sexta-feira, 28 de junho de 2013

Até Tu, Jesus?

Terá aumentado a tarifa do batizado, do casamento, da missa de sétimo dia? Estará a hóstia superfaturada? A quermesse da paróquia terá se prestado à lavagem de dinheiro do dízimo? Padres e pastores acusados de falsidade ideológica por se dizerem representantes de deus e não serem porra nenhuma, além de uns porras? De nem haver deus nenhum? 171 eclesiástico? Exorcismo sem licitação?
Só há um jeito : dá-lhe passeata, façam-se as manifestações. E sobrou pro Cristo. Cristo também terá sua manifestação, sua caminhada pacífica.
Juntando-se às inúmeras passeatas pelo pais afora, acontecerá amanhã, 29/06, na cidade de São Paulo, a 21ª Marcha para Jesus, com público esperado de 1,2 milhões de dementes.
Dizem que as atuais manifestações, se por um lado, esbanjam vigor cívico e a necessidade de desentalar o grito da garganta, por outro, pecam pela falta de um objetivo claro e bem definido, pela ausência de um direcionamento que lhes justifique.
Querer cobrar do poder público o que público é e nos cabe, por acaso, é falta de um objetivo claro? Querer varrer do Planalto a canalhada, nem que seja para colocar outros canalhas, varrê-los de novo, e mais outros, varrê-los de novo, e mais outros etc, até chegarmos a um quadro político minimamente decente, é ausência de um foco?
Objetivos claros seriam, então, o quê? A Marcha de Cristo? Um milhão e duzentos mil idiotas tomando as ruas para louvar um sujeito nascido de uma virgem, por estupro e obra de um espírito santo, que é parte de um deus, que é uno, mas também formado pelo filho, que só veio a existir muito tempo depois dele, e que, na verdade, seria esse próprio deus feito em carne, sangue, barba e túnica hippie? Claríssimo! Para mim, está claríssimo.
A Marcha do Cristo será uma putaria : carros de som, caminhadas, show musicais e pregações religiosas. É a micareta de Jesus!!! Aliás, falar em pregação religiosa, levando em conta o flagelo do barbudo, não é, no mínimo, uma puta duma sacanagem, um baita de um humor negro? Preguemos a palavra do Senhor. Pããããta que o pariu!
Para minimizar os transtornos ao trânsito, das 21h desta sexta-feira (28) até às 3h do próximo domingo (30), a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) montará uma operação especial para a marcha.
Quer dizer que não vai ter gás lacrimogênio e balas de borracha para a cristãozada? Não vai ter cassetete nos lombos ungidos do rebanho?
Por que não, se também vai atrapalhar o trânsito, a marcha? Por que não, se também terá um caráter político? Além de promover shows gospel e curas e libertações, os  líderes do movimento propagam que a marcha tem o poder de “mudar o destino de uma nação”; na visão do grupo, a marcha serve para tapar as “brechas deixadas pelos atos ímpios de nossa nação”, na visão do grupo, a marcha destrói “fortalezas erguidas pelo inimigo em certas áreas de nossas cidades e regiões”. 
A Marcha será também um ato contra a união homoafetiva, o casório da bicharada, e dará apoio a Marco Feliciano em sua caça aos gays e à fiscalização do cu alheio.
Nenhuma porradinha mesmo?
Acho até que a polícia deveria se pôr a caráter para evento de tal magnitude. Seus coletes de kevlar e seus capacetes e escudos de plexiglass poderiam ser substituídos pelo bronze das armaduras dos soldados romanos, os cassetetes pelos gládios curtos, próprios ao combate corpo a corpo, e os cães pastores alemães por formidáveis leões, famélicos e de jubas negras.
Uma multidão de cristãos açoitada por gládios romanos e estripada por leões da Nemeia...
Isso, sim, seria um bom espetáculo para o sábado.

Em tempo : por enquanto, Cristo não confirmou a presença na marcha.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Instantâneos De Um Remoto e Saudoso Passado (3)

 A Kenwood Chef faz tudo, menos cozinhar - para isso é que as esposas existem
(e vejam o sorriso estampado no rosto dela, a satisfação pelo dever cumprido)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Vocês Têm Certeza De Que Ela Está Mesmo Maquiada?

O que você esperaria de uma pessoa que tivesse sido submetida a uma maquiagem no valor de R$ 3.125,00? Que, no mínimo, ficasse o maior tesão do planeta, certo?
Pois bem, para você que, assim como eu, nem podia imaginar que existissem maquiagens próximas a tais cifras, veja o resultado de uma delas, que custou quase 5 salários mínimos, ou 9 cestas básicas, ou 300 aulas de um professor de uma escola pública do estado de SP.
Pãããããta que o pariu!!!!
Três mil reais para isso? Está superhiperultramegablasterfaturada! Só pode estar. Mais superfaturada que a obra do Maracanã, mas o Maracanã, pelo menos, ficou bonito.
Três mil e tantos reais dos cofres públicos (leia-se, de nossos bolsos) é o valor destinado, atualmente, para embelezar Dilma Rousseff  em cada um de seus pronunciamentos em rede nacional.
Ou eu deveria dizer em cada uma de suas aparições em rede nacional? Porque isso aí é uma aparição!!! Das brabas!!!
Foram 14 pronunciamentos desde a sua posse. Nos nove primeiros, o visual da "presidenta" saiu pela bagatela de R$ 400,00; porém, de dezembro de 2012 para cá, o governo passou a pagar os tais R$ 3.125,00 pela maquiagem funerária; o governo está, metafórica e literalmente, maquiando defuntos. Uma alta de 681%, muito mais que o aumento do tomate. Não é à toa que a inflação está de volta.
Seria até engraçado se essa senhora não fosse, hoje, a representante máxima da esquerda brasileira, da esquerda que diz ter lutado contra a ditadura militar em prol do trabalhador, em defesa do proletariado, se não fosse a representante máxima de uma esquerda que se diz preocupada com as mazelas sociais. Lutaram em prol do trabalhador porra nenhuma. Lutaram contra o governo militar, sim, mas para conseguirem todas as mordomias que seus inimigos tinham, todas e muitas mais, isso está cada vez mais claro.
Acho até que essa exorbitância no valor da maquiagem da Dilma tenha sido provocada por uma orientação da equipe econômica governamental, uma orientação que foi mal interpretada pelo PT. Os economistas devem ter dito : "presidenta, precisamos maquiar o dragão da inflação". 
Pronto. Foi o que bastou. O Lula, que estava por perto, ouviu e, imediatamente, pôs toda a alta cúpula do PT à cata dos mais caros maquiadores do país, e todos eles à disposição e em socorro de Dilma
Mas seja o da inflação, ou qualquer outro, dragão é dragão, não há o que dê jeito.
E, depois, ainda chamam de vandalismo quando tacam fogo no Itamaraty? Eu acho é pouco!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Barrados no Baile da Angelina (Ou : Mulher é Tudo Igual)

