segunda-feira, 29 de junho de 2015

RECESSO

O Marreta do Azarão entra em recesso a partir de amanhã. Sairei em viagem de férias. Ao Sul e avante. Clima bom, comida boa, chocolate bom, vinho bom, cultura boa (alemã/suíça), povo bem-educado, gente mais bonita, cidades mais limpas e bem cuidadas. Que se for para ir pra lugar quente feito o inferno, comida pesada e indigesta que só a porra, subcultura, povo sem educação, gente feia feito a moléstia, música ruim, sujeira e miséria por todos os cantos, feitas em pontos turísticos, eu fico por aqui mesmo, na minha cidade natal.
Volto em dez dias. Isso, é claro, se o avião não cair.

Um Dia na Vida (4)

Seis e vinte, seis e meia da manhã. Em pé, encostada ao pilar da cobertura da parada de ônibus, alheia ao grasnar dos carros e das conversas à sua volta, alheia aos bafios e às cusparadas de monóxido de carbono que transformam sua manhã num fog fuliginoso e cianótico, ela saboreia o único luxo de sua vida, o único prazer de seu dia, um pão de queijo com café de coador comprados ao ambulante.
Luxo secreto e perigoso, que, se de conhecimento de seu marido, valeria-lhe graves agressões; verbais, num dia de sorte, mas há tempos ela não tem um dia desses, de sorte. Luxo cujo valor, somado pelo ambulante ao fim do mês, representa enorme desfalque, irrecuperável rombo à contabilidade de seu lar, um golpe de misericórida, um tiro na testa de seu agonizante e em coma orçamento doméstico.
E é a única coisa que macula esse seu furtivo e fugaz prazer, lembrar do marido. O marido sempre estraga seu prazer, de uma forma ou de outra. Hoje, a lembrança do marido se faz ainda mais viva, pelo cheiro dele que perspira de sua buceta e lhe atinge as narinas. Apesar de muito cedo, o calor já se faz dono do dia e ela teve que andar um bom pedaço para chegar à parada de ônibus. O calor do dia mais o atrito das roupas a fazem suar e a envolvem com as emanações cheirando a água sanitária do marido, cercam-na com os fantasmas e os miasmas vigilantes e acusadores dele.
Ontem, ele a usou à hora de se deitarem. Como a usa em todos os dias, quase que invariavelmente. Como faz quase que invariavelmente, ele lhe separou rudemente os joelhos, deitou-se sem nenhum cuidado sobre ela, deu uma escarrada na palma da mão - e o seu cuspe estava escasso; bebera mais que o habitual -, passou na cabeça do pau e meteu. Entrou meio que dobrado, meio que meia bomba, mas entrou e ganhou tônus dentro dela. Mais um minuto, pensou ela - como pensa quase que invariavelmente -, trinta ou quarenta segundos que fossem e ela, tinha a certeza, conseguiria também gozar. Mas ele nunca lhe dá esses trinta ou quarenta segundos. Quase que invariavelmente, ela vai ao chuveiro e se lava; às vezes, termina o que o marido começou. Mas não ontem. Tamanhas eram suas prostração e morbidez que ela não se lavou. E, agora, seu castigo, o marido a lhe acompanhar em seu lauto desjejum, em seu pão de queijo com café de coador comprados ao ambulante, luxo pelo qual ela não pode pagar - literalmente.
Não bastasse o marido a lhe sair pelos poros, hoje, o ambulante cobrou-lhe o débito, a partir de amanhã não fará mais fiado. Foi assim com o ambulante anterior, localizado a três quarteirões abaixo  e dois à esquerda do atual, foi assim com o anterior ao anterior, com ponto a mais quatro quadras abaixo e quatro à esquerda do outro, e foi assim com o anterior ao anterior ao anterior, que mantém seu carrinho a quase um quilômetro além, antes da linha férrea.
Assim, de ambulante em ambulante, ela toma o ônibus em locais cada vez mais distantes de seu ponto de saída, de forma que o pega já lotado, abarrotado, sendo necessário se espremer e lutar mesmo por um lugar em pé. Pouco minutos de viagem, um sujeito, um desses encoxadores tão comuns nos ônibus urbanos, se encosta na bunda dela. Ela sempre rechaçou esses chacais. Mas não hoje. Tamanhas são suas prostração e morbidez que ela não se afasta do pau do cara. Empina levemente a bunda e a comprime contra o pau dele, que, frente não só à conivência como também à reciprocidade dela, aproxima mais o corpo, cola-se a ela. 
O pau dele, ela estima pela pressão que ele exerce no rego de suas nádegas, é menor que o do seu marido, porém, muito mais duro, muito mais respeitoso nesse sentido. Ela empurra a bunda para trás, ele esfrega e resfolega abafado, uma das mãos dele se aferra nas ancas dela, ajudando a manter o equilíbrio dos dois no ônibus em movimento. 
Confiando na força e no arrimo do tórax, do pau, das pernas e do braço do cara cujos dedos quase lhe varam o jeans, ela se solta : com um movimento da mão esquerda, coloca a bolsa de encontro à virilha, para esconder o movimento da mão direita, que se enfia por entre a calça e a pele, por entre a calcinha e os pentelhos e encontra sua buceta molhada, do suor da caminhada, de sua excitação, do marido.
Mais um minuto, pensa ela a dedilhar o grelo, mais trinta ou quarenta segundos que sejam e ela, tem certeza, gozará. O corpo do cara se contrai todo, como se uma cãibra acometesse todos os seus músculos, e relaxa, desmonta feito marionete que teve seus fios cortados. Uma quentura úmida e viscosa atravessa as fibras do jeans e vai se apegar a uma de suas nádegas. 
O encoxador também não lhe concedeu os trinta ou quarenta segundos.

