sábado, 29 de junho de 2019

Uma Questão de Método

Deus
- dizem os que Nele creem -
Escreve por linhas tortas.
Displicentemente.
Aos trancos e garranchos.

O Demônio,
Por sua vez,
Metodicamente,
A tudo anota,
Em cadernos de caligrafia.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Vegana Que Eu Gosto (2)

Dentre os primatas, somos a espécie com o maior cérebro, com o maior volume craniano, em relação à massa corporal. Um gorila macho adulto pode atingir uma massa corporal equivalente a quase três machos humanos de compleição mediana, de uns 70 kg; seu cérebro, no entanto, é quase três vezes menor que o nosso - 1.200 centímetros cúbicos nossos contra os 470 do gorila.
O que teria nos dotado de um cérebro de porte único e muito superior aos de nossos primos mais próximos, os primatas? O que teria nos tornado em verdadeiros Kids Bengala encefálicos?
Estudos recentes - ao fim da postagem colocarei o link para eles - apontam para um caminho inequívoco : o que possibilitou o desenvolvimento de nossos cérebros ao nível em que hoje se encontram foi uma combinação entre a criação de técnicas de processamento dos alimentos (corte e cozimento) e a introdução de alimentos mais proteicos e calóricos em nossa dieta, no caso, a carne.
O gorila e outros de nossos aparentados têm dieta essencialmente herbívora, alimentam-se de folhas - cruas, aos montes, em grandes pedaços e quantidades. Não é a maneira mais eficiente do mundo de se obter energia e matéria-prima para o organismo.
Um gorila chega a passar de oito a dez horas do dia a mastigar e a engolir grandes folhas; depois, já com bucho cheio, mais três, quatro horas para digerir e processar tudo aquilo - a celulose é uma substância rígida, de difícil mastigação, digestão e absorção pelo organismo. Todas as custosas e poucas proteínas e energia assim obtidas são direcionadas para o básico da sobrevivência do gorila, sua atividade muscular, construção e funcionamento. Não sobram energia nem matéria o suficiente para um incremento do cérebro do bicho. E ainda que sobrassem, ao gorila não sobraria tempo para explorar um cérebro maior, para exercitar a máquina.
Com o desenvolvimento das ferramentas de corte, o ser humano passou a dividir o alimento em menores porções, o que facilitou a mastigação, diminuindo o tempo despendido nesta atividade; com o cozimento dos alimentos, eles passam por várias transformações químicas, que os deixam não só mais tenros, mas também mais acessíveis ao nosso equipamento enzimático, eles se tornam mais fáceis de serem digeridos, absorvidos por nossas células e, enfim, convertidos em energia, diminuindo, além do tempo da mastigação, também o de processamento; finalmente, com a introdução da carne à sua dieta, o ser humano juntou, aos menores tempos de mastigação, digestão etc, um alimento com teores proteico e calórico muito superiores aos dos vegetais. 
Somados os três eventos, temos : um tempo absurdamente menor gasto com mastigação, digestão e absorção e uma quantidade de proteínas e de energia dantes inimagináveis.
Com mais proteínas, nosso cérebro pode melhor se construir, ganhar estrutura, massa, volume - sim, ou você acha que o nosso cérebro é feito do quê, caro vegetariano/vegano, de brócolis? Com mais energia, a nova máquina pode ser posta a funcionar a todo o vapor - nosso cérebro é um sumidouro de energia, chega a tomar para si, quando estamos em repouso, 20% de toda a produção do organismo. Com o tempo que nos sobrou, pois não precisávamos mais ficar a ruminar toneladas de folhas, nos pusemos a brincar com ele, a criar novas ferramentas e a desenvolver mais intrincadas relações sociais - o segredo da hegemonia humana no planeta não vem de nossa pouca força física, vem da habilidade de nos organizarmos em grandes bandos. 
As relações sociais exigem o exaustivo e coordenado trabalho de milhões de neurônios. Têm ideia da complexidade cerebral exigida para vivermos em sociedade? Da beleza da imensa quantidade de conexões sinápticas necessárias para contarmos uma simples e inofensiva mentirinha social e cotidiana a bem da política da boa vizinhança? Que outro animal elabora mentiras? A mentira é a base da sociedade humana. Não nos suportaríamos sem ela, desfaríamos o bando, e, sozinhos, fisicamente ridículos que somos, seríamos trucidados por outros animais.
Se você, vegetariano/vegano, tem hoje uma caralhada de amigos em suas redes sociais, agradeça ao seu cérebro hábil que lhe permite coordenar estas relações, seu cérebro construído à base de carne.
Não tivéssemos desenvolvido técnicas de processamento de alimentos nem adicionado a carne à nossa dieta, possivelmente ainda teríamos o cérebro muito similar em tamanho ao dos outros primatas, ou, ao menos, de nossos ancestrais já humanos, o Australopitecus, o Homo erectus etc, e viveríamos ainda de forma muito parecida à deles. Provavelmente, nem a escrita teríamos desenvolvido.
E talvez fôssemos mais felizes assim, mas esta não é a questão. A questão nunca é a felicidade - também um conceito meramente humano, criado pelo nosso cérebro bem dotado. A questão aqui é que toda a civilização, toda a história da humanidade, todos os seus avanços (e retrocessos), todas as suas conquistas científicas e tecnológicas que moldaram nossa maneira de hoje viver (que remodelaram o planeta), que nos garantem um maior conforto, uma maior expectativa de vida e, sobretudo, uma esmagadora supremacia sobre toda e qualquer outra forma de vida conhecida, só foram possíveis graças ao turbinamento, à otimização de nossos cérebros. E esta otimização só foi possível a partir da introdução da carne na dieta humana.
Temos dentes próprios para cortar e perfurar a carne, os incisivos e os caninos. Temos sucos digestórios repletos de enzimas para digerir a carne, a pepsina e outras proteases. Até o tamanho de nosso intestino é adequado ao correto tempo de trânsito da carne dentro de nós.
Se toda a humanidade, a partir de hoje, adotasse o vegetarianismo/veganismo, em alguns milhares de anos, perderíamos muito de nosso volume cerebral enquanto espécie. Em poucos milhares de anos, nossos cérebros seriam devolvidos ao nível - se com muita sorte - de um Homo habilis. Em poucos milhares de anos, estaríamos de volta ao registro pictórico nas paredes das cavernas. Em poucos milhares de anos, estaríamos de volta aos sons guturais : Ah! Ah! Uh! Uh!
Encerro, ou quase, a postagem com as falas de um pesquisador e de um poeta, atividades humanas só possíveis devido aos nossos diferenciados cérebros carnívoros.
Primeiro, o pesquisador, Manuel Domínguez-Rodrigo, da Universidade de Madrid : “Eu sei que isso soará horrível para os vegetarianos, mas a carne nos tornou humanos”;
Por fim, o poeta, o poetinha Vinicius de Moraes :
"Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta. 
 

