segunda-feira, 29 de abril de 2013

De Noite, Eu Rondo a Cidade a te Procurar...

Ronda
(Paulo Vanzolini)
De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio em todos os bares
Você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você está
Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, esta busca é inútil
Eu não desistia
Porém, com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando um dadinho
Jogando bilhar
E neste dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida são joão
 (Paulo Vanzolini, 1924 - 2013)

domingo, 28 de abril de 2013

O Rato Que Tem Medo

Quando de meus bons tempos de escola - e digo como aluno, obviamente -, não havia a esdrúxula e inútil figura do coordenador pedagógico.
As escolas eram regidas, e muito bem regidas, pelos diretores - bons diretores -, pelos inspetores - bons inspetores - e pelos professores - bons professores em sua maioria, outros nem tanto, mas todos muito bem pagos, o que logo de cara já lhes conferia o respeito da população, que, inculta, só respeita quem ganha bem.
Saí da escola em 1984, por conta da conclusão de meu Segundo Grau, sem conhecer a figura do coordenador pedagógico. Só comecei a ter o desprazer de conhecê-la - e jamais pude, na época, imaginar o grau de desprazer a que isso chegaria - exatos dez anos depois, quando, sabe-se lá por quais manobras do Destino, esse velho safado, peguei-me novamente em sala de aula, como professor, então.
A pessoa se apresentou a mim como tal, toda educada, cortês, boazinha e afável - todo canalha é educado, cortês, bonzinho e afável -, disse-me de suas funções de coordenadora para comigo e me deu até um papelzinho com suas atribuições por escrito :  I - acompanhar e avaliar o ensino e o processo de aprendizagem, bem como os resultados do desempenho dos alunos;II - atuar no sentido de tornar as ações de coordenação pedagógica espaço coletivo de construção permanente da prática docente;
III - assumir o trabalho de formação continuada, a partir do diagnóstico dos saberes dos professores para garantir situações de estudo e de reflexão sobre a prática pedagógica, estimulando os professores a investirem em seu desenvolvimento profissional; IV - assegurar a participação ativa de todos os professores do segmento/nível objeto da coordenação, garantindo a realização de um trabalho produtivo e integrador;
V - organizar e selecionar materiais adequados às diferentes situações de ensino e de aprendizagem;
VI - conhecer os recentes referenciais teóricos relativos aos processos de ensino e aprendizagem, para orientar os professores; VII - divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis.
Nunca entendi patavina do idioma pedagogês, e nunca fiz questão de, e nunca farei. Mas  me pareceu que o tal professor coordenador fosse um aliado do docente, um amigo a ocupar um escalão mais alto dentro do território cada vez mais hostil em que se transformava a escola pública pós-ECA e pós-Progressão Continuada.
Mera ilusão de minha parte. Ingenuidade da mais vergonhosa, devo admitir. Nunca, nunca tive nenhum coordenador que desempenhasse minimamente o papel de aliado do docente. Todos, sem única exceção, ou por comodismo, ou por conveniência, ou por incompetência, ou pelos três motivos, uma vez que todo incompetente é conveniente acomodado, resumiram suas funções a uma única : vigiar o professor, e humilhá-lo sempre que possível.
O professor coordenador nada faz de pedagógico, ele é uma espécie de capitão do mato dos antigos senhores de escravos, e os escravos, desnecessário dizer, são os professores. Pior : o professor coordenador é aquele escravo que foi levado para mais perto de seu amo e senhor, é o escravo que foi levado a trabalhar dentro da Casa Grande, continua o mesmo bosta de escravo, mas a proximidade com quem detém o poder, com a mão que empunha o chicote, o faz se pensar também depositário desse poder.
O dono do chicote, vez ou outra, empresta o açoite ao coordenador, e ele se regozija, usa-o com enorme destreza contra quem era seu igual até ontem, chicoteia o escravo com mais prazer ainda que o próprio dono, como se chicoteasse sua própria condição anterior de escravo das senzalas, para afugentar de vez essa situação, para impedir a todo custo seu retorno a ela. O professor coordenador se esforça em mostrar que gosta menos dos escravos que o próprio senhor de escravos, para que o amo nunca o mande de volta à senzala, para que o mantenha sempre a lamber suas botas e seu saco.
Isso acontece porque os professores coordenadores foram um dia professores dos mais incapazes, professores totalmente incompetentes no domínio de uma sala de aula, seja por falta de conteúdo, seja por falta de pulso firme, de postura, ou o que seja. Os professores coordenadores são professores frustrados. Feito um crítico musical que desanca um bom disco, sem nunca, ele próprio, ter conseguido compor única melodia, por pura inveja; ou um crítico de cinema a dar uma só estrela a um filme, sem nunca ter conseguido escrever único roteiro, ou rodar única película.
O professor coordenador vê um bom professor e se irrita, morre de inveja da capacidade desse, capacidade que ele, um dia, quis ou julgou ter, mas descobriu-se um sem talento. Então, geralmente amigo de algum diretor ou de outro coordenador, ajeita uma mamata e se autopromove a coordenador. Daí para frente, lenha em quem tem o talento que ele não tem. Não à toa os professores coordenadores vivem a dizer que os professores não sabem avaliar, não sabem preparar aulas, não sabem isso, não sabem aquilo. Estão dizendo de si próprios, os canalhas, os traidores.
E uma ou duas vezes por semana, os coordenadores põem no tronco e chicoteiam seus professores, a sessão chibata ocorre nos tais HTPCs, reuniões de cunho falsamente pedagógico. Os HTPCs são os momentos em que o professor fica sabendo que todos os males da escola, quiçá do mundo, são de sua culpa e responsabilidade, são os momentos em que o professor é reduzido a menos que a merda do cavalo do bandido de filmes de faroeste.
Nos HTPCs, os coordenadores despejam todas as suas frustrações sobre o professor, despejam, como bem diria Lobão, a sua ira da frustração de não ter o próprio pau ereto. Grande Lobão.
E por que o governo coloca esse tipo de gente a liderar os professores? Um frustrado e incapaz não seria a pior espécie de lider possível? Claro que sim. Mas quem disse que o governo quer líderes para seus professores? Ele quer é vigias, punidores. E aí, o frustrado é a escolha perfeita.
O frustrado, imbuído de um pequeno poder, não lidera, apenas manda. Ele tem um poder circunstancial, o chicote emprestado, como bem diz o texto que logo reproduzirei.
Hoje, porém, vivemos tempos de politicamente correto, e a humilhação pública do professor não pode ser muito direta, muito contundente, ela tem que ser mais polida, mais subjetiva, mais canalha ainda. E para isso, para humilhar polidamente o professor, os coordenadores adoram se utilizar de pequenos textos, de pequenas fábulas com moral da história, usam-nas o tempo todo para mandar suas indiretas ao professor, suas farpas. Rubem Alves, Paulo Coelho, Gabriel Chalita, Paulo Freire etc são os autores que mais auxiliam o coordenador em seu acoitamento pedagógico.
Usando as mesmas armas que eles, reproduzirei - finalmente - abaixo um texto que trata muito bem dessa questão do chefe incapaz, que manda sem liderar, e, ao fim do texto, escrita pelo genial e imortal Millôr Fernandes, uma fábula moderna, O Rato Que Tem Medo.
A fábula se encaixa perfeitamente aos professores coordenadores de todo esse nosso Brasil, que já foi mais varonil.

"Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber, conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e independentemente do fundamento dessa probabilidade.
Um dos exemplos mais simplórios e também um dos mais anacrônicos do exercício do poder está manifestado no membro administrativo de algumas corporações, com grau hierárquico executivo identificado simplesmente como “o chefe”.
“O chefe” é o personagem muitas vezes caricato que, encarnando o detentor de alguma forma de poder, tem muitas vezes seu grau de hierarquia oficializado por títulos sugestivos, tais como coordenador, gerente, diretor, supervisor, etc.
Independentemente do título, ser chefe é ter acesso privilegiado às informações e às decisões, e também a outros instrumentos administrativos que viabilizam o exercício desse poder, tais como a promoção e a demissão de seus subordinados, por exemplo.
No Brasil das corporações anacrônicas é comum se ouvir nos bastidores:
- O chefe tem sempre razão!
- Manda quem pode – e obedece quem tem juízo!
 E por aí vai.
 A infelicidade de tal prática, onde chefe é chefe e subordinado é subordinado (sendo a diferença muito nítida também no montante dos salários) geralmente está acompanhada pelo autoritarismo de uma parte e a subserviência da outra.
Talvez uma herança atávica do feudalismo, o exercício do micro poder diário das chefias nos convida a um questionamento filosófico também sobre o exercício diário da ética, que se traduz, na interpretação de muitos filósofos modernos, como sendo simplesmente o exercício da moral.
 Muitos chefes possuem um poder circunstancial. Mandam mas não lideram.
 E talvez por falta dessa mesma liderança ameacem, intimidem e se transmigrem amiúde na versão tragicômica de pequenos tiranos.
 Em síntese: um rato que ruge.
 E o que é pior, é que muitos desses chefes tiranos brotaram do plano comum de seus subordinados.
Quando então promovidos simplesmente “mudam de lado”.
 Talvez porque na maioria das corporações onde exista um chefe tirano, também existam subordinados que trabalhem direito apenas quando contam com uma “severa” supervisão.
 Flagra-se, portanto, a carência de moral, tanto de uma parte como de outra.
 Qual é a solução?
 Melhorando-se o subordinado, transformando-o em colaborador se melhoraria também a chefia?
 Ou trocando-se um chefe por um verdadeiro líder, a coisa toda mudaria de figura?
 Será?
Ou é do indivíduo que temos de falar – antes de mais nada?
 Para concluir este artigo e suscitar essa fabulosa reflexão – quero apresentar aqui minha releitura recorrente de uma das “Fábulas Fabulosas” de Millôr Fernandes:
  
“O rato que tem medo”
 A história é bem simples. Um rato que depois de muito sofrer pede para um grande mágico transformá-lo em um gato. Não suportava mais ser perseguido e intimidado.
 Nem bem foi transformado, ironicamente, passou a perseguir todos os ratos que encontrou. Porém, com inédita crueldade e efetiva precisão. Afinal conhecia com propriedade o modus operandi destrutivo dos ratos.
Viveu satisfeito até encontrar um cão – que então o persegue.
 Implora mais uma vez para que mágico o transforme, dessa vez em um cão, e assim, por efeito da magia vai subindo sucessivamente a escala zoológica até chegar na iminência de ser transformado em ser humano.
 Nessa passagem, o mágico, numa peripécia o transforma novamente num rato.
 - Mas por que voltei a ser rato?  – pergunta o animal, transbordando frustração.
 É com a sabedoria típica das fábulas que o Grande Mágico responde:
- De que adiantaria para o mundo mais um Homem com “coração de rato”!

Retirei o texto do excelente blog Hypescience. Desafio qualquer professor coordenador a usar essa fábula de Millôr em seus HTPCs.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Caxirola : Agora a Taça do Mundo é Nossa

Como já bem dizia Abelardo Barbosa, o Chacrinha, garoto levado da breca, nada se cria, tudo se copia, ele próprio a copiar Lavoisier. Sobretudo no Brasil, sobretudo pelo brasileiro.
Não bastasse a próxima Copa do Mundo da Fifa ser no Brasil, não bastasse o mascote do evento ser um tatu-bola batizado de Fuleco, que, em várias regiões do nordeste, significa ânus, o famoso cu, não bastasse tudo isso, foi lançado nessa semana o "instrumento" com pretensões de substituir a hedionda vuvuzela da Copa da África do Sul, aquela desgraça daquela corneta, aquele artefato do neolítico, aquela trombeta dos infernos assoprada pelos africanos desdentados nas comemorações dos gols.
E por que a necessidade de substituir a vuvuzela? E por que não a necessidade de imitar os países civilizados, suas qualidades de vida, suas produções culturais e científicas?
Perguntas retóricas à parte, volto ao assunto. Há três dias foi lançada a irmã brasileira da vuvuzela, a afrodescendente do cornetão : a caxirola.
"Criação" de Carlinhos Brown (e de quem mais poderia ser?), a caxirola é uma espécie de chocalho inspirado (copiado, querem dizer) em um outro - surpresa - chocalho, o caxixi, usado nas rodas de capoeira.
Carlinhos Brown, grande músico e cara de pau, disse ter tido preocupações ecológicas e acústicas na "concepção" da caxirola. A caxirola é confeccionada em plástico e contém bolinhas de material sintético no interior, o que, segundo Brown, é mais ecológico que o uso do bambu, da palha e das sementes utilizados na feitura do caxixi da capoeira. O uso do plástico é mais ecológico que o do bambu e o da palha? Só se for na terra de Carlinhos Brown, que nem quero saber onde é.
Brown informou ainda que houve preocupação para que o som emitido pela caxirola não fosse desagradável aos ouvidos, como no caso das vuvuzelas : "A caxirola respeita os limites sonoros. Ela reproduz sons da natureza, do mar, por isso trabalhamos com os melhores engenheiros acústicos para que o som fosse gostoso, agradável."
Há, há, há, há!!! Devo admitir, o cara é bom, o cara tem as manhas : limites sonoros, som do mar... Toda uma equipe de engenheiros acústicos para projetar um chocalho de capoeira. Pãããããta que o pariu!!! Quem acredita nisso? Acho que nem o Brown. Mas o brasileiro acredita, ô se acredita! E que delícia deve ser o som, hein? Cem mil rodas de capoeira tocando em uníssono. A Filarmônica de Berlim está a se roer de inveja.
Na apresentação oficial do instrumento oficial da Copa de 2014, Brown tocou o Hino Nacional com duas caxirolas. Foi aplaudido e aprovado pela presidente Dilma Rousseff, que também se arriscou em dar sua tocadinha na caxirola. Abaixo, Carlinhos Brown em plena presepada, a fazer uma demonstração de sua "cria", pura macumba pra turista.
A FIFA tentou proibir o instrumento em março de 2013, alegando que o mesmo poderia ser usado como arma ou como veículo de publicidade (colantes na caxirola). E é verdade. A empunhadura do instrumento é, sem tirar nem pôr, idêntica à de um soco inglês. Mas a tentativa de veto da FIFA foi derrubada por interesses outros, sempres escusos no Brasil, ou ocultos, que o diga Jânio Quadros.
E é isso. Comentar mais o quê? Apenas perguntar : quanto de recurso governamental, de dinheiro público, Carlinhos Brown embolsou para fazer essa palhaçada? Quanto do Ministério do Esporte foi desviado para Carlinhos tocar contente o seu chocalho? Quanto foi roubado de nossos bolsos para o baiano incrementar sua moqueca e seu vatapá e nos presentear com essa dádiva, com essa obra de arte tupiniquim, que, não duvidem, logo será tombada como parte do Patrimônio Cultural?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Deus Neymar Vos Diz : Não Estou Nem Aí

