terça-feira, 31 de maio de 2016

O Inverno Será Intenso e Longo

Fecho a porta da sala,
A que dá para a sacada.
Puxo a grossa, pesada
E rústica cortina,
Como se a parca claridade
Da rua
Do céu
Pudesse carregar em si
Gérmens do frio de fora.
Apago as luzes,
Como se a escuridão
Fosse uma lareira de fogo morto :
Não esquenta.

Visto a velha calça
E o velho agasalho de moletom
Sobre o velho corpo,
Uma velha e desfiada meia nos velhos pés,
Um velho cobertor azul
Sintético
(tudo em mim e ao redor é velho -
só esse frio é novidade).
Uma de minhas gatas
Se enrodilha em pantufa nos meus pés :
Não esquenta.

Esquento à ebulição
E tomo o resto de uma sopa de tomates.
Desce-me vermelha 
E queimando :
Não esquenta.

Boto um seriado na TV,
Um herói cego,
Atormentado e insone,
Vestido em couro e de demônio
Que soca o mal que vê nos outros 
Para acalmar e apaziguar
Aquele que lhe habita :
Não esquenta.

Preparo uma caneca de leite,
Com chocolate, canela
E açúcar queimado,
E deito-lhe farta dose de rum :
Não esquenta.

Defeco,
Expulso,
Ejeto essas palavras,
Constipadas,
Ressecadas,
Restos de refeição apimentada
Por um cu cheio de hemorroidas :
Não esquenta.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Teu Último Carbúnculo

Foi-se, 
Ao ralo, 
Tua última carbonizada foto. 
Foi-se, 
Ao vento, 
Teu último carbúnculo em mim, 
Teu último feto. 
Falta ainda a interminável madrugada cumprir-se 
Para à vida eu reembarcar. 
Vou, então, ler um bom policial. 
E tomar cerveja. 
Tomar cerveja até as palavras migrarem das frases, 
As sílabas desconjuntarem-se das palavras. 
E tomar cerveja. 
Até as letras divorciarem-se litigiosamente das sílabas, 
Emudecerem fonemas, 
Perderem toda e qualquer lógica. 
E tomar cerveja. 
Até a escrita esquartejar-se de toda e qualquer coerência: 
Adquirindo, assim, seu verdadeiro sentido.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Bukowski, o Equivocado

cometi um erro
me estiquei até a última prateleira do armário
e puxei de lá uma calcinha azul 
e mostrei a ela 
eperguntei "são suas?"

e ela olhou e disse, 
"não, devem ser da cadela".

depois disso ela se foi e não a vi 
desde então. não está na sua casa. 
continuo passando por lá, 
enfiando bilhetesdebaixo da porta. 
volto ali e os bilhetescontinuam intocados. 
arranco a cruz de Maltado retrovisor do meu carro 
e a amarrocom um cadarço à sua maçaneta, 
deixoum livro de poemas. 
ao retornar na noite seguinte tudocontinua ali.

continuo rondando as ruas em busca 
daquele encouraçado cor-de-vinho que ela dirige 
com uma bateria fraca, e as portas 
pendendo das dobradiças estropiadas.

circulo pelas ruas 
a um passo de chorar, 
envergonhado de meu sentimentalismo 
epossível amor.

um homem velho e confuso dirigindo na chuva 
perguntando-se onde a boa sorte foi  
parar.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Primeiro a Ser Comido é o Aécio : Frota Dará o Maior Apoio

Em uma das conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o então senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirma que “caiu a ficha” de líderes do PSDB sobre o potencial de danos que a Operação Lava Jato pode causar em vários partidos.
Jucá afirma que a Lava-Jato não poupará   ninguém, independente de sigla ou partido. O que é excelente, pois além de pegar corruptos filhos das putas, acaba de vez com a história de que a operação seria parte do "golpe" contra os coitadinhos do PT. 
Jucá diz que todo mundo tá na bandeja para ser comido, no que Machado corrobora a afirmação de Jucá e acrescenta: "O primeiro a ser comido vai ser o Aécio''.
Partidário do impeachment contra Dilma, o sempre alerta e ereto Alexandre Frota já se ofereceu, com fervor e devoção patrióticos, para levar a cabo a missão.

domingo, 22 de maio de 2016

Pequeno Conto Noturno (63)

