quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A Lista Vermelha

Dia de São Bukowski

É o dia de São  Bukowski!!! É o dia do bebum, do pé de cana, do pudim de cachaça!!!
É o dia da Consciência Ébria!!!
A data oficial foi ontem, mas eu tava comemorando tanto que até me esqueci de postar!!!
Pããããããta que o pariu!!!

domingo, 28 de agosto de 2022

Escondido

Encantar-me (e encantar),
Apaixonar-me (e apaixonar),
Desiludir-me (e desiludir),
Por outra?
(Outras Luas inalcançáveis, para quê?
Uma só no Céu já me basta
A jogar holofotes de prata sobre a minha covardia)
 
Assim como,
Há tempos,
Só me encantam
E me apaixonam
As velhas e conhecidas canções,
Só me encantam 
E me apaixonam
As velhas e conhecidas saudades
(E os velhos beijos bêbados
Que feito chicletes ruminados à exaustão
Perderam o gosto),
Postas a tocar na vitrola emperrada do coração.
 
Por isso, 
Vez ou outra,
Compro um rum, 
Ponho Bethânia, Ivan e Ney,
Oswaldo, Rô Rô e Sinatra,
Alcione, Roberto e Raul,
Fagner, Fafá e Dolores,
Morrison, Elis & Tom e Belchior,
No gramofone da tristeza.
 
E me permito voar,
E me encantar,
E me apaixonar,
E me desiludir,
E a chorar um pouquinho por ti.
Mas só um pouquinho...
Escondido. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Plano de Saúde Vodu Care

Sempre considerei exagerada a importância dada ao chamado contato humano, às tais "habilidades sociais" - e cada vez tenho mais firmeza desse exarcebo. Sempre cri ser superestimada e superfaturada a suposta aprendizagem na convivência com amigos, vizinhos, familiares e - que os deuses me livrem - colegas de trabalho.
É bem verdade que, em outrora (e bota outrora nisso), aprendi bastante e tive bons colóquios com alguns professores amigos - três até hoje (em um período de mais de 20 anos), para ser mais exato. Mas eram mestres das antigas (todos eles, hoje, merecidamente aposentados), muito bem formados nas universidades públicas das décadas de 1960, 1970. Época em que universidades se prestavam a formar livre pensadores e não serviam, feito hoje, como disse Paulo Francis, para dar diplomas a pés rapados.
Atualmente, pelo contrário, há poucos ambientes mais emburrecedores que a escola e a sala dos professores, local transformado em muro das lamentações, em ponto de venda de produtos da Jequiti e lingerie e, principalmente, em praça de alimentação. Não só emburrecedor; bizarro, muitas vezes.
Inda essa semana, há poucos minutos para às sete horas da matina, eu a esperar o sinal para subir para o pavilhão 3, ouvi uma professora a dizer de suas artrites, artroses, tendinites, bursites, dos castigos lhe impostos pela idade, enfim. Disse que a acupuntura resolveu grande parte de seus flagelos.
Eu não sou totalmente descrente em relação a todas as terapias alternativas à alopatia. A homeopatia, por exemplo, não me convence, mas a acupuntura, mesmo sem nunca ter me valido de suas espetadas, parece a mim ter uma certa lógica, aquilo dos meridianos com terminações nervosas ligadas aos diversos órgãos do corpo etc.
Porém, quando eu menos esperava, veio a pedrada : ela estava, por questão de falta de tempo, a fazer acupuntura on line. Espanei o resto do sono, apurei os ouvidos e me preparei para ver o estandarte do sanatório geral passar. 
A princípio, pensei que a médica, terapeuta, ou seja lá que tipo de profissional está autorizado a aplicar a acupuntura, fosse orientando a minha colega a se autoalfinetar, indicando a ela os pontos a serem furados. O que, ao meu ver, já seria uma prática temerária. Mas era pior do que eu supunha - sempre é.
Contou que a acupunturista tem lá no seu consultório um boneco dividido e mapeado com linhas que representam todos os "canais de energia" do corpo e que a médica vai espetando as agulhas no boneco e pedindo que a paciente "mentalize" a ferroada. E funcionava que era uma maravilha! - ela garantiu à sua interlocutora.
Pãããããããããta que o pariu!!!!
É o Vodu Care! É a doutora Samedi!
Chegam os pedidos de exames para a autorização do convênio. Tomografia computadorizada : negado. Ressonância magnética : negado. Endoscopia : negado. Sessão de vodu : opa, liberadíssimo.
O sinal soou, mas fiquei com aquela merda na cabeça. Precisava (?) encontrá-la longe de outras pessoas e pedir mais detalhes, saber como tem gente ganhando dinheiro tão fácil.
O tal boneco, seria um modelo padrão, genérico, que servia para todos os pacientes? Ou era confeccionado sob medida? Quem sabe até contivesse algum objeto ou pertence do doente, ou um chumaço de cabelo, uma lasca de unha, algo que conectasse a energia do artefato ao dono?
Encontrei-a ontem e toquei no assunto, mostrei-me "sinceramente" interessado. O boneco era mesmo genérico, irradiava seus efeitos benéficos sobre todos, sem distinção. Não tinha nada de personalizado. Nenhum objeto do dono ou partes de seu corpo dentro. Afinal, o que estava pensando eu? Que acupuntura on line é algum tipo de picaretagem? De charlatanismo? Ora, essa... preciso parar com essa mania de fazer mau juízo desses valorosos e probos profissionais da saúde e de seus crédulos pacientes.
Porém, como já dizia Jânio Quadros, quem pergunta, quer resposta. E ela foi além do perguntado. Não satisfeita em me inteirar da "técnica", contou-me também dos males dos quais havia sido curada virtualmente. Não sei se a curiosidade chega a matar o gato, mas que, muitas vezes, o deixa perplexo e desgostoso com a vida, deixa.
Brindou-me com a cereja do bolo : - Curou-me até de uma hemorroida, sequela de uma operação que fiz para tirar um pólipo. 
Ô, agulhinha santa... cura até hemorroida!!! E a pessoa nem sente a picada no cu!!!
Será que também cura Doença de Peyronie? O pau torto que nunca se endireita? Preciso ligar para essa acupunturista.
Pããããããããta que o pariu!!!!

