sábado, 31 de agosto de 2019

Brightburn, o Filho Bastardo de Krypton. Ou Será o Mais Legítimo?

Não digo que tenha sido sempre, mas já há muito e muito tempo que tenho dificuldades de acreditar, de "engolir" a mitologia do Super-Homem e do seu cosplay de humano, Clark Kent.
Ora, porra, Azarão - dirão os maledicentes sempre de plantão, os bocas-de-porco -, mas é lógico, né? Acreditar num cara que voa à velocidade da luz? Que tem força pra rachar um planeta ao meio, que tem um pequeno sol em cada um dos olhos, um sopro que pode decretar, a qualquer momento, uma nova Era do Gelo e que, ainda de quebra, pode se divertir desnudando gostosas com seu olhar de raios-X? Claro que é difícil de acreditar, né, Azarão?
No que eu, fazendo jus aos meus modos de fidalgo, de lorde, lhes responderei : ora, vão todos à merda, seus porras! Por acaso, vocês não acreditam num sujeito muito mais poderoso que o Super-Homem? Um cara que é imortal e que, ao mesmo tempo, nunca nasceu nem foi criado, que sempre houve? Que é três e um ao mesmo tempo? Que é filho e pai de si próprio? Que tudo pode, sabe e presencia e que teria parido todo o Universo? Não acreditam, seus porras? Pois vão lá pastar com seus respectivos rebanhos e não me encham o velho e enrugado saco.
Mas a questão não é essa. Minha dificuldade não é acreditar em um alienígena - um kryptoniano - com atributos físicos que não apenas extrapolam todos os limites e potencialidades humanos como também subverte e debocha de todas as Leis da Física, de todos os paradigmas de funcionamento das força universais. Que tomar como comum e trivial, como corriqueira e cotidiana, a existência de seres com poderes olimpianos é condição sine qua non para ser um leitor de quadrinhos. Tomamos isso como ponto pacífico. Um dogma nosso.
A minha dificuldade não é crer nos poderes do Super-Homem. Aceito-os sem problemas como premissa de suas histórias. Minha dificuldade é crer que um um sujeito desse, uma vez dotado de tais capacidades, se tornasse no Super-Homem, no bom moço Clark Kent, no genro que toda sogra sonha em ter. Que o afortunado detentor de tais poderes se submetesse, se convertesse e prestasse obediência aos valores morais e religiosos hipócritas de uma sociedade feito a norte-americana, ou feito a nossa, ou feito a qualquer outra sociedade humana. Que não tivesse desejos e ganas de reinar sobre as formigas do formigueiro no qual sua nave-berço o jogou, ou que refreasse esse desejo em nome dos dez mandamentos e do bem comum. Que se curvasse a governos e a líderes políticos de sua nação adotiva, obedecendo às suas ordens feito um soldado raso. Que um cara com poderes capazes de mudar o mundo, de moldar o mundo à sua imagem e semelhança, não fosse, no mínimo, querer mudar o mundo, moldá-lo a si, nem que para isso, ao longo do processo, tivesse antes que destrui-lo. Deuses não são misericordiosos.
O difícil para mim não é acreditar nos poderes do Super-Homem; o impossível é acreditar na "bondade" com a qual ele os usa, os limita, os contêm. É como o cara ter a rola do Kid Bengala e não sair a exibi-la por aí, em praias de nudismo, nos vestiários dos clubes, em gincanas escolares, em quermesses de igreja, em bienais de arte contemporânea, ao médico urologista etc. Ter uma rola daquela para quê, então?
