te maltratar
Eu tô rezando pra você voltar pra mim
Pois na distância meu amor aumentar mais

Eu vou tomar todos os porres que o corpo aguentar
Pra lembrar que um dia o meu grande amor
Me deu um pé na bunda sem qualquer razão
Mais não vou mover uma palha pra te esquecer
Por que eu te adoro eu amo você
Dor de corno faz bem para qualquer coração

Reginaldo Rossi no buteco, o habitat natural do corno.

domingo, 16 de abril de 2017

Lula Roubou Até a "Honestidade" De Paulo Maluf

À época de minha adolescência, isso lá em começos da década de 1980, havia duas verdades absolutas e incontestes entre os politizados de então, entre os engajados, entre os inteligentinhos, como diz Luiz Felipe Pondé : a) de que os militares eram o câncer da nação, de que toda desgraça brasileira era fruto do governo militar; pois é, caro leitor do Marreta, na ocasião, o diabo não vestia Prada, vestia farda verde-oliva; b) e de que Paulo Salim Maluf era o maior ladrão que já pisara em terras de Pindorama, o nosso Ali Babá. Lembro de folhetos políticos anti-Maluf, jogados nas ruas em uma das vezes em que ele concorreu ao governo de SP, nos quais ele era retratado como uma ratazana, o Ratuf. Tenho um desses até hoje, só não sei onde guardei.
Contudo, essas duas verdades absolutas, recitadas feito mantras pelos vermelhoides da época, foram, como acontece a todas elas, rapidamente desmentidas pelo tempo, ou, pelo menos, relativizadas.
Os militares, apesar de não terem sido nem de longe a melhor coisa que ocorreu para o país, frente aos mais recentes acontecimentos - e digo do mensalão para cá -, comparativamente dizendo, estão longe de ser um câncer terminal. Estão mais para um pólipo benigno, algo que necessita ser extirpado e que requer constante monitoramento para evitar uma recaída, mas que não levará o sujeito para a cova.
E o Maluf, então? Pãããããããta que o pariu!!! Frente ao esquema quadrilheiro e mafioso montado e encabeçado pelo PT e estendido aos demais partidos, o nosso simpático Salim é um ladrão de galinhas, o moleque que rouba uma maçã na banca da feira e sai no pinote.
Tanto que, de ladrão, Maluf passou a ser vítima de roubo.  Lembro de que um dos bordões de Paulo Maluf sempre foi dizer que “não havia nenhum político mais honesto” que ele. Pois Lula roubou o discurso de honestidade do Salim, disse em entrevista que "“não existe viva alma mais honesta que eu”.
E quem acusa o sapo barbudo é o próprio Maluf, se valendo de suas redes sociais.
Disse, ainda Maluf, a respeito do episódio : “Essa frase é de minha autoria, como comprova o jornal da época, aí vem o Lula falar de honestidade roubando o discurso dos outros. E pior, sem nem molhar minha mão!”
E sim, Maluf não apareceu ainda em nenhuma das listas de delações premiadas. Nem mensalão nem petrolão nem porra nenhuma. A Lava Jato tá passando longe de Maluf. A ausência de provas de que Maluf é ladrão é a prova de que ele seja honesto?
Para Maluf, sim. E ele agora tá deitando e rolando. O tempo, segundo ele, o senhor da verdade, está a corroborar a sua honestidade.
E eu vivi pra ver esse dia, o dia em que Maluf seria um exemplo de probidade. Isso é que dá viver muito.
Pãããããããta que o pariu!!!