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Jornal da Nicarágua

Depois da sabatina totalmente "imparcial" aplicada a Jair Bolsonaro, a rede Globo decidiu renovar o cenário e o figurino dos apresentadores do Jornal Nacional.
Pããããããããta que o pariu!!!!!! 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Mario Vargas LLosa Diz : Lula é Prêmio Nobel em Corrupção.

Uma das seções de maior prestígio e número de visualizações do Marreta, a Travessuras de Menina Má, teve seu título roubado do romance homônimo de Mario Vargas Llosa. Além do livro citado, devo ter lido mais um pequeno punhado de outras obras do escritor. Os cadernos de Dom Rigoberto, Conversa na Catedral, Tia Julia e o Escrevinhador, A Festa do Bode.
Llosa, hoje com 86 anos, é romancista, cronista, jornalista, crítico literário, professor universitário, ensaísta, ou seja, um intelectual na acepção mais plena do termo, do tipo que não se produz mais. Nobel de Literatura em 2010.
Como mesmo todo grande intelectual tem sua fase burra, Llosa, inicialmente, empolgou-se e apoiou o governo ditatorial cubano de Fidel Castro, mas logo voltou à razão, desencantou-se com a bandalha da esquerda e aderiu ao liberalismo político, autodefinindo-se como de centro-direita.
Sempre ativo na vida política de seu país, em 1990, chegou a concorrer à presidência do Peru, tendo sido derrotado por Alberto Fujimori.
Recentemente, dia desses, Llosa emitiu algumas declarações sobre a atual conjuntura da política brasileira, a respeito de seus dois atuais expoentes máximos (pããããããta que o pariu!!!), Jair Messias "Cavalão" Bolsonaro e Luis Inácio Sapo Barbudo Lula  da Silva.
Pareceres que valem muito a pena ser ouvidos e levados em consideração. Primeiro, porque vêm de um sujeito com uma vida inteira de experiência na política sul-americana e, depois, porque é uma visão de fora, de alguém alheio ao processo eleitoral de 2022, uma visão, portanto, mais ampla e não contaminada por preferências ou rejeições, por fanatismos de nenhuma espécie.
Algumas falas de Llosa :
 