Pois alguém não só teve a mesma ideia e a mesma descrença que eu a respeito do Super-Homem como também as transformou em um filme : Brightburn.
O casal Bryer, infértil, há anos tentando conceber um herdeiro, numa bela noite, da varanda de sua fazenda no Texas, vê um meteoro cair nas proximidades. Não era um meteoro. Sim um artefato espacial. Uma incubadora galáctica com um menino dentro. Uma cegonha interestelar a realizar o desejo do estéril casal.
Adotado pelo casal de fazendeiros, o filho rejeitado pelas estrelas cresce bem cuidado e bem assistido em pacato e adequado lar. É educado dentro dos bons costumes e da moral cristã. Cresce meio esquisitão e desajustado, com certa dificuldade (ou falta de vontade, mesmo) de fazer amigos na escola e pequenos e pontuais episódios de bullyng. Ou seja, a vida normal de uma criança.
Aos 12 anos, porém, junto com o advento dos pelos no saco e no sovaco, ele descobre que é invulnerável (exceção feita quando ferido pelo metal da fuselagem da nave que o trouxe para a Terra), capaz de voar, que é forte e rápido pra caralho e que pode lançar potentes rajadas térmicas pelos olhos.
Então, vocês me interromperão e dirão : já sabemos, Azarão, aí ele cresce ajudando os pais na fazenda, se forma e vai trabalhar como repórter na cidade grande, onde passa a envergar o "S" no peito e a capa às costas e se torna no guardião e protetor do planeta, e da Lois Lane.
No que lhes responderei : os seus cus!
Atendendo ao chamado telepático de sua nave, que fora escondida no alçapão de um celeiro abandonado por seus pais adotivos, ele descobre a sua origem e tem o seu propósito aqui na Terra revelado pelo misterioso veículo : dominar a humanidade, e dizimar os que se opuserem ao seu domínio.
Super-Homem é o caralho! O menino Brian Bryer nada tem de bonzinho, de escoteiro, de missionário mórmon. O menino é o capeta em forma de guri. Daí em diante, ele passa a barbarizar, a, literalmente, tocar o terror na cidadezinha de Brightburn. Ele assombra, persegue, assassina, destrói, incendeia, derruba aviões e o escambau. 
O filme é bom? Não. É bem ruinzinho. Sofrível, até. A ideia é muito boa; sua concretização, não. O filme ficou parecendo aquelas propriedades que valem mais pelo terreno do que pelas construções e edificações erigidas sobre ele.
O filme só não dá perda total porque, em primeiro, como eu disse, a ideia é muito boa, e porque, em segundo, tem efeitos especiais horríveis, pra lá de toscos, de fazer corar de inveja a Roger Corman, o Papa dos filmes B. O que acaba por evocar, não sei se por acaso ou feito a propósito pelo diretor, o clima dos velhos e nostálgicos filmes de terror das décadas de 1980 e 1990 : Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Halloween, Pânico (com a delicinha Neve Campbell), Lost Boys etc.
A ideia e o apelo à nostalgia dos cinquentões são as únicas coisas que, um pouco, redimem o filme.
Se eu o recomendo? Depende. Se você não tiver nada, absolutamente nada pra fazer, e ainda estiver com seu braço direito quebrado e engessado, sim, assista a Brightburn. Senão, vá tocar uma punheta, que você ganhará muito mais.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Filho de Ateu, Peixinho É

