sábado, 30 de março de 2019

Censurado (também!) em Portugal

Há cerca de três anos, o Marreta começou a receber um caudaloso número de visitas vindas das mais variadas localidades do planeta : Rússia, Canadá, Ucrânia, Índia, França, África do Sul etc. Cheguei a receber, num único dia, mais de seis mil visitas dos EUA, do Tio Sam. Pensei que fossem a CIA e o FBI em meu encalço. Enganei-me. Era pior. Eram os robôs do Google. A vasculhar o blog, a virá-lo pelo avesso e de cabeça para baixo, à procura de conteúdo "inadequado".
E eles acharam. Depois de uns quatro meses de visitas robóticas, recebi uma notificação de que o Google retiraria do ar todos os blogs de "conteúdo adulto" e o meu estaria entre eles caso eu não retirasse o material "inapropriado". Ora, porra, retirar o material inapropriado, impuro e herege do Marreta seria arrancar-lhe a própria alma. Pior : arrancar-lhe os testículos, as tão prezadas bolas.
Caguei para o aviso. Se fosse para o Marreta morrer, que fosse assassinado pelo Google, pego à tocaia, e não por suicídio. Meses depois, o Google deu uma arregada e resolveu não derrubar os blogs impróprios, mas os classificou como "conteúdo adulto" e os removeu de seus mecanismos automáticos de busca. Ficamos, nós, os imorais, invisíveis e indetectáveis à blogosfera.
Hoje, só chega ao Marreta quem dele já sabe, quem por ele procura de forma específica. O tráfego diário de visitas despencou, caiu, em um dia bom, a uns 10% do que era. Continuei firme, porém, apesar do golpe. Estóico.
Agora, já depois de dois anos do blog censurado, as visitas robóticas voltaram. De um mês para cá, recomeçaram as volumosas visitas, oriundas dos mais inusitados logradouros do planisfério : Itália, Bélgica, Moldávia, Emirados Arabes Unidos e até visualizações de "Região Desconhecida". Sempre da mesma forma : cem, duzentas, trezentas visitas do mesmo lugar e ao mesmo tempo, picos de visualizações, e sempre pela madrugada.
O que virá desta vez? Tenho cá pra mim que os robôs estejam a voltar para ver como os blogs indecentes andaram se comportando nestes dois anos, com, talvez, a missão de eliminá-los. Não me surpreenderia. Seria o Apocalipse Marreta. O Armagedon.  O Ragnarok.
Resolvi, então, como dizem os viadinhos e as empoderadas de hoje em dia, ser pró-ativo. Precaver-me. Com o meu planeta, o meu Krypton, prestes a ser explodido, lancei naves ao ciberespaço, módulos de sobrevivência levando o conteúdo do Marreta para colonizar outras plataformas.
Há coisa de um mês que o Marreta também está no Wordpress (amarretadoazaraoblog.wordpress.com) e no SAPO (amarretadoazarao.blogs.sapo.pt), em Portugal. Isto mesmo, ora pois. Fazendo rota inversa à de Cabral, levei a nau do Marreta para a Santa Terrinha.
E não é que lá em terras de Camões o Marreta estava até a ir muito bem e obrigado? Quinze, vinte até visitas diárias; mais que o Marreta original em certos dias. Surgiu até uma "seguidora". Estava a ir bem, o Marreta lusitano. Estava. Ontem, ao acessar o blog, estava lá a notificação : "Blog Suspenso. Para maiores informações contactar o endereço tal".
Todas as postagens foram deletadas. Tudo. Ficou mais vazio que cérebro de sertanejo universitário.
O SAPO não quis engolir sapo. Eliminou-me de pronto. Sem aviso e de forma muito mais sumária que o Google.
Censurado também em Portugal!!!  Pããããããããta que o pariu!!!!!
Escrevi para o endereço de e-mail que promete maiores informações sobre a suspensão do Marreta e aguardo pela resposta e pelos esclarecimentos. Se eles vierem.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Eu Quero Gozar no Teu Céu...

Nunca pensei em entrar no Céu depois de minha morte. Não acredito que haja um Céu e um Inferno. Acredito, inclusive, que não haja nada depois. O fim. E pronto.
Mas caso os houvesse - o Céu e o Inferno -, e fossem os dois únicos destinos possíveis no Além, e eu pudesse escolher, ficaria com o escritor Mark Twain : "prefiro o Céu pelo clima, o Inferno pela companhia".
Imagine a aporrinhação que seria tomar um chazinho inglês com o Gandhi, ou o tédio de um cafezinho com bolinhos de chuva com a Madre Teresa. Que Inferno é o Céu!
Muito melhor tomar um porre com Bukowski e Frank Sinatra, assistir a um show do Raul Seixas cantando com o Jim Morrison e ganhar uma chupada da Marilyn Monroe. Que Paraíso é o Inferno!
Nunca quis entrar no Céu. Mas agora quero! Na Igreja Evangélica Teu Céu. Que virou notícia por conta de um logotipo que encomendou a uma empresa de publicidade, uma logomarca para "fidelizar" ainda mais as mentes fracas de seus fiéis, e cujo link recebi aqui no blog em um comentário anônimo. Eis o logotipo entregue ao pastor :
Você, caro leitor do Marreta, consegue ler o nome da igreja, Teu Céu, no logotipo? Nem eu.
Por mais puro de alma que o fiel possa ser, por mais que ele tenha sua vida e suas ações pautadas pelos ensinamentos de Cristo, por mais que ele obedeça aos 10 mandamentos, por mais que ele nunca atrase o pagamento do dízimo, ainda assim, ainda assim o sujeito só conseguirá ler uma coisa : Teu Cu!
Neste Céu, eu quero entrar! Entrar e gozar!
Eu quero gozar no teu céu... Valha-me São Belchior!
Pãããããããta que o pariu se eu quero!