Hoje, ao chegar ao meu chamado local de trabalho, notei um grupo envolvido em controvérsia, em burburinho, em exaltada indignação.
Pensei até (já sabendo que não) que estivessem a falar sobre a natimorta greve em que a categoria mais uma vez se lançou, ou sobre o preço do tomate e do feijão, ou da declaração do IR.
Resolvi perguntar, cutucar a onça com a vara curta, cutucar a minha própria onça na verdade, irar minha onça interior, não sei por quê, mas não consigo deixar a bichinha quieta, acho que gosto de ouví-la rugir pela minha boca.
Responderam-me, você não viu? O Brasil?
Que tem o Brasil ? - minha onça já a bocejar e a se alongar como só os gatos sabem fazer.
O Brasil, porra. Empatou com o Chile.
Empatou com o Chile em quê? - minha onça já a desembainhar as garras.
No futebol, claro. 2 a 2, uma vergonha, um time daquele... e blá-blá-blá.
De pelos eriçados e riso sanguinário, minha onça dá o bote : todo mundo aqui é professor, o Brasil perde para o Chile, de longe e há tempos, em educação, cultura e IDH, há décadas levamos de goleada do Chile, Uruguai e Argentina, e a revolta de vocês é porque empatamos na merda do futebol?
Geralmente, ninguém retruca às minhas provocações. Não sei qual é ela, mas tenho uma certa fama, uma má fama, que coíbe as pessoas de me refutarem. Então, um dos mais novinhos, mais um dessa nova leva de desaprendizes, ou que não me conhece, ou que não dá muito crédito à minha lenda, complementou e esclareceu : o pior foi o que o Neymar disse sobre a vaia da torcida, você não viu (sic) o que o Neymar disse?
Se eu ouvi o que o Neymar disse? Deveras. O rapazinho estava mesmo a se arriscar com minha onça. 
O que o Neymar disse? - eu indo fundo no absurdo matutino, testando ao máximo os limites de minha zooantropomorfização.
O Neymar disse que não estava nem aí para as vaias, desabafou o rapazinho.
O problema era esse, então. O deus Neymar havia negado o milagre aos seus fiéis, e ainda zombado de suas fés. O deus Neymar estava cagando e andando para os seus devotos.
Mas, enfim, quem é Neymar? Melhor : o que é Neymar?
Olhemos para ele desprovidos de qualquer tipo de paixão nacional doentia, ou de qualquer ilusão que ele nos traga a consagração mundial, olhemos para Neymar como se ele fosse qualquer um a passar por nós na rua.
Neymar seria apenas mais um miserável outro qualquer. Ora com cabelo moicano, ora com chapinha, ora com lentes de contato coloridas, ora com brincos, ora com piercings, ora com tênis ou amarelos ou azuis ou vermelhos, sempre um néscio, pura imagem, nenhuma essência.
Neymar seria apenas mais um desses jovens de hoje, acéfalos, semianalfabetos, fúteis e imediatistas, sem nenhum método ou disciplina de vida, embotados por uma tecnologia da qual nada sabem, mas pensam(?) que dominam, consumidores vorazes do inútil e do vazio, sem personalidade, indefinidos, uma mistureba genética que a natureza jamais selecionaria para perpetuar a espécie, que nada tem de bom para ofertar ao mundo, nem mesmo devolver.
Acontece que Neymar nasceu - dizem os entendidos - com uma incrível "habilidade" nos pés. Nos pés!!! Pããããta que o pariu!!! Nos pés.
O grande diferencial da espécie humana são as mãos, justamente as antípodas dos pés, elas é que nos separaram minimamente dos outros animais. A mão humana é a melhor ferrramenta já produzida pela evolução, ela é única na natureza, particularmente nosso polegar, que se articula em oposição aos demais dedos.
O polegar oponível é que confere à espécie humana - e a mais nenhuma outra - a capacidade de bem manipular objetos. A mão humana é nossa ferramenta suprema. E uma vez de posse de uma ferramenta, o passo natural seguinte é pensar em maneiras de utilizá-la. Pensar!!!
A maravilhosa ferramenta mão humana pôs o bicho homem a pensar sobre como explorar suas infindáveis possibilidades. Os evolucionistas afirmam que devemos o desenvolvimento de nossa inteligência ao polegar oponível, à mão. Pensar sobre o que fazer com essa, então inédita, ferramenta, foi o fator que desencadeou o aflorar de nossa racionalidade. Nosso cérebro superior se desenvolveu para atender às necessidades da mão, e não o contrário.
A mão - para o bem e para o mal - nos trouxe onde chegamos, fez-nos o que somos.
E aí vem (quase) um país inteiro e passa a idolatrar um sujeito cujo único talento é uma suposta habilidade onde? Nos pés!!! Pããããta que o pariu, de novo. Seria o quê? Saudade dos topos das árvores? Uma necessidade inconsciente de voltar ao útero evolutivo? Ou só burrice, mesmo?
E aí, um belo dia, de repente, sem mais nem menos, um cara desse, sem conteúdo, sem estofo, sem graça, sem nenhum atrativo, acorda feito em deus da nação canarinho, da pátria de chuteiras. Claro que o cara vai ficar prepotente, mais idiota do que já era, vai se achar a azeitona da empada, mascarado, para usar o jargão futebolístico.Tamanho é o poder que lhe foi investido, que todos os outros passam a lhe parecer insignificantes, não existe torcida, não existem os outros jogadores, não existe o árbitro, não existe nem o adversário, só existe ele, o deus Neymar.
Cria corvos e eles te arrancarão os olhos, diz o velho provérbio espanhol, provavelmente basco. Ou, como diz meu amigo Fernandão, corno e filósofo, não se pode pintar o urubu de branco que ele já acha que é cisne. Grande Fernandão.
O problema, então, era esse, Neymar dissera que não estava nem aí para torcida. Estava cagando na cabeça de seu rebanho. Ora, pensei eu, e não é exatamente isso o que um deus faz, caga na cabeça de seus adoradores?
Olhei novamente para o indignado rapazinho e minha onça se amansou, julgou que o estripamento não valia a pena, foi beber água, era a hora de. Eu apenas lhe falei : E quer saber? Vocês bem que merecem o que ele disse. E gostam.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Igreja Universal do Reino da Deusa, Linda, Poderosa, Absoluta!!!