domingo, 28 de junho de 2015

Indicador de Buceta

Em química - corrija-me, Leitinho, se cometo algum equívoco ou esquecimento -, os indicadores são substâncias, geralmente ácidos ou bases fracos, que guardam a propriedade de mudar de coloração conforme as condições e características físico-químicas do meio em que são adicionados. Na presença ou em alta concentração de certa espécie química, o indicador assume uma cor, na ausência ou em baixa concentração da mesma, outra. Ou seja, como o próprio nome afiança, eles indicam, via cor, a ocorrência, ou não, de uma substância que esteja sendo o objeto de investigação e análise em um meio.
Apesar de terem confiabilidade apenas qualitativa, são patentes as suas vastas utilizações e importância no mundo da química, uma vez que práticos, baratos, de fácil uso e interpretação de seus resultados.
Os mais famosos são os indicadores ácido-base; entre eles, o tornassol, vermelho em meios ácidos e azul em soluções nas quais as hidroxilas reinam absolutas. Também a fenolftaleína, incolor em pHs inferiores a 10 e de um vermelho vivo, cor de carmim (feito o abajur da música Menina Veneno - sim, leitor, não é abajur cor de carne, é cor de carmim), a partir de 10,5, 11; além do quê, excelente laxante, a fenolftaleína, outrora usada na formulação do clássico Lacto-purga. Ainda o azul de bromotimol, que em pHs levemente ácidos - que podem indicar, por exemplo, grandes concentrações de CO2 e, portanto, servir para o controle da qualidade da água de ambientes aquáticos - abandona a cor que lhe batiza e assume coloração amarelada. Há também indicadores para verificar a presença de certos nutrientes, como, por exemplo, a tintura de iodo, que, em contato com amido, troca sua sóbria roupagem marrom por exuberante veste azul-escura. Em suma, a família dos indicadores é das mais vastas e úteis dentro da química.
E um indicador de buceta? Alguém já imaginou? Não digo um indicador que sinalize se o objeto de estudo em questão é uma buceta, um cu, uma rola etc etc. Mas um que indique, digamos assim, as condições de lazer e de usufruto da perseguida. As condições de balneabilidade da praia e, principalmente, se ela está livre de doenças venéreas, chamadas hoje de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis). Venérea é termo muito mais bonito, uma vez que remete à Vênus, deusa romana do amor, dando a entender que tal doença é um castigo de uma deusa irada, talvez traída ou desprezada por um incauto humano, uma deusa de TPM; DST remete a ambulatório de posto de saúde público. Não tenho certeza, mas trocar doença venérea por DST deve ter a ver com o escroto politicamente correto, que adora mudar o nome das coisas, mas que nada faz para elas mudem efetivamente. DST... como se o pau também não apodrecesse e caísse.
Confesso que nunca pensei, nem em meus tempos de eterno graduando em química, num indicador de buceta, num indicador que atestasse a qualidade da buceta e lhe conferisse o selo ISO 9000.
Mas três estudantes ingleses, da Academia Isaac Newton, de Illford, participantes do prêmio TeenTech de melhor inovação para a saúde, sim. Eles desenvolveram um conceito de um preservativo que muda de cor quando uma doença venérea for detectada durante uma relação.
O produto, chamado de S.T.Eye (um trocadilho lá deles para estar de olho em doenças sexuais), caso produzido, seria revestido por uma camada de moléculas capazes de se ligarem a diversos vírus e bactérias causadores das doenças venéreas mais comuns. Para cada agente infeccioso, uma cor a identificá-lo : verde, clamídia; roxa, papilomavírus humano; amarela, herpes; azul, sífilis.
O indicador de buceta ainda não existe - o prêmio TeenTech laureia ideias e conceitos - e nem sei se é possível levar a cabo sua execução com a tecnologia atual, mas achei a ideia das mais inspiradas e originais. Sem nenhum tipo de ironia nem de sacanagem, achei a ideia genial, de verdade.
E acham o quê, que o conceito foi desenvolvido por um grupo daqueles universitários superdotados? Porra nenhuma, foi concebido por nerds que, para nossos padrões, nem chegam a ser colegiais, seriam nerds ginasiais, se o ginásio ainda existisse, não tivesse sido trocado pelo abjeto ensino fundamental. Aliás, nerd porra nenhuma, que nem sei o que isso significa, se é uma palavra inglesa ou uma sigla, que na minha época era CDF - cu de ferro. O conceito do indicador de buceta foi desenvolvido por três CDFs ginasiais britânicos : Chirag Shah, de 14 anos, Daanyaal Ali, de 14 anos e Muaz Nawaz, de 13 anos.
Mas CDFs não pensam só em quadrinhos de super-heróis, rpg e videogames? CDFs pensando em buceta? Sim, caro e raro leitor, CDF pensa em buceta o tempo todo, pensa em buceta mais do que qualquer um, a diferença é que o CDF, com muita sorte, só vai ver uma de perto lá pelos 30 anos de idade. E sei bem do que falo.
Enquanto o indicador de buceta não chega ao mercado, eu só posso garantir que se você estiver lá, todo empenhado e dedicado no bate-virilha, tirar o pau e ver que a camisinha mudou para a cor vermelha, uma coisa é certa : ela está naqueles dias. Aí, meu amigo sortudo, o negócio é se esbaldar, se lambuzar todo no lodo primordial.

sábado, 27 de junho de 2015

Mimetismos (18)

Eis a mandioca tão saudada e aclamada por Dilma Rousseff. Um leitor do Marreta disse ter estranhado tal homenagem ao varonil tubérculo, pois, segundo ele, a nossa presidanta não tem cara de ser grande apreciadora da iguaria. Discordo dele. Acho que Dilma até que gosta muito da mandioca : a mandioca é que não gosta dela, ela é um verdadeira espanta-caralho, convenhamos.
Não tenho como certificar a informação, mas corre à boca miúda que o deputado Jean Wyllys manifestou seu apoio à presidanta e também saudou a mandioca : "Dilma fez muito bem em saudar a mandioca e deveria ter feito isso há mais tempo. Também faço o mesmo cotidianamente, mas hoje farei em público: olá, mandioca.”
E chega de mandioca!!!