- Gosta do que fiz no cabelo? - pergunta Francesca chegando ao apartamento de Rubens, jogando os sapatos a um canto, pendurando a calça na cadeira da sala e ficando só calcinha e bata.
- Gosto - responde Rubens, que já ia pela metade de uma garrafa de gim, homenagem à morte de Cauby Peixoto, o Professor, e uma dessas coletâneas com os  20 maiores sucessos do mestre já rolava no toca-CD. Rubens se recusa em usar a palavra player.
(...saber que por você eu fui traído, a minha dor faz sangrar o coração, justamente, quando eu tinha decidido, foi negada a minha cura, fui levado à loucura...)
- E o que foi que eu fiz? - retruca Francesca, preparando uma dose para si e, pelo visto, disposta a deixar a noite de Rubens menos tranquila.
- Mudou-o.
- Gostava dele como era antes?
- Gostava.
- E como ele era antes?
- Diferente.
- Mentiroso. E se eu dissesse que não passei nem perto do cabeleireiro?
- Explicaria porque gosto dele do jeito que está e não sei dizer o que nele foi modificado. Arranque, no entanto, um único pentelho dessa sua buceta ruiva e eu digo de onde ele foi tirado.
- Canalha.
(Se subiu, ninguém sabe, ninguém viu, pois hoje o seu nome mudou, e estranhos caminhos pisou. Só eu sei que tentando a subida desceu...)
- E as minhas unhas, Rubens?
- Gosto delas nas minhas costas.
- Mudei a cor do esmalte, gostou?
Rubens mal sabia se Francesca usava esmalte, mas se esforça em simulado interesse e olha para as unhas dela.
- Vermelho?
- Goiaba temporã.
- E esperava que eu soubesse disso?
- Gosta?
- Gosto.
- E a dos pés.
Rubens seria incapaz de dizer se Francesca tinha cinco dedos em cada pé, mas olha para as unhas do pé, também.
- Bege, areia?
- Luau na praia, gosta.
- Gosto.
- Gosta porra nenhuma, Rubens, aliás, você não gosta de porra nenhuma. Você dorme, acorda, come, bebe, trabalha, trepa, mas parece que tanto faz uma noite de oito horas de sono ou período de insônia braba, pra você, frango tem gosto de peixe, peixe tem gosto de frango, tudo tem gosto de nada, cuida, admito, e satisfaz bem a minha buceta, mas uma punheta seria o mesmo pra você. Não sente o gosto de nada, Rubens, nada te empolga, a prova é a merda desse gim, dessa porra com gosto de desodorante.
(Se o Amor é uma pérola clara, se tem o ardor de um rubi se estão nesse amor que devoto a ti, a gema rara e o rubi)
E, impulsionada pelo calor produzido pelo gim, Francesca se livra da bata, revelando o colo e os peitos - médios - sardentos.
- Sabe o que eu acho, Rubens? Se você encontrasse uma lâmpada com um gênio que lhe concedesse três desejos, você não saberia o que pedir, não gosta de nada a ponto de.
- E não poderia ser uma gênia, vestida a la odalisca, tipo Jeannie é um gênio? Nesse caso, um pedido, pelo menos, eu conseguiria fazer.
- Vá tomar no cu. Tá vendo, não conseguiria pedir nada. Não gosta de nada.
Rubens gosta - ele pensa, mas não diz para Francesca - de dar uma boa trepada e depois dormir tranquilo, sem muita conversa; hoje, pelo visto, e por causa de cabeleireiros viados que só "acertam as pontas", que só fingem que cortam os cabelos das clientes, e de projetistas viados de esmaltes que dão nome às cores quando estão com tesão na argola, ele não terá uma coisa nem outra.
Rubens gosta - de novo pensa e não diz - de se sentar à sacada, de madrugada, e contemplar o céu, à espera de uma boa ideia, de uma chuva de meteoros, de um disco-voador; hoje, no entanto, uma frente fria trouxe nuvens e uma rala garoa, um salpico de chuva.
Rubens gosta, e gosta muito, de um cuzinho, e já passara da hora do de Francesca lhe fazer as honras e as cortesias, mas, de novo, Rubens nada diz. Não está com forças, hoje, para travar guerras perdidas.

O Cuidador Desleixado

Não sei cuidar de planta,
Não sei cuidar de bicho,
Não sei cuidar de mim.
Contudo,
O boldo do vaso nunca adubado,
Na sacada,
Há três anos consecutivos,
Por essas épocas,
Saúda a minha passagem com salvas de tiros
De inflorescências roxas
E uma pequena azaleia
Suspira rosa por mim
Quando retiro suas folhas mortas
E as coloco aos seus pés.
Não sei cuidar de planta,
Não sei cuidar de bicho,
Não sei cuidar de mim.
Contudo,
Tenho duas gatas,
Uma preta e outra malhada,
Uma de pelo longo, outra de pelo curto,
Duas senhorinhas de 8 anos de idade
Que adoram se enrodilhar em mim ao fim da noite,
Que disputam meu colo como brigam por sua tigela de ração
Ou por seus novelos de estimação.
Não sei cuidar de planta,
Não sei cuidar de bicho,
Não sei cuidar de mim.
Contudo,
Meu hemograma
E meu exame da próstata
Estão nos conformes,
E o pau,
Se requisitado,
Ainda sobe duas ou três vezes por semana.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Porque Sim

Um Dia na Vida (6)

