domingo, 29 de maio de 2022

Cavalão Escoiceia Sapo Barbudo Também em São Paulo

Mais um cruzado da Direita no queixo do Sapo Barbudo!!!
Na semana passada, a bordoada veio do Rio Grande do Sul. Nesta, a tunda veio do estado de São Paulo.
A mesma Paraná Pesquisas que, em 21 de maio, publicou uma pesquisa que daria a vitória para o Cavalão lá nos Pampas, publicou, ontem, 28 de maio, outro escrutínio de mesmo resultado, agora na terra dos Bandeirantes.
Foram consultados 1880 eleitores de 76 municípios do estado de São Paulo entre os dias 22 e 26 de maio. Num cenário estimulado, aquele em que é fornecida uma lista de potenciais candidatos ao entrevistado, Bolsonaro tem 39,1% das intenções de voto contra 35% do Seboso de Caetés; num cenário espontâneo, quando o entrevistado diz o nome que lhe vier à cabeça, Bolsonaro tem 24,3% contra os 20,1% de Lula. A pesquisa tem nível de confiança de 95% e margem de erro de 2,3 p.p., para mais ou para menos.

Curioso notar que o grande vencedor no cenário espontâneo, caso o pleito tivesse ocorrido na data da pesquisa, teria sido o "não sabe/ não respondeu", os famosos brancos e nulos, muito provavelmente. A pesquisa conta ainda com a presença do Doria Calcinha Apertada, por ter sido realizada antes da "renúncia" do desgraçado.
Infelizmente, o candidato em que depositarei pela terceira vez as minhas fichas no primeiro turno, Ciro Gomes, aparece com chances ainda menores que nos dois pleitos anteriores, o de 2014 e o de 2018. E a nova queridinha pré-fabricada dos moderados, Simone Tebet, surge com quase nem 1% dos votos.

A Urna Eletrônica de Pandora, ou da Simone Tebet

Nunca acreditei que homem tem que votar em homem, simplesmente, porque o candidato é homem; que gay tem que votar em gay, simplesmente, porque o candidato é gay; que branco tem que votar em branco ou que preto tem que votar em preto, simplesmente, porque os candidatos são, respectivamente, branco ou preto; e, claro, que mulher tem que votar em mulher, tão-somente, porque a candidata é mulher.
Acredito que não devemos votar em gênero, orientação sexual ou etnia. Devemos votar, ou deveríamos, pelo menos, em plataformas de governo, em propostas. Em competências e méritos; palavras que, de umas décadas para cá, viraram ofensas no Brasil, no Brasil da esquerda, das vitiminhas, dos excluídos.
Simone Tebet, a nova tentativa de uma terceira via, a pretendente ao cargo da nova "namoradinha" do Brasil, já chega se apoiando nessa falácia. Já chega dizendo que mulher tem que votar em mulher, e ponto. E foda-se se a mulher em questão tem as competências e qualificações para o cargo a que se candidata. Já "votamos" em Dilma Rousseff por isso, e bem vimos ao que fomos levados.
Confirmada como pré-candidata à Presidência pelo MDB, a senadora Simone Tebet (MS) já chegou intimando as portadoras de xavascas a depositarem os seus votos em sua boceta eletrônica de Pandora.
"– Quando eu entrei na vida pública, havia uma dificuldade de mulher votar em mulher. Mulher que tem protagonismo acaba empoderando outra mulher. Hoje, eu posso dizer: mulher vota em mulher" – declarou.
Buceta vota em buceta!!!, bem poderia ser o lema da campanha de Tebet, caso ela tivesse a coragem de assumir a hipocrisia.
E que fascismo é esse de que mulher vota em mulher? Meu voto, minhas regras!!!; bem poderiam dizer as suvacudas, muxibentas e empoderadas. Mulher vota em quem ela quiser!
Simone Tebet é jeitosinha, carnudinha - gosto das carnudinhas -, e parece ter belos peitos balouçantes - também muito aprecio belos peitos balouçantes. Em muito me apeteceria depositar meu voto, minha ereta cédula, em sua urna indevassável. Tenho certeza de que tépida e acolhedora.
Mas para Presidanta da República? E ainda com base apenas nesse plano de governo, o de que é mulher? 
Como, mas tô fora. Como, mas nem ligo no dia seguinte. 

