domingo, 31 de outubro de 2021

Psicografias

Desde sempre
Desde criança ainda
Sempre falei de saudade
(sobretudo do que a nunca me atrevi),
De superpoderes 
(que nunca adquiri),
Da Lua a iluminar
A nossa mesa de jantar posta nos telhados mais altos da cidade.
 
Tempos depois,
Passei a escrever sobre eles.
Sobre a saudade,
Sobre os superpoderes,
Sobre a Lua a nos segurar vela.
Sobre suas latências e latejares.
 
A partir de hoje,
Tentarei o mais difícil :
Deixar de psicografá-los
Para a tumba estéril dos meus cadernos de anotações,
Para a minha Bagdá engarrafada,
Para a minha Kandor em meu criado-mudo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O Brasil é Campeão Mundial em Produção Robótica

Ao lerem o título da postagem, muitos ora dirão : Azarão, por certo perdeste o senso. E eu vos direi, no entanto, que não. Antes pelo contrário, que nunca estive em melhor posse e juízo dele.
Quando se fala em tecnologia robótica, o Japão é o país que logo nos vem à mente. 
Um pouco, sobretudo para os que estão na casa já em ruínas dos cinquenta e poucos anos, pela memória afetiva que trazemos da infância, dos seriados e animações japoneses estrelados por robôs, das décadas de 1960 e 1970. Robô Gigante, Goldar (dos Vingadores do Espaço), Astroboy, Ultraseven, Ultraman, entre outros. 
E muito por sabermos do investimento, do estudo, da dedicação e da perseverante disciplina nipônica no sentido de tornar o País do Sol Nascente primaz nesta área do conhecimento.
Então, que patifaria é essa de eu dizer que o Brasil é campeão mundial na produção de robôs? Estarás a se valer agora de fake news, Azarão?, muitos poderão perguntar.
Ora, meus caros, de que valem o investimento, a dedicação, o estudo e a disciplina oriental frente à malemolência do brasileiro? Frente à ladinice e ao jeitinho tupiniquins? Como o empenho e a seriedade podem rivalizar com a nossa criatividade malandra?
E quem disse que eu estou a dizer de robôs mecatrônicos e cibernéticos? De constructos inorgânicos com esqueletos de titânio ou de fibra de carbono, músculos e nervos de fibras ópticas e cérebros de silício? Quem disse que eu estou a me referir ao robo-máquina, ao robô-robô?
Porra nenhuma. Que esse campo da robótica já é dos mais ultrapassados e obsoletos. As pesquisas de ponta na área apontam para a concepção e a confecção de robôs biológicos, de carne e osso, a la Blade Runner. Robôs cada vez mais humanizados. Ou, no caso em questão que levou a esta postagem, humanos cada vez mais robotizados, o que, no fim, dá na mesma em efeitos práticos.
É na produção de robôs humanos, de autômatos orgânicos, de walking deads high tech, de, enfim, zumbis conectados, é que somos campeões mundiais. Supremos e imbatíveis.
Segundo o relatório de uma pesquisa realizada pela App Annie Intelligence (sei lá que porra é essa), o brasileiro é povinho que passa mais tempo por dia a masturbar os seus celulares : 5,4 horas diárias.
A desculpa dada para a patente e inegável imbecilidade do brasileiro é a pandemia do coronavírus. Com a reclusão, os brasileiros aumentaram seu tempo frente às telas de seus smartphones, os seus telefones inteligentes; até porque, nessa relação bastarda entre máquina e homem, alguém tem que ser, inteligente. Pandemia do coronavírus é o caralho!!! Pandemia do celular, isso sim. Que essa é a mais mortal das pandemias! Mesmo antes do vírus chinês, o brasileiro já estava infectado até a medula pelo vírus do celular. No Brasil, segundo números publicados pela Fundação Getúlio Vargas, em maio deste ano, há 242 milhões de celulares no país. Mais celular do que gente. Nem o tabagismo e o alcoolismo somados contam com tantos adeptos.
Se a questão foi o tempo confinado em casa, por que os brasileiros não aproveitaram esse tempo extra para desenvolverem outros gostos e habilidades? Por que não aumentou o tempo do brasileiro dedicado à leitura, a aprender a tocar um instrumento, a assistir a bons filmes, à atividades manuais, etc? Eu, por exemplo, consegui botar um bom tanto da minha leitura em dia, intensifiquei minhas caminhadas e aumentei sobremaneira a quantidade de espécimes de meu pequeno jardim. 
Por que só aumentou o tempo no celular? Porque o uso da tal estrovenga não requer esforço nem prática ou habilidade. Não requer nem mesmo cérebro. O passatempo ideal para o brasileiro.
Eis o ranking dos países com mais tempo de tela :
 
1 - Brasil : 5,4 h/dia
2 - Indonésia : 5,3 h/dia
3 - Índia : 4,9 h/dia
4 - Coreia do Sul : 4,8 h/dia
5 - México : 4,7 h/dia
6 - Turquia : 4,5 h/dia
7 - Japão : 4,4 h/dia
8 - Canadá : 4,1 h/dia
9 - Estados Unidos : 3,9 h/dia
10 - Reino Unido : 3,8 h/dia 
 
Notem que mesmo os Estados Unidos, nação de Homers Simpsons, passam muito menos tempo no celular que os Zés Cariocas. E o pior nem é o tempo que o brasileiro passa no celular : é onde ele passa esse tempo. Só em redes sociais, como facebook, instagram etc e aplicativos "engraçadinhos", como um tal de tik tok. 
Ah, sim! E, também, para não perdemos a nossa má e justificada fama, muitos brasileiros passam grande parte do seu tempo na aplicação de "golpes" pelo celular.
Na produção e no uso como mão de obra barata de robôs tradicionais, de fato, o Japão é um dos líderes mundiais, ficando atrás apenas de Singapura e da Coreia do Sul.
Na produção de robôs humanos, de idiotas conectados, e no seu uso como mão de obra barata, não tem pra ninguém : somos o top de linha. Sempre seremos. Nossa produção fordista de robôs humanos é inalcançável! Exagero meu? Passem um tempinho dentro de uma sala de aula e verão o que digo. Verão, in loco, as novas gerações de robôs humanos sendo preparadas. Verão, é claro, se conseguirem desgrudar um pouco de seus celulares.
E mão de obra barata, não. Mão de obra ainda mais barata! Tenho certeza de que o custo mensal de operação e manutenção, por exemplo, de um braço robótico de uma montadora japonesa de automóveis ou de eletroeletrônicos é muito mais alto que o salário mínimo que se paga a um brasileiro-robô. Além do quê, o braço robótico é um bem patrimonial da empresa, custou muito a ela adquiri-lo, deve ser cercado de cuidados. Um brasileiro-robô não tem valor material algum para o seu empregador. Quebrou? Nem compensa consertar. Mais fácil trocar por outro. Sem custo nenhum. Afinal, eles andam aos milhões por aí.
Um brasileiro-robô é muito mais vantajoso que um braço robótico para o mercado de trabalho. 
Uma única vantagem poderia ter havido para o Brasil no uso de braços robóticos na indústria ao invés de brasileiros-robôs : braços robóticos não perdem o dedo mindinho no torno mecânico e se tornam presidentes da República.
Mas perdemos esta chance. Agora, já foi. Já era. É tarde demais para nós.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Campanha Outubro Mamilo Rosa (3)