em tempo : o título da postagem é um verso da canção Divina Comédia Humano, do gênio Belchior, e para ouvi-la, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Papel de Deus

O céu noturno,
Cravejado e coalhado de sóis,
De constelações e de berçários deles,
É inspirador
(o céu noturno é dividir a conta da cerveja barata com o amigo):
Dá até vontade de viver,
De voar,
De fazer papel de bobo.

O céu diurno,
Encimado por único e autocrático
E tirânico Sol,
É desesperador
(o céu diurno não delega poderes) :
Dá vontade de morrer, 
De matar,
De fazer papel de Deus.

domingo, 24 de março de 2019

Zum, zum, zum! Está Faltando Um!

Acabaram-se de vez - não que em algum momento tenha havido fundamentos sólidos, ou mesmo reais, para eles - a ladainha e o mi-mi-mi petralha de que a Operação Lava Jato é um complô para a perseguição dos petistas, uma conspiração das elites para tirar do poder os benfeitores (hoje, todos milionários, com dinheiro pra limpar o cu com nota de 100) do povo.
A Lava Jato prendeu Michel Temer. Temer não é petista, é peemedebista. Temer não é "povão", é elite das antigas. Como diria o grande locutor esportivo Silvio Luiz : o que é que os petralhas vão dizer lá em casa?
Mas, feito na marchinha de carnaval Zum-zum, eternizada por Dalva de Oliveira, está faltando um. Uma, no caso. Dilma Roussef. Tá faltando a Dilma para completar o Bloco dos Unidos da Petralha.
Temer, embora não seja um petista de raiz, também poderá desfilar no Bloco, uma vez que podemos considerá-lo um petralha honorário. Temer chegou ao mais alto posto político da nação se aliando ao PT. Quem votou na Dilma, votou no Temer.  
Temer recebeu, das mãos do PT e do povinho da esquerda, a mais alta condecoração da ladroagem, a suprema distinção honorífica alibabesca : a Comenda da Grã-Estrela Vermelha. O Colar da Grã-Insígnia do Pixuleco.
Tá faltando a Dilma ir pro xilindró! Tá faltando prender a Dilma para reunir de novo o Triunvirato da Corrupção, a Regência Trina da Gatunagem.

Para ouvir Zum-zum, com Dalva de Oliveira, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