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas. 
 

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz 
 

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão."

Abaixo, da esquerda para a direita, um cérebro humano e um cérebro vegetariano/vegano
link prometido no início da postagem, para maiores referências :

cenas dos próximos capítulos : não é somente nosso cérebro, nossa massa encefálica, que é o maior entre os primatas; os nossos paus, os nossos caralhos, também são, proporcionalmente, os maiores entre a macacada. O gorila é todo fortão, todo saradão, mas tem uma pingolinha de anjo barroco, parece um desses caras de academia. O motivo de nossas rolas serem as mais avantajadas entres os primatas? Também o consumo de carne, porém, um tipo muito específico de carne. Mas isto será assunto de uma próxima postagem, a Vegana Que Eu Gosto (3), que encerrará esta ignominiosa trilogia.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Dedada no Olho do Cu

Não posso dizer que sou um aficionado por esportes de combate, pois não conheço a fundo os princípios, os fundamentos, as regras, quais os intervalos de peso de cada categoria, muito menos como são marcados os pontos durante a luta, mas me considero um apreciador destas justas modernas.
Prefiro o boxe. Porém, em tempos áridos de grandes pesos-pesados, de um Cassius Clay, de um George Foreman, de um Joe Louis, de um Rock Marciano, de um Mike Tyson e, até mesmo, de grandes pesos-pesados da ficção, feito um Rock Balboa, ou um Adilson Rodrigues Maguila, tenho quebrado o galho e me conformado com as lutas de vale-tudo, hoje conhecido como MMA.
Mesmo não sendo, como declarado, um expert, também não sou um total néscio. Sei do básico. Sei que, por exemplo, não é tudo que vale no vale-tudo. Chute no saco e dedada no olho são golpes proibidíssimos, verdadeiros tabus do esporte.
E dedada no olho do cu? O regulamento do MMA nada diz sobre.
Assim, como todo bom brasileiro, que arruma um jeitinho pra tudo, o lutador Jorge Kanella se valeu desta brecha legal para, primeiro, sacanear o seu oponente, e, segundo, para tentar passar pela guarda do inglês Alfie Davis e reverter a desvantagem em que se encontrava na peleja.
Jorge Kanella aproveitou a brecha legal e enfiou o dedão do pé na brecha do cu de seu adversário.
Kanella, mais afeito ao estilo wrestling, à luta em pé e à trocação franca de golpes, irritou-se com a insistência do adversário em se manter deitado de costas no chão, em postura defensiva mais a la jiu-jitsu, uma tática que poderia ser comparada à retranca no futebol, ou seja, o cara nem ataca nem sai de trás da moita.
O impaciente Kanella não teve dúvidas : meteu-lhe o hálux, o famoso dedão do pé, no cu.
O inglês reclamou : "Se você está em pé com alguém no chão, não vai direto assim. Você aprende que não é legal". Está certíssimo o inglês. Os dois lutadores nunca haviam se encontrado antes, foi a primeira luta dos dois, o primeiro encontro. Se fosse já um segundo ou terceiro encontro, vá lá, ou se Kanella tivesse tentado antes uma chave de perna, uma chave de braço, um mata-leão, uma guilhotina, um cheiro na orelha, uma cafungada no pescoço, o inglês estaria mais à vontade e talvez não reclamasse tanto da atitude do brasileiro.
A manobra ilegal e lasciva de Kanella não passou despercebida ao árbitro, que lhe puniu com o decréscimo de um ponto em sua contagem.
Davis saiu da luta reclamando de dor no períneo. Engraçado. O cara leva cotovelada no nariz, tem o supercílio dilacerado, leva chute nas costelas, tem a cabeça quase arrancada por socos de mais de 100 kg de peso e sai reclamando da dorzinha de uma dedada no cu? Firula. Frescura do inglês. Que acabou vencendo a luta por pontos e em decisão unânime : 29 a 27.
A um jornalista, o brasileiro Jorge Kanella teria declarado em off : "Perdi a luta, mas ele perdeu as pregas."
Pããããããããta que o pariu!!!! 

