sábado, 31 de março de 2012

A Lição Errada

Um amigo, sabendo dos meus "apreço" e "simpatia" pelas tais disciplinas ditas "de humanas", enviou-me, por e-mail, um editorial publicado na Folha de São Paulo, em 21 de dezembro de 2011.
O editorial diz respeito a uma decisão da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em reduzir o número de aulas semanais de português e matemática - de 6 para 5 - e repassá-las a outras disciplinas.
Até aí, tudo bem. Seis aulas semanais de matemática e português, no ensino médio, podem muito bem ser reduzidas a cinco. A questão era decidir corretamente a que disciplinas esse saldo curricular seria repassado.
Foi decidido errado, desgraçadamente errado.
O mais óbvio e evidente é que Biologia, Química e Física fossem contempladas com uma aula adicional às duas vigentes. Que são disciplinas que tratam de temas concretos, reais, demonstráveis, práticos e aplicáveis.
No entanto, com vistas a sempre piorar a qualidade do ensino, essas aulas foram repassadas às tais sociologia e filosofia. Puras elocubrações, puros delírios de pederastas, masturbações de defunto.
Muito mais parecidas com religiões do que com as verdadeiras ciências, essas disciplinas nada têm a acrescentar para o aluno que queira, por exemplo, prestar um vestibular decente.
Uma vez que nada pode ser provado ou demonstrado nelas, seus professos as têm como verdadeiros dogmas. São lecionadas por professores que se assemelham a sacerdotes fanáticos, é muito mais um catecismo do que uma aula. 
Os "donos da verdade" saem a fazer citações e mais citações, feito padres a rezar ladainhas em latim, sem entender porra nenhuma do que dizem. E nem poderiam : à perfeita semelhança das religiões, não há nada a se entender. Não há nada.
E é, basicamente, disso que o editoral trata, da lição errada.

Lição errada
A mudança que o governo de São Paulo decidiu realizar na grade curricular do ensino médio priva os estudantes de aulas de reforço voltadas para o vestibular e sacrifica disciplinas essenciais -como história e geografia, no período diurno, e português e matemática, no noturno.
A compensação será o aumento da carga horária de matérias como arte, filosofia e sociologia. São, certamente, áreas relevantes do conhecimento, mas não correspondem às carências educacionais dos alunos de nível médio no país.
Não faz sentido que sejam acrescentadas ao currículo em prejuízo de matérias fundamentais. Ademais, não é desprezível o risco de que filosofia e sociologia tornem-se meros pretextos para proselitismo ideológico de professores.
A medida pode ampliar o fosso entre os alunos da rede estadual e os das escolas particulares. Basta lembrar que a melhor escola pública da capital paulista, excluídas as técnicas, ocupa a 210ª posição entre 886, segundo o Enem.
O problema do currículo não é a a escassez de temas, mas o oposto. Os estudantes são obrigados a percorrer uma gama variada e, em alguns casos, enfadonha e inútil de assuntos -o que só contribui para prejudicar o aprendizado.
O governo de São Paulo, que tem alardeado seu interesse em privilegiar a educação, deveria concentrar os esforços em disciplinas estruturantes, como português e matemática, e deixar de lado experimentalismos duvidosos. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

A Banalidade Do Raro

O Universo mapeado pelos astrônomos - que é infinitamente diferente de ser conhecido - tem aproximadamente 100 bilhões de galáxias, contando, cada uma, com uns 100 bilhões de estrelas, que podem ser orbitadas, cada um desses sóis, por uns tantos planetas.
Fazendo um cálculo modesto - e sujeito a erros literalmente astronômicos -, o número de planetas do Universo deve ser da ordem de dez elevado à vigésima potência.
É planeta pra caralho ! Não obstante, cada planeta per si é de uma raridade incalculável, único e irrepitível em suas peculiaridades, tamanho, massa, composição química, atmosfera, condições climáticas, durações do dia e do ano, formas de vida etc etc.
Cada planeta é uma verdadeira improbabilidade estatística, mas eles ocorrem, aos trilhões, trilhões e trilhões. O raro é o que há de mais corriqueiro no Universo.
A trivialidade do raro não para por aí, no macro. Em verdade, mais se intensifica no micro.
Um ser humano é evento ainda mais raro dentro do Universo de sua espécie, e com o potencial de gerar singularidades ainda mais improváveis.
Cada um de nós coloca metade dos seus 23 pares de cromossomos nos gametas - óvulos e espermatozoides; e podemos fazer isso de duas elevada à vigésima terceira potência (2*23, assim representado daqui em diante) maneiras diferentes.
Sim, uma única pessoa é capaz de produzir 2*23 tipos de gametas. Imensa cifra não bastasse, a fecundação é o encontro aleatório, ao acaso, de um espermatozoide e um óvulo. Considerando um único casal, o número de combinações possíveis em uma fecundação é dado por 2*23 (do espermatozoide) multiplicado por 2*23 (do óvulo).
Um único casal tem a possibilidade de gerar 2*46 tipos de zigotos - a primeira célula de todo ser vivo. É um número muito, muito, muito, muito maior do que todas as estrelas e planetas somados.
Trocando em miúdos, a chance de você ter sido você foi de uma em 2*46. E você, por sorte ou por azar, aconteceu.
Há, atualmente, 7 bilhões de eventos probabilisticamente improváveis empestando o planeta; isso levando em conta apenas a espécie humana.
Ser raro é regra no Universo, e não exceção como pensam alguns pernósticos afetados. Não há maior lugar-comum do que ser raro.
Ser raro não tem nada de mais, não serve para nada. Apenas para ocupar espaço, apenas para preencher o vazio. Do Universo e da vida.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Quando Morrerão Os Canalhas ?

