sábado, 31 de outubro de 2015

Entre Umas e Outras

É o vinho,
Remédio para a vida?
Curativo?
Atadura?
Lenitivo?
Cataplasma?
Anestesia?
Não!
O vinho
É a mais covarde
Das tentativas de suicídio.

Gosto do Pato Fu

"Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu só quero ter você por perto"

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

31 de Outubro - O Dia do Saci

Hoje é o Dia do Saci!!!
Vassoura é o caralho! Que, por aqui, essa merda só serve para a dura faxina e para pôr atrás da porta e espantar visita de sogra e cunhado! O Saci viaja é de redemoinho, que é muito mais elegante.
Chapéu cônico e pontiagudo é a puta que o pariu! Que, por aqui, cone ou é casquinha de sorvete ou sinalizador de estrada! O Saci usa é um estiloso barrete vermelho, quase que uma boina francesa. Très chic!
Travessuras ou gostosuras é o cu da mãe! Que travessura é coisa de nerd estadunidense! O Saci faz é molecagem, é sacanagem, é filha da putice! Não tem marshmallow nem varetas de alcaçuz, que isso são guloseimas dos sobrinhos obesos do Tio Sam! Com o Saci, tem é pipoca que vira piruá, tem é pé do moleque pra quebrar os dentes da banguelada brasileira, tem é assobio agudo na orelha, e as varetas de alcaçuz, vocês podem muito bem imaginar onde o Saci lhes enfiaria!
Esqueletos tremilicantes não metem medo por aqui; ou vão dar mais sustância à sopa, ou vão para o bucho dos vira-latas.
O Jack Cabeça de Abóbora aqui vira purê. Primeiro, o Saci come-lhe o rabo, que é só para mostrar quem manda no matagal. Depois, arranca-lhe a cabeça e a leva para a prima Cuca, que a joga em seu caldeirão, faz com ela um cozido condimentado com asa de morcego, rabo de lagartixa, guizo de cascavel, ovos de caranguejeira, carapaça de escorpião e de lacraia e bastante pimenta cumari e a serve em convescote para o Curupira, o Caipora, o Boitatá, a Mula-sem-cabeça, o Lobisomem, a Iara, o Mapinguari etc. Uma grande festança de antropofagia!
Raloim é a puta que o pariu! Que hoje é o Dia do Saci, baby!
O Saci é o elemental brasileiro por excelência. É o Tiririca de gorro e cachimbinho. É o Macunaíma de uma perna só.
Pau no cu do Raloim e dos seus simpatizantes. Raloim aqui em casa não entra nem bate à porta ou toca campainha. Tem duas coisas que eu não atendo de jeito nenhum. Uma é Testemunha de Jeová querendo vender revistinha e outra é molecada retardada fantasiada de Raloim.
Viva o Dia do Saci e os que lutam e prezam por sua preservação, com solene referência feita e destaque dado a duas assossiações : a SOSACI (Sociedade dos Observadores de Saci) e a ANCS (Associação Nacional dos Criadores de Saci), essa última localizada na cidade paulista de Botucatu, que visa a reprodução da espécie em cativeiro para depois devolvê-la à natureza - sim, amigos, o Saci é um mito em vias de extinção, sobretudo depois da introdução de espécies exóticas invasoras, as do Raloim.
O presidente da ANCS deu, inclusive, uma esclarecedora e elucidativa entrevista sobre a associação no Programa do Jô - podem ir ver no youtube, está lá -, na qual fiquei sabendo do óbvio e sempre insuspeitado : sim, tem Saci mulher. Saci-fêmea ou Sacia, sei lá, só mesmo a Dilma Rousseff para nos dizer a correta semântica de gênero, ela que grafou para sempre nos dicionários o vocábulo "presidenta" e introduziu nos compêndios de taxonomia a espécie Mulheres Sapiens.
Seja como for, Saci-fêmea ou Sacia, sempre falo do Dia do Saci aqui no blog, mas nunca me referi à dona onça do coisa ruinzinha, como diria Tia Nastácia. E se a ela nunca me referi, confesso, foi por pura ignorância de sua existência. Como são tempos da ridícula, aporrinhante e politicamente correta discussão de gêneros e como não quero ser chamado de machista pelos patrulheiros de plantão, apresento-lhes hoje, nessa seleta data, a mulher do Saci. A Sacia.
Grande Saci!!!! Escondendo o ouro!!! Com uma Sacia dessa, só mesmo dizendo o que o Saci sempre lhe diz : fica de três!!!
E dá-lhe fumo, Saci!

Pequeno Conto Noturno (58)

