terça-feira, 30 de setembro de 2014

Que Nome Dar a Ela?

Essa, eu escrevi há uns 10 anos e até hoje não consegui lhe dar um título que me agradasse. Acho que é filha tão dileta que nenhum nome está à sua altura

(SEM TÍTULO) 
Vai-se mais um dia embora, 
Derrama-se outro entardecer. 
É domingo : a tristeza foi almoçar fora. 
Mas não tarda em aparecer. 
Pra me deixar cabisbaixo, 
Pra me tornar um neném, 
Fralda suja, todo alquebrado 
Sem colo pra me encolher. 
E eu disfarço minha casa 
(Quem sabe ela passe sem bater) 
Com música, gente e risada 
Pra ela não me reconhecer. 

É outro dia que se acaba, 
Desponta outro entardecer. 
A tristeza foi às compras no shopping, 
Mas logo há de aparecer. 
E vem com fome danada, 
Vem pra filar meu café, 
Meu leite, meu bolo embolorado 
Confiada, vai ligar a TV. 
E eu pinto minha fachada 
(Azuis, verdes, salmões...) 
Com cores que ela não quer ver
A dizer-lhe que aqui não é boa morada 
Pra quem vive de entristecer. 

É outro dia que finda, 
Caminha outro entardecer 
A tristeza se deixou a beber com os amigos : está atrasada. 
Mas não falha em aparecer. 
Vem pra me deixar de olhos baços, 
Tomar-me nos braços, me fazer entender 
Que essa vida não vale a pena, 
A pena de tanto viver. 
E ela chega tarde da noite 
(Eu recolhido, pijama, banho tomado) 
Sem barulho, pra não me aborrecer, 
Debruça-se no leito ao meu lado 
E me beija a testa pra eu adormecer.

domingo, 28 de setembro de 2014

Todo Castigo Pra Corno É Pouco (2)

Hoje, o troféu boi zebu vai para o compositor Peninha e sua canção Sonhos.
A música é boa, a letra muito bem escrita, com umas rimas bem legais e inspiradas. É a história do cara que começa um relacionamento meio que descompromissado e vai se envolvendo cada vez mais, o cara que subestima o poder da buceta e, quando dá por si, está de quatro pela donzela. De quatro, com cabresto, rédeas, arreio etc.
E quando o sujeito está no auge da paixão, da submissão e da entrega, vem o óbvio pé na bunda : "Quando a canção se fez mais forte e mais sentida/Quando a poesia fez folia em minha vida/Você veio me contar dessa paixão inesperada /Por outra pessoa"
Até ai, normal. O duro é atitude do corno frente à galhada : "Mas não tem revolta não/Eu só quero que você se encontre..." 
Como assim, não tem revolta não? Claro que tem, ora porra. E o que é isso, então, de desejar felicidade para a bisca? O corno há de ser manso, isso é ponto pacífico, mas daí a desejar boa fortuna àquela que lhe enfeitou o frontispício, já é um pouco demais, já é ser mané. Manso é uma coisa, mané é outra.
Eu só quero que você se encontre é o caralho! Eu quero é que você se foda! Claro que não deverá ser você, oh, amigo corno, o agente da desgraça da ex, o avatar da vingança, mas não custa nada torcer para que a vida, o destino, sei lá, se incumbam de colocar umas merdas no caminho dela.
Corno vingativo, nunca, amigo. Pois como diz o guru do chifre Falcão, o corno vingativo é que aquele que, quando descobre que a mulher deu pra outro, sai por aí dando a bunda, só pra se vingar dela.
Sonhos
(Peninha)
Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim como eu sonhei um dia.

Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais forte e mais sentida
Quando a poesia fez folia em minha vida
Você veio me contar dessa paixão inesperada
Por outra pessoa.

Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter Saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um Dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz

sábado, 27 de setembro de 2014

Boneco Vodu do Azarão

A nuvem negra que me acompanha desde o berço feito um zeppelin, de uns tempos para cá, resolveu fazer mais que apenas sombra à minha imensa cabeça. Resolveu ligar seu esmeril, derramar suas faíscas, arremessar seus certeiros raios de Zeus. Resolveu ribombar sobre mim como os batuques do Olodoum - que é castigo muito maior que os raios de Zeus, ou que qualquer outro jamais imaginado e infligido pelos deuses a um mortal.
O mar não tá pra peixe. Ah, um urubu pousou na minha sorte...
De abril para cá, é uma peste atrás da outra. 
Primeiro foi uma puta duma gripe, que se não era a suína, no mínimo, era equina. Cavalar, mesmo. Temperaturas próximas às do Saara (durante o dia, claro) durante quase uma semana. E dá-lhe dipirona, e dá-lhe anti-inflamatório, e, o pior, dá-lhe cerveja sem álcool.
Passada a gripe, o seu rescaldo : mais quase um mês de sinusite. Junto à sinusite e às temperaturas mais amenas de maio/junho, uma dor aguda começou a se manifestar em meu penúltimo molar do quadrante inferior direito. Atribui-a à sinusite ou àlguma nevralgia desencadeada pelo frio.
Passou a sinusite, passou o frio (na verdade, ele mal chegou esse ano) e a dor continuou lá, uns dias mais, outros dia menos, mas lá, e somente durante a mastigação. Fui à dentista, que fez lá uns testes de sensibilidade à temperatura, atacou meu dente com frio e calor, com frio e calor, e eu tendo que dar uma de macho, tendo que responder se doía, quando, na verdade, tava doendo pra caralho!!! O quente dava uma puta duma ferroada. Raio-X e lá estava : um canal a ser feito. O primeiro de minha vida, o primeiro em quase meio século. 
E lá fui eu para outro dentista, um endodentista, um cara muito gente boa e competente, tratou direitinho o canal e disse que, provavelmente, uma mordida muito forte fora a responsável por ofender o canal, tudo indicava que eu estava com bruxismo. Hoje, durmo com uma placa nos dentes. Quanta viadagem depois de velho.
Tenho cá pra mim que a ocaso do macho começa com a ruína de seus dentes. Machos-alfa de lobos e leões, quando começam a quebrar e perder a dentição, evitam contato muito próximo com os outros machos do bando, escondem o quanto podem esse sinal de fraqueza, pois, uma vez descoberta, fará com que ele seja desafiado pelos mais jovens do bando e, fatalmente, deposto. E os meus começam a se ir.
Mal passara o trauma do tratamento de canal e julho chegou com um reforma : troca das portas do apartamento e quase que uma demolição dos dois banheiros. Já no segundo dia da reforma, quando fui carregar um saco de entulho para fora, a ponta longa e fina de um azulejo se insinou por entre as malhas de juta do saco e, cortando como navalha de malandro, abriu uma verdadeira boca no meu joelho direito, à altura da patela. Sangue a rodo, oito pontos, antitetânica e antibióticos. E mais cerveja sem álcool. E um belo dum quelóide de recordação. Pele de velho não tem mais o mesmo poder de regenaração.
Agosto passou relativamente tranquilo, só o velho e eterno cansaço. 
Aí, segunda-feira dessa semana, uma leve dor - que há tempos faz companhia ao meu joelho esquerdo -, dessas dorzinhas que a gente tem quando passa muito tempo sentado e se levanta de repente, ou quando faz um esforço um pouco maior que o normal, dessas dorzinhas à toa, resolveu se intensificar.
Eu bem queria dizer que era daquelas dores latejantes, afinal, a dor latejante passa a metade do tempo não doendo. Feito aquela história do português que foi para trás do carro do amigo, ver se a lanterna do pisca está funcionando : "agora está, agora não está, agora está..." 
Mas era dor inédita para mim, contínua, sem dar folga, ardia, queimava o lado de dentro do joelho. Foram dois dias sem dormir, sem arrumar posição na cama. O primeiro médico por quem passei fez o raio-X e disse que não era nada. Como não era nada? Eu com uma dor filha da puta e ele dizendo que não era nada? Realmente, a dor da gente não sai no jornal; nem no raio-X. 
Comuniquei-lhe que trabalho em pé o dia todo, perguntei, já com vistas a uns dias de folga, se isso não agravaria ainda mais a situação. Disse que não. Pedi-lhe que receitasse, então, anti-inflamatório e analgésico mais fortes. Também disse que não era necessário. Diagnóstico : lesão biomecânica sem origem defiinida. Ou seja, o filho da puta não sabia picas do que estava falando. Fui trabalhar no dia seguinte e, a se cumprirem os prognósticos do médico, claro que o joelho piorou. Dez vezes. Travou. Impossível sequer dobrá-lo.
E lá fui eu, médico, de novo. Desta vez, dei sorte, dei de cara com um médico de verdade. Apalpou meu joelho aqui, ali, olhou a radiografia e mandou na lata : tendinite da Pata de Ganso, um conjunto de três tendões. Deu-me atestado para três dias de repouso e um anti-inflamatório bem mais forte. De forma que a dor havia em muito mitigado na quinta-feira e, finalmente, pude dormir a noite toda. Provavelmente terei que fazer fisioterapia etc. Tendinite é para a vida toda.
E não é que, ainda em tratamento que estou para a pata de ganso, acordo na madrugada de hoje (sexta para sábado) com uma tosse do caralho, a garganta arranhando e febre? Outro gripão. Passei o dia todo com o corpo ruim, cabeça pesada, febre de 39ºC. O bom é que até esqueci um pouco do joelho.
Pãããããta que o pariu!!!!! Uma doença se encavalando na outra. Isso, como diria meu amigo Fernandão, só pode ser praga de puta. Nesse caso, cometerei a heresia de discordar de meu escolado (e escaldado) amigo. É algo muito pior.
Isso só pode ter uma explicação : alguma vagabunda que eu não comi deve ter feito um boneco vodu meu. Em tamanho natural. Com uma benga gigante. E trepa com ele todo dia! Tanto azar, só pode ser isso, um vaca trepando com um boneco vodu meu.
Entrei em contato com meus escusos contatos e eles foram às ruas, a investigar, à cata de indícios que corroborassem minhas suspeitas. Desceram ao submundo dos bares mais mal frequentados, das bocas mais quentes, dos becos mais escuros, invadiram computadores, navegaram nas águas pestilentas da deep web
Finalmente, trouxeram a prova. Um boneco vodu do Azarão foi mesmo confeccionado. Ei-lo:

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Dialética da Tristeza

Que a tristeza genuína não é causada por fatores externos, ambientais - muitos dos povos mais miseráveis do mundo são também os declaradamente mais felizes.
Que essa é a tristeza ocasional, sazonal, provocada por um revés ou outro da vida, é tristeza que dá e que passa, nada que resista a uma roupa nova, um carro novo, um celular novo, a uma drágea de tarja preta.
Que essa é a tristeza canastrona, atriz medíocre da personagem grandiosa que interpreta, mimética, de imitação. Feito mulher que tinge o cabelo de loiro - mas que não se torna efetivamente loira -, feito o cara que toma viagra - mas que não se torna efetivamente viril.
Que a tristeza autêntica é perene - não é curável, não é doença -, é presente (de grego) dado pelas Musas logo ao nascimento. Que é a tristeza que forjará os poetas. Que o mundo precisa dos poetas. Que os deuses e as Musas precisam dos poetas; mais do que o poeta, deles.
Que essa é a tristeza que polirá à perfeição o espelho em que as Musas se contemplam e se envaidecem, o poeta. De posse da Tristeza das Musas e de um Mobral bem feitinho, ninguém segura o sujeito.
E surgem, para o nosso deleite, coisas assim :
Dialética
(Vinícius de Moraes)
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz 

Mas acontece que eu sou triste...

Ou,
O Poema do Beco
(Manuel Bandeira)
Que importa a paisagem, a Glória, a baía
a linha do horizonte?
-O que vejo é o beco.

Ou,
o cara da música Ouro de Tolo, de Raul Seixas. O cara que devia estar contente porque tem um emprego, um carro do ano, porque fez sucesso : 
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês
.................................................
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome
Por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
.............................................
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...

Ou seja, o cara deveria estar contente... mas não está.

Ou além,
Motivo
(Cecília Meirelles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Cecília Meireles, então, se põe à parte da tristeza ou da alegria, não se preocupa com elas, é poeta e pronto. Como fosse o poeta um tipo especial de melancolia, de introspecção. E ele é.

Demos, portanto, vivas à Tristeza. Que a alegria só produz música baiana e sertanejo universitário.

Como Pedir Uma Cerveja ao Redor do Mundo

Lembro-me de uma professora de inglês, uma entre tantas que falharam em fazer o impossível, ou seja, ensinar-me os rudimentos do idioma do Tio Sam, a dizer do que fundamentalmente teríamos que saber para não passarmos fome, não nos perdermos e não passarmos por mal-educados em um país estrangeiro. Saber dizer, com licença, por favor, obrigado, desculpas (aí é que você vai parecer turista mesmo, ou alguém já viu um americano ou, pior, um inglês tão educado assim?). Saber pedir para ir à rua tal, ao museu tal etc. Como fazer um pedido num restaurante ou lanchonete, como solicitar o menu, saber onde ficam os banheiros. E jamais esquecer de portar o passaporte e o nome e endereço do hotel em que está hospedado. Lembro dela ter ensinado até como dizermos o nosso tipo de sangue, remédios a que somos alérgicos, em caso de um desconforto longe de  nossa língua pátria.
Do principal, porém, minhas esforçadas e bem-intencionadas professoras de inglês, se esqueceram. Como matar a sede em terras estrangeiras? Como dar aquele refresco para a goela em território estranho e hostil?
Isso é que é importante. Comer, come-se qualquer coisa, qualquer carrinho de lanche de rua nos mata a fome. Pedir desculpas? É só não fazer nada errado. Comunicar-nos com os nativos do local, para quê? Eu evito conversar o máximo com as pessoas, não gosto de conversar nem em português, imagina se eu quereria entabular uma prosa com um americano, inglês ou o que seja.
O importante é saber solicitar a cerveja, esse lenitivo para a fadiga, para o estress, diria até para a alma.
De encontro a esta necessidade universal e a reforçar o caráter e o compromisso de utilidade pública do Marreta, aí vai um guia de como pedir a sua loira gelada em vários países, sem correr o risco de acharem que você está a pedir por uma prostituta, se bem que se acharem, tudo bem, ninguém lhe conhece mesmo. Desde que ela traga a cerveja.
Como pedir uma cerveja em diferentes línguas
Gostei do italiano, Una Birra, Per Favore. Meu filho de quatro anos me serve várias dessas por dia, dá-me birra atrás de birra. E eu a ralhar com o moleque.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Barbie - A Religião de Plástico

