sábado, 31 de julho de 2021

Pequeno Conto Noturno (86)

A mesma praça 
Os mesmos bancos
Os mesmos postes de sódio
A mesma nostalgia.
 
A mesma loja de conveniência contígua
A mesma cerveja barata
Os mesmos canteiros órfãos de crisântemos
A mesma escadaria.
 
Sento-me ao seu primeiro degrau.
Bebo.
Quedo-me ali por uns trinta minutos.
Rever e brindar
A velhos fantasmas
(eu decido o dia do meu Dia de Finados).
 
Mas eles não aparecem
(apenas os mesmos morcegos na mesma jabuticabeira).
 
E é quando eles mais me assombram :
Quando não vêm me assombrar.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Rússia é Medalha de Ouro no Jeitinho Brasileiro

Além das provas de atletismo, ginástica artística, ginástica de aparelhos e levantamento de peso, outra "modalidade" olímpica da qual também gosto muito é a de me pôr a deduzir quais são os países representados por aquelas siglas de três letras que aparecem no canto da telas durante as competições e nas roupas dos atletas, a de tentar decifrar o código que o COI (Cômite Olímpico Internacional) atribui a cada nação participante.
Alguns são facílimos, não tem nem graça, a exemplos, ARG (Argentina), GBR (Grã-Bretanha), ITA (Itália), JPN (Japão), BRA (Brasil), CHN (China) etc.
Outros já exigem não somente uma boa capacidade dedutiva como também um bom conhecimento do globo, por exemplos, CPV (Cabo Verde), CIV (Costa do Marfim), LAT (Letônia), INA (Indonésia), SVK (Eslováquia), COD (República Democrática do Congo).
Mas que porra era aquele ROC, que eu nunca tinha visto nem ouvido falar? Fosse quem fosse, estava arrebentando, estava entre os cinco primeiros do quadro geral de medalhas. Lembrei do nome de quatro países iniciados pela letra R. Romênia, Ruanda, Rússia e República Tcheca. Mas, pelo que me lembrava, a nenhum deles correspondia o código ROC.
Fui atrás e vi que, enfim, era a Rússia. Mas por que usar ROC ao invés do bom e velho RUS?
Pesquisei.
Em 2016, a casa caiu para o esporte russo. A casa, não. O Kremlin caiu para a delegação olímpica russa. O WADA (World Anti-Doping Agency) obteve fortes evidências de um doping em massa entre os atletas russos, um doping coletivo, e, ao que tudo indicava, patrocinado pelo próprio governo russo, um doping institucional, por assim dizer. Talvez ainda o sonho do supersoldado a serviço de sua bandeira.
Instalou-se, então, um verdadeiro jogo de espiões entre o WADA e o governo russo, um kasparóvico duelo de informações e contrainformações. O governo russo se valeu de táticas evasivas e de manobras de ocultação dignas dos bons tempos da Guerra Fria. Valha-me Santa KGB!
Mas não houve como. Em 2019, a Rússia foi condenada pelo WADA por adulteração de dados laboratoriais, por produzir contraprovas negativas, por plantar evidências falsas e apagar arquivos que viriam a confirmar o doping em massa e, principalmente, que ele era levado a cabo pelo governo russo.
Como punição, a Rússia ficou proibida de participar de qualquer competição esportiva internacional, inicialmente, por um período de quatro anos. No ano passado, o Tribunal Arbitral do Esporte, respondendo favoravelmente a uma petição, reduziu a pena para dois anos. Dessa forma, a suspensão da Rússia só perderá seu efeito em 16 de dezembro de 2022. O que a excluiria dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e da Copa do Mundo de 2022, no Qatar.
Não só excluiria como, de fato, excluiu. A Rússia.
Porém, e é aí que entra em ação o jeitinho brasileiro, a punição do WADA não excluiu os atletas russos; aqueles que, comprovadamente, não estavam envolvidos no escândalo do doping em massa.
Thomas Bach, presidente do COI, "por questão de justiça", autorizou que uma delegação de atletas russos "limpinhos", agora designados como atletas neutros (até parece coisa da ideologia de gêneros), competisse em Tóquio. Desde que não houvesse nenhuma alusão ou referência à Rússia durante as suas apresentações.
Assim, a Federação Russa (RUS) foi substituída por Comitê Olímpico Russo (ROC), a bandeira russa pela bandeira neutra do ROC, que não representa nenhuma nação, e o Concerto para piano nº 1, de Tchaikovsky, é executado em lugar do Hino Nacional da Federação Russa, quando um atleta não-russo sobe ao primeiro lugar do pódio.
Realmente. Nenhuma alusão à Rússia, absolutamente nenhuma. Nada nos atletas neutros nos remete à pátria de Stálin. Nenhuma reles pista ou indicação de onde eles sejam : Comitê Olímpico... RUSSO! A bandeira do ROC manteve as cores branca, azul e vermelha, as mesmas da bandeira da... RÚSSIA. Tchaikovsky foi um gênio... RUSSO da música.
Tenho até a certeza de que, se perguntado sobre o ROC, Vladmir Putin, cossaco das antigas, se sairia a la Lula e responderia : essa delegação é de um amigo meu.
Pããããããta que o pariu!!! Medalha de ouro do jeitinho brasileiro para a Rússia!!!
O ardil do ROC está parecido com aqueles filmes antigos de gangsters americanos. Na fachada, o estabelecimento é uma barbearia, uma floricultura, uma lavanderia etc, mas nos fundos da loja funciona o comércio ilegal de bebidas, armas, drogas e cafetinagem.
O ROC é a empresa de fachada da delegação russa nas Olimpíadas de Tóquio 2020.
Maracutaias à parte, até que esse foi um jeitinho do "bem", por assim dizer. Não favoreceu apenas os maiores interessados na tramoia, a Rússia. Também beneficiou os espectadores do evento. Deixar os atletas não-russos de fora da competição seria alijar de forma mortal a grandiosidade dos Jogos e do espetáculo. Os não-russos são fodas. Fodões. Resultado inevitável da combinação de três fatores : investimento financeiro no esporte, tradição (leia-se aqui experiência, longa vivência, conhecimento) e disciplina.
Eis um aspecto que julgo positivo nos regimes comunistas das antigas como o da Rússia e o da China (outra que está nas "cabeças" do quadro de medalhas) : a disciplina. E, claro, muito trabalho motivacional realizado em cima do atleta : ou você traz medalha, ou vai treinar uma temporada no Gulag. Disciplina e motivação. Pãããããta que o pariu se funcionam!
Maracutaias à parte (2), e agora é uma utopia minha (sim, também as tenho), quem sabe esse jeitinho brasileiro aplicado à Rússia não venha a criar um futuro precedente para que outros Comitês de atletas neutros possam vir a competir internacionalmente fora da sombra e dos grilhões de suas bandeiras?
Comitês, inclusive, compostos por atletas de diferentes nacionalidades. Comitês de apátridas que não se reconhecem em seus países, que não têm nenhuma vontade ou obrigação moral de promover o nome de suas pátrias, que consideram que seus países nada fizeram para que eles se tornassem atletas de elite, atletas que se construíram sozinhos, às próprias expensas.
Como é o caso da maioria dos atletas brasileiros, exceções feitas aos praticantes de uns três ou quatro esportes mais "nacionais". Atletas brasileiros em início de formação, de modalidades como atletismo, judô, natação, por exemplos, não recebem um tostão furado do governo da Pátria Amada Brasil para custear os seus treinamentos e suas carreiras. A grande maioria deles banca tudo do próprio bolso, treinamento, alimentação, equipamentos, inscrição e transporte para as competições.
Subir ao pódio com a bandeira de um país desse, por quê? No Brasil, o atleta só passa a conseguir algum patrocínio depois de ter sido campeão em alguma coisa. Países como a Rússia, EUA, China, Japão, os europeus de forma geral, investem na formação de campeões. O Brasil só investe depois que o cara se sagra campeão. Mas, como eu disse, delegações apátridas são apenas uma frágil utopia minha.
Abaixo, a bandeira não-russa.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Seu Peru Morreu de Véspera

