segunda-feira, 27 de abril de 2009

MANUEL BANDEIRA

POEMA DO BECO
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Recarregador de Baterias

A bateria do carro da minha mulher pifou há uns dias.
O culpado - culpada, no caso - : a lampadinha do teto interno do automóvel.
O culpado pela lampadinha ter "dormido" acesa : eu.
Nem todas as equipes forenses daqueles seriados americanos seriam capazes de colher uma única digital minha ali, nem sequer uma parcial de uma digital.
Calei-me com a culpa que não me cabia, não era hora de discutir tecnicalidades. Era noite de domingo e o carro seria necessário pela manhã. Foi feita uma ligação para a companhia de seguros, em quarenta minutos chegaria o socorro.
Problema resolvido, os ânimos serenaram. Continuei calado com minha culpa descabida, era melhor aproveitar a calmaria.
O autossocorro chegou no horário previsto e eu, embora nada saiba de automóveis e seus componentes e de nenhuma ajuda possa ser nesses casos, desci junto, cumprir meu papel de marido.
A unidade de socorro era um daqueles caminhões gigantes, com um sem-número de rodas, pesadíssimos, brontossauros mecânicos, que fazem trepidar o asfalto às suas passagens, e com o nome THOR pintado na porta.
A carregar uma bateria no colo, saiu um rapaz das entranhas do caminhão, da bateria brotavam dois cabos encapados em plástico azul, cada qual com um "jacaré" metálico em sua extremidade.
Confirmou nome do requerente, endereço, entrou na garagem do prédio, pediu que o capô fosse levantado, encaixou na bateria do carro os "jacarés" e pediu que a ignição fosse acionada.
O carro ressuscitou, pegou que foi uma beleza.
Minha mulher assinou um papel numa prancheta a atestar o atendimento, agradeceu ao rapaz e lá se foi ele, noite adentro, invulnerável em seu caminhão-THOR.
Fiquei com inveja, fiquei feliz pelo cara.
Chegar, fazer o serviço que sabe, sem ninguém se intrometer ou dar palpite, receber agradecimentos e ir adiante.
Sou professor há 15 anos e apenas uma vez - uma única vez - um aluno me agradeceu pela boa aula dada, uma aula prática sobre Pilha de Daniel.
E isso foi em 1998. Lembro do nome dela até hoje; que tipo de ser injusto e insensível pensam que eu sou?
Sílvia, uma descendente de japoneses (e podia ser diferente?), que eu soube, tempos depois, ter ingressado e se graduado em uma conceituada Universidade de Química, disciplina que eu lecionava à época.
Em algumas ocasiões, acontece de encontrar ex-alunos, já adultos, e eles admitirem que eu é quem estava certo em minha "chatice", em minha rigidez para com eles, que foram idiotas em não melhor aproveitarem minhas aulas.
Novidade... Sempre soube que estive certo em meu sistematismo e que eles eram um idiotas. E nem considero elogio ou agradecimento a admissão do fato por parte deles, esse reconhecimento tardio não me dá consolo nem alento, é coisa de puta arrependida, de puta velha.
Exceto Sílvia, nenhum agradecimento.
É precisamente a intensificação de seu oposto que mais e mais se arraiga a cada novo ano.
Recriminações são a paga diária.
Toda a apatia, burrice e inabilidade mental dessa atual geração de adolescentes, causada por uma sociedade consumista, imediatista, do descartável, narcisista, de pais e mães descompromissados, promíscua e permissiva, é creditada ao professor.
Toda a culpa pelo analfabetismo de um povo, cuja única tradição imutável em seus 500 anos de história é ser justamente analfabeto, é imputada ao professor.
A propósito, o analfabetismo como identidade cultural não é apenas uma tradição, é também orgulho nacional. O brasileiro orgulha-se de nada saber, de não "precisar" estudar, jacta-se de sua ignorância.
Eu digo que vão todos às putas que os pariram!!!
Por isso, tive inveja do rapaz recarregador de baterias.
Sonhei-me, naquela madrugada, um recarregador de baterias, de carro em carro, recebendo obrigados de seus descuidados proprietários e a navegar pela noite silenciosa e cúmplice em meu caminhão-THOR, a atropelar faixas de pedestres, a ceifar semáforos, a buzinar para as gostosas nas calçadas.
Inexorável, indetível.
Acordei leve de meu sonho. Leveza que pouco se demorou em mim, porém. Mal tomou direito o café da manhã.
Logo, eu estava de volta às minhas aulas de plateias ingratas e indiferentes.
Logo, estava com minhas baterias arriadas.
Tive que pegar no tranco !

