sexta-feira, 30 de abril de 2010

Psicanálise e Homeopatia

O filósofo francês Michel Onfray lançou o livro "O Crepúsculo de um Ídolo, a Fábula Freudiana" , em cujas páginas desanca o pai da psicanálise.
Já era mais do que hora de alguém denunciar a farsa da "ciência" psicanálise. A mim, essa empulhação nunca enganou. Quem, em sã consciência, pode chamar de ciência uma doutrina fundada por um cheirador de cocaína, comedor de bosta e degenerado sexual que queria comer a própria mãe? Só sendo louco, mesmo.
Freud era o doente. E fundou uma seita onde suas perversões foram postas como o normal, como o padrão. Nas palavras de Onfray : "Freud transformou seus próprios "instintos e necessidades fisiológicas" em uma doutrina com pretensão de ser universal."; diz também que a psicanálise cura tanto quanto a homeopatia, o magnetismo, a radiestesia, a massagem do arco do pé, o exorcismo feito por um sacerdote ou uma oração diante da gruta de Lourdes.
Pena que, além da polêmica, o livro de Onfray não causará nenhum abalo na crença à psicanálise. As pessoas preferem - precisam - acreditar que uma terapia mágica resolverá suas vidas ao invés delas próprias enfrentarem seus demônios.
De qualquer forma, o livro de Onfray presta um serviço à desmistificação desse charlatão e seu charutão - o totem da seita da psicanálise.
Só há um porém, eu sempre encontro um porém. Onfray, à semelhança de Freud, também professa uma religião, uma seita, e não uma ciência. Onfray é filósofo.
E a filosofia, diga-se de passagem, está muitíssimo longe de ser uma ciência.

mais sobre o livro, é só dar uma clicadinha aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

Vade Retro, Rubem Alves

Ando numa fase em que algumas coisas me deixam irritado só pelo fato de existirem e me caírem nas vistas, ainda que eu não seja obrigado a conviver com elas ou tolerá-las. Ou lê-las, nesse caso.
Vou quase que semanalmente a uma biblioteca pública, por vezes a escolha do livro é rápida, mas em outras exige um trabalho de garimpagem pelas estantes e corro minhas vistas por dezenas de lombadas de livros antes da decisão de qual emprestar.
Hoje, numa dessas varreduras, dei de cara com dois títulos do tal Rubem Alves. Esse senhor é mais um picareta metido a educador que escreve uns livrinhos cheios de metáforas estapafúrdias, bem ao estilo motivacional e de autoajuda. Esse embusteiro, há tempos, caiu nas graças da abominável classe professoral - sobretudo as professoras primárias e as coordenadoras peidagógicas -, que se emociona com suas historinhas para boi dormir, que considera os seus escritos de grande profundidade e inspiração.
Mais um, esse Rubem Alves, que se consagrou às custas da ignorância do professor. Já me sujeitei a ouvir a leitura de várias de suas embromações nas eternas e inúteis reuniões peidagógicas semanais da escola. Já fui exposto à sua parábola da pipoca, onde compara - numa cara-de-pau que beira o ineditismo - o potencial humano a um grão de pipoca submetido ao fogo. O grão pode virar uma tenra e macia pipoca ou se tornar um piruá. Assim também são as pessoas, afirma esse farsante da educação, se elas se despem de suas ideias formadas e de seus sólidos conceitos frente a uma nova situação, diante de uma adversidade, se abrem-se ao novo, viram uma bela e formosa pipoca; caso contrário, se continuam fechadas nas "cascas" de seus pensamentos preconcebidos, serão eternos piruás.
Puta que o pariu!!! O pior é a emoção estampada na cara da professorada ao término da leitura. É como diz um amigo meu: o problema não é o discurso, é o aplauso da plateia.
Estavam lá os dois livros desse senhor, bem à minha frente : "o sapo que não queria ser príncipe" e o magistral "ostra feliz não faz pérola".
(Olhei para os lados - verificar se ninguém me observava - e empurrei os dois livros para o fundo. Até eles caírem, ficando entalados entre a estante e a parede)
Não conheço Rubem Alves, nunca o vi ou assisti a uma de suas palestras, e se essa possibilidade se avizinhar um dia, fugirei dela como o capeta foge da cruz, aliás como eu próprio fujo da cruz.
Não o conheço, mas tenho a certeza (do redundante tipo das absolutas) de que Rubem Alves, a exemplo de sua ostra, é uma pessoa feliz. Insuportavelmente feliz.
Suas "pérolas" não servem nem aos porcos.
Só às professoras primárias e às coordenadoras peidagógicas