domingo, 23 de junho de 2019

O Velho Herói

O herói está velho.
Caquético, patético
E senil,
Dizem as despeitadas mocinhas indefesas de plantão
(também já não tão mocinhas assim)
Às quais o herói não mais socorre,
Não mais lhes dá o prazer de sua presença,
Ignora as suas urgências.

O velho herói,
Dizem estas desdenhosas, 
Hoje,
Só gosta de vestir seu uniforme às escondidas,
Quando ninguém está a vê-lo.
Uniforme roto,
Difamam estas que foram preteridas pelo velho herói.
Seu uniforme,
Maledizem,
Uma ceroula frouxa e furada nos fundilhos.

O herói está velho. É fato.
Senil?
Nada mais fake news.
O velho herói está mais poderoso que nunca,
Achou quem valha a pena
Verdadeiramente defender.

"We don't need another hero",
Grita uma antiga canção ianque.
O velho herói é que não precisa da humanidade.
Só precisa de um único protegido.
A cada velho herói basta uma Lois Lane.

O velho herói
Hoje, só atende a um único chamado,
Ao grito de "pai"
Que o filho lhe lança de madrugada de dentro de seu pesadelo.
Atende, hoje, o velho herói
A um único chamamento,
Ao bat-sinal do choro febril de seu rebento.
O velho herói não outorgou
A salvaguarda de seus filhos a outros heróis
- avós, tios e outros assemelhados de boa vontade -
Para continuar com seus egoístas saltos pelos telhados e pelas madrugadas.

Outra calúnia :
Não, o velho herói não veste seu uniforme às escondidas,
Tampouco antepasto de traças sua égide e seu emblema se tornaram.
O velho herói não veste mais o seu uniforme
(ele está mais brilhante e bem passado do que antes),
O faz de cobertor, de casamata, de casulo para o filho,
Para aninhar e confortar o seu sono aquecido e tranquilo.

O velho herói olha para o seu uniforme feito em afeto
E não consegue lhe imaginar um melhor uso.
Não consegue conceber um maior ato de heroísmo. 

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Vegana que Eu Gosto.