Sete da manhã e umas quirelas de minutos, 10, 12. Eu já em plena atividade, porém, ainda no piloto automático, operando por aparelhos. Apesar da cavalar dose de café (amargo) ingerida em casa e da outra, elefantina e melífera, tomada à chegada no trabalho, ainda sigo no piloto automático.
O que não é, como a expressão "piloto automático" geralmente dá a subentender, dado o meu entorno, ruim. O que, nesse caso, é bom : ao menos, sigo. Por rota trilhada há mais de 20 anos, por rumo, por instinto, por costume, cego, surdo e mudo, mas sigo.
Pior fica quando acaba o expediente do piloto automático e ele bate o seu cartão e vai para casa e o manche passa para o modo manual, para as minhas mãos. Quando tenho que seguir de olhos abertos pelo trem-fantasma.
Sete e algumas migalhas da manhã e eu falo para um amontoado de gente - 42 ou 43 num recinto que, dificilmente, supera os 50 metros quadrados. Falo da indigesta química da digestão humana. Falo da mastigação, da insalivação e da demolidora ptialina, que reduz, a golpes de marreta, o portentoso e esnobe amido a humildes maltases.
(Uns oito ou nove dormem debruçados sobre suas carteiras, sobre suas mochilas, seus agasalhos de moletom em travesseiros improvisados - ou internet até de madrugada, ou a maconha fumada à entrada da escola, ou puros desinteresse e desfaçatez, ou alguma verminose, sabe-se lá)
Falo do bolo alimentar escorregando pelo tobogã do esôfago e mergulhando na piscina de ácido clorídrico do estômago, dos tubarões de pepsina à espera, ávidos por desmembrar e esquartejar desavisadas proteínas.
(Uns 15 ou 20 começam, então - resolvem, então -, a abrir suas mochilas e a buscar pelo material da aula - uns oito ou dez, percebo, percebem que não o trouxeram, e se juntam ao time dos hibernantes) 
Falo do bolo alimentar, agora chamado quimo, escalavrado pelo ácido, seguindo caminho pelos subterrâneos, pelas catacumbas e fossos do duodeno, pelos seus alçapões e arapucas, pela sua flora carnívora, sôfrega por gordos, roliços e suculentos lipídios.
(Uns seis ou sete, dominados pelo vício, se arriscam no uso de seus telefones celulares, pecado dos mais mortais que alguém pode cometer dentro de meus domínios, em meu ecossistema - são repreendidos duramente, resmungam algo em inútil protesto e também se juntam à turma dos sonolentos)
Falo, finalmente, do bolo alimentar, agora fecal, sugado e subtraído de toda sua alma química, seguindo pelo túnel do intestino grosso rumo à luz.
(Não mais que meia dúzia chega ao fim da jornada, junto comigo e com o bolo fecal. Não mais que meia dúzia manteve olhos e ouvidos atentos a mim o tempo todo. E quantos desses tinham também o cérebro atento por detrás de seus olhos e ouvidos vidrados? Quantos realmente absorveram algum nutriente de conhecimento? Quantos não saíram do jeito que entraram, desnutridos, anêmicos e anoréxicos de saber?)
Não obstante, alheia e indiferente a quaisquer dramas ou frustrações prosaicos e comezinhos, a merda continua a ser feita.
Tranquilamente.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Pequeno Conto Noturno (62)

- Que que foi, que que tá acontecendo, Rubens? ´Cê nem tentou comer meu cuzinho hoje, não levantou um brinde de rum ao velho Buk, não quis assistir ao seriado do House, não soltou um puta que pariu sequer. Que que foi? - Verônica, vestindo a calcinha e deixando vazar os bastos pelos pubianos pelas laterais, do jeito que Rubens gosta, Verônica deixara de se depilar para agradar a Rubens.
- Sabe aqueles espirros que não saem, que ficam entalados, coçando sem alívio?
- Sei, daqueles que a mãe da gente, a vó, sei lá, falavam pra gente olhar para o sol que espirrava.
- Pois existe choro desse tipo, nó no peito desse tipo.
- E não adianta olhar pro sol, né, Rubens?
- Pior. Nem pra Lua.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

sábado, 14 de maio de 2016

Ministério de Temer : Só Homens, Sem Minorias, Porque a Coisa Agora é Séria, a Coisa Agora é Para Dar Certo.

Do excelente blog O Mascate:

"A esquerdalha defenestrada encontrou motivos suficientes para atrapalhar a vida do PresidentO Temer.
Os zurros, o berreiro e a choradeira é por conta que o novo ministério anunciado pelo presidentO é composto apenas por homens, heterossexuais e brancos da zelite coxinha fascista golpista dozóioazul.

Ahhhh!!! Vão prapotaquepareu!!!

Pelo visto alguns intelectuais da esquerda...Peraê..Intelectual da esquerda? Huáhuáhuá...Isso non ecziste!!
Ou se é intelecutal, ou se é de esquerda, não dá para ser os dois, simples assim.