Se um símbolo tivesse de ser eleito a bem representar os ditos tempos modernos em que vivemos, indubitavelmente, ele seria o plástico. Do grego plastikos - moldável, flexível -, ele literalmente moldou e reconstruiu o mundo a partir da invenção do baquelite (o primeiro de uma vasta família de polímeros), por Leo Baekeland em 1907.
Nada representa melhor o modo de vida moderno que o plástico : artificial, amorfo, sem personalidade, sem requinte nem profundidade, imediatista, descartável e equivocado.
O plástico também se assemelha incrivelmente à religião, que é a maneira mais artificial, amorfa, sem personalidade, sem requinte nem profundidade, imediatista, descartável e equivocada de explicar o mundo : a explicação pelo pensamento mágico, como se um aprendiz de feiticeiro regesse todo o cosmos.
Então, por que não associá-los, uma vez que indissociáveis parecem, plástico e religião, criar uma religião de plástico?
Buda Ken
Foi o que fizeram os artistas plásticos argentinos Pool & Marianella : lançaram a coleção Barbie - A Religião de Plástico. São 33 bonecos da Barbie e do Ken transfigurados em imagens religiosas. E tem para todos os credos : Iemanjá (candomblé), Kali (hinduísmo), Buda (budismo), Baphomet (provável origem templária) e, claro, Jesus, vários santos católicos e até uma pecadora, Maria Madalena, representada com um seio de fora, mas aquele peito de Barbie, sem mamilo, coisa que não excita nem ofende niguém.
E claro, como não podia deixar de ser, a catolicaiada se pôs em pé de guerra contra Pool & Marianella nas redes sociais. Os cristãos dizem que a intenção dos autores é debochar da figura de Cristo e dos santos, e não homenageá-los. Mas o que é que o crente tem que ficar fazendo o dia inteiro em redes sociais? Vai pra igreja, porra. Vai rezar. Confessar. Soprar apito de chamar anjo.
Virgem Aparecida
Tem a Virgem de Guadalupe, a Virgem de Fátima, a Virgem da Medalha Milagrosa, a Virgem Desata-nós, a Virgem das Sete Dores, a Virgem de Aparecida, a Virgem da Divina Providência. Tem virgem a dar com o pau, ou melhor, a não dar com o pau.
Do que reclamam os cristãos? Tem melhor maneira de representar a figura de uma virgem que não no corpo de uma Barbie? A Barbie não tem buceta, vai ser virgem sempre. Ainda mais com aquele "namorado" metrossexual dela, o Ken, que não tem pinto. É virgindade garantida e imaculada, per saecula saeculorum, amen. 
E de mais a mais, por acaso, a Igreja Católica é dona das imagens do Cristo etc? São suas marcas registradas? Sendo personagens de mitologias, não podem ser representados pelas múltiplas visões dos mais diversos artistas? Tem que pedir permissão para os donos do santos? E, quem sabe, até morrer com alguma grana?
Quem nos dá as respostas é Daniel Rojas, administrador do Santuário da Defunta Correa, uma figura religiosa argentina que, apesar de não ser reconhecida como santa pela Igreja, é tida como grande milagreira e adorada por milhares de devotos, e também uma das Barbies da coleção de Pool & Marinella. Ele ameaça processar judicialmente os artistas por desrespeito à fé dos devotos : “A imagem e o nome [da santa] são patenteados, são nossos.”, vocifera Daniel Rojas.
No Brasil, o direito de imagem do Cristo Redentor é de propriedade da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Todo e qualquer uso da imagem do Cristo Redentor, seja em um documentário, filme, videoclipe, propaganda de TV etc, precisa ser autorizado pela Arquidiocese da cidade do Rio de Janeiro, que também é de São Sebastião. Não sei se rola alguma grana, alguma esmolinha para a caixinha da Igreja Católica, mas que tem que pedir a benção do bispo, isso tem.
Ofensa à fé é não dar o dízimo, é não contribuir para os cofres e as barrigas volumosos da padraiada. Se rolar uma porcentagem em cima da venda das obras, o Papa Francisco até abençoa.
Na ala masculina, na pele bem tratada, hidratada, sem cravos e espinhas e sobrancelhas desenhadas de Ken, estão São Roque, São Sebastião, Santo Expedito, São Caetano, São Jorge e, enfim, o Ken Jesus Cristo.
Eu acho, como dizia o povo antigo, que até ornou o boneco Ken do Cristo. O Cristo, de madeixas bem cortadas, sedosas e livres ao vento, de barba bem cuidade e aparada, sempre deu a maior pinta de ser um metrossexual.
Deixo aqui uma sugestão para a próxima coleção da dupla Pool & Marinella : lancem as figuras religiosas na forma de bonecas e bonecos infláveis, desses de sex shop, com orifícios e bengas vibratórias. Não sei na Argentina, mas no Vaticano venderia uma barbaridade.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Jasmine Tridevil, Tetas à Mancheias