Hino Nacional à Mandioca

Por várias vezes, a bela e incompreendida letra de nosso Hino Nacional sofreu ameaças de vândalos que quiseram modificá-la, violá-la, violentá-la. Em todas as tentativas, o alvo dos bárbaros foi a estrofe que contém o verso, deitado eternamente em berço esplêndido.
Em 1960, o deputado Moacyr Azevedo, do PSD do Rio de Janeiro, propôs a supressão do segundo grupo de estrofes do hino, justamente o que começa com "deitado eternamente em berço esplêndido". Em 1971, Amaral de Souza, da Arena gaúcha, também propôs nova redação ao verso do Hino Nacional, no trecho "que apresenta o Brasil deitado eternamente em berço esplêndido". Iniciativas iguais foram sugeridas em 1961, em 1964, ano do golpe militar, e em 1984, quando o regime começava a cair. Em 2007, provavelmente com todos os problemas de educação, saúde e segurança de sua cidade solucionados, o prefeito de Araçariguama (SP), Carlos Aymar Srur Bechara (DEM), sugeriu que se substituísse o "deitado" por "abençoado". Cantaríamos, portanto, abençoados eternamente em berço esplêndido. Deve ser evangélico, o filho da puta.
Pelo visto, para alguns de nossos governantes, o "deitado" causava e ainda causa certo incômodo. Truculentos e incapazes de um minímo de abstração lirica e poética, o "deitado" talvez lhes passe a impressão de um Brasil cansado e desanimado, de um Brasil que é um eterno indolente, um perene preguiçoso, um perpétuo folgazão, que vive ao deus dará, na flauta, no dolce far niente, só no jeitinho, só na malemolência, só, em suma, na brasilidade.
E daí? É a mais pura verdade, ora porra! Não deve um Hino Nacional versar sobre e retratar fidedignamente as riquezas naturais e culturais de seu povo, seu espírito de luta e, sobretudo, erguer elegias ao seu caráter? Pois, então! Nisso, o tão perseguido verso de Joaquim Osório Duque Estrada foi de uma felicidade e de uma precisão inigualáveis.
E abençoados eternamente em berço esplêndido? A emenda sairia muito pior que o soneto! Aí, é que a merda estaria completa, pronta, acabada e espalhada. Além de preguiçoso, o cara ainda é abençoado por deus. Pããããta que o pariu!!! Aí é que não trabalha nunca mais.
Todas as tentativas de depredação da poética de nosso Hino foram, obviamente, malfadadas. Lembro bem da tentativa de 1984, virou notícia nos telejornais, no Fantástico etc, e lembro do quanto eu a considerei ridícula e despropositada à época.
Continuo a achar a letra de nosso Hino belíssima e irretocável, ou, como diria Rogério Magri, ministro do trabalho durante o governo Collor de Mello, imexível.
Os tempos, contudo, agora são outros. A realidade, gostemos dela ou não, se faz imperativa muitas vezes. De forma que se faz urgente, a contragosto admito, uma mudança em nosso Hino. Uma mudança, não. Que simples troca ou supressão desse ou daquele verso não bastaria para adequá-lo ao Brasil dos dias atuais.
Depois da solene saudação da presidanta Dilma Rousseff à mandioca, depois que a nobre raiz recebeu a comenda-mor da nação, foi condecorada com A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a inclusão da viril e pujante tuberosa em nosso Hino se faz premente, irreversível e irrevogável.
Mudar um verso não basta, repito. Uma troca total é necessária. Substituamos o Hino Nacional por completo, letra e música. Que ele seja um laudatório e uma elegia à mandioca, um altar e um relicário à macaxeira, ao aipim.
Nem há a necessidade de compô-lo, apenas a de escolhê-lo em sufrágio popular, em um plebiscito que mobilize e sensibilize toda a nação às suas verdadeiras raízes, pois dois sérios candidatos já existem : A Massa, de Raimundo Sodré, e Farinha, de Djavan. O Hino de Raimundo Sodré tem um apelo mais popular, em oposição ao de Djavan, mais poética, mais "cabeça". Opine leitor, dê seu voto. Qual das duas? A popular ou a refinada? O povo ou a "elite branca"? Mais uma vez, já tô vendo onde essa merda vai dar!
A Massa
(Raimundo Sodré)
A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos, igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar


Moinho de homens que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Amassando a massa, a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)


A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos, igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

Moinho de homens que nem jerimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Abraçando a massa, a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

When I remember of "massa" of manioc (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe (da massa)
Da massa que planta a mandioca, mãe (da massa)
A massa que eu falo é a que passa fome, mãe (da massa)
A massa que planta a mandioca, mãe (da massa)
Quand je me souviens da la masse du manioc, mère (da massa)
Quand je rappele de la masse du manioc, mère (da massa)


Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)
Quando eu lembro da massa da mandioca mãe (da massa)

Lelé, meu amor lelé, no cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!
No cabo da minha enxada, não conheço "coroné"!
Eu quero, mas não quero (camarão), mulher minha na função (camarão)
Que está livre de um abraço, mas não está de um beliscão!
Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)
Torna a repetir meu amor: (ai, ai, ai!)
É que o guarda civil não quer a roupa no quarador!
O guarda civil não quer a roupa no quarador!
Meu deus onde vai parar, parar essa massa!
Meu deus onde vai rolar, rolar essa massa!


Farinha
(Djavan)
A farinha é feita de uma planta da família das
euforbiáceas, euforbiáceas
de nome manihot utilissima que um tio meu apelidou de macaxeira
e foi aí que todo mundo achou melhor!...
a farinha tá no sangue do nordestino
eu já sei desde menino o que ela pode dar
e tem da grossa, tem da fina se não tem da quebradinha
vou na vizinha pegar pra fazer pirão ou mingau
farinha com feijão é animal!
o cabra que não tem eira nem beira
lá no fundo do quintal tem um pé de macaxeira
a macaxeira é popular é macaxeira pr`ali, macaxeira pra cá
e em tudo que é farinhada a macaxeira tá
você não sabe o que é farinha boa
Farinha é a que a mãe me manda lá de Alagoas

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A Festa da Mandioca da Dilma (Ou : Trabalhar Que é Bom Ninguém Quer)