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Marretada No 14-bis (o avião, o grupo é até legalzinho)

Essa marretada é perigosa, atinge um dos baluartes da folclórica "inteligência" brasileira - sacis e mulas-sem-cabeça são mais verossímeis.
Não há uma "inteligência" brasileira, existem alguns brasileiros inteligentes, mas a inteligência como instituição é algo que jamais teremos.
A marretada é no tal Santos Dumont, metido lá com as frescuras francesas, passou a mão na invenção dos irmãos Wright, deu uma voltinha na torre Eiffel, cheio de mise-en-scène e pronto: tornou-se o Pai da Aviação.
Bem coisa de brasileiro, lei de Gérson, levar vantagem em tudo; o Gérson devia ser elevado a santo padroeiro desse país ridiculamente católico. Talvez até eu acendesse uma vela a ele, CERRRRRTO?
Sabiam que o único lugar do mundo onde isso é ensinado é aqui, no Brasil?
Abaixo vai um texto de Diogo Mainardi, um exímio marretador:
O Tio da Aviação
Não, Santos Dumont não é o "Pai da Aviação". Ele está mais para "Tio da Aviação". Ou, segundo certos relatos, "Tio Esquisitão da Aviação".
Santos Dumont é reconhecido - com todo o mérito - como um dos pioneiros da aviação. Os brasileiros nunca se contentaram com isso e decidiram consagrá-lo como o verdadeiro inventor do avião. O maior disseminador dessa idéia foi Henrique Dumont Villares, autor da biografia "Quem deu asas ao homem", publicada em 1953. O livro não se limita a dizer que Santos Dumont foi o verdadeiro inventor do avião. Contrariando todos os fatos comprovados sobre o assunto, ele tenta demonstrar também que os irmãos Wright eram meros farsantes, e que teriam se apropriado malandramente da invenção do brasileiro.
Henrique Dumont Villares não era propriamente uma fonte desinteressada - ele era sobrinho de Santos Dumont. É como se Pato Donald escrevesse uma biografia de Tio Patinhas. Foi através de seu sobrinho que Santos Dumont, o "Tio da Aviação" - ou o "Tio Esquisitão da Aviação -, finalmente se transformou no "Pai da Aviação". Mas isso só aconteceu no Brasil, que acolheu os argumentos de Henrique Dumont Villares e, negando eventos aceitos no mundo inteiro há mais de cem anos, desqualificou unilateralmente a invenção dos irmãos Wright. Aqueles mesmos irmãos Wright que, em 1905, um ano antes que o 14 Bis decolasse por cerca de 60 metros, a dois metros do solo, já eram capazes de voar por mais meia hora, manobrando nos céus de um lado para o outro.
O culto patriótico a Santos Dumont ganhou impulso durante o Estado Novo. Os integralistas faziam romarias ao seu mausoléu. A lei 165, de 1947, atribuiu-lhe o posto de tenente-brigadeiro. A lei 3.636, de 1959, promoveu-o a marechal-do-ar. Santos Dumont foi condecorado com a Legião de Honra, como Gilberto Gil. Ele também foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira 38, ocupada atualmente por José Sarney. Entre suas principais invenções, estão a escada com degraus em forma de raquete, para que os visitantes fossem obrigados a dar o primeiro passo com o pé direito, e a mesa de jantar com dois metros de altura, incluindo uma plataforma para acomodar o garçom. O crédito por essas invenções nunca foi contestado por ninguém, nem mesmo por aqueles finórios irmãos Wright.
Santos Dumont contribuiu de maneira determinante para o desenvolvimento do avião e tem de ser saudado como o "Tio da Aviação" - ou o "Tio Esquisitão da Aviação". Ele também será eternamente recordado por todos nós, brasileiros, como o verdadeiro e único "Pai da Mesa De Jantar com Dois Metros de Altura (Incluindo Uma Plataforma Para Acomodar O Garçom)".