Semana passada, Chico Anysio. Hoje, morreu Millôr Fernandes, 88 anos.
Millôr foi um intelectual no sentido mais castiço da palavra, desses que restam pouquíssimos por aí, desses que não mais surgirão.
Estamos ficando sem gênios. No Brasil, gênios não são um recurso renovável. Gênio não é uma atividade sustentável por essas bandas.
Millôr foi jornalista, dramaturgo, desenhista, escritor e humorista. E dos bons, em todas as áreas. Mas ele não foi "apenas" um grande jornalista, um excelente dramaturgo, um exímio escritor etc etc. Millôr foi (continuará sendo) o ídolo e referência dos grandes jornalistas, dos excelentes dramaturgos, dos exímios escritores etc etc.
Millôr é cult entre os cults. Millôr é o deus reverenciado por deuses; só para citar dois, Ziraldo e Luis Fernando Veríssimo.
Também foi um frasista inigualável, são dele : Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir; Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor; O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é; Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem; Quem confunde liberdade de pensamento com liberdade é porque nunca pensou em nada.
E aí, na Folha de São Paulo, imediatamente abaixo da manchete sobre a morte de Millôr, uma outra manchete, essa a informar que o tumor da laringe do ex-presidente Lula desapareceu por completo.
Que merda é essa? Quando começaremos a ler sobre as mortes do Lula, da Dilma, do José Dirceu, do Palloci, do Alckmin, do José Serra, do Maluf, do Sarney, do Edir Macedo, do Papa, do Barack Obama ? A lista é imensa.
Quando é que os canalhas começarão a morrer?

segunda-feira, 26 de março de 2012

A Escolinha

O mestre está atrasado. E sem mestre não há aula. Que tal descalabro se dê nos dias atuais, não torna o fato correto, apenas comum, tristemente comum.
Mas não aqui. O Inferno é tradicionalista. Não há nada mais conservador que o Inferno. Alguém, afinal, tem que manter a ordem.
O mestre está atrasado. Alguns alunos esperam por ele há anos, outros, há décadas. Pouco importa, o tempo transcorre diferente no Inferno, uma vez que tudo é diversão.
O mestre chega. Saudações irrompem pela sala, é mestre pra cá, é mestre pra lá, é mestre, como vai?, é mestre, há quanto tempo.
Não é apenas pelo devido respeito hierárquico que o chamam de mestre, é porque, de fato, é o que ele é, um mestre. Feito todos os que se dedicavam ao magistério em sua época, época em que não havia espaço para o amadorismo, para o farsante com o giz e o apagador nas mãos.
O Inferno ainda é essa época. Não há lugar para impostores no Inferno. Só os bons vão para lá.
O mestre se senta atrás da velha mesa de madeira entalhada à mão, o mesmo semblante carrancudo, o mesmo guarda-pó, a mesma voz rouca e segura.
- Seo Joselino Barbacena - começa o mestre
- "Ai, meu Jesus Cristinho! Já me descobriu aqui... Será impossíverrrr? Larga d'eu, sô! Larga d'eu, fedido"
- Zero.
- Seo Sandoval Quaresma, agora é pra tirar um dez
- Agora é que eu me estrepo, eu tava indo tão bem.
- Seo Eustáquio
- "Aqüi! Qüi qüeres?"
- É zero
- Faiô?
- Seo Baltazar da Rocha
- Sabo-lho.
- Seo Gaudêncio
- É o macho aqui, tchê, só não sou mais grosso por falta de espaço.
- Seo Galeão Cumbica
- Atenção, passageiros com destino a Maranguape, portadores da ficha cor de Raimundo, dirijam-se ao portão M e se piqueeem...
- Zero
- "Aí eu choro: au-auuu...!"
- Seo Mazarito
- Isso eu não sei... mas tem aquela da bichinha...
- Zero
- Nooooofa! Ziraaaldo!
Enquanto isso, deus está lá, do outro lado, ouvindo Gandhi discursar, depois Madre Teresa, depois João Paulo II, depois o Sting, depois o Bono Vox, depois o pessoal do Greenpeace.
Morrendo de inveja do capeta, mas regras são regras, só os parvos e os idiotas vão para o céu, ele as fez, nem ele pode mudá-las.
Por sorte, pensa deus, domingo é o dia do Senhor, sempre se pode ver a reprise na tv a cabo.
O mestre segue a sabatina, incansável, resignado.
- Seo Bertoldo Brecha
- Venha !
- Seo Bertoldo, a que classe zoológica pertence o camarão ?
- Da mãe. Camarão é a mãe ! E zéfini, zéfini.
- Seo Samuel Blaustein, vou lhe dar outro zero.
- Melhor zero na nota do que prejuízo na bolso, Raimunda.
- Dona Bela, a senhora já se sentou numa bela piroga ?
- Indecente, perguntar uma coisa dessa a uma moça invicta como eu, vá perguntar pras suas irmãs. Só pensa naquilo...
 - Seo Pedro Pedreira,
- "Há controvérsias! Não me venha com churumelas!"
- Seo Rolando Lero
- Amado mestre, banhe o breu da minha ignorância com suas palavras de ...
- É zero, seu corno gasoso.
A aula prossegue. Entre asneiras e reprimendas, entre traquinagens e sermões. Todos estão felizes com a chegada do professor.
E o capeta está lá, no fundão da sala, rindo às pampas, esperando sua vez de ser arguido e também receber seu zero. Comportadíssimo, o capeta, ouvindo, observando : aprendendo com o mestre.
 "Não tenho medo de morrer. Tenho pena."

Acho que é isso mesmo, morrer, às vezes, dá pena. Algumas mortes dão pena. Feito a de Chico.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Louva-a-Teus

Tira de Adão Iturrusgarai

Túnel Do Tempo

Não é hora, agora, amigo 
De tramarmos nova vitórias 
Nem vislumbrarmos retumbantes conquistas. 
Fiquemos com o conforto de nossa gasta memória, 
Com nossas velhas capas de revistas. 
Agora é hora de afundarmos no sofá 
E assistirmos aos eternos reprises 
(não é de reprises, feita a vida?) 
Dos seriados americanos em preto e branco, 
Da época onde tudo parecia sob controle, 
Da época onde ainda não tínhamos controle remoto. 
E vamos ouvir o que se ouvia nos anos 80, 
Onde nosso mundo 
(e pra fogueira com Galileu) 
Era um disco plano, achatado 
E que girava em 33 rotações. 
E nada havia além de suas bordas: 
Tudo o que havia pra ser dito, já foi dito em vinil. 
Sairemos na madrugada, 
Não num carro importado, 
Pelo qual nunca lutamos, tampouco ambicionamos, 
Mas sim no tapete voador de nossos anos idos. 
Visitando outros amigos que não moram mais aqui. 
Batendo à porta de suas lembranças que nem mais existem, 
Jogando garrafas vazias de rum em seus jardins e telhados, 
Interrompendo seus sonos 
E lhes deixando com a vaga, inexplicável e insistente 
Sensação de deja vu

Não é hora, agora, amigo 
De novas fugas 
Nem de querermos curar nossa miopia. 
Fiquemos com nossas janelas sem grades, 
Com nossa oxidada e falsa prataria furtada de botequins. 
Agora é hora de ocuparmos nossos lugares 
Em nossa távola manca 
(Há anos planejamos lhe pôr um calço) 
Onde continuaremos a manchar os dentes 
Com nosso café sem sentido 
E, sob a luz de argônio com defeito, 
A engolir nosso pão recheado com penicilina. 