Total Recall (1990), dirigido por Paul Verhoen e protagonizado por Arnold Schwarzenegger - e justamente por isso traduzido por aqui como O Vingador do Futuro, a aproveitar o sucesso do austríaco androide modelo T-101-, inseriu no imaginário erótico-onanista dos aficionados por ficção científica uma das figuras mais bizarras e inusitadas já surgidas dentro do igualmente bizarro e inusitado gênero : a prostituta marciana com três tetas.
A marciana de três tetas impressionou toda uma geração de jovens. Causou-nos sentimentos dos mais confusos e ambíguos. Logo de cara, é óbvio, deu-nos um grande tesão - à época, mal conseguíamos, com muito suor e esforço, ver um único peitinho, e a marciana nos aparece logo com três. Porém, em seguida, mal o pau acabara de fica duro, atingiu-nos uma certa repulsa e uma reação de negação, motivadas por um sentimento de culpa certamente ditado pela (falsa) moral cristã em que nascemos imersos.
Seria moralmente correto ou aceitável termos tesão por uma marciana, por algo que nem era humano, não se constituiria em uma espécie de bestialismo, de zoofilia? Seria mentalmente normal e saudável nutrir desejos carnais e copulatórios por uma ET de três tetas?
Sim! Seria! Claro que seria!
A marciana de três tetas apareceu por poucos segundos na tela, mas deixou-nos marcas profundas, indeléveis. Alguém se lembra, por exemplo, de que Sharon Stone era a esposa de Schwarzenegger no filme? Da marciana de três tetas, contudo, não há quem consiga se esquecer.
O número três é meio que simbólico, quiçá cabalístico, para a espécie humana. Talvez por sermos seres de simetria bilateral, nossas estruturas externas as temos sempre em número de duas. Dois olhos, duas orelhas, duas narinas, dois braços, duas pernas, duas tetas; e mesmo alguns órgãos internos, dois rins, dois pulmões.
É capaz que o número três represente algum anseio inconsciente do ser humano em transcender seus limites físicos e até espirituais. Um clássico exemplo é a tal da mística terceira visão, a qual todos teríamos localizada à altura da testa, entre os outros dois olhos. É o olho de Hórus, é o chifre do unicórnio. É um orgão de visão interior que, ao contrário dos seus dois irmãos mais conhecidos, cegos para o passado e para o futuro, abarca toda a eternidade. Não confundir terceira visão com terceiro olho, que esse é o cu, o famoso zóinho de porco.
Talvez levada por esse sentimento interior de transcendência e superação, talvez apenas inspirada pela marciana de três tetas de Total Recall, a americana Jasmine Tridevil, 21 anos, realizou uma verdadeira peregrinação gnóstica para obter o o chacra supremo, uma terceira teta.
Perambulou por um árduo caminho de Compostela, economizou por dois anos, passou por mais de 50 cirurgiões plásticos, até achar um que concordasse em realizar a cirurgia, e, finalmente, gastou coisa de R$ 46 mil para ter a terceira teta. 
"Foi realmente muito difícil achar alguém que fizesse, porque seria quebrar o código de ética. Falei com 50, 60 médicos. Ninguém quis", disse a americana.
Mas ela não desistiu de sua jornada, moveu céus e terras, pactuou com os cirurgiões mais proscritos. Teria ido a Marte, se precisso fosse.
A terceira teta de Jasmine Tridevil (tem tri até no sobrenome) é confeccionada em silicone e tecido retirado do abdômen. E a única diferença entre ela e as originais de fábrica, diz Jasmine, é que o mamilo teve que ser tatuado.
O resultado agradou à moça, satisfeitíssima com sua terceira teta. O mesmo, todavia, não se deu com alguns de seus familiares; horrorizados com o novo visual de Jasmine, romperam relações com ela.
Pretende agora estrelar um programa na MTV : "Meu sonho é ter um programa na MTV. Pus cada centavo meu nisto. Se não der certo, estarei perdida", afirmou ela. Só se for na MTV marciana, que aqui ainda há muito preconceito contra as tritetas, embora elas não sejam novidades tão originais assim. Existem outros casos de três tetas, ao menos de três mamilos, no cinema e na TV.
Em 1974, o vilão Scaramanga, de 007 contra o Homem da Pistola de Ouro, interpretado por Christopher Lee (primo de Ian Fleming, o criador do agente secreto a serviço de Sua Majestade. Sabia dessa, Marcellão?), possuía o mítico terceiro mamilo, o que lhe dava fôlego extra em seus afazeres sexuais.
Chandler Bing, da inigualável série Friends, também possuía um terceiro mamilo, que ele chamava de nubbin e o qual dizia ser a fonte de seu poder, fazer piadas infames sobre tudo.
Mas, enfim, deixemos de coisa e cuidemos da vida. Eis Jasmine Tridevil, a trajar vestimenta adaptada às suas necessídades físicas especiais, um triquíni.
Veredicto do Azarão, a la Jânio Quadros : mamá-los-ia!!!
Tranquilamente.

sábado, 20 de setembro de 2014

Anorexia e Obesidade Mórbida

Preciso de muito pouco:
Servem-me as camisas desbotadas e de golas esgarçadas
As calças de barras puídas e fundilhos encardidos e zíperes presos por elásticos de dinheiro
Os tênis de solas furadas
O cabelo sem corte
A barba de masmorra, ou de naufrágio.

Por outro lado
Nada me basta:
Não me chegam
À sede
Todas as vinhas de Baco
Ou os tonéis de Jack Daniels.
Não me chegam
A uma noite bem dormida
O Nobel de literatura
Ou os grandes lábios de Angelina Jolie.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Decálogo de Xico Sá Para os Jovens Apedeutas do Amor

"Esses moços, pobres moços, Oh, se soubessem o que eu sei..."
E se soubessem, então, o que sabe o filósofo greco-cratense Xico Sá?
Abaixo, a tábua dos dez mandamentos do macho-jurubeba, ensinamentos recebidos por quem muito já subiu o frio monte Sinai da solidão.
1) A saudade é o genérico do Viagra;
2) O que as mulheres querem de nós? Uma mistura de lenhador e homem sensível ao mesmo tempo;
3) Homem que é homem troca de sexo, mas não troca de time;
4) Homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite;
5) Da costela de Clint Eastwood, Deus fez o macho-jurubeba; da costela de David Beckham, Deus fez o metrossexual;
6) Só é possível filosofar em parachoquês : um homem sem chifres é um animal desprotegido (genial, Xico, genial!);
7) Receita para cavalheiros aflitos : quando a vida dói, drinque caubói;
8) O macho brasileiro hoje é um macunaEmo : preguiçoso e chorão;
9) Não há canalha maior e mais nocivo do que o homem fofo, digo, o falso fofo;
10) A conquista amorosa, caro Cortázar, é como uma luta de boxe : o bonito ganha por nocaute, o feio ganha por pontos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Uma Fêmea Para Alvin

Estava eu em uma pet shop, a aguardar na fila para pagar pela areia sanitária de minhas gatas. À minha frente, a jogar conversa fora, a atrasar meu sábado, estavam Alvin, um cãozinho maltês, e sua dona; melhor dizendo, sua mãe, dado o exarcebo de mimos que dispensava ao seu filhotinho, dadas as incríveis semelhanças de semblante e de cabelo entre os dois.
Alvin confortavelmente instalado no colo de sua mãe e esta a dar recomendações ao dono da loja de como deveriam proceder no banho e na tosa de seu tchutchuquinho (sic).
- Não precisa passar perfume nem talquinho, que Alvin tem um pouco de alergia. Mas pode usar xampu, condicionador e reparador de pontas.
Reparador de pontas? Pããããããta que o pariu!!!
Reparador de pontas para cabelo de gente, eu já acho o cúmulo da futilidade, da falta do que fazer.
O cara, pacientemente, anotou as recomendações da zelosa genitora e disse que quem iria gostar era a fulana de tal, a pessoa que daria banho em Alvin, pois era também uma feliz possuidora de um maltês, uma fêmea.
A mãe de Alvin se animou de imediato, e já começou a querer marcar uma "ponta" para Alvin, a tentar ajeitar um encontro para seu filhinho, uma cruza. Alvin era cabaço!
Disse - e eu a esperar na fila com um saco de 4 kg de areia a me pesar nos braços - que tentara cruzar Alvin por duas vezes. Que ele, ao sentir o cheiro das fêmeas, ficara todo ouriçado, revolto, excitado e tudo mais, mas que as duas fêmeas foram muito agressivas e Alvin, inibido, não conseguira se sair a contento.
Pensei comigo : não é excitação o que Alvin sente ao farejar o cio das fêmeas, não, minha senhora, é nojo, é repulsa, o Alvin é viado, minha senhora.
Também pudera... O que esperar de um bicho cujo ancestral é o temível e majestático lobo e que, pela domesticação e cruzamentos direcionados pelo ser humano, foi reduzido à patética condição de um rato peludo? No mínimo, que tenha ojeriza à buceta! Ainda mais se lhe impingem um reparador de pontas.
- Eu queria tanto que o meu Alvin cruzasse... - desabafou a mãe, enquanto Alvin era levado aos fundos da loja para seu banho.
De novo, pensei comigo : se Alvin fosse um Rottweiler, ela própria já teria cruzado com ele.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

É a Jumentovia! É a Faixa Exclusiva de Burrestres!