"Valha-me São Lourenço!!! Ele está comigo porraqui!!!"
Orlando Drummond
1919 - 2021

O Incagável Bolsonaro Promete Jogar Merda no Ventilador

Depois de uma severa obstrução intestinal, depois de um agonizante período de empedramento e enfezamento, não é de surpreender que o incagável Bolsonaro esteja prenhe de merda madura, prontinha pra ser dada à luz e ao ventilador.
E é o que o Mito promete fazer em sua live desta quinta-feira (29/07) : jogar no ventilador a merda das fraudes das urnas eletrônicas, as urnas de Pandora.
Em uma hora, uma hora e meia, de transmissão, Bolsonaro garante que mostrará, em linguagem que todos possam entender, que houve graves "inconsistências" nos pleitos presidenciais de 2014 - vencido pela quarta vez consecutiva por Lula, a segunda vez na pele de seu avatar de saias e grelo duro Dilma Rousseff - e de 2018 - quando, garante, teria ganho no primeiro turno, não fossem as maracutaias cometidas nas urnas de Pandora.
Ainda que sem riqueza de detalhes, lembro-me razoavelmente bem do quadro geral da eleição de 2014, do segundo turno entre Lula Rousseff e Aécio Neves. Todos os prognósticos, pesquisas de intenção de votos e mesmo as manifestações populares de rua, indicavam a vitória do neto do Tancredo. Não uma vitória estrondosa e acachapante, mas um vitória. Uma vitória com relativa folga, para além das margens de erro inerentes às pesquisas.
Deu Lula Rousseff. Aécio Neves perdeu em Minas Gerais, foi o que nos disseram à época. Alegação que, hoje, soa das mais incongruentes. Como Dilma Rousseff, a famosa companheira Estela, notória terrorista vermelha, pode ter ganho uma eleição presidencial no mesmo estado (MG) que a rejeitou para o cargo de senadora nas eleições de 2018? Dilma não foi eleita pelo povo mineiro para nenhuma das três vagas do Senado, e foi posta no Palácio do Planalto pelo mesmo eleitorado?
Quando do resultado de 2014, Aécio Neves e o PSDB aventaram para a possibilidade de fraude, chegaram a cogitar um pedido de recontagem dos votos. Mas logo deixaram a desconfiança de lado. Obedecendo ao honrado espírito esportivo da política, admitiram a vitória de Lula Rousseff como legítima.
É a famosa recuada estratégica. É a velha política : hoje (2014), foi o PT que se aproveitou da vulnerabilidade das urnas de Pandora; da mesma forma, amanhã ou depois, poderemos ser nós (eles, o PSDB) a nos valermos das mesmas fragilidades. E o inimigo não terá o que fazer se não engolir nossa vitória, também.
Já repararam que ninguém, ou que raríssimas pessoas, reclama quando algum filho da puta entra na fila do caixa rápido do supermercado com um carrinho abarrotado de compras? E por que ninguém reclama? Por que o brasileiro é cordial, solidário, não quer criar uma situação constrangedora, armar um barraco? Porra nenhuma. Não reclama porque, por acaso, naquele dia, fora o filho da puta do carrinho cheio, todos estão a carregar a quantidade de pacotes dentro do limite do caixa rápido. Mas e amanhã, ou depois? Vá que amanhã, eles precisem passar com doze ou treze volumes no caixa rápido de dez? Ou com vinte e cinco ou trinta no caixa de vinte? Eles passarão. E esperarão contar com a mesma cumplicidade canalha que concederam ao filho da puta do carrinho lotado. E estarão certos. E a receberão.
É exatamente a mesma coisa na questão das fraudes das  urnas de Pandora. Eu fraudo hoje, você frauda amanhã, e vamos que vamos.
Sobre 2018, devido à pulverização inicial dos votos entre as dezenas de candidatos, acredito que não fosse mesmo possível - independente de manipulação das urnas ou não -, Bolsonaro ter sido eleito logo no primeiro turno. Já no segundo turno, estranhei imensamente a diferença tão pequena de votos que lhe deu a vitória sobre Lula Haddad. Estranhei, antes, até que o inexpressivo e desconhecido Haddad tenha chegado ao segundo turno. Se Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, como diz o Macaco Simão, é o picolé de chuchu, Haddad é uma raspadinha de puro gelo. E derretida. Haddad só era conhecido em São Paulo, e nem no estado inteiro, apenas na cidade de São Paulo, para a qual foi um prefeito tão de merda que não conseguiu se reeleger. Aí, "de uma hora pra outra", Haddad é o segundo mais votado para a presidência do país?