Não é hora, agora, amigo 
De desejarmos novas carnes 
Nem de promovermos novas carnificinas. 
Vamos boiar à deriva do tempo, 
Acenando de longe para os que conseguiram se fixar em suas margens 
E vamos enviar cartas sem selos 
Para logradouros e épocas que nunca nos conheceram. 
Não é mais a hora da vida, amigo. 
É a hora de sermos ludibriados, minados, 
Traídos e vitimados por nosso próprio sangue.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(5)

Asa Partida
(Fagner/Abel Silva)

Essa saudade
O cigarro, a luz acesa
E a noite posta sobre a mesa
Em cada canto da casa
Asa partida e dor
Gemido morto, amor
Tão longe vai, 
Tão longe vou,
Nuvem sem rumo é assim mesmo.

Eu não queria
A vida desse jeito
Meu olho armando o bote sem futuro
Fumaça...
E continua
O teu sorriso no meu peito
Essa saudade, 
O cigarro, a luz acesa
E esta noite posta sobre a mesa...
Em cada canto da casa
Asa partida e dor
Gemido morto, amor

Os Eunucos De Cristo. Ou : Muito Além Da Metáfora

Quem acha que a igreja católica é castradora, da missa não sabe um terço.
As religiões - e digo mais da católica porque nasci num país imerso em suas podridão e hipocrisia - servem mesmo a esse fim, castrar, tolher, controlar o povão, domesticá-lo, mesmo.
Com sua doutrina baseada no pecado, na culpa e na submissão, o catolicismo não só cerceia, ele também coíbe e põe sob pena de pesadas sanções toda e qualquer manifestação de cunho puramente humanista, seja ela da mente ou do corpo.
O pensamento é pecaminoso, o desejo é pecaminoso, rejeitar dogmas e contemplar o mundo à luz da experiência e da lógica é crime, punheta é crime; se esse último realmente o fosse, um décimo círculo teria que ser adicionado aos nove infernais de Dante, só para os tocadores de bronha.
O catolicismo mantém o rebanho de ovelhas sempre contente (conformado) e em mansidão; na mais absoluta merda, mas pleno de felicidade. E o pior é que isso é dito claramente aos fiéis, que eles são um rebanho, e eles acham maravilhoso, uma virtude, orgulham-se.
Não é à toa que as religiões são muito benquistas pelos Estados-Nações, que delas não se desvinculam, e nem as contrariam seriamente, mesmo os que se declaram laicos.
Rebanhos castrados em pensamentos e atos são muito mais adequados aos governantes.
Não satisfeitos, alguns padres holandeses, ou que faltaram às suas aulas ginasiais sobre figuras de linguagem, ou que, simplesmente, são muito dos fihos das putas, extrapolaram o sentido figurado da castração católica, foram muito além da metáfora.
A igreja católica da Holanda está sendo acusada da castração de, pelo menos, dez meninos. Castração literal. Cirúrgica.
Os meninos capados pela santa igreja eram alunos de um internato católico e haviam, anteriormente à sua castração, sofrido abusos sexuais por parte dos padres. Alguns denunciaram a putaria, e veio, então, a represália da igreja.
Sob o pretexto de "curar" os meninos de sua homossexualidade, a igreja os emasculou. Tornou-os em eunucos de Cristo.
Quem faz a denúncia é o jornal holandês NRC Handelsblad.
Segundo a reportagem, um rapaz foi castrado em 1956, após contar à polícia que estava sofrendo abusos. Henk Hethuis, que era aluno de um internato católico, tinha 18 anos quando contou à polícia que um monge holandês estava abusando dele, ele foi então castrado por ordem de padres católicos e informado de que isso o "curaria" de sua homossexualidade.
O mesmo, segue o jornal, teria acontecido a dez outros meninos, colegas de Henk.
Na visão canalha da igreja católica, os "doentes" eram os meninos que sofreram os abusos, e não os padres que os cometeram.
Transferir a culpa para a vítima é procedimento comum da igreja católica em casos de abuso sexual e pedofilia.
Um caso exemplar disso, abrindo aqui um parênteses, foi o da menina de 9 anos, da cidade de Olinda, em 2009. Grávida do padrasto - que abusava dela e de sua irmã mais velha, de 14 anos - e correndo risco de morte, foi submetida a uma cirurgia para interromper a gestação.
A menina, a sua mãe e todos os médicos e enfermeiros envolvidos no procedimento foram excomungados pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho. O padrasto estuprador, não.
O arcebispo argumentou que tanto o estupro como o aborto são crimes previstos na lei da igreja, mas, desses, apenas ao aborto cabe a penalidade da excomunhão.
Grande bosta ser excomungado, para mim. Contudo, para quem crê nessa merda toda, é a penalidade máxima, a vergonha absoluta, da qual o padrasto saiu ileso. Fica parecendo que a culpada pelo estupro foi a menina, que exerceu tentação irressístivel sobre o canalha do padrasto.
O repentista e poeta Miguelzinho de Princesa fez um belo cordel sobre o caso, a Excomunhão da Vítima.
Certamente, a igreja católica holandesa se valeu do mesmo raciocínio. A culpa não foi imputada aos padres filhos das putas, e sim aos jovenzinhos cujos corpos impúberes foram provação em demasia para os espíritos puros dos sacerdotes.
A culpa é do Satanás. O capetão em pessoa se apossa dos pequenos efebos para tentar os padres, para desviá-los de seu caminho de luz e em Cristo. E o demônio concentra seus poderes, sobretudo, nas piroquinhas da molecada.
Um padre não pode se deparar com uma piroca pueril possuída pelo tinhoso, imediata e inexoravelmente é atraído a se sentar nela. E não adianta fazer o pelo-sinal, rezar pai-nosso, ave-maria e salve rainha, nem tomar banho gelado, nem se açoitar com o látego. Os poderes da piroca satânica são inelutáveis.
Cortem-lhes as cabeças (as das pirocas, no caso), decreta a igreja. Privem o capeta de suas armas. Tudo em nome de Jesus.
E, engraçado, Jesus nem se importou.
A igreja católica holandesa promete apurar a denúncia e cooperar com as investigações, mas sabemos bem onde tudo isso vai dar. Em nada.
Houvesse uma nesga de dignidade e decência em suas fundações, a igreja não teria mandado castrar os meninos, e sim que tivessem costurado os cus dessa padraiada pederasta.
Fonte : BBC Brasil