"Não gostaria de estar na situação de ter que escolher entre Lula e Bolsonaro. Mas realmente jamais votaria em Lula. Ele foi um homem que corrompeu profundamente. Podemos dizer que os dirigentes peruanos se deixaram corromper, mas Lula cumpriu uma função muito negativa no Peru."
(a respeito de uma delação da Odebrecht que acusou o Seboso de Caetés e seus 40 ladrões de pedirem propina no Peru, o famoso pixuleco, em troca de benefícios em licitações);
 
"No Peru, temos quatro presidentes com processos na Justiça [em decorrência da Lava Jato]. Em grande parte, todos eles foram vítimas de Lula, pois ele utilizava, digamos, a Presidência para corromper os governantes latino-americanos. No Peru, causou estragos."
 
Llosa também entendeu perfeitamente a maracutaia feita para soltar o Nove-dedos e torná-lo de novo elegível, sabe perfeitamente diferenciar entre uma anulação de uma condenação e uma declaração de inocência do ex-condenado. Destacou que a anulação das condenações de Lula se deveram a questões técnicas e que o ex-presidente brasileiro segue associado à corrupção, segue culpado.
 
"Foram por questões técnicas, e alguns juízes também têm seus preferidos na política. Torço para que não elejam de novo Lula, pois ele está muito associado à corrupção."
 
Sobre Bolsonaro, também não demonstrou muita simpatia :
"Digamos que não tenho muita simpatia por Bolsonaro. Com sua posição sobre as vacinas, ele provocou uma verdadeira catástrofe no Brasil. Além disso, tem uma certa vocação pela palhaçada, não?"
 
Pois bem, primeiro foram os honoráveis Joaquim Barbosa e Sérgio Moro a provarem por a+b+c+...z que Lula e o PT são mafiosos da pior espécie; agora, um Nobel da Literatura, desde sempre um ativista na política sul-americana, a dizer que Lula corrompeu não só o Brasil, mas também os seus hermanos do Mercosul. No Peru, quatro ex-presidentes estão encalacrados com a Justiça só por terem tido contato com a pestilência de Lula.
E, no Brasil, um monte de gente querendo que esse calhorda volte à Presidência, um monte de gente querendo passar a chave do galinheiro, de novo, para a raposa. E sabendo que o cara é uma raposa. Votar em um candidato, como foi o caso do primeiro mandato de Lula, achando que ele é honesto, é uma situação, é credulidade, ingenuidade, até. Contudo, continuar votando depois de todos os mensalões, petrolões, triplex e sítios de Atibaia nem é mais ser burro, é ser cúmplice.
No caso dos políticos, infelizmente, é virtualmente impossível a Justiça mantê-los presos para sempre. Cabe à Justiça, então, fazer o papel que lhe é possível : mostrar que o sujeito não presta, que é um ladrão de pior estirpe, alertar à população para que não mais deposite seus votos e suas esperanças nele. Nesse quesito, o de desmascarar os pústulas, nossa Justiça não tem se saído das piores, não, tem cumprido com esse seu mínimo papel. Porém, e isso só pode ser coisa de nosso DNA de degredados, de bandidos, quanto mais se prova que um político não presta, mais votos ele angaria nas eleições seguintes.
Que me desculpem (ou não) os que ainda votarão em Lula nas próximas eleições, mas os tenho na categoria dos piores cornos, dos cornos mais mansos, daqueles que sabem que a mulher dá para outros e, pior, nem negam; pelo contrário, até gostam de ver a esposa gemer e rebolar em vara alheia. Se bobear, até vão lá ajudar a esposa lavar a bucetinha da porra do comedor depois do chifre. E com a língua.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Um Pouco de Beleza, Para Variar

