sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Em Terra de Cego, Não Faz Sentido Ter Olho

Do blog P-O-E-S-I-A, do sorumbático GRF

"Fazer de tudo um aprendizado.
Eis ai o dilema dos bocós, dos sofríveis,
o hino daqueles que se esborracham sorrindo,
a valsa lamentável dos esquecidos no porão,
a prosa dos moralistas e dos professores
alérgicos aos livros e ao silêncio.

Escute bem, tosco ser, nem tudo, quase nada,
é por rigor, aprendizado. Vida essa, vai embora,
e contigo nada, pois tu será lugar nenhum,
os deuses não banharão sua alma, seu doce saber,
amargará os confins do cemitério e os bigatos
não parecem se preocupar com seus diplomas
títulos, causas, lutas, ou mesmo as histerias, não.

Não faça de tudo um aprendizado.
Por vezes, somente não aprenda nada
(E isso não é um aprendizado)."

Cerveja-Feira (3)

"Esse é o problema de beber, pensei, enquanto me servia uma bebida. Se algo ruim acontece, bebemos para tentar esquecer; se acontece algo bom, bebemos para celebrar; e se nada acontece, bebemos para fazer algo acontecer."
                                                                                           Charles Bukowski

sábado, 25 de janeiro de 2020

Ó Abre Alas Que Ele Quer Passar

Carnaval no Marreta sem ele não é Carnaval! Ele é a Globeleza do Marreta! A rainha da bateria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Marreta do Azarão! Ele não sai na comissão de frente, sim na dos fundos! Ó abre alas que ele quer passar : o ex-boiola.
Eu estava a estranhar a ausência dele, a sua demora em dar notícias por estas épocas a um mês do Carnaval. Pensei que ele tivesse abandonado o blog, pensei que não teríamos informações dele neste folguedo de Momo, pensei que ele iria dar pra trás.
E ele até vai dar pra trás. E muito. Mas nos contará tudo. Tim-tim por tim-tim.
Arauto de Momo, o ex-boiola ressurgiu como uma fênix desfilada por Clóvis Bornay na terça-feira desta semana. E, senhoras e senhores, ele traz boas novas.
Primeiro, revela seu destino turístico paradisíaco, para o qual viajará só com a serpente, deixando a Eva em casa. Em 2017, foi Caldas Novas (GO); em 2018, Guarujá (SP); 2019, São Paulo (SP), Vila Madalena, o Beco (apertadinho) do Batman. Agora : Cabo Frio (RJ).
Em seguida, conta de seu rompimento com o Renatão - inicialmente sem dizer o porquê - e, como a fila anda, nos apresenta o seu novo crush, o Renner, um rapagão que é guia turístico e que o levará a Cabo Frio para saciar-lhe com o seu cabo quente. Vamos às palavras literais do ex-boiola, sempre muito educado e respeitoso para comigo : 
"Querido e varonil mestre,
Lindo, não lhe escrevi antes porque não sabia ainda sobre o meu destino no carnaval 2020. Juntamente com Renner, meu atual crush, decidi. Iremos para Cabo Frio/RJ. Renner é o organizador da excursão e também o motorista do ônibus. Disse que fará o trajeto em 16 horas com 4 paradas. Mestre, Renner é um moreno forte e bem dotado. Desde Renatão eu ando carente de pica. Hiroshi, o bom japonês era comedor de broto de bambu, mas de bilau era sofrível. Mais próximo da folia darei maiores detalhes.
Ex-boiola"
Respondi-lhe ao lisonjeiro comentário com minhas dúvidas. Que fim levou Renatão? A esposa do ex-boiola continuaria com a Sandrão?
"Grande ex-boiola, já estava a estranhar a sua falta por aqui, nessas vésperas de Carnaval. O que houve com o Renatão? Por que não estão mais juntos? Bom, agora que já definiu seu destino turístico carnavalesco, acho que até posso remover a enquete. Você vai para Cabo Frio, mas, vejo, que com um cara de cabo quente, certo? Leve bastante hipoglós. E a esposa, continua com a Sandrão, ralando um coco e batendo um bife no capricho?
Abraço."
Respondeu-me, na quinta-feira, o ex-boiola :
"Amado e venerado Mestre Azarão,
Querido, Renatão perdeu o controle. Lembra que tinha comentado que nos últimos tempos ele estava dando a rosca? Pois é. Ele entrou em parafuso com essa questão existencial e procurou o pastor, para aliviar seu peso de consciência. Desde então ele frequenta o culto e anda com a Bíblia embaixo do braço. Resultado: Renatão não dá mais o cu, mas também não come mais ninguém! Quanto à minha digníssima patroa, continua se dando bem com Sandrão. Me fizeram a proposta de comprar uma casa e morarmos os três, num esquema de poliamor. Fiquei de pensar. Com aquele consolo de 22 centímetros, Sandrão seria, sem muito esforço, o homem da casa. Mas não quero pensar nisso agora. No momento é carnaval é um belo cabo quente e de verdade, também de 22 cm. Mais pra que?"
Pããããããta que o pariu!!!!
O Renatão trocou a rola por Jesus!!! Antes, o Renatão estava com o cu torando; agora, está no culto orando!!!! Poliamor... que nome mais bonito para uma boa putaria. E eu passo é longe, pelo menos a uma distância de meio metro, dessa Sandrão.
Aguardemos, pois, novas notícias do ex-boiola sobre sua peripécias em Cabo Frio com o seu novo crush do cabo quente. Sairão fantasiados de quê, o ex-boiola e o Renner? Desnecessário dizer que, neste Carnaval, assim como nos anteriores, a única escola de samba que o ex-boiola verá entrar será a Mangueira. Piadinha velha e manjada pra caramba, mas que ainda não inventaram outra melhor.
E para embalar a sua folia, meu caro ex-boiola, deixo como sugestão de trilha sonora a clássica marcha "Vamos furunfar", do inigualável, e já citado anteriormente, carnavalesco Clóvis Bornay.
Vamos Furunfar
(Carlos Martins/Conceição/Clóvis Bornay)
Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Quem quiser pode chegar.

Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Quem quiser pode chegar.

Eu furunfo, 
Você furanfa,
O que eu quero é mesmo furunfar.
No carnaval vou ficar de perna bamba
O meu negócio é furunfar.

Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Quem quiser pode chegar.

Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Eu quero é furunfar,
Quem quiser pode chegar.
Para ouvir a Marcha da Furunfa, é só clicar aqui, no meu poderoso e furunfador MARRETÃO

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Cerveja-Feira (2)

Ele, Zeca Pagodinho, o vice-rei da cerveja. O primeiro na linha de sucessão ao trono da birita. Herdeiro por direito moral e etílico de Mussum I, o famoso Imperador Mumu da Mangueiris.
"A cerveja e a cachaça são os piores inimigos do homem. Mas o homem que foge de seus inimigos é um covarde."    

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Privada Anticagão

Estão querendo pôr um fim à privacidade do privadão, ao lúdico e ao terapêutico da cagada, ao necessário ócio purgativo : enfim, estão querendo acabar com a alegria e a boa vida do cagão das antigas.
Eu gosto muito de me deixar e de me largar ao vaso sanitário, mesmo depois do serviço acabado. Muito me apraz esquecer da vida sentado ao trono do privadão. São meus raros momentos de tranquilidade. Não sei se acontece com todos, mas esteja eu fazer o que estiver fazendo - assistindo a um filme, lendo um livro, ouvindo uma música, fazendo comida, bebericando uma boa e barata -, sou constantemente solicitado e interrompido : o filho pede uma coisa, a esposa pergunta outra, o telefone toca, Testemunhas de Jeová batem à minha porta etc.
O único lugar em que não sou perturbado nem interrompido é o banheiro. Quando estou ao trono celestial, ninguém me chama. Parece haver um respeito natural e atávico por quem está cagando, talvez por sugerir uma posição de vulnerabilidade. Ninguém me pede nada quando estou a obrar - ou quando acham que estou.
É no privadão que, muitas vezes, eu leio, faço palavras cruzadas, escuto uma musiquinha, rascunho textos para o Marreta. Tenho sempre, na pedra de granito sob a pia do banheiro, ao alcance de minha mão, ainda que sentado, um caderno e uma caneta bic, uma edição de palavras cruzadas e vários livros. A exemplo, estão por lá, hoje, um Dalton Trevisan, um Rubem Fonseca, uma biografia do Bukowski, uma coletânea do contos do Machado de Assis e um Isaac Asimov. Palavras cruzadas que não resolvo em outros cômodos da casa, são facilmente solucionadas no banheiro. Textos emperrados desempacam.
Tenho a impressão de que os pensamentos e as ideias fluem melhor e mais livres no privadão. Talvez não seja só impressão, afinal, alguns cientistas chegam mesmo a chamar os intestinos de um "segundo cérebro". 
Nossos intestinos têm meio bilhão de neurônios, que produzem mais de 30 neurotransmissores, incluindo 50% de toda a dopamina e 90% da serotonina presentes no organismo. São bem menos neurônios do que existem no cérebro (cerca de 85 bilhões), mas é número suficiente para formar um sistema nervoso próprio, responsável por coordenar tarefas como a liberação de substâncias digestivas e os movimentos que estimulam o bolo fecal a ser despachado. Esses circuitos operam sozinhos, ou seja, independem do comando cerebral. Nossos intestinos são bem mais inteligentes que a cabeça do pau e do que eleitor do Lula, e do que o próprio Lula.
Faz todo sentido : a gente vai lá, evacua os intestinos, libera o espaço para novas ideias, os neurônios são estimulados e os pensamentos brotam. Será que dos neurônios entéricos advém também o fato de que boa parte dos grandes gênios da humanidade tenham sido homossexuais? De que brilhantes mentes se apeteciam de dar ré ao quibe, de agasalhar o croquete? O gênio levava aquela cutucada no cano de escape, os neurônios eram excitados e grandes obras eram produzidas. Será que daí vem o eufemismo "obrar",  relativo à evacuação dos intestinos?