terça-feira, 20 de março de 2012

Alain De Botton, Um Falso Ateu

Sou ateu. E ponto.
Não sou partidário, porém, do ateísmo, tampouco o defendo ou o promovo. Sou capaz até de, em certas circunstâncias, combatê-lo.
Que se crie uma doutrina em torno de uma crença, por mais ilógica que ela seja, e todas elas o são, tem, paradoxalmente, uma certa lógica.
Pode-se criar todo um sistema de pensamento para corroborar uma crença, ainda que tudo seja baseado em falsas premissas e estapafúrdias conclusões, mas se pode. E quanto mais sem pé nem cabeça for a doutrina, melhor ela "comprova" a existência de deus, já que a própria ideia de um deus bondoso e justo é a coisa mais sem pé nem cabeça que há.
Agora, criar uma doutrina - o ateísmo, no caso - em torno de uma inexistência, de uma ausência, de um nada, não faz o menor sentido. Chega a ser uma burrice maior do que a exibida pelos crentes.
Atualmente, há uma tendência entre certos ateus - os falsos ateus, que isso fique bem claro - de se unirem em torno de sua descrença. Encontros, reuniões, simpósios e congressos sobre ateísmo estão em voga.
Esses ateus moderados, que é como se autodenominam, querem ser amiguinhos dos crentes, querem contemporizar a celeuma, melhorar sua imagem junto à sociedade cristã.
Ateu moderado é o caralho! Ou o sujeito é ateu ou não é. Não tem meio-termo. O que seria essa porra de ateu moderado? O cara que acredita mais ou menos em deus? Ou que não acredita, mas não descarta a possível existência dele?
Não existe uma gradação para o ateu, uma escala que meça o ateísmo. O ateu é absoluto. Ou é um impostor.
Acima de tudo, o ateu, além de inteligente, tem que ser macho, tem que ter o saco roxo para assumir sua condição de descrente, tem que cagar e andar pra crentaiada, não pode estar nem aí com a imagem que se faça dele. No âmbito da fé e da descrença, não há lugar para a tucanaiada em cima do muro.
Não há ateu politicamente correto. Não pode haver. Ateu é radical. Ou é uma fraude.
O tal moderado é o cara que quer se fazer passar por ateu. Para criar uma aura de inteligência em torno de si, para se dar ares de intelectual, de livre pensador. Mas, na verdade, é um grande dum cuzão.
É o caso de Alain de Botton, filósofo suíço, que se declara um ateu moderado.
Autor do livro - vejam só o embuste - Religião Para Ateus, esse picareta diz que os ateus precisam aproveitar o que a religião tem de bom, como o estímulo à solidariedade e à aproximação entre as pessoas.
Ateu não quer se aproximar de ninguém, não quer se solidarizar com o mundo, nem salvá-lo pelo amor fraterno, ateu não faz festinha, ateu não quer fazer mais amigos do que os poucos que já tem, ateu não quer ter carteirinha do clube do Mickey.
Com vistas a seu objetivo, ele pretende organizar Santas Ceias para ateus, abrir um restaurante com o propósito de aproximar os descrentes. O restaurante é apenas parte de um projeto maior de Botton, um templo para ateus.
Ateus em um templo? Para adorar quem ? O próprio Botton?
Esse cara morre de vontade de virar pastor evangélico, ou de dar o rabo para um, morre de vontade de pagar um dízimo, de ser desencapetado, mas como é um intelectual, um filósofo, isso não faria bem para a sua imagem. Então, o cara se sai com essa farsa barata.
Sair por aí professando a doutrina do ateísmo, é fazer uma religião ao contrário. 
E eu estou fora de qualquer coisa relacionada à religião, mesmo que seja o seu oposto, que nada mais é, o oposto, do que uma imagem especular do objeto ao qual ele se contrapõe.
Ateu, sempre.
Ateísta, jamais.

A Cerveja Nossa De Cada Dia

Não são só os apreciadores do bom vinho, com grana para dar 80, 100 reais, ou mais, em reles 750 ml de líquido, é que podem ser frescos. Não são apenas os sommeliers viadinhos que podem impressionar a outros viadinhos com aquela conversa toda sobre bouquet, notas disso e aquilo, melhor comida para "harmozinar", temperatura ideal a se servir etc etc.
Você, pobre, fudido, tomador de Antarctica, Bavária, Cristal, Cintra, Sol, Belco, Glacial e outras, também pode tirar uma chinfra com uns míseros trocados. Você também pode encher o saco dos que o rodeiam - e que nada querem saber da bebida, só de beber - com detalhes sobre o dourado líquido e as formas mais sagradas de consumí-lo.
É o que garantem os Mestres-Cervejeiros da Antarctica, que dão, abaixo, informações de como melhor saborear a cervejinha nossa de cada dia.

01 - Uma latinha de cerveja tem exatamente a metade das calorias de um copo de suco de laranja (sem açúcar!)... Já aquela calabresa com cebola frita que sempre acompanha...
02 - Cerveja sai pronta da cervejaria: não pede, portanto, envelhecimento. Quanto mais jovem for consumida, melhor será seu sabor. Dura em média 90 dias.
03 - Deve ser guardada em pé, em lugar fresco e protegida do sol, para evitar oxidação prematura.
04 - Deve resfriar na geladeira sem pressa. "Não coloque no freezer, pois a violência no congelamento prejudica a bebida", afirma Cássio Picolo, um dos maiores experts de cerveja no Brasil.  
05 - Depois de gelada, deve ser consumida e jamais voltar à geladeira.
06 - A temperatura ideal para saborear as do tipo pilsen é entre 4 e 6 graus. Tomá-las "estupidamente geladas", como se diz, prejudica tanto a formação de espuma na cerveja, quanto "adormece" as papilas gustativas, comprometendo o sabor.
 07 - Copos e canecas pequenos e de cristal são os ideais, pois mantêm melhor a temperatura e a espuma. Evite canecas de alumínio, que, além de feias, tiram o prazer de apreciar o visual do líquido dourado.
08 - Resíduos de gordura no copo são fatais para a bebida: acabam com o colarinho e liberam o gás carbônico, deixando o líquido meio choco. Idem para resíduos de detergente.
 09 - "Tomar cerveja sem colarinho é uma heresia", ensina outro expert, Norberto D'Oliveira Neto. "Dois dedos de espuma são ideais para reter o aroma e evitar a liberação do gás carbônico."
 10 - A espuma cremosa revela a persistência e bom estado da cerveja. Para aproveitá-la melhor, sirva derramando uma dose. Depois, espere baixar o colarinho. Em seguida, incline o copo até 45 graus, despejando o líquido devagar enquanto o colarinho sobe.
 11 - Com 90% de água, a bebida é hidratante. E com apenas 3 a 5 graus de álcool, como as do tipo pilsen, a cerveja estimula o metabolismo, pelo menos quando ingerida moderadamente. Além disso, é rica em vitaminas, carboidratos, proteínas e aminoácidos. Apesar disso, não engorda;  é folclore associar o consumo de 80 calorias de um copo de 200 ml com a formação de barriga. Os acompanhamentos gordurosos é que engordam.