Muito longe de significar o fim das hostilidades entre gays e evangélicos, a inauguração de uma nova igreja na zona leste da capital paulista, a acontecer no próximo sábado (27/04), parece representar, ao menos, o início de uma promissora amizade entre essas duas minorias que se odeiam, um flerte para talvez uma futura trégua, um armistício.
A cidade de São Paulo receberá a primeira sede da Igreja Cristã Contemporânea (ICC), conhecida por dar o maior apoio (como bem diria o seu Peru, da Escolinha do Professor Raimundo) à causa gay. 
Fundada em 2006 pelo casalzinho Fábio Inácio de Souza, 33, e Marcos Gladstone, 37, a igreja tem atualmente seis templos no Rio de Janeiro e um em Minas Gerais, sob o slogan "Levando o amor de Deus a todos, sem preconceitos". Inácio é ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
Segundo seus fundadores, a ICC conta atualmente com 1800 membros espalhados por todo o país. E acho que só membros, mesmo. Buça, nenhuma, nem pensar. É pecado.
A nova sede da ICC tem tudo para dar certo em São Paulo, tem tudo para virar o novo point da moçada colorida. Vai ser uma coisa de doido, missa vai virar rave, hóstia vai virar ecstasy, e confessionário, dark room. A eleição do Papa Gay será anunciada não por uma fumaça branca, e sim colorida, com todas as cores do arco-íris, cheia de glitter e purpurina.Vai ser uma doideira, vai sobrar cajado de Moisés e faltar Mar Vermelho a ser aberto, vai sobrar cobra e faltar maçã.
Só não sei como eles farão para driblar as condenações explícitas ao homossexulismo contidas na Bíblia. Editarão a Bíblia? Excluirão tais passagens do livro sagrado? As reescreverão? 
E por que não? Não foi exatamente isso que a Igreja Católica fez na Idade Média, escondeu evangelhos que não lhe convinham e providenciou a feitura de outros de acordo com suas necessidades? 
Confesso que num primeiro momento, assim que li rapidamente a reportagem, causou-me estranheza essa inusitada união, gays e evangélicos, uma vez que, publicamente, são inimigos figadais. Depois, vi que faz todo o sentido.
São, esses fiéis da ICC, uma nova geração de evangélicos e de gays, com uma visão mais global, digamos assim, do mundo, uma visão quase que empresarial das possibilidades entre as relações humanas. 
O gay percebeu que o evangélico pode até ser meio doido, fanático e tal, mas que também tem um pau entre as pernas, e isso muito lhe interessa, abre-lhe novos horizontes de caça; o evangélico pode até achar incômodo o bafo na nuca e desconfortável beijar para trás, mas sabe que o gay tem alto poder aquisitivo, e que pode pagar um polpudo dízimo.
A Igreja Cristã Contempôranea passa à frente de seu tempo e junta o melhor dos dois mundos (melhor para eles, que fique bem claro), une o útil ao agrádavel (para eles, de novo). E tudo com as bençãos de Jesus, que outrora realizou o milagre da multiplicação dos pães, hoje faz o da multiplicação das roscas, queimadas, tudo queimada. A situação também não anda das melhores pro Cristo, devo admitir.
Abaixo, o casal fundador da ICC. Quem será o bispo, quem será a bispa? Ao fundo, as nuvens do prometido reino da Deusa, linda, poderosa, absoluta!!!

domingo, 21 de abril de 2013

Mimetismos (5)

As fotos abaixo (1 e 2 ) pertencem à planta Orchis italica, um tipo de orquídea que floresce em cachos.
A foto 1 (superior) mostra um cacho inteiro de flores e a foto 2 (inferior), em detalhe ampliado, algumas flores do cacho. É evidente e assombrosa a semelhança com a figura humana. Cabeça, tronco e membros; membros, mesmo. Até o famoso bráulio, a florzinha possui, o que lhe valeu seu nome popular, orquídea-homem.
A natureza é de fato uma brincalhona, uma pândega, uma puta duma sacana. Sacaneia a todos, sejam do reino animal, sejam do reino vegetal. Mesmo entre as inocentes florzinhas há as mais "guarnecidas" e as mais desvalidas, há também kids bengalas e japoneses no reino Plantae.
A orquídea-homem é nativa de toda a região Mediterrânea, tendo especial predileção por Portugal (o estreito de Gibraltar é só um detalhe), a santa terrinha, a nossa Pátria-Mãe, onde ocorre na Beira Litoral, Beira Alta, Ribatejo, Estremadura, Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve.
Os portugueses, porém, rômanticos e sentimentalistas por natureza, filhos de Camões, Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Eça de Queiroz e outros, desconhecem-na pelo prosaico nome de orquídea-homem, guardam-lhe epíteto muito mais poético, chamam-na de a flor-dos-macaquinhos-dependurados. Bonito pra caralho, não é? Por essas e por outras, dá até vontade de morar em Portugal, quanto ao buço das portuguesas, é só raspar, ora pois!
No Brasil, bem que poderia ser chamada de orquídea-de-jorge-tadeu, em alusão ao folclórico personagem de Fábio Jr., que, depois de morto, sempre aparecia em espírito para suas ex-amantes, totalmente nu e a segurar um grande antúrio na região do cacete. O antúrio é chamado até hoje de flor de jorge tadeu.
Recentemente, a orquídea-homem foi aclimatada pelos floricultores europeus e hoje é produzida em escala comercial nas estufas de todo o velho continente. A orquídea-homem lidera os pedidos nas floriculturas europeias, sobretudo na Holanda, Bélgica e França. A flor foi tornada em símbolo da união estável homoafetiva, o famoso casamento gay. Nove entre dez casamentos de veadinhos campeiros ostentam buquês e mais buquês de orquídeas-homem em sua decoração.
Pãããããta que o pariu! A natureza é uma sacana, reitero. Mas o bicho homem superou o mestre. De longe. E há tempos.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Bukowski, o desalmado