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eu Fui a Luz Das Estrelas

No espaço, as distâncias são redundantemente astronômicas.
Medidas com réguas de anos-luz, que é a distância que a luz, o Ligeirinho do Universo, cobre no período de 365 dias, e corresponde a próximos 9 trilhões dos nossos pobres quilometrozinhos. Uma lâmpada acesa, agora, a um ano-luz, só excitaria nossas retinas daqui a um ano, ocasião em que, inclusive, poderia já estar queimada.
Depois do Sol, a Alfa de Centauro é a estrela mais próxima de nós, míseros 4 anos-luz, uma vizinha de parede, praticamente.
Se ela explodisse e sumisse do céu nesse exato momento, a luz de sua explosão e a sua ausência só nos chegariam daqui a 4 anos, durante 4 anos ainda a veríamos, reluzente.
Dei-me conta, agora, de que é isso que eu sou: uma estrela extinta, que já explodiu.
Já fui bom, muito bom mesmo, sem modéstia nenhuma (até porque a modéstia é um defeito que eu, modestamente, nunca tive).
Já brilhei e gerei muita luz e calor por aí; hoje sou - valhei-me Bandeira - essa pouca cinza fria.
As pessoas, entretanto, continuam a ter, de mim, a mesma imagem de outrora. A esperar e cobrar o que eu era capaz antes. Não sou mais!
O que as pessoas veem (agora é sem acento) são meus últimos fótons emitidos antes de eu explodir - pequenas espaçonaves fugitivas de um Krypton em colapso -, o que elas veem é minha luz residual.
Por quantos anos ainda refletirei essa imagem? Quanto ainda tenho de luz residual? Há quanto, eu próprio não vejo também tão-somente minha luz residual?
Não sei!
Posso ter explodido ontem, mês passado, há 10 anos.
Não me dei conta na ocasião.
Ao olhar para mim, vocês veem, hoje, apenas uma velha fotografia.

("...e velha, tão velha, ficou nossa fotografia.")

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Máfia Verde

Essa reportagem foi publicada nas "Páginas amarelas" da Veja em maio/1994.

Uma reportagem antiga, porém longe de não ser atual, afinal os "verdinhos" continuam por aí com suas armações, com seu teatrinho mambembe, sempre de olho em arrebanhar novos imbecis para suas fileiras e espalhar sua franquia pelo planeta.
Só mesmo sendo muito burro para não perceber que tudo é armação; infelizmente a quase totalidade da humanidade é burra.

Os podres dos verdes

O islandês Magnus Gudmundsson, 40 anos, já plantou muitas árvores na vida. Na juventude, fazia excursões a uma região da Islândia, país situado no extremo do Hemisfério Norte, só para plantá-las. O jovem ecologista tornou-se o inimigo número 1 do Greenpeace, a barulhenta organização ecológica com 5 milhões de filiados em trinta países. [..] Tomou um empréstimo no banco e produziu um documentário, em 1989, denunciando a entidade: “A intenção era fazer só um. Mas o Greenpeace passou a me atacar onde pode. Agora, estou empenhado em mostrar que eles não produzem consciência ecológica. Produzem manipulação e histeria”, afirma.

Em 1993, fez outros dois, um deles agraciado como o melhor documentário do ano na Escandinávia. Todos são reportagens com pesadas acusações ao Greenpeace. Com a exibição dos documentários, que lhe renderam no total 50 000 dólares, Gudmundsson tem causado ao Greenpeace. “Na Suécia, o Greenpeace tinha 360 000 militantes. Já perdeu um terço. Na Dinamarca, o número caiu à metade. Na Noruega nem existe mais. Eles só têm meia dúzia de funcionários no escritório de Oslo”, diz.


Veja – O Greenpeace é uma organização ecológica séria?

Gudmundsson – O Greenpeace se apresenta como uma entidade que quer proteger o meio ambiente. Na verdade, é uma multinacional que busca poder político e dinheiro. E vai muito bem. Tem poder, uma enorme influência na mídia no mundo inteiro e recolhe 200 milhões de dólares por ano. David McTaggart, que presidiu o Greenpeace por doze anos, é o dono da entidade. A marca Greenpeace está registrada no nome dele na Câmara de Comércio de Amsterdã, na Holanda.

V – É uma empresa privada?

G – Sim. Quem quiser fundar um escritório do Greenpeace tem de pagar ao senhor McTaggart pelo uso da marca. Funciona como um sistema de franquia. O Greenpeace é o McDonald’s da ecologia mundial. Cada escritório no mundo é obrigado a mandar um mínimo de dinheiro por ano para Amsterdã, a sede do Greenpeace International. Oficialmente, deve mandar 24% do que arrecada. Também existe uma cota mínima de contribuição. Só que é tão alta que há escritórios, como o da própria Holanda, que chegam a mandar 60% do que recolhem. Quem não faz dinheiro cai fora. Na Dinamarca, eles demitiram o pessoal todo. Na Austrália também.