sábado, 17 de março de 2012

O Filhote De Peter Pan

Uma mãe, querendo mostrar a seu filho o valor da obediência aos ensinamentos dos pais, tomou como exemplo uma mãe bem-te-vi, que fizera o ninho no quintal de sua casa, e que estava a ensinar a arte do voo a seu filhote.
Sob a tutela da mãe, o filhote se lançava de seu ninho, batia suas descoordenadas asinhas quase implumes e fazia um pequeno voo desequilibrado, que era seguido de desastrado pouso.
Pacientemente, e quantas vezes fossem necessárias, a mãe bem-te-vi levava o filhote de volta ao ninho e o processo se repetia.
- Veja, meu filho - começou a mãe -, veja como o filhote obedece à sua mãe, veja como ele faz tudo o que ela manda sem reclamar ou chorar. Ele sabe que os pais não querem o mal dos filhos, que tudo que lhes ensinam e dizem é para o bem deles, os pais os preparam para a vida. Quando for adulto, o bem-te-vizinho só conseguirá sobreviver graças à sua mãe, que lhe ensinou a voar.
- Mãe... - pensa alto o menino.
- Diga, meu filho.
- Então, por que com a gente é o contrário ?
- Como assim, meu filho ?
- Por que vão nos desensinando a voar conforme crescemos ?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Encheu O Cu De Dinheiro

O mundo - as pessoas - estão cada vez mais sensíveis, mais recatadas, mais e mais delicadas em seus brios, qualquer coisa ofende e macula suas impolutas honras. Uma viadagem só.
Ou, na verdade, assim se dizem, de honra ferida, para ganhar um dinheiro fácil processando àqueles que, supostamente, teriam-nas ofendido, constrangido ou exposto à humilhação. 
Toda essa educação e finura, no entanto, é unilateral, os ofendidinhos não demonstram para com os outros a mesma finesse com que querem ser tratados, o que prova as suas imposturas.
E que porra de honra é essa que se lava com dinheiro, que porra de honra é essa que tem preço tabelado no Código Penal?
Honra se lava é num duelo ao pôr do sol, Clint Eastwood de um lado e Charles Bronson de outro; honra se lava é com sabre, espada ou florete a estocar célere o coração de seu detrator, touché.
Danos morais, merda nenhuma. É a porra do politicamente correto, o estatuto do canalha.
Parece-me ser esse o caso de um ex-motorista de ônibus da Viação Andorinha, que pôs a boca no trombone ao ser demitido, após quatro anos a serviço da empresa.
O sujeito não se contentou com o fundo de garantia e demais acertos da demissão, claro que não. Tinha que levar mais do cruel e injusto patrão.
Alegou, então, que foi submetido a grande humilhação em seu exame físico admissional.
Foi obrigado a passar por uma, e aqui são palavras do próprio, inspeção anal. Teve seu fiofó, o famoso roscofe, vasculhado prega a prega para que fosse verificada a existência de possíveis hemorroidas. O exame foi realizado na frente de outros candidatos à mesma função.
Demitido, processou a empresa e o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), na pessoa do desembargador José Geraldo da Fonseca, disse que a empresa agiu fora de seus poderes.
Não concordo. Considero o exame do brioco totalmente procedente.
O sujeito passará horas e horas sentado a um volante, muitas vezes irá varar madrugadas no comando de um veículo, as hemorroidas certamente seriam um grande obstáculo ao exercício de sua função, um cu em couve-flor não iria ajudar em nada o seu desempenho, até poria em risco os passageiros. O cara tira uma das mãos do volante por uns poucos segundos, para dar uma coçadinha no toba e aquela ajeitada pra dentro nas hemorroidas, e pronto, está feita a merda, é o suficiente para ele não conseguir brecar a tempo ou se desviar de outro veículo.
O TRT não levou isso em consideração. E encheu de dinheiro o cu do ex-motorista. O ex- funcionário ganhou o processo que movia contra a empresa e receberá 8 mil reais de indenização pela devassa em suas pregas, por danos morais.
Não é um cu barato, admito, mas, repito, que porra de honra é essa? O cara recebe 8 mil pela dedada que levou no bufante e desaparecem toda a humilhação e constrangimento que ele diz ter passado? Duzentos e cinquenta reais por prega arrebentada e, presto, todo o trauma é sanado - sim, segundo o Inmetro, um cu em bom estado de uso e de conservação tem cerca de 32 pregas.
É o homem do rabicó de ouro.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Pequeno Conto Noturno (25)