O único adjetivo e o único sentimento possíveis de serem manifestados frente à desgraça dessa foto é : revoltante. Isso, é claro, se você for um cidadão honesto, trabalhador, ordeiro e pagador de seus impostos. 
Pelo contrário, se você for da esquerda, do PT, de algum movimento dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-a-puta-que-o-pariu, de alguma ONG, ou fazer parte de alguma "minoria" com a qual a "sociedade" tem uma infinita "dívida histórica", ou seja, se você compor a corja cada vez maior de encostados que se alastra por terras de Pindorama, a vida nunca lhe pareceu uma festa tão grande.
Estão na foto a presidanta que você não elegeu - segurando e louvando uma "bola" feita de folhas de bananeira, depois de ter saudado a mandioca em um discurso totalmente desconexo e mal construído, como se escrito por um disléxico analfabeto - e a indiarada a abraçá-la, a adorar a grande cacique branca Dilma. Ou seria a cacica Dilma? 
Todo mundo alegre, feliz, gordo e corado. Todo mundo representando nosso país nos importantíssimos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, a Copa do Mundo da Tanga, do Tacape, da Piroga e do Cochilo na Rede, todo mundo viajando, se hospedando e comendo de graça. Nosso país, de quem, cara-pálida? E de graça, porra nenhuma : às custas do trabalhador.
É muito vagabundo para um país só! Trabalhar que é bom ninguém quer! Querem terras, querem teto, querem cotas, querem cargos públicos de confiança, querem privilégios, só não querem trabalhar. Alguém já viu algum grupo dos sem-emprego invadir, por exemplo, uma fábrica e tomar à força seu lugar numa linha de montagem? Ou um canteiro de obras e amassar um cimento, quebrar umas pedras e assentar uns milheiros de tijolos?
É a Festa da Mandioca da Dilma Rousseff!!! E a mandioca, todos nós sabemos no cu de quem está entrando.
Revoltante.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Dilma Rousseff Saúda a Mandioca do Zé Bonitinho

Há textos que escrevo e dos quais gosto muito; fico a admirá-los, a relê-los, a lambê-los feito vaca à cria. Imodestamente, considero que, às vezes, opero verdadeiros milagres com os meus parcos e porcos recursos literários e meus limitados conhecimento e domínio da última flor do Lácio, inculta e bela.
Há, no entanto, muitas vezes, assuntos sobre os quais eu gostaria de escrever aqui no blog - comentá-los, formatá-los a la Marreta (não gosto de simplesmente copiar e colar um artigo ou uma reportagem; gosto de dar minha cara aos textos que aqui publico, aos textos e a tapa), colocá-los sob a óptica distorcida da minha ironia, tornar uma situação ainda mais ridícula e risível, ainda mais absurda do que a realidade a fez -, mas que acabo deixando passar, por pura falta de competência com a caneta.
O assunto dessa postagem é um desses casos. Frente a ele, à sua surreal realidade, declaro-me totalmente incapaz de marretá-lo. Ele já é de um absurdo irretocável. É o discurso proferido pela presidanta Dilma Roussef na abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. É a Olímpiada da Tanga, do Tacape, da Piroga e do Cochilo na Rede, que ninguém é de ferro.
Só posso dizer que é um daqueles raros casos em que o aprendiz supera o mestre. O ex-presidente Lula, que ficou famoso pelos seus pronunciamentos estapafúrdios e por suas metáforas esdrúxulas, acaba de perder sua coroa, Dilma o suplantou, deixou-o a comer poeira. O mestre deve estar orgulhoso, ou roendo-se de inveja.
O discurso teve seus dez minutos iniciais, de um total de aproximados vinte e três, gastos com agradecimentos a políticos e lideranças em geral, tudo escrito direitinho pelos assessores, tudo nos conformes. Da metade para a frente, Dilma Rousseff se empolgou e resolveu andar com as próprias pernas, resolveu improvisar. Deu-se a desgraça.
Destaco a seguir alguns trechos do discurso da presidanta, aqueles que considero os mais inspirados. Morra de inveja, Martin Luther King. Revire-se no caixão, Padre Antônio Vieira.

"Eu acredito que é necessário que nós tenhamos muito orgulho da formação histórica deste país, para além do fato que cada povo indígena representa uma cultura especial, nós temos de ter um imenso orgulho de, na composição da nação brasileira, nós sermos uma mistura de várias etnias. E aqui, hoje, nós estamos saudando uma delas: nós estamos saudando a etnia indígena, que trouxe para nós não só - como disse aqui, muito bem, a nossa vice-governadora, representando o governador -, o sabor dos nomes que estão em todas as nossas cidades, de fato, mas também eu queria saudar, porque nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação. E aqui nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a dele, nós temos a mandioca. E aqui nós estamos comungando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil."

Os índios e os indígenas? Yes, nós temos mandioca, mandioca pra dar e vender, mandioca, menina, tem vitamina, mandioca engorda e faz crescer. Saudando a mandioca? Pãããta que o pariu!!!! Valha-me São Zé Bonitinho! Uma das maiores conquistas do Brasil? A mandioca, uma conquista. Genial.
Homenagem prestada à mandioca, Dilma, que durante todo o discurso ficou a segurar uma bola tosca e primitiva, feita de folhas de bananeira, usada por nativos da Nova Zelândia, resolveu também fazer sua ode à pelota, uma vez que Chefe de Estado do país do futebol.

"Eu tenho certeza, e aqui eu queria mostrar o que é a nossa relação antiga com o esporte. Aqui tem uma bola que eu passei o tempo inteiro testando. É uma bola que é uma bola que o Terena me presenteou e que eu vou levar - e ela vai durar o tempo que for necessário -, e ela vem de longe, ela vem da Nova Zelândia. E é uma bola que eu acho que é um exemplo, ela é extremamente leve. Eu já testei e ela quica. Eu testei, eu fiz assim uma embaixadinha, minto, uma meia embaixadinha. Bom, mas eu acho que a importância da bola é justamente essa, o símbolo da capacidade que nos distingue como.. nós somos do gênero humano, da espécie Sapiens. Somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar. Porque jogar é isso aqui: o importante não é ganhar e, sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo o fim é ele mesmo, a própria atividade.
Então, o esporte tem essa condição, essa benção. Ele é um fim em si e daí porque não é ganhar, é celebrar, é participar dos jogos indígenas. É participar celebrando o que significa essa atividade que caracteriza primeiro as crianças. Atividade lúdica de brincar, atividade lúdica de ser capaz de jogar.
Então, para mim essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em Homo sapiens ou “mulheres sapiens”.