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Burrice Genética

James Watson e Francis Ckick determinaram a estrutura do DNA há cerca de 50 anos, num golpe de genialidade. São os "pais" do DNA, esses senhores.
E foi de um deles, Watson, em 2003, que veio a afirmação categórica : "a burrice é genética".
Não a burrice adquirida, a burrice comportamental, aquela proporcionada pela preguiça e/ou desinteresse.
Há casos, segundo Watson, de incapacidade real de aprendizado, uma burrice genética de fato, e esses casos atingem perto de 10% da população. Essa burrice congênita é dada por anomalias em certos genes, a exemplo de outras anomalias como a hemofilia, a diabetes e etc.
"Negar esse fato é também negar uma chance de tratamento a essas pessoas", diz Watson. E aí é que residem os verdadeiros preconceito e discriminação.
Agora vêm minhas observações sobre.
Sendo essa burrice ocasionada por genes, ela é sujeita à seleção do ambiente onde está inserida : se uma característica é vantajosa, ela é mantida pelo ambiente; caso contrário, é eliminada. Alguém consegue supor um ambiente que dê preferência à burrice?
Eu, sim. A escola atual. Sobretudo a pública, ainda que isso já não seja exclusividade dela.
Acontece que o ambiente escolar, hoje, tem selecionado preferencialmente a burrice genética, tem favorecido a fixação da burrice inata. É um ambiente onde impera a tolerância, a permissividade, a desorganização, a falta de disciplina, a baderna como regra, o analfabetismo docente (sim, os baixos salários "selecionam" a escória da categoria), as peidagogias perniciosas e libertinas.
Aluno sem conhecimento, nem disposição para obtê-lo, sempre houve. Mas hoje a situação é mais grave, bem mais grave. Hoje, uma grande parcela dos alunos não é capaz sequer de processar uma informação recebida, não é capaz de decidir se uma informação é concernente ao conteúdo em questão.
Fim de bimestre, eu submeto meus alunos a uma apresentação de seminários (eu também tenho o direito de me divertir), em grupos de 4 integrantes, para facilitar-lhes a tarefa. Ontem recebi um trabalho sobre a Mata Atlântica e, ao fim do trabalho, lá estava uma lista de animais em vias de extinção : baleia azul, cavalo da Mongólia, cervo do Pantanal, chimpanzé, coala, dragão de Komodo, elefante africano (sim, a África deve ficar por ali entre Santos e Cubatão), gorila, guepardo, leão africano, leão-marinho, orangotango, panda gigante e, o meu preferido, leopardo das neves (esse deve habitar a Mata Atlântica ali pela Bahia, próximo de onde Cabral aportou, ou quem sabe um pouco mais acima, lá pelo Ceará, vivendo em harmonia com a tribo de Peri e Ceci).
Que o cara imagine que o chimpanzé viva por essas plagas ainda vá lá, macaco dá em todo lugar. Mas e os bichos cujos nomes são indicativos de sua origem geográfica?
Não leem, não atinam para nada, são incapazes de processar uma informação.
Um outro aluno criou uma nova marcação de tempo. Aos usuais "antes de Cristo" e "depois de Cristo", ele acrescentou um revolucionário e inovador "durante Cristo"; d.C. é durante Cristo para o sujeito.
E isso tudo só ontem.
Esses alunos são portadores, certamente, da burrice genética de que fala Watson. Eles têm acesso à escola, a livros que são dados gratuitamente pelo estado, à internet, porém tem um cérebro refratário a qualquer tipo de conhecimento sistematizado.
A escola de outrora eliminava o burro genético de seus quadros e o sujeito ia se meter em outras atividades, ia cuidar da vida, aprender um ofício como se dizia à época, e muitas vezes acabava se saindo muito bem (essa escola era honesta, dizia pro sujeito que ele não servia para aquilo e o cara ia procurar outra coisa).
A escola atual, a dos peidagogos, acolhe de braços abertos o burro genético e lhe diz que ele não é burro, diz-lhe que tem potencial e o obriga por lei a passar quase 20 anos de sua vida entre seus muros protetores. O cara cai no mundo externo tão burro quanto entrou. E sem nunca ter olhado para outras possibilidades. Aos 18 anos de idade, a maioria está morta, irá viver de subempregos o resto de suas vidas.
Qual é a escola mais cruel? A de outrora ou a atual, a dos peidagogos?
A burrice genética existe, sim. Elementar, meu caro Watson.
Não acreditam? Fodam-se.
Ou vão lá, discutir com James Watson, o pai do DNA.

Se quiserem ler as declarações de Watson sobre a burrice genética é só fazer o de sempre, dar uma clicadinha aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Vontade Besta

Vez ou outra eu queria
- Queria mesmo -
Escrever aqui umas linhas de Carnaval,
De conquista de Copa do Mundo.
Mas quem me conhece, sabe :
Vibro quando chove no desfile das escolas de samba,
Torço para a Argentina vencer de goleada.

Volta e meia acontece de eu querer
- Querer mesmo -
Escrever aqui umas linhas de férias, com pipas coloridas ao ar,
De travessura de quem não fez lição de casa,
De folia de gatos em telhados de lua cheia.
Mas quem comigo se deu, sabe :
Que o vento nunca me foi dos mais favoráveis,
Que sempre gostei mais de livros que de gente
E que, nos últimos tempos, ando com relativo medo de saltar pelos muros.