Ela é a top teta da Campanha Outubro Mamilo Rosa! É a musa! A mascote desta nobre iniciativa sociohigienosanitária do Marreta! É a Zé Gotinha da campanha de prevenção do câncer das mamadeiras! September Carrine!!!

sábado, 23 de outubro de 2021

Serviço de Homem (a Crônica de uma Desgraça Anunciada)

Quarta-feira à noite. Pia da cozinha entupida. Entupidíssima. Claro que isso não é desgraça que se dê de um dia para o outro. É desgraça cumulativa, que se anuncia aos poucos, homeopaticamente, feito capítulos de novela, que vai nos dando pistas e indícios diários de seu inevitável desfecho. Sinais de alerta que eu fui sempre ignorando, fingindo que não eram comigo, protelando ao máximo a tarefa de botar minhas mãos à massa. O máximo chegou. Tem sempre o dia em que a casa cai.
Desde que nos mudamos para o novo apartamento, há cerca de ano e meio, que ela, a pia da cozinha, já apresentava sintomas, se não preocupantes, meritórios de uma maior atenção. A água, diga-se a meu favor, fluía normalmente ralo abaixo; porém, ao fim do escoamento, vinha do ralo um som de gorgorejo, um glub, glub.
Fui, ao longo desse tempo, empurrando o problema com a barriga, o problema e a água, que, às vezes, dava uma leve empoçada na cuba da pia, teimava um pouco em descer. Fui me valendo de medidas paliativas. Ora fazia sucção com um bom e velho desentupidor de ventosa, ora jogava água quente com detergente, ora mexia no sifão sanfonado embaixo da pia, levando-o para trás e para frente. E a sujeira acabava por ir embora.
Até que, na quarta-feira à noite, nenhum desses artifícios foi de bom efeito. Com muito custo, consegui fazer a água da louça da janta descer.
Toda essa minha prevaricação, em parte, em uma pequena parte, sempre veio da esperança, mais até preguiçosa do que vã, de que a sujeira acumulada no sifão e no encanamento, feito placas de colesterol nas paredes de uma artéria, por consideração e comiseração à minha pessoa e às minhas atribulações diárias, fosse naturalmente se solubilizar e seguir seu rumo esgoto abaixo. Ou, que um vórtice dimensional se abrisse e a transportasse para um aterro sanitário de uma dimensão paralela, para o hiperespaço, talvez.
Em parte, apenas em uma pequena parte por essa esperança preguiçosa e vã. O motivo principal de minha procrastinação é que desentupir uma pia faz parte de um conjunto de habilidades do qual eu não possuo nenhuma, e que é chamado genericamente de : serviço de homem.
Serviço de homem não é comigo. Nunca foi. Instalar chuveiro ou trocar sua resistência, arrumar fio do ferro de passar roupa, puxar uma tomada, furar a parede, substituir o cordame de náilon do varal suspenso da área de serviço etc são encargos não apenas penosos, mas praticamente irrealizáveis para mim. Para não me desmerecer por completo, até que me saio bem trocando lâmpadas e abrindo vidros de palmito ou de azeitona.
Porém, o colapso total se pusera à minha frente, a pia estava entupida, em definitivo. Resolvi apelar para a artilharia pesada : dissolvi uma boa quantidade de soda cáustica em um pote plástico e verti a mistura corrosiva ralo abaixo, esperando que a solução altamente alcalina se revelasse a solução para o meu problema. Avisei a esposa e o filho que não mais usassem a pia até o dia seguinte. Logo, fui ter com Morpheus, esperando - ah, de novo a esperança vã e preguiçosa - que a soda cáustica fizesse a sua mágica durante a noite.
Acordei, como de costume, por volta das quatro da manhã. Eu ajusto o despertador para as cinco, mas nunca lhe dou o prazer de me surpreender dormindo. Fiz o café, dei leite a uma de minhas gatas, tão insone quanto eu (a outra dorme o dia todo, feito um... gato), sentei-me ao sofá e me pus a ver um filme, A Cidade das Coisas Perdidas. Não tocara na pia, ainda. Dava para deixar a soda atuar por mais umas duas horas, o tempo do filme e de chamar esposa e filho às seis horas.
Finalmente, abri a torneira da pia em um forte jato. Esperava ver a água escoar pelo ralo, livre, lépida e solta. Esperava que o milagre da saponificação houvesse se operado durante a madrugada.
O caralho! A obstrução piorara ainda mais. Na noite anterior, com muito custo, é verdade, era possível fazer com que a água escorresse pelo ralo. Agora, nem isso. Não sumia-se uma única molécula de água. Mais constipado que cu de freira, o ralo.
Não havia como fugir ou me esconder, fui encurralado : iria ter que encarar um serviço de homem. Ai de mim!!!
Quinta-feira é dia de reunião peidagógica na escola, e nesta, por sorte ou por azar, fomos dispensados pela coordenadora de assisti-la presencialmente, devendo acompanhá-la remotamente, on-line, em casa, pelo famigerado Centro de Mídias de São Paulo.
Esposa e filho levantaram, tomaram os seus desjejuns, a esposa foi para o seu home office e eu fui levar o filho à escola. Na volta, uma épica batalha me esperava.
Batalha tão ferrenha que precisei de me munir à rua. De umas semanas para cá, tenho me segurado de segunda a quinta, só começando a maratonar a minha cerveja na sexta-feira. Porém, o  Universo, volta e meia, me põe frente a provações que sabe que não posso superar a seco. Depois de deixar o filho na escola, passei na loja de conveniência de um posto de combustíveis e comprei dois pães e quatro latões de Lokal.
Em casa, abri o primeiro latão, pus o Raul no toca-CDs e abri as portas do armário sob a pia. Lá estava o sifão sanfonado a me esperar, a debochar antecipadamente dos meus futuros esforços em desentupi-lo.
O armário sob a pia abriga diversos utensílios de cozinha - panelas, assadeiras, escorredores de macarrão, formas de bolo, tábuas de bater carne, raladores de queijo etc - e é divido em dois patamares por uma prateleira ao meio. Removi todos os utensílios da parte de cima da prateleira; sabia que, ao retirar o sifão, um pouco de água suja poderia lhes respingar. Um pouco de água suja? Um pouco? Ah, de novo a vã esperança!