Creio que a diferença de votos entre Bolsonaro e Lula Haddad divulgada pelo STE tenha sido, sim, minorada. Um pouco para conter os ímpetos de Bolsonaro, para que uma ululante diferença de votos não lhe servisse como uma carta branca a lhe dar amplos direitos, para que ele não ficasse com a faca e com o queijo nas mãos. Como aconteceu com Lula, em 2002. E Lula roubou os dois, a faca e o queijo.
Algumas falas prévias de Bolsonaro sobre o assunto, algumas cenas de sua próxima live :
Nós vamos demonstrar na 5ª feira [29.jul]. A gente vai convidar a imprensa, vamos decidir o horário ainda, para demonstrar o que aconteceu no segundo turno de 2014, e também parte do que aconteceu em 2018. Que dá para você ter mais que o sentimento, a convicção que houve, sim, interferência, em 2014, e houve, sim, interferência em 2018″;
"Um hacker 'do bem' mostrou aqui e vou provar que [o pleito de] 2014 foi fraudado. Temos uma fotografia minuto a minuto dos votos em Aécio e Dilma até o final [da votação] e só Dilma aparecia na frente. [O evento] vai ser lá na Presidência e vou convidar a imprensa. Vamos desmontar a tese do [presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro Supremo Tribunal Federal Luís Roberto] Barroso de que urnas não podem ser fraudadas";
"Eu espero na semana que vem apresentar as provas de fraudes. Vamos apresentar uma fraude de 2014", disse o presidente. "Eu só consegui ser eleito porque tive muito voto. Eu vou comprovar semana que vem que teve fraude nas eleições de 2014. Vão vir hackers para mostrar";
"Por que os parlamentares são contra o voto impresso? É difícil entender o que está acontecendo";
"O que vale é a opinião pública, que não vai aceitar as eleições sem ser auditada e ter contagem pública. Hoje, meia dúzia contam a eleição. [...] Nós sim jogamos sim dentro das quatro linhas da eleição".
Conseguirá, o Capitão, demonstrar as tais "inconsistências" supostamente ocorridas nas eleições presidenciais de 2014 e 2010? Duvido muito. Não de que elas não tenham havido, mas de que ele conseguirá prová-las.
Se apesar disso, mesmo não provando as fraudes específicas em 2014 e 2018, ele conseguir, ao menos, mostrar que elas, as fraudes, são genérica e facilmente possíveis, mostrar que as urnas de Pandora são tranquilamente corrompidas ao bel-prazer de quem controla os órgãos eleitorais, que são um dos calcanhares de Aquiles da democracia brasileira, Bolsonaro terá nos prestado um bom serviço.
Aguardemos. 

domingo, 25 de julho de 2021

Tarde da Noite

Com o que ainda te bates
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Bananeira que já deu cacho?
Com o copo de vodka-cola
Ou com tua ruína,
Já indisfarçável
(seja por maquiagem, por meia-luz, pela tua presbiopia acentuada)
No espelho de Dorian Gray
Do teu banheiro?
 
O que ainda esperas
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Cujo útero
Há muito botou o último óvulo de inspiração?
Que essas velhas canções
Que tanto escutas
Te restaurem a juventude
O verbo
E o amor das amadas
Cujas oferendas não soubeste usufruir?
Que a Lua Cheia 
Deixe o Céu em apagão
Para servir-te
De novo
De abajur do teu criado-mudo
E pratear o teu repouso egoísta?
 
Por que ainda boxeias contra o sono
A essa hora da noite,
Oh, poeta,
Poço artesiano de areia e de ossadas?
Por que insistes em crer
Que eram a madrugada e o álcool
Os arautos do teu verso,
Quando eras tu a dama-da-noite
A se deixar polinizar pelas estrelas,
Dama que perdeu o passo e o gosto
Pelo tango e pela tragédia?

Vá dormir, poeta!
Que noites em claro
Não preencherão tuas folhas em branco.
Vá dormir.
Que é o melhor para ti e para os da tua idade.
 