Avis rara sucede de eu querer
- Querer bestamente -
Escrever aqui umas linhas alvas, limpas e lhanas,
Sem coágulos nem rasuras,
De linho, de bicho-da-seda.
Mas quem me sabe, sabe :
Minha caneta é de mau-agouro,
Só deixa rastros tortuosos e alcantilados
Cheios de grumos e obstruções,
Varizes arroxeadas

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Bocage

O Soneto do Epitáfio
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sob-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Marreta Do Morales

Evo Morales, presidente da Bolívia, disse em uma conferência ambiental que os homens que queiram manter sua virilidade e cabelos não devem consumir carne de frango. Morales afirma que os produtores injetam hormônio feminino no animal para que esse ganhe peso rapidamente; tais hormônios causariam problemas na orientação sexual das pessoas do sexo masculino, nas palavras de Morales : "quando os homens comem esses frangos, têm desvios em seu ser como homens."
As declarações de Morales já se tornaram piada nas mãos dos órgãos da imprensa mundial, aliás ridicularizar uma declaração é a maneira mais usual da imprensa desacreditá-la. Quando alguém tem coragem de dizer algo sério e grave, que vai contra os manipuladores do poder, sua declaração é tornada em piada, com o claro objetivo de neutralizar sua veracidade.
Negar que são usados hormônios na carne de frango? Hoje, um frango de granja fica pronto para o abate em cerca de 40, 45 dias. Tudo na base do milho e da soja? Tá bom, eu acredito.
Se esses hormônios têm realmente algum efeito na sexualidade de indivíduos do sexo masculino, já é outra questão, passível de averiguação. Averiguação que logicamente não será feita, ou até será, mas por laboratórios pagos pelos produtores de frango.
O que sei também é que todas as associações dos criadores de frango manifestaram seu repúdio às declarações de Morales e um sem-número de desmentidos já foram publicados. Quando alguém começa muito a desmentir uma coisa é porque nesse mato tem coelho. Se as declarações do boliviano fossem tão absurdas, ninguém se daria ao trabalho de desmenti-las ou ridicularizá-las.
E mais: hormônio é hormônio, sempre causa algum efeito. Ou alguém acha mesmo coincidência as meninas menstruarem hoje bem mais precocemente que suas mães e avós? Com 9, 10 anos tem muita criança menstruando por aí. Evolução? Porra nenhuma, hormônios na alimentação, mesmo.
E os hormônios não são o único fator da viadagem que se alastra pelo planeta, há o caso dos ftalatos, por exemplo. Usados em plásticos, substâncias oleosas para perfumes, sprays para cabelos e lubrificantes. Sabem aquele cheirinho de carro novo? Pois bem, puro ftalato que se desprende do painel do carro quando aquecido pelo sol. Os ftalatos, e isso é cientificamente comprovado, tem o efeito de bloquear, na fase fetal, os receptores de testosterona do embrião podendo levar à sua desmasculinização.
Não sei o motivo, mas há um complô mundial para propagar a viadagem. Algum tipo de controle de natalidade? Não sei, mesmo.
Odeio dizer isso, mas Evo Morales provavelmente está, nesse caso, coberto de razão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Natureza Vai Acabar Ficando Chata

A fotossíntese é o processo que mantém a quase totalidade da vida no planeta, um processo onde são fabricados a matéria orgânica e gás oxigênio a partir de substâncias simples, a saber, gás carbônico e água, utilizando para tal reação a energia do sol.
Não são todos os seres capazes de tal prodígio, apenas os clorofilados - vegetais, algas unicelulares e umas poucas bactérias. A clorofila é a molécula que os permite absorver a energia do sol e iniciar a fotossíntese, todos os outros seres não citados são parasitas dos fotossintetizantes, incluso o ser humano.
Foi descoberta, porém, uma lesma (Elysia chlorotica) que adquire temporariamente a capacidade de realizar a fotossíntese depois de ingerir uma certa alga, da qual obtém os cloroplastos. Os genes responsáveis pelo processo já se encontram no genoma da lesma, ela só não consegue ainda reter o material necessário, os cloroplastos.
Um dia, se a lesma conseguir reter os cloroplastos e transmiti-los às gerações seguintes, estará completa a transformação desse animal num híbrido "planta-bicho".
Já imaginaram se a moda pega? De uma hora pra outra todos os animais também começam a realizar a fotossíntese e fabricar seu próprio alimento? Acabaria a predação, a matança, a competição.
Pelo jeito, que São Darwin não permita, a natureza está querendo se tornar boazinha, tornar-se "politicamente correta". Puta que o pariu. Até a boa, velha, carniceira e sanguinolenta natureza está querendo embarcar na tal "onda verde".
Vai ficar muito chato!
Para informações mais detalhadas, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