Cerveja-Feira (53)

Cerveja-feira em pleno domingão? Estás bêbado, Azarão?, muitos poderão supor e maledizer.
Primeiro que, com a definitiva extinção da minha profissão -  decretada pelo Novo Ensino Médio e pelo novo plano de carreira do professor impetrado pelo Doria Calcinha Apertada - , com a depressão mais aguda e insistente pela qual já passei (ainda estou passando) - que chega a me fazer quase pensar em ir a um psiquiatra e pedir uns tarjas pretas - e com a insônia que há quase duas semanas não me larga, para mim, todos os dias são iguais, segunda, quinta, terça, todos são igualmente miseráveis. Segundo que essa bagaça de blog é meu e eu publico no dia em que eu quiser.
Essa cerveja-feira surgiu em resposta a um comentário do Jotabê numa outra cerveja-feira : "Não sei se você chegou a pegar essa esquisitice (provavelmente não): as cervejarias engarrafavam suas cervejas indistintamente em garrafas de vidro marrom ou de vidro verde. Não sei era frescura de pinguço ou se a cor da garrafa realmente alterava o “buquê” da bebida. O que sei é que os apreciadores da breja só pediam “casco escuro”. Com isso, não passou muito tempo para que as bramosas da vida só fossem engarrafadas em garrafas de vidro marrom (Casco escuro). Hoje, a gourmetização das cervejas parece ter levado os fabricantes a utilizar ampolas de qualquer cor, mas imagino que os cervejeiros raiz talvez não aprovem essas modernidades".
Pois bem, Jotabê, não era frescura de pinguço, não. Os bebedores das antigas é que sabiam das coisas.
Vamos lá:
Antes, muito antes, do advento, e por que não dizer?, da hecatombe das cervejas gourmets, o máximo do refinamento permitido (e necessário) era exigir que sua loira gelada viesse acondicionada em garrafa de cor escura, marrom. Era a famosa Brahma casco escuro, o santo graal de todo bebum das antigas. Vasilhame pujante que, como não poderia deixar de ser, uma vez que estamos no Brasil, adquiriu também conotações fálicas e sexuais. O gênio do humor Costinha era um que lançava mão de tal metáfora sempre que contava uma piada em que havia um negão bem-dotado e abençoado por Deus.
Frescura de macho das antigas, exigir o casco escuro em detrimento do verde, ou do transparente? Porra nenhuma! Que macho das antigas não tem frescura. A exigência da velha guarda, ainda que ela não soubesse o motivo, mais que procedia, mais que se justificava. E se justifica até hoje.
Assim como o seu portador, o Anjo Lúcifer, a Luz traz imiscuídos em si o bálsamo e o ácido sulfúrico. A mesma luz que realça e potencializa as cores de uma fotografia, de uma tela, ou da decoração das fachadas e das paredes de prédios e residências, com o tempo, desbota-as, desintegra os seus pigmentos, destrói as suas almas. A mesma luz que permite a fotossíntese, processo responsável pela manutenção da vida no planeta, com o tempo, promove a destruição das células, o envelhecimento precoce dos tecidos, as mutações e os tumores.
Essa cruel, irônica e inescapável dualidade, que só pode mesmo ser obra de algum deus, não poupa nada nem ninguém. Abate-se sobre tudo e sobre todos. Flagela até a sacrossanta e ungida cerveja.
A mesma luz que permite que o lúpulo cresça, viceje e floresça também oxida e degrada os alfa-ácidos que lhe conferem o saboroso amargor, em especial a lupulina. A oxidação (reação com o oxigênio catalisada pela luz) dos alfa-ácidos gera o indesejável isohumulone, que produzirá um amargor impalatável e também num odor meio podre na cerveja. A essa combinação mefítica de gosto e odor  dá-se o nome de "skunky", gambá em inglês. Ou seja, tomar uma cerveja que sofreu oxidação é feito lamber um sovaco de gambá.
Por isso, a exigência do casco escuro pelos cervejeiros das antigas. A coloração âmbar do vidro é o melhor filtro que há para barrar a radiação UV nociva da luz, garantindo, dessa forma, a integridade dos bons alfa-ácidos do lúpulo e o bom entornar. Garrafas verdes ou transparentes não são capazes de bloquear grande parte da luz, o que sujeita seus conteúdos à degradação e ao skunky.