sábado, 23 de março de 2019

O Livre-Arbítrio Acaba Quando a Merda Fica Madura

Ingênuo do homem que crê ditar os rumos de sua vida e ter o domínio de suas ações; tolo do homem que se julga detentor de livre-arbítrio; e pobre do homem - pobre, mesmo - que pensa que consegue, inclusive, controlar o próprio cu.
O cu é um órgão caprichoso. Funciona quando quer e, no mais das vezes, nos momentos mais impróprios e inconvenientes. Aparenta ter um cérebro próprio, o cu.
Vou a pé para o trabalho todos os dias. Não só para o trabalho. Vou a pé para todos os lugares. Ando boas léguas tiranas. E é bem sabido e comprovado que caminhar estimula a motilidade intestinal, facilita e estimula o trânsito da merda.
Não foram poucos os apuros, os sufocos e os suadouros que já passei a caminho do trabalho por conta da rebeldia e das idiossincrasias do cu, que, em casa, muitas vezes se recusa em deitar a carga, mas, não muito depois, eu já na rua, resolve largar o lastro. Não foram poucas as vezes em que tive de andar trancando o cu, que tive de cerrar os diques, comportas e eclusas das minhas invioláveis pregas para chegar de cuecas impolutas ao trabalho.
Ontem, mal acabara de pôr pé à rua, andado cerca de uns quatro ou cinco quarteirões dos quase cinco quilômetros de meu trajeto total, e o cu deu sinal de vida : "madeiiiiiiira!!!!!", pude ouvi-lo telepaticamente a gritar. Seria mais uma manhã daquelas, pensei inicialmente.
Não foi. Ontem, logo em seguida, senti a maior gravidade e urgência da situação. Percebi, de chofre, por esses instintos de sobrevivência que vamos aprimorando ao longo da longa estrada da vida, que minhas inexpugnáveis pregas não dariam conta; de súbito, constatei a inescapável dicotomia da minha atual conjuntura : ou eu arrumava um lugar para cagar, ou me cagava.
Mas aliviar-me onde, às seis da manhã, esperando para atravessar uma avenida de grande tráfego, com um olho no semáforo e o outro no cu? Dizem que as soluções surgem quando a água nos bate à bunda, que dirá, então, quando é a bosta que nos alcança o rego?
Salvaram-me o meu raciocínio rápido e meus contatos etílicos.
Umas duas ou três vezes na semana, de volta do trabalho ao lar, passo por um posto de combustíveis - o Posto Triângulo -, que nem sei se pratica bons preços de combustíveis automotivos, mas que tem sempre boas ofertas de etanol próprio para o consumo humano, e compro lá uns latões de cerveja para a noite. Conhecem-me por lá. Resolvi, sem outra saída, apelar para o código de honra e conduta entre bebuns : pediria para cagar no banheiro do estabelecimento.
O posto ainda estava a umas duas quadras de onde me encontrava, distância que, no contexto em que me achava, parecia intransponível, mas que era muito melhor que os quatro quilômetros a serem ainda percorridos até o trabalho.
Cheguei a tentar, enquanto aguardava o semáforo ficar-me favorável, impor a supremacia da minha vontade ao meu corpo, a tentar exercer o livre-arbítrio do meu cérebro sobre o meu cu. Mentalizei uma ordem ao cu: agora acabou a brincadeira, quem decide a hora de cagar sou eu. Em resposta, a barriga convulsionou numa lancinante pontada de cólica, mostrando-me, o cu, que o livre-arbítrio acaba quando a merda fica madura.
Vencido, resolvi que cagaria mesmo no posto. O semáforo ficou vermelho para os veículos. Respirei fundo. Tranquei o cu e atravessei. Como garantia adicional, apeguei-me também ao divino, pedi proteção celestial e aferrei-me com fé ao santo protetor e padroeiro dos desarranjos e das cagadas perdidas : - Valha-me, São Fernandão! - gritei. E me pus a caminho do Triângulo.
Dei sorte. Estava, ao balcão, o mesmo rapaz que costumava me atender à tarde. - Que é isso, Moisés? Tá começando cedo hoje, é? - ele me disse à minha entrada. Ele não sabe meu nome, mas me chama de Moisés há algum tempo, de quando, durante uma época, eu deixei minha barba crescer a proporções realmente bíblicas.
- Bem que eu gostaria de estar começando, bem que eu gostaria - respondi - e contei-lhe meu infausto. Deu-me prontamente a chave do banheiro, mas não sem antes dar umas boas dumas gargalhadas. -Mas não tem papel - falou. - Penso nisso depois - eu disse.
O banheiro também não tinha luz. Foi a conta de me sentar e a carga arriar bonito. Uma avalanche. Bem já dizia o cronista Mário Prata, merda madura é carga insustentável. No que eu o complemento, o livre-arbítrio acaba quando a merda fica madura.
Alívio imediato, meus amigos, alívio imediato. Melhor do que muita trepada que já dei.
E agora, limpar com o quê? Abri a minha bat-bolsa de lona cáqui de utilidades que carrego a tiracolo, peguei um livrinho de palavras cruzadas e me limpei com duas de suas folhas, que se saíram muito bem na tarefa, por serem do tipo papel jornal, com textura, porosidade, aderência e absorvibilidade adequadas. Em casa, sempre cago a fazer cruzadas, mas foi a primeira vez que me limpei com elas. Cruzadas do grupo Coquetel. Recomendo.
Usei duas folhas já preenchidas, ou quase. Uma delas, de fato, eu havia preenchido por completo, tinha-a gabaritado. Na outra, restava uma lacuna, uma clareira de minha ignorância bem no meio da densa mata de minha cultura inútil : "diz-se do texto ou códice aceito na exegese hebraica", com onze letras; com "a" e "s" na segunda e na terceira e "e" e "t" na sétima e oitava.
Salvei o cu, mas nunca saberei do códice aceito na exegese hebraica.
A vida é mesmo feita de prós e de contras.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Uma Geração Perdida, por Luiz Felipe Pondé

Uma geração perdida, diz Pondé, sempre polido e cortês. Uma geração de merdas, asseguro-vos eu. De inúteis. De pesos mortos.

"O mercado de trabalho que se prepare porque as universidades estão gestando uma geração mimimi raivosa, que não vai prestar para muita coisa. Esse diagnóstico é feito por especialistas americanos sobre universidades americanas. Mas, como toda moda americana pega, ela já chegou aqui.
O fetiche com relação aos jovens serem “mais evoluídos” continua em ação. Um pouco pela vaidade dos pais, um pouco pelo marketing das escolas e universidades, um pouco porque pessoas mais velhas querem fazer sexo com esses jovens, e o blábláblá de que são legais funciona melhor quando você quer levar um deles ou uma delas para a cama.

Greg Lukianoff, psicólogo cognitivista, e Jonathan Haidt, psicólogo social, escreveram um livro em 2018 que está impactando não só o mundo acadêmico como o mundo corporativo. “The Coddling of the American Mind” (Mimando a mente americana, Penguin Press) é de urgente leitura para quem trabalha com jovens. Mas, se fôssemos medir o nível de leitura de quem trabalha em escolas e universidades, provavelmente não passariam de 10% aqueles que ainda têm tesão pelo estudo
“Coddling” significa mimar. A realidade desse processo já foi apontada, de formas diversas, por especialistas como Jean Twenge e Frank Furedi em livros recentes. Ela com o “iGen”(traduzido no Brasil) em 2017, ele com “What’s Happened to the University?” (sem tradução por aqui) em 2018.