Alma
oh, como eles se preocupam com minha
alma!
recebo cartas
o telefone toca...
"você vai ficar bem?"
perguntam.
"ficarei bem", eu lhes digo.
"já vi tantos se afundarem na sarjeta",
eles me dizem.
"não se preocupem comigo", digo.

ainda assim me deixam nervoso.
entro e tomo uma chuveirada
saio e espremo uma espinha do
nariz.
então vou até a cozinha e preparo
um sanduíche de salame e presunto.
eu costumava viver de doces baratos.
agora tenho mostarda alemã importada
para passar no sanduíche. devo estar em perigo
por causa disso.

o telefone segue tocando e as cartas seguem
chegando.

se você vive dentro de um ármario na companhia de ratos
e come pão velho
eles gostam de você.
você passa a ser um
gênio.

ou se está num manicômio ou
detido numa delegacia
eles o chamam de gênio.

ou se você está bêbado e não pára de gritar
obscenidades
vomitando as tripas no
chão
você é um gênio.

mas experimente pagar o aluguel um mês
adiantado
vestir um novo par de meias
ir ao dentista
fazer amor com uma garota limpa e saudável
em vez de pegar um puta
e você vendeu sua
alma.

não estou minimamente interessado em perguntar como
vão suas almas.
suponho que era o que eu deveria
fazer.
Charles Bukowski

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ninguém é de Ferro, Nem o Homem de Ferro

Tony Stark tira onda que é cientista espacial, mas também é Homem de Ferro, elétrico, atômico, genial. 
E gosta duns peitões! Que ninguém é de ferro, nem o Homem de Ferro!
Robert Downey Jr./Tony Stark, na cerimônia de lançamento de Homem de Ferro 3, num cinema em Londres, não resistiu ao decote da bela atriz britânica Rebecca Hall e grudou as vistas nos peitos dela, embasbacado.
Tony Stark parece hipnotizado. Ou magnetizado, eu deveria dizer? Terá, a atriz, um imã no decote?

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Solução Para a Superlotação Carcerária

A delegacia do município de Nova Cruz (RN), a 93 km de Natal, encontrou uma criativa, prática e, sobretudo, barata solução para a falta de vagas na carceragem. Baratíssima, aliás. Que dinheiro público tem que ser investido maciçamente em educação e saúde, não em vagabundo.
Uma vez que a delegacia funciona em uma casa adaptada e não possui nenhuma cela, o delegado Normando Feitosa teve que improvisar. E fez isso de maneira genial. Chumbou barras de aço às paredes dos corredores da delegacia e prende os criminosos algemados a elas. Uma única barra dá para quatro ou cinco presos.
Eles passam o dia todo nessa posição, alimentam-se usando apenas uma das mãos e são acompanhados ao banheiro por investigadores e agentes penitenciários; para dormir, são transferidos a um Batalhão da Polícia Militar, o que, na minha opinião, já é dar mordomia demais a eles.
Claro que os defensores dos chamados direitos humanos, sempre de prontidão a defender a bandidagem, já começaram a criticar a iniciativa da delegacia de Nova Cruz.
O juiz Esmar Custódio Vêncio Filho, do Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins (TJ-TO), designado pelo CNJ para a coordenação do mutirão carcerário : "É uma situação desumana, porque os presos ficam em uma posição desconfortável durante a maior parte do dia. Além disso, quando eles tentam descansar os braços que estão algemados e suspensos, ferem os pulsos com as algemas. É uma situação insustentável, não há como justificar"
Desumana? Discordo. Estão desconfortáveis, os coitadinhos? Machucam os pulsinhos? Perguntem às vítimas deles se, por acaso, eles as deixaram em posição mais confortável. Perguntem se eles se preocuparam em não ferí-las.
Não tem como justificar? Concordo. Não há como nem porquê. Não tem que justificar, tem é que elogiar, tem é que dar uma medalha ao delegado de Nova Cruz, Normando Feitosa, cabra macho dos bons.
Reeducar bandidos? Isso não existe. Reeducar subentende que, em algum momento da vida, eles foram educados. Não foram. Ou até alguém - pais, família, escola - se propôs a, mas eles não quiseram. Agora é tarde, é irreversível.
Cachorro velho não aprende truque novo. Prisão não tem nada que educar. Não dá pra educar. Prisão tem que ser o inferno em vida. Para que o sujeito, por medo do inferno, pare de praticar seus crimes; crimes que, através de simples trabalho de conscientização, como querem psicólogos e pedagogos, ele jamais deixará de cometer.
O inferno funciona. Que o digam os cristãos. 

Sempre Pronto

Tomo minha garrafa de café matinal, inteira
Amargo, preto, fuliginoso :
Anticorpo e munição para pôr o pé à rua.

Tomo meu meio copo de vinagre matinal, de um só gole
Alma azeda de frutas
Mijo fermentado de Baco.
E para no hálito não deixar traço
Centrifugo a boca com antisséptico bucal.