- Essa foi das boas, não foi? - Mirelle, ainda com o pau de Rubens dentro dela, a murchar.
- Foi, foi das boas - Rubens, saindo de Mirelle e se estendendo ao lado dela, o pau dando suas últimas cabeçadas no vazio.
- Acho melhor você dar uma lavada nisso aí - diz Mirelle -, tá uma melequeira só, ainda mais que você não dá nem uma aparadinha nos pelos.
- Não aparo pelos, mesmo. Nem suvaco nem perna nem peito, que dirá o saco. E não precisa lavar, não. É só deixar secar, virar uma crosta e aí é só bater e virar pó, vai pro chão e os ácaros que façam sua festa.
- Não gosto de homem sujo, não - e Mirelle desce pro pau de Rubens e chupa e lambe tudo, até ficar limpo.
- Bem melhor, não acha? - e beija a boca de Rubens.
- Vou pegar uma cerveja.
Rubens veste a cueca e vai pra cozinha. Abre uma para si e outra para Mirelle.
- Foi das boas mesmo, né, Rubens?
- Já falei que foi, qual o problema?
- Mas já teve melhores, né?
- Umas melhores, outras piores... essa foi acima da média, o pau subiu fácil, você gozou, acho, duas ou três vezes...
- Quatro.
- Pois então.
- Sei lá, Rubens, acho que a gente meio que dominou a "técnica" um do outro, sabemos os botões certos que temos que acionar um no outro, a sequência correta, as cordinhas que temos que puxar...
- E qual o problema nisso?
- Sei lá, acho que não dá pra saber se o outro tá mesmo entregue...
- Te garanto que não fingi que meu pau tava duro.
- Idiota... tô falando sério, não dá pra saber se o ato é mecânico ou se o sentimento ainda existe. Sabe de uma coisa, Rubens?
- Diz.
- Acho que nosso caso chegou naquele estágio Gato de Schrödinger.
- Vixe!  Gato de Schrödinger... já vi que você tá eclética hoje.
- Eclética é a puta que o pariu, que essa palavra saída da tua boca não é elogio, sei muito bem o que pensa dos ecléticos, que são puro verniz, que são pessoas que sabem de quase tudo um pouco e quase tudo mal, que do livro só leem a orelha, que têm cultura de palavras cruzadas, de show do Milhão.
- Ora, ora, então, eu sou um eclético e não sabia.
- Vai pra puta que o pariu de novo. Você sabe que tem conhecimento muito além de palavras cruzadas.
- Mas, na prática, só tem me servido pra isso, fazer palavras cruzadas. E vou pegar mais duas latas, que já vi que a conversa vai longe.
- Vai tomar no cu.
- Aliás, falando em cu...
- Só se a sua mãe der o dela pra você.
Rubens ri da cozinha, e volta com mais duas latas.
- Então, estamos no estágio Gato de Schrödinger do nosso relacionamento...
- 'Cê tá de sacanagem, né? Mas eu não tô brincando, não, você sabe da coisa do gato, né?
- Claro que sei, sou eclético.
Rubens se desvia de um chute de Mirelle, que mirava seu saco.
- Sei que foi um experimento imaginado por algum desses dementes e envolvia uma caixa, uma amostra radiativa, um contador geiger, um martelo, um frasco de veneno volátil e, claro, um gato, tudo fechado na caixa. A amostra radiativa, que pode ou não decair, pode ou não disparar o contador geiger, que acionaria ou não o martelo, que quebraria ou não o frasco de veneno, que evaporaria ou não, e que, finalmente, mataria ou não o gato. O que significa que, sem abrir a caixa, não temos como saber se o gato está vivo ou morto. Sem abrir a caixa, o gato estará vivo e morto ao mesmo tempo.
- E não acha que nosso caso está assim? Meio vivo, meio morto?
- Quer mesmo abrir a caixa? Pode ser que descubra que o gato, inclusive, nunca esteve lá.
- Esteve, claro que esteve, ele é parte fundamental do experimento.
- Que é hipotético, nunca foi realizado. E se Schrödinger pensa que pôs o gato lá, mas não? E se colocou e não colocou o gato ao mesmo tempo?
- Vai pegar mais cerveja lá, vai.
Rubens vai, começara a gostar da conversa, é sempre bom provocar Mirelle, rende uma boa trepada.
- Toma. Vamos admitir, como você quer, apesar de não ter prova ou indício nenhum disso, que Schrödinger tenha colocado o gato na caixa. E se o gato for um excelente alpinista da quarta dimensão?
- Puta que o pariu, Rubens, agora fodeu.
- Tá vendo? Acho que sou mais eclético que você.
Um novo chute de Mirelle. Igualmente evitado. Rubens ainda tem planos para o seu pau hoje.
- A quarta dimensão é o tempo, Mirelle. Por que não conseguimos escapar de uma sala sem portas ou janelas? Porque somos seres que só percebemos três dimensões e, portanto, só por elas conseguimos nos mover e deslocar, a altura, a profundidade e a largura. Uma sala fechada, sem portas ou janelas, fecha as três. E se conseguíssemos nos mover pela quarta dimensão, pelo tempo? Bastaria que nos  deslocássemos para uma posição no tempo anterior àquela em que fomos trancafiados e estaríamos livres. E se o gato de Schrödinger souber subir e andar elegantemente pelos muros da quarta dimensão?
- Vamos deixar essa história da caixa pra lá, tá bom, Rubens?
- Não quer discutir a relação?
Outro chute. Triscou.
- E esse pau, Rubens? - e Mirelle aponta com um movimento da cabeça para o meio das pernas de Rubens - Como é que ele tá aí dentro da cueca?
- Digamos que ele está no estágio que eu chamo de o pau de Schrödinger.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Amado de Calíope

Toma minha mão, amado.
Ainda tens coragem?
Teve algum dia?
Terá?

Estás a ver o alto daquele prédio, amado?
Que deu vertigem no King Kong
(ou aquele buraco na árvore que tonteou Alice)?
Ainda és capaz de trepar nele
Feito em goiabeira
Ou jabuticabeira de tua infância
(ou de mergulhar nele feito na piscina do clube na qual, após assistires a Tubarão, nunca mais ousaste abrir os olhos)?
De não saberes do chão
Ávido por tua queda
Por teus ossos
Por tua alma
(ou da Rainha voraz pela tua cabeça)?
És ainda capaz de sobrepujá-lo
De um único salto
Mais rápido que uma bala
Confundindo-te com um pássaro ou um avião
(ou de planar leve em suave aterrissagem, papel avulso na ventania, esquilo voador)?
És ainda gato montanhês
Capaz de escalar meu escarpado 
E caprichoso colo
E nele fincar tua bandeira
E montar acampamento
(ou és Gato de Cheshire, somes e fica apenas o teu sorriso em mim)?