Na volta do trabalho para casa, a pé, já e sempre em companhia do meu filho de 9 anos, passamos pelo grande muro lateral do que foi, em áureas outroras, uma tradicional indústria cervejeira, a Companhia Cervejaria Paulista, cujas instalações servem hoje de um centro cultural, o Espaço Cultural Kaiser.
Em certo ponto do extenso muro, há uma reentrância, um nicho quadrado, que se estende do rés da calçada a um metro, um metro e meio de altura, por mesmas medidas aproximadas de largura e profundidade; um buraco quadrado, enfim.
Desde os meus tempos de menino - talvez ele tenha mesmo sido feito com esse propósito -, esse nicho faz a função de uma pequena capela, um oratório. Ali, transeuntes anônimos depositam imagens religiosas, oferendas e acendem velas.
O cenário da pequena orada muda a cada dia. Ora velas brancas, ora vermelhas, ora pretas. Igualmente, se alternam e se revezam, e muitas vezes convivem, imagens de diferentes designações religiosas. 
Dentre os santos católicos, os mais recorrentes são Nossa Senhora Aparecida e São Jorge (que, na umbanda, é Ogum) - talvez corintianos pedindo pela vitória do Timão. 
Dentre os da umbanda, os campeões de audiência são Iemanjá e uma figurinha que tive que pesquisar para saber quem era, um homenzinho de pele negra e vestido como os antigos malandros cariocas - calças, terno e chapéu brancos, camisa vermelha, sapato bicolor. Descobri que é o Zé Pilintra, um espírito de luz da umbanda, do bem, um espírito humilde, patrono dos bares, rei da vida noturna, boêmio e apaixonado por jogos, disputas e putas.
Outra imagem, menos recorrente, mas que volta e meia aparece por lá, é a de uma mulher-demônio, vestida apenas com minúscula tanga, corpão acinturado, apetitoso, tipo violão, uns belos duns peitões, chifrinhos na testa e rabo pontudo. Não consegui descobrir com exatidão a sua identidade. Talvez uma exu-mulher; mas, mais certamente, trata-se de uma entidade ligada não à umbanda, sim ao satanismo, ou à magia negra. Gostosa, a capetinha. Se não fosse pelo provável cheiro de enxofre, eu botava uma camisinha de amianto no pau, levantava-lhe o rabo e passava-lhe a vara! Fácil, fácil.
De onde se infere que tal nicho é espaço dos mais ecumênicos e democráticos. Nele se acendem, literalmente, uma vela para deus e outra para o diabo.
Hoje, ao por lá passarmos, a profusão além do normal de velas acesas e de fumaça chamou a atenção do meu filho. Havia até dois maços inteiros de cigarro queimando em oferta a alguma entidade.
Meu filho comentou : "ah, pai, essas igrejas ficam queimando esse monte de velas e só vai piorando o efeito estufa."
Pãããããããta que o pariu!!!! Genial, meu filho - eu disse -, genial!!!
Nem mesmo eu jamais pensara nisso. 
Muito se fala - e com razão - das emissões dos veículos automotivos movidos a derivados de petróleo, das indústrias, das queimadas e mesmo dos grande rebanhos bovinos cuja flatulência joga toneladas e mais toneladas do gás metano para a atmosfera. Mas, da atividade religiosa como fonte emissora de gás carbônico, nunca ninguém falou.
Só meu filho! Genial, meu filho, genial! - repeti a ele.
Imaginem santuários católicos como os de Aparecida do Norte, de Fátima, ou de Lourdes : são verdadeiras chaminés de devoção. De fazer inveja a qualquer indústria carvoeira da China. Imaginem uma cidade sincrética como Salvador, por exemplo, com suas centenas (talvez até chegando à casa do milhar) de igrejas católicas e terreiros de umbanda e candomblé em plena atividade. De fazer inveja a uma rave de fãs do Bob Marley. Imaginem todos os templos indianos, budistas e outros que tais espalhados por todo o planeta, queimando incenso dia e noite. De dar inveja às "queimadas do Bolsonaro".
Genial, meu filho, genial! Fiquei tão alegre com a astúcia e, sobretudo, com este indício, ainda que leve, com este broto, ainda que incipiente, de um futuro ateísmo de meu rebento, ou, ao menos, de uma visão dele nada mágica e santificada das igrejas, que entramos numa sorveteria e comprei-lhe um belo dum sorvetão, uma vaca preta.
Acontece que meus raros momentos de alegria e deleite duram pouco. Facilmente se deixam toldar. E a culpa é mesmo minha. Não nasci com uma pulga atrás da orelha : nasci com uma pulga no meu DNA. Vivo sabotando a mim mesmo com dúvidas, dilemas, questionamentos e outros entretantos.
Mal a euforia deflagrada pela marretada do meu filho na igreja tinha atingido seu pico, ocorreu-me : mas que história é essa de preocupação com o efeito estufa e outras questões ambientais?
Se, por um lado, ao que tudo indica, meu filho não irá se tornar em mais uma ovelhinha de Deus, será que, por outro, se tornará em um desses ecochatos?
Será que terei o prazer e a realização de não vê-lo um carola, um comedor de hóstia, um pagador de dízimo, só para ter o desgosto de vê-lo um afiliado do Greenpeace? De vê-lo um militante com a fé cega de que salvará o planeta vendendo camisetas, bonés e broches estampados com pandas e micos-leões-dourados?
Espanei a pulga da dúvida para longe. Deixei-a lá, incubada, feito vírus da  herpes. Concentrei-me apenas na alegria do meu filho a tomar o sorvete e a tagarelar sobre o efeito estufa, sobre os ursos polares e as foquinhas que estão morrendo de calor, e disse para mim mesmo : um problema de cada vez, meu velho, um problema de cada vez.