Como, então, algumas marcas mundialmente famosas e consagradas embalam suas cervejas em cascos mais claros, feito o verde da holandesa Heineken (uma das mais incensadas pelos inteligentinhos e cults) e o transparente da mexicana Corona?
Isso eu não sabia. Fui me informar, pois.
Segundo sites especializados, o uso da garrafa verde pela fabricante da Heineken é feito propositalmente para que a cerveja sofra uma espécie de "oxidação calculada", para que seja estragada, degradada em uma certa escala. A Heineken, pelo que pude entender, não se utiliza de lúpulos especiais nem os coloca em quantidades maiores do que as suas concorrentes de nicho para obter o seu amargor característico, que agrada a tantos - a mim, nunca enganou. Ela usa lúpulos comuns, em teores normais, põe na garrafa verde e deixa que a luz adicione um amargo a mais com a oxidação da lupulina, que adicione um skunky na cerveja. Ou seja, o boçal, o pernóstico que só toma Heineken e se jacta disso aos quatro ventos, na verdade, está a tomar cerveja estragada, está a dar beijo grego em cu de gambá. E a pagar mais caro por isso.
No caso da mexicana Corona, segundo os mesmos sites especializados, o envasamento em garrafa transparente só se faz possível porque a cervejaria se vale de uma cepa especial de lúpulo, criada em laboratório, geneticamente modificada, e que carrega em si um lúpulo não fotossensível. Lúpulo geneticamente modificado? No México? Eu acreditaria muito mais se me dissessem que o tal lúpulo imune à luz fora ofertado ao povo mexicano pelo deus asteca Tezcatlipoca.
Tenho, porém, um velho amigo que trabalhou como químico de uma cervejaria nacional de certo renome até meados da década de 2010, tendo se aposentado em 2015, 2016. Achei o número de seu telefone fixo numa velha agenda, torci para que ainda fosse o mesmo, bati um fio pra ele e ele atendeu.
Cumprimentamo-nos etc e blá-blá-blá e coloquei-lhe a questão. Disse-me que não chegava a duvidar do que eu lera sobre a Heineken e a Corona, mas que também não descartava que tudo fosse estratégia de marketing, que fossem aquelas histórias inventadas e espalhadas para alimentar a mística das marcas.
Disse-me que afirmar, de fato, só podia me afirmar a respeito do que vivera e conhecera durante os seus anos como químico cervejeiro, e que o procedimento padrão no caso das cervejas envasadas em cascos claros é, simplesmente, adicionar-lhes altas cargas de substâncias antioxidantes.
Aparentemente paradoxal, substâncias antioxidantes são moléculas que se oxidam facilmente, que apresentam alta afinidade pelo oxigênio. E é justamente isso que lhes confere o papel protetor que exercem sobre os produtos que se quer conservar, no caso os alfa-ácidos do lúpulo. O antioxidante vai catando tudo quanto é molécula de oxigênio que vê pela frente, antes que elas estraguem o lúpulo. O antioxidante é o guarda-costas que entra na linha de tiro do oxigênio e da luz. Uma espécie de boi de piranha químico. As moléculas de oxigênio o vão devorando enquanto o lúpulo passa incólume. Uma espécie de protetor solar.
Assim, no mais das vezes, garantiu-me, o que as cervejarias fazem é lambrecar a cerveja com algum Sundown e pronto, estão prontas para serem envasadas em garrafas de qualquer cor. Os antioxidantes usados, polifenóis, na maioria das vezes, para não alterar as propriedades da cerveja, detêm os 3I da água, são insípidos, inodoros e incolores. Inofensivos à saúde?, perguntei-lhe.
Vai saber... ele me respondeu.
Disse-me também o óbvio, que ainda não havia me ocorrido : na dúvida, tome a cerveja em lata, embalagem que, totalmente impenetrável à luz, não requer que seu conteúdo esteja recheado de antioxidantes.
Como há tempos não nos falávamos, a conversa ainda durou mais um tempo e derivou para outros assuntos. Tanto que marcamos para tomar uma gelada daqui a dois fins de semana.
De casco escuro, exigi.
Ei-lo, Lírio Mário da Costa, o afamado e infame Costinha, a desossar o peru e a tomar a sua Brahma casco escuro.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Vindo dos Pampas