Você os vê aos montes por aí, a infestar as ruas, as praças, o passeio público, o sábado. Aqueles débeis mentais, aqueles retardados que andam alheios ao mundo circundante, presos, hipnotizados pelas telas de seus telefones celulares, a viver numa limitadíssima e patética matrix.
Eles vão andando e tropeçando em qualquer coisa em seus caminhos que tenha altura maior que um chiclete pisado na calçada, trombando com postes, placas de trânsito, árvores, colidindo com outros transeuntes. E se você nunca viu um é porque também está a olhar o tempo todo para o seu celular, ou seja, também é um deles.
É o jumento digital. O jegue tecnológico.
Quando um burro é atrelado a uma carroça, para que ele unicamente faça o seu trabalho de besta de carga, sem se distrair com nada ao redor, colocam-lhe uma espécie de tapa-olhos nas laterais de sua visão, para forçá-lo a olhar apenas à frente, são os antolhos.
O telefone celular, smartphone ou qualquer outro nome que se dê a essas estrovengas são os antolhos dos jumentos modernos, dos asnos conectados. E a situação do jegue digital consegue ser pior que a do burro puxador de carroça, que, privado de sua visão lateral, ainda é capaz de enxergar frontalmente - nunca vi burro pisar em falso num buraco, tropeçar num meio-fio ou bater a cabeça num poste -, já o jumento high tech não tem visão nem lateral nem frontal.
Eu mesmo, quando detecto um idiotas destes vindo em minha direção sem me perceber, e se ele tiver compleição física igual ou inferior à minha, não saio totalmente do seu caminho cego, deixo o meu ombro enrijecido e firme para ele colidir. Já derrubei o celular de uns três ou quatro. Se o sujeito for muito maior que eu, desvio-me e deixo-o passar, que ele pode ser burro, mas eu não.
No supermercado, quando uma cavalgadura desta está a masturbar o seu celular e a atravancar a passagem pelo corredor de mercadorias, não tenho dúvidas, fingindo-me também de distraído, enfio o meu carrinho de compras no tornozelo do sujeito. E o pior é que isso nem abala o jegue high tech. Muitas vezes, ele nem olha para trás para ver o que o atingiu, só dá um passo pro lado e continua vidrado em seu celular.
O mundo pode desmoronar em torno do jumento digital. Pode passar uma tremenda duma gostosa ao lado do cara, esfregando os peitões em suas fuças, que ele nem se toca. Vejo isso constantemente. E olho a gostosa, claro.
O número desses zumbis que andam sem olhar ao redor é tanto maior quanto maior o que hoje se chama "desenvolvimento" tecnológico de um país. Se no Brasil já temos tropas e mais tropas deles, imagine, então, na China.
Tanto que na cidade chinesa de Chongqing, as calçadas de suas ruas da região central oferecem opções de percurso para os pedestres, que podem optar por andar em uma faixa normal ou em uma faixa exclusiva para quem está usando seu celular.
É a Jumentovia! É a faixa exclusiva de burrestres!
A jumentovia, segundo Nong Cheng, responsável pelo marketing da área central de Chongqing, baseia-se nos resultados de um experimento conduzido pela National Geographic, no começo desse ano, em Washington DC (EUA), em parceria com a Universidade de Washington.
De acordo com a Universidade de Washington, um em cada três americanos está ocupado com um smartphone ou outro tipo de dispositivo enquanto atravessa a rua em cruzamentos perigosos. Além disso, o departamento de transportes dos EUA recentemente estabeleceu uma conexão entre a quantidade de atropelamentos e mortes de pedestres e o uso de smartphones.
Ou seja, a jumentovia é feita para evitar atropelamento de animais silvestres, se bem que com o chinês isso não é grave problema, pois não estão ameaçados de extinção. Eu já acho que tinha que deixar atropelar e matar todos os jumentos digitais, de todos os lugares do planeta, seria uma espécie de seleção natural. Seria um enorme ganho para o pool gênico da espécie humana, para os poucos que restassem.
Por acaso, faixa preferencial para proteção do idoso, tem? Para cadeirantes, muletantes, bengalantes, claudicantes e deficientes físicos em geral, tem? Porra nenhuma que tem. Mas tem para dar conforto e segurança ao idiota digital.
E por que tanta proteção ao idiota? É simples. É idiota que sacia a fome da pantagruélica - e já com sinais de obesidade mórbida - economia mundial. O idiota é a bateria que fornece energia e sustento à Matrix.
Mas o próprio Nong Cheng, o "genial" idealizador da jumentovia, mostra-se decepcionado com os resultados da revolucionária inovação de urbanismo e engenharia de tráfego. Até agora, a jumentovia não tem feito muito sucesso entre os jegues digitais, não tem recebido grandes adesões por parte deles.
Adivinhem por quê? Óbvio : os jumentos digitais nem percebem que a jumentovia existe.
"Quem está usando smartphones não usou a faixa exclusiva na calçada. Eles nem notaram que ela existia!", disse Nong.
Pããããããta que o pariu!!!

domingo, 14 de setembro de 2014

A Tristeza do Camaleão Albino

Perdi as minhas reais habilidades
Ou apenas o gosto pelas cores?
(Que nada mais são que ilusões
Que mentiras pregadas pela luz).

Uma bala de kryptonita
Atingiu-me mesmo o peito
Ou apenas desisti da capa
Da máscara
Do fingimento?