Tem crescido, de uns dois anos para cá, o número de adeptos ao modismo vegetariano e, agora, à picaretagem vegana no meu ambiente de trabalho. Pelo fim do sofrimento animal, pela sustentabilidade do planeta e outros blá-blá-blás politicamente corretos.
Acham mesmo que, para o animal que serve de sustento a outro, faz alguma diferença que seu pescoço e sua jugular sejam dilacerados pelas presas de um lobo, ou cortados precisa e cirurgicamente por lâminas mecanizadas de um frigorífico com escala industrial de produção? Ele preferiria estar vivo.
E o planeta é sustentável; a espécie humana é que não o é.
Tenho cá para mim que o vegetarianismo/veganismo e outros assemelhados são modalidades modernosas de autoflagelo. Privar a alma dos prazeres sensoriais proporcionados por certos alimentos e o corpo de nutrientes essenciais a ele, e só nestes alimentos contidos, só pode ser autoflagelo. Autopunição.
Nunca se perguntaram por que certos alimentos nos causam tanta gula, nos dão tanto prazer, nos trazem tanta água à boca? Porque justamente nestes alimentos é que estão os nutrientes que são mais caros e necessários e indispensáveis ao bom funcionamento da máquina.
Quem, em sã consciência, saliva de luxúria à visão de uma salada de alface com couve-de-bruxelas salpicada com sementes de quinoa e painço? Só uma mente muito torta, muito pervertida. De repente, pode ser isso também, o vegetarianismo/veganismo serem uma tara, um fetiche. Alface é para elefante, vaca e coelho. Painço, para passarinho.
Mas continuarei apostando na hipótese da autoflagelação. Para espiar a culpa por toda a devastação causada pela espécie humana. Autoflagelando-se, o vegetariano/vegano espiaria, se não os pecados de sua espécie, ao menos o seu pecado de a ela pertencer. O vegetariano/vegano seria um tipo de Jesus ambientalista. Os Greenpeaces de Cristo. Deus me livre.
Culpa pela própria condição biológica? Gosto e tenho orgulho de ser um ser humano? Em raríssimas vezes. Acredito que a natureza oferece milhares e muito melhores possibilidades de formas de vida. Mas o sou. Posso não morrer de amores pela minha condição biológica, mas sentir culpa por ela? De predador e parasita do planeta? De jeito nenhum.
Sem que eu me lembre de nenhuma exceção, todos esses novos apóstolos do vegetarianismo/veganismo que conheço são de viés político esquerdista. Todos votaram no Lula e na Dilma. Coincidência? Porra nenhuma.
O esquerdista é um fanático. E, como tal, um exímio simulador de realidades, especialista em substituir os fatos por suas crenças fracassadas. A realidade do esquerdista não é a que ele vê, vive, sente na pele, é a que está no seu cérebro lavado e enxaguado, é a que está no seu catecismo ideológico.
Logo, nada mais fácil e natural para o esquerdista do que negar sua condição biológica, de se idealizar e de se retratar como um ser independente e acima de seus cromossomos, uma entidade superior e única no planeta capaz de transcender o seu genoma. Um ser puramente ético e moral, não orgânico. Praticamente um ser de luz. Luz esta, no caso do esquerdista, roubada de um poste da companhia de eletricidade (esta exploradora do proletariado), obtida na forma de "gato".
Pois não vem da esquerdalha a abjeta e mal-intencionada (como sempre) ideologia de gêneros? Aquela que diz que ninguém nasce homem nem mulher? Que o sexo é uma construção social?
Construção social é o caralho! Aliás, o caralho, não! O caralho é uma construção biológica! Verdade que uns são bem mais projetados, foram construídos com mais argamassa e concreto armado, melhor acabamento e funcionalidade, verdadeiras mansões; já outros estão mais para um apartamento quarto-e-sala (infelizmente), mas tudo construção biológica.
Nasceu com cromossomos X e Y, nasceu com caralho. É homem. Agora, com quem ou como ele vai usar esse caralho é outra história, e só cabe a ele decidir. Mas é homem.
Nasceu XX, nasceu com buceta. É mulher. Se vai pô-la a brigar com cobra ou com aranha é outra questão, e só cabe à dona da perseguida resolver. Mas é mulher.
Pois para o sujeito que  é capaz de negar o próprio pau entre as pernas, nada mais fácil que dizer - e acreditar - que não prescinde de proteínas, e mesmo de vitaminas, exclusivamente de origem animal. Construímos nossos corpos do que comemos. Somos animais. Semelhante cura semelhante, diz a homeopatia. Semelhante dissolve semelhante, diz a química de soluções. Semelhante constrói semelhante, diz a biologia celular.
De novo, o esquerdista sobrepõe sua crença ao fato óbvio ululante.
Estão lá a batata, a beterraba, a abobrinha. Meu organismo está equipado mecânica e bioquimicamente para mastigá-las, ingeri-las, digeri-las, absorvê-las e convertê-las em energia e em novas células? Sim. Então, é porque ele precisa do que elas contêm. Caso contrário, não estaria equipado para processá-las. Então, eu vou lá e as como. E ponto.
Estão lá a carne de gado, a de frango, a de peixe, os ovos e o leite e seus derivados. Meu organismo está equipado mecânica e bioquimicamente para mastigá-los, ingeri-los, digeri-los, absorvê-los e convertê-los em energia e em novas células? Sim. Então, é porque ele precisa do que eles contêm. Caso contrário, não estaria equipado para processá-los. Então, eu vou lá e os como. E ponto.
Simples e irrefutável assim. 
Se autoflagelo, se fetiche, uma coisa é certa sobre o vegetariano/vegano : é tudo gente com a vida ganha, com o burro na sombra, com tempo ocioso demais e com o prato cheio. Tivessem que se preocupar dia a dia com a sobrevivência, comeriam o que lhes caísse à frente, a lamber os dedos e os beiços. Vegetarianismo e veganismo são luxos de quem pode escolher o que comer. Querem coisa mais pequeno burguesa que isso?
Em homenagem aos vegatarianos/veganos, que neste momento devem estar a roer algum nabo, e aproveitando que amanhã é feriado, abri minhas atividades etílicas já hoje, na quarta-feira, passei no mercado e comprei meia dúzia de minhas sacrossantas latinhas. Para beliscar? Para tira-gosto?
Iscas de fígado acebolado, puxado na pimenta-do-reino, e coberto com grossa camada de mussarela derretida. Que deixei a marinar o dia todo no próprio sangue do boi.

Travessuras de Menina Má (21)