Tomo um banho
Passo o sabonete no pau,
E estou pronto.
Pronto para ir ao que eles chamam de trabalho
Pronto para ir ao que eles chamam de vida.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Angelina Jolie e o Cavalo (Ou : Dou-lhe Uma, Dou-lhe Duas, Dou-lhe Três)

Não há admirador de Angelina Jolie que desconheça a polêmica foto em que a atriz, seminua, então com apenas 25 aninhos, posa junto a um sortudo cavalo.
Angelina toma o cavalo pelo cabresto e puxa a cara dele para o meio dos seus peitões, ao mesmo tempo em que tomba sua cabeça e negra cabeleira para trás, em êxtase, no rosto, um ar de puros deleite e regojizo. A simular talvez um ato de zoofilia, ou, no mínimo, de um modo mais sutil, a sugerir uma lascívia e um furor útero-clitoriano tamanhos que só um homem com as qualidades e a pujança de um cavalo poderia aplacar.
Na foto, no braço esquerdo, alguém ainda notou a presença de uma antiga tatuagem com o nome do ex-marido de Jolie, Billy Bob Thorton, agora já removida. A Jolie peladinha e o cara acha o nome do antigo macho dela tatuado. Só pode ser um eunuco.
Nunca antes exposta, a foto de autoria de David LaChapelle vai agora a leilão. Estão previstos um lance mínimo de 25 mil libras e um valor máximo em torno de 35 mil libras, algo entre R$ 76 mil e R$ 107 mil.
Mas eu acho que os lances atingirão patamares muito mais altos, as previsões se mostrarão modestas. Jolie faz subir qualquer lance. Os lances, rapidamente, irão subir, subir, subir... Até que o martelo do leiloeiro dê por encerrada a disputa : dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três...vendido!
O martelo do leiloeiro, esse inapetente, deu-lhe apenas três, Jolie.
Mas a Marreta do Azarão jamais a deixará na mão, bela Angelina: dou-lhe quatro, dou-lhe cinco, dou-lhe seis... quantas você quiser.
Aiôôô, Silver! (Ou : pocotó, pocotó, pocotó)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ler é Um Tesão!

Ao contrário do que certa vez disse o ex-talvez-futuro-de-novo-presidente Luis Inácio Lula da Silva - analfabeto desprezível eleito por desprezíveis analfabetos -, ler não é chato. Ler é tudo, menos chato.
Já li muito; em comparação a essa época, hoje praticamente não leio. Por falta de tempo em horário comercial, digamos assim, e por falta de vigor físico para varar as madrugadas, que é quando dormem as obrigações e nos desperta o tempo livre, a desbravar páginas amareladas e linhas esmaecidas.
Ler instrui, ilustra, desperta, instiga, dignifica, até. E ler também pode ser um tesão!
Essa é a ideia defendida e propagada pelas integrantes do Outdoor Co-Ed Topless Pulp Fiction Appreciation Society (OCETPFA), um clube de mulheres que se reúne pelas praças e parques públicos de Nova York para usufruir do prazer de uma boa leitura ao ar livre. Detalhe : aproveitando as temperaturas mais aprazíveis da primavera nova-iorquina, elas leem seus livros com os peitos de fora - o topless é legalizado na maior cidade americana.
Elas ficam lá, sentadas no bancos dos parques, deitadas em toalhas nos gramados, conversando descontraidamente, empunhando seus calhamaços, tomando um solzinho, e exibindo seus peitões.
Desconheço evento cultural - feira do livro, noite de autógrafos, sarau, ou coisa que o valha - que possa fomentar mais o gosto pela leitura que o clube de leitura do topless
Elas deveriam receber verba pública do ministério da educação. E o melhor : são peitões americanos, air bags de respeito, tetões anglo-saxões da melhor qualidade. Bem diferentes daquelas muxibas ucranianas das recalcadas do Femen; fossem as meninas do Femem a praticar a leitura de topless, o número de analfabetos só faria aumentar mundo afora.
Os títulos preferidos das meninas são os novos livros de Stephen King e Elissa Wald. E importa? Com uns peitões desses, elas poderiam ler até Paulo Coelho e Rubem Alves. Que estaria tudo certo.

domingo, 14 de abril de 2013

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(17)

Tecnicamente, eu não gosto do som sertanejo, e ponto. Porém, algumas músicas sertanejas, devo dar o braço a torcer, são clássicos; incontestes, insuperáveis e imortais registros fonográficos da mais pura cornagem e da mais autêntica dor de cotovelo.
É o caso de "Na Hora do Adeus". A presença da palavra Adeus no título já prenuncia algo da pungência que se seguirá. Adeus é foda. Não é tchau, não é até logo. Adeus é taxativo e categórico. Não deixa margem nem espaço a um reencontro, não deixa o quarto montado esperando por um retorno.
Adeus é definitivo, e o ser humano evita o definitivo o quanto pode, o definitivo é o fim, tem gosto de derrota, de incompetência; talvez por a morte ser definitiva, e o fim.
Adeus não é bye, bye, so long, farewell, como possa supor Guilherme Arantes, outro especialista em cornagem. Até mais..., até um dia..., a gente se vê..., deixam indefinições no ar, deixam reticências a marcar uma trilha para o caminho de volta, feito as migalhas de pão deixadas ao longo do caminho por João e Maria. O adeus não deixa trilha de migalhas, não deixa reticências, que se algo de bom pode ser dito do adeus, é isso, ele nos livra das hediondas reticências.
Por isso, para o sujeito se decidir pelo adeus é porque a testa e o pescoço não mais suportam o peso do chifre. O adeus só vem depois do cara ter sofrido muito, pastado feito burro velho, o adeus nunca é fortuito ou leviano, ele é um condensado terrível de decepções e de dores.
Diz a música em certo trecho : Na hora do adeus, você olhou pra mim,  e não acreditou ao ver chegar o fim, e perguntou, Porque? Mas eu não respondi, só pra não te ofender, disse adeus e sai.  
Sair sem dizer nada, sem aproveitar a chance de chamar a biscate de biscate, a vaca de vaca, a puta de puta, não é estoicismo que qualquer um apresente. É estoicismo adquirido via muita porrada, é estoicismo que é um calo na alma, misto de resignação e desesperança. Além disso, o silêncio é o maior castigo pra vagabunda, o cara sair sem lhe dizer o porquê, ela passar o resto da vida sem a resposta.
E para acabar de matar, o corno segue : Saí da tua vida de cabeça erguida, coisa que você não fez. Pãããta que o pariu. É isso aí, chifrudo. Isso sim é um corno de respeito.
O cara sai todo cheio de orgulho, de cabeça erguida. Com galhada, sim, porém com galhardia. Depois, é claro, o cara vai pro bar, vai chorar pra caralho, vai encher a cara com os amigos, todos cornos também. Mas na frente da biscate, não. Na hora do adeus, não.
Na Hora do Adeus
(Carlos Colla/Chico Roque/Matogrosso)
Na hora do adeus, você olhou pra mim
E não acreditou, ao ver chegar o fim
Tentou me seduzir, chorando me agarrou
Teu corpo ofereceu, pediu e suplicou
E perguntou, Porque?
Mas eu não respondi
Só pra não te ofender, disse adeus e saí.
 