domingo, 25 de agosto de 2019

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser no Coração, Eu Só Quero Ter Você Por Perto

Lua, My Love
(Eduardo Dusek)
Eu sei onde nasce a lua
Eu sei onde ela repousa
Só eu sei como agitá-la
Só eu ouço: meu bem, não ousa

Ela se apronta pra mim
No espelho me pisca o olho
Passando aquele batom
Eu digo às nuvens: deixa que eu escolho

Se olha e me diz: sou cheia
Preciso minguar um pouco
Lhe digo: pra mim tás nova
Se cresces então ficou louco

Ela me entende e se molha
Me orvalha o corpo e a alma
Me olha e sente o meu fogo
Sussurra: meu bem, vá com mais calma...
Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu minguante MARRETÃO.

Padre Desviava Fundos da Igreja Para Dar os Seus Fundos

O recursos arrecadados pelas igrejas através de donativos, de celebrações de casamentos, batizados, missas de sétimo dia, quermesses, bingos, rifas etc são empregados em obras de caridade, sociais e assistenciais, são destinados a amparar e trazer conforto aos necessitados e aos aflitos, reservados para acolher a horda de pobres e desvalidos que o bom Deus permite que exista, certo?
Mais ou menos. Nem sempre. Pelo menos, não na paróquia do padre católico Joseph McLoone, 56 anos, Downingtown (Pensilvânia, EUA).
Campanha do agasalho é o cacete! Sopinha para os pobres é o caralho! Abrigos e cobertores para os moradores de rua é a puta que o pariu!
O padre McLoone desviava os fundos da igreja para dar os seus fundos, para queimar a rosca. Ou será a hóstia? É o padre queima-hóstia! 
Foi o maior escândalo da paróquia!!!
No comando da paróquia de Downingtown desde o ano do Senhor de 2010, o padre McLoone teve suspeitas de desvios levantadas contra a sua santa pessoa no ano passado. Investigações mostraram que o padre tinha uma conta secreta para a qual desviava o dinheiro de doações para a igreja, que era usado para pagar que machos bem lhe enrabassem.
O padre desviou, em dólares, o equivalente a 400 mil reais para gastar com homens que conhecera no aplicativo de paquera gay Grindr, uma espécie de Tinder boiola, um GPS de rola. Com o dinheiro, o padre pagou jantares caros, viagens e até o aluguel de uma casa de veraneio em Ocean City (Nova Jersey, EUA). Sem contar, é claro, que gastou os tubos com tubos e mais tubos de KY para ungir as suas santas pregas, que não há filho de Deus que aguente tanta rola sem um "facilitador".
O padre McLoone, literalmente, enfiou o dinheiro das doações dos seu fiéis no cu! É o dom da transubstanciação! O padre transformou 400 mil reais em rola. É o milagre da multiplicação das pirocas!
Em sua defesa, o padre teria recorrido a um trecho da Oração de São Francisco :  pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado...
Pããããããããta que o pariu!!!
Padre Joseph McLoone, o padre queima-hóstia, a empunhar um vibrador de 20 cm de comprimento disfarçado de aspersório, também comprado com os fundos de doações da igreja.

sábado, 24 de agosto de 2019

É Uma Cinza, Mora? (Ou, o Jotabê Também Já Foi Uma Brasa)

