quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Dia Do Saci

Pau no cu do cabeça de abóbora! Que se foda o cavaleiro sem cabeça!
Aqui não tem Raloim porra nenhuma. Hoje é o Dia do Saci. E da mula-sem-cabeça, da Cuca, da Iara, do Boi-tatá, do Curupira, do Caipora, do Anhangá, do Mapinguaru, e até do Boto, o grande metelão da Amazônia.
Aqui não tem gostosuras ou travessuras, só tem travessuras, que assombração que se preze, assombração macho, de respeito, não se vende por pirulitinhos de alcaçuz e bolotas de marshmallow. Aqui é festa na floresta, não um desfile de fantasias costuradas por pais idiotas para seus filhinhos tão vitimados pela genética quanto eles.
O Dia do Saci foi instituído em 2003 através de um projeto de lei federal do deputado Aldo Rebelo (PC do B - SP), e se contrapõe ao dia das bruxas, conhecido no Brasil como Raloim. Mas Rabelo não foi o primeiro a defender o negrinho de uma perna só, tampouco seu entusiasta mais importante.
Em 1917, puto da vida com as estátuas de anões encasacados e outros entes do imaginário europeu que proliferavam pelos jardins de São Paulo e outras cidades - sim, já foi chique ter anões no jardim -, Monteiro Lobato, eterno defensor dos valores nacionais, abriu uma cruzada pró-folclore brasileiro, escudado pela figura gaiata do Saci.
Lobato publicou no Estadinho, suplemento infantil do jornal O Estado de São Paulo, um artigo chamado Mitologia Brasílica, no qual conclamava os leitores a lhe enviarem cartas com relatos sobre as estripulias do Saci, a quem Lobato chamava de o "insigne perneta".
A redação do jornal foi invadida por uma avalanche de cartas sem precedentes, vindas de cidades interioranas de SP, MG e RJ, cada qual contando seu "causo" de saci. Os frutos da campanha foram reunidos por Lobato em seu primeiro livro, O Sacy-Perêrê – Resultado de um Inquérito, em 1918; mais tarde transformado no livro O Saci, da série O Sítio do Pica-pau Amarelo.
Foi Lobato quem popularizou a figura do Saci nos centros urbanos, antes conhecida apenas nos rincões do país. Hoje, todos os que sabem do Saci e têm idade inferior a 90 anos, souberam do diabrete através de Monteiro Lobato. Acho que só o Oscar Niemeyer conheceu o Saci através das histórias da avó, e olhe lá! Que em 1917, o Oscarzinho já tinha 10 anos.
E ainda tem filho da puta que diz que Monteiro Lobato era racista!!! Nunca, no mundo inteiro, ninguém jamais defendeu tanto um personagem negro como fez Lobato para com o Saci. Nem a princesa Isabel, nem a bichona do Zumbi, nem Martin Luther King!!!
O Saci pode ser o Pererê, o mais comum, negro e com altura de 77 cm, que é o do Lobato e o do Ziraldo, pode ser o Saci-açu, já maiorzinho; pode ser o Saci Trique, o menorzinho deles, que costuma andar pela floresta pilotando morcegos ou montando caracóis, quando anda a pé, vai quebrando gravetos, produzindo o característico ruído que lhe dá o nome, trique, trique, trique; pode ser ainda o Saçurá, que tem olhos vermelhos, traços mais demoníacos e pouco dado a brincadeiras, é o malvado da família.
Bruxinha encantada, fantasminha quarado, ogrinho peludo, VÃO SE FUDER! Porque aqui na face da Terra só o dia do Saci é que vai ter. Hoje é dia de ovo choco na cara, de cavalos com as crinas trançadas, de pipoca queimando sem estourar na panela, de leite azedo, de açúcar no saleiro e vice-versa, de roupas arrancadas do varal e de muito redemoinho e assobios estridentes.
Aí, o caboclo, que sabe das mandingas para prender Saci, joga a peneira de taquara cruzada no olho do redemoinho, captura o diabinho, arranca-lhe o gorro vermelho e o guarda numa garrafa fechada por uma rolha com uma cruz entalhada em cima.
Então, o caboclo pode sentar e pitar sossegado, pode prosear com o cumpade, pode ir pescar lambari, pode armar sua arapuca para pegar coleira, pode tocar sua violinha sem preocupação nenhuma. 
Acontece que Saci preso é igual a criança levada quando dorme, os pais ficam aliviados num primeiro momento, daí a pouco começam a sentir falta do movimento, da bagunça do petiz, e logo não veem a hora do moleque acordar e pôr a casa de pernas pro ar de novo. O caboclo começa a sentir falta de alguma coisa; o mato parece-lhe triste, a noite muito vazia, os animais nostálgicos da correria noturna. Então ele vai, desarrolha a garrafa, devolve o barrete ao Saci e lhe diz: "Vá s’imbora, peste. Azula, coisa-ruinzinha." 
E o Saci azula bonito, pega carona na cauda de um pé-de-vento.
Feliz Dia do Saci, Saci.

domingo, 28 de outubro de 2012

O Peso

Meu filho pedala pela praça em sua motoca azul,
Um raio alegre e sem cansaço
Em torno de uma extinta e árida fonte luminosa,
De um circuito desnivelado de fórmula 1.

Na descida, ele tira os pés dos pedais,
Nem se pergunta sobre a força invisível 
Que continua a pedalá-los para ele,
Só a usufrui.

Na subida,
Quando a gravidade, credora implácavel,
Cobra-lhe seu tributo,
Ele também não pensa sobre que força é essa
A emperrar suas pernas.
Apenas olha para mim, seu pai,
Que lhe ponho a mão às costas 
E o impulsiono declive acima,
Transformo-me, às vistas dele,
Num super-herói com poderes anti-g.