Todo Castigo Pra Corno é Pouco

Ele não consta do, mas deveria. O corno, do Dicionário do Folclore Brasileiro, do Câmara Cascudo.
O corno é a figura folclórica mais representativa do Brasil, por sua abrangência, por seu caráter democrático e irrestrito.
Ao contrário dos outros entes de nosso esquecido imaginário popular, o corno não se limita a essa ou a aquela região, como, a exemplos, o Boi-Tatá, da região Norte, ou o Negrinho do Pastoreio, dos pampas gaúchos. O corno pulula por todo o território nacional.
E também não necessita de condições especiais e cabalísticas, não tem que fazer lua cheia para o corno aparecer, não tem que ser o sétimo filho homem nascido em ninhada de seis filhas mulheres, nada disso. Seja dia ou noite, faça sol ou chuva, frio ou calor, seja nos cerrados capoeirões e brenhas ou nos grandes centros urbanos, o corno está lá. E ele pode inclusive ser você. E geralmente o é.
O corno é patrimônio cultural da nação de Pindorama! Tombado como patrimônio cultural imaterial, ele deveria ser. De nossa pobre cultura tupiniquim, uma de suas mais fortes expressões, a música. Da música, o seu sumo alicerce, o corno. 98,2% do nosso cancioneiro popular é fundeado no corno. 
E não há distinção ou predileção por esse ou por aquele gênero musical. Do sertanejo ao samba, do rock à bossa nova, do brega ao cult : todo mundo já foi corno, e cantou sua ode ao chifre. De Amado Batista a Cazuza, de Lupicínio Rodrigues a Reginaldo Rossi, de Tom Jobim a Chitãozinho & Xororó, de Ângela Rô Rô a Tiririca, de Waldick Soriano a Renato Russo, de Roberto Carlos a Alípio Martins, de Fábio Jr. a Sidney Magal etc etc.
Até Chico Buarque, pasme corno amigo, já foi corno! Mais que conformar-se - qualidade inata a todo corno -, rejubile-se, corno amigo : sim, já teve mulher que botou galhada em Chico Buarque. Por que você, então, estaria imune ao chapéu de touro? Não está. Ninguém está. E nem adianta querer evitar, ficar com receio de ser corno, que chifre é feito assombração, geralmente aparece para quem mais tem medo.
Há tempos que pretendia inaugurar essa nova seção no blog, Todo Castigo Pra Corno é Pouco, mas fui protelando, protelando, e hoje, enfim, ela saiu.
Optei por inaugurá-la com um verdadeiro clássico da cornagem moderna, a canção Deslizes, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, eternizada na voz de Raimundo Fagner. E há uma explicação para a escolha : inicialmente, odiei Deslizes, e fiquei puto da vida com Fagner por tê-la gravado.
Fagner estourara no cenário nacional com a belíssima Noturno - o aço dos meus olhos e o fel das minhas palavras -, amigo e conterrâneo dos poetas Belchior, Ednardo e Ricardo Bezerra, musicara poemas de Florbela Espanca, Fernando Pessoa e Cecília Meireles, cantara com ninguém mais ninguém menos que Mercedes Sosa.
Que porra era aquela agora? Gravar os reis do pop brega Sullivan e Massadas, que, entre outras desqualidades, eram os fornecedores dos maiores sucessos da Xuxa?
E que merda era aquela de "e é só assim que eu perdoo os teus deslizes"?, que merda era aquela de que levar chifre era "assim o nosso jeito de viver"?
Troquei de mal com Fagner. Passei anos sem ouvi-lo.
O ano era 1986 ou 1987, eu com meus poucos e inexperientes 18 ou 19 anos, tímido que sempre fui, sem nada conhecer das artes e artimanhas e, principalmente, dos ardis e arapucas do amor. Sem conhecimento de causa, fui por demais severo em meu julgamento para com Fagner. Com os anos, fui perdendo minha timidez - na verdade, aprendendo a contorná-la. Vieram os amores, as bucetas e os chifres.
Aí, já se ia o ano de 2000, eu morando sozinho, em uma cidade estranha, um sabadão solitário, a meio caminho de matar a segunda garrafa de vinho Canção, rádio ligado na madrugada e o disc-jockey mandou lá Deslizes. Aí, a ficha caiu. Aí, o entendimento do clássico se me deu.
"Não sei por que insisto tanto em te querer...", porque o querer não é racional, é, muitas vezes, patológico, porque o amor não é coisa de mentes sãs, é mesmo brega e ridículo. "Pois aprendi que o meu silêncio vale mais, e desse jeito eu vou trazer você pra mim, e como prêmio eu recebo o teu abraço...", porque, como diz o genial Falcão (aliás, autor da música cujo título deu nome a essa nova seção do blog), é melhor comer doce de leite com os amigos do que uma lata de bosta sozinho.
Aumentei o volume do rádio, dei mais uma boa talagada no Canção, pus meu boné de viking, e, pelado que estava, saí pelo apartamento a cantarolar Deslizes. Fiz as pazes com Fagner.
E quanto a Deslizes, antes eu mudava de estação quando ela tocava. Hoje, a depender do dia e, sobremaneira, do grau etílico no sangue - em outros braços tu resolves tuas crises, em outras bocas não consigo te esquecer -, eu até choro.
E você, corno amigo, também não chora?
Deslizes
(Michael Sullivan/Paulo Massadas)
Não sei por que
Insisto tanto em te querer
Se você sempre faz de mim o que bem quer
Se ao teu lado sei tão pouco de você
É pelos outros que eu sei quem você é

Eu sei de tudo com quem andas
Aonde vais
Mas eu disfarço o meu ciúme
Mesmo assim
Pois aprendi que o meu silêncio vale mais
E desse jeito eu vou trazer você pra mim

E como prêmio eu recebo o teu abraço
Subornando o meu desejo tão antigo
E fecho os olhos para todos
Os teus passos
Me enganando, só assim somos amigos

Por quantas vezes me dá raiva te querer
Em concordar com tudo o que você me faz
Já fiz de tudo pra tentar te esquecer
Falta coragem para dizer que nunca mais

Nós somos cúmplices, nós dois
Somos culpados
No mesmo instante em que teu corpo
Toca o meu
Já não existe nem o certo nem errado
Só o amor que por encanto aconteceu

E é só assim que eu perdoo os teus deslizes
E é assim o nosso jeito de viver
Em outros braços tu resolves tuas crises
Em outras bocas não consigo te esquecer