A partir de terça-feira, o meu sombrio caminho para o trabalho foi iluminado por arandelas de uma florada temporã dos delicados e mimosos ipês-brancos. Contei oito deles, todos plenamente floridos, em meu trajeto.
Esse tipo de beleza, pura, incondicional, nascitura e já moribunda (uma florada de ipê-branco não se mantém por mais que uns três dias), é feito o sorriso do palhaço, que prevê e gesta em si o pranto.
Esse tipo de beleza ainda deixa os meus olhos marejados.
E os seus, não?

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Varíole des Macaques

Num mundo já há décadas sob a pandemia do politicamente correto, muito mais importante e urgente que combater e erradicar a doença é evitar qualquer estigma em torno dela, qualquer referência, estereótipo ou menção que sinalize sua origem geográfica, étnica e, agora, até zoológica.
A OMS (Organização Mundial da Saúde), um dos ramos do grande cabidão de empregos que é a ONU, muito mais preocupada do que obter e distribuir vacinas por esse mundão infecto afora, está à procura de novos nomes para a varíola do macaco. Nomes que não associem a doença à espécie animal, país ou região. Notem : é a mesma OMS que anda a recomendar que o público gay sossegue a rosca e reduza o número de parceiros.
A variante Bacia do Congo (África Central) passará a ser chamada de Clade ou Subtipo I, a variante da África Ocidental, de Clade ou Subtipo II, e as duas subvariantes, Clade IIa e Clade IIb.
Tais denominações foram propostas por uma comissão de cientistas convocados pela OMS. Comissão que continua a analisar qual seria o melhor nome para substituir "varíola dos macacos".
Numa espécie de concurso, a OMS abriu uma consulta pública para que as pessoas possam propor nomes "neutros" para a doença e um porta-voz da OMS disse que foram enviadas inúmeras propostas "muito interessantes".
E o que será que o cidadão do mundo cuja sugestão de nome for adotada ganhará? Um sagui? Um macaco-prego? Um babuíno-do-toba-vermelho?
E já que a ideia é propor um nome neutro para a doença, essa eu ganho fácil. Simples : varíole des macaques.
Pããããããããta que o pariu!!!!