Quem poderia supor que Angelina Jolie, a mulher mais bonita do planeta, pudesse ter ciúmes do maridão Brad Pitt? E nem é ciúme por conta de alguma atriz ou modelo gostosona, que ciúme de outra mulher é por obrigação, é o de praxe, é para se fazer de dona zelosa, é para não passar por mansa. Chego cada vez mais à conclusão de que mulher não está nem aí para outra mulher a cobiçar seu marido.
A grande bronca de toda mulher se dá em relação aos amigos do marido. Aí sim, pããããããta que o pariu, ela se morde de ciúmes, fica roxa, esbraveja, quebra a casa.
Velhos amigos são o pesadelo das mulheres. É fácil competir com uma buceta invasora, derrotá-la e pô-la para correr, têm-se armas de mesmo calibre para tal. 
E quanto aos velhos amigos? A mulher sabe que não há armas eficientes que façam frente à camaradagem, às velhas lembranças de uma época em que ela, mulher, não existia na vida do marido, aos bons fantasmas.
E velhos amigos são foda mesmo. São filhos das putas, maravilhosamente filhos das putas. 
Quando relembram antigas aventuras, e há "estranhos" por perto (leia-se por estranhos, as esposas, as namoradas e que tais), comunicam-se por meias palavras, por mensagens cifradas, por códigos de gestos e olhares só compreendidos por quem viveu o fato.
Impossível para quem é de fora entender uma conversa de velhos amigos. E é aí que a coisa piora. É aí que a mulher acha mesmo que o coitado do marido têm algo a esconder. Aí é que o cara cuja esposa está presente fica encalacrado, numa sinuca de bico. E parece que os amigos até fazem de propósito, para irritar a mulher, que, sabem, não gosta deles, e para sacanear o amigo, sabem que quando forem embora, o amigo terá aporrinhações, que o sofá lhe será leito àquela noite.
Acham que a amizade acaba por isso, por conta dessa sacanagem? Claro que não. Só se fortalece, ora porra. O amigo sacaneado de hoje é o sacaneador de amanhã, vai aprontar exatamente igual quando se pegar em posição contrária, ele sozinho e o amigo acompanhado de sua respectiva.
Maravilhosamente filhos das putas, os velhos amigos. E a mulher sabe que não tem como concorrer com isso. A mulher prefere ter que espantar um enxame de bucetas, todos os dias, que um punhado de velhos amigos, de vez em quando.
Angelina Jolie não é diferente nesse quesito, faz de tudo para controlar as "escapadas" de Brad Pitt com seus amigos.
Nas filmagens de Bastardos Inglórios, Angelina ficou possessa quando soube que Brad Pitt descansava das exaustivas gravações em companhia do diretor Quentin Tarantino, ambos a fumar o famoso cigarrinho do capeta. O cara não estava a chafurdar em outros peitos, ora porra. Estava só levando um papo com um amigo, dando um tapinha, que mal pode haver?
Agora, às vésperas do casamento, corre à boca pequena que Angelina pretende banir alguns dos amigos do marido da lista de convidados do tão aguardado festejo.
Os barrados no baile seriam, entre outros, o diretor Quentin Tarantino e os atores Jonah Hill, Philip Seymour-Hoffman e George Clooney, todos com a fama de beberem demais nessas ocasiões e cometerem deselegâncias.
Segundo fontes próximas à atriz, Angelina quer que o casamento seja civilizado, e que lhe preocupam os hábitos de certos amigos do marido. Essa já está firme nas rédeas, traz Pitt ali, no cabresto curto. Ela acha que se, principalmente, Johah Hill e Tarantino comparecerem, vão começar a beber cedo demais e causar confusão.
E se a mulher não quiser, não tenham dúvidas : Hill, Tarantino e Clooney não irão. Brad Pitt, tenho certeza, nem irá reclamar; ele, o cara que pode comer quem quiser, nem irá se opor ao desmando da mulher : sabe que mulher é tudo igual.
Os velhos amigos ficarão chateados pela exclusão, caso ela venha mesmo a ocorrer? Claro que não! Nem com o amigo - quando o assunto é mulher, velhos amigos entendem a "submissão" do velho amigo -, nem com a mulher do amigo - velhos amigos não estão nem aí para a mulher do velho amigo.
Chateados que nada! Vão é se reunir na casa de um deles, ou num bar. E vão ouvir velhas músicas, contar velhas histórias, chorar por velhas alegrias, rir de velhos choros e, lógico, beber tudo o que iriam entornar no casamento do velho amigo.
Bêbados, falarão mal do amigo, dirão que ele não tem mais salvação, que a mulher já manda nele etc, mas levantarão um grande brinde a ele. Trôpegos e cambaleantes, escorando-se uns nos outros, já com as falas engroladas, desejarão toda a felicidade possível ao velho amigo.
De minha parte, até agora, não recebi nenhum dos dois convites. Nem o do casamento nem o da bebedeira dos barrados no baile de Angelina. Preferiria receber o segundo.

domingo, 23 de junho de 2013

Um Partido Militar Não é Sinônimo de Ditadura Militar, Muito Pelo Contrário

Bastou que o ainda em formação Partido Militar Brasileiro (PMB) comunicasse sua intenção de convidar Joaquim Barbosa a representá-lo nas próximas eleições presidenciais para que os alarmistas de plantão abrissem o berreiro : retrocesso, volta da ditadura etc.
(aliás, uma volta nem sempre é um retrocesso, pode ser uma retomada de certos valores, um resgate, mas não é disso que quero falar, não agora, não ainda)
Para o alarmista, tudo é motivo de...alarme. O alarmista é, antes de tudo, um desinformado, ou um mal-intencionado, ou ambas as coisas.
Por que a formação de um partido militar seria o prenúncio de uma ditadura de mesma natureza? A mim, parece justamente o contrário. A formação de um partido militar sinaliza a vontade do grupo em participar ativamente do processo democrático, e não de derrubá-lo; de exercer o direito que também têm a uma representatividade política, e não de suprimir o dos outros grupos já representados.
Desde quando formar um partido político traz oculto o objetivo de um golpe de Estado? Se for assim, temos mais de 30 potenciais golpistas escondidos sob as siglas de suas legendas partidárias.
Se os militares querem fundar um partido - e repito, têm esse direito -, que obedeçará a todos os trâmites legais em sua formação e que, depois, acatará a lei eleitoral do país e toda a Constituição, é porque, óbvio, não querem dar um golpe.
Se quisessem dar um golpe, simplesmente dariam, têm poder bélico e estratégico para isso, e até o apoio de parte significativa da população. Se quisessem dar um golpe, dariam, não fundariam um partido.
Tem que ser muito burro para se sair com essa história de um novo golpe militar por parte do PMB, ou mal-intencionado, ou as duas coisas. Típico do falso democrata, do esquerdista que quer a "democracia" só para os que pensam igual a ele, exclusiva aos seus.
Por que ex-guerrilheiros, que mataram, assaltaram bancos e sequestraram, podem fundar seus partidos de forma insuspeita, e os militares não? Por que evangélicos fanáticos, fundamentalistas, que desejam acabar com a laicidade do Estado e transformar o país numa teocracia, num arremedo do Islã, podem formar suas bancadas no senado e na câmara dos deputados e os militares não?
Mas vamos por partes, como diria Jack, o estripador.
Primeiro.  O PMB ainda não foi oficializado como um partido político pelo TSE. Para tal é necessário angariar 485 mil assinaturas com abrangência nacional, não podem ser de apenas um estado ou região; e é o que eles vêm fazendo através de eventos e reuniões, 300 mil assinaturas foram obtidas até agora. Tudo dentro da lei eleitoral, tudo nos conformes. Cadê a sombra de um golpe? Por acaso, alguém tem notícia de tanques a sitiar o TSE e a coagir um registro ilegal do PMB? Então!
Segundo. SE o PMB conseguir o registro e o convite for feito a Joaquim Barbosa, caberá a este aceitar ou não a candidatura. Alguém já ouviu Barbosa se pronunciar sobre o assunto, manifestar ou não simpatia pelo convite que ainda não foi feito, pelo partido que ainda não existe? Quem sabe se Barbosa deseja ser presidente do país, ou mesmo aliar sua imagem à dos militares? Ou será que os alarmistas pensam que os militares irão capturar Joaquim Barbosa e, sob tortura, forçá-lo a aderir à causa verde-oliva?
Terceiro. SE o PMB se constituir em um partido, SE Joaquim Barbosa aceitar a candidatura à presidência, ficará ainda a cargo do povo decidir se o quer ou não para o cargo político máximo da nação. Caberá ao povo votar ou não em Barbosa e seus partidários. Ou estão pensando que, no dia da eleição, haverá  um soldado em cada cabine de votação do país a apontar uma arma para a cabeça do eleitor e a vigiar seu voto? Na verdade, quem aponta, há muito tempo, uma arma para a cabeça do eleitor é o PT, a arma eficientíssima do assistencialismo barato, da esmola social. Ao invés de gerar empregos, o PT dá esmolas, deixa o sujeito dependente dele, amarrado ao cabresto da estrela vermelha. O PT aponta o bolsa-família - e tantas outras bolsas - para as têmporas do eleitor e diz : ou vota em mim, ou volta a passar fome, você e toda a sua filharada. Parece-me haver, sim, uma espécie de ditadura no país, mas não por parte dos militares.
Quarto e último. SE o PMB virar partido, SE Joaquim Barbosa concorrer à presidência por ele, SE o povo lhe der a vitória nas urnas, ele será um presidente legitimado por um processo democrático. Cadê o golpe? E Joaquim Barbosa, presidente da república por qualquer partido que seja, o militar ou não, jamais poderá tomar atitudes autoritárias,  instaurar leis e decretos ditatoriais, jamais poderá assumir o manto de qualquer totalitarismo. Qualquer projeto de lei percorre um longo caminho até a sua aprovação, ele tem que passar pela Câmara e pelo Senado, por votações morosas de todos os seus parlamentares, que envolvem os mais diversos interesses, pessoais, de partidos, de governos. Ou seja, o Presidente Barbosa terá que seguir a lei, obedecer à Constituição, e, nesse aspecto, nada depõe contra ele, muito pelo contrário. Cadê a possibilidade de um golpe?
Caso todos os SEs venham a acontecer, o Brasil não terá um novo governo militar, terá um governo democrático cujo chefe maior da nação é um membro do partido militar. É muito diferente. É difícil de entender isso?
Agora, a pergunta que não quer calar : SE o PMB virar partido, SE Barbosa aceitar o seu convite, o Azarão votaria nele?
Há muito anulo meu voto, quase há 20 anos. Votei em Fernando Collor, em 1990, e assumo a besteira que fiz, também tive minha poupança sequestrada. Se me vale de atenuante, digo que não votei exatamente em Collor, votei contra Lula, então em sua primeira candidatura. Eu já bem sabia o que era Lula. Votei em Fernando Henrique Cardoso, em 1994, e votei em FHC mesmo, não contra o outro candidato, embora, coincidentemente, o outro fosse, de novo, Lula. Depois disso, anulo meu voto em todas as eleições, religiosamente.
Mas SE o PMB virar partido, SE Barbosa aceitar o convite, e SE (e esse é o SE menos provável de todos) eu resolver votar em alguém, sim, a resposta é sim. Eu votaria em Joaquim Barbosa!