Como havia água acumulada na pia, peguei um balde para recebê-la. Desenrosquei o sifão da cuba da pia e o direcionei para o balde. Estimei mal a relação entre a quantidade de água parada e a capacidade volumétrica do balde. A água ultrapassou o limite das bordas do balde e escorreu um tanto pela prateleira vazia e também pelo piso inferior do armário, molhando o fundo de algumas panelas. Começava aqui a minha caminhada ao calvário.
Esgotada a água, pus-me a pensar no que fazer para limpar o que havia dentro e desobstruir o sifão e o encanamento. Peguei, então, uma dessas mangueiras de jardim, atarraxei-a à torneira do tanque da área de serviço contígua à cozinha e a fui enfiando pelo sifão até sentir que ela tivesse chegado ao encanamento destinado a levar a água para o sistema de esgotos.
Abri ao máximo a torneira do tanque e corri para segurar o sifão levantado. Esperava que o fluxo de água da mangueira forçasse e empurrasse cano abaixo toda aquela podridão acumulada. O que eu já disse mesmo sobre a tal da esperança? 
Deu-se o oposto. A água da mangueira não desceu. Regurgitou. Golfou feito a menina do Exorcista. Um refluxo de água suja e infecta começou a sair pela boca do sifão e a escorrer pela mangueira, pelo meu antebraço até o cotovelo, para a coxa da perna direita onde ele se apoiava e daí para inundar o chão da cozinha e se espalhar para a área de serviço e para uma pequena sacada lateral a ela. Molhou também todas as panelas do pavimento inferior do armário. Todas teriam de ser lavadas.
Sem saber se largava a mangueira para fechar a torneira do tanque ou se continuava a enfiá-la sifão adentro, escolhi a segunda opção, até porque já era o que eu estava a fazer. Mexer em time que está perdendo, para quê?
Para onde eu olhasse havia aquela água podre. A mangueira continuava a bombear água para dentro e ela continuava a voltar cheia de sujeira malcheirosa, a alagar a cozinha e adjacências. A coisa parecia não ter fim. Aquilo estava um pântano. Um charco. Um rebosteio. Um rebuceteio só.
A vontade era a de sentar e chorar. Não me sentei. A água contaminaria também o meu cuecão samba-canção e, por capilaridade, subiria às minhas invioláveis pregas. Não dava nem para alcançar o latão colocado num balcão atrás de mim. Abre-te Sésamo, cantava o Raul.
Na água, havia tudo quanto é tipo de resíduo lodoso e pestilento que vocês puderem imaginar. Inicialmente, foi saindo um resíduo particulado, pequenos flocos de podridão - os corn flakes do meu catastrófico café da manhã -, confetes pegajosos de um carnaval mefítico. E eu lá, agachado, a enfiar e a cutucar as entranhas da casa com a minha nada viril mangueira. Em seguida, o caldo mais engrossou. Literalmente. Começaram a sair grandes nacos gordurosos e viscosos de sujeira, placas parecidas com espessas camadas de nata de um leite preto. Placas e mais placas.
De repente - de repente é o caralho; eu ficara ali agachado por uns bons 1o minutos -, alguma barreira entre o sifão e o cano emissário foi rompida e eu senti a mangueira penetrar mais fundo. A água passou a refluxar em menor volume e com menos sujeira, até sair límpida.
Larguei a mangueira, fechei a torneira do tanque, atarraxei o sifão de volta à cuba e abri a torneira. A água desceu maravilhosamente bem. Em um vórtice alegre. Sem nada a barrar o seu caminho.
Eu vencera. Inacreditavelmente, eu tinha vencido. Conseguira desentupir a pia. Enviar toda aquela borra infecta para o quinto dos infernos, para a puta que a pariu. Se bem que não exatamente para o quinto dos infernos : mais para o chão da cozinha, área de serviço e sacada lateral.
Era hora de limpar e desinfetar tudo aquilo. Meu gólgota não estava ainda nem à sua metade. Acabei o primeiro latão, abri o segundo, terminei de cantar S.O.S. junto com o Raul.
A água podre emporcalhara não só o chão, mas também tudo o colocado sobre ele. O lixinho ao canto da cozinha, os pés da fruteira, o tapete, os baldes e as vassouras na área de serviço, os dois latões de lixo maiores na sacada lateral, o fundo do vaso de babosa. Além disso, empoçou-se debaixo da geladeira e da máquina de lavar. De novo, a vontade era a de sentar e chorar. 
No entanto, fui à luta e à lata. Dei uma boa talagada e me pus à limpeza. Feito um estóico Quixote, com uma mão, eu brandia a mangueira de jardim e, com a outra, ia passando o rodo. Literal e infelizmente. Fui empurrando a imundície da cozinha para a área de serviço e dela para a sacada lateral. Sentia-me o próprio Hércules a limpar as cavalariças do rei Áugias.
Tudo o que podia ser movido - o lixinho da cozinha, os baldes, o tapete, as vassouras -, levei também para a sacada. 
Comecei a limpeza pelo armário sob a pia. Tirei as panelas, todas sujas, e as joguei na pia. Passei pano com água sanitária por todo o interior do armário e em suas portas. Lavei, enxaguei, enxuguei e voltei a guardar todos os utensílios. Tinha coisa ali que eu nem me lembrava de que existia.
Limpos o armário e as panelas, muito sabão em pó e água sanitária ao chão e muita esfregação com um vassoura de duras e grossas cerdas, sempre no sentido cozinha-sacada lateral.
Fui varrendo, bebendo, puxando com o rodo, ouvindo a discografia inteira do Raul e o ambiente foi voltando à normalidade. Até que tudo estava de novo nos conformes. Fiquei das sete e quinze às onze e dez da manhã nesta funesta lida. Mas vencera. A pia estava desentupida. A reunião peidagógica virtual? Deixei lá o computador "logado" no site, só para registrar minha presença.
Quase quatro horas de uma injusta e desleal batalha. Mas eu triunfara. Conseguira realizar um serviço de homem! Serviço que deveria ser reconhecido, agradecido e retribuído com um prêmio digno de um guerreiro, à altura de um caçador do paleolítico : um cu, por exemplo.
Qual o quê...
Da minha esposa, cujo seguro automobilístico cobre também pequenos reparos domésticos, o que ouvi foi : "numa próxima vez, a gente aciona o homem do seguro, ele deve ter algum equipamento que não faça tanta sujeira".
Pois é... meu "equipamento" não está mesmo valendo mais nada.
Abri o último latão, me sentei no trono do meu apartamento com a boca escancarada cheia de dentes e esperei pela hora de ir pegar o moleque na escola.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Chegada de Serguei ao Inferno