sábado, 13 de agosto de 2022

Nem Agonia Nem Êxtase

A primeira pessoa a desconfiar de que eu não fosse bom da cabeça foi a minha mãe. Houve uma época da minha infância em que, nas férias escolares de fim de ano, duas visitas me eram obrigatórias : ao dentista e ao neurologista.
Por várias vezes, tive minha atividade cerebral mapeada em eletroencefalogramas na esperança de ser encontrado algum distúrbio ou alguma anomalia que explicasse o meu comportamento, tido como estranho pelos meus pais. Nunca foi detectado nada que fosse motivo de alarme. Afinal, existem muitos mais mistérios entre a minha mente e um aparelho de EEG do que pode supor a vã medicina.
Lembro de tomado, durante um tempo, antes de dormir, um quarto de um comprimidinho amarelo, do tempo em que comprimidos vinham em vidros de cor âmbar (e não em cartelas de plástico bolha) e protegidos por um chumaço de algodão. Não me lembro o nome do comprimido nem a que ele se destinava, em que ele, supostamente, iria me ajudar; ou aos meus pais. Mas foi por pouco tempo. A partir de uma certa idade, meus pais deixaram de tocar na questão. Vai ver, deram-me como um caso perdido.
A segunda pessoa a recomendar que eu procurasse um médico de loucos foi uma ex-namorada. Eu contava com 32, 33 anos, e talvez devesse tê-la ouvido na época. Dizia com propriedade, com conhecimento de causa. Era tarja preta diagnosticada.
Preocupava-a a minha amargura frente ao mundo e as minhas oscilações de humor, que poderiam ser originárias de algum distúrbio ou transtorno, segundo ela. Por meu lado, eu pensava (e ainda penso) que algum distúrbio sério ou grave alteração neurológica ou psiquiátrica deveria ter quem vive feliz e sorridente o tempo todo, haja vista o mundo em que vivemos. E que meus defeitos eram o que de melhor eu trazia em mim - e continuo pensando.
Diante de minhas evasivas em me consultar com um terapeuta que pudesse me prescrever um "regulador de humor", volta e meia, presenteava-me com uns calmantes faixas brancas, uns fitoterápicos, geralmente à base de passiflora, a flor da paixão, o famoso maracujá. Amiúde, levava-me um frasco de Maracugina, que recomendava que eu tomasse com um pouco de leite morno. Ela virava as costas e eu tomava com vodka. Ficava bom.
Em relação a esse tipo de droga, que nos ajuda a suportar melhor a realidade, que deixa o mundo mais tolerável aos nossos olhos, sempre vivi num dilema : o mundo - esse mundinho de merda e de merdas - merece que eu me dope, que eu me drogue por causa dele? Ou : o mundo - esse mundinho de merda e de merdas - merece que eu me consuma, que eu me exaspere ao enfrentá-lo sóbrio, de cara limpa?
Durante toda a minha vida me ative à negativa da primeira questão. Mesmo porque suporto melhor que a maioria certos quadros de tristeza, depressão, insônia, anedonia. Nasci deprimido. Nasci quebrado.
Meu pai gostava muito de nos fotografar quando em crianças. Viagens, aniversários, reuniões de família. Ele guarda, muito bem guardados, até hoje, dezenas de álbuns de fotografias. Desafio alguém a fuçar por entre as centenas de fotos e me encontrar sorrindo em alguma delas. Inclusive, houve época em que acho que era meio moda fazer pôsters dos filhos e pendurá-los pela casa. Até hoje, o meu está exposto numa parede do apartamento onde meus pais moram. Eu devia ter uns sete ou oito anos nele. Tal pôster, para explicá-lo melhor, deu origem ao poema A Criança do Pôster.
Mas o mundo é o mundo. Tem todo o tempo do mundo. Age sem pressa e sempre dá um jeito de nos enquadrar, de fazer-nos pagar a desajuizada língua.
Depois de 55 anos, resolvi experimentar a negativa à segunda questão do meu dilema : não, esse mundinho de merda e de merdas não merece que eu mais me consuma ao enfrentá-lo sóbrio. Pedi arrego. Não exatamente ao mundo. Mas a mim mesmo. Mereço, pelo menos, tentar um descanso de mim. 
Por recomendação de uma colega de profissão, procurei um neurologista com quem ela se trata, e que a libertou do infames tarjas pretas do psiquiatra, que a deixavam meio fora do ar o dia todo.
Em vinte e poucos minutos de conversa, o nada surpreendente diagnóstico : depressão profunda e ansiedade. E isso porque, no dia da consulta, eu estava num dia bom, apenas a relatar e a fingir a dor que deveras sinto. Se eu estivesse num dia dos brabos, ele teria recomendado internação imediata.
Até aí, nada que eu não soubesse. Se tem alguém que sabe exatamente o que se passa na minha cabeça, esse cara sou eu. Não preciso de nenhum especialista para me entender. Preciso deles para que me receitem remédios. E também sei a cura para o meu mal. Mudar de profissão. Parar de ter contato com a ruína moral em que se transformou grande parcela da sociedade tupiniquim. Sei a cura. Mas ela não é viável. Então, o paliativo.
Receitou-me dois remédios. Pela manhã, o succinato de desvenlafaxina, que, de acordo com a bula, é indicado "para tratamento do transtorno depressivo maior (TDM, estado de profunda e persistente infelicidade ou tristeza acompanhado de uma perda completa do interesse pelas atividades diárias normais)".  Ao fim da tarde, o divalproato de sódio, para estabilizar meu humor, segundo o que o neurologista me disse em seu consultório. A bula é menos eufemística : "Divalproato de sódio é destinado para o tratamento de episódios de mania associados com transtornos afetivos bipolares".
Tenho-os tomado há 10 dias e, apesar dele ter me dito que os efeitos seriam sensíveis depois de 20 dias a um mês, creio que já os percebo em mim.
Aquele aperto a queimar o peito desapareceu. Não que eu me sinta maravilhosamente bem, mas não me sinto profundamente mal. Ânimo para realizar minhas tarefas diárias ainda não apareceu (se é que vai), mas realizá-las não tem me afligido tanto.
Tenho comido bem menos. Não me vem mais aquela voracidade, sobretudo à noite, de me entupir do que eu achasse pela frente. Mesmo a vontade/necessidade da cerveja passou, não bebi (e nem poderia junto a essa medicação) e nem senti falta da cerveja nesses dez dias, até agora.
Aporrinho-me menos, mas também meus raros lampejos de animação sumiram. Hoje é sábado. Geralmente, entre sexta-feira depois do almoço até sábado à noite estou em melhor estado de humor, animado para regar meus cactos e suculentas, para ouvir minhas músicas. Não que eu esteja mal agora, mas hoje ser sábado parece não diferir de ser uma terça,  uma quarta etc.
Pelo jeito, os remédios são uma espécie de giroscópio de humor e de estado de ânimo, não deixam que eles saiam de uma reta traçada, nem para mais nem para menos. São nobreaks, mantêm nossa voltagem constante. Nem vales nem picos de emoção.
Nem agonia nem êxtase.
A libido, que já era pouca, foi-se de vez. Não bastasse torto, agora morto. E querem saber? Acho que os remédios funcionam, mesmo. Porque eu não estou nem ligando.