Bem, alguns intelectuais...Huá huá huá, jornaleiros e uma boa parcela da cachorrada PTralha já fez juízo de valores sobre o novo ministério por não terem sido indicados, mulheres, negros, índios, caolhos, pés inchados, homossexuais mancos, albinos, gordos, jogadores de futebol, motoristas de taxi, professores de ioga, veganos, síndicos de prédios, argentinos, médicos CUbanos, homens que dizem MI, pilotos de prova de alambiques, EX BBBs entre outras minorias.
Impressionante a rapidez e a estupidez que essa cambada tem para mostrar ao mundo que já existe no novo governo preconceito contra as minorias.
Sem contar que o PresidentO acabou com uns 17 ministérios ou secretárias com status de, e vai desempilhar uma porrada de vagabundo vermelho de cargos por nomeação.
Aí, dirão alguns, ele vai colocar a turma dele no lugar. Oras, direi eu, esse é o modelo de governança que está instalado no Brasil, e em vez de reclamar que tal irmos para o pau nas ruas e mudarmos esse descalabro?
Mas é mais fácil ficar isentão e pagando uma de indignado não é?
Não importa se nos ministérios não tenham mulheres ou negros, o que importa é ver se eles serão capazes de tocar o país adiante sem ROUBAR o povo. E acima de tudo, dar fim aos cartões corporativos.
A EX presidentE Jumenta tinha 39 ministérios composto por tudo que é minoria ou fisiologia e não funcionavam!!
Quantos ministros da justiça passaram pela pasta durante os governos da PresidentE? Não adianta fazer proselitismo e populismo para agradar minoria burra e o país ficar sambando na lama do atraso e da ineficiência.
Quanto em negociatas usando cargos e ministérios a Jumenta fez para tentar salvar o próprio rabo? Pois é... O modelo está errado.
Vamos esperar para ver o que vai acontecer, e diante dessa perspectiva podermos cobrar resultados, ficar de MIMIMI ainda pensando na divisão do país em minorias, o velho nós contra eles.
A Jumenta mostrou uma incompetência absurda, ela não era a pessoa certa para ser alçada à presidência, mas foi, e ficou presa a esse modelo populista e quebrou o país e a cara.
Falam que alguns dos indicados são investigados pela Lava Jato. Oras, o líder máximo dessa cachorrada periga ir em cana na mesma Lava Jato, não que isso seja justificativa para alisar para o lado dos novos ministros.
Acontece que o modelo político atual, e os conchavos para conseguir um mínimo de governabilidade são o tiro no pé que todo governante Tupiniquim terá. Não se governa com minorias, porém para se ter apoio e maioria tem que vender a alma para o capiroto.
Nem bem a Jumenta tinha sido defenestrada os partidos já buscavam indicações para ministérios em troca de apoio para o novo governo.
Esse troca-troca é que é infame, e qual o interesse tão profundo que os partidos tem nos ministérios que não sejam se dar bem ou roubar. Pois, se forem trabalhar sério esses ministérios são uma puta trolha e não acredito que as nobres excelências queiram sentar em trolhas pelo bem do país.
O povo precisa ir para as ruas e cobrar mudanças no sistema eleitoral, reformas políticas, o fim de tantos partidos na vida política do Brasil e mais seriedade e responsabilidade dos governantes.
Temer não é o que eu gostaria de ver na cadeira da presidência, mas é o que sobrou.
Ficar mais três anos com a Jumenta no poder virariamos uma Venezuela, caminhávamos à passos largos para o brejo, e o impixa nos deu folêgo para tentar mudar alguma coisa. Por isso que digo que precisamos continuar mobilizados e mostrar para a cambada do colarinho branco que estamos atentos.
Só com a diminuição de ministérios e a promessa de expulsão de quase 100 mil PTralhas da estrutura do poder já nos anima a dar apoio ao novo PresidentO.
Temer terá pouco menos de três anos para asfaltar o caminho do crescimento para quando chegar 2018 e o povo bovino votar errado novamente e colocar outra bosta no poder.
O Brasil precisa de responsabilidade e seriedade, de baderna já bastam os 13 anos dos PTralhas no poder.
Quanto ao ministério do Temer com ou sem mulheres, só o tempo dirá.
E não esqueçam que a bandalheira promovida pelos PTralhas dentro da estrutura do estado levará uns vinte anos para colocarmos a casa em ordem novamente, portanto não esperem milagres do PresidentO.
A coisa tá feia.

E PHOD@-SE!!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Q U E R Ê N C I A

“Quando a Indesejada das gentes chegar 
(não sei se dura ou caroável), 
Talvez eu tenha medo 
Talvez sorria, ou diga: 
- Alô, Iniludível! 
O meu dia foi bom, pode a noite descer 
(A noite com seus sortilégios) 
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, 
A mesa posta, 
Cada coisa em seu lugar.” 
(Manuel Bandeira)

Tudo o que eu queria era deixar a lida
Comer, me embriagar, dormir, trepar.
Mas já não há cor, odor, fragrância, suculência
Que resgatem meu paladar da dormência.
Nenhum assado, fritura, doce ou salada
Que faça o estômago reclamar única garfada.
 
Tudo o que eu queria era ludibriar a Desiludida.
Dormir, trepar, comer, me embriagar.
Mas já não há cansaço, fadiga, estafa, exaustão
Que convençam meus músculos a ficar por algumas horas em hibernação.
Nenhuma fantasia, desilusão, sonho ou pesadelo
Que façam os olhos gritarem pelo conforto do colchão.
 
Tudo o que eu queria era lograr a Iniludível.
Me embriagar, dormir, trepar, comer.
Mas já não há torpor, enlevação, narcose, analgesia
Que assanhem qualquer um de meus sentidos à euforia
Nenhum rum, vinho, vodka ou whisky
Que a garganta se arranhe implorando por um gole.
 
Tudo o que eu queria era me abandonar à vida
Trepar, comer, me embriagar, dormir.
Mas já não há desejo, tara, perversão, fetiche
Que imponham ao meu sangue a libido extraviada
Nenhum suor, saliva, secreção, feromônio
Que façam em mim sequer o esboço de uma semiereção.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dilma Recorreu Até ao Papa. Patético!

Um texto do inigualável Marco Antonio Villa, um historiador que todo brasileiro deveria ler e conhecer, inclusive, e principalmente, os professores de História, lavados cerebrais comunistas, em sua maioria.