Estás a ver aquele escuro, amado?
Ainda vens comigo?
Ainda és capaz de rir
Quando as bússolas estão perdidas
Quando as placas estão trocadas
Quando o pombo-correio não encontra o endereço?
Quando as velas e os lampiões
Por medo
Calam suas chamas?
Ainda és capaz de comandar telepaticamente teus pirilampos
Tuas águas-vivas
Tuas medusas de neon?
És capaz ainda de sentir e de se guiar
Pelo meu cheiro
Pelo meu cio
Pelo meu grito por ti?

Estás a ver, amado?
As mesas pingando de sono nos bares a fechar
E as mesas mal-humoradas e ainda com mau hálito e com olheiras
Das padarias recém-despertadas?
És ainda capaz de me convidar
Para a última cerveja da noite
E para o primeiro café do dia?
Ainda és capaz de me oferecer um rock'n'roll e uma Lua cheia,
Uma canção de ninar e uma Aurora Boreal,
Um motivo para choro e um cafuné?

Toma minha mão, amado.
Ainda tens coragem?
Teve algum dia?
Terás?

Bezerro de Ouro no Rolete

Oba! Os bons e animados tempos dos sacrifícios ritualísticos voltaram!
A Igreja Católica, que sempre foi chegada a uma fogueira, traz de volta a era da incineração de animais para aplacar a ira de Deus!
E dá um toque atual e capitalista ao ritual : une o útil ao agradável e ao lucrativo. O útil, apaziguar a ira do Todo-Poderoso, pois não convém deixá-lo contrariado, vide Velho Testamento; o agradável, encher e saciar o bucho do fiéis, que rebanho de pança cheia é sempre mais cordeiro; e o lucrativo, encher as burras do padre e da paróquia.
Estava eu voltando do mercado, onde fora pegar a cervejinha da noite - hoje já é quinta-feira e não sou de ferro - e, ao passar em frente a uma igreja do bairro, dei de cara com o anúncio de mais uma festa de congraçamento cristão. Uma quermesse? Um bingo? Porra nenhuma! Um ritual de sacrifício animal! Tava lá num cartaz, ou num banner, como se costuma dizer hoje em dia : A Paróquia Fulano de Tal tem o prazer de convidar seus paroquianos para O 2º Boi no Rolete, a ser realizado no dia tal, hora tal etc. O 2º Boi no Rolete!
Urgente! Chamem Moisés! Que esse bezerro não é de ouro, mas vendido assado, destrinchado e acompanhado de farofa e vinagrete vai render para o padre tanto quanto se fosse.
E vejam a desfaçatez do padre para com o bicho, o escárnio para com o animal. O pobre boi vai ser eviscerado e arrancado de seu couro, um rolete grosso e pontiagudo será enfiado no seu cu e sairá pela sua boca e ele ficará a girar sobre brasas e labaredas. E ainda colocam o boi todo alegre no cartaz? Fazendo sinal de joinha?
O Deus judaico-cristão deve estar a morrer de orgulho de seus filhos. De verdade.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Darth Vader e a Bancada Galáctica

A eleição para prefeito de Odessa, Ucrânia, virou caso de polícia. O pivô da ocorrência foi a candidatura de Darth Vader ao mais alto cargo executivo do município. Isso mesmo, o Todo-Poderoso do Império Galáctico está a demonstrar interesse pela política da Terra, quer organizar uma bancada galáctica, se infiltrar sub-repticiamente para expandir seu Império.
O problema nem foi com a candidatura em si, pois ela foi considerada legal em Odessa e ele concorreu como qualquer outro candidato. No ano passado, Darth Vader já tinha concorrido ao cargo de primeiro-ministro; ele é filiado ao UIP, Partido Ucraniano da Internet - isso é tudo verdade, não estou inventando nada, ainda. 
Até aí, nada de mais, nenhuma novidade para nós brasileiros, pois bizarro por bizarro, temos o Tiririca, as Mulheres-frutas - melão, maçã, morango etc -, o Kid Bengala, os ex-BBB, o Marquito etc etc. Aliás, a cidade de Odessa tem uma certa afeição pelo vilão de Star Wars : na semana passada, uma estátua de Lênin foi substituída por uma do Darth Vader, com direito a inauguração e tudo.
Inauguração da estátua de Darth Vader, em 23/10/2015, com a presença do próprio, acompanhado de sua Guarda Real.