É tarde, poeta.
Tarde da noite.
Tarde da vida.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Cerveja-Feira (41)

Agora, é oficial! Começaram as Olimpíadas de Tóquio 2020. Apenas com um ano de atraso. E logo no Japão, onde, por exemplo,  uma demora (ou uma antecipação) de poucos segundos na partida ou na chegada de um trem é motivo - e obrigação moral - para o dono da empresa ir à mídia se retratar pelo incidente. E logo por conta de um vírus fabricado na China, eterna inimiga do país do Sol Nascente.   
E o duro nem é o atraso de um ano por conta da peste chinesa, o duro é aguentar a peste do Galvão Bueno transmitindo o evento!
Oficial porque a abertura dos Jogos se deu hoje, às 19:45 h no Japão; aqui, doze horas a menos, 07:45 h. "O Japão é doze horas adiantado em relação ao Brasil", falou o Glavão. Doze horas? Doze horas porra nenhuma! Séculos adiantado, isso sim.
Oficial porque os jogos já começaram há dois dias. Nunca entendi essa porra direito. Primeiro, começam os jogos e só depois vem a abertura? Parece até planejamento escolar de escola do estado de SP. As aulas se iniciam em fevereiro e só lá pra março, depois do carnaval, ocorre o planejamento para o ano letivo. Nunca entendi essa porra direito, também.
E você pode estar se perguntando : o que tem a ver as Olimpíadas, as atividades físicas, os esportes, com a cerveja?
Tem tudo a ver. Ou, pelo menos, bem mais do você imagina.
Saibam que nem só de disciplina, de treinos espartanos, de dietas balanceadas e de anabolizantes vivem os atletas. Ou, pelo menos, não deveriam viver só disso.
Segundo um estudo do cardiologista Juan Antonio Corbalán, intitulado "Idoneidade da cerveja na recuperação do metabolismo dos desportistas", o consumo moderado da cerveja pode representar uma preciosa fonte diária de hidratação e reposição de eletrólitos. O próprio Juan Antonio Corbalán é um ex-jogador de basquete da seleção espanhola, medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles (1984).
Além da reidratação e reposição de sais minerais, o estudo indica que os outros componentes da cerveja - fibras solúveis, polifenol, magnésio, selênio, potássio, fósforo, biotina, crômio, vitamina B6, vitamina B12 e ácido fólico - também ajudam na recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da prática esportiva de alto rendimento e previnem as dores musculares. Ou seja, a cerveja ajuda o cara a ficar paudurescente, imune ao comunavírus e ainda a economizar no Dorflex.
Uma verdadeira panaceia, a santa cerveja!
O estudo, que durou dois anos e foi feito com atletas universitários na faixa etária dos vinte aos trinta anos, recomenda
três tulipas de 200 ml de cerveja (ou de 20g a 24g de álcool) para homens e duas para mulheres (10g a 12g) por dia; volume considerado moderado pelos pesquisadores.
Um único porém : como foi detectado que o álcool pode reduzir a velocidade do processo da síntese de proteínas, ele não deve ser ingerido nem antes nem logo após a atividade física. Deve ser guardado um tempo de duas horas para que o atleta comece com a sua cervejinha de reidratação.
Se tiver sede antes disso, paciência, vai tomando uma água, mesmo.
Gatorade é a puta que o pariu!!! Isotônico de macho das antigas é a cerveja!!!
E de coadjuvante, proponho ao COI que a cerveja seja transformada em protagonista. Que modalidades cervejeiras sejam incluídas para as Olimpíadas de 2024. Não tem sido exaustivamente falado que esses são os Jogos Olimpícos da inclusão e da diversidade? Segundo, de novo, o Galvão, essa versão dos Jogos conta com a participação de mulheres, de pessoas de diferentes raças, de diferentes orientações sexuais e blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá. Como sempre contou, aliás. Sempre participaram homens, mulheres, brancos, negros, amarelos, gays, héteros e outros bichos. Só não se exaltava essa merda. Só o que contava era se o atleta era bom ou não em sua modalidade. Sexo, raça, ou que apito o sujeito toca, não faziam parte do currículo do desportista.
Pois bem. Que a próxima Olimpíada seja a da inclusão do bebum, do tomador de cerveja. Eu mesmo me orgulharia de representar o Brasil em várias modalidades cervejeiras. Lançamento de "bolacha" de chopp, revezamento de copo 4x4, 100 ml rasos, 400 ml com barreiras, talagada sincronizada, latinha ao cesto, maratona de botecos e o já famoso halterocopismo. 
Eu me tornaria o Michael Phelps do esporte cervejeiro!
Outro que sempre soube dos benefícios da cerveja para o desempenho atlético é o ex-futebolista Vampeta. Grande Vampeta. Aliás, grande, não! Imenso, enorme, incomensurável Vampeta.
Pããããããta que o pariu!!!!!

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Pequeno Conto Noturno (85)