E essa é a beleza da infância,
Não se preocupar com a gravidade,
Não precisar lutar contra o peso das coisas,
De tudo. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Einstein Mostra A Língua Para Deus

Já disse Caetano Veloso, em sua excelente "Língua", se você tem uma ideia incrível, é melhor fazer uma canção, está provado que só é possível filosofar em alemão.
E foi justamente em alemão que Albert Einstein, em uma carta enviada ao filósofo Erik Gutkind, autor do Choose Life: The Biblical Call to Revolt, mostrou sua Língua para deus e, entre outras coisas, escreveu : "A palavra de Deus para mim é nada, além de ser expressão e produto da fraqueza humana".
A carta, datada de 3 de janeiro de 1954, estava em posse de um colecionador anônimo, que a comprara em 2008 por US$ 400 mil, e foi vendida hoje para outro anônimo pelo valor de US$ 3 milhões.
Na carta, Einstein também diz: “A Bíblia é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que, não obstante, são bastante infantis. Nenhuma interpretação, não importa quão sutil, pode (para mim) mudar isso".
Tudo bem que é o Einstein, mas US$ 3 milhões para ter a posse de um documento que revela o que qualquer um com um pouco de bom senso já nasce sabendo, que deus não existe, parece a mim um preço muito salgado.
Nem dá para dizer que a carta de Einstein ao amigo filósofo seja uma prova da inexistência de deus. Podemos fornecer provas e evidências do que existe, mas do que não existe, não tem jeito, como fornecer evidências concretas da inexistência? Não obstante, a ausência de provas do inexistente não o torna, em hipótese alguma, real.
Einstein foi real, e ainda o é. Suas teorias têm aplicações em nossa tecnologia cotidiana. Sem Einstein, por exemplo, a tecnologia dos computadores teria levado muito mais tempo para se desenvolver, se é que teria se desenvolvido, um estudo publicado por Einstein em 1925, sobre matemática quântica, levou à descoberta dos semicondutores em 1940, princípio básico dos computadores; as células solares, as atuais câmeras de vídeo, de fotografia digital, celulares, o GPS, e o laser, com ínumeras aplicações, inclusive na medicina, são derivados da teoria fotoelétrica; todo o conhecimento humano sobre a energia nuclear é advindo das quatro teorias lançadas por Einstein em 1905 - conhecido como o Ano do Milagre. Não bastasse, sua Teoria das Flutuações está no cerne dos mais sofisticados softwares financeiros do planeta, que modelam os riscos de papéis do mercado financeiro.
Portanto, religiosos e fanáticos de merda, deem graças aos ateus por todo o conforto e comodidade de que desfrutam hoje em suas vidas. Deem graças aos ateus, não a deus.
Ou rejeitem a ciência em sua plenitude, abram mão de tudo o que o conhecimento construído pelos ateus lhes deu. Passem a viver apenas com o que deus lhes deu : uma caverna úmida e fedendo a jaula, e um corpo coberto por pelos cheios de piolhos.
Abaixo a carta em que Einstein mostra a língua para deus.
E o que o Caetano Veloso tem a ver com isso? Provavelmente nada, só lembrei da letra e resolvi encher linguiça. Afinal, vocês acham que é fácil escrever com 39,3ºC de febre, totalmente sóbrio, e movido só a dipirona e chazinho de camomila?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Lewandowski Julga Hitler

Logo após a Segunda Guerra Mundial, um tribunal se reuniu em Nuremberg, na Alemanha, com o objetivo de julgar os crimes cometidos pelos nazistas durante a guerra. De 1945 a 1949, o Tribunal de Nuremberg julgou 199 homens, sendo 21 deles líderes nazistas. 
A criação desse tribunal se deu através de um acordo firmado entre os representantes da ex-URSS, dos EUA, da Grã-Bretanha e da França, em Londres, em 1945. O tribunal de Nuremberg decretou 12 condenações à morte, 3 prisões perpétuas, 2 condenações a 20 anos de prisão, uma a 15 e outra a 10 anos. Todas sentenças foram executadas.
Agora, imaginem que o Partido Nazista, através de tráfico de influências e mensalões, tivesse infiltrado alguns membros da Gestapo entre os juízes de Nuremberg. Teria se dado algo muito parecido ao que vemos hoje, Ricardo Lewandowski, um advogadozinho de currículo sofrível, pouco mais que um rábula, alçado pelo PT à posição que hoje ocupa tão-somente por interesses políticos, julgando réus pertencentes ao PT. É Josef Mengele julgando a Hitler.
Recebi por e-mail o texto que reproduzirei a seguir. De autoria desconhecida, ele descreve uma situação hipotética em que Ricardo Lewandowki atua como advogado de defesa de Adolf Hitler. Hipotética, sim, mas somente por razões temporais, somente pelo fato da não contemporaneidade dos citados advogado e cliente :
 Como Lewandowski Julgaria Hitler
"Senhores, não existem filmes, fotos, nem testemunhas de Hitler abrindo registro de gás em campos de concentração, nem apertando o botão de uma Bomba V2 apontada para Londres, pilotando um caça Stuka, dirigindo um tanque Panzer, disparando um torpedo de um submarino classe U-Boat sobre seu comando a navegar no Atlântico ou mesmo demonstrando habilidades no manuseio de um canhão antiaéreo Krupp, manipulando uma metralhadora MP40, uma pistola Walther P-38 ou simplesmente dirigindo um jipe Mercedez Benz acompanhado do general Von Rommel pelos desertos do norte da África.
Por isso, parece claro que não existe nada a incriminá-lo. Com certeza, ele não sabia de nada. Não via nada. A oposição diz que foram queimados documentos incriminatórios importantes, mas nada, absolutamente nada foi comprovado, apenas evidenciou-se a existência de cinzas e destroços por todos lados que somente foram trazidos com a chegada dos americanos e russos que não fazem parte da peça de acusação do proceso entregue pelo "Parquet"; o Sr. Procurador.
Afinal, ele seria apenas um Chanceler e presidente do Partido Nazista; ou seja, ele não passava de um mequetreque. Jamais foi pego, ou mesmo visto transportando armamentos debaixo dos braços (tipo pão francês) ou carregando pacotes de dinheiro nas cuecas.
Alguns relatos que citavam seu nome eram meros registros de co-réus, como alguns membros da Gestapo, os quais, por conseguinte, carentes de confiabilidade. Outros relatos são de inimigos figadais - os denominados "Países Aliados" e assim longe de merecerem qualquer relevância para serem tomadas como fundamentos de acusação.
Alguns o acusam de ter invadido Paris e desfilado sob o Arco do Triunfo. Esta é mais uma acusação inventiva dos opositores. Ele apenas foi visitar seu cordial amigo o General De Gaule que infelizmente havia viajado para o sul da França. Ele então, teria apenas aproveitado a sua viagem para passear e fazer compras na Avenue de Champs Elisé com seus amigos. Qualquer outra conclusão é mera ilação ou meras conjecturas que atentam a qualquer inteligência mediana. Por aí vemos que nada contribui para a veracidade das acusações.
Não afasto a possibilidade dele ser o suposto mentor intelectual, mas nada, repito, nada consubstancia essa hipótese nos autos. E olha que procurei em mais de 1 milhão e 700 mil páginas em 10.879 pastas do processo.
E não podemos esquecer que ele foi vítima de diversos atentados que desejavam sua morte, articulados pela mídia e pelas potentes e inconformadas forças conservadoras. Seus ministros como Goebels, Himmiler, Rudolf Hess e outros também nada sabiam. Eram coadjuvantes do NADA; sem nenhuma responsabilidade de "facto".
O holocausto, em que pesoas de diversas racas e etinias, talvez tenham tido um suicídio coletivo ao estilo do provocado há anos nos EUA pelo pastor Jim Jones. É,  ainda hoje, um tema controverso. Assim trago aos pares, como contraponto, a tese defendida pelo filósofo muçulmano Almanidejah que garante a inexistência de tal desgraça da humanidade.
Assim -já estou me dirigindo para encerrar meu voto Sr. Presidente- afirmando acreditar que todos eles foram usados, trapaceados por algum aloprado tesoureiro de um banco alemão que controlava financeiramente a tudo e a todos; especialmente os projetos políticos e as doação corruptivas. E tudo em nome da realização de um plano maquiavélico individual de domínio total que concebeu e monitorava do porão da sua pequenina casa nos Alpes.
"Enfim, depois de exaustivas e minuciosas vistas nos autos, especialmente nos finais de semana, trago aos pares novos dados que peço ao meu colaborador Adolfo para distribuir a todos. Depois desta minha "assentada" declaro a improcedência da ação, inocentando por completo o réu por falta de provas. É como voto, Sr. Presidente."
Qualquer semelhança, é semelhança mesmo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Respondendo A Uma Infâmia