Sinceramente, digo-vos que não sei. Só digo que, se uma das portas de acesso à genialidade for a porta do cu, eu prefiro me resignar mesmo à minha inteligência mediana. Ou merdiana? Eis uma porta da percepção, valha-me São Huxley, que eu me abstenho de abrir. Longe, muito longe de ser sexual ou erótico o prazer que sinto ao me recolher ao banheiro é existencial, metafísico, um desapego da matéria, se é que vocês me entendem.
Pois, agora, neste mundo globalizado e corporativo selvagem, estão querendo acabar com isto, com o lazer e prazer do cagão.
O designer de bosta Mahabir Gill criou um vaso sanitário extremamente desconfortável, diria até hostil e beligerante ao seu usuário, para ser instalado em grandes corporações britânicas. A ideia é que os funcionários ingleses passem menos tempo no banheiro durante seus horários de trabalho.
Uma pesquisa filha da puta do app Protecting (sei lá que porra é essa), feita na Inglaterra, revelou que pessoas ficaram em média 28 minutos, durante o mês de dezembro de 2019, no banheiro enquanto estavam no trabalho. “Só no Reino Unido, intervalos longos durante o expediente custam R$ 21 bilhões por ano às empresas”, disse Gill.
Logo na Inglaterra estão tentando coibir os cagões? Logo na terra do trono mais famoso do planeta? E convenhamos, 28 minutos em  um mês, considerando um mês de 20 dias úteis, dá mais ou menos um minuto e meio por dia.
O truque do vaso sanitário repelente de cagão é a inclinação de seu assento, que foi inclinado em 13º em relação à horizontal, ao chão. A inclinação causa desconforto nas pernas do cagão, deixa a perna como num exercício de agachamento. Segundo Gill, mesmo o mais estóico dos cagões não aguenta mais que cinco minutos nesta posição.
O criador ainda afirma que seu vaso traz beneficios à saúde; afinal, de acordo com o canalha, "ficar muito tempo na privada pode desenvolver hemorroidas, diminuir a força pélvica e prejudicar a postura das costas. Como o movimento da perna imita o do agachamento, ainda ajuda a malhar a perna". Conversa mole. O que dá hemorroida é cagar pra dentro, não pra fora. O vaso, batizado de Standard Toilet promete otimizar o tempo dos funcionários das empresas no uso do banheiro e, a depender do modelo, pode custar de 800 a 2600 reais.
Mas o projeto já recebe críticas. A especialista em banheiros (sim, isto existe) Charlotte Jones, curadora do projeto Around The Toilet, que investe em pesquisas sobre o que torna o banheiro um espaço seguro, agradável, acessível e autossustentável, tem um outro enfoque da questão : “Se o seu funcionário está passando muito tempo no banheiro, talvez o ambiente de trabalho da empresa não esteja agradável”, disse. Ou seja, se o ambiente de trabalho é uma merda, o funcionário passa mais tempo no banheiro. Simples assim. Concordo com Charlotte.
Não nego, por outro lado, que possam haver abusos no uso do sanitário por parte de certos funcionários. Como na história me narrada como verdadeira pelo grande Odair, professor de química, ufólogo, livre-pensador e filósofo diletante. Contou-me Odair que, em certa época, lecionara com um professor de história, o qual chamarei aqui, a bem de seu anonimato, de Zé Roberto. Disse-me Odair que Zé Roberto, invariavelmente, sem falhar em único dia letivo, chegava na escola pontualmente às 07:00h. Em todos os dias, às 07:00h. Entrava pela porta principal já com o sinal de entrada a soar e corria para o banheiro, nem dava bom-dia a ninguém, nem passava pela sala dos professores. Um dia, meses depois de ficar observando o comportamento do Zé Roberto, Odair me disse que resolveu perguntar : "por que você não caga em casa?". Respondeu-lhe o sábio Zé Roberto : "porque em casa eu não estou ganhando pra isso".
Pãããããããããããta que o pariu!!!!!
Eis a privada anticagão