Ontem, a rever apresentações e entrevistas do Raul Seixas no YouTube, o algoritmo da plataforma conduziu-me automaticamente para uns vídeos do Serguei, o eterno, o rock que nunca morre.
Aceitei as sugestões do YouTube e ri a valer. Impagáveis e com toques de surrealidade, Serguei e suas histórias. Mas engana-se quem pensa que Serguei fora apenas um porra louca bom contador de "causos" do rock'n'roll. Serguei foi um puta dum intérprete. Dono de um poderio vocal dos mais respeitáveis. Cantava pra caralho, o Serguei!
Para os que duvidam de mim, e gostam dos garotos de Liverpool, ouçam a versão de Serguei para HELP. Muito melhor que a dos Beatles.
Se o Diabo é o pai do rock, Serguei é o tataravô, o seu ancestral filogenético. Serguei nem é rockeiro das antigas : é rockeiro das arcaicas!
Registros fotográficos das paredes da Caverna de Altamira mostram a representação rupestre de uma figura esdrúxula para os padrões da época. Um ser alto, magérrimo, de bastas cabelereiras e a empunhar um artefato de ossos que muito remete às atuais guitarras. À sua volta, a contemplá-lo, figuras humanas mais robustas e atarracadas, de compleição quase simiesca.
Teóricos do Antigo Astronauta afirmam se tratar de um E.T. das Plêiades, E.T. que, por trazer a Música aos seres humanos, foi retratado e nomeado em diversas mitologias, Orfeu (na grega), Dagda (na celta), Toth (na egípcia), Balder (na nórdica).
Antigo Astronauta é o cacete!!! Orfeu é a puta que os pariu!!!
Já era o Serguei!!! A executar os clássicos do polished rock, do rockeolítico!
Sim, Serguei é eterno. Porém, não imortal. Serguei morreu, em 2019, aos 85 anos. E, recompensa merecida, foi para o Inferno. Pansexual assumido desde sempre, já chegou encoxando o Capeta. Indignado com tamanha irreverência e desrespeito hierárquico, o Diabo disse :
- O que é isso, velho bardo, que intimidade inapropriada é esta que estás a tomar em relação à minha pessoa?
Que o Diabo, assim como Deus, também só se pronuncia na segunda pessoa.
Sem se desacoplar da bunda do Diabo, Serguei explicou-se :
- É o velho ditado, meu bom Demônio, uma vez no inferno, o negócio é abraçar o Capeta.
- Mas não por trás, Serguei, não por trás..., retrucou o Capeta, dando-se por vencido.

domingo, 17 de outubro de 2021

Campanha Outubro Mamilo Rosa (2)

A exemplo do constante alerta feito aos riscos da automedicação, se eu fosse um médico influente, um manda-chuva do CRM, um secretário ou ministro da saúde, lançaria uma campanha veementemente contra o autoexame das mamas.
Primeiramente, por uma questão de senso, de correlatividade. Se o paciente não é habilitado para se automedicar - e ele, de fato, não é -, por que o seria para se autoexaminar? Não poderiam, dedos e tatos não treinados no apalpamento puramente profilático dos melões, deixar de detectar reduzidos nódulos, caroços incipientes?
Em segundo lugar, os nossos nobres esculápios passam a vida a costurar supercílios desbeiçados, a engessar fraturas expostas, a remover apêndices estuporados, a tratar queimaduras de terceiro grau, gonorreia e cancro mole em estágios avançados. Por que, então, furtar-lhes esses reconfortantes e lúdicos momentos de bolinação de umas belas tetas?
Abaixo a lolita e safadíssima Gabbie Carter.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

15 de Outubro. Dia de Quem, Mesmo?