Por conta da postagem Pintura Íntima, na qual eu colei uma foto da obra "O Grande Mural da Vagina", do artista plástico inglês Jamie McCartney, recebi o seguinte comentário anônimo, que reproduzo na íntegra, com todos os barbarismos linguísticos do autor : 
azarão seu mané te peguei em contradissão. Vc vive falando mau arte moderna, da bienal e agora coloca um quadro desse no blog. se fudeu seu corno kkkkkkkk
Realmente, caro anônimo. Você QUASE me pegou em contradição - é assim que se escreve, seu analfa. Você QUASE me pegou no pulo, de calças curtas. E teria mesmo me pego caso a obra em questão tratasse de qualquer outro tema que não o abordado, a famosa buceta. Tudo muda de figura quando o assunto é a buceta. Todas as opiniões, idealismos, intelectualismos, lógica e coerência, caem por terra.
Sendo a buceta, tudo vale. Arte barroca, clássica, renascentista, figurativa, abstrata, cubista, impressionista, rupestre, pop, moderna, primitivista, carloszefirista, tudo!
Para melhor ilustrar o que digo, valerei-me, caro anônimo, da sabedoria popular em sua forma mais precisa, contarei-lhe uma anedota, que as piadas, sem dúvida, são a manifestação mais fidedigna da sabedoria popular, a sua quintessência.
"O sujeito senta-se à mesa de um restaurante, pede um churrasco de picanha ao garçon e já se anuncia um grande conhecedor de cortes bovinos, que o garçon e o cozinheiro nem perdessem seus tempos tentando enganá-lo, fazendo-o comer gato por lebre, picanha por qualquer outra carne.
Ofendido, o garçon vai à cozinha transmitir o pedido ao cozinheiro e lhe conta a história. O cozinheiro resolve se vingar, vai à geladeira e pega um corte de maminha, maturada, selada e fatiada tal e qual se faz à picanha, prepara-a e manda o garçon serví-la ao expert em carnes, tem a certeza de que vai enganar o freguês.
À primeira mordida, o sujeito já identifica a fraude, chama o garçon, torna a fazer o aviso sobre seu conhecimento do assunto, e pede que, agora, seja-lhe trazido um  verdadeiro churrasco de picanha. O cozinheiro, machucado em seus brios, não se dá por vencido, vai travestindo de picanha e mandando ao freguês todas as carnes de seu repertório, e sempre com o mesmo resultado, fracasso, o freguês não errava uma.
Aí, o garçon pede ao cozinheiro que, finalmente, mande a picanha, o freguês era mesmo um especialista, não havia como lográ-lo. O cozinheiro diz ao fatigado garçon que fará uma última tentativa. Vai à sua câmara fria, pega de um quarto traseiro de uma vaca, faz um corte preciso em torno da buceta bovina, prepara cuidadosamente a mais nobre das carnes e a envia ao freguês.
O cara dá a primeira dentada, para um pouco, sente o paladar, pensa, e continua a mastigar, engole o primeiro naco; dá a segunda garfada, a terceira, e termina por comer, avidamente, todo o prato. O garçon e o cozinheiro sorriem satisfeitos e vingados, observando tudo de um canto do restaurante.
Terminada a refeição, o cliente chama o garçon e lhe diz : Garçon, buceta eu como de qualquer jeito! Agora vai lá na cozinha e me traz logo o meu churrasco de picanha!!!"
E é isso, caro anônimo. Buceta, o Azarão come de qualquer jeito, até buceta de Bienal.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Horário De Verão, Esse Injustiçado