Núbia, saída da noite, passa pelo mercado 24 h, uma lata de água tônica como oferenda apaziguadora à ressaca que, em lugar de Apolo, estará a conduzir a carruagem do Sol de hoje, e um pacote de absorventes íntimos, com abas e, garante a embalagem, bem-estar e frescor que duram o dia todo.
Dá de topo com Rubens, saído de sua casa, a contragosto, um erro de cálculo o obrigou a caminhar até o mercado em busca de mais cerveja, um fardo de long necks pesa em sua cesta de compras; a noite, há tempos, para Rubens, é feito um bicho no zoo, bela, selvagem, agradável de se olhar, de fora, ele não mais enfia a cabeça na bocarra escura e carnívora dela.
Um ato reflexo faz Núbia iniciar um movimento em direção a Rubens, abraçá-lo, mas o impulso morre na medula, frente à imobilidade dele.
Sobram apenas, como sempre, e isso era o mais cansativo entre eles, as palavras.
- Você por aqui ? - começa Núbia.
- É o que parece.
- Como vão as coisas, a vida ?
- Daquele jeito.
- Ainda trabalhando?
- Quando deixam, não brigo mais para.
Há, entre eles, muitas desculpas a serem pedidas por tudo que se disseram, mais ainda pelo que não.
- Quer conversar ? - propõe Núbia.
- A julgar pelos absorventes em sua cesta, me parece que é o que há para hoje.
Saem do mercado, atravessam a rua e se sentam na beirada de um canteiro de margaridas malcuidadas, no estacionamento de uma clínica de estética, vazio a tal hora.
Rubens abre duas cervejas. Brindam um brinde que é mais praxe do que verdadeiro voto de saúde. Bebem.
Falam, mas pouco se ouvem. Nessa madrugada, todos os sons, códigos Morse, sinais de fumaça e pombos-correio, espocam dos olhos, que mal se miram.
A conversa é apenas um procedimento de segurança, um mecanismo de contenção à urgência das retinas, uma placa de contramão à revisita de sofrimentos repetidos.
Os últimos ônibus urbanos, os corujões, passam por eles, vazios, trafegando por obrigação, por hábito, apenas para fugirem ao tédio de suas garagens. Rubens e Núbia falam, e bebem.
Um ou outro catador de lixo a carregar sua féria do dia; um ou outro perdido à procura de uma farmácia de plantão, comprar antitérmico para o filho, talvez. Rubens e Núbia falam, e bebem.
O semáforo, camaleão exibicionista, faz seu malabarismo cromático para ausente plateia, nem putas ou pedintes há pelas ruas; apenas as grandes avenidas e os viadutos incontinentes se mexem vez em quando em seus sonos, espreguiçam-se incomodados, irritados por alguma ambulância ou por algum carro idiota a vomitar música alta.
Conversa vai, conversa vem, conversa volta, Rubens abre as duas últimas cervejas do fardo.
- Você não sente falta? Não sente falta da madrugada, dos bares, dos olhares desconhecidos que se reconhecem e terminam em alguma cama, falta de mim ? - pergunta Núbia.
- E isso importa ?
- Não respondeu à minha pergunta - insiste Núbia.
- E isso importa?

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Estado Padrasto

O blog recebe comentários de vários anônimos, alguns me visitam recorrentemente. Há um que eu chamo de o anônimo de Cristo, que vive me rogando praga, dizendo que vou queimar no inferno pelas minhas blasfêmias; outro, o pior deles, é o anônimo citador; e há um outro que, até um dia desses, eu conhecia apenas como o anônimo das correções, que vive de olho  nos meus textos e a corrigir meus eventuais deslizes ortográficos e gramaticais.
Há alguns dias, o das correções se identificou : Enrique. Disse-me ter lido uma notícia que julgou interessante, escreveu um texto sobre ela e me perguntou da possibilidade de publicá-lo aqui no blog, a título de colaboração. Claro que respondi positivamente, e, hoje, recebi seu texto, que colo abaixo, sem nenhuma modificação ou correção, embora ele bem que merecesse provar do próprio veneno.
Trata de algo cada vez mais comum nos dias de hoje, a interferência do Estado na vida particular do cidadão, sobretudo na criação e educação dos filhos.
Obrigado, Enrique, pela colaboração (e pelas eventuais correções), mande outros textos sempre que quiser.

Marretowski!
Tá pronto o texto. Vou ir colando aos pedaços aqui nos comentários.
Um homem desesperado: a notícia que não chegou
Li algo que me deixou perplexo por duas razões. Primeiro, pelo fato de eu, leitor de jornais online (Folha, Estadão, Globo, Diário do comércio), não ter visto nada a respeito em nenhum dos veículos que leio. 
De fato, pesquisando hoje, tampouco encontro nada nos jornais estadunidenses que costumo ler (Washington Post e New York times). Segundo, pelo próprio conteúdo do que li. O que escrevo aqui, para alguns, terá um pouco de "teoria da conspiração". Não me importo.
Fiquei perplexo porque não soube por meio dos jornais de maior circulação no Brasil que um homem ateou fogo em si mesmo, no dia 16 de junho de 2011, na frente da Corte de New Hampshire, EUA. 
Perplexo, porque os nossos jornais, com a sua tendência sensacionalista e fofoqueira, não deixa de informar-nos sobre a calcinha da atriz hollywoodiana X que apareceu, ou do divórcio do ator Y, de 60 anos, da atriz Z de 22 anos... e coisas do tipo. 
Mas o fato de um sujeito se banhar em gasolina e atear-se fogo, queimando até a morte na frente de um tribunal nos Estados Unidos, esse não ganhou qualquer menção, nem nas páginas de notícia "séria" (falarei que é uma notícia séria), nem nas de fofoca. 