V – Não é um meio lícito de sustentar a organização?

G – Deveria ser. Mas no Greenpeace há desvio e lavagem de dinheiro. Quem diz isso é Franz Kotter, um holandês que foi contador da entidade em Amsterdã. Kotter mexia com o dinheiro em contas bancárias secretas. O Greenpeace tem pelo menos dezessete contas secretas em nome de entidades também secretas. O governo francês pagou ao Greenpeace 20 milhões de dólares de indenização por ter afundado o navio Rainbow Warrior, na Nova Zelândia, em 1985. O dinheiro foi depositado na conta do Greenpeace em Londres, mas não ficou lá nem trinta segundos. Foi transferido para uma conta secreta no Rabo Bank, na Holanda. Essa conta está no nome de uma entidade chamada Ecological Challenge. Examinando os registros, descobrimos que a entidade pertence ao senhor McTaggart. Kotter diz que há pelo menos 70 milhões em contas secretas.

V – O Greenpeace engana os 5 milhões de pessoas que são filiadas à entidade?

G – Eles enganam mais do que 5 milhões de pessoas. Existe um bom exemplo disso. Em seus filmes, manipulam o público produzindo cenas forjadas. Foi o que fizeram em 1978, no Canadá. É a cena de um caçador torturando um filhote de foca. O caçador puxa uma corda arrastando a foca pela neve, deixando um rastro de sangue, enquanto a mãe-foca dá pinotes atrás da cria, querendo alcança-la num gesto de desespero. Em seguida, há um close na cara da foca-mãe. O bicho aparece com um olhar quase humano de tristeza. Qualquer espectador fica indignado com o que vê. Mas, através de um computador da Otan que analisa fotos de satélites, foi possível provar que a cena não era um flagrante de trinta segundos, como o Greenpeace dizia. O computador analisou a extensão das sombras na neve e chegou à conclusão de que a filmagem durou entre duas e três horas. Era um vídeo para mostrar o tratamento cruel que os caçadores infligiam às focas. Mas quem organizou a tortura foi o Greenpeace.

V – Esse episódio não pode ser uma exceção?

G – A armação é uma prática. Em 1986, houve outra, O pessoal go Greenpeace pegou um grupo de adolescentes na Austrália e, por duas semanas, promoveu bebedeiras com os jovens. No fim, convenceram o grupo a matar e torturar cangurus. Os jovens estavam bêbados. Aliás, quem filmou a “matança de cangurus” foi o mesmo câmera da armação das focas, Michael Chechik. A cena é horripilante. O grupo maltrata os cangurus e corta a barriga de uma fêmea para retirar de seu útero um feto que se mexe freneticamente. É impressionante. Na ano passado, o porta-voz do Greenpeace na Suécia, Goakim Bergman, admitiu num programa de televisão que a cena fôra forjada. Eles promovem as atrocidades a atribuem-nas aos nativos para promover a sua causa. É um absurdo e uma incoerência. Se a causa é boa, não é preciso manipular.

V – Evitar matança de focas ou cangurus não é uma boa causa?

G- Não sou contra a ecologia. Sou contra a manipulação e a mentira. Com essa farsa, que tipo de consciência mundial ecológica esses grupos estão ajudando a criar? Não é consciência, é histeria. Eles ajudam as pessoas a pensar que estamos à beira de uma catástrofe planetária. Muita gente, embalada por essa balela, dá dinheiro para esses grupos. Gostaria que estivessem dando dinheiro para a pesquisa científica. É a partir dela que se encontrarão as soluções para os problemas ambientais. E não pelo enriquecimento de tipos sem escrúpulos, como David McTaggart, que usa a ecologia para ganhar dinheiro.

[..]

V – O senhor não vê nenhum dado positivo no trabalho que as entidades ecológicas promovem?

G – Os grupos ecológicos são importantes e têm um papel muito sério a executar no mundo. Mas as organizações ecológicas precisam ser críveis, evitar histeria. Promover um trabalho racional e científico. Elas deveriam canalizar seus esforços para conservar o meio ambiente, e não para destruir a sobrevivência de muitas comunidades. O homem tem que viver da natureza, e não a natureza viver à custa do homem. [..] Há ecologistas que desrespeitam os seres humanos. Vi uma vez, na numa reunião ecológica na França, um índio brasileiro. Levaram o índio para lá e o colocaram em exposição como um animal raro. Diziam o que devia fazer, onde sentar, quando levantar. Depois, todos ficaram tomando uísque, conversando. O índio ficou num canto, sozinho. Tive pena de sua solidão.