Mas não seria temeroso eleger um notório tirano intergaláctico para ocupar cargo na política terrestre? Um Hitler, um Átila, um Che Guevara interplanetário? Uma vez empossado, não correríamos o risco de Darth Vader ir aumentando sua bancada galáctica e aprovando leis de interesse único e exclusivo do Império? Sim, claro que sim. E é outra coisa a que estamos muito acostumados : grupos políticos aprovarem leis que favorecem apenas aos seus interesses e aos de seus colaboradores.
Nesse aspecto, tenho muito menos medo da bancada galáctica de Darth Vader do que, a exemplos, da bancada evangélica de Silas Malafaia, Marco Feliciano e Eduardo Cunha e da bancada gay de Jean Wyllys; ambas, cada uma a seu modo, uma vestida de conservadora e reacionária, a outra, de moderninha e liberal, tentam a todo momento fazer passar leis que imponham seus particulares modos de vida e crenças a toda a população do país; seja tentando tornar obrigatório, nas escolas públicas, o ensino religioso, a leitura da bíblia ou a substituição da Teoria da Evolução pelo Criacionismo, seja querendo distribuir o tal kit gay para crianças dos 7 aos 10 anos de idade. Fascistoides, ambas. Darth Vader, pelo menos, não posa de bem-intencionado.
Mas, como eu disse, antes de quase me perder em divagações, correlações e delírios, nem foi a candidatura em si a causadora da confusão que culminou com a ação imediata da polícia. Foi a boca de urna. Em Odessa, boca de  urna é crime eleitoral, assim como cá. Darth Vader ser candidato, tudo normal. Boca de urna, de jeito nenhum. E eu concordo. Afinal, alguma decência e moralidade tem que ser mantida no processo.
O autor da boca de urna em prol do candidato Darth Vader foi ninguém mais ninguém menos que Chewbacca, o Tony Ramos espacial. Foi o que mais me causou surpresa. Chewbacca, até a última informação que eu tinha, era do Partido dos Jedis, correligionário de Luke Skywalker, Han Solo e Princesa Leia. Foi cooptado pelo lado negro da Força? Recebeu mensalão de Darth Vader?
Pela infração de boca de urna, Chewbacca foi levado à barra dos tribunais eleitorais ucranianos - ainda vestido de Chewbacca - e condenado a pagar o equivalente a R$ 30,00 de multa. Safo que só ele, acostumado a fugir de disparos laser, Chewbacca não se deixou pegar facilmente em prejuízo, tentou sair pela tangente na velocidade da luz, em modo de dobra espacial : argumentou que o dinheiro dele está depositado em um banco intergaláctico e que não tem validade na Terra.
Pãããããta que o pariu!!!! Aí, quando o policial dá umas bordoadas num sujeito desse, ele é acusado de truculência, de abuso de poder, de violência desnecessária. Ponha-se no lugar do oficial da lei : o cara tem um trabalho perigoso, ganha uma miséria, é malvisto pelo grosso da população, prende o Chewbacca, taca-lhe uma multa e escuta : meu dinheiro está em um banco intergaláctico! Tem que ter muito autocontrole. Tem que ser muito zen.
Só sei que Chewbacca, tentando não morrer com uns caraminguazinhos, pode ter exposto seu candidato a um problema maior. Que estória é essa de dinheiro em conta em banco intergaláctico? Um paraíso fiscal cósmico? Um caixa 2 da campanha de Darth Vader? Chewbacca, sem querer, pode ter revelado evidências de um propinoduto, ou, nesse caso, de um propino-buraco-de-minhoca.
Chewbacca sendo preso pelos policiais ucranianos e no tribunal à espera de sua sentença.

domingo, 25 de outubro de 2015

Travessuras de Menina Má (2)