sábado, 13 de setembro de 2014

Padre Recebe Ameaças do Demo por SMS

Oficial de Justiça dos Céus e a portar ordem de despejo assinada pelo próprio Todo-Poderoso, o padre polonês Marian Rajchel bem que tentou desalojar o capeta das carnes tenras e das entranhas suculentas e pulsantes de uma jovem adolescente. Mas falhou. Não conseguiu executar a reintegração de posse da adolescente ao rebanho do Senhor.
Não bastasse a derrota vexaminosa do Bem para o Mal, o capeta resolveu ir à forra contra o padre Marian, resolveu retaliar, infernizar (literalmente) a vida do padre que quis acabar com o seu bem-bom.
E de que maneira? Possuindo também o corpo do padre? Fazendo o reverendo girar o pescoço em 360º e golfar gêiseres de vômito feito a menina do exorcista? Dando uma de íncubo e enfiando o dedo no cu do padre? Fantasiando-se de polteirgeist e fazendo voar pela nave da igreja todos os objetos sagrados do altar, o ostensório, o turíbilo, a caldeirinha e o aspersório, o cálice e as galhetas?
Nada disso. Deixe de preconceitos e de estereótipos, herege retrógrado e reacionário que me lê, que tudo isso é coisa do demônio da Idade Média. É coisa de capeta politicamente incorreto.
Saiba que o capeta é um sujeito antenado ao seu tempo. Conectado às últimas inovações tecnológicas - muitas, tenho certeza, criadas sob sua inspiração.
O demônio está a importunar e a ameaçar o padre Marian via celular. Através de mensagens de texto, os famosos SMSs, que envia ao celular do vigário.O demo está a torpedear o conterrâneo de João Paulo II.
O padre conta que seus problemas começaram depois do mal fadado exorcismo da jovem de sua comunidade. O padre reconhece que ela não está liberta e precisa de ajuda. Padre Marian tem sido veemente ao afirmar :“O autor destes textos é um espírito maligno que possuiu a alma dela. Muitas vezes os donos de celulares nem sabem que eles estão sendo usados dessa forma, mas neste caso não há dúvidas. O demônio está adaptado às novas tecnologias e utilizam os seres humanos para encaminharem as mensagens."
Um dos recados do demo ao padre : “Cale-se, pregador. Você não pode salvar a si mesmo. Idiota. Você é um padre patético e velho."
Outro : “Ela não vai sair deste inferno. Ela é minha. Qualquer pessoa que rezar por ela vai morrer." 
Ora, padre Marian, deixemos de coisa e cuidemos da vida. Jogue fora essa bosta de celular e caso encerrado. Para que um padre precisa de celular? Para cutucar Deus no Facebook? Para receber um WhatsApp do Senhor com as novas do Paraíso? Para marcar uma ponta com um coroinha? Ou marque as mensagens do capiroto como Spam e pronto, exorcismo virtual realizado.
Ora, padre, vá mentir pras sua negas, vá entoar suas cantilenas lá pras suas beatas!
Cuidado, padre Marian Rajchel, creio que bem pode ser o Cramulhão pirocudo de Vancouver (ver duas postagens abaixo) a lhe ameçar. O senhor vai ver, quando receber uma foto dele pelo instagram.

Laranja Mecânica

Antes
Por através de minha grades
Olhava a cidade escura
De prédios e janelas iluminadas
Bioluminescentes.
Apertava-me o peito
Não poder me esgueirar por suas ruas
Não poder me equilibrar
Voar bêbado por seus abismos
Por suas fossas abissais.

Hoje
Ainda olho
Quando me lembro 
A cidade que já esqueceu meu nome
E as grades
Continuam ali
Mas tão somente por preguiça
De que alguém as remova.
Hoje
As grades continuam ali
Mas nem se fazem mais necessárias.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(25)

É Tom. É Chico. É a primeira parceria dos dois, de 1968. É Retrato em Branco e Preto. É Tom & Chico em sua forma mais pura e destilada, on the rocks. É fossa das mais profundas. Das mais clássicas. Dessas a maltratar o meu coração. Dessas que eu teimo em colecionar.
Retrato em Branco e Preto
(Tom Jobim/Chico Buarque)
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Satã Dotadão Choca Canadenses

No Brasil, afirmam, cabeça vazia é oficina do capeta. No Canadá, pedestal vazio em praça pública é altar para estátua do capeta.
Moradores de Grandview-Woodlands, um bairro de Vancouver, ao passarem por uma pequena praça da região, a caminho de seus trabalhos e de suas escolas, depararam com uma inusitada estátua a ocupar um pedestal que estava vazio há dez anos, desde que a estátua de Cristóvão Colombo que o ocupava foi transferida para outro logradouro.
Uma estátua de Satã, o capetão-mor dos quintos dos infernos. De pau duro. Isso mesmo. Na estátua, de autor até então desconhecido, Satã é retratado com uma senhora duma benga, e duríssima. Uma ereção dos infernos.
Como não podia deixar de ser, a notícia do capeta pirocudo atraiu curiosos para o local, que aproveitaram para tirar fotos ao lado da jeba envergada do capiroto e postarem nas redes sociais.
Porém, o que é alegria e diversão para uns, pode bem ser motivo de consternação e ofensa para outros. Moradores do bairro, incomodados com o capeta long dong, reclamaram aos órgãos competentes e a estátua do Coisa Ruim dotadão foi removida por funcionários da prefeitura.
"A estátua não é uma obra de arte autorizada e, consequentemente, foi removida", disse Sara Couper, porta-voz da Prefeitura.
Assisti a um vídeo em que várias pessoas registram suas queixas contra o demônio pé-de-mesa. O áudio do vídeo, contudo, é em inglês, sem legendas, e eu não entendo patavina do idioma bretão. Mas pelo pouco que consegui captar - mais deduzir que realmente entender -, pareceu-me que o nó da questão nem é o capeta em si, a ofensa sentida pelas pessoas não me pareceu ser de cunho religioso, uma afronta às suas fés ou coisa do gênero. 
Nada disso. O queixume principal, a injúria maior, é o cacete em riste do capeta. O problema é o pinto gigante e empinado a exalar enxofre. Deve ter parte com o jumento, o capeta da estátua.
Pudera... Em tempos de politicamente correto e de uma humanidade cada vez mais insossa, asséptica, depilada e broxa, nada ofende mais que a primal virilidade. É a ira da frustração de quem não tem o próprio pau ereto.
Mas está certíssimo, o oculto autor da obra : o capeta tem que ser retratado de pau duro mesmo, ameaçador. Que pau pequeno e mole é coisa para anjinhos barrocos, santos e cristos seminus crucificados.
Alguém tem que impor respeito, alguém tem que fazer o papel de macho na eterna peleja cósmica do Bem x Mal. Alguém tem que chegar e bater o pau na mesa. Que seja, então, o capeta de Vancouver, o Kid Bengala das profundas.
Abaixo, a remoção da estátua do chifrudo; e um funcionário da prefeitura, vestido ao estilo Village People, prestes a encher a mão na benga do capeta, ansioso para tal, inclusive.
Tô fora! Sai, capeta !!!!                    

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Dilma Rousseff, Tão Semiletrada Quanto Lula (Ou : Diga-me Quem Te Governa e Te Direi Quem Tu És)