A obra descreve casos recentes e escandalosos de universidades americanas que mergulharam no caos e na violência estudantil de esquerda a partir de emails nada especiais, enviados por seus professores, alunos ou por membros da administração.

A pesquisa também relata provocações de membros da direita agressiva off-campus e o comportamento canalha de colegas professores que, apesar de no particular se solidarizarem com os colegas levados à fogueira por esse alunos furiosos, no público juram pureza ideológica a favor dessas mesmas fogueiras (universidades são um dos espaços onde canalhas crescem aos montes). Os autores se referem a esse fenômeno como “caça às bruxas” —quem já viu ou viveu esse tipo de ataque por parte de alunos e redes sociais sabe o que é.
As universidades americanas estão se transformando em tribunais da inquisição, muitas vezes liderados por professores e justificados por uma teoria conhecida como “interseccionalidade”. Segundo esta teoria, existem dois grupos básicos no mundo, os opressores e os oprimidos. Mas o gradiente é móvel: ele vai do mais opressor ao mais oprimido. 

Na ponta do opressor, homens brancos, heterossexuais, bem-sucedidos. Na ponta do mais oprimido, encontramos um “mau infinito”: talvez uma mulher, negra, lésbica, pobre. Bruce Bawer, crítico literário americano, já havia apontado esse “mau infinito” na sua obra “Victims’ Revolution”, em 2012

Um traço dessa tese é que, mesmo que o “agressor” não tenha tido a intenção de cometer a “agressão” de que o acusam, se a “vítima” se sente agredida, ele deve ser demitido, execrado em praça pública, condenado ao ostracismo. A tendência a desconvidar pessoas para conferências em universidades nasce dessa tese.

Um dos riscos desse fenômeno é que os alunos são estimulados a recusar o contato com questões das quais eles podem discordar, mas que deveriam ser estimulados a refletir e debater. As universidades mimam esses alunos, criando pequenos Torquemadas ofendidos.

Na parte dedicada a investigar as causas que nos levaram a essa situação, os autores elencam: polarização política, pais paranoicos superprotetores, obsessão por um mundo mais justo, ansiedade, suicídio e depressão em crescimento, o declínio do brincar em espaços abertos, mídias sociais e a burocracia para construção de um mundo cada vez mais “seguro psiquicamente” nas escolas e universidades. Você reconhece algumas dessas causas perto de você? 

Segundo os autores, a única solução será as universidades que quiserem apoiar um viés político claro se tornarem instituições como as religiosas, que pregam ao invés de formar adultos livres, assim como faculdades de teologia que assumem sua denominação religiosa. E aquelas que quiserem formar jovens que pensem o mundo livremente devem abandonar o projeto de confundir filosofia e ciências humanas com uma igreja a favor dos oprimidos.

Pensando nas universidades que conheço aqui no Brasil, só nos restarão as que optam por ser igrejas que se acham salvadoras do mundo."

sexta-feira, 15 de março de 2019

Planeta (não tão) Macho

Anteontem, na postagem Planeta Macho, dei um mergulho no túnel do tempo e falei de uma antiga campanha publicitária da cerveja Kaiser, que consistia de fotos de gostosas de biquínis estampadas na parte interna das tampinhas das garrafas.
Tempos que, provável e infelizmente, não voltam mais. Tempos em que propaganda de cerveja era sinônimo de mulher pelada, pois também eram tempos em que cerveja era bebida de macho das antigas, de pedreiro, de estivador, de mecânico de trator, de caminhoneiro de fenemê, e não de somelliers e de degustadores afrescalhados. Tempos em que o cara bebia cerveja para ficar bêbado e não para apreciar o bouquet, sentir o amargor equilibrado do lúpulo, o frutado do retrogosto e analisar com que comida este ou aquele tipo de cerveja harmoniza. Cerveja harmoniza é com chifre, ora, porra! Com dor de cotovelo! E, como saco vazio não para em pé, também com torresmo, panceta, ovo colorido e salsichão em conserva de boteco.
Tempos em que não existiam as porras dessas cervejas artesanais, em que ninguém sabia se a cerveja era pilsen, era lager, ou qualquer outra coisa. Cerveja era cerveja. O máximo de sofisticação, de gourmetização que havia era se a cerveja era da loira ou da preta. E pronto.
Aí, vem o meu amigo virtual Jotabê, o Matusalém do Blogson Crusoe, e me joga um balde de água fria, interrompe o meu devaneio, traz-me para os tristes dias atuais.
Comentou Jotabê na postagem : "Rapaz, isso é muito legal! Nunca jogue fora, pois é o tipo de coisa que ninguém tem e que define uma época, uma cultura, etc. Não deixa de ser divertido pensar que se existiu o baixinho da Kaiser, hoje existe o Lulu da Itaipava. Que, como diria o Paulo Silvino, "é uma bichona".
Na hora, não entendi picas. Quem era o tal Lulu da Itaipava? Não conhecia, nunca tinha ouvido falar e até tentei imaginar, mas não consegui tecer a menor ideia de quem pudesse ser. Eu assisto à televisão cada vez mais raramente; canal aberto, então, só se o médico receitar e a doença for muito grave, se for uma pneumoniazinha qualquer, eu nem sigo a prescrição.
Fui pesquisar e descobri que o tal Lulu da Itaipava era ninguém mais ninguém menos que o Lulu Santos. Pããããããta que o pariu!!!! Lulu Santos, o último romântico! Lulu, o roqueiro LGBT da terceira idade! Gosto pra caralho de um punhado de músicas do Lulu, gosto mesmo, e, além do quê, ele me parece ser um sujeito dos mais gente boa. Mas propaganda de cerveja? Como diziam antigamente : não orna.
É bem verdade que Lulu não está sozinho, conta com o auxílio luxuoso de Aline Riscado, a Verão da Itaipava. Quase que irreconhecível, a Verão. Onde foram parar as formas bem torneadas e roliças, para onde foram todas aquelas suculências e carnosidades da Verão de que me lembrava? Secaram. A moça tá com um físico de maratonista. Tristes tempos, tristes tempos.
Abaixo uma foto do Planeta (não tão) Macho, tirada pelo telescópio Hubble, da Nasa.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa... (46)

Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim : outro amor se acabou. E quem iria acreditar?
Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...
Ela Disse Adeus
(Os Paralamas do Sucesso)
Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus e chorou
Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu e se olhou
Sem luxo, mas se perfumou

Lágrimas por ninguém
Só porque é triste o fim
Outro amor se acabou

Ele quis lhe pedir pra ficar
De nada ia adiantar
Quis lhe prometer melhorar
E quem iria acreditar?

Ela não precisa mais de você
Sempre o último a saber

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Disse adeus e chorou
Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu e se olhou
Sem luxo, mas se perfumou

Lágrimas por ninguém
Só porque é triste o fim
Outro amor se acabou

Ele quis lhe pedir pra ficar
De nada ia adiantar
Quis lhe prometer melhorar
E quem iria acreditar?

Ela não precisa mais de você
Sempre o último a saber

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Ela disse adeus
(Now the deed is done)
(As you blink, she is gone)
(Let her get on with life)
(Let her have some fun)

Para ouvir a canção, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO

quarta-feira, 13 de março de 2019

Planeta Macho

Durante milênios, o planeta Krypton viveu sua glória e seu esplendor sob a batuta da autocrática dinastia El, da qual, para nós, Kal-El é o filho mais célebre, e que, por aqui, em terras de Sol amarelo, atende por Clark Kent, o Super-homem.
Até que, um dia, uma desestabilização do núcleo do planeta (não me lembro do que a ocasionou) provocou a explosão de Krypton, que deixou de ocupar seu lugar na órbita do sol vermelho Rao, passando a vagar pelo Universo na forma de destroços espaciais. Destroços que, volta e meia, vêm dar aqui na Terra, fotografias verdes de um passado glorioso.
Analogamente, existiu, um dia, o Planeta Macho, que também viveu milênios de auge e de grandeza sob o comando do macho das antigas, do macho de respeito. Áureos tempos em que ser macho era virtude e que virilidade e pelos no saco e no sovaco eram motivos de orgulho, tempos em que ser homem não era considerado politicamente incorreto, em que exalar testosterona e exercer a sua legítima condição biológica não era visto como algo "tóxico".
Diferentemente, porém, de Krypton, o Planeta Macho não explodiu : foi sabotado e implodido de maneira canalha e sub-reptícia. Creio que a sua ruína e o seu desmoronamento tenham se dado, ou começado a se dar, entre fins da década de 1990 e auroras dos anos 2000. Foi desestabilizado lentamente e jogado fora de sua órbita pelo advento da ideologia esquerdista no Brasil, sobretudo por um de seus tentáculos mais podres e gosmentos, o feminismo/comunismo. O feminismo vermelho foi minando, solapando as bases do Planeta Macho até a sua total fragmentação. 
Seus destroços, feito os de Krypton, também continuam a vaguear pelo cemitério sideral dos planetas póstumos, sendo encontrados e recolhidos, vez ou outra, por velhos cosmonautas que escaparam com vida da implosão do Planeta Macho.
Topei com um desses fragmentos, com uma dessas kryptonitas, neste fim de semana. A dar uma geral numas gavetas há muito não abertas, para ver o que poderia ser descartado, dei de cara com um fragmento do Planeta Macho : uma série de tampinhas de garrafa da cerveja Kaiser, da década de 1990, da época do antológico "Baixinho da Kaiser".
Uma série promocional de tampinhas impensável de ser viabilizada nos dias de hoje, sob a pena de irem para o xilindró os publicitários que a criaram e o diretor da empresa que contratou a campanha. 
Na parte de fora da tampinha, o normal, o logotipo da Kaiser, e na parte de dentro, protegidas por aquele círculo de plásticos, fotos de gostosas de biquíni. Uma mais suculenta e peituda que a outra; acho que eram um total de treze delícias. Bem que tentei completar a coleção, mas o meu inseparável azar me fazia tirar mais tampinhas com a foto do Baixinho do que com as estampas das gostosas. Ainda assim, conseguia juntar algumas, sete gostosas, justamente as que eu encontrei no fundo da gaveta.
Verdadeiros e inestimáveis registros arqueológicos do Planeta Macho, as tais tampinhas.
Aí estão, tem a Babi, a Fran, a Majô, a Simone, a Gabi, a Marcele e a Paty.
Bons tempos de nossa publicidade, bons tempos...