domingo, 7 de agosto de 2022

Lula e Alckmin Estão Mais Pobres

Não fomos apenas nós, a quase extinta classe trabalhadora, nós, os pagadores de impostos, que empobrecemos com a pandemia do vírus chinês, que vimos nosso poder de compra cair mais do que pau de broxa, que tivemos nossos patrimônios dilapidados.
O novo parzinho romântico do eterno tango das tesouras entre PT e PSDB, Lula e Alckmin, também se declararam mais pobres do que em 2018 ao TSE.
Em 2018, o Sapo Barbudo declarou um patrimônio de R$ 7,98 milhões; agora, R$ 7,42 milhões. Uma perda de 7 %. O patrimônio de Lula é proveniente de 23 fontes. A principal é um plano de previdência privada no modelo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), que soma R$ 5,57 milhões.
Há também três apartamentos, três terrenos, dois veículos e uma construção, além de valores em dinheiro, como aplicações e investimentos.
Já Geraldo Alckmin, que declarara um patrimônio de R$ 1,37 milhão em 2018, agora oficiou que tem pouco mais de um milhão. Uma queda de 27% em relação ao pleito anterior. O dinheiro de Alckmin vem de sete fontes, sendo que a maior delas é um apartamento de R$ 323,8 mil, seguido de um VGBL de R$ 314,8 mil e um fundo de investimentos de R$ 172 mil. Um apartamento de R$ 323,8 mil? Até o meu vale mais que isso!!! Não há limite para o cinismo e a cara de pau desses canalhas. E o Lula? Só 7 milhões? Só a adega do bebum vale mais do que isso.
Esses pústulas são grandes produtores do agronegócio, isso sim. Têm as maiores plantações de laranja do planeta. Laranjais e mais laranjais.
Abaixo, os mais recentes novos pobres deste Brasil dantes mais varonil.
Tá com dó? Vota neles! E o pior é que vão votar nos crápulas, mesmo. Em massa.
o patrimônio de Lula é proveniente de 23 fontes. A principal é um plano de previdência privada no modelo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), que soma R$ 5,57 milhões. Há também três apartamentos, três terrenos, dois veículos e uma construção, além de valores em dinheiro, como aplicações e investimentos.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/08/06/patrimonios-declarados-de-lula-e-alckmin-caem-em-relacao-a-eleicao-de-2018.htm?cmpid=copiaecola