A Paraná Pesquisas fez o escrutínio entre os dias 15 e 20 de maio, e ouviu 1.540 eleitores gaúchos de 62 cidades diferentes, todos acima de 16 anos de idade. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o código BR-03824/2022 e publicada no sábado, 21/05/2022. O índice de confiança é de 95%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Tanto na pesquisa estimulada (1º gráfico), quando são apresentados os nomes dos prováveis candidatos aos pesquisados, como na espontânea (2º quadro), quando nenhuma opção é apresentada, o Cavalão mói a coices o Sapo Barbudo.
Quando  eu ando assim meio down, vou pra Porto e bah!, trilegal...

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Pode Ser Numa Canção, Pode Ser no Coração, Eu só Quero Ter Você Por Perto (18)

 "Vejo o tempo passar, o inverno chegar, só não vejo você".

De Cigarro em Cigarro
(Tereza Tinoco)

Vivo só sem você
Que não posso esquecer
Um momento sequer
Vivo pobre de amor
À espera de alguém
E esse alguém não me quer

Vejo o tempo passar
O inverno chegar
Só não vejo você
Se outro amor em meu quarto bater
Eu não vou atender

Outra noite esperei,
Outra noite sem fim
Aumentou meu sofrer
De cigarro em cigarro
Olhando a fumaça no ar se perder
Vivo só sem você
Que não posso esquecer
Um momento sequer
Vivo pobre de amor
À espera de alguém
E esse alguém não me quer

Vejo o tempo passar
O inverno chegar
Só não vejo você
Se outro amor em meu quarto bater
Eu não vou atender

Outra noite esperei
Outra noite sem fim
Aumentou meu sofrer
De cigarro em cigarro
Olhando a fumaça no ar se perder

Vivo só sem você
Que não posso esquecer
Um momento sequer
Vivo pobre de amor
À espera de alguém
E esse alguém não me quer

Vejo o tempo passar
O inverno chegar
Só não vejo você
Se outro amor em meu quarto bater
Eu não vou atender.
Para ouvir a canção, com o inigualável Ney Matogrosso, é só clicar aqui, no meu incandescente MARRETÃO.

Cerveja-Feira (52)

De vez em quando, quando tenho o fundamental e imprescindível, porém, o cada vez mais raro tempo de ócio para me dedicar a atividades de que gosto - ler, ouvir música, assistir a longas-metragens -, mas que a fadiga, o stresse e as frustrações anteriores a ele me jogam num tal estado de prostração mental que me incapacita de usufrui-lo, costumo navegar pelo meu próprio blog, revisar e reviver textos, lamber a minha própria cria. Olhar para um texto escrito em 2009, 2010, 2015, é como olhar para uma velha fotografia em que estou mais jovem, vigoroso, melhor. É confrontar meu próprio retrato de Dorian Gray antes que o novo dia traga, de novo, a realidade inexorável do espelho plano. 
Ontem, vasculhando e espanando o pó das cinquenta e uma cervejas-feiras anteriores a esta, percebi que apenas em cinco delas há mulheres protagonistas : a apetitosa e fulgurante Scarlett Johansson, a bela, recatada (pero no mucho) e do lar Sandy, ex-Sandy & Junior e eterna Sandy-sim-é-possível-ter-prazer-anal, a chanceler Angela Merkel, a freira alemã Dóris Engelhard e a centenária estadunidense de 104 anos Mildred Bowers, que credita à cerveja grande parte de sua longevidade. 
É bem verdade que as mulheres aparecem em várias outras cervejas-feiras abrilhantando as postagens com seus belos corpos e tetas, mas como destaques apenas o quinteto citado.
Assim, para não correr o risco de ser chamado de machista, sexista e filho do Bolsonaro (embora, é verdade, eu adore uma rachadinha), o cerveja-feira de hoje traz e presta profunda reverência a duas bebedoras de cerveja das antigas. E bota das antigas nisso. Do tempo do teatro em preto e branco.
Hebe "gracinha" Camargo e Dercy "boca de esgoto" Gonçalves. Duas das grandes damas do teatro de revista, das chanchadas da Atlântida, do teatro, da música (quem não se lembra do clássico A Perereca da Vizinha?) e da teledramaturgia brasileira. Quiçá do cinema mudo.
A loiríssima Hebe Camargo sempre declarou publicamente o seu amor à santa bebida,  à qual ela chamava carinhosamente de loiruda. E tão assumida era a sua relação com a cerveja que ela não a escondia de ninguém. Antes pelo contrário, escancarava o seu gosto pessoal para o país inteiro. Em horário nobre e em rede nacional. 
Em seu programa semanal, gravado e transmitido ao vivo, quando lhe dava vontade, ou a sede assim exigia, Hebe convocava seu garçom e esse imediatamente ia ao seu encontro com uma ampola e um copo já servido de uma gelada em uma bandeja de prata. O garçom servia Hebe e ela dava uma senhora duma talagada na cerveja. Às vistas de todo o público presente no auditório e de milhões e mais milhões de telespectadores. Às vistas de toda a nação, o que não é exagero dizer, pois, na época, lá pelas décadas de 1980, 1990, só havia uma meia dúzia de canais de TV, e Globo e SBT, a emissora da Hebe, eram hegemônicas de fato.
Hoje em dia, Zeca Pagodinho, quando vai a um programa cantar, dar uma entrevista ou coisa que o valha, já é recebido com um copo de sua Brahma, e o público o ovaciona quando ele dá o seu golinho. Todos consideram a atitude do Zeca uma ousadia, uma transgressão, uma marca de sua autenticidade. Porra nenhuma!!!!
Hebe já fazia isso há 30, 40 anos!!! Hebe Camargo foi a precursora do pileque na TV!!!
E Hebe batia de cerveja de verdade. Mandava pro peito a Antarctica. A Antarctica original. Que não é essa Original de hoje em dia, já embichada e gourmetizada. Era a Antarctica que, talvez, hoje seja a chamada BOA, mas que, na época, a gente chamava de cerveja de pedreiro, mesmo. Cerveja das antigas.
Dercy Gonçalves era outra que também, segundo as más línguas que a rodeavam, não dispensava a sua cervejinha. Sempre que podia e não podia lá estava ela com o seu copinho na mão, nas coxias, nos bastidores e nos camarins dos teatros.
Tão notório e sincero era o amor das duas pela cerveja que a Antarctica as fez em estrelas de um de seus comerciais. Chamou-as para véias-propaganda de seu mais dileto produto.
Fico imaginando as duas pedindo ao garçom para trazer uma outra garrafa, para reabastecer-lhes o refil.
Hebe : - Garçom gracinha, traz mais uma loiruda pra gente!
Dercy : - Porra!!! Caralho!!! Buceta!!! Por que essa porra tá demorando tanto?!?!?