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Só Sós Somos

Dia desses, li, ouvi, me mandaram, sei lá, que só somos/existimos através de nossas interações sociais, de nossa promiscuidade com o bando, que só existimos como formigueiro, nunca como lobos solitários. 
Segundo onde li, ouvi, ou segundo quem me mandou, até mesmo nossos talentos e peculiaridades são frutos de nossas relações com outrem.
Para tais pessoas, por exemplo, Van Gogh, as tintas que ele usava, os pincéis que empunhava e a tela em branco que lambuzava são todos equânimes protagonistas do quadro acabado, do produto final. Para tais pessoas, Van Gogh, só foi Van Gogh porque teve acesso às tintas, pincéis etc. Van Gogh nada seria sem eles.
O caralho! Típico discurso de quem sempre foi tela em branco.
O caralho! Típico discurso esquerdista, mal intencionado. Típico discurso covarde e derrotista de quem diz que todos são especiais; que só é outra forma de dizer que ninguém o é. 
Típico discurso de quem deprecia o talento e o mérito individual dos nascidos acima da média e tentam, por terem nascido, eles próprios, totalmente desprovidos de predicados, aplanar a tudo e a todos ao rés do rebanho mugidor e balançador de rabo.
Típico discurso de quem, tendo nascido mediano, medíocre, e não suportando ficar sem companhia, pois não se basta, quer nivelar todos a seu estrato, quer levar todos ao seu triste gueto.
Não sei de onde pariu-se tal joia da veneta. Se de um livro de autoajuda de Paul Rabbit, se de um programa vespertino de fofocas, receitas e casos de família, se de alguma postagem campeã de likes de alguma rede social.
Antigamente, chamávamos a isso de filosofia de para-choque de caminhão. Antes fosse, meus amigos, antes fosse. 
Tenho enorme saudade e respeito pelas frases de para-choques de caminhão; muito mais honestas e precisas. Não vemos mais hoje frases pintadas à caligrafia caprichada, geralmente em tinta amarela, nos para-choques dos caminhões. Que fim levaram estes anônimos frasistas e criadores de aforismas do asfalto?
Vai ver viraram youtubers, famosinhos do feicibúqui, ou, pior, sociólogos, psicólogos e pedagogos.
Achar - querer que todos achem - que só se existe em função da manada? Ou que esta triste e inexpressiva forma de vida é o único tipo válido de existência?
Que autoinsuficiência é esta? Que vácuo interior é esse de que essa pessoa deve padecer? Que oco existencial do caralho! Por fora, nem mais bela viola.
Pois digo que só existimos sós. Se sós. Quando sós.
Em nossas interações, anulamo-nos. Pomo-nos no piloto automático, em animação suspensa. Ponho-me, pelo menos. Ter de estabelecer conexões com o rebanho - no trabalho, nas ruas, no trânsito, nos mercados - é viver em eterna prisão em regime aberto : só poder ser eu mesmo quando me recolho, à noite, ao conforto e à solidão tão aguardados de minha cela. Preferiria, se me fosse possível, prisão de segurança máxima. Castigo maior, soltam-me, no entanto, ave de asa cortada : os fingimentos e salamaleques sociais são a minha tornozeleira eletrônica.
Não finjo. Mostro meu desagrado para com eles. Sou ranzinza, carrancudo, áspero. Os que se dizem felizes, integrados, úteis? Tudo delírio induzido por  antidepressivos, tarjas pretas, terapeutas picaretas, ideologias fracassadas e Jesuses. 
Em grupo, não somos. Simulamos. Brincamos de ser. De ser  professor, bancário, motorista de ônibus, lixeiro, dentista, verdureiro, padeiro, gigolô, camelô, padre.
"E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial, que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social?"
Só sós é que verdadeiramente somos. A morte é uma transação solitária. A vida mais ainda. Quem vive pelo superestimado coletivo não tem vida; foge da vida; prevarica-a.
Só somos nós se e quando despidos dos olhos e dos dedos indicadores do bando. 
Consegues, vestindo a nova roupa do rei, desfilares nu frente à multidão? E, prova definitiva dos nove, frente a ti mesmo? 
Só somos nós no banheiro, de madrugada, bêbados, sentados ao vaso e passando uma cantada barata na nossa cara macilenta no espelho.
Quem tem coragem, hoje em dia, de ficar só? De olhar para o abismo? Para o espelho plano e fidedigno do banheiro? Melhor olhar para o salão de espelhos deformados que são os olhos do bando sobre nós, não é? Desfilar em passarelas monitoradas por photoshops, né? Mais fácil e grata a aprovação do patrão, dos colegas de trabalho, dos familiares, que a nossa própria, certo?
À merda todos vocês. Que precisam do olhar do outro para se enxergarem. À merda todos vocês.
Acreditam mesmo que não sejam exército de um homem só? Então, nunca estarão preparados para a guerra.
Só só é que sou. E não abro mão disso. Ainda que, cada vez mais, menos possa ser só, menos possa ser eu. 
Ainda que encurralado, não privatizo meu eu, não o terceirizo.

sábado, 15 de junho de 2019

STF, Eu Também Vou Querer Meu Estatuto!!! (3)

Colpofobia é crime!

New Kid on The Blog

O inquebrantável Jotabê, o general da banda do Blogson Crusoe, entrou numas de crise existencial e realizou o suicídio assistido de seu blog.
Não sem opositores, devo registrar. Por vezes, tentei dissuadi-lo de seu intento de autodestruição. Mas sou um péssimo vendedor. De qualquer coisa. Não seria eu, portanto, quem lograria sucesso em convencer Jotabê de que vale a pena continuar vivo.
Fosse eu um atendente do CVV (Centro de Valorização da Vida), os números de suicídios disparariam. Se uma pessoa ligasse por engano para o CVV e a ligação caísse no meu ramal, mataria-se depois de uns três minutos de conversa comigo.
O Blogson Crusoe morreu. No seu velório, seus 2,3 leitores.
Uma semana depois, contudo, no dia da missa de sétimo dia do Blogson Crusoe, Jotabê, que valorosamente, há tempos, e sem grandes dificuldades, absteve-se do consumo de bebidas alcoólicas - mas não do Toddynho -, entrou numa crise braba de abstinência virtual e fundou o Lingüiça no Fumeiro, o seu novo blog.
Pãããããããta que o pariu!!!!! Jotabê é o new kid on the blog!
Segundo Jotabê, o nome do novo blog vem de uma "lembrança de um caso contado por meu pai e que eu nunca mais consegui lembrar na íntegra". Uma pena para os velhos 2,3 leitores do novo blog, pois Jotabê é um competente contador de "causos".
Não sou de pôr minha linguiça no fogo (nem no fumeiro) por ninguém, mas garanto-vos que Lingüiça no Fumeiro será um bom blog, desde já merecedor do selo ISO-Marreta de qualidade. Por que tenho tanta certeza? Porque o Blogson era bom.
De mais a mais, a lingüiça do Jotabê é lingüiça das antigas, com trema e tudo. É lingüiça de confiança, é lingüiça JB, não JBS.
A confirmar toda a minha rasgação de seda, Jotabê inaugura o Lingüiça no Fumeiro com um inspirado poema, Ampulheta.
A eterna e unilateral relação do homem com o tempo que dele se esvai, inexoravelmente. A agonia de observar a areia que escorre e cai, sem volta. A areia e outras coisas mais, tão tristes quanto.
Eis o link para o poema :
https://newblogsoncrusoe.blogspot.com/2019/06/ampulheta.html