Este é um blog defunto.
Logo, não vi nenhum problema, inconveniente, ou contradição, em dar uma escapadinha do Inferno, valendo-me de uma raríssima cochilada simultânea das três cabeças do Cérbero, para vir aqui dizer de outro defunto.
Do Raul, de  novo? Reclamariam alguns leitores. Não. E ainda que fosse, seria um problema meu. Vocês que se fodam. Mas não. Não do Raul, desta vez. Do Blogson. Do Blogson Crusoe.
Ele voltou! Quem, o boêmio? Não. O Blogson Crusoe!
Ele voltou, o Blogson voltou novamente. Saiu daqui tão contente, por que razão quer voltar?
Não quero nem saber. Importa é que ele voltou.
Voltou e nos garante que ainda tem muita lenha pra queimar. Do alto de seus pornoeróticos 69 anos, diz que ainda há muita brasa sobre a triste cinza fria.
E que melhor forma de celebrar que tomar umas e ouvir uns musicões antigos?
O Blogson, porém, é alcoolfóbico; restando-me apenas, desta forma, recorrer e tentar me embriagar apenas e tão-somente de nosso cancioneiro popular.
Se existe outra, desconheço, mas, para mim, a melhor música de fundo para a volta do Blogson é a "Já Fui Uma Brasa", do macho das antigas Adoniran Barbosa. Na letra da canção, Adoniran, feito Jotabê, nos assegura e se autoavaliza : "E eu que já fui uma brasa/Se assoprarem posso acender de novo". Mas, ao fim da canção, numa mostra da mais pura autoironia, que para mim é a forma mais refinada de inteligência que pode existir, Adoniran confidencia a um interlocutor imaginário, ou, ao menos, indefinido : "É negrão... eu ia passando, o broto olhou pra mim e disse: é uma cinza, mora? Rá, rá, rá. É uma cinza...".
Desse jeito, daqui a pouco, eu volto também. Pãããããta que o pariu!!!
Já Fui Uma Brasa
(Adoniran Barbosa)
Eu também um dia fui uma brasa
E acendi muita lenha no fogão
E hoje o que é que eu sou?
Quem sabe de mim é meu violão
Mas lembro que o rádio que hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro,
Tocava saudosa maloca

Eu gosto dos meninos destes tal de iê-iê-iê, porque com eles,
Canta a voz do povo
E eu que já fui uma brasa,
Se assoprarem posso acender de novo

(declamado):
É negrão... eu ia passando, o broto olhou pra mim e disse: é uma cinza, mora?
Sim, mas se assoprarem debaixo desta cinza tem muita lenha pra queimar...

Para ouvir a música, é só dar uma assopradinha aqui, no meu ainda incandescente e embraseado MARRETÃO.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Trinta Anos de uma Insuportável Lucidez

Este é um blog defunto.
Logo, não vi nenhum problema, inconveniente, ou contradição, em dar uma escapadinha do Inferno, valendo-me de uma raríssima cochilada simultânea das três cabeças do Cérbero, para vir aqui dizer de outro defunto.
Não um defunto qualquer. Não de um saco de ração para vermes vulgar. Sim de um que vale o risco de levar uma mordida de lava e enxofre do cão dos tártaros e também o de ser punido pelo capeta com o castigo máximo que ele pode a mim destinar, fazer com que eu seja obrigado a pegar jornada letiva integral na escola pública do Inferno.
Do Raul! Do grande Raul Seixas! O Maluco Beleza. A Mosca na Sopa. O Cowboy Fora-da-Lei. O Carpinteiro do Universo.
Ouvi hoje pela manhã na rádio CBN e não pude resistir. Hoje, 21 de agosto de 2019, a morte de Raul Seixas completa 30 anos. Pancreatite aguda.
Em 1989, ano de sua morte, eu contava com meus tenros e viçosos vinte e dois aninhos, inocente, puro e besta. À época, eu começava a me arriscar em meus primeiros poemas, poesias e textos. Mantinha um diário em cujas páginas eu derramava minhas lamúrias, diariamente. Diário de verdade, nada de virtual, de papel mesmo, um caderninho. Coisa de viado.
Neste diário, em 21 de agosto de 1989, há exatos 30 anos, diretamente do túnel do tempo, eu (o eu que eu era, o eu que eu fui), num estilo que refletia minha total inexperiência com as palavras, num estilo toscamente pueril, sobre a morte do rei do rock brasileiro, escrevi :

"Ele nasceu há 10 mil anos atrás, ouviu o sinal das trombetas dos anjos e dos guardiões. Foi a mosca na sopa de muita gente, aprendeu o segredo da vida vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar. Ele foi o filho que ainda não veio. O começo, o fim, o meio.
Controlando a sua maluquez tornou-se em uma genuína metamorfose ambulante. Nunca se sentou no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Nunca foi besta pra tirar onda de herói. Disse estar calejado e que se cansou de andar na contramão. Agradou a Deus fazendo o que o Diabo gosta. Manteve em segredo, mas manteve viva a sua paranoia. Coroou-se Carpinteiro do Universo. Morreu, e nem sabe mesmo qual foi aquele mês. E que, enfim, um de seus mais dolentes desejos - ele, que sabia que tem tanta estrela por aí - se realize, que o moço do disco-voador o venha levar desta para uma melhor."