Não foram muitas, mas tive algumas profissões. Tive, não. Corrijo : passei por algumas profissões.
Aos 14 anos, o pai de um amigo da escola me empregou em seu escritório de contabilidade, que mantinha com dois outros sócios. Fui o que, à época, se chamava de office-boy. Eu fazia pequenos serviços de escritório. Separava e distribuía a correspondência, mantinha organizado o arquivo dos clientes, ainda aqueles gaveteiros de metal com pastas suspensas ordenadas alfabeticamente, realizava pagamentos em bancos, buscava material na papelaria, café no mercado, trocava a fita das máquinas de escrever etc. Em pouco tempo, um dos sócios veio até mim e disse que eu estava a fazer o meu serviço muito bem feito, que eu era um excelente office-boy. Eu sabia daquilo. Não vou dizer que não gostei de ouvir o elogio, mas o tomei muito mais como uma simples constatação. Não me senti engrandecido nem tampouco envaidecido por ele. Eu não me via um office-boy. Não me sentia um office-boy. Não me acreditava um office-boy. Trabalhei lá por quase 3 anos.
No início de 1985, eu ainda com 17 anos (só completaria 18 em agosto), ingressei na primeira de minhas malfadadas faculdades. Medicina Veterinária, na UFU, a Universidade Federal de Uberlândia. Por motivos que não vêm ao caso agora, até porque já se vão quase 40 anos, frequentei o curso por apenas um semestre e meio, e o abandonei.
De volta ao lar, fiz um curso relâmpago de digitação e consegui emprego na função em uma concessionária Volkswagen aqui da cidade. Meu trabalho consistia, basicamente, em alimentar o sistema com dados sobre as ordens de serviço emitidas e quais os respectivos mecânicos que as executaram. Ao fim do segundo mês, o chefe da seção me disse que ele e os mecânicos estavam muito satisfeitos com o meu trabalho, que nunca os lançamentos das ordens de serviço tinham estado tão corretos e atualizados. Eu era um digitador muito bom. Eu também já sabia daquilo. Igualmente ao elogio feito ao meu trabalho de office-boy, também não me senti engrandecido ou envaidecido por esse. Eu não me via um digitador. Não me sentia um digitador. Não me acreditava um digitador. Fiquei lá por apenas cinco meses. Tendo ingressado no vestibular de fim de ano da USP para o curso de Química, curso de período integral, demiti-me da função de digitador.
No entanto, tendo que trabalhar de alguma forma, apesar da integralidade do curso em que estava matriculado, arrumei um emprego num clube de campo. Trabalhava aos sábados, domingos, feriados, carnavais e eventuais bailes noturnos em dias da semana. Foi nessa época que meu relógio biológico despirocou de vez; e continua assim até hoje. Mas, então, o sono não me fazia falta. A juventude me bastava. Trabalhei na função de caixa. Vendia fichas para os sócios, de refrigerante, cerveja, porções de batata frita, amendoim etc, ou trabalhava, às vezes, no restaurante, diretamente com os garçons, fechando a conta dos clientes. Em pouco tempo, o gerente financeiro, conhecido à boca pequena como Rosquinha, elogiou meu desempenho. Meu fechamento de caixa sempre batia, nunca faltava dinheiro. Tanto que, em certos fins de semana, eu não assumia nenhum caixa específico, ficava como uma espécie de volante. Dava assistência aos outros caixas, repunha suas fichas, leva-lhes troco, reprogramava as máquinas registradoras eletrônicas, uma novidade em 1986. Eu não recebia um puto a mais por isso, mas o meu contato com os sócios nesses fins de semanas era bem menor, quase que nulo, o que já era uma paga em si. Eu também já sabia daquilo, que eu era um bom caixa, acima da média (a questão é que a média é muito baixa). Igualmente aos elogios por meus trabalhos como office-boy e digitador, também não me senti engrandecido ou envaidecido por esse. Eu não me via um caixa de clube. Não me sentia um caixa de clube. Não me acreditava um caixa de clube. Trabalhei lá de outubro de 1986 a setembro de 1989.
Demiti-me do clube quando, então, arrumei um emprego noturno, de segunda à sexta-feira, das 19 às 23 horas, nas Faculdades Barão de Mauá. Barganhei os meus fins de semana pelas minhas noites. Além do quê, a faculdade ficava a poucos quarteirões de casa. Em muitas ocasiões, eu saía direto da faculdade de Química, às 18 horas, e ia direto para o trabalho, sem jantar nem nada. O alimento pouca falta me fazia. A juventude me nutria (e não dava barriga). Trabalhei como fotocopiador. Operava, muitas vezes simultaneamente, três grandes máquinas de "xerox", nas quais eram impressos desde material interno para a escola até cópias de cadernos e livros para os alunos da faculdade. Uma média de duas mil, duas mil e quinhentas cópias por dia. De novo, em pouco tempo, o chefe do setor elogiou o meu desempenho. Disse-me que o setor de fotocópias nunca estivera tão organizado e em dia com os pedidos e as encomendas. Eu era um exímio fotocopiador. De novo, assim como das minhas destrezas como office-boy, digitador e caixa de clube, eu também já sabia daquilo. Igualmente aos elogios feitos às minhas pregressas funções, também não me senti engrandecido ou envaidecido por esse. Eu não me via um fotocopiador. Não me sentia um fotocopiador. Não me acreditava um fotocopiador.
No fim de 1993, resolvi assumir para mim mesmo o que eu já sabia há tempos : que eu também jamais concluiria o curso de Química. Conversei com meu chefe, um dos filhos do então dono da faculdade, e ele concordou em mudar meu turno de trabalho para o período da manhã para que eu pudesse cursar Biologia - e me formar, enfim - na própria Faculdade Barão de Mauá. Como funcionário, eu tive bolsa de estudos integral, pagava apenas as matrículas de janeiro e julho, visto que o curso era de regime semestral.
Em 1994, comecei a cursar Biologia, a única graduação que carrego em meu magro e preguiçoso currículo. Sendo um curso voltado à licenciatura, no segundo semestre de 1995, precisei fazer um estágio obrigatório de 180 horas, que consistia, simplesmente, em assistir 180 aulas ministradas por um professor da área. Munidos de um ofício fornecido da faculdade, dirigíamo-nos a uma escola pública ou particular para que algum professor nos concedesse o tal estágio. Estágio que era controlado e registrado em um caderninho com 180 espaços em branco, que deveriam ser preenchidos com o assunto dado em cada uma das aulas e, ao fim do estágio, carimbados e assinados, cada um dos 180 espaços, pelo professor responsável. Só com a entrega do caderninho completo, seríamos promovidos ao próximo ano do curso.
Fui muito bem recebido pelo professor Gilson, de Ciências, que pouco tempo depois, sem eu jamais ter suspeitado disso no início, viria a se tornar o meu grande mentor na carreira docente. Pediu que eu falasse um pouco de mim, sobre a minha "decisão" de ser professor. Acontece que eu nunca decidi ser professor. Inclusive, quando comecei a cursar Biologia, eu nem sabia se tratar de um curso de licenciatura; tomei ciência disso apenas no segundo semestre do curso. Comecei a cursar Biologia porque eu já estava "velho", carregava o fracasso de duas faculdades nas costas e precisava, desesperadamente, me formar em algum curso superior. Com vistas à bolsa de estudo, dos cursos oferecidos pela faculdade na época, o de Biologia era o que me era mais afim. Cursei Biologia, sim, por certa afinidade com o seu conteúdo, mas principalmente porque era o que me estava às mãos. Claro que não disse isso para ele. Fiz um breve resumo dos meus fracassos acadêmicos, devo ter dado uma floreada aqui e acolá, e o velho mestre acabou meio que se identificando comigo.
Ele também cursara Química como primeira faculdade, Química Industrial. No seu terceiro ano, precisando de uma renda extra, aceitou umas aulas para pagar as contas e acabou seduzido pelo magistério, isso lá pela década de 1960. Deixou a Química de lado e abraçou a Biologia. Nada a ver com o meu caso. Mas, por alguma razão, ou pela falta dela, ele achou nossas trajetórias parecidas - talvez tenha me visto como uma versão mais jovem sua - e me aceitou prontamente como estagiário.
Sabendo que eu trabalhava, falou que eu não me preocupasse em cumprir regiamente as 180 horas de estágio, que eu poderia assisti-las de acordo com minhas disponibilidades, e que, independente das horas de fato cumpridas, ele assinaria a totalidade delas para mim no fim do semestre. Era o que eu queria ouvir. Ninguém aprende a ser professor só assistindo a aulas. Sejam elas quantas forem, 180, 1800, um mol de aulas. Fosse assim, eu já seria um professor hábil e formado, pois estava, então, com 28 anos e desde os 6 na escola. Vinte e dois anos assistindo a aulas. Olha só o porrilhão de aulas que eu já assistira.
Recusei, no entanto, a sua generosa oferta. Não por honestidade genuína, mas muito mais pela vergonha de não parecer honesto. Falei que eu faria o possível para assistir a todas, mas se, por motivos justificáveis, eu não conseguisse, aceitaria algumas assinaturas fantasmas. Acabei por cumprir todas as 180 horas.
Professor de Ciências do bons e das antigas que era, Gilson gostava de realizar pequenos experimentos e práticas com seus alunos. Experimentos básicos, simples, mesmo. No entanto, confidenciou-me um dia, que um dos experimentos, o da eletrólise da água, não dava certo já há alguns anos. Ao invés dos esperados gases hidrogênio e oxigênio formados nos respectivos polos negativo e positivo, surgia um gás esverdeado e de odor ardido e corrosivo. Sem me ater e me prolongar em detalhes técnicos (a postagem já está grande pra caralho), só direi que descobri o problema e o solucionei.
A partir daí, Gilson me nomeou o seu AAA, assessor para assuntos acadêmicos.
Terminei o estágio em fins de novembro de 1995. Agradecemo-nos, despedimo-nos e ele reforçou a recomendação de que eu deveria mesmo seguir a carreira de docente, que eu poderia me tornar um ótimo professor.
Em 1996, segui com minha vida normal, terceiro ano da faculdade à noite e trabalho de fotocopiador durante o dia. Em abril, Gilson ligou lá em casa. Queria falar comigo. Disquei o número de telefone que ele deixara com a minha mãe. Havia ligado, disse-me, para me oferecer um emprego de professor, em uma grande escola particular da cidade, na qual ele também lecionava. Naquele ano, a escola começaria um projeto chamado Centro Tecnológico. Dois laboratórios onde os alunos dos sétimos e oitavos anos tomariam contato e aprenderiam os rudimentos de componentes eletrônicos, resistores, transistores, sensores etc. Para um dos laboratórios, já havia um professor, ele próprio; para o outro, pensara em mim.
Aceitei. Demiti-me da função de fotocopiador (o ex-chefe ainda me concedeu 60% de bolsa para o ano e meio restante do curso) e, uma semana depois, comecei a ser professor. Contíguos e intercomunicáveis por uma porta que eram os dois laboratórios do Centro Tecnológico, Gilson vivia fazendo rápidas incursões naquele em que eu estava trabalhando, via como eu estava me saindo, socorria-me, orientava e me dava valiosíssimas dicas de como melhor conduzir uma aula. Dicas, muitas delas, que uso até hoje. Aprendi verdadeiramente a dar aulas ali, no Centro Tecnológico, sob a sábia batuta de Gilson.
Ao fim do primeiro bimestre, Gilson disse que suas previsões haviam se confirmado, que eu era um ótimo professor, que os alunos estavam gostando da minha aula etc. Eu também já sabia daquilo. Porém, diferentemente dos elogios feitos pelos meus ex-chefes às minhas habilidades em minhas antigas profissões, senti-me engrandecido por esse; envaidecido, até, meu ego inflou feito um suflê; talvez por vir de alguém por quem eu tinha (tenho) profunda admiração intelectual, profissional e pessoal. 
Eu me vi um professor. Me senti um professor. Me acreditei um professor.
Daí, então, a minha desgraça.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