terça-feira, 17 de maio de 2022

domingo, 15 de maio de 2022

Naquela Mesa Tá Faltando Ele...

Depois de muitas idas e vindas, de muitos combinares e protelares, tratos e destratos, acertos e mijadas para trás, finalmente, depois de dois anos de pandemia da Peste Chinesa, os dois Papas da blogosfera ribeirão-pretana, eu, o Azarão, essa criatura abominável que vos fala, e o ex-estranho (pelo menos, ele pensa assim) GRF conseguimos nos encontrar para tomarmos as tão adiadas geladas e jogarmos conversa fora, que, nossas conversas, ninguém quer mesmo comprar.
O nefasto e apocalíptico encontro, como não poderia deixar de ser, se deu num buteco com cerveja boa e barata, o Bar e Restaurante da Pequena Eva. Ou, simplesmente, como é conhecido à boca miúda, O Bar da Eva. O "pequena" é pelo fato da dona, a Eva, ser uma anã. Ops, anã, não; pessoa com déficit de estatura, para sermos politicamente corretos e demonstrarmos empatia.
E o bar é só da Eva, mesmo. Não é o bar da Eva e Adão. Primeiro, para evitar maliciosos cacófatos, cacófatos de tiozão do churrasco; segundo, porque a Eva, hoje, é mulher empoderada, que não se rende aos encantos de qualquer cobra mole, emancipou-se de Adão. Conta-se até que Eva deu uma repaginada nas formas. Fez lipoaspiração, lipoescultura e tirou duas costelas para ficar com uma cinturinha de pilão. Uma das costelas, jogou na cara do Adão e falou : pronto, agora não te devo mais nada.
O Bar da Eva fica encravado no coração safenado do centro velho da cidade, na intersecção da rua Garibaldi com a São Sebastião. Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruzo a Garibaldi com a São Sebastião... 
E o melhor do bar da Eva é que nunca tem quase ninguém por lá. No máximo, mais uma ou duas mesas ocupadas. E nada de jovens acéfalos em algazarra, de música alta (nem música tem) : só caras da segunda e meia idade para cima. Sossegadíssimo. Mais sossegado que tomar cerveja em casa.
Marcado o encontro para as 19h30, cheguei pontualmente às 19h32. No caminho, já matei um latão de Lokal. GRF já estava lá; na dúvida de se encontraria o bar com as referências que lhe forneci, preferiu pegar um ônibus num horário mais cedo. Na espera, secara uma ampola de 600 ml de Subzero e se preparava para encarar um espetinho de gato.
A pequena Eva veio repor a ampola e eu optei que, daí em diante, iríamos de litrões de Brahma; um melhor custo-benefício.
Pusemos os assuntos da conversa no modo aleatório e o papo foi deslanchando. Falamos de escola (pra quem não sabe, GRF, lá em priscas eras, foi meu aluno no ensino médio; hoje à beira de se tornar um mestre em psicologia), de velhos conhecidos e professores, falou do seu trabalho de psicólogo em creches, presídios e fazendo atendimento a ricos desgostosos com a vida, falou de acidentes de trânsito, de um quase capotamento que sofreu e que só não ocorreu, acredita ele, porque um dos outros ocupantes do carro era um cara que pesava umas dez arrobas, o que estabilizou o veículo, falamos de política, filosofias e lutas (todas assumidamente perdidas), de música, de amores e ex-amores, falamos de pais, avós, filhos e gatos, desencavamos alguns defuntos, conhecidos em comum que já partiram desta pra melhor (ou não), fantasmas dançaram tango ao redor de nossa mesa, pusemos Nietzsche e Raul Seixas no mesmo balaio, idem com o Big Bang e o Gênesis, promovemos um crossover entre a Mafalda (Quino) e o Irmão do Jorel, relativizamos a verdade absoluta, e, claro, falamos mal de muita gente. E litrões atrás de litrões.
Noite de temperatura amena, cerveja boa e barata, conversa boa e de graça, bar quase vazio, reencontro com o GRF, mesa posta à calçada. 
Porém, naquela mesa tava faltando ele. 
O Jotabê, o ermitão do Blogson Crusoe. Cuja presença em muito acrescentaria e abrilhantaria o bate-papo, em muito nos deleitaria com as suas memórias, com os seus trocadilhos infames, com os seus "causos" do amigo (dele, que fique bem claro) Pintão. Quem sabe até não teríamos conseguido tirar dele a versão integral e sem cortes do já mitológico festival universitário de Ouro Preto?