Para encerrar e voltar à minha tumba, deixo uma das canções de Raul Seixas de que mais gosto, S.O.S
S.O.S
(Raul Seixas)
Hoje é domingo
Missa e praia
Céu de anil
Tem sangue no jornal
Bandeiras na Avenida Zil

Lá por detrás da triste
Linda zona sul
Vai tudo muito bem
Formigas que trafegam
Sem porque

E da janela
Desses quartos de pensão
Eu como vetor
Tranquilo eu tento
Uma transmutação

Oh! Oh! Seu moço!
Do Disco Voador
Me leve com você
Pra onde você for
Oh! Oh! Seu moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí

Andei rezando para
Totens e Jesus
Jamais olhei pro céu
Meu Disco Voador além

Já fui macaco
Em domingos glaciais
Atlantas colossais
Que eu não soube
Como utilizar

E nas mensagens
Que nos chegam sem parar
Ninguém, ninguém pode notar
Estão muito ocupados
Pra pensar

Oh! Oh! Seu Moço!
Do Disco Voador
Me leve com você
Pra onde você for
Oh! Oh! Seu moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí

Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí!
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí!

Para ouvir a canção, é só dar uma carpidinha aqui, no meu falecido e já semidecomposto MARRETÃO.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O Último Vaga-Lume

Em 2009, há exatos 10 anos, lá no início do Marreta do Azarão, eu escrevi um texto no qual me comparava a uma estrela morta, extinta, Eu Fui a Luz das Estrelas.
Escrevi que a imagem que as pessoas viam ou faziam de mim era tão-somente - já àquela época - minha luz residual, luz órfã e desmamada do ventre que a gerou. Que meu coração de plasma de hidrogênio há muito se  vertera em dura pedra; que meu reator atômico há muito se esfriara, gastara todas as suas sete meia-vidas.
No espaço, as distâncias são, literalmente, astronômicas, de fazer suar e botar língua fora até mesmo a Luz, o Ligeirinho do Universo. A exemplo, se a estrela Alfa de Centauro, a mais próxima de nós depois do Sol, a milimétricos quatro anos-luz da Terra, explodisse hoje, morresse nesse exato momento, ainda a veríamos, a velaríamos, no céu noturno por ainda quatro anos. Até que o último fóton de seu último suspiro chegasse até nós. Só depois de quatro anos veríamos sua explosão e seu desaparecimento do firmamento.
Há dez anos, na época da criação do blog, eu já era - cada postagem ao longo desta década foi - a luz de um finado Sol, um fogo-fátuo que se desprende de um cádaver e lhe imita a forma de quando vivo.
No fim da postagem de 2009, deixei, provavelmente para mim mesmo, duas perguntas : Por quantos anos ainda refletirei essa imagem? Quanto ainda tenho de luz residual?
A resposta demorou ainda dez anos para me atingir. E ela é : agora! Não há mais o que ser visto de mim.
Esta postagem é o último lúmen peregrino solitário que sobrou de meu colapso, o último relampejar de meu último vaga-lume mantido em coma induzido.
 "Não existe um último suspiro digno. Da mesma forma, não há um último texto digno e inspirado; se ele o fosse, não haveria o porquê nem a urgente necessidade dele ser o último."

Bukowski, a Saideira

Como ser um grande escritor
você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados;

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil -
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma derrota total
mesmo que a razão para esta derrota
pareça certa ou errada

um gosto precoce da morte não é necessariamente uma cosa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente
o tempo é a cruz de todos
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela

bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque

e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem?
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo
também.