A Hora da Onça Beber Breja

Há poucos dias, uma imagem chocou e estarreceu ambientalistas, ecologistas, ONGuistas e outros viadinhos política e ecologicamente corretos : um filhotão de onça-pintada a carregar e a brincar com um latão de cerveja.
Água é o caralho!!! É a hora da onça beber breja!!! É água que passarinho e tuiuiu não bebem, mas que onça entorna!!! Como dizia o grande Mussum : esse é do sindicatis!!! Não consegui identificar a marca da cerveja pela foto. Pareceu-me uma Skol. Alguém saberia dizer?
A cena foi registrada às margens do rio São Lourenço (MT) pelo pesquisador e biólogo sensível Gustavo Gaspari, que lamentou em suas redes sociais : "Foi triste e vergonhoso ver a presença de lixo dentro de uma unidade de conservação e no local onde há a maior concentração de onças-pintadas no planeta. Me senti triste por ver um animal tão incrível sendo afetado pela nossa falta de educação e por compartilhar essa cena com inúmeros turistas de diversos países. Uma cena, no mínimo, horrível".
Outros ecologistas mais afrescalhados atentaram para um fato que agrava ainda o caso : a onça em questão é menor de idade. O que acrescenta também crime contra a criança e o adolescente, previsto no ECA, a cartilha de formar marginais, ao crime ambiental.
Viadagem, meus caros, viadagem. Uma bebida de baixo teor alcoólico como a cerveja poderia até causar danos e deixar zureta um filhotão de humano, mas não é nada para um filhotão de onça, criado e aleitado no mais puro leite de onça!
Outros ecobichas se horrorizaram ainda mais : que coisa horrível, que coisa horrível... nem era cerveja artesanal, nem era uma puro malte.
Pããããããta que o pariu!!!
Só está faltando agora dizerem que foi o Bolsonaro que jogou a latinha nas margens plácidas do rio São Lourenço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Campanha Outubro Mamilo Rosa

Tem anos que ela vem mais cedo; em outros, mais tarde. Mas nunca falha. A já mundialmente famosa Campanha Outubro Mamilo Rosa. A campanha-chefe de cunho sócioeducativo do Marreta. Nunca falha nem nega fogo o imbrochável compromisso de utilidade pública assumido pelo Marreta do Azarão desde a sua fundação, desde que ele veio a furo ao mundo, desde que estuporou na blogosfera.
E do arco-íris gregoriano, só me interessa mesmo o Outubro Mamilo Rosa. Quero o que Janeiro Branco (da saúde mental) se foda; idem para o Fevereiro Roxo (lúpus, fibromialgia, mal de Alzheimer), o Março Azul (câncer colorretal), o Abril Verde (segurança do trabalho), o Maio Amarelo (acidentes de trânsito), o Junho Vermelho (doação de sangue), o Julho Amarelo (hepatite e câncer ósseo), o Agosto Dourado (aleitamento materno), o Setembro é patriota, é Verde e Amarelo (doação de órgãos e prevenção ao suicídio, respectivamente), o Novembro Azul (o da dedada no cu) e o Dezembro Vermelho (prevenção contra a AIDS).
Que se fodam o lúpus, as colisões automobilísticas fatais, os acidentes de trabalho (até porque se o cara perde um dedo no torno, ele acaba até virando Presidente da República), os caras que se enforcam, ou cortam os pulsos, ou pulam de prédios, os proctologistas e os que se contaminam com o bichinho do Cazuza.
Só me interessam os peitos!!! Inicialmente, mananciais de nutrientes, anticorpos e de vida; depois, fonte do desejo de continuarmos a viver.
Que outros falem de doação de sangue, de esquizofrenia, depressão e outros mi-mi-mis. Aqui, eu só falo de peitos. Peitões, de preferência!
É o Outubro Mamilo Rosa, mulherada! Tempo de se tocarem, de se apalparem. Do autoexame das mamadeiras! Do cuidado com as cornucópias! Alegrem-se. Deixem-nos também alegres!
Danielle Riley