Não tenho carro. Não dirijo nada que tenha motor. Não tenho nem mesmo carteira de habilitação. 
Todos meus deslocamentos - ao trabalho, ao supermercado, à biblioteca, à casa de familiares e amigos, faço-os a pé. E dada a falta de educação do brasileiro em relação à destinação do lixo que produz, encontro de tudo jogado pelas ruas. Até dinheiro, às vezes, eu acho, coisa pouca, um real, dois reais, cinco reais já é acertar na mega-sena das calçadas e das sarjetas.
Ontem, achei lixo útil. Em meio a inúmeros formulários, talões de recibos, blocos de segundas vias e outros descartes de escritório, estavam lá um minidicionário Aurélio em perfeitas condições - até encapado com papel contact -, o livro Medicina Alternativa de A a Z - um compêndio de receitas caseiras à base de frutas, legumes e verduras que promete a cura para todos os males, de abcesso a zumbido no ouvido, passando por calo, diarreia, hemorroida e impotência, todas as ziquiziras que afligem à inviável espécie humana organizadas em na forma de verbetes, um Aurélio das moléstias - e uma revista Veja velha, de março deste ano.
Peguei e enfiei na minha bolsa a tiracolo - estilo carteiro - até a revista Veja, afinal, na seção Gente sempre tem a foto de alguma gostosa em trajes sumários.
Mas encontrei coisa melhor nas páginas da Veja. Uma reportagem sobre a participação da presidente Dilma Rousseff a nos representar na VII  Cúpula Brasil-Europa, realizada em fevereiro do ano corrente. Como disse, é notícia velha, mas os fatos e os contextos são atualíssimos, eternos no Brasil.
A reportagem destaca algumas falas de Dilma quando de sua vez ao púlpito e revela que ela é tão iletrada quanto seu antecessor, o companheiro metalúrgico Lula. Que Dilma Rousseff, não obstante ser filha de engenheiro e de professora e ter frequentado as melhores escolas (estudou no Colégio Sion, de Belo Horizonte, e cursou Faculdade de Ciências Econômicas na UFMG), é tão incompetente para o cargo que ocupa quanto o filho de retirantes nordestinos que conseguiu se formar em tornearia mecânica. Talvez até mais incompetente, vistas as chances que teve de ser muito melhor que Lula.
A seguir, alguns trechos do discurso de Dilma Rousseff, a mostrar que nossa elite também é desaculturada, ignorante, semianalfabeta, incapaz de concatenar o mais rudimentar raciocínio, sem nenhum estofo, menos ainda eloquência. É mesmo o velho ditado, por mim aqui adaptado : Diga-me quem te governa e te direi quem tu és.
"A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia."
Que joia rara do pensamento!!! A Zona Franca está numa região (sério?), ela é o centro dela (o centro dela mesma ou da tal região?) e, finalmente, alça Manaus à capital de toda a Amazônia, e não apenas do estado do Amazonas. As freiras do Colégio Sion devem ter ficado muito tristes, Presidenta.
"Ela [Zona Franca] evita o desmatamento, que é altamente lucrativo - derrubar árvores plantadas pela natureza é altamente lucrativo."
Ler Maquiavel e Robespierre para quê? Quem tem Dilma, tem tudo. A Zona Franca, para ser construída, desmatou um porrilhão de hectares. Ou será que suas indústrias estão instaladas harmoniosamente no seio da floresta por entre castanheiras, seringueiras, cedros, mognos, palmeiras e vitórias-régias? Ou será que seus trabalhadores, à hora do almoço, devoram suas quentinhas em companhia luxuosa de araras, tucanos e macacos-prego? E a grande Manaus que cresceu à volta da Zona Fanca, o fez sem derrubar uma única moita ou ninho? Manaus é um Éden equatorial? Árvores plantadas pela natureza? As freiras do Colégio Sion, de novo, devem estar muito tristes, Presidenta. Elas nunca lhe ensinaram que é Deus quem planta as arvorezinhas?
"Os homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir da humanidade a virtude, porque ela não é virtuosa, mas alguns homens e mulheres são, e por isso é que as instituições têm que ser virtuosas."
Que virtuose do pensamento, a nossa Presidenta.
"Queria destacar a importância da ligação entre Brasil e a Europa por cabos de fibra óptica submarinos. A ligação com a Europa significa uma diversificação das conexões que o Brasil tem com o resto do mundo."
Essa, eu passo!
"Nós consideramos como estratégica essa relação, até por isso fizemos essa parceria estratégica."
Isso é que uma estrategista de primeira. Morram de inveja, Alexandre, o Grande, Júlio César, Aníbal, Napoleão, Franklin Rooselvet, Winston Churcill e Charles de Gaulle.
Fatos como este mostram algo muito pior que o despreparo de nossos líderes políticos, muito pior que as suas crassas e evidentes incompetências : revela o descaso de nossos governantes para com a nação que representam.
Descaso, sim. Do mais absoluto. Dilma Rousseff não foi pega de surpresa sobre os assuntos debatidos na Cúpula Brasil-Europa. A pauta a ser tratada é conhecida previamente por todos os participantes, aliás, com muita antecedência. Dilma e seus assessores, simplesmente, não fizeram a lição de casa. Por não a acharem necessária. Por desfaçatez.
A pobre professorinha brasileira, que dependendo da região em que (sobre)vive, não chega a ganhar R$ 1000,00 mensais, vai lá todos os dias e prepara a aula para seus alunos. Dilma Rousseff e seus assessores não se dignam em preparar discursos que falam por uma nação inteira. É pra representar o Brasil mesmo, aquele povinho, vai de qualquer jeito, do jeito que sair tá bom, devem pensar Dilma e seus assessores.
A reportagem, escrita por Duda Teixeira, e com o inspiradíssimo título de "O Samba da Diplomacia Doida", traz ainda algumas pérola lulianas, algumas gotas de sabedoria do mestre : absurdos históricos (Napoleão visitou a China), geográficos (o Oceano Atlântico separa o Brasil dos Estados Unidos), físicos (a poluição do ar daqui decorre do fato de a Terra ser redonda e, ao girar, o Brasil passar na atmosfera dos países poluidores), tudo investido do mais alto tom professoral.
Frente ao mestre, Dilma Rousseff é uma incipiente normalista, não tem os dons naturais de Lula, mas tem se mostrado esforçada e aplicada aluna em agradar a seu preceptor.
Marina Silva será muito diferente? Duvido muito.
E, depois, querem malhar o Tiririca, querem enxovalhar o palhaço. Quiseram impedi-lo de assumir o cargo, para o qual foi eleito por um milhão e meio de eleitores, sob a alegação de que o abestado era analfabeto. Aí, o palhaço deveria ter se saído a la macaco Sócrates, do extinto e saudoso programa humorístico O Planeta dos Homens : "Ué?!?! Mas sou só eu? Cadê os outros?"
Por acaso, as supramencionadas declarações de nossos últimos presidentes da República revelam chefes de nação muito mais gabaritados que o abestado Tiririca? Não, claro que não. São de natureza muito similar.
Por isso, vou votar no Tiririca, de novo. E não tem nada de voto de protesto, não. Vou votar porque Tiririca é tão ruim ou tão bom quanto os nossos políticos consagrados. E diferente da maioria deles, é tão honesto e trabalhador quanto a carreira política permite que alguém seja.
Vou votar em Tiririca porque ele foi indicado, na sétima edição do Prêmio Congresso em Foco (2012), como um dos 25 melhores deputados do ano pelos jornalistas que cobrem o Congresso. 
Tiririca - e aqui não há nenhuma ironia de minha parte, há um grande lamento, sim, mas ironia, não - é o que temos de melhor na política; o pior é que o Tiririca é o que temos de melhor. É um dos mais assíduos da Câmara, comparece regularmente e, ao seu jeito, cumpre direitinho o seu papel. Tiririca, ao menos, faz a lição de casa. Toda em garranchos e garatujas, mas faz.
Já Dilma e seus assessores muito me lembram outro personagem de nosso humor, o Rolando Lero, da Escolinha do Professor Raimundo, interpretado pelo saudoso Rogério Cardoso sob a igualmente saudosa batuta de Chico Anysio.