Desde 1985 que é a mesma merda, entra horário de verão (ainda na primavera), adianta-se uma hora, sai horário de verão (depois do carnaval, que é quando o ano começa no Brasil), atrasa-se uma hora.
No começo, talvez nos 5 ou 6 primeiros anos do horário de verão, época em que eu ainda tinha relógio, um Casio digital da Zona Franca de Manaus, já sem a pulseira, que eu carregava no bolso, talvez eu tenha sido a única pessoa no planeta a ter um relógio digital de bolso, nunca o alterei. 
Era um relógio muito bom, adiantava 4 segundos por ano, de acordo com o 130, número de telefone que fornecia a hora oficial de Brasília. Seria uma heresia adiantar em uma hora um relógio tão preciso, e eu acabava sendo alvo de chacota por parte de meus amigos, todos os dois.
Hoje, e desde há muito, não carrego mais relógio nem frescura. Mexo e remexo em todos os relógios de casa, o da parede, o do micro-ondas, o do despertador, o do conversor da TV, o do blog. E digo que gosto e não gosto do horário de verão.
Gosto pela manhã, quando saio de casa às 6 horas e, na verdade, ainda são cinco; tudo está mais escuro, gosto de andar no escuro, as poucas pessoas que encontro pelo caminho se tornam apenas vultos, não preciso lhes ver as fuças.
Não gosto por dois motivos. O primeiro, e menos importante, é que entardece quase às 20 horas, oito da noite e o sol na cara; o segundo, e o principal, o que realmente enche o saco, são as pessoas se queixando e atribuindo o cansaço, o desânimo e a indisposição, que lhes são naturais e rotineiras, ao horário de verão. 
Como se uma única e mísera hora "perdida" de um sábado para o domingo fosse responsável por seu sono atrasado, fosse a causa, inclusive, de recorrentes atrasos na chegada ao trabalho.
Porra, é uma única horinha perdida a cada 6 meses. E as horas não dormidas quando o cara tá na "balada"?
O mesmo idiota que reclama da horinha do horário de verão perde três, quatro, ou mais horas, a cada fim de semana na esbórnia. Biscatear, beber e dar a bunda não cansam, o que cansa é a tal uma horinha do horário de verão.
Ora, deixem de viadagem.

Algesia

Há dias em que você precisa dormir mais do que tudo. 
Mais que comer, mais que pensar,
Mais que existir, mais que sonhar : dormir. 
Em algumas dessas ocasiões 
- em raras delas -
 Você, inclusive, tem tempo disponível para; 
Ainda assim não o faz.
Toma outra, e mais outra, e mais uma, 
Anda pela casa como se houvesse algo a fazer, 
Procurando por algo a fazer, 
Prevaricando ao sono, 
Verifica portas, trancas, janelas, torneiras, e o gás, 
Dez vezes,
E mais outra, 
Corre os cento e tantos canais da TV, 
Sempre mais do mesmo, 
E mais outra, 
Senta-se ao banheiro, procura antecipar o serviço do dia seguinte, 
E mais outra, 
E caderno e caneta roxa na mão, 
Alguns pensam cantar melhor no banheiro, 
Você julga escrever melhor, 
Sabemos muito bem qual é a única coisa que melhor se faz num banheiro.
Você sabe que precisa dormir mais que tudo : e faz tudo, menos dormir. 
E não pelo medo do tempo perdido 
(somos tão jovens, desgraçadamente sempre seremos, mesmo que velhos )
Mas para estender a dor. 
Sua dor é a única evidência de que algo em você ainda funciona. 
Se com alguma serventia, já é outra história, mas que ainda funciona.
Você precisa dormir mais do que (quase) tudo. 
Menos do que sentir sua dor.

sábado, 20 de outubro de 2012

Pintura Íntima

"Vem amor que a hora é essa
Vê se entende a minha pressa
Não me diz que eu tô errada
Eu tô seca, eu tô molhada"