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

O Padre Serial Cu de Monte Sião

Tomado por excruciante dilema existencial e vocacional, o jovem aspirante a monge procurou auxílio para as suas aflições no autointitulado abade Ernani Maia dos Reis, um misto de confessor, professor, conselheiro e pai espiritual, o então líder do Mosteiro Santíssima Trindade, em Monte Sião (MG). Nos últimos tempos, o confuso noviço estava sentindo muito mais forte o chamado da carne - da carne da buceta, a famosa carne mijada - que o de Deus. Disse ao seu superior eclesiástico que pensava mesmo em deixar a vida monástica para constituir família.
Escolado que só ele, com décadas de experiência em lidar com as angústias de seus pupilos, o abade sacou logo de cara qual era o verdadeiro tormento do mancebo, qual era o verdadeiro conflito interior que o açoitava. E com o tato de um hipopótamo, de um Mike Tyson, de um Jair Bolsonaro, de um Marreta do Azarão, disse ao desnorteado monge : "mas você é gay, casar para enganar uma moça, mentir pra ela uma vida inteira? Porque você é gay".
Isso posto, pegou na mão do monge, levou-a ao seu próprio pênis e disse : "você tá precisando disso aqui, de pinto".
Esse didático e esclarecedor diálogo é parte do depoimento de um homem identificado apenas como vítima 1 na extensa reportagem do portal UOL sobre o caso de assédio e estupro que pesa contra o padre Ernani e cujo link disponibilizarei ao fim de mais esta herege postagem. Vítima 1 que teve sua virgindade anal subtraída pelo padre, que teve profanado o seu sagrado templo das pregas. Vítima 1 de um total de oito homens, com idades entre 20 e 43 anos, que acusam o padre Ernani de lhes passar a vara, o seu cajado de Moisés.
É o serial cu de Monte Sião! É o psicopinto do Mosteiro da Santíssima Trindade!
Segundo os relatos das oito vítimas, o modus operandi do imbrochável padre Ernani era confudi-las a respeito de suas sexualidades, envolvê-las, convencê-las de que eram gays, seduzi-las e, por fim, traçar-lhes os respectivos roscofes.
Convencer um sujeito de que ele é viado? Como é que é isso?
Acontece que, além de padre, uma das profissões mais finórias que há, o padre Ernani também é formado em psicanálise pela Escola Paulista de Psicanálise. Padre e psicanalista! Valha-me São Gianndre!
Padre e psicanalista. Aí, é juntar a fome com a vontade de comer. A corda com a caçamba. O confessionário com o divã. Ou, no caso, o cu com a rola.
Primeiro, nas sessões de apoio espiritual, e, subsequentemente, nas de psicanálise, o padre Ernani se valia dos ensinamentos de Cristo, Freud, Jung e Lacan para detectar as gazelinhas mais vulneráveis, mapear os seus calcanhares de Aquiles, isolá-las do rebanho, "convencê-las" de que gostavam de piroca e passar-lhes o seu inquebrantável e ungido cajado de Moisés.
Não nego a influência que uma figura de autoridade, uma figura pela qual se tenha admiração intelectual e profissional, possa exercer sobre os seus comandados. Mas daí a "convencer" o sujeito a escorregar no quiabo? De que ele gosta de judiar do cu? Sei não...
Nesse casos, tenho cá pra mim, que o sujeito já veio bichona ao mundo. E só estava esperando que alguém lhe desse o aval para exercer o ofício do orifício, só estava esperando alguém que lhe emitisse um alvará de funcionamento. E que alguém melhor que Deus para isso, ou, pelo menos, um de seus dignos representantes terrenos?
E isso de convencer o cara que ele é viado, me lembrou de uma piada, de um LP antigo do Costinha.
"Em retorno de um cruzeiro que fizera pelo litoral brasileiro, o português conta ao seu patrício : como o brasileiro é burro! Lá dizem que nós cá é que somos burros, mas o brasileiro que é burro! Como o brasileiro é burro! Acredita em tudo que se lhe diz. Em tudo que se lhe diz, ele acredita! Eu falei prum brasileiro que eu era viado e ele veio me comendo a viagem inteira! Como é burro, o brasileiro."
E Padre Ernani é um completo Don Juan. Suas armas de encantamento vão muito além dos conhecimentos de Cristo, Freud, Jung e Lacan. O padre domina igualmente todas as artes do flerte e da sedução. Até pianista clássico, o serial cu é.
Uma vez escolhida a gazela a ser abatida, padre Ernani a enchia de agrados, mimos e delicadezas, a tratava feito uma verdadeira moça donzela. Presenteava o pretendido com luxos que lhes eram impossíveis dentro do mosteiro, com mordomias proibidas pela vida monástica. 
Uma das gazelinhas, ele levou em uma viagem de lua-de-mel, viagem cujo objetivo oficial era tratar de negócios da igreja, fazer contato com fornecedores do mosteiro. Na cidade, foram ao cinema, jantaram em restaurantes finos, beberam boas safras do sangue de Cristo. Ao fim da noite, padre Ernani sugeriu que fossem a um motel. E a gazelinha topou. E agora, acusa o padre de abuso : "Ernani tomou banho primeiro. E me pediu para fazer o mesmo. Quando saí do banheiro, ele estava na cama. Só de cueca. Deitei e ele começou a passar a mão no meu corpo. Perguntou se eu queria realizar as minhas fantasias sexuais com ele. Ele me abraçou e começou a tocar o meu corpo. No final, transou comigo. Foi uma coisa abusiva."
O psicopinto chama o cara para ir a um motel. E ele vai. Fala para ele ir tomar um banho, pra ficar com o cu limpinho, e ele vai. O padre tá só de cueca na cama e o cara se deita ao lado dele. Abusivo? E depois de tantos agrados e atenções? É claro que o cara ia dar pro padre!
Isso de agrados e gentilezas, me lembrou de outra piada, do mesmo LP do Costinha. Que as piadas - as boas piadas - nada mais são que a nossa triste verdade contada de forma alegre.
"Sabendo que o português viajaria para o Brasil, seus amigos e patrícios sugeriram que ele saísse com um travesti quando aqui chegasse. Os travestis são uma maravilha, disseram-lhes os amigos. Bonitos, bem cuidados, educados e não têm certos pruridos morais e frescuras que muita mulher tem, não têm frescura nenhuma, os travestis, fazem tudo que lhes pedem. O português chegou, se instalou no hotel e tratou de arrumar um travesti para uma noitada. Pegaram um táxi para ir ao cinema e, quando o português foi pagar a corrida ao chofer, o traveco tomou a frente : "imagina, se eu vou deixar você pagar a corrida, você é o visitante, pode deixar que eu pago, deixa eu mostrar a hospitalidade brasileira pra você. E o traveco pagou a corrida. No guichê do cinema, a mesma coisa, o traveco fez questão de pagar pelos ingressos. No jantar após o cinema, no choppinho após o jantar, o traveco foi pagando tudo. No motel, o traveco tirou a roupa, ficou de quatro na cama e falou : "agora, vem meu portuga gostoso, mete gostoso em mim". Aí, o português : "ora, pois, depois de tanta gentileza, quem vai dar o cu hoje sou eu!".
Outros, padre Ernani levava ainda a compras em shoppings etc. Mas a base de operações do padre, o seu quartel-general, era a sua humilde residência paroquial dentro do mosteiro. O matadouro conhecido por todos, simplesmente, como a "casinha". Ei-la, abaixo.