Eu só soube do acontecido hoje (04-03-2012) por um acaso, porque um blog de feminismo me conduziu a um blog de machismo que tinha links para outros blogues de machismo e uma pessoa postou a notícia como fato probante de "perseguição" aos homens. 
Mas a notícia me surpreendeu tanto que fui pesquisar e soube até que umas pessoas foram ao funeral do suicida. O fato de a imprensa brasileira não noticiar a coisa me cheira muito mal - e aqui entro na minha parte conspiratória. 
Cheira mal -pior do que carne queimada-, porque os motivos do suicídio foram as condições morais e psíquicas a que um indivíduo foi levado por causa da ingerência do Estado na vida das pessoas, em sua casa, no seu casamento e na educação dos seus filhos. Recuso-me a acreditar que o fato não foi divulgado porque é "instrução" dada aos jornais não divulgar suicídios por isso poder dar a ideia a outras pessoas: não teríamos notícias sobre Columbine, Realengo, homens-bomba e outros casos se assim fosse. 
Não, não foi divulgado porque é uma clara demonstração da destruição da vida de uma pessoa que as políticas de Estado, cada vez mais interventoras, podem causar: a perda de contato com filhos e esposa, a pobreza, a loucura... o suicídio. 
Políticas de Estado que o nosso país está adotando cada vez mais, intervindo na escolha educacional dos pais para os seus filhos, no modo de repreensão que os pais utilizam para maus comportamentos etc.
O que aconteceu, pois? Que sujeito é esse, que ateou fogo a si mesmo? O nome dele era Thomas J. Ball. Os seus problemas começaram em abril de 2001, no dia em que ele deu um tapa no rosto da filha de quatro anos. 
A esposa dele pediu-lhe que saísse de casa naquela hora. Mais tarde, ele ligou para casa e soube que ela havia chamado a polícia, e que ele não poderia dormir mais em sua residência. No dia seguinte foi preso no seu trabalho. 
Para a sensibilidade de hoje parece um absurdo dar um tapa na cara de uma criança de quatro anos... desculpo-me, mas para a minha, é impossível imaginar a minha mãe sendo presa no seu trabalho por uma ou outra cintada que me deu quando eu a tirei do sério, simplesmente seria estúpido me privar da minha mãe aos 4, 5 ou 6 anos porque ela me deu uma cintada. 
Continuando, Ball foi preso no trabalho, e veio a saber mais tarde, que se a sua mulher não houvesse ligado para a polícia e um vizinho bisbilhoteiro o tivesse feito, OS DOIS, pai e mãe, teriam sido presos, sendo ela considerada cúmplice.
Ball, levado a julgamento, foi inocentado, mas a esposa já havia se divorciado dele então. Mesmo inocentado, ele foi proibido de visitar as suas crianças. Por conta do divórcio, Ball passou a ter que pagar pensão alimentícia, que, para sustentar ex-esposa e crianças, não deve ter sido pequena.
De 2001 a 2011 seriam dez anos de pensão, mas em junho de 2011 completavam-se dois anos desde que Ball estava desempregado. No dia seguinte ao seu suicídio -caso não o tivesse cometido- ele seria preso por não pagar a pensão. 
Durante anos Ball lutou contra a justiça para reaver o direito de ver as crianças. Em vão, porque no momento da denúncia e prisão em 2001 elas passaram a ser custodiadas pelo Estado (sim, ainda que a mãe quisesse permitir a Ball que visse as visse, caberia ao Estado decidir se ela poderia deixar que os encontros acontecessem), e o Estado Omnipotente, criador e interpretante máximo das leis, não permitiu. 
Ball deixou detalhados em uma nota de suicídio de 15 páginas toda a sua luta, uma pena que não a possamos ler, porque ele a enviou a um jornal que cobra assinatura pelo acesso (http://www.sentinelsource.com/news/local/last-statement-sent-to-sentinel-from-self-immolation-victim/article_cd181c8e-983b-11e0-a559-001cc4c03286.html). 
Sabemos do seu conteúdo indiretamente porque o autor de um texto intitulado "When the State Breaks a Man" (http://freedominourtime.blogspot.com/2011/06/when-state-breaks-man.html) o menciona. 
Nela, Ball diz que o seu suicídio deve servir de "faísca" para iniciar um incêndio, uma revolta de pessoas na sua mesma situação, que, mesmo inocentadas em julgamento, veem-se privadas da família e da convivência com os filhos.
O que tem isto tudo a ver com o Brasil, não é mesmo? Nada, ao certo. Só lembra vagamente a "lei da palmada", as sentenças que criminalizam pais que preferem o “homeschooling” (http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2011/02/condenado-pela-justica-casal-de-mg-mantem-filhos-fora-da-escola.html) ao invés de escolas públicas que chegam a contratar "professores" reprovados em processos seletivos e, até, que sequer os prestaram (http://www1.folha.uol.com.br/saber/1053430-alckmin-chama-professor-reprovado-para-dar-aulas.shtml), entre outras bagatelas jurídicas que transferem ao Estado o poder sobre os filhos, que -antes da insanidade dos autointitulados sabedores do que é melhor para você e seus filhos- é legitimamente dos pais.
Ball era veterano de guerra, esteve no Vietnã. Além da filha aqui citada, deixou ainda outra menina e um menino. Quando cresçam, talvez venham a ter conhecimento sobre o modo como seu pai faleceu; resta saber qual a imagem dele que lhes será devolvida pela sociedade em que irão viver quando adultos: a de um homem descontrolado e um fora-da-lei ou a de um homem desesperado, enlouquecido pela própria lei. Creio que será a primeira.
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é isso aí, marreta!