sábado, 15 de abril de 2017

Mijando no Pé

Envelhecer é fazer hora extra sem ter nenhuma tarefa a cumprir. É ter um tempo de vida além do projetado inicialmente pela Biologia. Alguém, por acaso, já viu um ancião chimpanzé, ou um vetusto leão, golfinho ou ornitorrinco?
Nasceu, cresceu e meteu, já era, já desocupa lugar para o próximo. Que a fila da Natureza anda, não para. E não há filas preferenciais para idosos. Não há terceira idade para os outros animais. Sorte deles. Não precisam ficar fazendo ginástica nas praças, acordando às quatro da matina pra lavar calçada, indo ao dentista pra ajustar a "perereca", não têm que viajar de excursão para Caldas Novas nem para Aparecida do Norte, não têm que ir dançar nos bailes da velha guarda (será que a velha ainda guarda?) e, principalmente, não têm que ir ao médico levar dedada no cu.
Envelhecer é ter ganho um bônus no videogame da vida, mas, ao mesmo tempo, dadas as limitações do maquinário - a montadora da Natureza não faz revisão a cada 30, 40 ou 50 anos, muito menos nos chama para um recall -, não ter muito o que fazer com esse adicional.
E se o velho não pode mais andar, correr, encarar uma briga, sair pra tomar um porre, conquistar novas bucetinhas, com o que ele preenche o tempo, com o que ele se ocupa para não ficar louco, enquanto espera a morte chegar sentado no trono de um apartamento? Ficando louco!
Tricotando neuroses. A neurose é um tipo de terapia ocupacional para matar o tempo que já devia ter nos matado. Tecendo manias. As manias são os pulôveres com os quais o velho se aquece contra o frio da obsolescência, são aquelas capas plásticas com as quais se cobrem os velhos liquidificadores e batedeiras.
Envelhecer é acumular manias. Gavetas e mais gavetas delas. Todas protegidas por bolinhas de naftalina. 
Nós, velhos, vamos nos tornando um museu de manias, colecionadores compulsivos delas, em substituição ao que a idade não mais nos permite. Exibimo-as alfinetadas e etiquetadas em molduras nas paredes enrugadas de nossas salas, feito raras e exóticas borboletas azuis.
Perdemos, nós, os velhos, força física, capacidade e destreza motora, virilidade (mas o desejo continua a nos assombrar, fazendo-se em espectros horripilantes nas nossas janelas em noites de lua cheia e em cabides caindo dentro de nossos guarda-roupas), demoramos mais para sarar de uma bebedeira, de uma gripe, nossa voz perde potência e inflexão, nossa opinião passa a ser ignorada (ou, pior, a ser tomada como uma excentricidade de velho), vamos nos tornando invisíveis - o que acho até bom, mas devo confessar que, vez em quando, sinto falta de uma gostosa me encarando, medindo-me de cima a baixo, nem que fosse para, ao fim do escrutínio, concluir : de jeito nenhum, jamais, nem bêbada. Não ficamos mais sábios, só não temos mais forças para cometer nossas burrices e cagadas.
Cercarmo-nos de manias, queixumes e ranzinzices, é uma maneira de dizermos que estamos vivos, de marcarmos nosso território, nossa cova em palmas medida, a conta maior que tivemos em vida, a parte que nos cabe desse latifúndio.
As manias são o jeito do velho mijar num poste, numa árvore, e dizer : - esse pedaço tem dono, essa mínima gleba de sossego é minha, daqui ninguém passa.
Mas qual o quê... Quem diz que o velho consegue levantar alto a perna para mijar no poste? Acabamos, quase sempre, mijando no pé.
Pããããããããta que o pariu!!!

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O Diabo à Minha Porta

O Diabo está à minha porta,
Mulher.
Por que não danças
Um cancan para mim?

As Rosas Não Falam, Ou Será Que é Você Que Não é Capaz de Escutá-las?