O Criador de Porcos

A sociedade brasileira não valoriza o conhecimento, a dedicação aos estudos, o saber conseguido arduamente - o único que permanece -, ninguém aprende nada que preste brincando, à merda com o tal do lúdico, se alguém já te disse alguma vez que aprender é divertido, foi porque essa pessoa também estava mais a fim de se divertir do que lhe ensinar;
os meios de comunicação só valorizam o fútil, a degradação moral, a vagabundagem e a putaria;
a própria família brasileira só vê a escola como um lugar que toma conta de seus filhos enquanto os pais trabalham, a escola tem de guardar, zelar, alimentar, dar a educação que os pais deveriam dar em casa e, caso sobre tempo, mas só mesmo em último caso, ensinar algo sobre as áreas básicas do conhecimento humano.
Resultado disso tudo: o aluno não presta atenção às aulas e muito menos estuda em casa; vai mal na prova, é óbvio.
E aí, claro, a culpa não é do vagabundo ou de sua família que não o cobra, claro que não. A culpa é do professor, que não sabe ensinar. Pior, que não sabe avaliar, nas palavras de uns peidagogos filhos das putas. Segundo essa corja, se o aluno vai mal é porque a avaliação foi errada. Segundo esses escrotos, é impossível que o aluno não tenha absorvido nada. Eu lhes asseguro: é possível sim.
Avaliação errada... ora, vão todos à porra.
Se eu domino um assunto, podem me avaliar da maneira que for, eu irei me sair bem. Não tem nada de avaliação errada, o que há é a mais pura falta de conteúdo.
As direções das escolas, outra corja a ser extirpada, apoiam tais ideais peidagógicas, põem tudo no rabo do professor. É mais fácil dizer aos pais, sempre com o ECA (estatuto da criança e adolescente) nas mãos e dispostos a processar o primeiro que falar mal de seus delinquentes, que o professor é quem está falhando.
O professor não é capacitado, o professor não sabe ensinar e, de uns tempos para cá, o professor não sabe avaliar.
Isso me lembrou a história do criador de porcos.
"O cara criava lá seus porquinhos até que, um dia, recebeu a visita de um agente da vigilância sanitária. O agente criticou as condições de higiene dos chiqueiros e perguntou o que os porcos comiam. Comida de porco, respondeu o criador, lavagem, a gente vai junto restos de comida num tambor e depois dá para os porcos.
O agente ficou indignado. Onde já se viu tal descuido, disse ao criador, aquela comida podre toda fermentando, podia criar uma bactéria mortal e afetar a saúde do consumidor. Multou pesadamente o criador.
Passado um tempo, o agente voltou e os chiqueiros estavam todos azulejados, desinfetados, com água encanada e etc. Perguntou novamente o que os porcos comiam. Foi informado que agora os animais tinham só vegetais frescos, abóboras, alfaces, pepinos, mandioca, todos vindo diretamente do CEASA. Foi multado de novo, ainda mais pesadamente. Chega a ser um crime, disse o agente, com tanta gente, com tanta criança passando fome por aí e os porcos comendo do bom e do melhor.
Na terceira visita do agente da vigilância, inquirido sobre o cardápio dos porcos, o criador respondeu : - eu não estou dando mais comida nenhuma, eu dou 10 reais na mão de cada um e eles vão comer onde quiserem."
O peidagogo é o agente da vigilância sanitária, não sabe porra nenhuma de criar porcos e fica dando palpites: não é assim que se dá aula, não é isso que tem de ser ensinado, não é assim que se avalia e blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá.
Eu, há alguns anos, venho fazendo o mesmo do criador dos porcos.
Eu não dou mais provas, não dou mais notas vermelhas, não cobro que o vagabundo estude, nada disso. Eu chego e dou a minha aula, com competência, qualidade e conteúdo, como sempre fiz.
E o aluno que faça com ela o que bem entender.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Escolas-Coliseu

Via de regra, ninguém gosta de se sentir obrigado a algo. Mas por que nos sentimos obrigados a certas tarefas e não a outras? Acredito que nos sintamos forçados por ocasião do realizar de uma tarefa cuja execução nos é penosa, difícil, aviltante em alguns casos na nossa concepção; quando um encargo nos é leve e fluido, deixa até de ser obrigação - torna-se diversão, prazer.
E por que algumas atividades nos torturam enquanto que outras inclusive nos reconfortam? Essa resposta é fácil. Vem da habilidade natural de cada um, aquela aptidão inata programada em nosso chip, o DNA. Se temos o dom para algo, é prazer; senão é obrigação, aporrinhação.Por isso, sou a favor de que sejamos, dosadamente, obrigados a trabalhos que não caibam em nossos talentos congênitos.
Eu sou canhoto, nasci assim. Da minha primeira até minha terceira série primária, fui obrigado pela escola a treinar também a escrita destra. Preenchi um sem-número de cadernos de caligrafia às custas das contorções quase epilépticas de minha desajeitada mão direita. E cheguei a adquirir uma grafia destra bastante compreensível. A partir da quarta série, eu com meus 10 anos de idade, não se falou mais do uso de minha mão direita. Era o ano de 1977 e, acho, as novas peidagogias - os Skinners e behavioristas da vida - começavam a se infiltrar no tecido sadio da educação e, lentamente, iniciar sua gangrena gasosa : fui liberado do uso de minha "destreza".
Gostei disso na época, claro que gostei. Hoje - e já há muito, muito tempo - não restou nada da habilidade de escrita conquistada por minha mão direita, mas percebo que sou mais hábil que a maioria dos canhotos em várias atividades com minha mão direita; desde o manuseio do abridor de latas ao do mouse do computador. Essa minha literal destreza maior não teria vindo da obrigação a que fui submetido? Claro que sim.
E só disse de habilidades motoras até então. Só que habilidades motoras são meramente resultados de novas vias inauguradas no cérebro. Quantas novas estradas, em meu córtex cerebral, não foram terraplanadas, asfaltadas, iluminadas, sinalizadas e postas em condições de tráfego pelo simples fato de eu ter sido obrigado ao uso de minha mão direita?
Quantas eclusas não me foram abertas pela "intransigência" de um modelo de Escola dito massacrante e antipedagógico pelas peidagogias atuais e vigentes?
Em quanto não devo esse meu Q.I. notadamente superior à média ao autoritarismo de minhas tacanhas e paquidérmicas "tias" do primário? Quantas novas rotas de pensamento não se acenderam para mim? 
Muitas, tenho certeza de que muitas. Forçar o corpo é exercitar a mente; escravizar o corpo é alforriar a mente. Por mais essa razão, abaixo a peidagogia que preconiza apenasmente (como diria Odorico Paraguaçu) a valorização da bagagem pregressa do aluno, abaixo a peidagogia que "respeita" as habilidades e competências naturais e cotidianas do educando; o cotidiano e o senso comum que vão às putas que os pariram!
Quero o retorno à verdadeira Educação. Aquela que confrontava o aluno com suas inabilidades e incompetências em um gládio de morte, quero que a Escola volte a ser um coliseu. Se os leões vencerem, paciência. 
No meu caso, arranquei-lhes as jubas.