Cerveja Ponce de Leon

Tenho cá para mim que todos os poetas, escritores, compositores, enfim, todos os artistas que fazem da palavra a sua pena e seu gozo têm um quê de profetas, de visionários.
Através de suas líricas faculdades, predizem fatos, situações, mudanças de comportamento e mesmo descobertas científicas que os das artes do método, empirismo e pragmatismo só desvendarão décadas ou séculos após.
Fisgam pequenos fragmentos do futuro, captam pixels do amanhã com seus kidbengálicos paus de selfie, pinçam retalhos de cetim e confetes de carnavais do porvir com suas refinadas sensibilidade e parabólicas, do espaço, do mundo da lua, do éter, de algum banco cósmico de conhecimento.
Se não vislumbres já prontos e acabados do futuro, ao menos detectam seus indícios, suas tênues tendências que, mirrados fios d'água, afluem em caudaloso Amazonas tempos depois.
É o caso da nostradâmica canção Eu Bebo Sim, composta por Luis Antônio há mais de quatro décadas, em 1973, tempo em que a ciência só sabia dos efeitos nocivos e perniciosos do álcool, em que a birita era vista apenas como destruidora de vidas, de fígados e de lares; uma, é verdade, de suas facetas.
Há quatro décadas, eram insuspeitadas as hoje conhecidas propriedades benéficas, terapêuticas, homeopáticas, hidratantes, revigorantes, rejuvenescedoras e paudurescentes do álcool, desde que administrado com moderação, na correta posologia e, principalmente, com disciplina e perseverância, não desistir do tratamento, insistir com ele, religiosamente. O duro é definir a tal da moderação. Mas aí a culpa não é do remédio, é do paciente e da imperícia médica em bem ajustar a dose; afinal, tudo é mortal veneno a depender da dose, até a água, que o digam os afogados. O álcool também deixa o homem mais caridoso, benevolente e filantrópico : uma vez de porre, encara mocreias que jamais seriam traçadas em condições normais de pressão e temperatura.
Pois antes da morosa Ciência dos homens, o compositor Luís Antônio, autor de "Sassaricando", "Lata d'água"...na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, "Mulher de Trinta"... voce, mulher, que já sofreu ..., "Poema do Adeus" e "Poema das Mãos" , Barracão" ... de zinco, tradição do meu país ... entre outras, já cantava : Eu bebo sim, Eu tô vivendo, Tem gente que não bebe, E tá morrendo.
Há, no entanto, apesar de todas as evidências, os que não acreditam na fala da ciência a respeito do álcool. Desconfiança saudável e das mais justas, devo admitir. Afinal, cientistas são humanos e podem se mostrar tão falhos de caráter e tendenciosos quanto quaisquer outros profissionais, de quaisquer outras áreas. Um cientista  bebum pode muito bem usar de sua credibilidade acadêmica para falsear resultados ou conclusões e, assim, justificar cientificamente o seu vício.
Grandes cervejarias ou vinícolas, para somarem mais um selo de qualidade aos seus produtos, podem financiar os custos de uma pesquisa acerca dos efeitos do álcool e, assim, "induzir" o cientista. Que, por gratidão (o ser humano é o mais grato e reconhecido dos seres) e, lógico, para continuar a receber o faz-me-rir, bem pode dar uma maquiada nos resultados, pode "selecionar" amostras ou grupos de dados favoráveis aos seus mecenas para publicá-los como base da conclusão de sua pesquisa.
E não são indignos da confiança popular apenas os cientistas : mais ainda os compositores populares; afinal, é tido como fato notório e sacrossanto que todo músico é pé de cana, é pudim de cachaça.
Dessa forma, melhor e mais convincente do que arrolar aqui dados científicos, ou me fiar nas visões de um profeta manguaceiro, nas predições de um vate que parece ter saído de um vat de whisky, talvez o 69, é apresentar exemplos cabais dos benefícios do néctar do malte, é mostrar provas vivas do que falo.
A primeira é a britânica Grace Jones, que comemorou seus 109 anos de vida em setembro último, com direito a cartão de parabéns da própria Rainha Elisabeth II etc.
Aos 109 anos, disse se sentir com 60, uma ninfetinha da terceira idade. "Não tenho dores, tenho bom apetite e durmo bem", declarou aos jornalistas.
O segredo : uma talagada diária de um bom whisky. "Não bebo, mas tomo um pouquinho de whisky todas as noites", declarou. Ninguém perguntou o quão seria esse pouquinho.
Não se convenceram?
A segunda prova viva é a estadunidense Agnes Fenton, que completou 110 anos em agosto último.
Receita secreta de sua centenária idade : cerveja. A sábia idosa garante que passou a maior parte da sua vida bebendo três cervejas ao dia. Segundo ela, essa é a fórmula para garantir a chegada à idade tão avançada. Mas há opositores ao seu elixir da longevidade : os médicos, os representantes da tacanha medicina ocidental, que têm tentado fazer com que Agnes desista de sua cervejinha diária. "Ela não está se alimentando bem, e, até que sua nutrição não se normalize, as cervejas podem lhe fazer mal", garantem os equivocados esculápios. Nada, caros doutores, absolutamente nada, pode fazer mal a uma pessoa que chegou aos 110 anos. Querem que Agnes se "cuide" para quê? Para ter mais um ou dois filhos? Quem sabe fazer mais uma faculdade? Candidatar-se ao Senado Americano? Querem é, sádicos por natureza de seu ofício, tirar de Agnes um de seus últimos prazeres. Querem é deixá-la doente, isso sim. Agnes confessa que, vez em quando, também toma uma dosezinha de whisky, mas só nos dias mais frios, para aquecer o peito.
Isso de tirar do idoso seus últimos prazeres, lembrou-me de uma estória : o velhinho foi ao consultório do médico e levou os resultados de seus exames. O médico começou : glicemia normal, triglicérides, colesterol, creatinina, hemácias, leucócitos etc etc etc tudo normal. O senhor está muito bem de saúde, seo Antenor - disse-lhe o médico -, só notei que o senhor tem um pequeno probleminha de flatulência. Problema, doutor? É um de meus últimos prazeres.
A cerveja é o elixir da longa vida procurado por sábios e alquimistas desde a aurora dos tempos! É a água que passarinho não bebe, e que por isso vive tão pouco. É a água da fonte da juventude tanto buscada por Ponce de Leon. É o verdadeiro suco detox!
Baseando-me nas evidências científicas, nas profecias de Luis Antônio, nos casos de Grace e Agnes e a confiar na matemática e nas suas infalíveis razões e proporções, vos digo : viverei uns 300 anos, por baixo.

Sabedoria Chinesa

- Mestre - começa o aprendiz -, por que um homem que se relaciona com várias mulheres é tido como um garanhão, como um exemplo de virilidade e hombridade, e motivo de inveja e admiração dos outros homens? E por que a mulher que se relaciona com vários homens é tida como puta, biscate, promíscua, galinha, e é malvista e malfalada, inclusive, pelas outras mulheres?
O mestre alisa seus longos bigodes, um de cada vez, torce-lhes as pontas, cofia lenta e pausadamente seu cavanhaque, fecha os olhos, aspira os eflúvios do incenso de sândalo e fala :
- Simples, pequeno gafanhoto. Uma chave que abre várias fechaduras é considerada uma chave-mestra.
O mestre, então, para um pouco, dá uma longa tragada em seu cachimbo de ópio e continua :
- Já, pequeno gafanhoto, uma fechadura que se abre com qualquer chave não presta para nada.