Sai da tua vida, eu só representava
O cheque no final do mês
Você não respeitou quem te amou demais
Só abusou de mim e me passou pra trás
Sai da tua vida de cabeça erguida
Coisa que você não fez
Eu já chorei de mais agora vem a sua vez
Eu acho que vai ser melhor
Melhor pros três

E perguntou, Porque?
Mas eu não respondi
Só pra não te ofender, disse adeus e sai
Sai da tua vida, eu só representava
O cheque no final do mês
Você não respeitou quem te amou de mais
Só abusou de mim e me passou pra trás.

Sai da tua vida de cabeça erguida
Coisa que você não fez
Eu já chorei de mais agora vem a sua vez
Eu acho que vai ser melhor
Melhor pros três
Na hora do adeus, você olhou pra mim
E não acreditou, ao ver chegar o fim.

Para música e vídeo, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Vade Retro, Caetano!!! (Ou : Mãe Menininha do Patuá)

O pastor-deputado Marco Feliciano, caso deixe de ser pastor um dia, ou deputado, tem, ao meu ver, uma promissora carreira no ramo humorístico. Ele vem se mostrando muito melhor que qualquer desses novos "talentos" do stand-up brasileiro, Danilo Gentili e que tais. Arrisco-me a dizer que Feliciano mesmo rivaliza aquela judeuzada estadunidense, os criadores do gênero.
Dia desses, acho que na semana passada, o pastor "explicou" os três tiros que mataram John Lennon : um foi o Pai quem deu, o outro, o Filho, e o terceiro, o Espírito Santo. Motivo : os Beatles terem dito, em certa altura de sua carreira, que eram mais populares que Jesus Cristo. Ninguém zomba de Cristo e continua vivo, afirmou Feliciano. Quer dizer que quem não zomba não morre nunca?
Hoje, um novo vídeo das pregações do pastor foi descoberto no Youtube. Nesse vídeo, intitulado "Não subestime o poder do diabo", Feliciano explica o sucesso de Caetano Veloso, quando o baiano vendeu mais de um milhão de discos com a música "Sozinho", do compositor Peninha.
Grandes nomes da MPB haviam gravado a música antes de Caetano, entre eles, Tim Maia e Sandra Sá, não atingindo, cada um, vendagens superiores a 30 mil cópias. E Caetano, "Sozinho", só ele e seu violão, um milhão.
Feliciano disse que, antes de gravar qualquer música, Caetano submetia a canção à apreciação da Mãe Menininha do Pátua (sic). Pãããããta que o pariu!!! Genial, o pastor. Engraçadíssimo e insuperável em sua ignorância. A tal do pátua a que ele se refere é mãe de santo baiana Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a mãe Menininha do Gantois, que se pronuncia Cantuá. Daí para patuá foi um pulo.
Lembrou-me, inclusive, um quadro dos  imortais "Os Trapalhões" em que Didi desafia Dedé a adivinhar o nome das músicas representadas nos desenhos dele. Didi Mocó, o famoso cabecinha de bater bife, desenhou um quadrado, nomeou cada canto do quadrado com uma letra, A, B, C e D, e desenhou uma menina no canto da letra A. Dedé pensou, pensou, e não adivinhou - seu destino sempre foi perder as apostas para o cearense. Triunfante, Didi revela : o nome da música é Menininha do Canto A - composição de Dorival Caymmi.
Os Trapalhões : Gantois (cantuá) com canto A; Feliciano : Gantois com patuá. Superou Renato Aragão. De longe.
Voltando : Caetano apresentava suas canções à mãe Menininha do Patuá e ela, possuída pelos orixás, lhe dizia, "pode gravar, meu filho, que eu abençoo". Nesse instante, Feliciano faz uma pausa dramática e conclui para seu público : não subestime o diabo.
Além de tentar atingir Caetano, o pastor ataca todas as religiões de origem africana, associando-as ao capeta. Detalhe : Caetano gravou "Sozinho" em 1998, Mãe Menininha morreu em 1986. Só se algum outro pai de santo incorporou Mãe Menininha, que, por sua vez, incorporou os orixás críticos musicais. É a terceirização dos pais de santos.
Se bem que, nesse caso, de alguma forma que nem imagino, o pastor bem pode ter razão. "Sozinho" é muito ruim, muito chata, uma das piores músicas de corno que já ouvi. Seu estrondoso sucesso só pode ter sido coisa do capeta.
"Quando a gente gosta/É claro que a gente cuida/ Onde está você agora?", pergunta a letra da música. Tá dando, seu corno, tá dando pra outro.

Assassino de Deppman faz 18 anos nesta sexta; despediu-se da menoridade com um cadáver; a lei lhe dá esse “direito”. Cadê os bacanas do “selinho”?

Publicado no blog de Reinaldo Azevedo

"Sabem quando o canalha que matou, na terça, dia 9, o estudante João Victor Deppman faz 18 anos? Nesta sexta, dia 12. Ele só estava se despedindo da menoridade penal com um cadáver, a que as “crianças e os adolescentes” até 18 anos têm direito no Brasil. Um? Dois, dez, vinte, pouco importa… O ECA não estabelece um limite. Um assassino em série está protegido pelo texto, que, em seu Artigo 121, deixa claro: sob nenhuma hipótese alguém recolhido antes dos 18 pode continuar nessa condição depois dos 21.
Dizem que isso é coisa de “progressistas”.
Dizem que querer reduzir a maioridade penal é coisa de “reacionários”.
O PT não quer.
O padre Júlio Lancelotti não quer.
A Maria do Rosário, sedizente ministra dos Direitos Humanos, não quer.
Os “artistas inteligentes” não querem.
E não adiante perguntar, nesse caso, onde estão o Wagner Moura, o Caetano Veloso, a Fernanda Montenegro, a Fernanda Torres, a Andrea Beltrão, o Mercelo Freixo, o Chico Alencar, o Jean Wyllys, a Érika Kokay, o Ivan Valente, todos, enfim, os valentes que saem por aí ou chutando a porta da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara ou dando selinho…
Essa causa não rende matéria nos jornais, sites e, especialmente, nas TVs. Não rende, não! Os editores “progressistas” e seus respectivos chefes, mais “progressistas” ainda (no fundo, compulsivamente governistas e conformistas), não gostam dessa pauta.
Essa gente está muito ocupada em tentar cassar de terceiros o direito à opinião. Essa gente está muito ocupada em tentar fraudar o Artigo 5º da Constituição. Essa gente está muito ocupada em demonizar seus adversários políticos nas redes sociais.
Ao contrário até. Se duvidar, engrossarão um movimento em favor da descriminação das drogas e da liberdade para os pequenos traficantes. O “progressismo” lhes diz que, na raiz da decisão de matar o outro, está um “problema social”. Como são artistas ou pensadores, acham que podem jogar a lógica no lixo. Não se dão conta de que, se a pobreza induzisse alguém ao homicídio, o Brasil viveria no estado da natureza — uma vez que o fim da miséria nestepaiz é só uma das ficções com que o petismo enreda o país.
As pessoas que trabalham e estudam e não tem “pedigree progressista” são reféns da má consciência dos deslumbrados. Para registro: sim, o assassino tem consciência dos seu “direito” a cadáveres. Tanto é assim que foi se apresentar à Fundação Casa, não à polícia."