O Novo Venceu o Velho
Marco Antonio Villa
O projeto criminoso de poder foi ferido de morte. Se a crise econômica e a Lava Jato tiveram importante papel neste processo, foram as ruas que decidiram a parada. As quatro manifestações de massa de 2015 sinalizaram que não havia mais meios de uma conciliação pelo alto. De uma saída à la brasileira, dentro da velha tradição nacional. O ponto final foi o dia 13 de março, quando milhões saíram às ruas e apontaram que o impeachment era a única solução para a mais grave crise política do Brasil.
No Senado — já são favas contadas — o julgamento vai condenar o governo petista por crime de responsabilidade. A pena (política) de Dilma é amena: será inabilitada, por oito anos, para o exercício de função pública. Mas o PT foi destroçado. Saiu do governo com a pecha de corrupto. Pior ainda: de ter organizado o maior desvio de recursos públicos da história. Diferentemente de 1992, a condenação não será individualizada. Não. A condenação foi do partido — e de seus asseclas, como PC do B, PSOL e parte da Rede — e de um projeto que construiu, no interior do Estado, o que o ministro Celso de Mello chamou, em um dos votos da AP-470, de “macrodelinquência governamental.” Conseguir reabilitação política a curto prazo é impossível. O PT vai se fragmentar em pequenos partidos, sem força eleitoral expressiva. E o projeto de poder que sustentou parte da esquerda brasileira morreu.
O que chama a atenção foi como tudo ruiu tão rapidamente, no sentido político, claro, pois a crise econômica tinha sido gestada no segundo governo Lula e já dava sinais de agravamento desde 2012. Ter devassado os “marginais do poder”, expressão também de Celso de Mello, deu à Lava Jato um importante papel. Porém, o governo ainda apresentava condições de conviver com o escândalo, tentando diminuir seus efeitos políticos, mantendo sob seu jugo a base da pirâmide social — os mais pobres —, o andar de cima, via bolsa BNDES e o colchão de amortecimento representado por intelectuais, artistas, docentes universitários e movimentos sociais que funcionavam como os tonton-macoute do petismo em troca de generosos apoios às suas ações.
Este bloco parecia invencível. E o Brasil condenado a sustentá-los ad eternum. Coube à sociedade civil desatar o nó górdio do projeto criminoso de poder. Não temos tradição de enfrentar o Estado. Pelo contrário. O Estado é fonte de tudo. Mas desta vez a sociedade deixou de ser invertebrada. Foi um processo maturado nas redes sociais e nos movimentos autônomos que foram surgindo nos últimos anos. A espontaneidade foi a marca deste momento. Quem imaginaria o sucesso da manifestação de 15 de março de 2015?
Os velhos formadores de opinião ficaram olhando para o passado. Foram aliados — alguns entusiásticos — do projeto criminoso de poder. Acharam que tinham um poder de influência fantástico. Coitados. Ficaram falando sozinhos. Ninguém mais os lia ou os ouvia. Seus gritos foram recebidos com risos. Falavam de golpe quando se estava cumprindo o que era determinado pela Constituição. Perderam feio. Quiseram até acionar o Papa. Patético!

55 x 22 : Melhor que o 7 x 1 Contra a Alemanha

Sou um homem que não se alegra por pouco. Não sou de ficar com sorriso de selfie (leia-se de idiota, de retardado) o tempo todo na cara. 
Pensei que dificilmente um outro placar fosse me dar tanta satisfação como o do 7 x 1 contra a Alemanha na última Copa, o nabo que a selecinha de semianalfabetos liderados por pelo asno-mor Neymar levou dos alemães; melhor, o nabo não : o chucrute que levaram no toba canarinho.
Pois me enganei. Felizmente. O placar abaixo é muito melhor. No 7 x 1, o Brasil perdeu, mas o Brasil do jeitinho, do futebol, da idiotice, do vagabundo. No de hoje, o Brasil ganhou, o Brasil que se cansou dos ladrões vermelhos do PT, da corja comunista que deveria ter sido exilada definitivamente lá na década de 70, a grande cagada foi João Baptista Figueiredo ter assinado a anistia para essa vagabundada. Ganhou o Brasil da classe média, que é quem trabalha e carrega e sustenta esse país de empresários corruptos bilionários e de miseráveis preguiçosos e vitiminhas, ambos beneficiados pelo PT nesses quase 13 anos de Idade das Trevas. Mil anos de Idade Média não causaram o mesmo estrago para a Europa que 13 anos de PT para o Brasil. Ganhou o Brasil de direita, o Brasil direito e ordeiro, que aqui comunista safado e filho da puta não se cria por muito tempo. Ganhou o Brasil ficha-limpa, não o dos terroristas fichados por assalto a banco, sequestros, roubo de armas.
Brasil 55 x 22 PT 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Um Puta Texto de Reinaldo Azevedo