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Kit Gay Do Azarão

A campanha para a prefeitura da cidade de São Paulo, a maior cidade da América Latina, em seu primeiro turno, nada debateu sobre propostas políticas e administrativas, nada mostrou das plataformas de governo e das ideologias defendidas por cada candidato e seus respectivos partidos.
O primeiro turno para a prefeitura da cidade mais progressista do país foi palco de um arremedo de uma guerra santa, um arremedo muito do mal-acabado.
Não se deu entre mouros e cruzados, nem entre judeus e palestinos, tampouco entre muçulmanos e... o resto do mundo. Foi cristão contra cristão, uma guerra civil de Cristo. O que bem ilustra os espíritos caridosos e tolerantes dessas raças, os católicos e os evangélicos.
Desgraçadamente derrotado o dito evangélico, como também desgraçadamente teria sido se a derrota caísse sobre a cabeça do dito católico, o foco da campanha para o segundo turno mudou radicalmente. Mas não sem continuar a abordar um tema tão relevante quanto o do primeiro.
Agora, o alvo da campanha é o cu alheio.
José Serra (PSDB) acusa Fernando Haddad (PT) da autoria do nefando kit gay, material didático elaborado pelo MEC durante a gestão de Haddad, que seria distribuído nas escolas públicas para crianças com idades entre 7 e 10 anos, e que, entre outras coisas, sugere à criança que ela adote a bissexualidade como conduta sexual, pois assim aumentaria em 50% (sic) suas chances de engatar um relacionamento - ou, nesse caso, de ser engatado num relacionamento.
Além da putaria, a turma do Haddad mostra bem o seu analfabetismo generalizado : caso siga as recomendações pedagógicas do PT, o educando dobraria a sua chance de pegar alguém; portanto, 100% de aumento de suas chances amorosas.
Colocando o cu dos outros - dos filhos dos outros -, mas tirando o próprio da reta, Haddad retruca e diz que Serra, em 2009, portanto, antes dele, Haddad, também lançou um kit gay, o original. 
Haddad faz referência a uma, até então, desconhecida e obscura cartilha lançada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo durante o último governo Serra.
Fui verificar a acusação de Haddad. E não é que o Serra, a seu modo, lançou mesmo um kit gay? Sim, o kit gay original, o precursor do kit gay petista, é de autoria da gestão Serra. Mais uma vez, a canalhada do PT copiou o PSDB, e, mais uma vez, mal e porcamente.
A cartilha do Serra orienta, por exemplo, que os professores ponham seus alunos em contato com figuras e desenhos que mostrem meninos de mãos dadas com meninos, meninas de mãos dadas com meninas. A cartilha do Serra é uma abordagem mais homeopática, digamos assim, da problemática da rosca ardente.
Haddad e o PT vão na veia, vão de Benzetacil na veia, ops, na bunda, literalmente. O kit gay do PT  não tem nada de desenhinho, tem é um vídeo em alta deifinição mostrando um confuso transexual, um traveco mirim, mijando no banheiro dos meninos, em pé e chacoalhando a benga, porém, confessando-se infeliz ao amiguinho que mija ao lado, queria mijar no banheiro das meninas, sentado/a, secando a última gota no papel, não na cueca. Mais sutil e singelo, impossível. É bem o jeito PT de governar.
Afinal, quem é o verdadeiro pai do kit gay? Nem Serra nem Haddad; ambos são farsantes. Nem a cartilha do Serra nem os vídeos do Haddad; nenhum é um kit gay.
Kit é uma palavra inglesa que significa um conjunto de objetos ou materiais agregados para uma finalidade específica, a exemplos, um kit de costura, um kit de pescador, o cinto de utilidades do Batman etc, um kit traz apetrechos úteis ao público a que se destina,
Em que um gay vai usar uma cartilha ou um DVD? Em nada. Logo, tais materiais não são kits.
Lançarei aqui e agora o verdadeiro kit gay, até para mostrar que não sou preconceituoso, homofóbico, muito menos. 
Este kit seria entregue no início do ano letivo ao aluno que, já no ato da matrícula, se autodeclarasse homossexual. Junto com os livros e cadernos, ele receberia o kit gay do Azarão.
O material listado a seguir é apenas uma sugestão para o produto, um protótipo. Outros itens poderão ser acrescidos a ele, como também substituídos ou mesmo suprimidos, de acordo com a receptividade do público-alvo. Eis o kit :

1 -Uma mensagem de boas-vindas e de autoajuda do ex-secretário da Educação do Estado de SP, Gabriel Chalita;
2 - Uma camiseta do uniforme da escola na cor fúcsia e com gola "V";
3 -Um caderno com a foto do Justin Biber na capa, ou do Restart;
4 -Uma bandeirinha do arco-íris, ou um broche,
5 - Um CD do Village People, ou do Rick Martin,ou do Renato Russo cantando em italiano,
6 - Um DVD com as coreografias da Britney Spears e/ou da Lady Gaga,
7 - Um consolo de borracha de comprimento e grossura médios,
8 - Uma biografia da Rogéria, ou do Clodovil, ou do Chiquinho Scarpa,
9 - Piercings para língua e sobrancelha, e um alargador de orelha, que posteriormente pode ser facilmente convertido num alargador de rosca,
10 - Cera para depilar o brioco,
11 - Camisinhas daquelas distribuídas pelo SUS,
12 - Um tubo tamanho família de KY.

Em tempo : como não sou grande conhecedor do assunto, é bem possível que eu tenha deixado itens importantíssimos de fora do kit, itens imprescíndiveis, de sobrevivência, mesmo. Por isso, sugestões outras serão aceitas e incluídas (no bom sentido,claro).
E fim de papo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Nave Vai

O veneno ainda põe o corpo de pé
(que é do corpo assim postar-se, que é do automático, que é do puro instinto o corpo sempre se levantar),
O ânimo e a vontade, o veneno, porém,
Não eleva mais
(que são da lógica e do pensamento, o ânimo e a vontade, que são da razão, que são do puro hábito do sempre perguntar).
O veneno ainda apazigua as inquietações do estômago,
A azia da alma, não mais.
Para o corpo e o estômago,
A nave vai...
A alma,
Atracada jaz.

Era Uma Vez...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Trocando Merda Por Bosta

A figura da foto ao lado é a pastora Dolores, da Igreja do Evangelho Quadrangular, candidata pelo PSDB a vice-prefeita de Ibirité (MG) na chapa do Pinheirinho (PP). Ibirité, que fica a 25 km de Belo Horizonte e tem quase 150 mil habitantes, elegeu Pinheirinho e Dolores com 43,7% dos votos válidos.
Promessa de campanha da vice-prefeita : promover, nos seus quatro anos de mandato, o total expurgo dos católicos de Ibirité. Acabar com a raça dos padres, dificultar a construção de novas igrejas católicas, destruir tudo quanto é santo exposto em repartições públicas, desapropriar as igrejas católica construídas em terrenos doados pela prefeitura, proibir procissões pelas ruas da cidade e acabar com os feriados católicos.
Devo confessar que é uma plataforma de campanha das mais tentadoras. Até para mim, que sempre anulo o voto. Ver os católicos passarem por um sufoco, serem perseguidos como já perseguiram, seria bem divertido.
O problema é que a dita cuja quer acabar com todas essas regalias católicas ilegais (já que o Estado é laico) para transformá-las em regalias evangélicas ilegais. É trocar merda por bosta.
E trocar uma merda por uma bosta bem mais fedorenta. Porque, apesar de todo o desprezo que nutro pelos padres, tenho que admitir que, no mínimo, são pessoas estudadas, são 8 0u 9 anos de seminário, de onde o padre sai formado em teologia e filosofia, ambas as formações com o reconhecimento do MEC de cursos superiores. O que o padre vai fazer posteriormente com esse conhecimento, se vai aplicá-lo para esclarecer o seu fiel ou torná-lo ainda mais tapado e cordeiro, já é outra história, mas que ele possui um relativo grau de estudo, ele possui, e o conhecimento é, ainda, uma das poucas coisas que eu respeito. Já os pastores evangélicos, e digo dos chamados neopentecostais, via de regra, são semianalfabetos de pai e mãe, chucros de DNA.
Os terrenos desapropriados da igreja católica seriam repassados à construção de novos templos evangélicos, que teriam ajuda do cofre público para sua construção, os feriados católicos seriam substituídos por uma semana evangélica obrigatória para os funcionários municipais e  estudantes, além  de dar preferência aos evangélicos na contratação de professores, para que “trabalhem no evangelismo das crianças e jovens”.
As promessas de campanha estão declaradas em uma carta, supostamente de autoria da vice-prefeita, entregue aos pastores da Quadrangular às vésperas das eleições. A missiva foi distribuída SOMENTE AOS PASTORES da IEQ e demais clérigos que compareceram aos encontros promovidos pela candidata Dolores. Atenção para a orientação ao final da carta : 