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

(Já) Era Uma Vez... Quentin Tarantino

Disseram-me que Quentin Tarantino mora nas conversas verborrágicas, nas falas naturais, fluídas, corriqueiras, nos interlóquios ágeis e rápidos feito jogo de pingue-pongue entre chineses, cheios de referências, ironias e pitadas de filosofia pop, nos diálogos propositalmente longos e arrastados para criar um ambiente de tensão e angústia no telespectador.
Há tempos não me encontrava com Quentin Tarantino. Aproveitando a dica que me deram, fui bater à sua porta em Era Uma Vez em... Hollywood. Não ouvi rajadas verbais, discursos braváticos nem papo de bêbados nem tiradas sarcásticas. Só pronunciamentos formais e solenes, ensaiados, coreografia mecânica de balé russo. Quentin Tarantino não estava em casa.
Informaram-me que Quentin Tarantino mora na narrativa não-linear, mora nos fragmentos das cenas dos vários núcleos de seus personagens, aparentemente sem nenhuma relação entre si, que exibe fora de ordem e separadas e que, no final, costuram-se em perfeita tapeçaria, em um refinado vitral em mosaico, e tudo faz sentido.
Há tempos não via Quentin Tarantino. Seguindo a indicação, fui tocar sua campainha em Era Uma Vez em... Hollywood. Encontrei migalhas dispersas que não serviriam nem de caminho de volta para João e Maria, cacos coloridos de cristal, retalhos de cetim, cápsulas de balas já detonadas espalhadas, respingos de sangue e coca-cola no sofá e nos interruptores. Mas nenhuma linha, agulha e alfaiate para a tudo coser e cerzir. Quentin Tarantino não estava em casa.
Asseguraram-me que Quentin Tarantino mora nas influências dos westerns e das histórias em quadrinhos, dos enquadramentos pouco usuais, dos close-ups intermináveis, do silêncio dos personagens intensificado pelo ribombar da sempre excelente trilha sonora.
Há tempos não falava com Quentin Tarantino. Seguindo a dica que me deram fui encontrá-lo em seu habitat em Era Uma Vez em... Hollywood. Nada de histórias em quadrinhos. Nada de Sérgio Leone, só o sempre horrível, canastrão e superestimado Di Caprio em vestes de caubói de Sessão da Tarde. Nada de closes e zooms catalépticos nem de silêncios sangradores de tímpanos. Quentin Tarantino não estava em casa.
Garantiram-me que Quentin Tarantino mora em suas empoderadas personagens femininas; mulheres fortes, hábeis, marcantes, protagonistas de seus próprios destinos e, lógico, muito das gostosas.
Há tempos não trocava uma ideia com Quentin Tarantino. Acreditando na referência que me deram, fui ao encontro dele em sua residência em Era Uma Vez em... Hollywood. Onde estava a mulherada? Onde Mia Wallace? Onde Beatrix Kiddo? Margot Robbie, Tarantino? Sério? Margot Robbie? Uma Sharon Tate mais inexpressiva que a própria Sharon Tate? Novamente, Quentin Tarantino não estava em casa.
Avalizaram-me que Quentin Tarantino mora na violência banal e sem freios, no sangue em excesso, em retratar carnificinas cujas narrativas bem se equilibram entre o grotesco e o cômico, na brutalidade cometida por seus personagens como se executassem rotineira tarefa diária - como um médico que ausculta o 25º coração de seu plantão, como um pedreiro que sobe sua terceira parede do dia. Juraram-me de pés juntos que Quentin Tarantino mora na truculência executada de forma impessoal, burocrática, como algo a ser feito o mais rápido possível, apenas para que se possa chegar mais cedo em casa e abrir uma cerveja.
Há tempos não tomava uma com Quentin Tarantino. Seguindo a orientação, fui chamá-lo para um drink no inferno em Era Uma Vez em... Hollywood. Pit bull dilacerando membros, sacos escrotais e jugulares. Brad Pitt estraçalhando ossos, cartilagens e articulações (e ainda arrebatando corações e molhando xerecas). Di Caprio, com um lança-chamas, fazendo churrasquinho de uma hippie ensanguentada e armada na piscina de sua mansão. Desta vez, Quentin Tarantino estava em casa, no endereço me apontado.
Mas por pouco tempo. Mas estava de saída. Duas horas e quarenta de Era Uma Vez em... Hollywood. Duas horas e meia de procura infrutífera por Quentin Tarantino. Dez ou oito minutos finais apenas de um encontro com ele. Não valeram o tempo perdido nem os quatro latões de cerveja tomados. Por sorte, sempre compro meia dúzia.
O filme são os oito minutos finais e uma cena de Brad Pitt dando um pau no Bruce Lee. E só. Era Uma Vez em... Hollywood deveria se chamar, (Já) Era Uma Vez... Quentin Tarantino.