V – Não existe uma entidade ecológica séria?

G – Os grupos sérios que conheço atuam em âmbito local. Há um grupo seriíssimo na Noruega, por exemplo. É o Bellona, que faz trabalha contra a poluição ambiental. Faz um trabalho científico. É tão positivo que quando descobre alguma coisa errada numa indústria os primeiros a lhe dar atenção são os empresários. Um grupo ecológico não pode encarar a indústria como um monstro. As indústrias foram erguidas pelo homem porque a humanidade precisa delas. Só deve aprender como usá-las com o menor dano possível à natureza. Proibir a caça da foca na Groelândia ou a produção de madeira na Amazônia é um cinismo porque destrói o meio de vida de comunidades inteiras. Há que evitar o extermínio das focas ou a destruição da Amazônia, mas não se pode destruir o homem. A humanidade não está dividida entre os verdes e os monstros. Queremos todos sobreviver.

V – As grandes organizações ecológicas nunca trouxeram benefício?

G – O Greenpeace fez o governa da França parar de promover testes nucleares na atmosfera. Sou inteiramente a favor dessa proibição. Não sou especialista em testes nucleares, mas não me agrada a idéia de explosões nucleares, pelo prejuízo que trazem ao meio ambiente. O problema é quando isso se torna um amontoado de mentiras. Se as explosões são ruins, isso não quer dizer que a energia nuclear também o seja. Sou a favor da energia nuclear para fins pacíficos. Mas já vi propaganda ecológica mostrando um sapo de três pernas que se criou perto de uma usina nuclear nos Estados Unidos. Era mentira. Não se mostrou nenhuma evidência científica de que o defeito tenha sido provocado pela radioatividade.

V – Há mentiras sobre tudo?

G – Já se chegou ao delírio de afirmar que o Brasil destrói, por dia, na Floresta Amazônica uma área igual à da Alemanha. Fiz os cálculos. Se fosse verdade, a floresta inteira estaria no chão em menos de um mês. Também se mente sobre a caça das baleias. Venderam a idéia de que era preciso preservá-las. Há setenta espécies de baleia, e algumas nunca foram caçadas porque não dão boa carne para o consumo humano. Na virada do século, aí sim, as baleias corriam o risco e os próprios países que costuma caça-las tomaram medidas para evitar sua extinção. Essa é uma questão muito antiga, mas os ecologistas parece que tomaram conhecimento dela agora. Na década de 80, o Greenpeace, sem nenhuma base científica, inventou de proibir a caça à baleia. De lá para cá, protegeu-se tanto as baleias que meu país, a Islândia, se encontra à beira de um desastre ecológico. Elas são tão numerosas que comem 1,5 milhão de toneladas de peixe por ano, mais que todos os pescadores do país conseguiram pescar nesse período.

V – O senhor e sua família comem carne de baleia?

G – Claro. É uma tradição cultural na Islândia. É quase como proibir os brasileiros de comer arroz com feijão. Como carne de baleia sem remorso, assim como meus antepassados fizeram há milênios. Nem por isso quero o extermínio das baleias. Quero que existam, em abundância, mas a serviço da sobrevivência humana. A proibição da caça à baleia só foi aprovada por causa da corrupção dos ecologistas.

V – Como assim?

G – O Greenpeace usou 5 milhões de dólares para subornar os delegados de pelo menos seis países na Comissão Internacional de Caça à Baleia. Foram os delegados de Costa Rica, Santa Lúcia, Antígua, São Vicente, Belize e Seyschelles. Houve casos em que militantes do Greenpeace sentavam à mesa de negociações como se fossem delegados de governo. Quem conta isso é um biólogo marinho, Francisco Palaccio, que trabalhava para o Greenpeace. Ele dispunha de 5 milhões de dólares, depositados num banco das Bahamas, para subornar os delegados. Pagava viagens turísticas ao exterior para eles e suas mulheres com hospedagem em hotéis de luxo. Na década de 80, o Greenpeace conseguiu maioria para aprovar a proibição da caça à baleia. O próprio Palaccio sentou-se com a comissão como delegado de Santa Lúcia. A assessoria científica da comissão já fez um estudo alertando que a proibição da caça à baleia é uma aberração e está causando problemas ecológicos.