Porém, não obstante ausente em corpo, Jotabê esteve presente em espírito, em memória. Muito conversamos sobre ele. Tanto que sua presença entre nós foi simbolicamente registrada na foto acima. Se ampliarmos a imagem, veremos, ao pé do litrão, a bebida preferida do Jotabê. O Toddynho.
Profundas discussões filosóficas a respeito de como Jotabê prefere saborear o seu Toddynho foram travadas entre mim e o GRF. Jotabê preferirá chupar um canudo ou tomar no copinho? Incapazes de chegarmos a um conclusão arrazoada sobre a predileção de Jotabê, democraticamente, oferecemo-lhe as duas possibilidades. Ele que escolha e ninguém tem nada a ver com isso. Essa é pra você, meu velho. E não é sacanagem, não. Teríamos gostado demais de termos contado com a sua presença.
Aliás, puta que o pariu, Jotabê!!! O toddynho tá o mesmo preço de uma puro malte!!! Não sabia que esse troço era gourmet!!!
O encontro me revelou uma faceta insuspeitada de GRF, a de imitador, a de pândego. Talvez por um respeito hierárquico (apesar dele ser fã confesso de Walden II) à minha posição de professor, GRF, até então, sempre fora muito sério e formal comigo. Até então... Extintas as hierarquias e alguns litrões goela abaixo, GRF mostrou-se um autêntico comediante de stand-up, embora estivéssemos sentados. Imitou o Lula, imitou muito bem, mas até aí, nada de mais, todo mundo sabe imitar aquela desgraça. Na sequência, foi conversando comigo como se fosse o Bolsonaro a tomar cerveja com um amigo. A melhor e mais hilária foi a do Moro. Igualzinho, igualzinho. Imitou até o Putin, e falando em russo. Ou numa língua que garantiu-me ser a russa e, como eu não entendo nada mesmo de russo, acreditei.
Sempre admirei essa coisa do imitador, do cara que pega e emula os timbres e os cacoetes da voz dos outros. Creio que é o que chamam de ter "ouvido", a mesma habilidade de um músico que reproduz uma música de ouvido, sem ter a cifra, ou da pessoa que tem facilidade em aprender um outro idioma. GRF fala português, espanhol, inglês e russo; modestamente, admitiu que o russo ele "só" fala, não escreve. Também manda bem no baixo e na guitarra, e tudo de forma autodidata. Quanto a mim, nem preciso dizer que meu ouvido só serve para me acordar de madrugada por causa de alarmes de carros ou de latidos de cachorro.
A agradável tertúlia se estendeu das 19h30 às, mais ou menos, 23h30, quase meia-noite. Quando a Eva, como de costume, sem nem perguntar, chega com a conta fechada e vai pondo os bebuns para correr.
Tá certíssima, a Eva. Alguém tem que manter a ordem no paraíso.
Conta e bar fechados, outra surpresa. Ao invés de chamar um uber já ali do bar, GRF resolveu me acompanhar em minha caminhada até minha casa e, de lá, chamar um uber. Só aí vi o quanto ele tava mamado! O quanto estava pra lá de Bagdá e Marrakesh. GRF cambaleava pelas calçadas, tropeçava no ar, um autêntico bêbado equilibrista. Geralmente, lá nos primórdios dos tempos, era eu que, após uma bebedeira com amigos, ficava daquele jeito, eu era o que dava "trabalho". Foi divertido ver outro em meu lugar.
GRF também mostrou um verdadeiro sobrevivente das ruas. Carregando seu livro de Nietzsche, a Gaia Ciência, GRF o levava com o dedão a pressionar a capa e os outros quatro dedos espalmados a segurá-lo pela contracapa. Entre os dedos e a contracapa, um canivetão aberto. Oriundo de regiões menos pacíficas da cidade, ele prefere não dar mole pro azar.
No caminho, passamos ainda pelo tradicionalíssimo Posto Triângulo e pegamos mais um latão de subzero pra cada um. Enfim, chegamos à porta do meu prédio. E quem disse que GRF conseguia chamar o tal do uber? Ainda que anárquico em tese, GRF teve que apelar para a família. Uma irmã veio socorrer-lhe e o levou para casa.
Eu, ainda, entornei mais um latão de subzero antes de me deitar.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Cerveja-Feira (51)