Uma bola que é uma bola? Chamem o Quico do Chaves e sua bola quadrada!!! E os evolucionistas estão em polvorosa, estão a rever e a revirar seus estudos, compêndios e anotações : foi a bola que nos tirou de cima das árvores, que nos amputou o rabo e nos deu alforria das cavernas. Maldigam Darwin! Rasguem A Evolução das Espécies. Mulheres Sapiens? Com certeza, não é o caso dela, de Dilma Rousseff. Primeiro, presidenta; agora, mulheres sapiens. Valha-me, Tupã!!! Falando sério, ô, mulherzinha ridícula, essa Dilma Rousseff. Como sabiamente disse o Jotabê, do blog Blogson Crusoe : "Essa necessidade de afirmação da igualdade de gêneros (presidenta, mulheres sapiens) não apenas beira o, mas atola no ridículo. Só faltou falar que homo sapiens significa gay sabichão (ou, melhor ainda, sabichona)". Sabichona, sábio bichona! Jotabê é o rei do trocadilho!

"É um momento histórico, porque mais de dois mil atletas, para nós brasileiros, mais de dois mil atletas indígenas vão participar. E aí eu quero dizer que vocês têm uma tradição de bons atletas, os guerreiros. Os guerreiros que aqui me contaram a corrida da tora e eu estou impressionada. Eu de fato não tenho a menor condição de participar de uma corrida da tora."

A corrida da tora é a indiarada correndo pelada! É pau-brasil pra tudo quanto é lado. Primeiro, louva a mandioca, depois diz que não tem condição de encarar uma maratona de tora? Quanta modéstia, presidanta... Pois eu tenho. Se alguém colocar uma tora vindo atrás de mim, eu corro mais que o Flash, mais que o Forrest Gump.
A Dilma tava muito doida! Fosse o Lula, a explicação seria das mais fáceis : o nove dedos tava com a cara cheia de cauim, uma aguardente indígena fermentada a partir da tão elogiada mandioca. Mas nem o cauim explica tamanho amontoado de sandices. Acho que a Dilma tomou foi uma boa talagada do Santo Daime.
Dilma Rousseff e a bola que é uma bola, a responsável pela nossa evolução a Homos e Mulheres Sapiens.
Se alguém se interessar pelo discurso na íntegra, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

Areia Por Entre Seus Dedos

Não aconselho esperança,
Não promovo expectativas,
Não incentivo reviravoltas
Não propilo recomeços.
Muito menos, faço a semeadura
Da discórdia, da desavença,
Do dissabor, da dissidência,
Do divórcio.
Se me tomas por jardineiro de tais gérmenes,
Por menino do dedo verde
De novos viços e paisagens,
Engana-te.
É que há tanto a terra anda estéril
Que anseias por qualquer nova vida,
Nova safra,
Que julgas por frondoso oásis, rasteiro canteiro de ervas daninhas
Ou de urtigas.
Sequer trago sementes em meu farnel :
Sou o gótico Sandman,
O matuto João Pestana.
Guardo somente areia e cinzas em meu embornal,
De Bagdá,
De Sodoma e Gomorra,
Da Biblioteca de Alexandria,
De Hiroshima e Nagasaki,
Das Torres Gêmeas.
Em suma, sou Sonho :
Não sou real nem miragem
Nem original nem pirata
Nem bom caráter nem cafajeste
Não prometo nem perjuro
Não afago nem apunhalo.
Em suma, sou Sonho :
Faço o que é de minha natureza. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Instantâneos De Um Remoto e Saudoso Passado (11)

Mulherada que gosta de rola e que lê o Marreta, quer que seu homem seja sempre um macho, um líder de alcateia com sangue nos dentes e nos olhos e, principalmente, a lhe encher a pica? É fácil. Tratem-no como tal, como macho, como soberano. E não como se seu namorado, noivo, marido etc fosse sua colega de trabalho, alguém com quem você sai para comprar sapatos, pra comer comida japonesa, para ir a um sarau de poesia, ou, pior, muito pior, a uma palestra do Rubem Alves. 
Quer um homem sensível, minha amiga? Ele também. 
Receba seu troglodita como o que ele é - o protetor da caverna, o que atira o pau no gato e no tigre-de-dentes-de-sabre - e da forma com a qual ele espera, que acha que merece - e merece! Ofereça-se, dissimulada, em caça fácil ao seu homem, se lhe quer a fazer as funções de macho fornicador. Trate seu homem como a um gorila, e um Tarzan, de cipó sempre em riste, ele se mostrará; trate-o como a uma macaca Chita, e você terá que se virar com seus dedos, com o chuveirinho, com o sabonete.
Trate seu homem com aquilo que lhe é mais afrodisíaco : cerveja, buceta e uma fingida submissão. Que homem gosta é de goró, de bucetão cabeludo (os que são realmente homens - se o cara ficar só rondando a pequena área, se ficar só beijando e lambendo seu ventre, seu umbigo, suas entrecoxas, mas não cair de boca, não se lambuzar no melado, não morrer quase que asfixiado por seus grandes lábios, corra Lola, corra, que da fruta que você gosta, ele chupa até o caroço, e nem tira os fiapos do meio dos dentes), e de  mulheres que se fazem de frágeis, mas que são seus remansos, seus retiros, suas casamatas, suas fortificações, seus úteros substitutos, suas bat-cavernas.
A publicidade antiga - hoje dita "machista" pelas suvacudas e despeitadas de plantão e pelos viadinhos enrustidos em geral - é que sabia das coisas, é que era, praticamente, uma cartilha para o sucesso do matrimônio, um manual do bem viver para o casal.
"Você está certa, querida, cerveja é o presente perfeito para todos."

Ele, com cara de sacana, com o álcool a lhe dilatar a imaginação, o amor pela companheira e as veias do pau; ela, com cara de quem armou e se deu bem, com cara de quem pegou o passarinho no alçapão, de quem vai depenar o bem-te-vi e esgoelar o sabiá, com os lábios (todos eles) já molhados.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Fac-Símile

Ao falso poeta, 
A falsa cerveja, 
Água placentária de gravidez psicológica. 
O fosco ao falso poeta, 
A tristeza e o baço próprios das cópias. Ao falso poeta, 
O sono burocrático 
De 10 da noite às 6 da manhã. 
Do falso poeta 
Escondam a insone madrugada prolífera. 
Por detrás de arame farpado eletrificado, 
De pit bulls de três cabeças 
E de festas onde dançam agarrados 
A percepção distorcida e o hálito de névoa. 
Ao falso poeta, nada de madrugadas e festas, 
Que não há inferno suficiente à sua traição.
 