sábado, 24 de outubro de 2015

A Ilha da Fantasia do Tio Fidel

Fidel Castro é o ditador que os defensores canhotinhos da democracia brasileira adoram adorar. Dariam o rabo pro Tio Fidel se ele pedisse. 
Em defesa de El Comandante (ou El Coma Andante, como diz José Simão), os esquerdistas escrotos dizem, entre outras coisas, que não há uma única criança analfabeta em Cuba, nem a dormir na rua, ao relento. 
Sinceramente, torço para que isso seja mesmo verdade. E admito que isso, em comparação à situação de grande parte dos outros países da América Central e mesmo da do Sul, é muita coisa, sim! É muita coisa. Mas, ao mesmo tempo, é o mínimo. É o básico.
Afinal, um país que não permite a iniciativa particular e privada, onde todos os meios de produção estão concentrados nas mãos do Estado, onde não há o direito nem à propriedade, nada mais justo e, repito, mínimo, que o Estado provenha a educação básica, um teto sobre a cabeça de seus cidadãos - que vivem no limite da subsistência para sustentar os luxos e o sonho de Fidel de que ele é um czar russo - e garantir a ração do mês - sim, ração no sentido mais fiel à palavra, pois em Cuba a cada um cabe uma cota, distribuída na forma de tickets a serem trocados nos mercados. Acabou o ticket, acabou. Ração, mesmo.
Afinal, no socialismo todos têm que ter o que todos têm. Como não dá para todos serem ricos, ou a alta cúpula do governo perderia seus privilégios, os privilégios dos porcos de A Revolução dos Bichos, que todos sejam pobres e miseráveis. Justiça seja feita aos comunas : em suas ditaduras, há realmente uma divisão igualitária entre a população, mas não divisão de riquezas, sim a equânime divisão da miséria. Tio Fidel garante que todos sejam igualmente miseráveis
Alfabetização, moradia e ração de subsistência. Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. É o primeiro passo para se sair da merda absoluta. Cuba o deu e se o mantém, parabéns. Mas e depois? O que fazer em Cuba com a tão primorosa e propagandeada educação?
A resposta nos chega através das lentes do fotógrafo cubano Yusnaby Pérez, cujas fotos publicarei aqui nessa série de três ou quatro postagens.
Essa mulher é engenheira agrônoma e vende escova de dentes para sobreviver.
Esse é engenheiro mecânico e vende isqueiros na porta de "sua" moradia (vejam que belas moradias Tio Fidel cede aos seus concidadãos)
Javier é formado em engenharia nuclear e vende bananas.

Jacaré à Pururuca

A imprensa esportiva internacional - e ainda mais os ecologistas viadinhos de plantão - ficou "horrorizada" com um fato que antecedeu o jogo entre o LSU e o Florida Gators, válido pelo campeonato da NFL, a Liga Nacional de Futebol Americano. Os torcedores do LSU, em alusão explícita ao que os jogadores de seu time iriam fazer com os rivais, organizaram um churrasco de jacaré, alligator, lá para eles.
Aí está o Wally Gattor, bem assadinho, com o couro feito em pururuca, pronto para ser temperado com um bom vinagrete (ou um molho barbecue, no caso do ianques) e ir direto pro bucho. Junto com uma gelada, é claro.
Que o futebol, seja ele o "brasileiro" ou o americano, é um dos maiores redutos de idiotas e doentes mentais do planeta, todo mundo sabe. De um fanático, tudo pode se esperar. Nesse caso, porém, não vejo nada de mais. Ou melhor, vejo : a puta hipocrisia do ser humano. 
Os EUA, de acordo com a OCDE, são o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo, perdem para a Austrália, e o Brasil ocupa a 6ª posição na mesma lista, sendo superado, na América do Sul, pelo Uruguai e Argentina - os dados são per capita e não em números absolutos.
Carne é carne. Churrasco é churrasco. Tanto faz se de vaca, frango, peixe ou jacaré.
E se, por acaso, antes de uma final entre Corinthians e Palmeiras, a Gaviões da Fiel organizasse uma .confraternização com um belo porco no rolete? Qual seria o problema? 
Já os ecologistas, acredito que prefiram churrasco de cobra, mas sem fatiá-la, afinal, o toba deles não é cofrinho. Ora, vão à merda.
Deu-me água na boca, o jacarezinho à pururuca.
A quem interessar possa, do site culinário Tudo Gostoso:
Churrasco de jacaré
Ingredientes
1 kg de jacaré
4 folhas de louro
4 folhas de orégano
6 dentes de alho
1 folha de hortelã
Sal a gosto
1 pitada de pimenta-do-reino a gosto
1 colher cheia de tempero de peixe a sua moda
1 saco plástico para armazenar o jacaré 

Modo de Preparo
- Fure o jacaré em vários lugares para penetrar o tempero
misture todos os ingredientes
- Amasse o alho e misture
- Coloque tudo no jacaré
- Depois coloque o jacaré junto com os ingredientes no saco plástico
- Amarre e leve a geladeira de um dia para o outro
- Depois é só levar para a churrasqueira
- Acompanhamento com arroz branco e salada de alface