V – Se não são sérias, como as entidades ecológicas conseguiram tanto ao redor do mundo?

G – Eles fazem mais barulho do que recolhem apoio. Vi um protesto de jovens em Washington na frente de um restaurante que servia peixes da Islândia. O protesto acabou quando as luzes das televisões foram desligadas. Então, o Greenpeace pagou 5 dólares para cada um dos presentes e eles foram embora. Falei com alguns dos manifestantes. Muitos não sabiam a razão do protesto nem onde fica a Islândia. Isso é barulho, não é apoio. Mas, mesmo que se admita que tenham apoio, em parte isso se deve à idéia fácil que vendem. Fazem uma propaganda de tal modo que fica parecendo que quem não é ecologista é favorável à destruição da Floresta Amazônica ou quer matar todos os cangurus da Austrália. Ninguém quer isso. Nem os madeireiros da Amazônia nem os caçadores de canguru. Mas os grupos ecológicos usam argumentos emocional para defender sua causa. E, em geral, são contestados com argumentos técnicos. Os argumentos emocionais pesam mais para a maioria das pessoas. Afinal, nem todos temos informações técnicas, mas todos temos coração.

V – A propaganda de produtos naturais não ajuda a formar uma consciência ecológica?

G – Na maioria dos casos ajuda a encher os bolsos de quem vende. O ambientalismo movimenta bilhões de dólares por ano. Um executivo de uma entidade ecológica nos Estados Unidos ganha mais de 10 mil dólares por mês. Mas não são só eles. Anita Roddick, a dona da famosa Body Shop, que se vangloria de só vender cosméticos ecológicos, ganha dinheiro à beça. Estive com ela uma vez numa palestra. Ela disse que os produtos ecológicos da Body Shop não são testados em animais para não fazê-los sofrer. É mentira. Roddick vende os cosméticos nos Estados Unidos, onde a lei só permite que sejam comercializados se forem testados em animais. Ela não está preocupada com a ecologia, quer apenas fazer dinheiro.

V – O senhor não tem receio de estar sendo manipulado pro governos com interesses na caça à baleia ou indústrias poluentes?

G – Sou procurado por todo tipo de gente. Por políticos que querem manipular minha mensagem ou fabricantes que causam um dano enorme à natureza. Sou jornalista, atendo a todos os telefonemas porque podem ter informação importante para me fornecer. Mas não trabalho para mingúem nem jamais aceitei dinheiro de nenhum órgão. Como jornalista, estou procurando a verdade. Faço conferências para quem me convidar. Falo para partidos de esquerda ou direita, para empresários ou grupos ecológicos. O Greenpeace me acusa de várias coisas, dependendo do país. Na Europa, dizem que estou vinculado a esquadrões da morte latino-americanos. Nos Estados Unidos, dizem que sou anti-semita ou pertenço à seita Moon. Enfim, há de tudo.

V – O senhor gostaria que seus filhos tivessem militância ecológica?

G – Só me preocuparia se entrassem para uma entidade tipo Greenpeace. Nenhum pai ficaria tranqüilo vendo seu filho ser manipulado.

MANUEL BANDEIRA

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca

- Eu faço versos como quem morre.

domingo, 5 de abril de 2009

Eu Até Tento Não Falar Mal, Mas...