sábado, 6 de agosto de 2022

A Santíssima Trindade da Paudurescência

A influencer Adisson Rae, estrela do tik tok, independente de eu nem fazer ideia do que seja influencer ou tik tok, é uma bisca muito da gostosa. E está a ser acusada de blasfêmia religiosa. O que só aumenta ainda mais a minha torta paudurescência.
Ela provocou a ira da milícia das redes sociais ao posar com um biquíni com um "tema religioso". Um modelito criado pela marca Praying (rezar, ou rezando) em parceria com a Adidas. O Holy Trinity Bikini (biquíni da Santíssima Trindade) traz as palavras Father (o Pai) e Son (o filho) bem aconchegadas aos travesseiros da peitaria de Adisson. E o Holy Spirit (o Espírito Santo) na tanga, bem aninhado na xavasca, bem onde Ele gosta de ficar. Vide a concepção imaculada de Maria.
Assim como os Três Mosqueteiros eram quatro (valha-me São D'artagnan), o mesmo se dá com a Santíssima Trindade. Faltou o Amém, o Assim seja. Que não sei se está, mas que deveria estar escrito na bunda, no cu!!!
Assim, até eu, ateu de DNA, ajoelho-me e rezo!!!! Até eu faço o sinal da cruz. 
Em nome do Pai (e chupo o peitinho direito), do Filho (e mordisco o mamilo arrepiadinho esquerdo), do Espírito Santo (e meto na bucetinha, na posição franguinho - no caso, galinha - assado) e Amém (escorrego a rola da xana e a meto no cu).
Uma gozada divina, celestial!!!

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Um Beijo Pro Gordo

Hoje, logo na primeira aula do meu pequeno purgatório diário, depois de ter dado aquele domada inicial na sala e procedido a chamada, lá estava eu a tentar explicar, da maneira mais simples e rasa possível, a respeito da herança do cromossomo X.
Então, um aluno, sentado à primeira carteira, ergue o braço e diz que tem uma pergunta a me fazer. Alvíssaras!, penso eu. Pelo menos um a me escutar e a tentar aprender alguma coisa. Eu estava errado, é claro.
- Professor, quem é Jô Soares?
Pããããããta que o pariu!!! Eu a dizer de hemofilia e daltonismo e o cara pergunta quem é Jô Soares? Normalmente, quando o aluno levanta a mão durante uma explicação, as perguntas mais comuns são : "professor, posso ir tomar água?", "professor, posso ir no banheiro?", "professor, que dia é hoje?". Diante das quais, eu, mui educadamente, usando outras palavras, os mando à merda.
Mas o inusitado da pergunta me fez devolvê-la : - que pergunta é essa, rapaz? 
Ele não estava prestando atenção na aula, lógico. Estava vidrado no seu celular. Virou a tela da traquitana do demo com uma manchete em minha direção e falou : - tem um monte de lugar falando que esse Jô Soares morreu.
Pããããta que o pariu!!! O Gordo tinha morrido!!! Eu não sabia até então. Pãããããta que o pariu!!! Ele não sabia quem era o Jô Soares. Ninguém da sala, absolutamente ninguém, sabia quem era Jô Soares. Ninguém. Em que mundo me meti?
Como dizer para um legítimo representante da geração tik tok sobre a grandiosidade de um artista multitalentos feito o Jô? Que referências? Que parâmetros utilizar com eles para que pudessem ter um leve, um mínimo vislumbre da agigantada figura da tv, do cinema, do teatro, da literatura, das artes plásticas etc que foi Jô Soares?
Limitei-me a dizer (desculpe-me, Gordo) : - ele foi um artista antigo da Globo e do SBT. Ah, diz o aluno. E voltou-se para a tela de seu celular.
Depois, ocorreu-me que eu poderia ter parafraseado o amigo e inseparável parceiro de Jô, o impagável Paulo Silvino : - Jô Soares? Ah, como ele era grande!!!! 
Um beijo pro gordo!!!
Jô Soares
1938 - 2022