domingo, 18 de abril de 2010

Waly Salomão

AMANTE DA ALGAZARRA
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Lorde Caos X Mestre Ordem

Tudo no Universo - no conhecido, pelo menos - é composto por átomos e seus mais diversos arranjos e combinações. A estabilidade dessas combinações é tanto maior quanto menor a energia necessária para mantê-la; o Universo prima pelos eventos de menor energia, sempre.
E para manter tudo em ordem, gasta-se uma quantidade gigantesca de energia. O Universa prima, portanto, pelo Caos e não pela Ordem. Ao menos, não pelo conceito de ordem estabelecido pelos humanos em suas atividades; se o Universo tem uma ordem, é de um tipo que não conseguimos reconhecer, portanto, humano que sou, vou seguir dizendo que o Universo tende ao Caos, tem predileção pela desordem.
Para piorar, a parca compreensão humana do Universo é dicotômica, o que sempre faz desaguar no embate de duas forças antagônicas: o Caos e a Ordem, nesse caso. Logo existem agentes do Caos e agentes da Ordem, recrutados entre nós.
Os agentes do Caos são sempre simpáticos, agradáveis, galanteadores, estão sempre de bem com a vida, sempre de bom humor - até porque é fácil ficar de bom humor quando não se tem compromisso com nada ou, melhor ainda, com a desordem. Os agentes do Caos andam sempre aos bandos, barulhentos, numa alegria imbecil, numa efusividade exibicionista. São os legais, são os que sempre são chamados para as festas.

Os agentes da Ordem não são muito bem-vistos, não chegam dando beijinhos em todo mundo, mal dizem bom dia, isso quando dizem, não têm o riso fácil e não se impõem a obrigação de agradar ao mundo. Os agentes da Ordem são quem apontam as falhas, as imperfeições, a função deles é justamente denunciar a falta da Ordem, por isso são chamados de chatos, de pessimistas, de pessoas negativas e acusados de serem desmancha-prazeres. Evitam as aglomerações humanas. São solitários. Nunca são chamados para as festas.
Como alguém se torna um agente do Caos ou um agente da Ordem? Não se torna, nasce-se.
Nasce-se e é imediatamente recrutado pelo Universo, para um ou para outro exército.

Portanto eu não sou chato, ranzinza, carrancudo, emburrado, ranheta ou rabugento.

De maneira alguma.

Eu só fui recrutado pelo exército errado, pelo exército que briga contra o Universo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dia Internacional do Café

Comemora-se, hoje, 14 de abril, o Dia Internacional do Café.
Fiquei sabendo da data via e-mails que recebi, e-mails que continham também inúmeras variações da receita do bom e velho cafezinho. Café com sorvete, café gelado, frapê de café, coquetel de frutas e café e até um relaxante cataplasma de café para uso em massagens.
Usando da cordialidade que me é peculiar,vos digo : vão todos às putas que os pariram!
Café é café. Bebida forte, básica e rústica. Feita o pastor que a descobriu. Alguém já imaginou o pastorzinho tomando um coquetel de frutas e café? O coitado ficaria desmoralizado até entre as cabras sob a sua vigilância.
Café não tem frescura. Viado pode até beber, mas não é bebida de viado.
Para combater essas variantes que querem pôr em dúvida a hombridade do café, eu registro aqui a única receita do verdadeiro café.

CAFÉ DE MACHO

Duas colheres de sopa de pó para cada 200 ml de água (o famoso copo de requeijão, que macho não fica comprando copinho de cristal), nada daquelas dosagens para mariquinhas que vem nos rótulos das embalagens, aquelas receitas de chá na base de 3 a 4 colheres por litro
(O café deve ser do mais barato encontrado, que macho não se apega a essa coisa de café reserva especial, tipo exportação, macho não dá pelota ao blend do café);
Colocar o café no coador enquanto espera a fervura da água
(o coador tem que ser obrigatoriamente de pano, nada daqueles coadores de papel com microporos e o cacete a quatro);
Jogar a água fervendo, em movimentos circulares, sobre o pó no coador
(mas é fervendo mesmo, a ponto da água estar quase escapando da vasilha de ferro ágate, que macho só usa vasilha de ferro ágate para ferver água, nada das recomendações do rótulo que dizem para jogar a água quando ela mostrar "sinais" de fervura, que macho só toma café escalda-língua);
Nada de açúcar; adoçante, então, nem se cogita, a não ser que o tomante tenha pendores em ceder a rabiola;
Aí é só pôr numa caneca tosca de cerâmica e tomar;
De preferência por volta das 5, 6 horas da manhã, pingando de sono e com aquela baita ressaca, que macho também não acorda indisposto, com dorzinha de cabeça.