Mais uma da série "o Azarão sempre soube e só agora a ciência começa a constatar".
No dia a dia, quando perguntado por algum aluno, sempre faço questão de marretar a burrice e a presunção do tal do vegetariano, esse ser que se julga uma modalidade superior do gênero humano, um iluminado, um escolhido por Gaia.
Aliás, muitos me perguntam se sou vegetariano. Respondo-lhes que entendo tão ofensiva suspeita sobre meu caráter, digo-lhes que tal confusão não é inédita e tem lá o seu fundamento, afinal, todo vegetariano é um chato de galocha, o chato que nasce no saco do chato, mas esclareço que nem todo chato de galocha é, obrigatoriamente, um vegetariano - o que é o meu caso. Chato, sim; vegetariano, jamais, que aí também já é defeito demais para um só sofredor.
O vegetariano se considera o salvador do meio ambiente, um amigo da natureza, alguém que partilha de uma consciência una com o Universo. Um ser que, de uma hora para outra, vai sair levitando e ascender aos céus. Não vai.
O vegetariano é só mais um fanático, feito os religiosos, os políticos e os "sociais". É só mais um tipo de doente mental que substitui fatos por crença.
O vegetariano crê que é herbívoro, que pode dispensar nutrientes de origem animal. Não pode. O fato é que somos equipados físico-quimicamente para processar e incorporar tanto moléculas vegetais quanto animais. Pense, por exemplo, na dentição de um animal verdadeiramente herbívoro - uma vaca, um cavalo. Todos os dentes têm as superfícies superiores achatadas e sem corte, cegas. Nenhum dente do herbívoro é afiado ou pontiagudo, não se prestam a cortar, a rasgar, ou a perfurar; só a moer e triturar. Agora, imagine os dentes de um carnívoro - pode ser o totó ou o bichano de sua casa. Não há dentes com superfícies achatadas, só cortantes e pontiagudos, bem ao jeito para rasgar e perfurar um belo de um pescocinho de um herbívoro. Abra, enfim, a sua própria boca e veja que temos dentição mista : incisivos e caninos, para rasgar, cortar e perfurar, e molares, para moer e triturar.
Mais : o intestino de animais herbívoros é, proporcionalmente, bem maior que o dos carnívoros - a celulose é de digestão muito mais difícil e demorada do que a da carne, o que requer um tempo maior de permanência dentro do trato digestório. Pois nós, humanos, temos, proporcionalmente, o intestino menor que o dos herbívoros e maior que o dos carnívoros. E sobretudo : somos incapazes de digerir a celulose, o combustível vegetal por excelência.
São comuns as deficiências das vitaminas D3 e B12, ambas de origem exclusivamente animal, entre os vegetarianos. A primeira regula a absorção de cálcio e sua deficiência pode causar raquitismo em crianças, osteoporose precoce em adultos e desmineralização dos dentes. A segunda, entre outras funções, dá manutenção ao sistema nervoso e sua falta pode causar desde distúrbios de percepção sensorial a danos irreversíveis na aprendizagem.
Acham que o vegetariano se dá por convencido e vencido? Porra nenhuma! O fanático nunca se dá por. O ignorante é mais convicto dos seres. Ele sempre tem uma saída sem nexo, sem pé nem cabeça, e que ainda o coloca, de novo, na condição de um abnegado, de um mártir. Ele dirá que pequenos contratempos à saúde são um pequeno ônus a se arcar frente ao bem proporcionado ao planeta, um sacrifício pessoal que ele faz de bom grado, um baixo e compensador preço a se pagar por não matar para se alimentar e evitar que milhares e milhares de hectares sejam desmatados para virar pasto. De novo, crenças a obscurecer os fatos.
Vegetarianos não matam para comer? Uma boa pratada de arroz com feijão nada mais é que um cozido de embriões. Sim, a semente guarda o embrião da planta, é o seu "ovo". Aquele broto que irrompe da terra surge como e de onde? Por mágica, de uma dimensão paralela? Uma porção de arroz com feijão pode ser facilmente comparável, do ponto de vista de mortandade, com uma porção de ovos de galinha, por exemplo, que foram cozidos com os pintinhos dentro. 