sábado, 22 de junho de 2013

O Que é Isso, Companheira Estela?

Hoje, Dilma Rousseff fez um pronunciamento em rede nacional a respeito das manifestações que pipocam pelo país.
Dei com sua cara lavada por acaso, quando estava a correr os canais à procura de algo que me apetecesse. Parei por uns instantes nas imagens de Dilma, já sabendo que não suportaria parar por muito tempo. E foi por menos tempo do que eu supunha. 
Dilma dizia que os manifestantes têm todo o direito à livre expressão, o direito de pleitearem melhor saúde e educação, ou seja, e aqui já sou eu a dizer, o básico a qualquer ser humano pagador de impostos, o básico que nem deveria ter que ser cobrado, o básico pelo qual nem deveria haver a necessidade de se lutar.
Mas, continuou a presidenta (como gosta de ser chamada), ninguém tem o direito de recorrer à violência para tal. Como é que é? O que é isso, companheira Estela?
A que tipo de violência Dilma se referiu? Até onde eu sei, ninguém (ainda) começou a pegar em armas - metralhadoras, fuzis de uso exclusivo das Forças Armadas etc -, ninguém (ainda) começou a assaltar bancos, a sequestrar embaixadores, a planejar assassinatos, a pilhar quartéis da Força Pública.
Dilma e seus companheiros, os grupos Polop, Colina e Var Palmares, é que fizeram tudo isso.
Com que direito moral, com que jurisprudência de sua vida pregressa, Dilma vem a público pedir mansidão?
Decidido a mudar de canal, perguntei à minha esposa se ela queria continuar a ouvir Dilma. Diante de uma resposta afirmativa, deixei de coisas e fui cuidar da vida, fui à cozinha lavar a louça da janta e, em seguida, com o meu canecão viking reabastecido de cerveja, dirigi-me à sacada do apartamento, local onde, fechadas as portas de vidro contíguas à sala, eu ficaria protegido da voz da Dilma.
Passei célere pela TV, rumo à sacada. Não rápido o suficiente, porém, para deixar de ouvir Dilma soltar um "brasileiros e brasileiras". Ela sempre usou esse chamamento? Brasileiros e brasileiras, pããããããta que o pariu : encarnou o Sarney.
Só falta o bigodão. É só parar de raspar!
Reparem no Curriculo Vitae (à direita do nome, a alcunha pela qual era conhecida, companheira Estela), reparem na formação acadêmica de nossa presidenta, a mesma que, agora, pede calma aos manifestantes. Eles estão calmos, companheira! Calmíssimos, se comparados à companheira Estela e seus comandados.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Até Quando Esperar a Plebe Ajoelhar, Esperando a Ajuda de Deus