Então, você quer ser um grande escritor
se não irrompe de dentro de você
apesar de tudo,
não faça.
a menos que venha sem pedir do seu
coração e da sua mente e da sua boca
e das suas entranhas,
não faça.
se você tem que se sentar por horas
encarando a tela do computador
ou debruçado em sua máquina de escrever
procurando palavras,
não faça.
se você estiver fazendo isso por dinheiro ou
fama,
não faça.
se estiver fazendo isso porque quer
mulheres em sua cama,
não faça.
se você tem que sentar lá e
reescrever de novo e de novo,
não faça.
se é cansativo apenas pensar em fazer isso,
não faça.
se estiver tentando escrever como outra
pessoa,
esqueça.
se você tem que esperar isso rugir de dentro de
você,
então espere pacientemente.
se isso nunca rugir de dentro de você,
faça alguma outra coisa.
se você primeiro tem que lê-lo para sua esposa
ou sua namorada ou seu namorado
ou seus pais ou para ninguém,
você não está preparado.
não seja como tantos escritores,
não seja como tantos milhares de
pessoas que se consideram escritoras,
não seja lento e entediante e
pretencioso, não se consuma com amor-
-próprio.
as livrarias do mundo têm
bocejado até dormir
sobre seu tipo.
não faça parte disso.
não faça.
a menos que isso venha de dentro
da sua alma como um foguete
a menos que manter isso
te leve a loucura ou
suicídio ou assassinato,
não faça.
a menos que o sol dentro de você esteja
queimando suas entranhas,
não faça.
quando for a hora,
e se você tiver sido escolhido,
isso será feito
sozinho e isso continuará se fazendo
a menos que você morra ou isso morra em você.
não há outra maneira.
nem nunca houve.  

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Em Terra de Tiririca, de Lula e de Dilma Quem Tem um Frota é Rei

Taí uma coisa que eu, do alto do meu suposto cinismo, do meu olhar de gato para o mundo, de quem acha que de tudo já viu e a quem nada mais surpreende, choca ou impressiona, jamais imaginei, um dia, presenciar tal acontecimento.
O grande, o enorme, o imenso Alexandre Frota sendo disputado por seus dotes - vejam só vocês - políticos, de articulador parlamentar. Em vias de romper com o PSL, Frota já foi assediado por outros sete partidos políticos, todos ávidos para introduzir a pujança de Frota em suas hostes. Entre eles, o PP, o Podemos, o PSDB e o DEM, do qual Frota recebeu convite pessoal de ninguém mais ninguém menos que Rodrigo Maia, o presidente da Câmara dos Deputados, e de ACM Neto, presidente nacional do partido.
Na minha santa ingenuidade política, o que me pareceria mais lógico é que um político do "naipe" de Frota, uma vez sem partido, é que tivesse que bater de porta em porta implorando por uma nova legenda. Mas não.
Alexandre Frota, o sir Lawerence Olivier do cinema pornô brazuca, um insaciável sem cura, elegeu-se deputado federal pelo PSL, partido do intrépido Jair Bolsonaro, com a intenção, creio eu, de conseguir colocar no rabo de uma nação inteira de uma só vez, ao mesmo tempo, duzentos milhões de cus à sua disposição.
Porém, a lua-de-mel de Frota com o PSL durou pouco. Não é de hoje que Frota declarou guerra ao próprio partido, principalmente ao Major Olímpio, líder do PSL no Senado. A gota d´água para o divórcio que se avizinha foi a oposição declarada de Frota à indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixador do Brasil em terras do Tio Sam. "Nepotismo é o cacete!", teria dito Jair Bolsonaro. "Nepote é sobrinho, porra! Eu tô nomeando meu filho!"
A crítica de Frota não passou despercebida e nem foi bem aceita pelo pai do Eduardinho; tampouco ficou sem resposta, sem retaliação. Questão de desobediência à hierarquia, Alexandre Frota foi destituído pelo PSL de seu cargo de vice-líder do partido e perdeu a liderança de seus três diretórios.
O alarme da iminente "solteirice partidária" de Frota soou no Planalto Central. Frota passou a ser o solteiro da vez, um bom partido sem partido. A chance de trazer um estadista e um político do porte de Frota para as suas fileiras e para a sua bancada é oportunidade rara, daquelas que só aparecem uma vez na vida. Rodrigo Maia e ACM Neto não marcaram touca, convidaram Frota para o DEM.
Frota, feito noiva com vários pretendentes, desconversa, faz cu doce, diz que pretende ficar no PSL, diz que só sai se for expulso, mas, provavelmente, está a analisar os dotes oferecidos por cada um dos partidos. Quem dará o maior dote pelo dote de Frota?
Sobre o convite do DEM, Frota declarou : "Fiquei muito feliz e honrado com o convite. ACM disse que tem acompanhado atentamente o meu trabalho na coordenação da Previdência e gostou. E que está me esperando de portas abertas e com tapete vermelho”.
Alexandre Frota incensado e disputado a tapa por sete partidos políticos desse nosso Brasil dantes mais varonil? E ainda a se fazer de difícil? Pãããããããta que o pariu!!!! Pudera. Em terra de Tiririca, de Lula e de Dilma quem tem um Frota é rei!!! 
Em off, lideranças do DEM teriam dito a um repórter que Frota será um grande ganho para o partido, haja vista a sua grande penetração nas gerações mais novas de eleitores.
Na minha urna, violão!!!!
Alexandre Frota fazendo uma coalizão com a traveco Bianca Soares.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Colírio de Urtiga