Vegetarianos reduzem desmatamento? Será que os comedores de capim acham que milhões e milhões e mais milhões de hectares de milho, soja, trigo etc nasceram naturalmente ali? Que não houve erradicação da mata nativa e, consequentemente, de toda a vida animal e microscópica que a ela se associava? Aliás, há estimativas concretas e confiáveis de que não haveria terra cultivável o suficiente se toda a população humana se tornasse vegetariana.
Ainda assim, ainda acuado, o vegetariano não desiste e lança mais uma cartada : mas, pelo menos, o vegetal não sofre, não sente dor.
Aí, é que o safado do vegetariano consegue (conseguia) se safar de mim. Eu acredito - sempre acreditei - que a planta, sendo um ser vivo, tem, sim, uma consciência, que é senciente, que é capaz de perceber o meio em que está, de captar e de reagir aos estímulos do ambiente. O fato de não percebermos, por parte de uma árvore, por exemplo, qualquer sinal de desconforto, dor, ou sofrimento, ao ter um galho arrancado, ou ao ser derrubada por uma motossera, não significa que ela não o esteja sentindo. Não significa, inclusive, que ela não esteja manifestando essa dor, não significa que ela não seja capaz de expressá-la. 
Só significa o que eu disse : que nós, humanos, não percebemos, limitadíssimos que somos, não conseguimos captar na planta algum sinal de dor, não somos equipados para detectar e reconhecer tais manifestações. A limitação é nossa, não da planta.
Só que, até então, eu não usava esse argumento contra o vegetariano, simplesmente por ele não ser exatamente um argumento, algo investigado e confirmado pelo método científico, mas, sim, uma crença minha. E não sou incoerente a ponto de combater uma crença com outra.
Sempre imaginei que a planta pudesse emitir algum som que sinalizasse sua dor, um som de frequência inaudível por ouvidos e maquinários humanos; ou alguma bioluminescência de comprimento de onda também indetectável por vistas e traquitanas humanas; ou, o que sempre me pareceu mais provável, que lançasse ao ambiente alguma substância química com o objetivo de rechaçar o seu algoz.
E não deu outra! Trago-lhes más novas, comedores de alfafa. Vocês estão fudidos na minha mão. Mais uma vez, uma crença, uma percepção minha de mundo, se faz em Ciência.
Pesquisadores da Universidade do Missouri (EUA) concluíram que vegetais "sofrem" ao virar alimento. Elas conseguem ouvir ao serem comidos por lagartas e, mais que isso, reagem à ação predatória. Estudos anteriores já haviam provado que plantas reagem ao som, mas essa foi a primeira vez em que uma resposta a esse som foi detectada por pesquisadores. Os vegetais liberam substâncias químicas para afugentar os seus predadores. As substâncias químicas liberadas são o grito de dor deles, o choro, o ulo lancinante.
"Nosso trabalho é o primeiro exemplo de como os vegetais respondem a uma vibração ecologicamente relevante", disse Heidi Appel, integrante do estudo.
Vibração ecologicamente relevante? Muita viadagem pro meu gosto. Mas o que importa é que está provado que vegetais também sentem dor ao ser devorados e reagem a ela. Também gritam, berram e esperneiam, tentando se livrar do suplício.
E tudo isso provocado por uma simples lagarta. Imaginem, então, o quão seria terrível se pudéssemos ouvir o grito de milhares e milhares de pés de milho, soja, café, trigo etc ao perceberem as lâminas de uma colheitadeira a lhes ceifar a vida? Ao ser colhida, uma grande plantação nada mais é que um imenso matadouro silencioso de ovelhinhas, que são degoladas, desmembradas e esquartejadas sem emitir um único som.
Quem disse que as rosas não falam? Se você não as escuta, repito, é por limitação sua, não delas; ou, é porque elas não falam com VOCÊ, porque estão cagando e andando para as suas queixas de amor.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Mexeu Comigo, Mexeu Comigo, por Thais Godoy Azevedo