04:23 h, no visor vermelho do anêmico, artrítico e com canais dentários a tratar rádio-relógio de Rubens. Rubens foi acordado por vozes. Mas como? Se há tempos dorme com protetores auriculares a servir de travesseiros para os seus tímpanos, daqueles de espuma expansível cor de laranja? Rubens foi despertado por luzes. Mas como? Se, igualmente, amordaça os olhos com aquelas máscaras negras, que não a do Zé Keti? Rubens foi posto em vigília pelo ranger de seus dentes, pelo seu bruxismo. Mas como? Se, também, não de hoje, exorciza suas fadas e bruxas de Salem com uma placa de silicone moldada à sua arcada dentária inferior?
Rubens nunca ambicionou roupas e calçados de grife, carrões importados, relógios de ouro, modelos loiras e peitudas (não se tivesse que pagar por elas). Nunca ambicionara nada de material em especial. Até que assistiu ao filme Demolidor, o Homem sem Medo, com Ben Affleck. Rubens, então, desejou violentamente uma daquelas câmaras de isolamento, um daqueles esquifes metálicos de supressão de estímulos externos em que o espancado, lacerado e automedicado de opioides (quis os opioides também) Matt Murdock conseguia dormir (será que descansava?) após uma noite como o Demolidor, o mestre-cuca da Cozinha do Inferno; com seus super-sentidos, enfim, livres da algazarra do mundo.
Filme, esse, inclusive, dos mais injustiçados pelo público e pela crítica, dos mais subestimados da transposição da mitologia Marvel para os cinemas. O próprio Ben Affleck o renega, diz-se arrependido de tê-lo feito. A Marvel nem o considera parte de sua filmografia oficial. Rubens o tem como o melhor do gênero já realizado. O mais fiel aos gibis, à origem da personagem e aos seus propósitos ao vestir o uniforme. A cena do ringue em que Jack Murdock manda às favas o seu empresário mafioso e vence a luta que combinara perder, seguida de sua execução em um beco escuro, é puro John Romita Jr. As igrejas góticas e seus esplêndidos vitrais é puro Frank Miller. A duplicidade de ser advogado durante o dia e executor durante a noite é regada com a dose certa de angústia, remordimento e culpa católica do personagem. Dispensável, só a luta com a Elektra num playground infantil, as coreografias erótico-marciais no gira-gira, o tango de Shaolin nas gangorras. Mas o Demônio também precisa se divertir. Um puta dum filme, considera Rubens.
Quis intensamente uma daquelas cápsulas de alheamento do mundo. Mas nunca procurou saber se algo do tipo existia ou não, se era apenas adereço cinematográfico. Ainda que existissem, esses sarcófagos de pequenas mortes programadas e temporizadas, Rubens não teria numerário para adquirir um deles.
Improvisou com os protetores auriculares, a máscara negra e a placa bucal. Sua versão agonizante dos Três Macacos Sábios. Nada ouço, nada vejo, nada falo.
No entanto, Rubens foi acordado por vozes. Por quais vozes? Uma quimera delas, pareceram a Rubens. Uma figura de três aparelhos fonadores. Virna, Yrina, Selene.
Não obstante, Rubens foi despertado por luzes. Por quais luzes? Outra quimera. A leitosa da Lua Cheia, a azul-nicotina do Paulistânia em noite de cover do Raul, a da cozinha de sua casa, decomposta em arco-íris de tons de café recém-coado em coador de pano.
Ainda assim, Rubens foi posto em vigília pelo bruxismo. Por quais sortilégios? Mais que outra quimera, uma Hidra de Lerna, neste caso, uma cabeleira de Medusa. Sabe-se lá de quantos feitiços, mandingas, malefícios, simpatias e trabalhos de amarração, Rubens já não fora alvo?
Rubens retira a máscara negra e a placa bucal. Mantém os protetores auriculares - os mais difíceis de serem recolocados. Na geladeira, três latões de cerveja e uma garrafa de rum; com três ou quatro doses remanescentes, avalia Rubens.
Rubens pega o rum. E emborca.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

O Incagável Bolsonaro

Com fortes dores abdominais e uma crise de soluço persistente, o intrépido Bolsonaro deu entrada nesta quarta-feira (14/07) no Hospital das Forças Armadas (HFA) para ser submetido a escrutínio médico. Os exames irão avaliar se há a necessidade do Presidente ser submetido a uma nova cirurgia, a sétima  desde a célebre facada desferida contra ele por Adélio Bispo.
Os médicos, para saciar a voracidade da mídia, já fizeram alguns pronunciamentos prévios a respeito do quadro de saúde (ou da falta dela) do imorrível Bolsonaro.
Sobre o soluço persistente : No conjunto, o diafragma pode ser impactado pela movimentação intestinal. E quando o soluço é acompanhado de dor abdominal, as doenças do aparelho digestivo são as motivações mais possíveis”.
Sobre as dores abdominais : "alterações da movimentação intestinal podem levar a dores abdominais e aos soluços, já que podem fazer com que o intestino pare de funcionar. Isso significa que o presidente teria uma nova obstrução intestinal, o que pode significar uma nova cirurgia". 
Saindo do terreno da medicina e adentrando o da política, há quem diga que Bolsonaro esteja encenando tudo isso, tentando recriar uma situação parecida àquela que antecedeu as eleições de 2018, simulando uma "facadinha" mais leve, mais light, para resgatar a imagem de mártir e alguns milhões de votos. 
Pois estão todos errados. Médicos e políticos opositores!
Eu sei a resposta para as dores abdominais do imbrochável Bolsonaro : CAGAÇO!!! O Mito está no maior cagaço de enfrentar o Sapo Barbudo. 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