Hoje, por volta das oito da manhã, fui despertado por um som monótono, monocórdio, distante, que foi aproximando-se, som sem emoção, pasteurizado, robotizado, ainda assim saído de gargantas que nasceram para ser humanas. Nasceram, não cumpriram seus desígnios, tornaram-se em zumbis.
Já um pouco mais desperto - e o maléfico som mais perto -, distingui ladainhas religiosas, cânticos e louvores. Não basta o ser humano acreditar que exista um deus, ele ainda o julga um ser do mais absoluto mau-gosto musical; uma manada de vacas tetudas e bois capões seria mais afinada e melódica.
Assustei-me!!!
Será que eu havia morrido em sono e "despertado" no Céu?
Será que eu "viveria" doravante entre imbecis de togas e batas, chatíssimos tocadores de harpa, e beatas de bucetas encarquilhadas feito uvas passas?
Eu, no céu?
Puta que o pariu!!!!
Não imagino um Inferno maior!!!
Não podia aceitar. Sempre fiz de tudo para não merecer o Céu.
Forcei os olhos, concentrei-me, fui desvestindo-me da modorra que se abraçava à ressaca e, no lusco-fusco, vi minha mulher ao lado, ainda ressonando, imune.
Nunca fiquei tão feliz em vê-la ali.
Levantei-me e fui em direção ao som, encontrei minhas duas gatas na sacada, ambas também assustadas e olhando atônitas a rua abaixo. As duas me olhavam como a perguntar o que era aquela porra, juntei-me a elas e deparei-me com uma merda de uma procissão.
"É uma merda de uma procissão.", disse às gatas.
Elas continuaram com seus olhares atônitos, sem entender.
Não fui capaz de lhes dizer mais nada; quem é que entende uma procissão?
Domingo de Ramos, fiquei sabendo depois. E continua significando nada para mim.
A rua parecia tomada por uma enorme e disforme centopeia humana (pois é, centopeia sem acento é uma merda, parece que falta algo, algumas pernas da bichinha, até, mas agora ficou assim), uma gigantesca lacraia humana de passos trôpegos e descompassados, um desfile de mau-gosto .
Liderando a cantoria, passou minutos depois, uma perua Kombi com uns alto-falantes estourados no teto.
Todos portavam folhas de coqueiro nas mãos; nem uma horda de mandruvás teria causado tamanho desfolhamento.
Todos tinham faces de botox, nenhuma expressão, nenhum pensamento lhes passava pelo rosto, apenas a fé castradora, esmagadora, sadomasoquista; a fé amputadora de colhões, costuradora de bucetas.
Minhas gatas me olharam, estavam com semblantes aliviados: perceberam que eu também não entendia aquilo; sorriam com ironia em seus bigodes: se isso é ser "racional", preferimos continuar a limpar nossos cus com a língua, elas me disseram.
Não contrargumentei; elas estavam certíssimas. Como contrargumentar com o básico, com o instinto, com a lógica mais primal?
Se me garantissem que nunca mais iria ouvir falar em deus ou ser importunado pelo conceito dele, eu, de bom grado, me despiria de todo o "progresso" humano e, felicíssimo, também iria lamber meu cu sujo.
A procissão passou e até pensei em reencetar meu sono, mas o estrago já estava feito.
Pus uma generosa dose de ração para as gatas, fiz um café bem forte e fui acordar minha mulher.
Alguém teria que me acompanhar nesse dia tão mal começado.

sábado, 4 de abril de 2009

Doe Sangue, Salve Vidas

Comecei a doar sangue no ano de 2000, levado por uma campanha de conscientização e recrutamento em meu local de trabalho.
Ano de 2000, bonito número, uma espécie de zerar da história, eu a morar em nova cidade, a exercer nova atividade profissional, a conhecer e a amargar um novo tipo de solidão.
Uma enfermeira semianalfabeta palestrou sobre a importância da doação, sobre a importância de salvar vidas humanas.
Nunca acreditei nisso.
Vai que meu sangue seja usado e salve a vida de um criminoso, um vagabundo que chegue ao PS baleado pela polícia? Um assassino? E que, revigorado pelas minhas hemácias, mate mais uns tantos? Inclusive a mim? Paranóia? Pode ser que sim, e tomara que sim. O paranóico é quem sempre saca as coisas. As piores desgraças acontecem com as pessoas que nunca as esperam.
Mas a ano era 2000 e, mais que um ano de renovar crenças, eu - recém levado um pé na bunda - estava de olho em nova buceta, certos tipos de mulheres se derretem por bons samaritanos, por caras conscientes e politicamente corretos.
Confesso sem pudor: doei sangue para impressionar uma colega de trabalho, muito mais fácil e indolor que ter de levar com ela horas e horas de conversa, de papo-furado.
Doei sangue na manhã de uma sexta-feira e na noite da mesma sexta-feira doei uma boa quantidade de esperma; eu ainda tinha um excelente fôlego àquela época.
Fluido por fluido, secreção por secreção.
Poucas coisas nesse miserável mundo fogem a isso.
Depois disso continuei a doar nem sei o porquê.
Talvez para ver meu sangue escorrer sem perigo, numa situação controlada. Gosto de ver meu sangue se perder de meu corpo. Quando sofro pequenos cortes, retardo o que posso sua coagulação, gosto de ver a esfera rubra brotar da rachadura epidérmica, gosto de sorvê-la, de provar seu gosto doce-ferruginoso.
Talvez para informação sobre minha saúde. Chagas, sífilis, Aids, hepatite e outras moléstias são checadas nas doações de sangue. E à época, eu havia cometido algumas inconsequências, maravilhosas inconsequências.
Mas nunca havia dado a uma doação o caráter que lhe atribuí hoje.
Hoje, doei sangue para não trabalhar.
Doei sangue não para salvar vidas humanas, mas para poder ficar em casa, evitar contato com os humanos.
Por uma lei federal, os doadores têm seu dia de trabalho abonado em virtude da doação. Sempre soube disso, mas nunca tinha me utilizado dessa patifaria.
Hoje, utilizei-me. E nenhum remorso tomou-me de assalto.
No dia que tive livre, fiquei a pensar;
Cerca de 350 ml (0u quase meio quilo) de sangue são extraídos numa doação; vou receber ao fim do mês, sem nenhum desconto, perto de cinquenta reais por esse dia não trabalhado. Meu sangue valeu 50 reais.
Em 2000, eu troquei sangue por uma buceta nova; hoje, por 50 reais.
Inegável a desvalorização do sangue na última década, pelo menos do meu sangue.
Na sacada do meu apartamento, ladeado por minhas duas gatas, preferi ver por outro ângulo a suposta desvalorização do meu sangue.
Se 350 ml de meu sangue valeram coisa de 50 reais, um litro está a custar algo em torno de 150 reais.
O preço do litro de um bom whisky, de um excelente whisky.
Acariciei, satisfeito, o queixo de uma de minhas gatas.
A nação me pagou um Chivas para que uma vida fosse salva.
Achei um preço justíssimo.
Conheço poucas vidas humanas que valham uma garrafa de um bom whisky.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Livro do Mês