Isso é que é mulher! Feminina, inteligente e anti-feminista.



"Mexeu comigo, mexeu comigo. Eu não estava lá, não tenho como saber o que aconteceu"
"Eu acredito em duas coisas: primeiro, que não existe gente santa, nem homem, nem mulher. E homens e mulheres são capazes de prejudicar o outro, simplesmente porque nós temos isso dentro da gente. Agora, sobre as atrizes que estão vestindo a camiseta, elas não me representam como mulher. Mexeu comigo, mexeu comigo. Eu não estava lá, eu não tenho como saber o que aconteceu e se você fizer isso, você está colocando todos os homens como abusadores. E mais uma vez eu falo algo que digo direto sobre o feminismo: isso é você culpabilizar toda a sociedade por algo que fizeram com você. O que eu percebo é que essas atrizes colocam o homem como o abusador, sem que escutem a versão dele, sem que haja uma investigação do que aconteceu, a gente toma partido só por ser uma mulher do outro lado. Sendo que se a história fosse o contrário, seria diferente.
Eu não estou dizendo que o que ele fez foi certo ou errado, porque eu não estava lá. Mas o fato de as mulheres só defenderem mulheres, isso mostra que elas não olham os seres humanos como seres humanos, elas estão selecionando sua raiva. Então elas escolhem se mexeu com uma mulher, mexeu comigo. Mas e se uma mulher mexe com um homem?
Eu acredito que no dia a dia as mulheres normais não defendem as outras cegamente. Esse conceito de sororidade é algo das feministas. É um movimento de se ajudar que está muito mais na teoria do que na prática, as mulheres não estão dispostas à sororidade como elas gostariam que fosse. Estão muito mais cada uma na sua, cuida da sua vida, sabe? Eu acho que a mulher é muito mais fiel, vamos dizer assim à sua família, aos próximos, do que com seu gênero. Homens são mais leais nesse quesito, no meu ponto de vista.
Em um caso de assédio eu acho que é mais capaz de um homem me defender, do que uma mulher. Eu estou pensando em cenários que já presenciei várias vezes, de situação de abuso, em que homens foram defender, mas as mulheres não".