A Bichinha Ponstan

Afora uns quatro ou cinco casos, que comentam com mais frequência no blog e sempre se identificam, nada sei a respeito dos leitores do Marreta. Quem são, de onde são, que idades têm, suas profissões etc. Não sei nem mesmo quantos leitores tenho ao certo, pois a grande maioria, acredito, passa por aqui sem nunca comentar nada, sem deixar pegadas ou rastros de suas visitas. E há uns poucos que comentam esporadicamente, beeeem esporadicamente, inclusive, alguns dentre esses poucos, pedem para que seus comentários não sejam publicados; no que são sempre atendidos.
Um desses casos é o de uma professora que acompanha (não sei com que constância) o blog  há alguns anos, praticamente desde o seu começo. E é só o que sei dela, que é professora e que atua tanto na rede pública quanto na particular. Não sei a disciplina que leciona, não sei qual a idade dela, a cidade ou estado em que reside etc.
Ontem, depois de muito tempo sem dar sinal de vida, ela fez um longo comentário na postagem Homens Grávidos de Ribeirão Preto Também Querem se Vacinar Contra o Vírus Chinês, na qual eu destilo meu habitual (e inútil e inócuo) veneno contra a maledeta ideologia de gêneros. 
Primeiro, declarou-se igualmente desanimada com essa pandemia premeditada de boiolagem que assola o planeta, ou, ao menos, o mundo ocidental, e, depois, contou um caso relacionado ocorrido em uma escola particular de ensino médio em que leciona. Como sempre, pediu-me para não publicar o comentário, mas autorizou-me, caso eu quisesse, narrar o incidente ao estilo Marreta. 
Claro que eu quis. E o batizei de A Bichinha Ponstan.
Ela não testemunhou o acontecido, mas o mesmo lhe foi contado por um fonte fidedigna, a coordenadora da escola, que participou ativamente da mediação do conflito iniciado numa aula de Educação Física, professor homem, macho das antigas. Vamos ao infausto.
Iniciadas as atividades da aula, o professor notou que um dos alunos não se juntara à turma, ficara sentado, quieto a um canto da quadra. O professor se dirigiu até ele e perguntou : "ô, fulano, você não vai participar da aula hoje, está com algum problema?". Aliás, "ô, fulano", não : "ô, fulana"! Que o (a) jovem já obteve, há algum tempo, o direito de ser matriculado e constar da lista de chamada com o seu "nome social". 
Para quem não sabe, nome social, a exemplo hipotético, até porque ela não citou mesmo nenhum nome, é o sujeito nascer com uma rola e se chamar Sebastião, mas "sentir" que aquilo é um grelo hipertrofiado e ter o direito de ser chamado de Fabíola.
"Ô, Fabíola, você não vai participar da aula hoje, está com algum problema?", voltando ao professor. Fabíola respondeu que estava com fortes cólicas. Inocente, puro e besta, o professor julgou que fossem cólicas intestinais. Perguntou se ela comera algo diferente, que pudesse estar estragado, se queria que ligassem para a casa dela. Fabíola revelou, então, ao estupefacto mestre, que eram cólicas menstruais, comuns a ela naquela época do mês. O incidente se deu em maio desse ano.
Imagino a cara de "ai, meu saco..." do professor.
Munindo-se da paciência de um Jó - a nossa maior arma hoje em dia -, o professor explicou que acreditava que ela estivesse, de fato, sentindo dores, mas que não poderiam ser cólicas menstruais, porque, apesar de preferir ser vista e tratada como uma menina, ela nascera com aparelho reprodutor masculino, e homens não menstruam.
Pronto! Foi o que bastou! A merda tava feita e espalhada! Foi aí que se deu a desgraça do professor! 
Fabíola ficou indignadíssima! Saiu pisando duro e rebolando da quadra! Poucos minutos depois, veio um inspetor e disse ao professor que ele estava sendo aguardado na sala da direção. Chegando lá, o circo estava armado. Fabíola sentada de cabeça baixa e choramingando numa cadeira mais ao canto e a diretora e a coordenadora postadas à mesa no centro sala, feito duas Torquemadas.
Pacientemente, o professor contou toda a história. Reiterou que nunca pôs em dúvida as dores da aluna, nunca insinuou que fosse algum ardil para escapar à aula de Educação Física, que, inclusive, oferecera-se para tentar entrar em contato com algum familiar etc.
"O problema, professor - começou a diretora -, é que a aluna está dizendo que o senhor falou que ela não é uma menina". 
Mais pacientemente ainda, de novo, o professor explicou (e precisava?) que, apesar dela preferir ser vista como uma menina, ela não tem útero, não ovula, enfim, não pode ter cólicas menstruais.
Então, Fabíola, que até então estava quieta, gemeu mais alto, gritou que as dores estavam insuportááááááveis... Sem saber o que fazer - na verdade, sabendo exatamente o que fazer, mas impedida pela lei -, a coordenadora falou pra Fabíola que tinha um remédio para cólicas menstruais em sua bolsa e perguntou se ela queria tomar um comprimido, enquanto a escola entrava em contato com seus pais. Fabíola disse que sim. A coordenadora abriu a sua bolsa, pegou uma cartela de comprimidos Atroveran e a estendeu à Fabíola.
No que viu o Atroveran, Fabíola fez cara de decepção e de menoscabo e falou : "pra mim, só faz efeito o Ponstan!!!
Pããããããta que o pariu!!!! É a bichinha Ponstan!!! Atroveran é coisa de bicha pobre!!! De bichinha pão com ovo!!!
Resumindo a palhaçada, acabou que o professor teve sorte, muita sorte, mas muita sorte, mesmo. Os pais conversaram reservadamente com ele, sem a presença da Fabíola, entenderam as colocações do mestre, mas pediram que ele, em qualquer outra ocorrência do tipo, encaminhe Fabíola diretamente para a coordenadora. Sorte pra caralho do professor. Fossem, os pais da Fabíola, do tipo que compõe a maioria dos pais de hoje em dia, ele estaria fodido! Demitido na mesma hora! E respondendo a processo por xyzfobia!
À pedido da coordenadora, também ficou combinado que os pais, por via das dúvidas, sempre que Fabíola estiver próxima "daqueles dias", coloquem uma cartela de Ponstan no estoja da menina.
Pãããããta que o pariu!!!!
É como dizia aquela antiquíssima música dos Incríveis : "esse é um país que vai pra frente...ô ô ô ô ô".
Todo mundo batendo palma pra louco dançar!!!

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Por Que Continuas Aí, Oh, Lua?

Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Bem sabes que nunca pousarei
Nem repousarei em ti,
Não sabes?

Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Bem sabes de todos os meus programas frustrados
E das minhas missões abortadas rumo a ti,
Não sabes?
 
Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Bem sabes que nunca pesarei sobre ti,
Que nunca brincarei de saltitar por tua pele de pouca gravidade,
De gravidade de cafuné,
Não sabes?
 
Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Bem sabes que nunca ficarei sem ar entre teus belos montes,
Que nunca me asfixiarei nas cavas do teu lado escuro,
Não sabes?

Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Bem sabes que não te encherei de mimos, atenções e chocolates brancos
Nem te minguarei com minhas madrugadas de posse,
Não sabes?

Por que continuas aí,
Oh, Lua?
 
Por que te continuas
Meu satélite espião
Quando já tens meu completo e sem graça dossiê?
Por que te continuas
Meu vigia
Se não consigo nem mais farejar
A trilha de migalhas de poesia
Que espalhas no meu chão?
 