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Chocolate Pra Russo Nenhum Botar Defeito

A matéria-prima do bom e velho chocolate é a manteiga do cacau. Para se obter um produto à base de manteiga de cacau com boas qualidades, a manteiga deve ser inicialmente derretida, após o completo derretimento, inicia-se o processo de "cristalização", com resfriamento lento e gradual, com movimentação constante, induzindo a formação de uma estrutura estável e homogênea. É essa estrutura estável a responsável pela cor, brilho e, sobretudo, pela textura característica do chocolate.
Essa delicada estrutura é conferida por uma emulsão de glóbulos gordurosos, que ficam suspensos entre os sólidos do chocolate e garantem a cristalização por igual. Justamente a grande vilã do chocolate, a gordura, é que lhe dá suas desejáveis características e faz dele um dos alimentos preferidos e mais consumidos pelo ser humano.
Substituir esses glóbulos de gordura por outras substâncias, tornando o chocalate menos calórico e mais saudável, nunca produziu resultado satisfatório. Os chocolates com pouca gordura comercializados atualmente não têm a mesma textura dos convencionais, ficam aquela coisa meio esfarelenta, nem chegam a derreter por entre os dedos.
Pois cientistas britânicos parecem ter encontrado a solução para o torturante dilema, e o trabalho já foi descrito na publicação científica Journal of Materials Chemistry, em 2012. 
Os britânicos, numa sacada digna de um Prêmio Nobel, resolveram substituir os glóbulos gordurosos pelo ágar-ágar, uma substância mucilaginosa - uma gelatina extraída de algas marinhas, que também apresenta a propriedade de se solidificar homogeneamente após ser resfriada.
O ágar-ágar traz outra vantagem, é solúvel em uma grande gama de líquidos, inclusive em líquidos de fácil obtenção e de baixo custo, água e álcool a exemplos, mais até em álcool.
Assim, os iluminados cientistas ingleses, unindo o útil ao agrádavel e ao agradabilíssimo, resolveram se utilizar da vodka como o solvente do novo chocolate.
O ágar-ágar foi aquecido com a bebida - como no processo de fabricação da gelatina caseira. Depois, a gelatina foi resfriada até pouco menos de 40ºC, misturada à manteiga de cacau derretida e deixada a solidificar. O chocolate resultante, com 50% menos de gordura, apresentou a mesma cor, brilho e textura do convencional. E mais : continha 20% de álcool. 20% de álcool!!!
Portanto, uma barra de 200g desse chocolate contém 40g de álcool, quantidade que, feitos os devidos, revisados e corretos cálculos, equivale à de três doses de vodka líquida. Levar uma barra dessas na bolsa é o mesmo que carregar uma daquelas garrafas metálicas portáteis para bebida, daquelas que os sujeitos enrustem nos bolsos internos do casaco.
E o que é melhor, você pode "bebericar" seu chocolate à vontade, em quaisquer locais públicos e situações. Sem chamar a atenção nem despertar a menor suspeita.
Essa é a mais legítima e justificável das ciências. A ciência aplicada, a ciência a bem e conforto da humanidade, não a restrita aos laboratórios e compêndios acadêmicos. Inúmeros e promissores são os possíveis usos cotidianos desse novo chocolate. 
Aniversário de criança. Para quem não é criança, poucas coisas são mais chatas que aniversário de criança. Ainda mais que o politicamente correto já se instalou em tão inocente festividade. Antes, na cantoria do parabéns, na hora do "é pique, é pique", a gente cantava "é pica, é pica", e ríamos feito uns idiotas, de qualquer modo, era uma transgressão àquele enfadonho ritual familiar. Hoje, não. Hoje tem o parabéns, o "com quem será que ele vai casar", e, alastrou-se feito sífilis de uns tempos para cá, o "derrama, Senhor, derrama; derrrama sobre ele o seu amor". O cara quer dar uma de cristão até na hora do parabéns, ou, quem sabe, somente nela. É nessa hora que entra o novo chocolate. Uma barra e mais uns dois ou três quadradinhos e você vai até ajudar o petiz a assoprar a velinha, e as tias velhas a distribuírem os pedaços de bolo.
Casamento sem festa. Mais uma barca furada que, invariavelmente, todo mundo já entrou um dia. Sem festa, sem batata em conserva furada com garfo, sem nem aquela cerveja choca servida em jarros, só e somente a missa! Dá-lhe, de novo, o chocolate. Duas barras e até eu, que sou ateu, vou tomar a hóstia e auxiliar o padre a passar a sacolinha do dízimo.
Velório de parente distante. Daquele tio que foi casado com a prima de segundo grau do seu bisavô. Chocolate. Logo, logo, você estará carpindo o defunto e a consolar a viúva.
Feriadão na casa da sogra. Três ou quatro dias sem poder andar pelado e peidar alto. Chocolate.
Reunião de trabalho. Aquele burocrata empoado e janota, que nunca pôs as mãos à massa, que mal sabe do próprio ofício, e que insiste em querer lhe dizer como fazer o seu. Não discuta nem se exaspere. Pegue aquele café amargo, fraco e rançoso servido em toda reunião e dissolva nele o novo chocolate. Um chocolate quente a la cossaco. A reunião ficará uma delícia.
Uma caixa de bombons confeccionados com esse chocolate pode bem favorecer uma nova e eminente conquista amorosa. A incauta os comerá sem o receio de engordar e embarangar, uma vez que menos calóricos, e, uma vez que alcoólicos, ficará mais receptiva às nossas investidas, mais propícia ao abate. 
Água e suco de frutas podem ser usados em lugar da vodka, com resultados igualmente satisfatórios, diz Stefan Bon, líder da pesquisa. Mais aí, convenhamos, perde a graça, descaracteriza a birita.
Fonte : BBC Brasil