Foi ela,
A rede de segurança que me seduziu ao salto
E minha queda não amorteceu;
Foi ela,
O deus que me fez virar ateu.

Foi ela,
A fogueira que me fez jogar fora meus agasalhos,
Demolir meu chalé
E me abandonou em hipotermia;
Foi ela,
Que me comissionou e me acomodou em sinecura de escravidão vitalícia
E, depois, me exonerou com a alforria.

Foi ela,
O assoalho que ruiu e se riu sob os meus pés,
Carcomido pelas formigas;
Foi ela,
Que pingou em meus olhos,
Quando estes lhe estenderam as mãos,
Duas gotas em cada um
De um colírio de urtiga.

Bispo Morphou Neophytos Não Dá Pra Trás em Suas Declarações

Mesmo acossado pela plebe iracunda, ignara, analfabeta e esquerdista que caga pela boca, majoritária habitante das redes sociais, o bispo ortodoxo Morphou Neophytos, que há alguns dias elucidou a causa da SIVA, a Síndrome Intrauterina da Viadagem Adquirida, afirmando que a mulher que liberar o cu durante o período gestacional dará à luz, indubitavelmente, a um filho gay, não deu pra trás em seu polêmico pronunciamento.
Nem tentou amenizá-lo e pôr-lhe panos quentes. Não se intimidou nem recuou frente à baba hidrofóbica do politicamente correto, dos justiceiros sociais de ipads e ipods.
Antes pelo contrário, macho de respeito e ortodoxo das antigas que é, reforçou-o!
Reiterou-o com a sólida fundamentação dos ensinamentos de São Porfírio : "digo o que pensa a Igreja Ortodoxa e os ensinamentos de São Porfírio, segundo o qual o gays deveriam viver solteiros e rezar para deixarem de ser gays".
Valha-me São Porfírio! O Santo Protetor das Pregas!
Em seguida, o bispo misturou São Porfírio com Mendel e Watson e Crick, num verdadeiro Samba do Ortodoxo Doido : "um menino tem inclinação à homossexualidade da mesma forma que tem à música, e isso é passado geneticamente pela mãe. Ou seja, se a mãe tem talento musical, o filho vai herdá-lo via DNA. O mesmo acontece para o sexo anal".
O bispo Morphou Neophytos acaba de ganhar um lugar de destaque na galeria Machos de Respeito do Marreta do Azarão, ocupada hoje por Danny Trejo, o Machete, na barra lateral direita do blog.
E São Porfírio acaba de ser eleito o Santo de Devoção do Marreta, também aparecendo a partir de agora na mesma barra lateral. Que, quando o assunto é garantir a integridade das pregas, ateu prevenido vale por dois.
Pãããããããta que o pariu!!!