terça-feira, 13 de março de 2012

Gênios E Biscates

Faz-me um grande mal a leitura de certas obras de Bukowski. Todavia, poucas coisas me põem tão vivo e me dão visão tão nítida do mundo e da humanidade. Por isso, às vezes, arrisco-me em seus subterrâneos.
Reli "Factotum", que narra a trajetória de Bukowski pelos EUA pós-Segunda Guerra Mundial, buscando ainda ser publicado e pulando de subemprego para subemprego; demitido de todos. Apesar da linguagem propositalmente fácil de Bukowski, o livro é denso e triste.
Só não é choroso porque Buk não vacila. Nenhuma de suas linhas, por nenhum segundo, tomba às facilidade e comodidade da autocomiseração. Bukowski não chora e chora até ficar com dó dele mesmo; Buk bebe e vomita no mundo. Buk é estóico na desgraça. Não só não sente pena de si, é também seu maior crítico e algoz.
A tristeza de Bukowski não é das mundanas. É tristeza sem choro que a alivie, é tristeza abissal, sem nesga de luz no fim do túnel; sem túnel, inclusive.
No dobrar de esquina de cada página, há uma pequena e certeira porrada à espreita; no contorno de cada vírgula, uma rápida e precisa cutelada a tomar de assalto o leitor, a miná-lo lenta e infalivelmente. De novo, é tristeza rara, sem o menor respingo de pieguice. É tristeza aninhada e arraigada na placenta da melancolia. Tristeza do abandono a si próprio. 
Factotum foi transposto para o cinema, virou filme de mesmo nome. Sabendo, não resisti, e acabei por assisti-lo num dia desses. Uma porcaria. Do começo ao fim. Em tudo. Adaptação, roteiro, cenários...tudo uma merda, em nada condizente com o mundo do velho Buk. Como se não bastasse, o canastrão Matt Dillon foi o escolhido para encarnar o Velho Sujo - Bukowski lhe cuspiria na cara.
Fiz questão de ver até o fim, inclusive os créditos. A produção é uma parceria entre EUA, Noruega e Alemanha, e a responsável pelo projeto foi Linda Bukowski, a última mulher do escritor, a que estava com ele no azo de sua morte.
Os créditos finais de um filme deveriam ser os iniciais. Soubesse que ela estava metida na produção, nem teria começado a assistir.
Linda era uma estudantezinha de literatura quando conheceu Bukowski, e, imediatamente, deu-se conta do valor literário - e monetário - de sua obra. Amancebou-se ao escritor e, verdade seja dita, até cuidou dele em seus derradeiros anos; na verdade, cuidou da obra dele.
Ela foi recolhendo os escritos que Bukowski deixava dispersos pelo chão da sala, pelo quarto, pelo banheiro, cozinha etc. Humildemente, como quem recolhe as migalhas de seu senhor, foi organizando e catalogando a desordenada obra de Buk. Estava a encher o próprio baú, sabendo que viveria mais que ele e herdaria seu espólio.
Hoje, desgraçadamente, Linda é detentora dos direitos de toda a obra de Bukowski, e sobre ela tem total poder de decisão. Li uma vez - não sei se realmente procede - que os preços impostos por Linda à publicação da obra de Bukowski chegam a ser proibitivos para editoras de pequeno e médio porte.
Curioso como essa relação entre um gênio e uma aproveitadora sem talento é recorrente.
Acontece que esses caras, via de regra, são extremamente alheios às coisas práticas, muitas vezes mal se apercebem do valor do que produzem. É onde, então, eles abrem uma brecha para essas oportunistas improdutivas, que lhes "ajudam" a organizar suas vidas.
Em troca, ficam com a alma do gênio, e a comercializam. Negam-lhes, inclusive, o desejo de todo poeta maldito : o de que sua alma descanse no inferno. Prendem a alma do poeta em documento lavrado em cartório, selada, registrada, carimbada e rotulada.
Aproveitando o gancho, caso similar, no Brasil, é o de Raul Seixas. Kika Seixas, a última esposa do Maluco Beleza, esbalda-se com o legado de Raul. Decide quem grava e quem não grava as músicas dele, e, inclusive, quais músicas podem ser regravadas.
Zé Ramalho, amigo de longa data de Raul, teve o repertório de seu CD Zé Ramalho Canta Raul Seixas, um tributo póstumo, praticamente determinado por Kika Seixas. Muitas músicas que Zé pretendia gravar não foram liberadas por Kika.
Bukowski enviava de três a quatro contos semanais para revistas e editoras, esperando ser publicado. Não fazia cópia do que enviava nem tinha a certeza de que os originais seriam devolvidos. Raul, quando produtor da CBS, cansou de fazer música para os contratados da gravadora e nem punha seu nome nos créditos; o cantor estava para fechar o disco, precisava de mais uma ou duas músicas, o Raul ia lá, sentava, fazia e dava pro cara gravar.
Bukowski e Raul tinham o desapego que todo gênio tem da própria obra. Para eles, é igual a cagar. Podem até passar um, dois ou três dias constipados, mas têm a certeza de que logo a cagada desce, farta e quente.
O mesmo não acontece com suas ex-mulheres. Se elas não forem mesquinhas e gananciosas com as obras dos maridos, nada terão, pois nada são capazes de produzir. Totalmente desprovidas de talento, aferram-se ao legado do defunto, os cadáveres dos maridos são suas galinhas dos ovos de ouro, suas imerecidas aposentadorias.
Urubus da genialidade alheia, essas mulheres. Sem nenhuma criatividade, a roer e chupar o tutano dos verdadeiros criadores, sem-terras escrotas a estabelecerem assentamentos sobre latifúndios intelectuais e a usufruírem de todas as suas benfeitorias, nenhuma realizada por elas.
Acabam mesmo acreditando - tamanhos os cinismo e descaramento - que, por terem vivido ao lado do gênio, são responsáveis por parte de sua obra, coautoras, até.  Tsc, tsc, tsc.
Um brinde do mais puro e intragável rum - aquele da adega especial do Barba Negra - aos gênios criativos, escritores, pintores, músicos, cientistas etc.
E um trago de bosta às suas mulheres parasitas. Que nem sanguessugas podem ser consideradas, o sangue do poeta lhes é dádiva demasiada. São tênias, que mais do que os excrementos do gênio não merecem. Que não merecem sequer uma bela esporrada em suas caras.

domingo, 11 de março de 2012

Bebuns Psicodélicos

Aí, fica fácil.
Um novo tratamento contra o alcoolismo está sendo proposto pelos pesquisadores noruegueses Teri Krebs e Pal-Orjan Johansen.
O estudo nada tem de novo, os dois noruegueses revisitaram estudos feitos entre 1966 e 1970 e confirmaram os resultados originalmente obtidos há mais de 40 anos : o LSD, uma das mais poderosas drogas alucinógenas conhecidas pelo homem, inibe a compulsão pelo consumo de álcool.
Mais de quinhentos bebuns de carteirinha, pinguços militantes, daqueles filiados aos seus sindicatos, foram utilizados em seis experimentos, nos quais um grupo recebeu doses de LSD entre 210 e 800 microgramas, e outro, menos afortunado, contou apenas com sua determinação em largar o vício, apenas com sua força de vontade, meditação, ioga, visitas ao psicólogo, apego a uma religião e outras bobajadas.
Dos que receberam o sagrado psicotrópico, 59% mostraram uma queda no consumo de bebidas alcoólicas; apenas 38% do outro grupo exibiram resultados similares. O estudo foi publicado no Journal of Psychopharmacology.
Uma melhora da autoimagem, dizem os pesquisadores, e talvez seja esse o motivo do grande sucesso do LSD, é fundamental ao sujeito que queira se livrar da dependência do álcool, ele precisa aumentar a estima de si mesmo, precisa operar enormes mudanças na maneira de como se vê. E é exatamente isso o que o LSD faz, afirma Pal-Orjan Johansen.
Eu acho que procede. Não sou cientista nem pesquisador, muito menos norueguês, mas acho que procede. O cara toma o LSD e passa a se ver de uma maneira totalmente diferente. Passa a pensar que é um protozoário, um asquelminte fosforescente, uma estrela-do-mar sonora, um michel teló, um cogumelo falante, uma sequóia, uma água-viva, um passarinho com tentáculos de polvo no lugar das asas etc etc.
Tudo, menos um ser humano. E, óbvio, larga da cachaça.
O efeito de uma única dose, asseguram os noruegueses, persiste por 6 meses, quando, então, começa a decair e desaparece por completo depois de um ano.
"De acordo com as provas sobre o efeito benéfico do LSD contra o alcoolismo, é difícil entender por que esta abordagem de tratamento foi amplamente ignorada". É um efeito muito forte. É difícil encontrar algo com resultados tão bons. Provavelmente, não há nada melhor (para tratar alcoolismo)", eles afirmaram.
Quer dizer que se o cara for viciado em analgésicos - dipirona, ibuprofeno, paracetamol -, basta tratá-lo com morfina? Uma dosezinha de morfina e o cara nunca mais quer ver um comprimido de neosaldina pela frente.
Tenho certeza de que o "tratamento" funciona. Se o cara tiver acesso legal ao LSD, uma cervejinha servirá de quê?
Esses noruegueses só podem estar de sacanagem, estão é querendo conseguir legalmente o LSD sob o pretexto de pesquisa científica.
Mas tem o seguinte : se o tratamento se mostrar eficaz, tiver seu uso aprovado pelos conselhos de medicina, e os A.A. (alcoólicos anônimos) começarem a fornecê-lo a seus membros, no mesmo dia, eu faço a minha adesão. Não faltarei sequer a uma reunião.
Fonte : BBC Brasil