 Compromisso da pastora Dolores com os pastores

1- Retirar e proibir imagens de santos nas repartições públicas e demolindo também a gruta da santa no central park, o que ajudará o trânsito e evitará idolatria católica.
2 - Proibir a presença de padres no velório municipal e eventos municipais.
3 - Criar a semana evangélica obrigatória para todos os funcionários da prefeitura.
4 - Proibir procissões de santos nas ruas e nas praças.
5 - Repassar terrenos doados para os católicos pela prefeitura no passado para as igrejas evangélicas ainda sem templo próprio naquelas localidades.
6 - Criar a semana evangélica estudantil obrigatória para todos os estudantes, professores e funcionários das escolas municipais.
7 - Dar preferência a funcionários evangélicos nas escolas municipais para estes trabalharem no evangelismo de crianças e jovens.
8 - Dificultar e impedir a construção de novos templos dos católicos.
9 - Ajudar com dinheiro, materiais, mão de obra e equipamentos a abrir novos templos evangélicos das igrejas que estão nos apoiando em cada bairro da cidade.
10 - Acabar com todos os feriados municipais de adoração de santos que é um pecado.
11 - Transformar nossa cidade em uma cidade 100% evangélica em quatro anos         
“Esta carta é extremamente secreta, não entregue. Cópia dela (sic) deve ser lida nos cultos do último domingo antes das eleições como combinamos na reunião. EXIJA O VOTO DE SEU REBANHO.”
Se alguém quiser ver a reprodução da tal carta, acesse o link do site Genizah, de onde tirei essas informações.
Que me caia o pau se essa porra de regime em que vivemos é uma democracia, se é uma democracia aceitar a candidatura de uma aberração dessas, ou não tê-la impugnado caso a carta de intenções tenha surgido após o registro no TRE, ou não depor a vice-prefeita de seu cargo agora, caso a tal carta só tenha aparecido após sua eleição.
Que me sequem os bagos se episódios feito este não é claramente dar uma chance legal e constitucional à intolerância, ao fascismo. E fascismo por fascismo, eu prefiro o ditador declarado, prefiro os tanques nas ruas.
E não venham, os democratas de plantão, querer me convencer que esses são incidentes isolados, que esses absurdos ainda ocorrem porque o brasileiro exerce a democracia há pouco tempo, que estamos em fase de aprendizado, que, com o tempo, esse tipo de candidato será excluído pela própria população.
Pelo contrário, essa lassidão nas regras só leva a uma maior deseducação, a um maior descaso para com o verdadeiro exercício da vontade política. Permitindo a candidatura dessas figuras de show de horrores, o brasileiro nunca aprenderá que a política e a vida pública são coisas sérias, que devem ser exercidas por pessoas capacitadas e de bom senso.
A pastora, obviamente, nega a autoria da carta, jura por Jesus que não é a mãe da criança, diz que foi ato de seus inimigos políticos, que forjaram a carta e a espalharam pela cidade com a intenção de prejudicar sua candidatura. Será que um inquérito irá ser instaurado para melhor apurar os fatos e para que se tomem as devidas providências, ou ficará o dito pelo não dito?
Tomara, sinceramente, que democracia não seja isso. Porque se for, repito, prefiro os tanques nas ruas. Antes quartéis que igrejas, antes a disciplina que o fanatismo.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Todas As Cartas De Amor São Rídiculas

Havia Pessoa(s), e havia Álvaro de Campos, o meu Pessoa favorito. Mórbido, desencantado e cansado da vida, irônico (autoirônico, muitas vezes), inconformado, consciente da pequenez humana, iconoclasta, um marretador por excelência.
Todas As Cartas de Amor São Rídiculas
(Álvaro de Campos)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cerveja Boa É Mesmo A Mais Barata (Ou : Mais Uma Justiça Feita Ao Azarão)