Acervo Digital da Revista Veja

A Revista Veja liberou o seu acervo digital em comemoração aos seus 40 anos de atividades. Estão lá todas as edições digitalizadas, desde a primeira, em 11 de setembro de 1968.
Particularmente, eu não simpatizo muito com a linha de pensamento da Veja; admito, porém, que é uma imensa e importante fonte de consulta e pesquisa. Um gigantesco painel político, econômico, cultural e de costumes do Brasil nas últimas quatro décadas, claro que pelo prisma de Veja, mas se torna um vasto e valioso cabedal de informações para quem tem um bom "filtro" .
O link: http://veja. abril.com. br/acervodigital /

terça-feira, 13 de abril de 2010

Videobiografias

Gosto de produzir-me, cansaço.
Andar por quilômetros aprazíveis,
Só andar, só as pernas a funcionarem.

Gosto de produzir-me, pensamento.
Estático, olhos vidrados,
Reescrevendo-me em língua morta
Ao invés da inútil tarefa de traduzir-me.

Gosto de produzir-me, clima frio.
Nem tanto pelo frio,
Por poder vestir o velho moletom
Em que minhas gatas gostam tanto de se enrodilhar,
E pelo vinho:
Vinho-bebida, hormônio que deveríamos produzir naturalmente;
Vinho-cor, a pigmentar meus dentes
Num sorriso de desprezo bordô pela estética do belo
E mais até por mim mesmo
Que um dia a pretendi.

E gosto,
Sobretudo e cada vez mais,
De assistir a videobiografias
Dos meus ídolos mortos ou caídos.

Se Lembram De Quando Era Só Brincadeira ?

SOLDADOS
(Renato Russo/Marcelo Bonfá)
Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira
Fingir ser soldado a tarde inteira?
Mas agora a coragem que temos no coração
Parece medo da morte mas não era então
Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
Tenho medo e eu sei porquê:
Estamos esperando.
Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Porque lutar.
Nossas meninas estão longe daqui
E de repente eu vi você cair
Não sei armar o que eu senti
Não sei dizer que vi você ali.
Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?
Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Como explicar pra você o que eu quis
Somos soldados
Pedindo esmola
E a gente não queria lutar.

domingo, 11 de abril de 2010

O Funeral da Rô Rô

Alguns cantores, eu escuto exaustivamente durante certas fases e depois os largo meio de lado. Não os esqueço nem desgosto deles, apenas deixo de visitá-los. Em um belo dia, de repente, do nada, volta a vontade de ouví-los.
Dia desses, isso se deu com a Ângela Rô Rô, a intérprete da birita, a crooner da porralouquice, a cantora dos excessos, a "Escândalo". Tenho vasto material dela, da década de 80, mas me deu vontade de conhecer os trabalhos mais recentes, os que vieram depois dela quase empacotar, bater as botas, justamente por conta dos excessos, álcool, comida, gordura, cigarro; há uns 10 anos, creio eu.
Quis saber se a Ângela Rô Rô, além da Ângela Maria Diniz Gonçalves, havia também sobrevivido ao peripaque.
Não sobreviveu.
"Emprestei" da net alguns trabalhos novos dela e os ouvi. A música ainda está lá, intacta, talvez até melhor. A letra, não! As novas letras se pretendem luminosas e otimistas, quando o diferencial da Rô Rô sempre foram os sentimentos em crepúsculo, enfumaçados, conturbados, toldados pelo álcool, destroçados pela rebordosa do dia seguinte.
Em uma das letras, ela chega a ser herética ao cantar: "... bebendo água pra lubrificar"; em outra, comemora (mas sinceramente sem me convencer) que agora não mais fuma nem bebe, que come pouco e sem sal (puta merda) e que acorda às 6 da manhã e pedala por uma hora.
Tudo bem que a Rô Rô tenha morrido e restado só a Ângela Maria Diniz Gonçalves, isso acontece, mas manter o nome da Rô Rô na capa do disco e dizer que adora água, que água é mais prazerosa que o goró, já é desrespeito à memória do morto, é manchar a reputação de quem se foi.
Tiveram melhor sorte, a exemplos, Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza, almas cujos excessos mataram também os seus corpos-continentes, Raul Santos Seixas, Renato Manfredini Junior e Agenor de Miranda Araújo Neto, respectivamente. Sorte dos que morte total sofreram, os que morreram de corpo e alma, os que foram um só defunto o criador e a criatura.
Rô Rô não teve essa sorte, morreu-lhe a alma e ficou um corpo a conspurcá-la, a difamá-la. Um zumbi.
Diante disso, fiz o que podia fazer: apaguei os arquivos emprestados da net, coloquei um vinil da Rô Rô no toca-discos e entornei uma garrafa de vinho, uma só - também ando mais contido.
Não fiquei de ressaca no dia seguinte. Nem vomitei, mas houvesse e teria sido meu punhado de terra lançado sobre o caixão da Rô Rô, minha coroa de flores, meu funeral tardio.