A plebe - quero crer - despregou os joelhos do genuflexório!
Quando do início dos protestos contra o aumento das tarifas dos ônibus, confesso, posicionei-me radicalmente contra. Pareceu-me, como dos outros protestos pelo mesmo motivo, um movimento isolado, coisa de baderneiros, mesmo de vagabundos, dispostos a um quebra-quebra por diversão, por tumulto gratuito, por catarse, até, de quem gostaria de quebrar a cara do chefe, mas corre menos riscos ao atear fogo num coletivo, só gente querendo atrapalhar o tráfego, o público e o sábado.
O processo, porém, à partir desta segunda-feira, tomou outros contornos e relevos, tomou muito mais amplas proporções, proporções às quais, confesso de novo, nunca imaginei que o acomodado povo brasileiro pudesse se lançar.
Os vintes centavos do aumento das tarifas dos coletivos renderam juros altíssimos, inimagináveis, e atingiram os milhões, os bilhões desperdiçados nos preparativos da Copa 2014. E, consequentemente, começam a atingir o governo, a arranhar o verniz, a romper a blindagem do PT.
Protestos contra a realização da maior festa mundial do futebol no país do futebol? Na pátria de chuteiras? Opa, aí tem coisa nova! Aí tem coisa diferente a acontecer! Tem coisa boa, ou que pode ficar boa!
Além disso, as bandeiras das quadrilhas políticas - PSTU, PCO, MST etc -, que balançaram nos protestos dos primeiros dias, sumiram, desapareceram, escafederam-se. As lideranças do movimento rejeitaram o apoio de qualquer partido político, execraram-no, na verdade.
Aí, já me interessa. Aí, já me posiciono favoravelmente aos manifestantes, apesar do quebra-quebra; aliás, por causa dele. E explico.
Nenhum protesto é totalmente pacífico, nenhum pode ser, nenhum que seja efetivo, ao menos. Nenhum governo se sensibiliza e se põe a repensar as políticas públicas por conta de marchas ordeiras compostas por milhares caminhando e cantando e seguindo a canção. O que "sensibiliza" a canalhada política é sentir que está com o cu na reta. Diálogo é muito bom e saudável, mas não rompe com estrutura nenhuma; no máximo, um acordo de cavalheiros, o famoso conchavo, é o que se consegue com o diálogo.
E dialogar, há séculos que se dialoga neste país. Até quando esperar? Um bom quebra-quebra é muito salutar, às vezes. Mas há de se saber de suas possíveis consequências, e arcar com elas sem dar uma de bebê chorão.
Parece-me - e aqui estou a me permitir um pouco de otimismo - que está a ruir o mito do brasileiro submisso, que a tudo aceita, do brasileiro engolidor de sapo, do bravateiro de boteco, do socialista/comunista que quer fazer a revolução com seu copo de whisky à mão.
Porém, junto ao mito do brasileiro acomodado, dever ruir outro mito de nosso folclore : o do protesto pacífico, o de que uma mudança significativa, uma revolução, possa se dar sem baixas.
Sair às ruas com a ilusão de que um protesto deste porte possa transcorrer pacificamente, que possa ser  um mero passeio, é temerário. É uma ilusão que gera outra ilusão, ainda mais perigosa : a de que a reação ao protesto pacífico, por parte de quem o recebe, por parte de seu alvo, também será sempre pacífica.
Não será! Nunca!
Mudar um estado estabelecido de coisas nunca será um processo tranquilo e indolor, não é uma brincadeira. O estado estabelecido das coisas, o status quo, é muito bem guardado e defendido pelo Estado do poder oficial, pelo Estado Público.
No Brasil, não há a res publica, a coisa pública. Há a coisa do Poder Público.
Querer tomar do Poder Público o que deveria ser público e achar que vai sair ileso, sem nenhum arranhão, é ingenuidade, é a ilusão da mudança pacifica. É a ilusão de uma  nova ordem sem um caos que a anteceda.
É querer tirar um belo osso da boca de um pit bull só na conversa, só no gogó. Não tem jeito. Há de se dar uma bela de uma porrada na cabeça do pit bull para que ele comece a pensar em largar do osso. Mas esteja preparado para uma possível - e provável - mordida, para uma abocanhada capaz de lhe decepar a mão. O pit bull não responderá à sua porrada com o rabinho balançando nem lambendo sua mão.
Claro que se deve ir aos protestos com postura e intenção das mais pacíficas possíveis, mas sempre alerta e preparado para se defender, caso o pacífico não se mantenha, não possa ser mantido.
Carregue soro antirrábico, soro antiofídico e vinagre, o famoso vinagre, para minimizar os efeitos do gás lacrimogênio. O sujeito que levou vinagre para a manifestação estava plenamente ciente do que estava a fazer, e do que podia enfrentar e sofrer - como de fato sofreu.
Não dá para o sujeito crer no pacífico, não dá para sair em protesto e, depois, reclamar da violência policial, não dá pra ficar indignado com isso. Não dá pra dar uma de bebê chorão.
Achar que vai derrubar o Sistema com o consentimento, os aplausos, a simpatia, o beneplácito do mesmo, nem é mais ingenuidade, já é a irmã xifópaga dela, a burrice. O Sistema vai sempre reagir violentamente à sua derrubada. A força sempre será a resposta a qualquer tentativa significativa de ruptura ao Sistema.
Quem sai à chuva é para se queimar, já bem o disse, e cunhou para a eternidade, o filósofo da pedra britada Vicente Matheus.
Os diáologos, óbvio, devem continuar, mas é sempre conveniente ter uma ou outra minoria desordeira na manga (supondo que sejam mesmo minorias), as "minorias" desordeiras são feito tropas de choque da maioria pacífica. As "minorias" desordeiras fazem o necessário trabalho sujo que a maioria pacífica tem pudores em realizar. Lançar mão das "minorias" desordeiras, é o diálogo feito com o trabuco à mostra em cima da mesa, para manter bem abertos os ouvidos do interlocutor ao que é falado.
Há de se saber, também, que não há garantia de nada nesse tipo de manifestação popular. Não há garantia de nenhuma mudança; e havendo-a, não há a garantia de que será para melhor.
Mas até quando esperar?
De qualquer forma, não tenho dúvidas, algo novo está a ocorrer por nossas ruas, uma nova tentativa, uma nova forma de tentar. Uma nova forma para triunfar, ou para fracassar. Um grito mais alto, uma nova forma de ser melhor ouvido, ou mais brutalmente calado. 
Mas até quando esperar? O concreto rachou!!!
Tá na hora do pau!!!
Boa sorte, meninos, boa sorte!
(E cuidado. Conservem seu medo, mas sempre ficando sem medo de nada)

Em tempo : li à tarde que a Fifa, caso a situação não seja controlada, já tem um plano B para que o término da esquecida Copa das Confederações se dê em outro país,  mesmo a realização da Copa 2014 no Brasil está periclitante. Li também que as manifestações poderão afetar a Jornada da Juventude, um evento de âmbito mundial da Igreja Católica, que contará, inclusive, com a presença do filho da puta do Papa. 
As manifestações sabotando a festa máxima do futebol e da juventude católica, duas das coisas que mais desprezo nesse mundo desprezível. É muita emoção para o velho Azarão. Obrigado, meninos, obrigado.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Efeito Avô Babão

As fêmeas da espécie humana parecem ser as únicas que não mantêm suas capacidades reprodutivas por toda a vida, as únicas que encaram a temível menopausa, mais temível até para os homens que convivem com elas.
Para explicar essa disparidade em relação às outras espécies, muitas teorias já propuseram o conceito batizado de "efeito avó", segundo o qual as mulheres perderiam sua fertilidade ao atingir uma idade em que não fossem mais capazes de acompanhar o desenvolvimento de sua cria, ou seja, quando estivessem numa idade em que, provavelmente, morreriam antes do desenvolvimento completo de sua prole. 
Além disso, dessa forma, ficariam disponíveis para ajudar na criação dos filhos das fêmeas mais jovens. Daí o nome "efeito avó", aquela avozinha clássica, que fica em casa fazendo tricô, divertindo-se com os netinhos, fazendo pipoca e bolinhos de chuva para eles, e não essas avós ditas moderninhas de hoje, de minissaias, barriguinhas (e aqui fui extremamente gentil) de fora, tatuagens, frequentadoras de "baladas", ou seja, não esses biscatões "véios".
Para mim, tem lógica, faz muito sentido, o "efeito avó".
Agora, uma equipe de especialistas em evolução genética da McMaster University, no Canadá, vem dizer que não é nada disso, que não tem nada de "efeito avó", tem é de "efeito avô", "efeito avô babão", para ser mais exato.
Segundo estudos desses pesquisadores, a menopausa é culpa, vejam só, nossa, dos homens. Nós, homens, seríamos os responsáveis pelo fim da fertilidade da mulher. Até parece coisa de feminista suvacuda.
Eles afirmam que o fato dos machos humanos terem preferência por fêmeas mais jovens levou, evolutivamente, a um bloqueio da capacidade reprodutiva das fêmeas mais velhas. Se elas, a partir de uma certa idade, não são mais procuradas pelos machos, não faz mais sentido, e nem é compensatório, em termos de gastos energéticos do organismo, que permaneçam férteis, ovulando, perdendo células e sangue.
Ou seja, segundo esses pesquisadores do Canadá, a vovozinha fica seca porque o vovozinho fica babão e sai à cata de rabetas mais suculentas e peitinhos mais empinados e balouçantes. Que coisa feia, vovô!
A pesquisa canadense foi liderada por Rama Singh, que me deixou em dúvida com esse nome, não sei se é uma mulher (e aí faria todo sentido o aspecto tendencioso do trabalho), ou se é um macho submisso a fazer graça para agradar às mulheres.
Felizmente, ainda há os sensatos no meio científico. Maxwell Burton-Chellew, biólogo evolutivo do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, rebateu essa teoria - e Oxford é Oxford, ora porra, e biólogo evolutivo inglês é biólogo evolutivo inglês, parente do próprio Darwin.
Com toda fleuma e precisão britânica, Burton-Chellew vai direto ao óbvio, ao evidente : não tem nada de efeito avô babão, a mulher não perde a fertilidade porque o macho deixa de buscá-la, mas, sim, o macho deixa de buscá-la porque ela fica menos fértil com a idade, e a natureza prima pela eficiência. Se uma cópula com uma fêmea mais jovem é garantia probabilística de uma maior, melhor e mais bem cuidada prole, é com ela, a fêmea mais jovem, que o macho vai trepar.
Discordo, no entanto, da afirmação dos cientistas em geral, sejam britânicos ou canadenses, com a qual inicei essa postagem, a de que a fêmea humana não se mantém fértil até o fim da vida. Ela se mantém, sim. Até além do fim da vida, eu diria. E explico. 
O que esses cientistas parecem esquecer é que o corpo humano não foi "programado" para durar 60, 70, 80, ou mais anos. Que essa longevidade foi obtida artificialmente, ao nos isolarmos do mundo natural - dos predadores, das limitações de espaço físico e de alimento, dos rigores do clima - e através do desenvolvimento das ciências médicas.
Em condições estritamente naturais, raro seria um humano que transpusesse a barreira dos 40 anos, ele seria um autêntico Matusalém. A exemplos, a expectativa de vida no neolítico (vulgo período da pedra polida) era de 20 anos, e de 30 anos - sim, apenas de 30 anos - na Grã-Bretanha medieval.
Em ambiente natural, homens e mulheres morreriam com 30 anos ou menos, e, portanto, a mulher jamais conheceria a menopausa, seria fértil, sim, até o fim da vida; aliás, a natureza até lhe deu umas décadas extras, uns anos de lambuja.
Mas ainda que a culpa fosse mesmo do vovô babão, a caçar carnes mais tenras e peitos mais cornucopiosos, quem seria capaz de condená-lo, que júri do planeta, com muita inveja, não o absolveria?
A Marreta do juiz seria categórica à sua batida : Absolvido! Por unanimidade evolutiva!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Dia da Saudade