Por que continuas aí,
Oh, Lua?

sábado, 10 de julho de 2021

Bukowski, E o que Mais Há Para Se Ser?

bem, é assim que é...
 
às vezes quando tudo parece estar no
fundo do poço
quando tudo conspira
e atormenta
e as horas, os dias, as semanas
os anos
parecem desperdiçados –
estirado ali na minha cama
no escuro
olhando para o teto
recaio em algo que muitos considerariam
um pensamento repugnante:
ainda é bom ser
Bukowski.
E ainda também é bom ser eu, meu velho. E 0 que mais há para sermos?

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Pedagogia do Choque

Piaget é o cacete! Montessori é o escambau! Vygotsky é a puta que o pariu! O negócio é a pedagogia Benjamin Franklin! A educação  pelo choque!
A escola Judge Rotenberg Center, de Massachusetts (EUA), venceu uma longa batalha judicial contra o FDA, o órgão estadunidense controlador de alimentos, medicamentos e equipamentos médicos, que a proibira de aplicar choques elétricos em seus alunos. Revogada pelo próprio FDA, a prática poderá voltar a fazer parte da rotina da escola.
Sete horas da manhã, hora da entrada; nove e meia, intervalo para um lanchinho; onze horas, hora de tomar uma eletrocutada.
A escola atende crianças e adolescentes com o que hoje é chamado de "necessidades especiais". Neste caso, o centro educacional é especializado em indíviduos diagnosticados com "comportamentos agressivos e de autoagressão".
O pedido para a volta dos choques elétricos na molecada partiu da própria escola (a única até agora a ter usado essa inovadora e visionária pedagogia) e dos pais dos meigos pimpolhos.
Ambos comemoram o ganho de causa concedido por um tribunal de apelações, que concluiu que o uso de choques elétricos pode ser considerado um tratamento médico. Declarou a escola : "Com o tratamento, esses residentes podem continuar a participar de experiências enriquecedoras, desfrutar de visitas com suas famílias e, o mais importante, viver em segurança e livre de comportamentos autoagressivos e agressivos"
Celebraram os pais : "Nós lutamos e continuaremos a lutar para manter nossos entes queridos vivos e em segurança e para manter o acesso a esse tratamento de último recurso que salva vidas".
Com a decisão do tribunal de apelações, a proibição ou não dos choques como terapia deixa de ser da alçada do FDA, e qualquer outra escola americana interessada no método desenvolvido pelo Judge Rotenberg Center poderá incluí-lo na sua grade curricular.
Imagino que o método deva tornar a vida dos professores e dos pais um verdadeiro mar de rosas, uma calmaria só. Dá um choque no capeta em forma de guri e ele desmonta na hora, fica com a musculatura toda frouxa e descoordenada, se babando feito boi, calminho que é uma maravilha, um anjo de candura.
Não só dou o maior apoio ao Judge Rotenberg Center como também creio que a pedagogia do choque deva ser implantada nas escolas brasileiras. E não apenas naquelas que lidam com crianças com necessidades especiais. Mas sim em todas as escolas deste Brasil dantes mais varonil. Públicas e particulares.
Afinal de contas, depois de quase três décadas de um ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e de uma LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação) paulofreiristas, vermelhos até o olho do cu, todo aluno se tornou um ser com "necessidades especiais". Todos. Todos apedeutas, às vistas mal-intencionadas da lei, são fidalgos a serem tratados com todos os mimos e não-me-toques.
Se o moleque vive no mundo da lua, é "aéreo" pra cacete, não está nem aí para a paçoça, ai daquele (a) que falar que ele merece uma nota vermelha, uma reprovação, um chacoalhão para ver se ele vira gente, ai daquele (a)... leva até processo administrativo na cabeça, perde até o cargo. O menino não é áereo, não é distraído : ele tem TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), com laudo médico e tudo. Corrigir o transtorno com mais disciplina? Com mais cobrança, atenção e pegação no pé por parte dos pais? Com castigos não físicos a impedi-lo temporariamente de atividades que lhe dê prazer? Porra nenhuma! Divã de psiquiatra e remédio tarja preta. E "cinquinho" de nota para ele ser aprovado no fim do ano.
Se o tal é um demônio em sala de aula, fala o tempo todo, atrapalha a aula, desacata o professor, ele não é um delinquente, não é um filho de um casal de ronca-e-fuça que vai botando filho no mundo e deixando pros outros criarem. Nada disso. O coitadinho é hiperativo. E mais divã de psiquiatra e tarja preta. E mais "cinquinho" de nota para ele seguir com a vida dele, enquanto atrapalha a dos outros.
E a coisa por aí vai. Inúmeros são os exemplos. O que tem de transtorno mental hoje em dia para justificar a vagabundagem de pais e alunos e mover a indústria médica e farmacêutica não está escrito em nenhum gibi. E, a todos, a lei protege e dá munição.
Uma vez que a lei ou transformou de fato todos os estudantes em debiloides mentais (com tantos direitos e ausência de limites), ou, ao menos, permite que todos se declarem como debiloides mentais para fugir às responsabilidades e às punições que deveriam advir de suas faltas e delitos, que todos sejam tratados, pois, como transtornados mentais, que todos sejam educados segundo a pedagogia desenvolvida pelo Judge Rotenberg Center. Pedagogia do choque em todo mundo.
Claro que, aqui no Brasil, o método teria que passar por algumas adaptações, por algumas adequações à nossa realidade, muito diversa da estadunidense. 
Por falta de verbas e de recursos, não poderá haver uma ou mais salas destinadas exclusivamente à aplicação dos choque, uma espécie de consultório médico com adequados equipamentos de última geração, como existem no Judge Rotenberg Center, também não haverá como o aluno receber uma atenção individualizada, nem mesmo haverá como o tratamento ser administrado por um profissional especializado.
Dando a minha desinteressada contribuição à Educação, sugiro aqui, então, como adaptar a pedagogia Benjamin Franklin à nossa realidade. Que dispositivos elétricos geradores de choque sejam instalados embaixo do assento de cada carteira escolar. Nem precisa ser um choque muito grande, não, uns 600 volts já estão de bom tamanho. Que cada um desses dispositivos esteja conectado a um grande painel na mesa do professor, com botões numerados de um a cinquenta, ou mais (tenho várias salas com mais de 50 alunos matriculados), e que os números do painel correspondam aos números de cada aluno na chamada.
A Jehnnyfer (assim mesmo, com h, dois "n"s e y) começou a falar alto, a dar alteração, a querer armar barraco? O professor aciona o botão e choque no toba dela. O Kauê (tudo com K, tem sala que tem três ou quatro Kauês com K) começou a escutar música no celular? Choque no toba dele. A turminha do W - os Washingtons, os Wellingtons, os Wesleys e os Wandersons - começou a querer jogar baralho? Choque no cu deles. É a carteira elétrica!!! Sem esquecer também dos Tiagos, dos Enzos, dos Yuris e das Kethlyns, para os quais cada escola teria de possuir sua própria usina hidrelétrica.
A pedagogia Benjamin Franklin melhoraria a qualidade da educação tupiniquim? Não. De jeito nenhum. Nada é capaz disso. Mas o professor sairia do trabalho de alma lavada. Não mais levantaria desanimado para ir à lida; muito pelo contrário, acordaria animadíssimo, cantando e assobiando, sabendo que, naquela auspiciosa manhã, iria fritar o toba do Gabriel, da Sthephany e do Deyvid.
Como se divertiria, o professor. Iria até abandonar o Rivotril e a Fluoxetina! 
Pããããããããta que o pariu se iria!!!!