"Um ano e dois meses depois da primeira grande manifestação em favor do impeachment, ocorrida em 15 de março de 2015, este 11 de maio de 2016 entrará para a história. É O DIA EM QUE VAMOS NOS LIVRAR DELES. Por pelo menos dois anos e meio. QUEM SABE PARA SEMPRE se as forças que prezam a democracia e o Estado de Direito fizerem a coisa certa e souberem atuar para, segundo as regras, eliminar o mal, literalmente, pela raiz.
Nesta quarta, o Senado vota, por maioria simples — metade mais um dos presentes, desde que garantido quórum de metade mais um dos 81 senadores —, a admissibilidade do processo de impeachment. Dez entre dez políticos e analistas, inclusive os identificados com o governo, dão como certa a admissão, o que obrigará Dilma a se afastar.
A partir de então, o Senado terá 180 dias para julgá-la. Ela passa a ser presidente afastada, e Michel Temer, o vice, passa à condição de presidente interino. Consumada a condenação, por um mínimo de 54 votos, Temer se torna o presidente do Brasil, sem adjetivos de precarização.
DILMA ESTÁ CAINDO PORQUE COMETEU CRIME DE RESPONSABILIDADE: NO CASO, ATENTOU CONTRA A LEI FISCAL — TRANSGRESSÃO DEVIDAMENTE PREVISTA NO INCISO VI DO ARTIGO 86 DA CONSTITUIÇÃO, COM PENALIDADE PREVISTA NA LEI 1.079. AÍ ESTÁ A BASE JURÍDICA.
Mas o IMPEACHMENT é também e principalmente um processo político, e a presidente que se vai só chegou a tal destino porque perdeu as condições objetivas de governar o país. Curiosamente, as eleições de 2014, que lhe deram o passaporte para a segunda jornada, também lhe arrancaram o mandato. Como Dilma contou inverdades brutais sobre a realidade econômica do país, APLICOU O MAIOR ESTELIONATO ELEITORAL DA HISTÓRIA. E o povo foi às ruas.
Mas foi também tangido pela crise econômica e pela desordem moral que tomou conta do Planalto. A Operação Lava Jato trouxe à luz as entranhas de um modelo de gestão que caracteriza não um governo, mas, no dizer da Procuradoria Geral da República, UMA INEQUÍVOCA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. AONDE QUE QUER O PT TENHA LEVADO SEUS MÉTODOS, O QUE SE TEM É A CIVILIZAÇÃO DA PROPINA.
E não pensem que, revelados os descalabros, tenhamos visto um partido contrito, arrependido, vexado… Nada disso! Quanto mais a realidade desmoralizava o discurso do petistas, MAIS SE ASSANHAVAM A SUA ARROGÂNCIA, a exposição de seu suposto exclusivismo moral, a exibição de suas inexistentes virtudes. Confrontado com todas as evidências dos malfeitos, não vimos, em nenhum momento, nem mesmo um partido arrependido. Ao contrário: O PT INVENTOU A TESE RIDÍCULA DO GOLPE e decidiu responder à montanha de provas com violência retórica, desqualificação dos adversários e ataques à própria Lava-Jato.
Falo, no começo deste texto, em cortar o mal pela raiz. Que mal? O PT porque PT? Ora, AINDA QUE O PARTIDO SE CHAMASSE ROSA, CHEIRARIA A ESTRUME se as mesmas fossem as suas práticas.
Com a derrocada do PT, o que se espera é que se aposentem de vez, na cabeça dos tolos e bem-intencionados, as ilusões redentoras de que um ente de razão pode tomar o lugar da sociedade e, por intermédio da realização dos seus desígnios, cumprir o suposto destino de um povo — quem sabe da humanidade. Essas aspirações, felizmente, foram mortas e estão enterradas no século passado. Num dos esquifes, está escrito “FASCISMO”; no outro, “SOCIALISMO”, faces só apenas aparentemente opostas de uma mesma crença bastarda.
Mas o petismo não se faz só de tolos bem-intencionados. A Lava-Jato evidencia de forma cabal que mesmo a ideologia, nesses mais de 13 anos, serviu de cortina de fumaça para o maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia, atenção, NO MUNDO! ESTAMOS FALANDO DE LADRÕES!
Intelectuais mixurucas de esquerda saem por aí a pregar que o antipetismo é uma expressão de preconceito político. Trata-se de uma fala de vigaristas. Por que a ninguém nunca ocorreu antes classificar o “antimalufismo” de manifestação igualmente preconceituosa? Eu explico: é que Paulo Maluf, ao menos, nunca ousou transformar os seus métodos numa teoria do poder.
Dilma vai deixar a Presidência arrotando a sua honestidade pessoal, como se a única forma de atentar contra a democracia e o Estado de Direito fosse assaltando, literalmente, os cofres públicos. Não custa lembrar ainda outra vez que os crimes de responsabilidade não servem para punir gatunos do caixa, mas gatunos da institucionalidade.
CUMPRE LEMBRAR, A PROPÓSITO QUE, A CADA VEZ QUE ESTA SENHORA USOU NO PALÁCIO DO PLANALTO PARA CHAMAR DE GOLPE O IMPEACHMENT E DE GOLPISTAS SEUS ADVERSÁRIOS, ESTAVA SE COMPORTANDO, SIM, COMO UMA ASSALTANTE: UMA ASSALTANTE DA CONSTITUIÇÃO; UMA ASSALTANTE DAS LEIS; UMA ASSALTANTE DA DEMOCRACIA.
Que Dilma se vá! Que se vá para não mais voltar! Que se vá para que o Brasil possa encontrar o seu caminho. Os dias que virão pela frente não serão fáceis. Até porque os companheiros sempre foram hábeis sabotadores de governos alheios. Mas os brasileiros também passaram por um treinamento intensivo e saberão como enfrentá-los.