Quase me formei um químico. Beeeem quase. Cursei um bom curso de Química durante alguns anos, mas não o concluí; por inúmeros fatores, a maioria dos quais nem eu sei listar ao certo até hoje, não conquistei meu diploma, meu registro de alquimista.
Contudo, se hoje sou biológo por ofício, que é o que sustenta o corpo, em alma, sou químico, sempre o fui. 
Desde quando abria o armário de remédios de casa e misturava tudo, merthiolate com água oxigenada, iodo com o descongestionante nasal, vicky vaporub com pasta de dente, e assim por diante; desde que preparava minhas tintas com extratos sequestrados de pétalas de flores, desde que derretia pedaços de chumbo para encher caixas de fósforos e transformá-las em goleiros de jogo de botão, desde quando ganhei meu primeiro laboratório com 25 reagentes e manual (que tenho até hoje) com 100 experimentos.
Hoje, dia 18 de junho, é o dia do Químico. Claro que não me lembrei da data por conta própria, sou péssimo para elas, as datas, esqueço meu próprio aniversário, negligencio minha própria alma.
"Lembrei -me" dela através do blog Quimica Mix, do meu primo Leitinho, ele, sim, um químico de verdade, com diploma, doutorado e tudo. Em seu blog, ele registra e comemora o Dia do Químico.
Aí, não teve jeito, a merda da saudade veio, com tudo. 
Lembrei-me dos meus tempos lá na Química USP - RP, das pelejas no pingue-pongue e no bilhar no Centro de Vivência, ao lado da cantina do Seo Zé, dos meus tempos no Cenequi, o diretório acadêmico - sim, o Azarão já fez parte de um diretório acadêmico, eu era o segundo sub-secretário adjunto de alguma porra -, dos Jogos Interquímicas, da Semana da Química, que sempre acontecia em torno do dia 18 de junho, com muita festa, bebederia e, claro, mulheres, não que eu conseguisse pegar alguma, mas elas estavam lá. 
Aliás, pãããããta que o pariu, o Azarão nasceu na Química USP-RP, por obra e batismo de meu grande amigo Fernandão, outro químico, que me transformou - sei lá se para o bem ou para o mal - em grande parte do que me tornei.
Parabéns!!! E um abraço de tungstênio aos meus amigos Marcelo, Fernandão e Keler Margá, químicos com corações de ouro, que sempre me aturaram e me carregaram junto, sempre relevaram e suportaram meu mau humor ácido e oxidado.
Abraços, viadada!!!

domingo, 16 de junho de 2013

Voltaram os Bons Tempos das Peladas

Alguns podem pensar, pelo que leem aqui, que eu não gosto de futebol, sei que posso passar essa impressão, às vezes. E não gosto, mesmo. Detesto, a bem da verdade. 
Mas não gosto é do futebol grande, do futebol dos estádios, dos coliseus, do futebol empresa, das camisas dos clubes que, hoje, são mais outdoors que brasões e estandartes de seu grêmio. Não gosto é do futebol que transforma idiotas em deuses e heróis.
Gosto, entretanto, acreditem ou não, do futebol pequeno, do futebol de rua, aquele que a gente jogava com latas de óleo a servirem de traves, ou, quando nem latas conseguíamos, usávamos uns chinelos de dedo para marcar os limites do gol, gosto do futebol jogado pela molecada nos terrenos baldios, imediatamente improvisados em campos de terra batida, do futebol dos sem-camisa versus os com-camisa, ou seja, tenho enorme simpatia pelas boas e velhas peladas.
Eu próprio, acreditem ou não (mais ainda), já joguei umas boas peladas em minha infância/adolescência. Se bem que jogar, jogar, é modo de dizer, eu ficava sempre no gol, que era o lugar em que, invariavelmente, a não ser que você fosse o dono da bola, colocavam os pernas de pau, mas cheguei a ser um goleiro razoável, que o diga meu amigo Marcellão, cujas cobranças de penalti, eu sempre frustrei. Fazer gols, em toda a minha vida, acho que só fiz no futebol de botão e no pebolim.
Por isso, muito folguei em saber que não sou o único saudoso de uma boa pelada.
A Alemanha promoveu, nesta semana, o primeiro Campeonato Nu de Futebol. Os jogos foram disputados na grama sintética do Berlin's Palais am Funkturm e tiveram as participações das seleções alemã, sueca, francesa e italiana.
É a volta do verdadeiro futebol arte. Ou, pelo menos, do futebol nu artístico. Vejam com que fluidez a bola rola pelo gramado, com que elegância, leveza e beleza, vejam como corre gostosa.

E na comeração pelo gol, então? Não tem nada daquelas coreografias idiotas, não tem nada daquelas dancinhas de macaco. Na hora do gol, elas partem para o abraço. As meninas dão um verdadeiro show de bola, de "bolas", se é que vocês me entendem, e sei que me entendem.
E só tem seleção, só tem o top de cada país. Na copa da peladas, não tem bola murcha! É tudo bola de capotão, e das nº 5 !
Para juiz, não digo, não tenho mais idade e fôlego para ficar correndo de lá para cá, mas se precisarem de um bandeirinha, eu tô dentro. Hasteio a bandeirinha no pau!!!

sábado, 15 de junho de 2013

Brasil : o País do Futebol, Ontem, Hoje, Sempre, e Desgraçadamente.