Era na "casinha" que o serial cu de Monte Sião se chafurdava nas pregas da maioria de suas "vítimas". Ele as convidava para verem futebol, filmes (pornôs, muitas das vezes), tomarem um banho quente (aos monges só são permitidos banhos frios) e bebericarem vinho, uísque, cerveja ou cachaça. Um dos frequentadores da "casinha", o homem identificado como a vítima 2, é quem nos conta : "Ernani me chamava para ir na casa dele. Ele me recebia de short ou de cueca samba-canção. Até que um dia, pediu para eu massagear a parte íntima dele. Pediu para eu o masturbar. Ele tentou pegar nas minhas partes, mas eu não deixava".
"Até que um dia", diz parte da fala, o que mostra que a vítima 2 fora repetidas vezes na "casinha". O padre chamava o cara para assistir a um futebol, a um filme pornô, para tomar um vinho e já recebia o cara na porta só de cueca e de pau duro. E o cara ia. Pããããããta que o pariu se ia!!!! O que nos leva a pensar : até que ponto o padre é assim tão predador, assim tão Lobo Mau, e suas vítimas, tão assim Chapeuzinhos Vermelhos?
O cara tá ligado que o padre quer passar a vara nele, tá ciente de que o padre está de olho em sua hóstia consagrada, que o padre tá querendo brincar com ele de Virgem Maria e Espírito Santo. O padre chama e o cara vai. E vai várias vezes.
O que, mais uma vez, me lembrou de outra piada do Costinha.
"Da janela de seu apartamento, todas as noites, o cara via uma loira fantástica, escultural, peitudíssima, se trocar no prédio de frente para o seu. Um dia, ele decide bater na porta da loira. Conta os andares, as janelas e deduz que a loira mora no apartamento 42. Entra no prédio, bate na porta do 42 e um baita dum negão, de dois por dois, o atende. Meio assustado, o cara pergunta : não é aqui que mora uma loira bonita, gostosa, assim, assim? É aqui sim, fala o negão, pode entrar. O cara entra, não tem loira nenhuma, e o negão dá-lhe uma bela duma "carcada". Perseverante, ele refaz as contas, tem certeza de que a loira mora no 42 e volta lá no dia seguinte. Mesma coisa. Sai de lá com o cu em panderecos. E a rotina se repetiu pelos outros dias da semana. Até que, no sábado, ele bate de novo à porta do 42 e a bela loira lhe atende. Peladinha, bicos dos peitões róseos e durinhos, bucetinha cabeluda e escorrendo pelas pernas. Pois não, diz-lhe a loira. E ele : não é aqui que mora um negão grande, forte, assim, assim?".
Além do quê, não há nenhuma criança, nenhum menor de idade com 11, 12 ou 13 anos entre as vítimas do serial cu. Todas são homens entre vinte e poucos e mais de quarenta anos. Homens com força física para conter, inclusive na porrada, os assédios e as viadagens do padre.
Os relatos me parecem papo de Madalena Arrependida. O cara tava morrendo de vontade para sentar no cajado de Moisés. Quando viu o tamanho da abertura que ele causou em seu Mar Vermelho, bateu o arrependimento, a culpa cristã. Ou, o padre prometeu mundos e fundos pelos fundos dos monges e, depois que os comeu, deixou de mimá-los e presenteá-los, deixou de cumprir suas promessas de campanha. Rancorosas que só elas, resolveram botar a boca no trombone. Boca que muito já haviam colocado no apito de chamar anjo do padre Ernani.
Desde 2018, porém, o padre Ernani se desligou do Mosteiro da Santíssima Trindade e de suas obrigações religiosas. Não por algum tipo de punição imposta pela Igreja Católica frente às denúncias. Que se a Igreja fosse punir e expulsar todos os boiolas de seus quadros, logo, logo, ficaria sem mão de obra.
Padre Ernani saiu por vontade própria. Alegou cansaço (pudera) e conflito vocacional.
Eu, por acaso, já tinha um vago conhecimento sobre o Mosteiro da Santíssima Trindade e das putarias que, possivelmente, ocorriam e ocorrem por lá. Minha sogra é católica, praticante, devota e tudo. Há alguns anos, numas dessas viagens do pessoal da terceira idade, ela visitou o tal mosteiro. A beleza do local a impressionou, assim como a beleza dos noviços ali alojados. Falou que pareciam todos atores de novela, modelos fotográficos. Que parecia que tinham sido escolhidos a dedo. Também lhe surpreendeu a delicadeza dos moços. Disse categórica : "tudo viado legítimo". "Viado legítimo" é a expressão que ela usa quando quer deixar claro que a viadagem do sujeito é clara, evidente e inequívoca. "Tudo viado legítimo". Tava certíssima, a  minha sogra e sua temível língua.
Hoje, com 53 anos, padre Ernani reside na cidade paulista de Franca e atua como psicanalista. E aqui se faz necessário abrir um parêntese sobre a cidade de Franca, a outrora Capital do Calçado. Franca já foi lar e cenário de atuação do Padre Dé, acusado de abusar sexualmente de oito de seus coroinhas e condenado, em 2010, a 60 anos de prisão. O nome do padre aparece, inclusive, na extensa lista de sacerdotes católicos acusados de pedofilia ao redor do mundo exibida ao fim do filme Spotlight. Padre Dé morreu em julho de 2016, e até fevereiro do mesmo ano já havia sido inocentado em sete dos oito casos em que fora acusado, devido a várias inconsistências nos depoimentos. E, agora, Franca serve de refúgio para o serial cu de Monte Sião. O que em Franca suscita tanta predileção dos padres taradões? Estará Franca, para os padres taradões, o que a Argentina esteve para os refugiados nazistas da Segunda Grande Guerra? Fica esperto, Leitinho!!!
Desligado da Igreja, a justiça dos homens, agora, irá atrás do padre Ernani. A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as denúncias. Aguardemos.
A verdade é que a real vocação do ser humano sempre foi e será a putaria! Se ainda por cima, o cara se sente protegido (e ele está) pelos muros reais e metafóricos de uma instituição milenar, aí é que ele vai se esbaldar, mesmo.
Abaixo, o padre Don Juan, o serial cu de Monte Sião.
Para ler a reportagem completa sobre o caso, é só clicar aqui, no meu nada católico MARRETÃO.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Coletivos

Me sentir pertencente?
É coisa de conjunto,
De subconjunto,
De conjuntos vazios.
 
Me sentir parte de uma coletividade?
Coletivo é :
Cardume
Enxame
Nuvem
Formigueiro
Matilha
Alcateia
Manada
Tropa
Vara
Feixe
Réstia
Resma
Molho (ó)
Cáfila.
 
Coletivo :
É busão lotado às seis da tarde cheirando a sovacos, cus, sacos e bucetas azedos
É baile funk
É festa do peão
É final de campeonato
(flaflu, grenal, come-fogo)
É praça de alimentação de shopping
É churrascaria de beira de estrada com música ao vivo
É quadra de escola de samba
É o congestionamento e a trombose das artérias principais da cidade nos horários de pico
É a procissão que lagarteia em intenção de um Deus surdo/sádico
É loja de 1,99 e de saldos de balanços em véspera de Natal e do Dia das Mães
É a sala de aula fordista a certificar e a desovar frotas de analfabetos nas ruas
É a pandemia que é a raça humana.
 
Quero que o coletivo se foda.