Dilma's Day. Ou, o Dia Nacional do Tchau, Querida

Dia dos namorados é o dia em que o cara dá um bouquet de rosas em botão para a namorada na intenção de ser retribuído com o butãozinho dela; em que o namorado investe num anel de ouro com vistas ao anel de couro. Dia dos namorados é o dia dos pombinhos arrulharem o seu amor aos quatro ventos e se cagarem de paixão, dia dos nubentes fazerem votos e juras de cativeiro perpétuo.
Mas e um dia para que se comemore - plagiando o Chapeleiro Louco, de Lewis Carrol - o desnamoro? O rompimento? Para que se celebre a alforria do pau agrilhoado?
Sim. É uma questão de simetria. De compensação cármica. De equilíbrio cósmico e universal. Para toda uma ação impensada, uma reação corretiva, para todo veneno, um antídoto, um vomitivo.
Proponho, pois, inspirado pela atual conjuntura política do país, a criação, via projeto de lei ou pec, de um antidia dos namorados, de um dia do pé na bunda. E que a sua comemoração seja instituída na data de hoje, 11 de maio, pois outra mais emblemática não haverá.
Hoje, 11 de maio, é o dia em que o Brasil corno, porém, varonil, dará um pé na bunda de Dilma Rousseff, o dia em que o Brasil direito (e de direita), o Brasil trabalhador, o Brasil da classe média, que é quem carrega essa porra nas costas, dará o bilhetinho azul para a pérfida, para a traidora, para a infiel Dilma. O dia - com possibilidades de até ser feriado, dada a sua importância histórica - em que os comunistas começarão a ser enxotados do poder feito cães sarnentos, banguelos e raivosos que são.
O dia que, à moda dos americanos, uma vez que brasileiro adora copiar os sobrinhos do Sam, poderá ser batizado de o Dilma's Day, ou, à moda mais informal, esculachada e tupiniquim (que eu prefiro), de o Dia Nacional do Tchau Querida.
Dilma fez promessas de campanha e não as cumpriu : tchau, querida; Dilma deu pedaladas fiscais : tchau, querida; Dilma chafurdou, roncou e fuçou no chiqueiro do petrolão, na pocilga do pré-sal : tchau, querida. Dilma saudou a mandioca, por pouco não a condecorou com a ordem do Cruzeiro do Sul, tchau, querida; Dilma criou a Mulher Sapiens, tchau, querida; Dilma quis ensacar vento, tchau, querida; Dilma não tinha metas, mas se as atingisse, pretendia dobrá-las, tchau, querida; Dilma criou a "mosquita" da dengue, tchau, querida; Dilma, conforme reportagem da revista Isto É, é uma doente mental sob tratamento para esquizofrenia, tchau, querida.
Com a instituição do Dilma's Day, ou, do Dia Nacional do Tchau, Querida, o 11 de maio passa a ser o dia oficial para mandar a sua querida ir catar coquinho, fazer a sua querida rolar rampa do planalto abaixo, passar a faixa presidencial para a vice. Você, jovem inocente, puro e besta, ignorante das artes, artimanhas, ardis e arapucas da buceta (esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei...), não hesite em dar um tchau para a sua querida à menor demonstração de descumprimento de promessas feitas no início de namoro, de tentativas de aparelhamento de seu Estado (civil) e de monopólio do seu petrolão. 
Começou a reclamar do futebol e da cerveja com os amigos? Tchau, querida. Da tampa da privada levantada? Tchau, querida. Da toalha molhada no chão ou em cima da cama? Tchau, querida. Da sua cueca predileta, aquela frouxa, que deixa o passarinho botar a cabeça pra fora, com furo no saco e encardido de freada de bicicleta? Tchau, querida. Das suas bufas, contingência natural do metabolismo mais acelerado do homem? Tchau, querida. Começou a exigir que você almoce todos os domingos com a mãe dela e depois assista ao futebol e ao Faustão com o sogro? Tchau, querida. Quer casar na igreja? Tchau, querida. Antes, ela engolia e pedia mais, agora ela faz cara de nojo e cospe? Tchau, querida. Antes, ela oferecia, agora ela tá regulando o cuzinho? Tchau, querida. Tá pedindo pra você depilar o saco? Tchau, querida.
Tchau, queridos!

domingo, 8 de maio de 2016

sábado, 7 de maio de 2016

Pequeno Conto Noturno (61)

- Oh, pesado amor, Rubens... - diz Joyce, sua personalidade depressiva acordando da anestesia, do efeito opioide do(s) orgasmo(s).
- Na verdade - começa Rubens, voz engrolada pelo rum -, o amor não tem peso - e dá mais uma boa emborcada no rum quente e aguado (que estava forte e gelado quando começou a meter em Joyce) colocado no chão do quarto, ao lado do lado que ele ocupa na cama, mesclando o esquálido álcool ao encorpado bouquet da buceta de Joyce -, na verdade, nada tem peso em si, o peso não é atributo das coisas, nada guarda o peso em si, o peso vem de fora, sempre de fora, o peso não é componente, é resultante, é escolha, ou a falta dela. As coisas, os Substantivos - o fez-se o Verbo que se foda, que o Verbo é puramente desespero de causa - têm átomos, têm massa, que podem se encontrar em maior ou menor estado de agregação, as coisas e os substantivos têm densidade, conteúdo, mas nada disso tem peso. O peso é o produto da gravidade/seriedade, da gravidade/importância, da gravidade/aceleração que aplicamos sobre o Substantivo, seja ele concreto ou abstrato. O peso é a gravidade que imprimimos a algo; o peso do amor, portanto, depende de para qual planeta ele nos abduz.
- Rubens, o que você tá querendo dizer com isso, com essa merda toda? - Joyce, compactando e encaixotando os peitos tamanho 46 num sutiã manequim 42, peitos que, acreditava Rubens, nessa noite, lhe serviriam de cobertores de orelha - Que merda você tá dizendo?
- Oh, pesado amor, Joyce...