sábado, 10 de abril de 2010

Os Libertos Do Viaduto

Todas as manhãs, eu passo por sob um viaduto cujo "teto" serve de local de dormida para umas tantas pessoas. Acostumado que já estou, nenhuma reação mais me causam. Aos que passam por ali não tão amiúde, elas não são indiferentes. Olham a essas pessoas dormindo sob o concreto com pena, com medo, com nojo, indignação e até repulsa, alguns, como se elas estivessem ali a sujar e atravancar o caminho por onde passam.
Acredito que, independente da reação gerada em cada um, todo o passante deve pensar em como aquelas pessoas conseguem viver daquela maneira. Sem casa, sem segurança, sem eletricidade, sem água encanada, sem geladeira, fogão e etc.
Mas não creio que esses moradores de rua, pelo menos a maioria, estejam interessados em uma casa com todo o conforto moderno. Muito menos em todas as obrigações e responsabilidades para manter tal conforto. De mais a mais, eles têm lá seus papelões, suas espumas, seus cobertores sapeca-negrinho, suas pingas. E de mais, não precisam.
Não sei se eles sentem falta de um banho quente ou de roupas de cama limpa. Mas, certamente, não sentem falta de pagar aluguel, condomínio, conta de água, conta de luz, IPTU, declarar imposto de renda, cumprir horários, ter patrão, ter hora pra dormir, pra acordar, pra beber, pra cagar, pra trepar, em renovar CPF, em atualizar título de eleitor, em enfrentar filas de banco, supermercados, em cumprir convenções sociais, em demonstrar pudores.
Tenho certeza de que não sentem falta de não serem livres. Essas pessoas são as únicas verdadeiramente livres, como são os outros bichos além do bicho humano, e por isso causam em quem as vê um misto de sensações contraditórias.
Elas não chocam por sua sujeira, mau-cheiro e feiura, que todos estamos acostumados a isso. Elas escandalizam por sua total e plena liberdade.
Não estamos acostumados a ser confrontados com tanta liberdade, uma liberdade que, para nós, chega a ser imoral. Ressentimo-nos da liberdade dessas pessoas, por isso a depreciamos.
Ofende-nos tanta liberdade assim, crua, rude, primal, não depilada, cheirando a humano, de pernas arreganhadas. Esfregada em nossas ventas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ganharam O Que A Luzia Ganhou Atrás Da Horta

Ontem, em mais uma manifestação na Av. Paulista, o sindicato dos professores do estado de SP, a APEOESP, decidiu dar por encerrada a greve iniciada em 08/03.
Pergunta: o que os professores ganharam com essa greve? O de sempre: o que a Luzia ganhou atrás da horta. Mas, com certeza, ajudaram os sindicalistas do alto escalão a ganharem umas benesses do governo, uns carguinhos de confiança.
Parece que alguns professores, inconformados com a decisão de cessar a greve, jogaram ovos na presidente da APEOESP. Bando de babacas. Deveriam era jogar ovos em si mesmos, pela burrice de ir atrás do sindicato mais uma vez. Agora voltam para as suas salas de aula com os rabinhos no meio das pernas, mais desmoralizados do que quando saíram, se é que isso é possível.
Acontece que professor serve para isso mesmo - ser bucha de canhão.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Falta de Ar

Ao escrever - alguém já disse -, o escritor está, na verdade, reescrevendo-se. Não concordo.
Não há como nem razão para nos reescrevermos, para nos passarmos a limpo. Somos rascunhos incorrigíveis, somos um aglomerado de rasuras que ganhou vida um dia, subitamente. Passarmo-nos a limpo seria entrar voluntariamente numa câmara de desintegração e deixar a sogra a tomar conta do botão de acionamento.
Também não concordo que a escrita sirva para autoconhecimento de quem a grafa, que seja uma lanterna a guiar por uma redentora rota de fuga das profundezas, até porque quem escreve alguma coisa que preste quer mais é continuar nas profundezas, não quer muita coisa com a superfície e suas superficialidades.
Antes pelo contrário: escrevo para poder continuar nas profundezas, escrevo para conseguir reabastecer meus cilindros de oxigênio, para não ter de pôr o nariz à tona. Cada vez que escrevo algo de que gosto, respiro mais anchamente, inspiro, perdulário, o oxigênio, sinto meus cilindros se intumescerem de atmosfera alpina.
É isso, a propósito, o que estou tentando obter agora, um novo suprimento de ar, pois acabei de olhar para o manômetro de meus cilindros e seu ponteiro já está se engraçando com a faixa vermelha do mostrador, arauta do pouco ar.
Mas, hoje, não sei, não...
Acho que terei de dar as fuças à luz. Para um breve respiro de cachalote.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Nome Dela é Waldemar