STF, Eu Também Vou Querer Meu Estatuto!!! (2)

Alectorofobia é crime!

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Vamos Comê-la Por um Mês

A revista satírica francesa Charlie Hebdo é mesmo um farol de Alexandria do humor das antigas - o único tipo verdadeiro de humor, o resto é "fazer gracinha" - a iluminar e a rasgar o céu sombrio, rançoso, recalcado, canalha, mal-intencionado e burro do politicamente correto e de outros tipos de fundamentalismos.
Uma casamata do riso desbragado, da gargalhada sem pudores e falsos moralismos. Que o politicamente correto não sabe rir, sempre tão engajado em seus justiçamentos sociais. O politicamente correto não gargalha, faz kkkkkkkkkk, ou rsrsrsrrsrsrs. Pois enfiem seus kkkkkkk nos cus.
Em 2015, a redação da Charlie Hebdo foi alvo de um ataque terrorista de um grupo radical islâmico por publicar charges de Maomé, o Jesus Cristo lá dos caras. Doze funcionários foram mortos e o mundo ocidental todo defendeu a revista, defendeu a liberdade de expressão, chorou pelos seu mortos.
Agora, porém, a Charlie Hebdo se pôs na mira de uma facção ainda mais xiita, ainda mais fanática e acéfala : as feministas. A revista, inadvertidamente, ou não, inflamou a ira das meninas dos suvacos cabeludos, das muxibas, dos pés grandes, dos grelos duros.
Na capa da edição desta semana, a revista deu destaque ao "importantíssimo" evento esportivo a ocorrer no país : a Copa do Mundo de Futebol Feminino.
Um bucetão depilado com uma bola de futebol adentrando o meio de campo e, na chamada, "Coupe du Monde Féminine". On va bouffer pendant un mois!" Copa do Mundo Feminina. Vamos comê-la por um mês!
Pããããta que o pariu!!! A capa juntou duas das coisas de que o homem mais gosta : futebol e buceta!
Foi o que bastou para deflagrar uma revolta nas redes sociais - redutos de feministas desocupadas, que não têm uma pia de louça suja nem cueca do marido para lavar -, para causar a indignação das jogadoras, da imprensa internacional e de todos os "inteligentinhos" de plantão, que, certamente, defenderam a revista no caso do ataque terrorista de 2015.
Vários foram os adjetivos elogiosos à capa : "machista", "revoltante", "desprezível", "desrespeitoso", "ofensivo", "perigoso", "repugnante"...
A mim, ocorre um único : que bucetão!!! Bem verdade que podia ser um pouco mais peludinho, bem verdade que o gramado tá meio judiado, mas que bucetão!
Que falta de humor das feministas. Cadê a tolerância à diversidade de opiniões, à pluralidade de pensamento, tanto defendida - em discurso - pelas feministas e outros tentáculos esquerdistas? Tolerância no cu dos outros é refresco, é isso? Ofender o deus alheio pode, dar uma zoada num campeonato de um esporte ridículo, não? Ora, vão à merda!
Até algumas jornalistas brasileiras, a pedido do site PAGE NOT FOUND, se manifestaram sobre a capa.
"Muito mau gosto. Credo!" - Flávia Oliveira, jornalista.
(Sei lá, vai ver que é mesmo questão de gosto, eu gosto bastante).
 "Que nojentooooooos. Não tem mulher trabalhando nessa redação e os caras que fizeram isso não têm mãe, mulher, irmãs e filhas? Porque só consigo imaginar tamanho desrespeito partindo de quem não convive com mulher nenhuma... são atletas numa competição! Machismo é pouco...", Mariana Godoy, jornalista e apresentadora de TV.
(E mãe, mulher, irmãs, atletas etc, por acaso, não têm bucetão? E por que o bucetão ofende tanto?).
Para mim, esta capa foi um gol de placa da Charlie Hebdo. Entraram com bola e tudo.
"Vamos comê-la por um mês"! Eu, sinceramente, dou o maior apoio à ideia. A não ser que seja a de uma feminista que calça chuteira 44 bico largo.

Je Suis Charlie!

STF, Eu Também Vou Querer Meu Estatuto!!!

Coulrofobia é crime !!!