Thais Godoy Azevedo, 33 anos, professora e ativista anti-feminista

sábado, 8 de abril de 2017

Frateroridade a Zé Mayer

As recentes investidas sexuais de Zé Mayer contra (ou a favor, depende do ponto de vista) uma figurinista da rede Globo insuflaram a ira das feministas desse nosso Brasil dantes mais varonil. Provocaram uma rebelião, um levante útero-vulvo-clitoriano das empoderadas de plantão. Detonaram mais um movimento de sororidade nas redes sociais : o #mexeu com uma, mexeu com todas.
Sim, caro e macho leitor do Marreta, você, embora provavelmente não saiba o significado, como eu também não sabia, leu certo : é sororidade, mesmo, e não solidariedade. E que porra é essa de sororidade? Pesquisei : "Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum; é o pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo".
Ou seja, é a mesma coisa que solidariedade, porém, praticada, exercida e reconhecida apenas entre mulheres, entre as detentoras da famosa boceta de Pandora. As feministas não sentem empatia pelo gênero humano, apenas pelas mulheres, daí a "necessidade" de um tipo de solidariedade exclusiva para elas.
É que depois que Dilma Rousseff, em seu célebre e antológico discurso de exaltação à mandioca, dividiu a humanidade em Homo Sapiens e Mulheres Sapiens, todo e qualquer termo que se refira genericamente ao gênero humano, o Homo, passou a ser considerado politicamente incorreto, ofensivo e discriminatório, um instrumento verbal de dominação e de repressão porco chauvinista. Aliás, para o canalha e sempre mal-intencionado do politicamente, a ciência é incorreta e preconceituosa; o politicamente correto só aceita o senso comum.
Sororidade é derivada de sóror, feminino de frei, de frade - e sei que, aqui, já vai ter feminista ovulando de raiva, dizendo que frade é que é o masculino de sóror -, faz referência, portanto, à vida em comunidade exclusivamente feminina, à sensação de cumplicidade entre irmãs, ao irmanamento, à congregração e ao congraçamento em Cristo. Em suma : aquele lesbianismo abençoado por Deus e bonito por natureza.
Zé Mayer pisou na bola, é fato inconteste. Exagerou claramente na dose.
É que Zé Mayer é macho das antigas, e, como tal, possui dois centros de raciocínio, dois núcleos de pensamento : a massa fálica e a massa encefálica. Tendo predominado, nesse caso, a primeira.
Zé Mayer pisou no tomate, é fato. Cagou na retranca. Ele próprio já o admitiu e se desculpou em carta à imprensa. Errar é humano e perdoar é divino, dizem por aí; perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, diz o Pai Nosso. Cadê o amor, a compreensão e a caridade cristãos dessa mulherada do grelo duro, que, por muito tempo ainda, insistirão em crucificar Zé Mayer? Pelo pinto, de preferência.
Zé Mayer errou na medida, é fato. Mas acredito que também não seja para tanto, que não justifique esse cavalo de batalha, esse dilúvio em um copo d'água. Até onde eu sei, ele não tentou agarrar ninguém à força, não fez chantagem, não ameaçou usar de seu prestígio e poder junto à emissora para prejudicar profissionalmente a moça etc.
E quem há de me provar que a moça não deu certas confianças, espaços e liberdades às investidas de Zé Mayer, que não deu certas trelas - ainda que não pretendesse chegar às vias de fato - por, simplesmente, se sentir desejada e com o ego massageado pelas cantadas? E que se arrependeu quando as coisas saíram do controle, do seu controle? Eu não estava lá pra ver. Eu mesmo já fiz isso no passado. Já dei trela a uma tal, que queria porque queria dar pra mim, só porque gostava das cantadas dela - me sentia valorizado -, embora nunca tenha considerado realmente em ir pra cama com ela, uma vez que, fisicamente, ela nunca me atraíra. E também me arrependo até hoje.
Quem avaliza e põe a mão no fogo pela índole e pelo caráter da moça, por suas lisura, isenção e idoneidade? Em que se baseiam a total credibilidade a ela e o absoluto descrédito ao galã? Em estereótipos, certamente. No estereótipo da mocinha ingênua e indefesa, sempre e somente paciente da oração, e nunca agente nem, ao menos, co-agente (a Chapeuzinho Vermelho), e no estereótipo dos personagens - dos personagens - encarnados por Zé Mayer ao longo de sua carreira (o Lobo Mau). Chapeuzinho Vermelho e Lobo Mau? Querem estereótipos mais machistas? Que vergonha, meninas dos sovacos cabeludos.
Uma das frentes de combate do feminismo e de outros "movimentos sociais" não é justamente essa, a desconstrução e a erradicação dos estereótipos? Porra nenhuma. A luta das tais "minorias" é justamente o oposto. É a consolidação e a oficialização de estereótipos, os que são a elas convenientes, os de eternas vítimas, os que lhes concedem as credencias de credores sociais.
Para piorar ainda mais a sinuca de bico em que se meteu o veterano passador de rodo, Zé Mayer foi cantar logo quem? Uma mulher! Aí foi que a casa caiu de vez pro lado do galã. Aí foi que seu delito se transformou em crime hediondo. Se ele tivesse assediado um figurinista (ou figurinisto, se assim preferirem as feministas), ou um maquiador bichinha, a mesma imprensa que está a linchá-lo, estaria a entoar cânticos, hinos e loas a ele, estaria a exaltar e a louvar a coragem do ator em assumir sua sexualidade, ele viraria um ícone do politicamente correto.
Se sororidade é uma espécie de solidariedade restrita ao mulherio, como se chamaria uma que fosse estrita ao macharal? Bom, se sóror originou sororidade e é o feminino de frade(será que alguma suvacada vai reclamar de eu estar escrevendo feminino assim, no masculino, com "o" no final?), a aliança e o sentimento de empatia entre machos deve ser frateroridade, do latim frater - irmão pelo sangue ou por aliança, membro de uma confraria. Nem sei se esse termo existe. Se não, declaro-o, desde agora, nascido e batizado.
Assim posto, lanço agora um Movimento de Frateroridade a Zé Mayer. Deixo claro que não é, em hipótese alguma, um movimento de defesa à grande mancada do garanhão. Nada disso. É tão-somente  um movimento do tipo "ombro amigo", o ouvido que damos para um amigo chorar de arrependimento pela cagada que cometeu, o apoio moral que damos a um amigo que cometeu algo imoral e viu a merda que fez, que teve, digamos assim, o seu dia de fúria. É o imparcial e camarada benefício da dúvida.
E o lema do Movimento de Frateroridade a Zé Mayer já está pronto, com hashtag e tudo :
Pãããããããta que o pariu!!!!
Vida longa a Zé Mayer!!! Um dos últimos - e necessários - representantes do macho das antigas. Um dos últimos depositários, um dos últimos guardiões, uma das últimas cidadelas fortificadas do cromossomo Y.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Apenas Pra Te Sufocar

Por que choras ? 
Sim. Quem querias que ficasse foi embora. 
Deves então te pôr a rir 
Quem te deixou 
Deixou-te livre para todos que hão de vir.

Por que trazes a face tão molhada ? 
Sim. De quem só querias o dia 
Sumiu-se na madrugada. 
Deves então te pôr a festejar. 
Quem te derrubou 
Mostrou-te o quão mais alto podes voar.

Por que ostentas feito rubis esses olhos tão vermelhos? 
Sim. De quem querias o ardor 
Te colocou no mais cruel dos gelos. 
Deves então te pôr a florescer. 
Quem te matou 
Deu-te a chance de melhor renascer.

Por que ris agora esse riso tão vasto ? 
Ah, sim. Quem se foi arrependeu-se 
Deves então te pôr novamente a chorar. 
E voltou para teus braços. 
Quem voltou pra te dar conforto 
Conforta-te apenas pra te sufocar.