domingo, 10 de março de 2019

Tolices

- É melhor pararmos
Com estas nossas tolices - ela disse.
Ele,
Que nunca se julgara
(e menos ainda a ela)
Um tolo,
Com medo de perguntar ou de cometer
Alguma tolice,
Apenas virou a dose,
Que já era mais água que whisky,
E disse :
- Tudo bem.
E as tolices entre eles
- fossem o que tivessem sido,
fossem o que fossem,
fossem o que poderiam vir a ser -,
Pararam.

sábado, 9 de março de 2019

Realizei Todos os Meus Não-Desejos

Eu nunca quis ser um alto executivo
De uma supermultinacional,
Miliardário,
A viajar o mundo com minha valise 007
A influenciar as bolsas de valores.
E consegui :
Sou pacato funcionário público.

Eu nunca quis ter um carrão envenenado
Motor V8
Uma Ferrari Testarossa carmim.
E consegui :
Nem carteira de habilitação, tenho.

Eu nunca quis ser um conquistador,
Um galã da novela das oito,
Um Don Juan, um Casanova.
E consegui :
As namoradas que tive,
Contam-se nos dedos de uma só mão.

Eu nunca quis ser o camisa 10 da seleção,
Vestir a plumagem canarinho,
Desfilar em aclamação popular do alto de um carro de bombeiros,
Passar no canal 100.
E consegui :
Nunca venci um campeonato de pebolim,
Nem de jogo de botão,
Nem de Atari.

Eu nunca quis ser um douto erudito,
Um literato,
Um descobridor de nada.
E consegui:
Vivo, há vinte anos,
De repetir a mesma ladainha,
De Mendel pra cá, de Darwin pra lá, de Lavoisier pra acolá,
De narrar glórias alheias.

Eu nunca quis ser célebre,
Notório,
Nem expoente de nada.
E consegui :
Mantive-me firme,
Realizei todos os meus não-desejos,
Sou um  homem realizado.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Todo Castigo Pra Biscate é Pouco (4)

Pandemias? A peste negra, a gripe espanhola, a AIDS? Coisa nenhuma! Surtozinhos endêmicos de nada.
Um único mal, até hoje na história da humanidade, merece o título de pandemia. Um flagelo que não se deixa deter nem intimidar por barreiras geográficas, sociais, religiosas, étnicas, ideológicas, econômicas, sanitárias, mesmo de eras geológicas : o chifre!
Apesar de ser um mal tão velho quanto o próprio ser humano, pouca certeza se tem de seus agentes etiológicos - se um vírus, um fungo, uma bactéria, um protozoário -, sabe-se apenas de seus meios de dispersão, de seus vetores; o principal, a buceta, a famosa xavasca.
O chifre, logo e portanto, é inevitável. O que muda, de caso pra caso, é a maneira com a qual o corno lida com ele. O cara pode ser o corno clássico : chorar, encher a cara e esfolar o cotovelo no balcão de um buteco, implorar e aceitar a biscate de volta; ou ser o anti-corno : chorar, encher a cara e esfolar o cotovelo no balcão de um buteco, mas jamais, em tempo algum, perdoar a vagaba. Antes pelo contrário : maldizê-la aos quatro ventos, arrastar o nome dela na lama, pôr o nome dela no SPC, o Serviço de Proteção ao Corno.
Foi o que fez Marcelo Nova na canção "Silvia". Sim, meus caros, o visceral e verborrágico Marcelo Nova, líder do Camisa de Vênus, até hoje o homem do rock no Brasil, também é corno. E qual a surpresa? Não são cornos apenas os cantores de boleros, fados, serestas, tangos e guarânias. Se o velho chifre não faz distinção geográfica etc, não seria um gênero musical a servir de imunização contra ele. Roqueiro também é corno.
Ou, no caso, anti-corno. Na canção, Marcelo Nova não nega o chifre, assume a galha com galhardia, mas é implacável com a tal da Silvia. Marceleza não tergiversa nem titubeia : "Ô, Silvia, piranha!!!", "Ô sua puta"!

Silvia
(Camisa de Vênus)
Você me diz que não tá mais saindo
Mas eu desconfio que cê tá me traindo

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Vive dizendo que me tem carinho
Mas eu vi você com a mão no pau do vizinho

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Todo homem que sabe o que quer
Pega o pau pra bater na mulher

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Vive dizendo que tá numa boa
Mas veio pra São Paulo dar massagem em coroa

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Você jura e repete que me tem amor
Mas eu lhe flagrei com um vibrador

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Todo homem que sabe o que quer
Pega o pau pra bater na mulher

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Quando eu chego em casa com essa cara de otário
Vejo o zelador, tá dentro do armário

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Eu acho mesmo que você não tem jeito
Pois até o leiteiro anda mamando em seu peito

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Todo homem que sabe o que quer
Pega o pau pra bater na mulher

Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!
Ô Silvia, piranha!!! Ô Silvia, piranha!!!