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Quero Chorar

"Quero chorar,
Não tenho lágrimas...",
Já falou e versou algum compositor popular,
De viola queixosa;
Exagerado.

O meu caso é pior:
Quero chorar,
Não tenho palavras,
Não tenho mais versos.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Dia dos Namorados

Daqui a 10 anos?
Daqui a 10 anos.

(filhos criados e malcriados, casamentos perfeitos desfeitos, ideologias abortadas, tecnologias não-biodegradáveis abarrotando os aterros sanitários da alma, ídolos quebrados, relicários vazios)

Agora?
Agora.
Amanhã?
Amanhã.
Semana que vem?
Semana que vem.
No feriadão?
No feriadão.

Daqui a 10 anos?
Daqui a 10 anos.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Reis Afogados

Seremos
De fato
Involuntários naufrágos?
Ou, sim, sirenas bipolares?

Queremos 
De fato
Abandonar nossas ilhas particulares,
De sortilégios, de caprichos,
De maquinações?

Nossas mensagens lançadas ao mar em garrafas vazias de rum
Serão mesmo gritos arrolhados de socorro,
Ou somente capítulos avulsos de nossa parca biografia,
Volumes mal encadernados de nossa pouca biblioteca?

Nossos cantos lançados ao mar em garrafões secos de bebida púrpura
- gravados em papiros, em folhas de bananeira, em curingas de baralho -
Serão mesmo uivos de S.O.S,
Ou brilhantes e esverdeadas pontas de icebergs,
Para afundar navios
E afogar reis?

Nossas garrafas serão mesmo pedidos de habeas corpus,
Ou chamarizes e arapucas
Para engaiolar veleiros
E mumificar reis em sarcófagos de formol?

Ato Institucional Nº 6

A Poesia não é musa do pensamento livre.
É sua capataz, sua feitora,
Sua capitã-do-mato.

A Poesia
Tenta impor
Significados à placidez do Nada 
À serenidade do porra nenhuma.

Quer vestir,
Quer cobrir,
A nudez inocente e alegre do não-significado :

Com letras,
Que são as tornozeleiras eletrônicas,
As marcas em ferro em brasa
A castigar toda a liberdade,
Toda a brancura autossuficiente do papel;

Com palavras,
Que são as tarjas pretas dos censores
A botar cintos de castidade
No nu frontal do obsceno silêncio;

Com métricas, 
Com estilos,
Que são os sutiãs
(a serem queimados)
Das grandes tetas,
Das cornucópias do livre pensar.

Por isso, 
Prefiro a honestidade truculenta
Dos decretos-lei,
Dos Atos Institucionais.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Serguei, o de Vida Eterna

Agora, é verdade.
Serguei, o de vida eterna, abandonou a carcaça que lhe carregou por 85 anos, Sérgio Augusto Bustamante.
Sérgio Bustamante, diz o atestado de óbito, morreu de anemia associada a infecção e a pneumonia.
Serguei morreu de sexo, drogas e rock'n'roll. Que melhor morte, ou, melhor, que melhor vida pode haver?
Serguei pode não ter sido o pai do rock, crédito dado ao diabo, mas foi o seu irmão mais velho, o primogênito a orientar o caçula nas coisas boas da vida.
Serguei era o rockeiro mais velho que o rock'n'roll. Nasceu em 1933, o rock em 1951.
Serguei já era maior de idade quando o bom e velho rock ainda balbuciava e se cagava nas fraldas.
Serguei, sempre subestimado pela crítica, sempre retratado como um maluco beleza, com mais histórias e delírios para contar do que talento para mostrar, era intérprete de primeira, cantava pra caralho, sim. Gravou a melhor versão de Help, dos Beatles (a boy band mais superestimada da história), que eu conheço. Help, na voz dos Beatles, é musiquinha de matinê, de brincadeira dançante, de trilha sonora de novelinha da Globo, contraindicada para diabéticos; na voz de Serguei, é apoteose sinfônica de anjos e querubins, com demoniazinhas tetudas de mamilos flamejantes nos backing vocals.
Aliás, Serguei morreu porra nenhuma. 
Serguei é o Mumm-Rá do rock, o de vida eterna.
Continua vivo, no Inferno, sem dúvidas; a executar os clássicos do rock'n'roll. 
A tocar fogo na guitarra. E na rosca.
Está lá nesse exato momento. A comer a Janis Joplin e a chupar a rola do Jim Morrison.
Serguei se definia como pansexual : transava com homens, mulheres, extraterrestres, árvores e robalos.
Frase de Serguei, ou atribuída a ele : "uma vez no inferno, o negócio é comer o cu do capeta".
O capeta tá andando pelo inferno com a bunda virada pra parede. 
No lugar do capeta, eu também estaria.
Serguei
1933 - 2019

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O Milagre do Semiaberto do Lula

Sobre o regime semiaberto do Sapo Barbudo, no qual será dado ao Nove-Dedos, que nunca foi chegado à labuta, o direito de trabalhar durante o dia e ir pro xilindró apenas para dormir, o Papa Francisco I, o Chiquinho Milongueiro, comentou :
Para o milagre ser completo, só falta a visita do Chiquinho à Papuda fazer com que sacerdotes católicos também queiram pegar no batente.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Embicharam o Pirata!!!