Bukowski é imperdível, não dá para passar pela vida sem ler esse velho bêbado escroto. Um dos maiores marretadores de toda a literatura. Melhor ainda se for lido se empapuçando de cerveja ou de um bom vinho barato, ou de ambos.
Abaixo a contracapa:

Em Notas de um velho safado, a América tem uma cara de 50 anos, corpo de 18 e desfila de calcinha rosa claro e salto alto na madrugada corrosiva de Los Angeles. A América é um sapatão furioso com uma garra metálica no lugar da mão esquerda e não quer saber de transar com o Velho Safado. A América é uma deusa milionária com a qual ele se casa e da qual amargamente se separa. A América é uma prostituta, 150 quilos, um metro e meio de altura, que peida, uiva e destroça a cama quando goza. A América é também estudantes e revolucionários proferindo discursos inflamados em parques ensolarados de São Francisco no final da década de 60. A América é Neal Cassady dirigindo alucinadamente pelas ruas de Los Angeles, pouco tempo antes de morrer de overdose sobre os trilhos de uma ferrovia mexicana. A América é Jack Kerouac e Bukowski poetando na Veneza californiana.

Notas de um velho safado forma um conjunto de histórias excepcionais saídas de uma vida violenta e depravada, horrível e santa. Não podemos lê-lo e seguir sendo os mesmos.

O Que É Que O Ateu Tem?

Inteligência acima da média? Sim, evidente que sim.
Porém existem contraprovas, grandes gênios que eram crentes ao invisível e ao improvável, Platão, Tomás de Aquino, Descartes, Newton.
Então há algo mais que a inteligência superior nos ateus.
Há independência nos ateus.
Os ateus não tem necessidade do espírito tribal, não se ressentem em não fazer parte da manada - até preferem não compô-la.
Os ateus convivem muito bem com suas inquietações, seus medos e suas dúvidas. Não precisam de respostas para tudo, podem contemplar calmamente os mistérios que os cercam.
Os ateus não fazem sacrifícios - promessas restritivas, autoflagelação - para que sejam protegidos de algum perigo, como lagartixas que perdem o rabo para escapar de predadores.
Os ateus são adultos.
Esse é o grande diferencial: nós, ateus, somos adultos.
Nós divergimos da grande maioria dos seres humanos por sermos psicologicamente adultos.
Não necessitamos da invisível figura de um pai, somos capazes de encarar a realidade da vida e morte humanas sem medo ( ou a menos de conviver com tal medo) e somos sensatos demais para acreditar em qualquer coisa sem comprovação, em qualquer explicação do mundo que seja impossível ou absurda.
Por isso que nós, ateus, somos tão especiais e maravilhosos.
E muito mais charmosos, também.