Ô sua puta!


Para ouvir "Silvia", é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO

(rascunhei esta postagem há cerca de 10 dias, mas como minhas inércia, preguiça e total anedonia só me permitiram digitá-la hoje, a coincidir com a mais representativa data feminista do mundo - e a com mais cabelos no sovaco, também -, além da intenção inicial de tê-la escrito, deixo-a aqui também como uma modesta homenagem ao Dia Internacional da Mulher)

quinta-feira, 7 de março de 2019

Eu Bebo Esta Noite; Bukowski

o melhor da raça
não há nada para
discutir
não há nada para
lembrar
não há nada para
esquecer
é triste
e
não é
triste
parece que a
coisa
mais sensata
que uma pessoa pode
fazer
é
sentar
com bebida na
mão
enquanto as paredes
acenam
seus sorrisos
de adeus
a gente sobrevive
a
tudo
com certa
dose de
eficiência e
bravura
e aí
se manda
alguns aceitam
a possibilidade de que
Deus
os ajude
a
superar
outros
encaram
de frente
e à saúde destes
eu bebo
esta noite.

terça-feira, 5 de março de 2019

Eu Queria ser o Dylan

O enredo em si da série Beverly Hills, 90210 (por aqui traduzida para Barrados no Baile) já nos era - a mim e aos meus contemporâneos de escola, faculdade e amizades afins - um tanto quanto pueril quando de sua estreia, em 1990; já era - usando um termo que, à época, não era aplicado - um tanto quanto teen para nós, todos na faixa dos 22, 23 anos, em fase, portanto, de definição profissional, de tomar um rumo na vida.
Ainda assim, todos nós assistíamos a Barrados no Baile. Não perdíamos um, sempre aos sábados à tarde. E se, por alguma razão, fôssemos perder, programávamos o vídeo-cassete para gravar e assistíamos depois.
É que, independente da faculdade que cada um cursava, ou dos rumos que cada um planejava dar à própria vida, havia uma unanimadade entre nós : todos nós queríamos ser Luke Perry, o Dylan, o fodão dos Barrados no Baile!
A séria era ingênua, bobinha etc, mas tinha o Dylan.
Dylan era o cara misterioso;
Dylan era filho de um perigoso gangster de Los Angeles,
Dylan era o outsider, o genro que nenhuma sogra quer ter;
Dylan tinha o desdém e o enfado pela vida de um Humphrey Bogart;
Dylan tinha a beleza torturada de um James Dean;
Dylan dirigia um Porsche;
Dylan comeu a Brenda;
Dylan comeu a Kelly;
Dylan comeu a Valerie.
Luke Perry, o Dylan, na quinta-feira passada, aos 52 anos, sofreu um AVC, vindo a falecer ontem (04/02).
O funeral será na casa dos Walsh.
 Luke Perry
1966 - 2019

E a Lua Anda Tonta...

Em qual das tuas fases
Manténs agora tua secreta base,
De localização e acesso criptografados de mim?

De que janela orbital,
Inatingível por meu binóculo indiscreto,
Agora te exibes túrgida e distraída
Para algum cosmonauta pervertido?

Em qual dos teus velhos carnavais,
Dos teus salões sem atmosfera e gravidade
Bailas e flutuas alheia a mim?

Com qual dos teus eclipses,
Das tuas máscaras negras,
Passas por mim
Disfarçada,
Foragida,
Magoada?

Com que Arlequim te iludes
Te divertes e te embriagas
A pensar que não pensas mais em mim?

Com que lança-perfume fantasias,
Com que fantasia te entorpeces
Quando finges que não é minha a tua luz
E que não controlas meus humores,
As minhas marés?

domingo, 3 de março de 2019

A Era Faleolítica (Ou, Cada Tempo tem o Champollion e o Indiana Jones que Merece)