Ao falso poeta, 
Eletrochoques nas têmporas, 
Subtraiam dele seu consolo, 
As lembranças de quando ainda uivava, caçava 
E ceava pescoços rompidos ao plenilúnio. 
Extraiam sem remorso as memórias do falso poeta, 
Que nunca foram dele de direito.

Ao falso poeta, 
O vandalismo, 
A depredação da sua coleção 
De fósseis em âmbar de todos os seus primeiros beijos. 
Napalm à sua galeria de porres infecundos, 
Gás mostarda a dedetizar seus arquivos de poemas inacabados, 
Agente laranja a esterilizar seus biotérios de versos natimortos. 
Devassem os estimados acervos do falso poeta, 
Vaporizem a tudo, 
Sem remordimentos. 
Que o colecionador é o mais desprezível dos seres.

Amputem, 
Extirpem a bisturi cego 
(sem raque, peridural, xilocaína ou whisky) 
As asas dos tornozelos do falso poeta. 
Dos tornozelos, sim. 
Que as das espáduas, ele próprio mutilou, 
Em barganha a uma musa peituda, 
A troco de seus risíveis talentos de falso poeta. 
Deixem terreno e descalço o falso poeta, 
Deixem sem reino e sem calço o falso poeta. 
Tornem-no pesado, desolado, desalado... 
Incapaz de deslizar célere e incólume 
Pelas ruas, pela noite, 
Através dos sonhos e decepções que provocou. 

E nada! 
Absoluta e sumariamente nada!!! 
Nada de sexo e vodka para o falso poeta. 
Que sexo e vodka 
São as únicas verdades desse mundo miserável.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Incenso de Buceta

Em 2001 - virada do século, alvorada voraz -, eu, a residir em cidade alheia, estava certo dia a caminho do almoço com uma amiga do trabalho, que estava louquinha pra me comer, e dei uma parada numa dessas lojas de 1,99, para comprar uns incensos.
Acostumada ao meu pragmatismo e à minha paudurescência, ela estranhou. Disse que jamais poderia imaginar que eu gostasse de incenso, que eu acreditasse - ela acreditava - nesse papo de purificar o ambiente, de bons fluidos etc. Respondi-lhe que não acredito, mesmo; e antes que a interrogação desenhada em seu rosto se verbalizasse, eu disse que comprava incenso porque gostava do cheiro, e ponto.
Não tenho nenhum pendor para o místico, para o transcendental, para o extrassensorial. Sou puramente sensorial! Gosto do que me agrada aos sentidos. Quando gosto, gosto pelo que a coisa de fato é e não pelo sentido metafísico ou pelos supostos benefícios ou propriedades abstratas que ela possa ter, ou a que ela atribuam. Até porque, nesse caso, o do incenso, fumaça e monóxido de carbono purificando o ambiente? Tá de sacanagem, né? Ora, vá à merda! Gosto do cheiro, e ponto.
E qual a essência de incenso que você mais gosta?, ela perguntou, me comendo com os olhos. Nem sei distinguir uma da outra, respondi. Pra mim, é tudo igual. É feito macarrão miojo, tá lá que é de carne, de galinha (como se galinha não fosse carne), de legumes, de feijão, mas todos têm o mesmo gosto, só muda a ilustração da embalagem. Assim é com o incenso, disse a ela, é tudo a mesma coisa, só muda a florzinha ou o mato estampados na caixinha.
Na verdade, só aqui entre nós, tenho cá, sim, minhas preferências. Gosto de cânfora, de violeta, de café - esse último muito difícil de ser encontrado. Mas ela estava ávida e à captura de um macho que bem lhe traçasse, de um varão varonil, praticamente de um ogro. E eu respeito muito o meu público cativo, dou exatamente o que ele espera de mim. Eu não ia, portanto, nesse caso, ficar falando das diferentes nuances entre o sândalo branco e o sândalo rosa, do almiscarado do benjoim, das notas adocicadas do jasmim, ou das cítricas da erva-doce e do alecrim.
E quanto mais bronco eu me mostrava, mais ela se molhava, se encharcava, se derretia, se consumia em brasa feito mesmo uma vareta de incenso.
E sim, ela conseguiu o que tanto queria : passei-lhe a vara! Então, mostrei a ela o meu incenso predileto, o pau em riste a exalar essência e bons fluidos de buceta pelo ar (incenso de cu também é bom, mas era nosso primeiro encontro e certos gostos não devem ser ditos assim,  logo de cara).
Só não deixei ela acender, claro. 
Pode apertar, minha filha, só não vá acender agora!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Machinho de Respeito

Esse é ponta firme, é machinho das antigas. O paizão deve se babar de orgulho!!!

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (16)

O Premeditando o Breque, Premê para os íntimos, foi um grupo musical surgido na década de 80 e inserido pela mídia - sempre ávida por rótulos e predefinições, uma vez que simplória e burra - na chamada Vanguarda Paulista, da qual também foram expoentes o Língua de Trapo, Arrigo Barnabé (ainda que paranaense), Itamar Assumção, Grupo Rumo, Tetê Espíndola, Ná Ozzetti e outros.
De todos eles, o meu preferido sempre foi o Premê. Que, apesar de toda a vanguarda, de toda a experimentação musical misturando o erudito com o popular, de suas letras de bem construída irreverência, de sua finíssima ironia e de suas sátiras leves e alegres, mas nem por isso menos contundentes, também teve seus dias de cornagem.
A música O Império dos Sentidos conta a história de um funcionário público, já a entrar na casa dos cinquenta anos, casado com uma linda japonesa de 21 aninhos. Um dia, ele chega mais cedo da repartição e flagra a japinha com um rapaz na cama do casal. Primeira reação, ele assume a identidade do corno bravo, aquele que lava a honra com sangue, e parte para cima da esposa e do Ricardão com uma faca, porém, um fato inusitado se dá e o corno bravo percebe que as coisas não se resolvem pela violência, mas sim pelo amor.
Sai de cena o corno bravo e entra o corno vingativo, que é aquele corno cuja esposa está dando a bunda pra outro e ele, pra se vingar, pra devolver na mesma moeda, passa a dar a bunda, também.
Abaixo, O Império dos Sentidos, do Premê (quem nunca sequer ouviu dizer do grupo, vá à internet, baixe algumas músicas deles e ouça-as, garanto que irão gostar)