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Totó, o Tigrão

Desta, eu tomei conhecimento através do blog Química Mix do meu primo Leitinho e parece que já se tornou cena corriqueira no Bosque Municipal Fábio Barreto, localizado em Ribeirão Preto - SP.
O corajoso vira-lata de rua, batizado originalissimamente com o nome de Totó, há tempos é figurinha carimbada no Bosque de Ribeirão Preto, por cujas ruas flana tranquilamente e vive às custas da simpatia e da boa vontade dos visitantes, granjeadas junto ao público com sua cara de cão sem dono. 
Recentemente, porém, Totó foi além. Conquistou muito mais que simplesmente a simpatia dos humanos : invadiu feito um posseiro o coração da tigresa de unhas negras e íris cor de mel do zoo, e, lógico, a buceta dela também.
É a verdadeira história de A Dama e o Vagabundo. A Tigresa reside no bairro nobre do zoológico, em um recinto com savana própria, piscina e cerca eletrificada, na ala batizada, também originalissimamente, de Recinto dos Felinos; já Totó é morador de rua, vive na sarjeta e ao relento. Com seu charme de outsider, de bicho das ruas, traçou a Tigresa.
Quem é de bengala é o tigre, mas quem passa a vara é o Totó!
O público se impressiona com a performance do Totó - que não está nem aí para o voyeurismo das pessoas e mete sem dó na Tigresa, às vistas de todos -, mas, principalmente, com sua coragem, comer uma tigresa que a qualquer momento pode aniquilá-lo com uma única bocada no pescoço. Pois eu acho que a coragem de Totó vai além, comer a Tigresa oferece poucos riscos, mas tem que ter o saco roxo de verdade é para fazer o tigre de corno, tem é que ser macho das antigas para botar chifre no Tony, do Sucrilhos Kellogs, no Diego, da Era do Gelo.
Antes de começar a papar a Tigresa, Totó não era visto com bons olhos pelos outros animais do zoo.Viam-no como um vagabundo, um pedinte, um sem-jaula, por assim dizer. Após cair nas graças da Tigresa, o status do Totó junto à população do zoo foi elevado a outro patamar. Agora, quando em seus passeios erráticos pelas ruas do bosque, Totó passa em frente das jaulas, os bichos, sobretudo os machos das espécies, o olham com grande respeito e deferência. E com temor, muito temor. Não há exceção : macaco-prego, gorila, leão, urso, jacaré, elefante, todos recuam para o fundo de suas jaulas ante a passagem do Totó, e encostam as bundas na parede. Totó virou, literalmente, o fodão do Bosque Fábio Barreto.
Uma vez famoso, correm rumores de que várias madames da sociedade local procuraram a direção do zoo com a intenção de adotar Totó. Todas foram rechaçadas por Totó, que é uma alma livre, morreria de tédio se passasse a levar uma vida de pet shop mundo cão.
Uma vez celebridade, Totó tem atraído a atenção da mídia jornalística, impressa, radiodifundida, televisada e internetada. Perguntado sobre sua relação com a Tigresa, Totó desabafa : "au, au, sei que não será um amor fácil, sei que teremos de enfrentar duros percalços, pois apesar dos grandes avanços da sociedade humana nesse sentido, a população do bosque ainda é muito preconceituosa, não vê com bons olhos as relações inter-raciais, tenho sido até acusado, pelas pacas e pelos tatus, pelas cutias, não, de zoofilia, au, au".
Uns afagos na cabeça e dois biscoitos caninos Scooby-doo de cachê, Totó continua com seu testemunho : "sei também da nossa diferença social, pertencemos a classes totalmente diferentes".
Aqui, corrijo o nobre e valoroso Totó : na verdade, viril Totó, você e Tigresa pertencem, sim, à mesma classe, uma vez que ambos são mamíferos. Vocês pertencem é a ordens, famílias, gêneros e espécies diferentes.
Inquirido se suas intenções para com a Tigresa são mesmo sérias ou se ela não passa de mais caso fortuito, de um flerte inconsequente de um boêmio de rua, Totó come mais dois biscoitos caninos e faz pose de homem sério : "eu realmente amo a Tigresa, nunca houve outra como ela, quero me casar e constituir família com ela". Então, pede que câmeras e microfones sejam desligados e, em off, com o jornalista colocado sob juramento de que sua declaração não seria publicada, confessa : "na verdade, quero me casar para obter o meu visto de permanência definitiva aqui no Bosque, o meu green card, quero viver na legalidade, não ter mais que fugir e me esconder a cada batida do pessoal do Controle de Zoonoses".
Câmeras e microfones religados, Totó é perguntado sobre a impossibilidade dele e da Tigresa terem sua prole legítima : "estamos pensando em adotar um filhote de lobo-guará, cuja mãe morreu de complicações no parto, mas a burocracia aqui do bosque é foda, au, au".
Pããããããta que o pariu!!!!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Pequeno Conto Noturno (57)

- Rubens - começa Virna, em tom interrogativo -, está tudo assim tão diferente, o que mudou?
- Quase nada - responde Rubens, emborcando e secando a garrafa de rum e olhando para Virna através do filtro âmbar do vidro -, irrelevâncias... é só que, antes, eu tinha superpoderes; hoje, não consigo ir até a esquina sem que meu joelho doa.
- E os superpauderes? - pergunta Virna, acabando com sua cerveja e chacoalhando o pau de Rubens.
Superpauderes... Rubens ri pra caralho!
- De uns tempos para cá, fora a sua e mais umas duas ou três, toda buceta virou kriptonita.
Agora, Virna é que ri de montão.
Como não amar um homem desses?, pensa Virna, se recuperando ao poucos do riso.Vaidoso de seus fracassos e de sua decadência, cuja força reside em seus pontos fracos, cujas conquistas são frutos de sua falibilidade e cuja graça e charme vêm do seu amargor e desajeito? Como não amar Rubens e querer ficar sempre grudada a ele? E como, depois de algum tempo, não odiá-lo e não querer nunca mais vê-lo?
- Mas e esse joelho fodido, aguenta ir até a cozinha e pegar outra cerveja pra Virnazinha aqui, toda sedenta?
- Nem que eu tivesse que me arrastar, baby, nem que eu tivesse que me arrastar.
Rubens veste a zorba azul frouxa, que deixa sempre escapar a bola esquerda de seu saco, e vai à geladeira. A memória de Rubens cantarola, você lembra, lembra, daquele tempo, eu tinha...
A de Virna, agora era fatal, que o faz de conta terminasse assim... 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Ela Planta Luas

Uns usam suas sacadas
Alpendres e varandas
Para pendurar samambaias
Labirintos de verdes cabeleiras.

Outros,
Para abrigo e dormitório de seus automóveis
Seus caralhos metalizados com 120 cavalos.

Eu uso a minha
À noite
Para marinar
Com cerveja
A minha insônia
E a insolvência da vida;
Como um banco de rodoviária
À espera da grande ideia
Da grande inspiração
A bordo de um ônibus que nunca chega,
Ou que já passou.