Para a realização da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, não são apenas os estádios brasileiros de futebol que necessitam passar por reformas, adaptações e ampliações. É preciso (preciso?) ampliar igualmente as vias de acesso aos locais dos jogos, hotéis, restaurantes, pontos turísticos etc das cidades que sediarão o evento. Todo um projeto urbano vem sendo realizado nas 12 cidades que abrigarão a desgraça da Copa.
E, agora, uma coisa que você nunca vai ver no Jornal Nacional, acompanhada pelo sorriso da Patrícia Poeta : por conta dessa ampliação viária, para facilitar a vida do turista, cerca de 250 mil pessoas correm o risco de ser despejadas de suas residências, muitas até já foram.
Os dados são da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e foram divulgados em um vídeo apresentando em uma reunião paralela da 23ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
Quero deixar bem claro que não são os vagabundos dos sem-terra, índios e outros pilantras que serão desalojados, nada disso. São famílias de trabalhadores! A esses, ninguém vai lá defender, em defesa desses, não se veem protestos, passeatas, bandeiras vermelhas do MST, PSTU e o caralho a quatro a se agitarem, em defesa desses, não há artista boiola fazendo beijaço, panelaço, apitaço, rosca-queimaço ou coisa que o valha.
Defender trabalhador não dá ibope, não ganha votos para as próximas eleições, não projeta a imagem nem aumenta o cachê de nossos engajados músicos, atores e toda a canalhada metida a intelectual.
Ir em socorro de gente comum, que acorda às 5 da manhã para trabalhar, que paga seus impostos, que conta moedinhas para aguentar a chegada do fim do mês, não é chique, não é moderno, não está nas metas do milênio, proteger gente comum não vai salvar o planeta.
Ter consciência cidadã (e odeio cada vez mais essa palavra), hoje, no Brasil, é ser amigo de vagabundo, é chamar o vagabundo de excluído, de desfavorecido, e dar para ele tudo o que ele acha que a sociedade lhe deve. Ter consciência cidadã é dar uma esmolinha para aplacar a própria consciência pesada. E dar com o dinheiro de quem trabalha, dar com o dinheiro dessas 250 mil pessoas que estão em vias de perder suas casas, por conta da Copa 2014 e Olimpiadas 2016.
Ser cidadão, hoje, no Brasil, é dar terra para índio que compra cocar em loja de artesanato e para "agricultor" sem terra nas unhas e calos nas mãos, é defender o direito do cara fumar maconha e dar o rabo.
Alguns dados do dossiê da Ancop :
500 famílias ameaçadas de despejo na Vila Autódromo, no Rio de Janeiro;
200 casas, em Recife, foram marcadas para ser demolidas sem consulta prévia aos moradores;
900 famílias no oeste da cidade de Manaus estão sob risco, por causa da construção de uma rodovia;
2.600 casas, Em Belo Horizonte, estão ameaçadas pela ampliação do anel viário no entorno da cidade;
2 mil famílias da região metropolitana de Curitiba estão em risco devido às obras de expansão do aeroporto e à reforma do estádio Joaquim Américo Guimarães.
Mas o governo vai realocar essas famílias, vai lhes pagar indenizações, dirão os politicamente corretos defensores do progresso às custas do cu alheio.
Sim, haverá indenizações : entre R$ 4 mil e 10 mil, em média, por família que perder sua casa. Puta dinheiro, hein? Sim, haverá reassentamentos : em  locais distantíssimos das residências originais, muitas vezes sem a menor infraestrutura para acolher essas famílias, e com os quais essas pessoas não possuem nenhum vínculo, elas ficam longe de seu trabalho, da escola dos filhos, dos familiares, amigos.
À perda da residência, outras se juntam. Um endereço fixo é condição básica para ter acesso à educação dos filhos, à saúde, a uma conta bancária, à obtenção de um crédito financeiro, enfim, ter uma casa é condição básica para o sujeito ter uma identidade.
Essas famílias, desapropriadas de suas residências, serão igualmente alijadas de suas identidades.
E para quê? Para ver o idiota do Neymar com corte de cabelo novo? O bigode do Felipão?
Nas imagens do vídeo mostrado em Genebra, são retratadas casos flagrantes de despejos forçados, remoções com aviso prévio de 48 horas, casas demolidas sob protesto, abusos policiais e famílias desesperadas por não saberem onde serão reassentadas ou se receberão indenização por suas perdas.
Cadê os filhos das putas dos Direitos Humanos numa hora dessa? Dando a bunda pra bandido, só pode ser. E fumando um belo dum cachimbão da paz com os índios falsificados. Estarão os dos Direitos Humanos já devidamente comprados pela Fifa, CBF etc, como já foram devidamente comprados pelos comandos criminosos do país?
E, no pior, eu gostaria de nem ter pensado, mas não há mais como não, já pensei, já foi, já era.
O pior, podem ter certeza, é que, quando a Copa estiver em seu transcurso, quando a seleção canarinho estiver no gramado a fazer suas presepadas, todos os onze vendidos a multinacionais do esporte, essas mesmas 250 mil pessoas que perderam(ão) suas casas, suas vidas, já estarão esquecidas de tudo, estarão a berrar, a esgoelar-se, a tocar suas vuvuzelas e caxirolas. Estarão todas - se houver exceção entre elas, serão pouquíssimas - a torcer fervorosamente pelo Brasil.
Não pelo meu Brasil, mas pelo Brasil que, enfim, quem sabe, elas mereçam de fato. E se o Brasil for hexacampeão, talvez até considerem a perda de suas casas como um válido sacrifício pela pátria.
Fonte : BBC Brasil

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Boneca de Quatro - Luiz Felipe Pondé

Há tempos a marreta de Pondé não se mostrava tão pesada e contundente. O texto que reproduzirei a seguir foi motivo de várias manifestações de repúdio ao escritor, inclusive uma abortada tentativa de sabotagem a uma palestra dele na Feira do Livro de Ribeirão Preto. Umas suvacudas da chamada "capital da cultura" - só se for da monocultura da cana-de-açúcar - pretendiam invadir o auditório com cartazes de protesto, felizmente foram detidas.
O que pegou no texto foi Pondé dizer que certas feministas nem são mulheres e que, as mais azedas, querem até ensinar as mulheres heterossexuais a transar : nunca deem de quatro, dizem elas, é a posição que representa a sociedade dominada pelo poder do macho, a falocracia - pãããããta que o pariu!!!
Segundo essas feministas - tudo sapatão do grelo grande -, a mulher "pensa" que gosta de transar de quatro, "pensa" que gosta de ser penetrada por trás, porque foi oprimida.
Quer dizer que a mulher está lá, de quatro, se melando toda, sendo segura pelos cabelos e bem cavalgada como a fêmea que é, e gozando feito louca porque "pensa" que ser bem pega por trás é bom? Goza porque tem a "impressão" de que aquilo é bom?
Pondé está certíssimo, como de costume. Tem muita feminista por aí que não é mulher porra nenhuma, tampouco defende os direitos femininos, defende é o direito de se tornarem homens. Essas de suvacos cabeludos queriam, na verdade, é ser homem, morrem de inveja de um cacetão, e aí ficam tentando transformar homens e mulheres normais em inimigos. Querem é bucetinhas sobrando no mercado.
Nunca tive nenhuma namorada, caso, enrosco, rolo etc que não gostasse de dar de quatro, é uma das posições mais prazerosas para elas - e para nós, também. Mas como as feministas vão saber, se nem mulheres são?
Abaixo, o texto de Pondé - os trechos em vermelho são por minha conta.
Bonecas de Quatro
"Hoje vou falar de coisa séria: vou falar de mulher. Aliás, nem tanto, pensando bem. Vou falar de feministas e muitas dessas não são exatamente mulheres. E também de gente que quer fazer meninas brincarem com carros e meninos com bonecas em nome da "tolerância". Até quando vamos ter que tolerar esses maníacos em zoar a vida dos filhos dos outros?
O fascismo nunca perde força. Em nome de uma educação para diversidade, os fascistas de gênero agora querem se meter nos brinquedos das crianças.
Quando será que a maioria silenciosa vai dar um basta nessa palhaçada pseudocientífica chamada teoria de gênero na sua versão "hard" (engenharia psicossocial do sexo)? Quando vamos deixar claro que essa coisa de dar boneca para meninos quererem ser meninas é, isso sim, abuso sexual?
Quem sabe, quando as psicólogas e pedagogas tiverem coragem de parar de brincar com a sexualidade infantil fingindo que acreditam nessa baboseira de trocar os brinquedos de meninas com os dos meninos e vice-versa.
Mas, vamos aos fatos. Há alguns anos, assistia eu um pequeno festival de curtas sobre diversidade sexual quando ouvi uma das maiores pérolas desta pseudociência do sexo.
O curta abria com uma cena de sexo em uma cadeia. Um casal, um homem e um travesti, faziam sexo. O travesti de quatro, o homem por trás. Os dois gozavam ao final. O curta seguiu seu curso, mas não é o filme em si que me chamou atenção.
De certa forma, o curta repetia uma das manias chatas do cinema brasileiro: cadeia, bandido, pobre, drogas... haja saco. Cinema preocupado em construir "consciência social" (essa nova categoria da astrologia) é sempre chato e ruim.
Terminado o filme, "especialistas" em gênero fizeram um debate. Na primeira fala, um dos integrantes da mesa protestou contra o fato que na cena o travesti estava de quatro e que isso revelava que os criadores do curta incorriam no pecado da "falocracia".
Calma, caro leitor e cara leitora, não pretendo usar palavras de baixo calão numa segunda-feira. Explico-me: "Falocracia", termo cunhado para parecer chique, significa sociedade dominada pelo poder do macho (falo = pênis, cracia = poder).
Segundo nosso gênio (seria gênia? Não me lembro bem do sexo...), o curta repetia o erro machista de colocar a "fêmea" no lugar da que gosta de ser penetrada por trás.
Para esses tarados em se meter na vida dos outros, as mulheres até hoje "pensam que gostam" de ser penetradas por trás porque foram oprimidas. Risadas? E quando digo que feminista não entende nada de mulher ainda tem gente que se espanta... Feminismo fora de delegacia de mulheres dá nisso: invasão da cama alheia.
Pois bem, agora algumas feministas mais azedas do que o normal querem ensinar as mulheres heterossexuais (essas que muitas militantes julgam compactuar com o inimigo) a transar e propõem a demonização de uma das posições mais preferidas pelas meninas saudáveis: transar de quatro.
Segundo nossas fascistas de gênero, as heterossexuais devem ficar sempre por cima para olhar nos olhos do opressor e jamais (preste atenção: eu disse jamais!), ao fazer sexo oral (melhor não fazer), "jamais engolir sêmen, que é excremento como xixi e coco".
É meninas queridas, um dia desses vão prender vocês se gostarem de ficar de quatro ou de "engolir". A liberdade sexual acabou e em seu lugar nasce a heterofobia.
Quando vamos perceber o fato óbvio de que o feminismo é a nova forma de repressão social do sexo? Principalmente do sexo heterossexual feminino? Ao se meter embaixo do lençóis, essas azedas atrapalham a já difícil vida sexual cotidiana.
Uma coisa é combater crime sexual, salário discriminatório, outra coisa é se meter no modo como as pessoas gozam.
Isso me lembra o filme espanhol de 1991 "El Rey Pasmado" de Imanol Uribe. Neste filme, um casal de nobres sofria "preconceito" porque a mulher gozava muito. Padres e freiras foram chamados para rezar e ajudar a mulher ser "casta" no sexo.
Antes eram as freiras que odiavam o sexo, hoje são as feministas mais chatas: para elas nada de bonecas de quatro."