terça-feira, 6 de julho de 2021

O Easy Rider Bolsonaro

Na semana passada, em conversa com apoiadores, o intrépido Bolsonaro garantiu que continuará a participar das motociatas, fazendo valer a máxima de que todo político tem de ir aonde o povo está. Confirmou sua agenda para as motociatas de Manaus e de Porto Alegre.
Por que Bolsonaro continua com o aparentemente insano corpo a corpo com seu eleitorado? Simples. Porque uma atitude só pode ser classificada como insana se tomada diante, e a despeito, de várias outras opções mais racionais, e razoáveis. Não é o caso de Bolsonaro : ele não tem, absolutamente, nenhuma outra opção, que não o corpo a corpo. Nesse caso, insano, e até suicida eleitoralmente, seria Bolsonaro não participar de motociatas e outras aglomerações. Se há alguma chance dele se reeleger, é essa : indo pra galera.
Repetindo 2018, Bolsonaro continua um lobo solitário. Na época, não fez nenhuma coligação, nenhum conchavo com outros partidos. Não fez porque não quis. Hoje, ainda que quisesse, não as conseguiria estabelecer. Às vistas da corriola do Planalto, Bolsonaro está mais sujo que o pau do galinheiro imundo da Câmara e do Senado; os partidos consideram, hoje, Bolsonaro como um político "tóxico". Até o partido nanico Patriota está ensebando para aceitar ou não Bolsonaro em suas fileiras. Muito diferente de 2018, quando partidos fariam filas e prestariam lava-pés para ter Bolsonaro em seus quadros. Bolsonaro, em 2021, é um fantasma do que era em 2018. Coligações não são uma opção para 2022.
Em 2018, Bolsonaro se elegeu apesar do pouquíssimo tempo que lhe coube do Horário Eleitoral Gratuito. Não sei de quanto será a cota de Bolsonaro no Horário Eleitoral Gratuito para 2022. Não sei se o simples fato dele ser Presidente lhe garante automaticamente um tempo majoritário de propaganda. Ou se, de novo, dependerá do partido ao qual estará - se estiver - filiado. Portanto, depender do tempo de propaganda que lhe será destinado também não é uma opção para 2022.
Em 2018, sem apoio político e sem tempo de propaganda, elegeu-se graças às redes sociais. Feicibúqui, tuíter etc. Mostrou-se um gênio, um estrategista nato (nada com ele é planejado) das redes sociais, esse eterno reino dos idiotas. Hoje, parece-me, afinal, não sou nem nunca fui frequentador das redes sociais, nunca tive sequer um perfil nestas merdas, que nem mesmo o tuíter e o feicibúqui possam reconduzir Bolsonaro à faixa presidencial. Parece-me que a quantidade de apoiadores e de opositores de Bolsonaro nesses nichos meio que se equivalem. Que Bolsonaro tenha, hoje, números equivalentes de haters e de lovers.
Sem apoio político (como em 2018), possivelmente sem um tempo decente de propaganda gratuita (como em 2018), e, agora, também não podendo se fiar nas redes sociais, o que restou a Bolsonaro?
Ir pra galera. Se jogar no meio do povão. Se deixar ser carregado pelas massas. Insano seria se ele não se valesse desse seu último e único recurso.
Fosse hoje 2022, acredito que Bolsonaro não resistisse num segundo turno com ex-presidiário e ainda réu em quatro processos Luis Inácio Sapo Barbudo da Silva. Mas temos ainda quase que um ano e meio até lá. Vacinação seguindo, casos de gripe chinesa diminuindo, economia retomando seu rumo, a memória sempre fraca da população, bastando que as coisas melhorem um pouco... sei não.
Talvez o fantasma Bolsonaro possa renascer do Inferno em que se encontra hoje, talvez possa ressurgir como um espírito da vingança, um Hell's Angel, um Motoqueiro Fantasma.