Se não com essas exatas palavras, mas certamente com o mesmo e castiço sentido, Anthony Bourdain disse certa vez : a obrigação de viver em um estado de felicidade constante é puro fascismo.
Como é possível que eu não me reconheça num sujeito desse? Anthony Bourdain foi dos mais reconhecidos e afamados nomes da gastronomia mundial, mas não restringiu seu campo de atuação a ela. Antes pelo contrário, fez de seu prestígio como chef de cozinha um aríete para arrombar outras portas, para dar vazão aos seus outros talentos. Bourdain foi também escritor de ficção e não-ficção, de roteiros de séries televisivas e até de uma graphic novel, Get Giro.
A mais significante das expressões de seus outros talentos foi o seu trabalho como repórter, documentarista. Um exemplo disso é o seu excelente programa Anthony Bourdain - Lugares Desconhecidos, pelo qual recebeu cinco prêmios Emmy. Em cada episódio, valendo-se de sua condição de chef famoso, Bourdain visitava lugares inusitados - Butão, Costa Rica, Cabul - com a premissa de conhecer a culinária e a gastronomia locais, mas a comida acabava por ser apenas o pano de fundo do propósito maior do programa. De comida, Bourdain entendia tudo, ou quase tudo. O que lhe interessava, de fato, era pesquisar sobre a história daquele país, sua política, suas desigualdades. Os episódios têm os mesmos níveis de produção e de roteiro que um documentário da BBC ou da Discovery.
Em cada episódio, Bourdain ia comendo e indo a fundo na história do lugar, na sua cultura, nos seus conflitos, nas suas contradições. Se fosse um lugar com uma guerra ou com uma ditadura em sua história recente, melhor ainda. Aí, é que Bourdain se esbaldava.
Bourdain olhava com ceticismo e pessimismo para a espécie humana, sem nenhuma esperança. Bourdain não ria; apenas sorria de canto de boca, sardônico. Bourdain não elogiava nem criticava, apenas constatava e reportava, sem juízo de valor algum. Bourdain não era gentil; respeitoso, sim, mas seco e cheio de arestas. Bourdain tinha humor, mas não era dado a gracinhas; suas tiradas e observações irônicas nada tinham de engraçadinhas, só de trágicas, de  uma tragédia tal que não nos dava outra opção que não sorrir. Ou enlouquecer.
Lugares Desconhecidos não dava receitas das comidas que Bourdain comia ao longo do episódio, não ensinava a cozinhar, não dava dicas de restaurantes para se visitar caso um dia o telespectador viajasse para tal lugar, não era Masterchef.
Bourdain não tinha frescuras e outras gourmetices. Comia qualquer coisa, sentava-se num caixote de madeira numa calçada e comia comida de rua.
Famoso, rico pra caralho, bonitão e consagrado em várias áreas. Bourdain, às vistas dos normais, tinha todos os motivos para viver em um estado de felicidade constante. Talvez para não se render ao fascismo do próprio talento, Bourdain era depressivo e amargo. Talvez para fugir ao fascismo do próprio talento, que não lhe dava motivos para ser infeliz, Bourdain se matou. Suicidou-se. Enforcou-se, aos 61 anos, em seu quarto de hotel em Paris, onde estava a gravar mais um episódio de Lugares Desconhecidos
Na noite de seu suicídio, Bourdain, antes, jantou em um restaurante onde "comeu, bebeu vinho, contou piadas e distribuiu sorrisos", segundo o chef Alexis Schonstein, dono do lugar e amigo de Bourdain. 
Era a despedida, era o canto do cisne.
Bourdain também era muito chegado a uma cerveja. Um dos melhores copos que já vi. Bebia durante o programa inteiro. Era uma beliscada num prato e uma talagada pra dentro do peito. Acho até que suas reportagens tinham a seguinte escala de prioridades : a cerveja do local, a história e, se desse tempo, a gastronomia.
E Bourdain também não tinha frescura em relação à cerveja que entornava, não tinha essa viadagem de cerveja artesanal, puro malte etc. Bourdain encarava a cerveja local do povão mesmo, cerveja barata. A cerveja comprada do ambulante na porta do estádio de futebol, cerveja do buteco pé-sujo.
Em visita ao Brasil, Bourdain encarou uma Schin!!!!! E num copo de plástico!!! Pããããta que o pariu!!!!! Bourdain era macho e cervejeiro das antigas.
É por essa e por outras que o Cerveja-Feira desta semana é dele, Anthony Bourdain, com toda honra e mérito.
A quem interessar possa, Lugares Desconhecidos com Anthony Bourdain é exibido pela CNN do Brasil, todos os domingos a partir das 18:35 h.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Abulia