Quem anda aqui pelo blog sabe que, em relação à cerveja, eu só tomo da mais barata. Seja ela qual for, eu sempre compro a que estiver em promoção no mercado. 
Primeiro porque, realmente, não sinto grandes diferenças de paladar : cerveja é amarga, é ruim, ninguém toma pelo gosto, toma pelo álcool que lá está. Segundo, você bebe a cerveja agora e, meia hora depois, já a está mijando, e mijo é mijo, não vou ser idiota de ficar produzindo mijo mais caro, mijo tem que ser o mais barato possível.
Skol, Antartica Original, Bohemia, Itaipava, essas queridinhas nacionais, não entram aqui em casa. Meu lema é : cerveja boa, é cerveja barata (ver indicações na barra lateral do blog).
E não é que eu, na minha avareza, acabei acertando na mosca, de novo?
Um estudo feito por cientistas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da USP de Piracicaba, e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), revelou a fraude que é a cerveja brasileira, sobretudo as "melhores" marcas.
No Brasil, nada é puro, tudo pode ser misturado, miscigenado, com o aval da lei. A gasolina, por exemplo, pode ter, se não me engano, 25% de álcool; hambúrgueres e outros produtos de carne bovina podem ter também certa porcentagem de carne de frango, minhoca e outras; tecidos de algodão podem ter uma porcentagem de sintéticos; e a coisa vai por aí.
Pela legislação nacional, eu não sabia disso, a sagrada receita da cerveja - a santíssima trindade da água, lúpulo e cevada - pode ser profanada com até 45% de milho em sua composição. E o pior : algumas das "melhores" marcas até ultrapassam esse limite herege.
O estudo é amparado pela mais avançada tecnologia atômica, sem chances de erro.
Vou tentar resumir : durante a fotossíntese, os vegetais incorporam átomos de carbono, principalmente na forma de carboidratos. Na natureza, existem o carbono 12 (o mais comum) e o carbono 13 (um isótopo seu, uma variedade mais gorda). Alguns vegetais incorporam mais o C-12 e outros, o C-13. A Santa Cevada tem predileção pelo C-12, enquanto que as gramíneas tropicais, como o milho e a cana, preferem o C-13, é como se fosse a "assinatura atômica" de cada espécie.
Baseando-se nessa assinatura, os cientistas verificaram que a proporção das variantes 12 e 13 do elemento químico na cerveja era intermediária, o veredicto só podia ser um: mistura. Fraude. Heresia. Blasfêmia.
Os infiéis se defendem :
A Ambev, fabricante das marcas Caracu, Antarctica, Brahma, Bohemia e Skol, afirmou que "controlar a quantidade de malte de cevada é necessário para obter cerveja com características adaptadas ao paladar do consumidor brasileiro: leve, refrescante e de corpo suave";
A Schincariol, que produz a Nova Schin e a Glacial, diz que "respeita as iniciativas de pesquisas realizadas pela USP, mas ressalta que a metodologia utilizada no mencionado estudo não é a determinada pelo Ministério da Agricultura";
"É um trabalho interessante, mas discordamos dos resultados", disse à Folha Humberto de Lazari, gerente corporativo industrial do Grupo Petrópolis, das cervejas Itaipava e Crystal;
A Heineken, hoje responsável pela Kaiser, declarou em comunicado que "já possuía conhecimento da publicação, mas não encontrou relevância no artigo, pois a análise científica possui diversas inconsistências".
Eu, cervejeiro que considero Santo o meu Ofício, decreto : inquisição, tortura, e fogueira para todos eles!!!
Foram analisadas 77 marcas de cerveja, 49 nacionais e 28 importadas. Entre as nacionais, as mais impuras : Antartica, Antartica Malzebier, Antarctica Original, Antartica Subzero, Bohemia, Brahma Extra, Brahma Malzebier, Caracu, Crystal, Glacial, Itaipava, Nova Schin, Skol e Skol Beats, Kaiser Summer Draft.
A minha Bavária de quase todos os dias não está nessa lista profana. Tomo muito mais cevada que o viadinho que compra a Bohemia e pago muito mais barato. Outra boa e barata, a Colônia, também não está na lista das pecadoras. Merece ainda destaque a saborosa cerveja Cintra, de origem portuguesa, fabricada na cidade de meu querido amigo Keler Margá, Mogi Mirim.
Mais uma vez, o Azarão emerge triunfante da maledicência do povão, inclusive da de alguns de seus próprios amigos, que o acusam de sovinice e pão-durismo. Se fuderam de novo, meninos. Aprendam de uma vez por todas : o que o Azarão sabe por instinto, por uma percepção mais aguçada da realidade, por um dom inexplicável, a ciência, cedo ou tarde, acaba por comprovar. Não tem erro, o Azarão falou, tá falado.
Pois é, Fernandão, no sábado, quando vier aqui em casa, já sabe o que o aguarda, né? Prepare-se para degustar rodadas e mais rodadas de Bavária ou de Colônia ( a que estiver mais barata). Certificação de qualidade dada pelo Azarão e pelo pessoal do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da USP de Piracicaba, e da Unicamp. Doravante, caro amigo, antes de tomar uma cerveja, veja se ela ostenta o ISO-Azarão estampado em seu rótulo.
Fonte : Folha de SP

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Os Punheteiros De Cristo

Mark Driscoll, pastor de uma igreja de Seatlle (EUA), diz no 5º capítulo de seu livro, Porn-Again Christian, que a masturbação, a boa e velha companheira de todas as horas, a punheta, é uma forma de homossexualidade, por não haver contato com uma mulher durante o processo.
“Principalmente quando o masturbador olha para um espelho, excitando-se com o seu próprio corpo.", diz o pastor. Bom, aí ele está certo, são aqueles caras de academia, que comeriam a eles próprios se pudessem, como não podem, saem dando o rabo. Só que a punheta não tem nada a ver com a rosca frouxa do fortão.
Ainda segundo o pastor, só duas formas de onanismo podem livrar o punheteiro de suspeitas de boiolagem : se ele se masturbar na presença da esposa, ou, se a esposa estiver distante, em viagem, por exemplo, ele se excitar com uma foto dela. O pastor acaba de estabelecer uma nova modalidade de punheta, a punheta sem pecado, a punheta cristã. Tocar uma olhando pra foto da esposa? Esse pastor é um pervertido sexual!!!
A bronha não tem nada a ver com a viadagem, pastor. Fosse assim, fora os eunucos, todos os homens seriam bichonas loucas. O problema não é a punheta, pastor, a questão é em intenção de quem ela é tocada, e como é tocada.Vou tentar pôr em termos que um religioso como o senhor possa entender.
Se o cara socar uma bronha pensando na maçã da Eva ou no cabacinho da Virgem Maria, tá tudo certo; o cara é um doente, mas é espada, as pregas dele não correm o menor risco. Se, por outro lado, ele descabelar o palhaço pensando na serpente do Adão ou no Cristo pregado na cruz, só com aquela sunguinha e de pau duro, uma atenção especial já deve ser dada ao caso, o sujeito deve ser posto em observação, em quarentena.
De qualquer forma - tanto faz se pensando em Eva ou Adão -, ficando o ato masturbatório restrito ao membro masculino, não há razões para grandes alarmes nem para condenações prematuras. 
Agora, se concomitantemente ao cinco-contra-um, o cara começar a rondar as cercanias do cu, começar a fazer cosquinha no brioco com a unha e, desgraçadamente, atolar o dedo em si, promover uma autoempalação, aí é caso perdido.
Se o cristão tiver que fazer o fio-terra para conseguir depenar o sabiá, não restam dúvidas, o cara é viadão, mesmo. Nesses casos, o sujeito só tem  uma alternativa : ordenar-se padre ou pastor.
Fonte : Paulopes

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Será Arte?