O Império dos Sentidos
(Premê)
Foi numa segunda-feira
Que eu saí mais cedo da repartição
Correndo eu fui pra casa
Era uma tarde morna dessas de verão


Foi numa segunda-feira
Que eu saí mais cedo da repartição
E correndo eu fui pra casa
Era uma tarde morna dessas de verão


Eu então recém-casado
Com quarenta e nove e ela vinte e um
Uma linda japonesa que me encheu de vida
Como em tempo algum


Vou te amar como ninguém mais vai
Nem pensar que eu posso ser seu pai

E eu cheguei no apartamento
O coração pulsando de felicidade
Pois teria mais um tempo
Para tê-la ao lado matando a saudade
Eu fui correndo ao nosso quarto
Abrindo então a porta quando aconteceu
Que deitado em nossa cama
Tinha um moço lindo que não era eu


Tudo foi ficando escuro
Um desamparo imenso se descortinou
Feito um louco eu vejo a faca
Como a carne é fraca a faca me amparou
E o que faz o desespero
Eu fui pra cima dela como um furacão
Mas como era muito esperta
Ela escapou da faca que rasgou o colchão


Mas pra espanto de nós três
No rasgo do colchão aquilo tão brilhante
Enroscado numa mola uma pedra rara
Era um diamante, sim

Fomos com a  jóia pra rua
Procurando rápido uma avaliação
E choramos de alegria
Quando o homem disse vale um trihão 


Vou te amar como ninguém mais vai
Nem pensar que posso ser seu pai


E hoje nós moramos juntos
Três pessoas livres cheias de alegria
Numa casa com piscina
Onde tudo pode, tudo é fantasia
E o contato com a beleza
Me deixou mais leve para perceber
Todo homem que relaxa
Tem mais abertura pra sentir prazer


Vamo-nos amar como ninguém mais vai
Sem pensar, me chamem de papai.

Acautele-se, Velho

A doença terminal do velho
- a sua sentença de morte -
Não é a velhice;
Sim a recidiva 
Do vírus da herpes da meninice
Alastrado nos lábios secos, na boca sem saliva
Nos genitais inúteis
Em zóster na alma.
No atestado de óbito do velho
Jamais constará como causa mortis, a decrepitude.
Não é a hipertensão
O diabetes
As veias entupidas
Ou o tombo no chão do banheiro
Que levam o velho ao ataúde;
Sim a superbactéria incubada
Insidiosa e insurgente da tardia juventude.
Não é ser ranzinza
Cinza 
A estrada do velho para a sepultura;
Sim querer retomar a rota da peraltice
Trilhar de novo pela travessura.
Não é a velhice que dá fim indigno ao velho
Não é a velhice;
Sim transformá-la na tal 3ª idade.
Aí, é fim de jogo
Aí, o velho fica bobo
Pinta os cabelos
Matricula-se na academia
Vai pro baile
Toma viagra
Confunde seu crepúsculo
Com o raiar de ensolarado dia :
Vai pro vinagre.
E se nova paixão aparece,
Retumbante
É tumba na certa para o velho.
Não é novo amor porra nenhuma, velho.
É só a Velha da Foice
Em pelego de carneiro
É só a Ossuda
Em pele e peitos de jovem mulher.
Acautele-se, velho
Acautele-se.
Que o medo é o melhor elixir da longa vida que há.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Canavial de Rola