Ter umas boas ideias
(e ainda as tenho)
Já não me deslumbra,
Não me enche de júbilo,
Não faz correr de novo heroína pelas minhas veias.

Moldar-lhes com o barro cru das palavras desencontradas
E, com meu sopro divino,
Dar-lhes as belas formas de um texto
Já não me proporciona nenhum tipo de satisfação,
De alegria (ainda que nuvem passageira),
Não põe mais um travesseiro de Vicodin nos meus músculos, articulações e angústias.

Perdi o tesão pela caneta;
Pelo teclado, então, nem se fale... mais ainda.

Aliás, por todas as coisas.

domingo, 1 de maio de 2022

O Cavalão Ganha Estátua Equestre no Rio Grande do Sul

É de praxe que os bravos heróis que deram a vida por seus países, que os valorosos soldados que fertilizaram com o próprio sangue o solo de suas nações, que os grandes líderes que desenharam o futuro de seus povos com as pontas afiadas de suas eretas espadas sejam homenageados e imortalizados no altar histórico de suas pátrias na forma de estátuas equestres.
Se tal honraria e distinção, desde os primórdios dos tempos, é concedida aos grandes generais, reis e imperadores, por que haveria de ser diferente com o intrépido Bolsonaro?
Pois o Cavalão acaba de ganhar a sua primeira equestre!
A homenagem partiu de produtores agrícolas da cidade de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Terra de macho das antigas, feito o Presidente. A estátua, obra do artista plástico Arsênio John, foi idealizada em tamanho real e tem 300 kg de cimento e ferro. O escultor disse ter erigido a estátua em um gesto de admiração pelo Presidente. Disse que admira as ações de Bolsonaro e que suas feições "diferenciadas" facilitaram a produção da obra.
A estátua foi instalada no parque de exposições da Fenasoja (Feira Nacional da Soja) e, antes mesmo do início da feira, que se dará em 07 de maio com a presença confirmada de Bolsonaro, já é uma de suas principais atrações. Já recebe a visita de inúmeros simpatizantes do Presidente, que posam para fotos ao seu lado.
O presidente e organizador da Fenasoja, Elias Dallalba, explicou que última visita presidencial ao evento aconteceu há 41 anos, e a estátua é uma maneira de representar esse "marco histórico para a Fenasoja e para a cidade".
Existe, porém, toda uma simbologia nas estátuas equestres. A posição das patas dianteiras do cavalo (o que está embaixo) revela a causa mortis do vulto histórico nela retratado. Se o cavalo se encontrar empinado, com as duas patas dianteiras levantadas, significa que o cavaleiro morreu em campo de batalha; se o cavalo estiver com apenas uma das patas dianteiras ao ar, o cavaleiro morreu fora dos campos de batalha, mas em decorrência dos ferimentos sofridos neles; e se o cavalo estiver com as quatro patas no chão, o herói morreu de causas naturais.
Se estiver a par de tal simbologia, o escultor Arsênio John, das duas, uma : ou está a desejar uma morte tranquila ao Mito, uma calma passagem para o reino de Hades em sua casa e junto aos seus, ou a dizer que o Cavalão já está morto, ao menos politicamente.
Notei que um elemento muito comum às estátuas equestres, embora não obrigatório, está ausente da estátua de Arsênio John, a espada nas mãos do herói.
Em off, com a promessa de eu nunca revelar, Arsênio John confidenciou-me que havia uma espada na mão de Bolsonaro, na qual agora há uma bandeira. "A espada estava lá, instalada e tudo. Mas foi só virarmos as costas e a espada desapareceu. Aqui, no Rio Grande do Sul, é assim, se tiver uma espada dando sopa, ela some rapidinho", disse-me o artesão. "Mesmo assim, com a espada já desaparecida, redobramos a vigilância em torno da obra. Sabe como é, né? Ainda tem o mastro da bandeira", finalizou o artista.
Pãããããããta que o pariu!!!!!
De qualquer forma, quem quer que venha a ser o próximo Presidente da República, uma coisa é certa e imutável : somos nós quem sempre caímos do cavalo.