Volta e meia, eu expresso aqui os meus apreço e admiração pela tal arte moderna ou contemporânea. Ironizo, desanco, faço chacota, marreto. Claro que exagero muitas vezes. Maldosamente, estereotipo-a, canalhamente, caricatuarizo-a, dou-lhe ainda menos importância do que ela tem. Até porque esse é o objetivo do blog, achincalhar.
Mas é claro que não sou tão intolerante para com a arte moderna como posso, muitas vezes, fazer supor. Entendo perfeitamente que ela é uma linguagem, mutável e moldável ao seu tempo e à sua época, feito qualquer outro tipo de linguagem, as línguas escrita e falada, a exemplos.
Mal comparando, a arte acadêmica e puramente figurativa é a norma culta da língua, é a língua usada pelos escritores, pelos literatos, é a língua falada nos grandes saraus. A arte acadêmica é o dicionário e a gramática, é a palavra pensada, é a vírgula ponderada, é a concordância cinzelada, a regência esculpida.
A arte moderna é (são?) as gírias, os neologismos, os estrangeirismos canibalizados. A arte moderna é a palavra dita como ferramenta, como instrumento de sobrevivência, dita nos curtos espaços entre o verde e o vermelho de um semáforo, de cada mastigada no fast food almoço nosso de cada dia, no intervalo laborial para o cafezinho e maledicência da vida alheia.
A arte moderna é a linguagem coloquial, cotidiana, é a língua escrita e falada pelo vendedor ambulante, pelo taxista, pelo varredor de rua, pelo motoboy, pelo torcedor nos estádios de futebol, pelo maconheiro, pelo favelado, pelo aluno semianalfabeto. Com tanto poder de comunicar e se fazer entender - talvez até mais - quanto a norma culta, e igualmente merecedora de espaço e reconhecimento.
Não obstante todo esse meu entendimento acerca das esquisitices da arte moderna, alguns artistas conseguem minar qualquer complacência ou boa vontade que eu possa ter. Por exemplo, o autor da obra abaixo.
A obra é isto mesmo que você está vendo. Uma página quadriculada de agenda com uns triangulinhos pintados. Não é uma tela imitando uma folha de caderno, é uma folha de caderno, mesmo, de 15,5 X 21,5 cm. Com direito a rebarbas e tudo.
A obra, a aquarela homes (homenols), parte da série Lichtzwang, de valor inestimável para a humanidade, é do espanhol Daniel Steegmann Mangrané, que exige que elas sejam expostas exatamente assim, sem moldura nem nada, e são presas à parede com fitas adesivas, o famoso durex.
Leonardo da Vinci jamais imaginou tal código matemático e hermético, Van Gogh, de inveja, deceparia a outra orelha, Rubens, Caravaggio e Rembrandt estão afoitos para reencarnar e se tornarem adeptos e aprendizes de Mangrané.
E a obra, pasmem, foi surrupiada da 30ª Bienal de São Paulo. Puta que o pariu!!! Vai ver que o cara precisou de um pedaço de papel pra anotar o telefone da biscate e pegou o que estava mais à mão.
Falando sério, quanto, de verdade,  pode valer um troço destes? Quanto alguém pode se dispor a pagar por isto?
Peguei uma agenda que tenho aqui, com umas folhas quadriculadas no final, e já desenhei várias obras iguaizinhas a essa. Creio que acabei de encontrar um meio de ganhar uma grana, tornar-me-ei um falsificador internacional de artes. O meu ficou igualzinho, até a disposição das rebarbas. Caso os organizadores da Bienal queiram repor a obra, a um preço bem módico, é só contatar a Marreta.
Para maior garantia, o artista aceitou que fossem instalados vidros de proteção nos trabalhos. A segurança ao espaço reservado à Lichtzwang também foi reforçada, de acordo com a Bienal.

Em tempo :  alguém acreditou mesmo nessa lenga-lenga de arte acadêmica/norma culta da linguagem e arte moderna/fala coloquial? Eu, não. E aquela parte, então, em que eu digo dos estrangeirismos canibalizados, em que eu digo que a fala do idiota merece igual espaço que a do culto? Puta que o pariu!!!! Vocês não acreditaram, acreditaram? Não me decepcionem, meninos e meninas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

As Putas E Os Tolos Vencerão; Sem Dúvida, Bukowski, Sem Dúvida;

99 para um

o tubarão resplandecente
quer meus bagos
enquanto atravesso a seção de carnes
em busca de salame e queijo

donas de casa púrpuras
apalpando abacates de 75 centavos
sabem que meu carrinho é um
pau monstruoso

sou um homem com um relógio antigo
parado em uma cabine telefônica numa espelunca
chupando um bico vermelho como morango
de cabeça para baixo em meio à multidão na Filadélfia.

de repente tudo ao meu redor são gritos de
ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO
e eu estou metendo em alguma coisa debaixo de mim
cabelos ruivos opaco, mau hálito, dentes azuis

costumava gostar de Monet
costumava gostar muito de Monet
era divertido, eu pensava, o que ele fazia
com as cores

mulheres são caras demais
coleiras para cachorro são caras
vou começar a vender ar em sacos alaranjados
com os dizeres: florescências da lua

costumava gostar de garrafas cheias de sangue
jovens garotas em casacos de pêlo de camelo
Príncipe Valente
o toque mágico de Popeye

o esforço está no esforço
como um saca rolhas
um homem de verdade não deixa farelos de cortiça no vinho

este pensamento já ocorreu a milhões de homens
ao se barbearem
a remoção da vida talvez fosse preferível à
remoção dos pêlos

cuspa algodão e limpe seu espelho
retrovisor, corra como se tivesse vontade, ex-atleta,
as putas vencerão, os tolos vencerão,
mas dispare como um cavalo ao sinal da largada.