Pãããããããta que o pariu!!! O complô internacional firmado entre os mandatários do mundo para promover o embichamento global parece mesmo desconhecer limites! Embicharam o pirata!!! 
Meu primeiro contato com bebidas alcoólicas se deu pelo rum. O rum : bebida que, no percorrer dessa longa estrada da vida, se mostrou, ao mesmo tempo, o meu espinafre e a minha kryptonita.
Na época do meu batismo de fogo (e bota fogo nisso!), lá na saudosa e obscura década de 1980, só havia um tipo de rum : o rum. E fim de papo.
O rum : a única bebida digna de um pirata, de homens com a pele e os brios curtidos pelo sol e pelo sal.
O rum : a única bebida que traz em seu corpo a rudeza, a aspereza e a brutalidade necessárias à prática do ofício do pirata. E também ao seu sono tranquilo.
O rum : de preferência tomado no crânio recém-descarnado e escalpelado do inimigo.
De lá para cá, sucessivas, sutis e insidiosas alterações e inovações no rum foram feitas para torná-lo mais palatável aos paladares mais sensíveis, mais bichescos, para fazê-lo cair no gosto comum médio das gerações mais jovens, gerações de merdas e de frouxos, de roscas frouxas.
Já há algum tempo, o rum é oferecido nas prateleiras dos mercados em várias versões "comportadinhas" : tem o Carta Ouro (o que mais se aproxima do rum rum), o Carta Branca, o Carta Cristal (ui, ui, ui...) e o Lemon Rum (com extratos "naturais" de limão; será que é para o pirata se embriagar e, ao mesmo tempo, já combater o escorbuto?). 
Viadagem, meus amigos, pura viadagem. 
Mesmo o rum original teve a sua graduação alcoólica reduzida de 42% para 37%.
Apesar disso, o rum, o sangue pirata, nunca se tornou uma modinha, uma tendência nas tais baladas. Apesar disso, o rum nunca caiu no gosto da viadada e da biscataiada que campeiam pela noite. Apesar disso, a imagem do pirata estampada no rótulo da garrafa, independente da versão da bebida nela contida, se manteve firme e respeitável, sendo sempre associada a uma ideia de virilidade rústica, à figura do macho das antigas. Botaram-no, o pirata, até mais sorridente no rótulo. Em vão. O rum manteve sua aura de masculinidade.
Até agora, meus amigos... até agora...
Hoje, ao passar pela seção de bebidas do supermercado, um rótulo azul, festivo e cintilante, chamou-me a atenção. E nele estava o Pirata. Com um sorriso ainda mais amplo, de quem fez limpeza, fluoretação e pôs revestimento de porcelana nos dentes. Camisa passada e engomada com colete de mauricinho. Mangas bufantes. Mais para odalisca que para pirata.
Cheguei perto para ver que outra versão corrompida, que outra tentativa de minar a virilidade do rum estava a ser levada a cabo. Foi pior do que eu pensei. 
Não era uma nova e mais frouxa versão do rum. Antes fosse. Ainda continuaria a ser rum. O pirata ainda aguentaria incólume a mais essa patifaria, a mais essa calúnia contra seu saco roxo.
No pescoço do garrafa, presa uma etiqueta : Vodka Montilla, a nova ousadia do pirata!!!
Pããããta que o pariu!!!! Incapazes de, em três décadas de tentativas, aviadar a imagem do rum, partiram para uma nova estratégia de ataque : embichar o pirata! Associar a imagem do lobo-do-mar a uma bebida de drinques e coquetéis, a uma bebida que facilmente promiscui-se com suquinho de tomate, suquinho de laranja e outras frutinhas.
Com trezentos milhões de hienas do mar! Com seiscentos milhões de sacripantas! Vodka não é bebida de pirata!
Não que eu esteja pondo em xeque a macheza dos russos, dos antigos cossacos. Nada disso. Mas a vodka não é uma bebida de guerra, beligerante, de saques e pilhagens. Não é bebida de beber enquanto se espeta o rim do inimigo com a espada para fazê-lo caminhar pela prancha. A vodka é uma bebida de sobrevivência, não de batalha. Um anticongelante sanguíneo. É a água benta que passarinho não bebe das estepes russas. Tão valorosa quanto ao rum para a função a que se aplica, mas diversa dele. Muito diferente.
Pirata bebendo vodka é o mesmo que russo bebendo saquê. 
E o papagaio do pirata, então? Antes, sujo, carrancudo, penas desgrenhadas, quase que uma coruja verde, praticamente uma ave de rapina; agora, está mais para maritaca, para periquita, para mulata assanhada.
O que virá a seguir? Vodka Montilla sabores? Frutas vermelhas, kiwi, pitaia, anis e mirtilo? Vodka Montilla Ice?
Valham-me São Leitinho e São Piraju! Já fosse, na gloriosa década de 80, o rum Montilla, vodka, as nossas Guerras Secretas não teriam sido Guerras Secretas, teriam sido uma rave de boiolas, uma parada LGBT. Pããããta que o pariu!!!
Tristes tempos, meu caro amigo pirata, tristes tempos...

domingo, 2 de junho de 2019

Mi Obra Maestra

Excetuando-se a minha absoluta falta de talento, para qualquer coisa que seja, eu sou o velho deste filme.