Grillo Verguero, A Volta

Raul Seixas morreu. O Grillo, quase. Foi ao inferno e voltou.
Foi ter com o Raul, que jogava xadrez com Nicuri, e recebeu uma ordem expressa do maluco beleza : sua vestimenta de cetim ainda não está pronta, se apruma, meu nêgo, volta lá pra fora e...Toca Raul!!!!
E o Grillo, finalmente, voltou. Depois de alguns anos fora de cena, pagando ao diabo o que devia e conseguindo novos empréstimos, o Grillo voltou. Sempre a cantar e a defender os clássicos de Raul Seixas, desde a década de 1990.
Ele começa com DDI, emenda com Meu Amigo Pedro e, daí para frente, tudo pode acontecer. É o dia do Grillo.
Dar-se-á nesta sexta-feira, 14/06, o seu retorno. No Paulistânia, lógico. A capital federal da Sociedade Alternativa. Taí o Grillo, abaixo. Mais gordo, mais corado, mais sorridente e, de alguma forma, pode ser só impressão minha, mais triste. Veja o poeta inspirado em Coca-Cola, que poesia mais sem graça ele iria expressar, já dizia Raul em sua canção Movido a Álcool. Será isso?
Bom retorno e faça um belo show, Grillo, meu velho. Com toda habilidade e talento que sempre lhe foram peculiares e, agora, ciente, alerta e zeloso de suas novas limitações.
Toca Raul, toca, Grillo. Um dia a gente se vê.
Grillo Verguero, Sexta-Feira, 14/06, no Paulistânia Rock Bar. À partir das 23:00 h.
Rua Daniel Kujawski, 193 - Jd Paulista - Ribeirão Preto
O Azarão recomenda!!!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Robocop ou Capitão América?

Pããããta que o pariu!!! Parece o Robocop, mas olhem só o escudão...é só botar  uma estrela branca no centro que é o próprio escudo do Capitão América, o fiel e infalível escudo do líder dos Vingadores, que sempre atinge o alvo, ricocheteia em paredes, postes, caixas de correio e retorna infalivelmente às mãos de seu mestre, feito o martelo do próprio Thor, feito a prancha do Surfista Prateado, só não sei se é feito da exclusivíssima liga de adamantium e vibranium, metal fornecido por Tchalla, o Pantera Negra, soberano do reino tecnológico de Wakanda e forjada acidentalmente (por isso, irreproduzível) por Tony Stark, que tira onda que é cientista espacial, mas também é Homem de Ferro, e sendo de vibranium-adamantium (40-60) nem as garras do Wolverine são capazes de cortá-lo.
Mas o que vai combater o soldado da foto, o detentor do legendário escudo? O Quarto Reich? Uma invasão alienígena Skrull? Nada disso. O valoroso combatente é um policial do RJ, a enfrentar a população pobre, ignorante e desdentada da Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil (ele próprio, muitas vezes, parte dela), em uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus.
Capitão América x Vale-transporte! Definitivamente, o Brasil não tem vocação para os épicos.
Bem que o governo de SP podia também importar esses uniformes para os seus combatentes do crime, e depois que equipasse todos os professores adequadamente, o excedente seria destinado aos policiais.
Eu quero o meu escudão, troco um quinquênio, uma licença-prêmio, o ticket refeição e o tablet que o governo diz que nos dará pelo escudão. Não quero tablet porra nenhuma. Que enfiem o tablet no cu. Quero o meu escudo do Capitão América.

Volver

Vou revolver a terra amnésica
Das antigas desilusões,
Motores que sempre me impulsionaram,
Que sempre botaram tinta e bússola à minha pena,
Objeto tão leve em si
Mas dado a uso tão pesado e insustentável.

Vou sacar
Da minha gaveta de ossos,
Da minha urna de cinzas,
O meu revólver desmuniciado
Das velhas alegrias e alucinações
Com o qual eu me lançava à noite perigosa
- que nunca me ofereceu perigo -
Feito um xerife a fazer ronda por cidade-fantasma,
A atirar ao alto
Minhas balas de festa, de festim,
Que não matavam nem pardal
Nem ratazana nem solidão.

Vou volver aos mapas de ontem,
Caminhar de tênis furados
Por suas ruas de pergaminho amarelado-quebradiço
E rosas dos ventos desatinadas,
Pelas naftalinas das lágrimas 
Que ali secaram, cristalizaram.