O ser humano tem uterina e embrionária necessidade por totens, por símbolos que representem e que deixem registrados (ele achará que deixarão) os seus "grandes feitos", a sua triste e destrutiva passagem pelo planeta. Tem urgente e atávica necessidade por mitos, heróis, ídolos e grandes conquistas e descobertas.
Então, em tempos de vacas magras de grandes vultos e de grandes realizações, o que faz o rídiculo ser humaninho? Fabrica-os. Põe em funcionamento uma linha de montagem de ídolos e de grandes façanhas. É o fake mito.
Nesta semana, uma notícia fez vibrar o mundo paradão da arqueologia. Arqueólogos britânicos, que escavavam nas região de Hadrian's Wall (a Muralha de Adriano), Inglaterra, encontraram um pênis de 1.800 anos gravado em uma rocha. E não foi trabalho fácil, não. O achado só foi possível devido a uma parceira e a um esforço conjunto entre Newcastle University e a Historic England.
É a Era Faleolítica!
É, meus caros, antigamente, as classes dominantes e as elites inglesas se uniram para realizar as Grandes Navegações; hoje, para encontrar fóssil de rola.
O registro peniano foi feito no ano da graça de Jesus Cristo de 207, segundo os especialistas. Especialistas? Em desenho de rola? Os caralhólogos?
E tem mais. Garantem os caralhólogos que a rola foi entalhada na rocha por soldados romanos. Na época, desenhar uma rola era um pedido de boa sorte. Além disso, a rola em riste também servia como indicação para futuras tropas e centúrias romanas que por ali viessem a passar, a rola ficava ali para indicar um caminho seguro por território inimigo.
É, meus caros, a rola romana foi a precursora da sinalização de trânsito. Doravante, meus caros, a cada seta indicativa de tráfego, seja de mão única ou dupla, você verá nela um rola romana.
Pããããããta que o pariu!!!!
Os romanos eram mesmo umas bichonas! Sempre foram!
Haja vistas à crucificação de Jesus. Pegaram pra Cristo um cara todo bonitão, de longas e sedosas madeixas, de barba feita em barbearia vintage, todo sarado, de barriga tanquinho, e o botaram crucificado a trajar apenas uma sumária sunga, uma sunguinha que faria corar Fernando Gabeira (esta referência é das antigas, quem quiser que pesquise e se horrorize). E aí, volta e meia, vinha um romano e passava um paninho úmido pelo corpo suado do Nazareno, vinha outro e lhe dava uma espetada com a lança. Bichice pura.
E o traje dos soldados romanos, então? Se aquilo não é dar pinta, eu não sei o que mais pode ser. Os soldados romanos usavam saiotes, que deixavam suas robustas e torneadas pernas sempre à mostra. Saiotes feitos de tiras de couro farfalhantes, que em nada impediam a visão de um cuecão, também de couro, que usavam nas partes baixas. À pretexto de proteção, usavam peitorais e escudos de bronze cheios de altos-revelos e de brocados, que combinavam com o tom mediterrâneo de suas fustigadas cútis. E os elmos e o capacetes? Todos ornados com penachos, plumas e paetês. Vermelhos, roxos, liláses, fúcsias.
Imaginem o Cristo percorrendo o seu caminho ao Monte Calvário : um cara seminu sendo chicoteado por uma legião saída de um desfile carnavalesco do Joãozinho Trinta e a multidão vibrando nas calçadas em torno. Tenho cá para mim que a Via Crúcis foi a precursora das atuais Paradas do Orgulho Gay! Pãããããta que o pariu!!!
Os descobridores do falo romano já ganharam os seus louros acadêmicos - tiveram seu trabalho publicado em destaque no British Archeology Journal - e receberam verbas adicionais para aprofundarem suas pesquisas, aprofundarem-se nas rolas do império romano.
Não é incomum que locais de descobertas arqueológicas de tal significância para a humanidade se transformem em pontos turísticos, e que o comércio local se arvore na venda de souvenires temáticos. Não seria de espantar se, ao redor da Muralha de Adriano, ambulantes se instalassem a vender réplicas da rola romana, esculpidas em gesso ou pedra sabão, ou entalhadas em pequenas placas de ardósia ou arenito.
Eu, aliás, ficarei de olhos atentos. Caso este novo nicho mercadológico, o da rola fóssil, estabeleça bases sólidas, demonstre, de fato, um franca expansão, um pujante crescimento, também tentarei ganhar uns trocados com ele. 
Afinal, passo os meus dias (in)úteis dentro de um sítio arqueológico de rolas : a sala de aula. Desde os meus tempos de petiz, de escola primária, que a gente chamava de grupo, a sala de aula sempre foi terreno rico em registros arqueológicos de rola, cacetes, caralhos e pintos. A molecada - acho que desde os tempos em que a lousa eram as paredes da Gruta de Altamira - adora desenhar uma rola! Lembro-me de que a "tela" preferida da molecada era (e ainda é) o assento da carteira do colega. O filho da puta do espírito de porco desenhava uma rola na carteira e a sala toda ficava à espera de que o dono do lugar nela se sentasse, no que, então, a sala irrompia em gargalhadas. Na época, as rolas eram desenhadas à caneta, ou riscadas na madeira com algum objeto metálico pontudo - hoje, a maioria desenha com aquele corretivo líquido branco, o errorex. As havia - as rolas - também nos cantos dos quadros-negros e atrás das portas da sala. Lembro-me também de que não podíamos bobear com nosso material, que, do nada, aparecia uma rola desenhada no nosso caderno, no nosso estojo, ou na contracapa do nosso livro.
Não há sítio arqueológico de rolas mais profícuo que a sala de aula. A sala de aula é o Jurassic Park das rolas! Os ingleses ficarão maravilhados com minhas descobertas e registros!
Pãããããta que o pariu!!!!

sábado, 2 de março de 2019

Banho-Maria

E este cansaço,
Meu velho?
E este procrastinar a Vida
Na tentativa de,
Talvez,
Viver um tanto melhor?
E esta preguiça,
Meu velho?
De fazer a barba,
De cortar o cabelo,
De escovar os dentes, 
De amar,
De conferir o troco do mercado,
De olhar para os dois lados para atravessar a rua,
De pôr o lixo para fora,
De chacoalhar o pau depois do mijo?
E esta Morte,
Meu velho,
Que nos cozinha em banho-maria?