Ela, não.
Ela usa a varanda
Para a sua plantação de Luas,
Para o cultivo
Sem água
Atmosfera
Ou gravidade
De alevinos de satélites,
Para dar cria
E lamber suas pequenas Selenes,
Para dar de mamar
Em suas generosas tetas
À sua indefesa ninhada de gatos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A Casa é Sua

Assisti - por acaso, como tudo ao que eu assisto ou deixo de, por acaso, pois não tenho mais tempo para planejamentos, apenas para o fortuito, e ele, às vezes, favorece-me - ao espetáculo de Maria Bethânia, Cartas de Amor, transmitido pelo canal Brasil.
Sim, espetáculo! Chico Buarque dá show. Caetano Veloso dá show. Bandas de rock dão shows. Sertanejos universitários dão... dão... sei lá... acho que a bunda. Bethânia dá espetáculos! Se alguém ainda não assistiu a Cartas de Amor, veja se há alguma reprise prevista na programação do canal Brasil, compre ou baixe o DVD, mas dê um jeito de assistir.
Há as músicas clássicas - Negue, Grito de Alerta, Mensagem, Fera Ferida - e muitas novas, ou que eu  pelo menos não conhecia. Um belo exemplo é Orgulho, de Roque Ferreira, uma bela duma canção de corno que, em breve, poderá figurar aqui na seção Todo Castigo Pra Corno é Pouco, depois que eu publicar uma música de corna, Bodas de Prata, gentilmente enviada por mim pelo Jotabê, do Blogson Crusoe.
Bethânia interpreta também, e ela é o motivo dessa postagem, a canção A Casa é Sua, de Arnaldo Antunes. Uma canção de que gosto muito, mas que nunca lhe tinha percebido o gênero : é música de fossa, de corno, até. É que Arnaldo Antunes constrói a coisa tão bem construída, com uma melodia tão alegre, que a gente nem se toca de que é música de dor de cotovelo. Uma vez na voz teatral e dramática de Bethânia, a verdade se revela. O cara tá lá, com a casa toda pronta e arrumada, esperando a mulher chegar e ela não chega. Onde estará? Distraída pelas vitrines de uma loja de sapatos de um shopping? Absorta a fazer as unhas, pés, mãos e cabelos num salão de beleza? Alheia a correr na esteira da academia, a levar encoxada do personal trainer? Dando pra outro?
A casa é sua,  por que não chega logo? Pergunta o ex-titã.
Música de fossa, sim; quiçá de corno, um corno mais de bem com a vida, mais zen, mas corno. Só mesmo a Bethânia para me fazer perceber isso.
E me fez lembrar - sem querer compará-lo ao de Arnaldo Antunes quanto à forma ou à qualidade, mas tão somente quanto à temática - de um texto que escrevi em 2000 ou 2001 (de qualquer forma, na virada do século, alvorada voraz ) por ocasião de um belo de um pé na bunda que levei. 
Reproduzo as duas abaixo, a de Antunes e depois a minha, ainda sem título, como grande parte de meus escritos. Principalmente, quando se trata de poemas, poesias etc, tenho imensa dificuldade de titulá-los. 
A Casa é Sua
(Arnaldo Antunes)
Não me falta cadeira
Não me falta sofá
Só falta você sentada na sala
Só falta você estar
Não me falta parede
E nela uma porta pra você entrar
Não me falta tapete
Só falta o seu pé descalço pra pisar

Não me falta cama
Só falta você deitar
Não me falta o sol da manhã
Só falta você acordar
Pras janelas se abrirem pra mim
E o vento brincar no quintal
Embalando as flores do jardim
Balançando as cores no varal

A casa é sua
Por que não chega agora?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio

Não me falta banheiro, quarto
Abajur, sala de jantar
Não me falta cozinha
Só falta a campainha tocar
Não me falta cachorro
Uivando só porque você não está
Parece até que está pedindo socorro
Como tudo aqui nesse lugar

Não me falta casa
Só falta ela ser um lar
Não me falta o tempo que passa
Só não dá mais para tanto esperar
Para os pássaros voltarem a cantar
E a nuvem desenhar um coração flechado
Para o chão voltar a se deitar
E a chuva batucar no telhado

A casa é sua
Por que não chega agora?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio
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Sem Título
Fosse só eu, seria fácil. 
Mas é a fechadura que enrosca 
Como a impedir minha entrada solitária, 
É o piso acarpetado a bombardear minha alergia com seus ácaros, 
Como a perguntar o que está faltando. 
É a torneira a pingar incansavelmente 
Como a dizer: “Por quê? Por quê? Por quê?”. 
É a roupa que se recusa a secar no varal, 
É o sofá que insiste em não se moldar ao meu corpo. 
É o chão que se fecha em ser limpo, 
É o desinfetante que se aliou aos germens do banheiro.
 
Fosse só eu, seria fácil. 
Mas é o ar que não mais se renova, 
Embora eu faça janelas cada vez maiores. 
É o espelho que não mais consegue mostrar um sorriso em meus olhos. 
É o tempo que não mais transcorre, 
Embora haja baterias cada vez mais potentes a habitar meus relógios. 
É o chuveiro a me racionar seu abraço tépido, 
É o pensamento ao meu redor em letargia, 
É a televisão que se nega a me fazer companhia, 
É tudo em estado permanente de hibernação.

Fosse só eu, seria fácil. 
Mas é a geladeira que não gela, 
O filtro que não purifica, 
O colchão que se comporta como fosse imã meu de mesmo pólo. 
O alimento que não nutre nem dá mais prazer. 
O sono que não mais liberta, 
Os livros que nada mais revelam, 
A noite que não traz mais a esperança em seu manto, 
A tristeza que não encontra refúgio no pranto, 
A imaginação tola que a tudo piora e desespera. 
A roupa em sua aspereza a me lixar a pele 
(E nu, a minha própria nudez me exaspera), 
É o sufocante excesso de espaço. 

Fosse só eu, seria fácil... 
Mas é a casa toda que sente 
E lamenta a sua falta.