Um Dia na Vida (12)

Tenho Certidão de Nascimento. Um nome, o nome dos meus genitores, o dia e a hora do meu vir a furo para o mundo, o meu tamanho e peso na ocasião lavrados em cartório de gavetas mortas. Não tive opção de não tê-lo. Não pude decidir se eu queria ou não ter um nome.
Tenho batistério. Um documento afirmando que sou católico apostólico romano e temente a Deus. Não pude opinar se eu queria ou não ser batizado, apresentado a Deus. Conta minha mãe que eu chorei de me esgoelar durante todo o ritual. O possível protesto de quem não tinha palavras.
Tenho R.G., a carteira de identidade. Também não pude escolher se desejava ou não tê-lo. Também não fui perguntado se queria ou não "tocar piano" e deixar meu registro dactiloscópico na Secretaria de Segurança Pública. De uma idade em diante, você não é quem você diz, é uma foto 3 x 4 feia pra caralho.
Tenho CPF. Também não pude escolher me ocultar da Receita Federal.
Tenho Certificado de Reservista. Não foi me dada a escolha de, ao completar 18 anos, me apresentar ou não ao serviço militar mais próximo, ninguém me perguntou se eu queria ou não mostrar a rola pro médico do quartel.
Tenho Título de Eleitor. Também não fui consultado se queria ou não tirar o meu passaporte para a democracia. Inclusive, ninguém quis nem saber se me interessava ou não participar dessa democracia. A maior liberdade concedida é eu ser obrigado a ir votar e, na hora, dizer que não voto em ninguém. Expressão de liberdade que será mandada à merda. Uma vez que meu voto será declarado inválido e desconsiderado no cômputo geral.
Não tenho CNH. Não tenho a carteira que me habilita a conduzir veículos automotores. Não sei dirigir. Pude optar em não passar grande parte da minha vida preso em um útero metálico. Não deslizo sobre rodas. Troto sobre pés. Ando. Caminho pra todos os lugares e para tudo quanto é lado. 
Não fico com os olhos fixos no semáforo, no velocímetro, no medidor de combustível, nos radares. Vejo tudo o que as tênias dos automóveis não veem. Vejo as tilápias obesas a nadar no ribeirão raso e sujo. Vejo as lavadeiras-mascaradas, as garças-brancas, os corós-corós. Com sorte, até um arisco martim-pescador. Vejo a cicuta de Sócrates e o papiro do Egito vicejando nas suas margens cimentadas. A cicuta é prima-irmã do agrião. É a ovelha negra da família, ou, a depender do ponto de vista, o agrião que o é. Uma boa saladinha de cicuta a passar-se por agrião é uma boa pedida para se dar a um vegano chato e afrescalhado.
A caminho do trabalho há duas praças. Posso contorná-las pela rua ou atravessá-las, caminhar através delas. Gosto de caminhar através delas. Pela manhã, lá pelas seis da matina, elas mantêm ainda a temperatura da madrugada, a umidade, o silêncio, o verde sem fuligem.
Nesta época do ano, porém, estação de ar desidratado e solo sequioso, as praças se tornam terras devastadas, cenários de extinção; seus caminhos, tapetes de poeira e de folhas esfarelentas. Ruínas. Caminhar através delas, assim, é como caminhar por dentro de mim.
Abro a lata. Tomo o meu primeiro gole do dia. Contorno a praça pela rua.