A nova onda agora - ou a nova tendência, como diriam os afrescalhados de plantão - são os livros de colorir para adultos. Pããããta que o pariu!!! Uma das obsessões mais antigas e ininterruptas da humanidade é a busca pela eterna juventude. Que não me deixem mentir os alquimistas e seus elixires da longa vida, Ponce de León e sua fonte da juventude e todos os cirurgiões plásticos podres de rico às custas de bundas, peitos e rugas alheias. Mas de uns tempos pra cá, a busca nem é mais pela eterna juventude, é pela eterna primeira infância, no máximo, pela eterna puberdade, é a busca pela eterna idiotização; ser idiota, hoje, é sinal de juventude. Que me sequem os bagos e me caia a benga se livros para adulto colorir não são um cabal exemplo do que falo.
Segundo os editores, o objetivo de tão alta literatura - com motivos e temas claramente voltados ao público feminino, ou aos de "alma feminina" - é o de relaxar e desestressar, de aliviar a tensão que se abate cotidianamente sobre a mulher moderna, independente etc etc. É o chefe mal-humorado, é a hora de almoço corrida, é a reunião na escola do filho, é o papanicolau, são "aqueles dias", quem é que aguenta? E depois ainda ter que cuidar um pouco da casa, zelar minimamente por seu próprio lar? Ora, onde já se viu? O negócio, mulher moderna, é chegar em casa e ir pro facebook, curtir e ser curtida, é ficar no WhatsApp e, agora, uma opção mais intelectual às duas citadas : livros de colorir para adultos. Os títulos são os mais variados, Jardim Secreto, Floresta Encantada, Arte como Terapia e outros. Mas o melhor é o subtítulo : livro de colorir e caça ao tesouro antiestresse. Devo admitir, esses picaretas têm as manhas de ganhar uma grana em cima dos idiotas. A mulherada aderiu e tá comprando a novidade a rodo.
Chegou em casa estressada, minha senhora? Pois chegou a solução para os seus problemas : pegue seu livro de colorir e caça ao tesouro antiestresse e vá pintar florzinhas, borboletinhas, passarinhos, soizinhos sorridentes, joaninhas, centopeias e caracoizinhos. Lápis de cor, giz de cera, guache, canetinha hidrocor Silvapen, pintura a dedo, aquarela... dê asas à imaginação, minha senhora, desligue-se do mundo, esqueça da vida.
Ora, minha senhora, vá à merda!
Vá tirar um pó dos móveis, que, dentro em breve, expedições paleontológicas baterão à sua porta a pedir permissão para escavar sobre a sua mesa da sala, em cima dos armários da cozinha, em cima da geladeira.
Vá cozinhar um feijãozinho, refogar um arroz, cozer uns legumes no vapor, pensar numa mistura diferente ao invés de ficar se entupindo de marmitex, lanches, miojos e outro industrializados.
Vá lavar um banheiro, minha senhora, que, não demora muito, ônibus de excursões de romeiros à Aparecida do Norte começarão a estacionar em sua porta, confundindo-a com algum sanitário de rodoviária.
Vá regar as plantinhas, minha senhora, que até o cacto tá morrendo de sede, até o cacto tá pedindo transferência pro deserto do Saara, minha senhora, em busca de novas opotunidades e melhores condições de vida.
Vá arrumar a cama, minha senhora, passar um pouco de roupa, organizar as gavetas das calcinhas, vá arejar um pouco essa Disneylândia para ácaros e traças que são seus armários e guarda-roupas.
Vá lavar uma louça, arear uma panela, pare de fazer experimentos de geração espontânea em sua pia, de querer fazer com que novas formas de vida brotem de por entre seus pratos e talheres.
Vá fazer uma chupeta pro marido, minha senhora, que nem só de cerveja vive o homem, e, aproveitando que o assunto veio à baila, libere o cuzinho de vez em quando, também.
Ficar pintando arco-íris, coqueiros e gaivotas, minha senhora? Ora, vá à merda!
E tudo isso porque ontem acabei indo a um dos shoppings centers da cidade, minha esposa precisou lá de um produto de informática e só os shoppings abrem aos domingos.
Porém, antes de seguir com o assunto livros de colorir e de caça ao tesouro antiestresse, um parêntese : há anos que eu não pisava em um shopping center, ambiente que tanto desprezo, e a coisa está ainda pior. Antes, pelo menos, quem frequentava os shoppings era um povo mais bonito, mais bem-arrumado, um pouco mais bem-educado; hoje, pelo que vi ontem, a hedionda classe C tomou-os de assalto, apossaram-se de suas praças de alimentação - que pobre em shopping só tem dinheiro mesmo pra comer -, montaram acampamentos do MST nos MacDonalds e Burger Kings da vida. Os shoppings viraram uma 25 de março com ar-condicionado. Fim do parêntese.
Voltando aos livros de colorir e de caça ao tesouro antiestresse, já indo embora do shopping, passamos por uma livraria cuja vitrine estava repleta deles. Outro parêntese : livraria, não, que agora é megastore, que é aquele lugar em que o intectual sensível e delicado vai para tomar o seu espresso, cruzar as perninhas e ficar com um livro aberto na mão, fazendo pose, lendo porra nenhuma. Fim do parêntese.
À vista daquele incentivo para o surgimento de novos Picassos, Portinaris, Cézannes, Matisses e Van Goghs, minha esposa comentou que algumas de suas colegas de trabalho aderiram à pintura antiestresse e, sabendo que eu trabalho em ambiente predominantemente feminino, estranhou que eu não conhecesse os tais livros, que eu nunca os tivesse visto nas mãos de alguma companheira de lida. Realmente, era a primeira vez que via um exemplar de tão importante marco editorial, disse à minha esposa. Disse também que as mulheres do meu local de trabalho, pelo menos as com quem tenho mais contato e melhor relacionamento, não têm dessas frescuras, não. A diversão delas é ficar mandando whatsapp com foto de pinto uma para a outra. Noventa por cento dos whatsapps enviados entre elas é de foto de benga. É rola que voa pra todo o lado no cyberespaço. Eu até ando de cabeça baixo quando elas estão perto, para evitar que algum tarugo me atinja a testa.
Eu e minha boca grande. Eu poderia, simplesmente, só ter respondido que nunca vira daqueles livros em mãos de minhas amigas, mas quis fazer graça. E me fudi. Fui posto a par por minha esposa - informação obtida por uma colega de trabalho dela que pesquisou o assunto com grande afinco - de que também há livros de colorir e de caça ao tesouro antiestresse direcionados a esse público-alvo, àquelas que são mais afeitas a uma carne cheia de nervos do que à singela flora e à pequena e mimosa fauna dos jardins. Que havia um livro chamado A Floresta de Rola. Imediatamente, totalmente contra a minha vontade, um imenso ecossistema equatorial formado por bengas de tudo quanto é tamanho e espécie me veio à mente. Uma Amazônia de caralhos. De uma hora para a outra, passei a ser a favor do desmatamento.
Comigo ainda zonzo e incrédulo, minha esposa corrigiu-se, equivocara-se quanto ao nome, não era Floresta de Rola, não. Era Canavial de Rola. Pãããta que o pariu!!!
Canavial de Rola!!! Parece nome de novela mexicana que passa à tarde no SBT, depois do Casos de Família. Canavial de Rola!!! De uma hora pra outra, passei a ser um franco defensor das queimadas.
Sem duvidar de minha esposa, mas sem poder acreditar no Canavial de Rola, fui à internet e lá estava o tal, um latifúndio de bilaus, um plantation de bráulios.
Sempre atento e zeloso para com meu público feminino, deixo aqui minha dica literária do mês. Comprem, meninas, e mãos à obra. Pintem como eu pinto.
O livro é um "lançamento" do site Kibeloco.

domingo, 14 de junho de 2015

Enterro de Anã Branca

Quem já viu um enterro de anã branca?
Quem é que carpe no funeral de uma estrela?
Que velas a estrelar seu velório?
Que tipo de verme ou bicharia
Roem a estrela depois da morte?
(Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!).
Em que se decompõe uma estrela?
Em suspiros de fótons?
Em saudades de pirilampos?
Em migalhas de lampiões a querosene?
Em almas penadas em fogo-fátuo?
Ou nas pedras de gelo
Cintilando no copo de whisky
Do poeta decadente
Sem inspiração?
Decompõe-se em novas auroras
A anunciar velhas rotinas,
Em ancestrais cometas
A anunciar novos fins de mundo.
Em novos
Nunca vistos
Nem nunca suspeitados
Novos disfarces da essência.
Em novos elementos químicos
Indomáveis
Incavalgáveis
Indetermináveis pela Alquimia
Intabeláveis
Ingaioláveis em letras e famílias.
Mas que sei que estão por aí.
A correr, a galopar
A crestar meu sangue
A intumescer meu pau.

sábado, 13 de junho de 2015

Bode Profano

Cabeludo
Barbudo
Sobrancelhudo
Pentelhudo.
Respeito muito meus neurônios
Mas ainda mais as minhas matas
A minha herança
Os meus dons
Os meus dotes de primata.