E vou,
Na falta de absinto,
Me lembrar de você.
Que a mais púrpura papoula
E os girassóis da noite
Nascem dos canteiros fertilizados pela tristeza.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dirceu - A Biografia

São esses os defensores da democracia que reclamam de ter sido torturados pelos militares, de ter levado uns choques e uns catiripapos? São esses que gritam por justiça na palhaçada a que se deu o nome de Comissão da Verdade? São esses que, inclusive, recebem indenizações milionárias do Estado por terem sofrido maus-tratos durante o governo militar?
São esses os seus heróis de capa e estrela vermelhas?
Do que mesmo o Supremo Tribunal Federal os chamou? De chefes de quadrilha, não foi? Não só chamou, provou, condenou-os.
Já disse aqui algumas vezes e repito : o erro dos militares não foi ter lhes torturado, o erro dos militares foi SOMENTE ter lhes torturado. A nenhum deles se deveria ter deixado sair vivo dos porões da ditadura, que porões servem mesmo para isso, sepultar fantasmas e assombrações, para todo sempre. 
Para quem ainda não sabia, ou que se recusava a acreditar, ou que se recusa em admitir que votou na facção mais perigosa que já dominou a política brasileira, o PT. 
Leiam o artigo abaixo.
Do Blog de Reinaldo Azevedo.
“Dirceu — A Biografia” e relatos de tortura e morte. Ou: Quem conta a verdade possível é a sociedade, não comissões fajutas de estado
Quem conta a verdade possível, em matéria de história, é a sociedade: seus pesquisadores, historiadores, jornalistas, comentadores. Por mais honestos que sejam os narradores sobre os fatos, as narrativas serão necessariamente distintas. E não apenas em razão do estilo de cada um. Haverá aquele a enxergar relação de causa e efeito onde outro vê ou mera correlação ou não mais do que um acidente. Ao ordenar os eventos, reconstruímos a realidade segundo o nosso entendimento. Onde, então, está a verdade — sempre partido do princípio de que todos são fiéis aos fatos, de que não existe mentira deliberada? Está nesse conjunto diverso de vozes e de entendimentos da realidade.
Assim se fazem as coisas nas sociedades livres. Instituir, pois, uma comissão estatal da verdade para definir a “versão oficial” dos fatos é mero exercício de truculência política, de vigarice intelectual e de pilantragem filosófica. A razão é simples: os elementos meramente fáticos, destituídos do contexto que lhes dá sentido, em vez de esclarecer o mundo, servem para obscurecê-lo ainda mais. Quando essa dita “comissão da verdade” pretende instituir uma “moral da história”, aí já estamos no terreno do mais asqueroso oportunismo. Por que essas considerações? O editor de VEJA Otávio Cabral acaba de lançar pela Editora Record o livro “Dirceu — A Biografia” (364 págs; R$ 39,90). Ali se narram verdades que, para escândalo do bom senso, não são do interesse daquela comissão instituída por Dilma Rousseff, embora essa também seja uma história de tortura de morte.
O fio condutor do livro é a vida de José Dirceu, personagem central do maior escândalo político da história brasileira, articulador do que foi muito bem definido por ministros do Supremo como uma tentativa de golpe nas instituições democráticas e republicanas. Ora, uma personagem com esse vulto, com todas as características evidentes do anti-herói, que força a própria estereotipia para entrar na galeria dos vilões, merece ter a vida esmiuçada. E Cabral se dedicou, então, a uma pesquisa detalhada para reconstruir a trajetória do chefão do PT. Como informa Thaís Oyama em reportagem na VEJA desta semana sobre o livro, o autor analisou 15 mil páginas de documentos, distribuídas em nove arquivos, e entrevistou 63 pessoas. É… O Dirceu do mensalão, chamado pela Procuradoria-Geral da República de “chefe de quadrilha”, não se fez por acaso. Cabral decidiu investigar o pântano em que nasceu tal flor e escreveu um livro que, acreditem, traz revelações surpreendentes. Eu diria que Dirceu é ainda mais Dirceu do que se supunha…
Se já conhecíamos, por exemplo, aspectos de sua biografia pessoal que pareciam pouco recomendáveis para consumo humano, o livro se encarrega de evidenciar que Dirceu não enganava pessoas apenas por necessidade; ele também o fazia por gosto. Volto a esse ponto mais tarde. Dentre as muitas revelações do livro, dou destaque a duas porque dizem muito sobre a personagem e também nos remetem à tal “Comissão da Verdade”. 
José Dirceu, o homem condenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha, segundo o depoimento de uma das testemunhas da história, participou do assassinato de um sargento da Polícia Militar de São Paulo, em 1972. A morte ocorreu em uma das ocasiões em que ele voltou do exílio em Cuba — era um protegido de Fidel Castro —, em companhia de outros membros do grupo Molipo (Movimento de Libertação Popular), uma tentativa de movimento armado criado por exilados brasileiros em Cuba, financiado por Fidel. Lembro que o destino do Molipo ainda hoje gera especulações à boca miúda. Todos os dirigentes foram mortos pelas forças de segurança. Só Dirceu escapou. 
Há uma outra revelação chocante: Dirceu comandou, segundo relato da época, o sequestro e sessões de maus-tratos de um jovem chamado João Parisi. Leiam trecho do livro: 

O soldado da Força Pública Paulo Ribeiro Nunes e o estudante do Mackenzie João Parisi Filho, membro do CCC [Comando de Caça aos Comunistas], descobertos enquanto se passavam por militantes do movimento estudantil, foram levados vendados ao Conjunto Residencial da USP, o Crusp, onde os apartamentos 109, 110 e 111 do bloco G eram utilizados como uma “delegacia informal” da turma de Dirceu. Lá, foram interrogados e mantidos em cárcere privado (…) A Parisi, porém, foi dado tratamento de inimigo de guerra, segundo relato do delegado do DOPS Alcides Cintra Bueno Filho, em documento de 18 de agosto de 1970:  
“Por determinação do ex-líder estudantil Jose Dirceu de Oliveira e Silva, concretizou-se o sequestro do então universitário João Parisi Filho, da Universidade Mackenzie. João Parisi Filho foi levado para o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo, onde permaneceu em cárcere privado por vários dias, submetido a sevicias. Nesse conjunto residencial, Parisi foi conduzido vendado e algemado, onde foi submetido a interrogatório, sob ameaça de morte. A vítima permaneceu presa durante dias, em condições desumanas. Após ter passado por esses atos de atrocidade, o estudante Parisi foi conduzido de olhos vendados para a copa do quinto andar do pavilhão G, onde foi trancafiado por uma noite e dois dias, permanecendo nesse local todo esse tempo deitado, com as mãos algemadas e presas ao cano da pia daquela dependência. Nessa situação, foi encontrado por duas empregadas que fazem a limpeza”. 
 
Voltei
Pois é… São apenas duas de muitas histórias um tanto estarrecedoras sobre o Zé. Mais uma vez, temos uma medida do Paraíso na Terra que teria sido o Brasil se “eles” tivessem vencido a batalha. Não por acaso, Dirceu foi tomar lições sobre o que fazer em Cuba — e continua a defender até hoje com unhas e dentes a ditadura que o abrigou. Eis aí algumas contribuições importantes para a verdade sem crachá, para a verdade que não depende de comissão oficial. 
Aqui e ali já se contou a história do Dirceu que viveu clandestinamente no Paraná, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello, casado com Clara Becker — que é a mãe do hoje político Zeca Dirceu. Muito bem! Veio a Anistia, e o homem não teve dúvida: revelou à mulher que, bem…, ele não era ele e se mandou. Ela ainda tentou salvar o casamento, mas foi inútil. Muitos já tentaram livrar a cara de Dirceu nessa história: “Ele só estava se protegendo e protegendo a sua família…”. É mesmo? Pediu, por acaso, licença à mulher, à mãe do seu filho, para usá-la como disfarce? Não, é claro! A biografia revela agora que Dirceu não enganava apenas por necessidade, mas também por gosto. Tinha uma outra mulher em São Paulo, chamada Miriam Botassi. Clara, assim, era enganada duas vezes: pelo militante político José Dirceu e pelo marido que julgava ter, Carlos Gouveia. Dirceu, como se vê, mudava de nome, mas não de caráter. 
Que vida venturosa, não? 
No livro, Cabral demonstra que, a partir de um determinado ponto, as trajetórias de Lula e Dirceu se imbricam. As relações nem sempre foram as mais pacíficas, e houve um momento em que o Zé encostou a faca do pescoço de Lula. Em troca do silêncio sobre a forma como o partido captava recursos para campanha, exigiu a presidência do PT e plenos poderes. Levou o que quis. 
Eis aí: “Dirceu — A Biografia” ilumina a trajetória de uma figura central na construção e realização do projeto de poder petista. É a verdade sem crachá. É a verdade escrachada."