Gosto do Leoni

"Me segue que eu conheço outro lugar
Que aqui já tá ficando muito escuro
Agora é mais seguro olhar por nós
A gente estende a alma sob o sol
E cuida até brotar outro futuro"
(Leoni)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mimetismos (22)

Meu amigo Margá é um entusiasta, um militante xiita das causas ecológicas, ambientais, naturais e de toda a sorte de viadice.
Margá é 100% verde e orgânico. Nas horas de labuta, é professor de química e de ciências, cátedras das quais se vale para promover a catequese das novas gerações ao ecologicamente correto, ofício do qual se aproveita para fazer proselitismo do autossustentável. Margá é um missionário da reciclagem e da coleta seletiva. Nas horas vagas, Margá não descansa nem descuida de sua cruzada pela saúde do planeta, continua a empunhar firmemente o pau da bandeira da ecologia - Margá adora segurar num mastro.
Margá tem um espaço de terra no quintal de sua casa, e pensam que ele faz o quê? Que planta capim-guiné pra boi abanar rabo? Que instala ali uma arejada área de lazer com churrasqueira, freezer, mesa de sinuca etc para receber e beber com os amigos? Nada disso. Até porque o Margá é um dos seres mais sovinas que já pisou a face da boa e velha Terra.
Margá consagra esse seu pequeno espaço de paraíso à Mamãe Natureza, faz dele um autêntico altar de adoração, um oratório à consciência verde cósmica e planetária. Margá cultiva em seus canteiros hortaliças das mais variadas, em especial, os chamados legumes. Margá é um expert no plantio de pepinos, cenouras, nabos, berinjelas e tudo o mais que for roliço e taludo. Botânico diletante, Margá se especializou no cultivo dos vegetais da ordem dos Falicoformes.
Volta e meia, com orgulho de produtor, Margá me envia fotos dos vegetais de sua horta, fotos de vigorosos e suculentos pepinos e de altivas e empertigadas cenouras. Tudo fresquinho, fresquíssimo, aliás; e colhidos na hora. E tudo orgânico e livre de agrotóxicos. Tudo. Margá não se utiliza de nenhum adubo ou fertilizante de origem industrial. É tudo na base do esterco de cavalo e, principalmente, do húmus de minhoca - Margá é aficcionado por um bom minhocuçu. Margá também, vez em quando, cultiva uns jilozinhos em seu minifúndio, mas como não é - nunca foi - grande apreciador da iguaria, o jilozinho, o Margá dá para a vizinhança.
Mas, como não podia deixar de ser, a grande (e grossa) vedete dos canteiros autossustentáveis do Margá, a sua menina dos olhos (do terceiro olho), é a sua, agora na iminência de ser internacionalmente conhecida, plantação de mandiocas.
É à mandioca que Margá, sem negligenciar os nabos e as berinjelas, tem maior apego e afeição. É na mandioca que Margá foca e concentra todos os seus esforços, é para ela que Margá direciona toda a sua erudição e o seu experimentalismo cartesiano de homem da ciência.
Há rumores, inclusive, de que o já antológico - e também tapiresco - discurso laudatório à mandioca feito por Dilma Roussef teria sido redigido por Margá a pedido do Planalto.
Há que tempos que Margá está à procura da mandioca perfeita. Margá planta a mandioca, faz a seleção dos melhores espécimes, realiza fecundação cruzada entre eles, promove a hibridação, a propagação vegetativa com vistas ao aprimoramento genético, faz enxertos - Margá se esquece da vida quando está a enxertar uma mandioca -, participa de fóruns na internet para trocar informações - Margá é chegadíssimo num troca-troca - com outros mandiocófilos etc etc.
Agora, tanto esforço, dedicação e, por que não dizer?, sacerdócio à mandioca foram recompensados. Margá não só aprimorou a mandioca tradicional, a Manihot esculenta, Margá criou uma nova espécie, Margá introduziu um novo táxon nos anais da Botânica.
E como cabe a todo bom pesquisador, Margá conteve a emoção da descoberta (não foi fácil) e concluiu também os detalhes técnicos e acadêmicos : descreveu, classificou e nomeou a nova espécie. Tudo de acordo e dentro dos mais ortodoxos conformes do sistema binomial de Lineu, um conjunto de regras que norteia a nomenclatura científica dos seres vivos, entre as quais a de que o nome deve ser composto por dois termos, o gênero e a espécie, e grafado obrigatoriamente em latim.
Margá, modesto e desprovido de vaidades, na nomeação da nova mandioca, não quis louros nem láureas para si, fez comovida homenagem ao amigo Fernandão, fonte de inspiração de seu trabalho e antigo companheiro de república e de quarto dos tempos da faculdade : ao valoroso e pujante tubérculo, Margá batizou de Manihot camolezii.
Para provar que não está a acochambrar dados, tampouco a promover alguma fraude científica, Margá me enviou a foto de um exemplar da Manihot camolezii. Um mimetismo impressionante. E, no e-mail, abaixo da foto ainda escreveu : ai, que saudades do Fernandão...
Eis o monstro, a Manihot camolezzi. É o que eu sempre digo : vira homem, Margá, vira homem!