Agora é lei. Um decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, em 18/03/2010, garante o direito aos transgêneros de serem chamados, em qualquer repartição pública, pelo nome através do qual se reconhecem, o chamado nome social.
Transgêneros são os travestis, transexuais e afins. Não confundir, por favor, com transgênicos, que são coisa séria.
Resumindo, a partir da supracitada data, todo transgênero deverá ser chamado, se ele assim o desejar, em qualquer repartição pública, pelo seu "nome de guerra". Vai que, por exemplo, o cara se chame José Roberto de Oliveira e se reconheça pelo nome social de "a borboletinha dos coqueirais", será assim que ele deverá ser mencionado em hospitais públicos, em fóruns de justiça, em escolas estaduais e etc.
Fico imaginando se isso também será válido para as circunscrições do serviço militar. O sargento adentra a sala dos alistados, com toda austeridade própria à sua patente, e começa a chamada para a inspeção : fulano de tal, siclano das tantas, beltrano da silva e, de repente, Samanta do Rego de Veludo, Michele Linguinha Ligeira, e por aí vai...
E quem se recusar em usar o nome de guerra do indivíduo será taxado de homofóbico, termo cujo emprego, aliás, é equivocado nesses casos. Fobia é medo. Eu não tenho medo de homossexuais ou transgêneros nem aversão a eles, só não tenho afinidades, só não tenho assunto, só não dá pra entabular uma prosa muito longa com eles.
Se alguém estiver duvidando de tal surrealismo, basta consultar o Diário Oficial de SP do dia 18/03/2010.
É como diz o outro: antigamente, homossexualismo era crime no Brasil, depois passou a ser tolerado, hoje é exaltado como conquista social... o negócio é mudarmos daqui antes que passe a ser obrigatório.
E é isso.
O que mais há para se dizer?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

De Quando Eu Gostava de Heróis

Li quadrinhos de super-heróis por cerca de uns 20 anos, contínua e assiduamente, dos meus 12 anos aos meus 34, 35 anos. Então os heróis foram sendo modificados, modernizados, e eu desgostei deles. Se bem que é provável que eu acabasse desgostando de qualquer jeito, mais cedo ou mais tarde, coisas de velho. Velho tem disso, vai desgostando das coisas.
Quando eu ainda gostava de heróis, o meu preferido era o Capitão América, uma figura que sempre me fascinou. E não por conta de seus poderes extraordinários, que poderes extraordinários, ele não tinha nenhum. Claro que o cara tinha força e habilidades acrobáticas e marciais bem acima da média. Nada sobre-humano, contudo. Nada que um atleta nascido com um certo favorecimento genético e com férreas dedicação e disciplina não pudesse alcançar.
Apesar disso, curiosamente, ele sempre era o líder quando a coisa ficava preta demais para só um herói resolver e os Vingadores eram convocados e reunidos. O Capitão comandava, então, seres muitíssimo mais poderosos que ele : o Homem de Ferro (um tanque de guerra ambulante), o Visão (um sintozoide com controle da densidade corpórea), o gigante Golias (de força proporcional aos seus 12 metros de altura), os mutantes Mercúrio (um velocista capaz de quase quebrar a barreira do som) e Feiticeira Escarlate (com habilidade de alterar o campo das probalidades e realizar eventos virtualmente impossíveis, o que grosseiramente chamamos de bruxaria) e até um deus, Thor, o do Trovão, o Capitão tinha ao seu dispor; e esse deus com frequência se dizia honrado em atuar sob o comando do Capitão.

O fato desses seres superpoderosos obedecerem e seguirem cegamente ao Capitão me instigava à época.

Hoje, a razão dessa subordinação a um ser aparentemente inferior é clara. O verdadeiro superpoder do Capitão América era muito mais raro do que raios repulsores, martelos encantados, bruxarias ou força titânica. O verdadeiro superpoder do Capitão era a sua retidão de caráter e conduta, suas inabaláveis e incorruptíveis moral e ética, sua lisura de princípios. O Capitão dava credibilidade àquele grupo de - no fim das contas - desajustados.

Algumas situações eram recorrentes. Quando a casa estava para cair, quando os "mocinhos" estavam prestes a serem derrotados, no meio de todo o caos comum aos cenários de batalha, o Capitão surgia. Por entre os batentes de uma porta ou no alto de um prédio. Não fazia nem falava nada.

Apenas surgia.

E nunca vinha sozinho, a luz sempre o acompanhava (até a luz), sempre havia uma alvorada às suas costas. E o tempo parava por segundos, todos - mocinhos e bandidos - estacavam aparvalhados à visão do Capitão e seu escudo, todos "cagavam nas calças", nas palavras de um amigo meu. E esses poucos segundos eram os necessários e suficientes para os mocinhos virarem o jogo.
E daí que o cara veste o lábaro estadunidense? E daí que o cara vista uma bandeira? Todos não temos que vestir uma?
Talvez por isso eu gostasse tanto do Capitão. Ele não era o mais forte ou o mais rápido, ele era o mais probo e confiável, era o CDF dos super-heróis, o caxias. Eu não podia voar, lançar raios e nem era superforte, mas CDF eu podia ser.

E acho até que me dediquei em desenvolver a honorabilidade do Capitão durante algum tempo, por alguns e longos anos. Ser também um baluarte da integridade e da decência.
Eu deveria ter mais me dedicado em desenvolver uma fórmula que me conferisse poder de voo, superforça e invulnerabilidade. Ou peregrinar até um mosteiro no Tibet onde um monge me revelaria os segredos da invisibilidade, telepatia e telecinese. Ou me deixar picar por uma aranha ou qualquer outro inseto radiativo.
Em qualquer uma dessas improváveis empreitas, minhas chances teriam sido maiores.