Travessuras de Menina Má (25)

sábado, 18 de janeiro de 2020

Aquela Que Matou Não Só o Guarda

Quando se quer dizer que uma bebida, em especial uma cachaça, é muito ruim, tão amarga de tragar, daquelas que se dermos um gole pro santo, ele nos roga uma praga eterna, lança-se mão, muitas vezes, da popular expressão "aquela que matou o guarda".
Quando ingressei no serviço público, há 20 anos, havia, na escola em que me efetivei, um professor de Matemática, em vias de se aposentar, que era uma daquelas figuras raras, falante, sempre de bom humor, conversador e exímio contador de lorotas, o Orlando Carrara, ou, como era conhecido, o Seo Orlando. O Seo Orlando conhecia (talvez ainda conheça, talvez ainda esteja vivo) mais "causos" que o Rolando Boldrin.
E foi numa das muitas vezes em que me sentei com o Seo Orlando à mesa de um boteco para tomar uma cerveja que ele me contou a origem da expressão "aquela que matou o guarda". Segundo ele, a história remonta à época do Brasil Império, aos tempos de D. João VI. Contou-me, entre um gole e outro de uma ampola geladíssima de Belco, que houve um guarda, da guarda pessoal da infanta Carlota Joaquina - mulher de D. João VI, mãe de D. Pedro I -, cuja esposa há muito desconfiava de que o marido estava a fazer muito mais que a segurança da Princesa do Brasil, há muito desconfiava de que o guarda estava era "guardando" na Carlota. Tomada pelo ciúme, a esposa traída deu fim à vida do marido, do guarda. Nome da corna braba : Canjebrina. Outro termo muito feito em sinônimo para a cachaça. Ou seja, a Canjebrina matou o guarda. Daí para a consolidação e a consagração popular da expressão foi um pulo : "aquela que matou o guarda".
Até hoje nunca fui atrás de verificar a veracidade do causo do Seo Orlando, mas ainda que não seja verdade, é uma história boa demais para ser jogada fora. Adotei-a como real e fim de papo.
E como nada muda no Brasil, como no Brasil a História não é cíclica e sim emperrada, como o Brasil de hoje ainda é o Brasil Império, "aquela que matou o guarda" continua livre e a cometer das suas.
Evoluiu, "aquela que matou o guarda", diversificou-se ao longo do tempo e hoje não mata só o guarda. Mata bancário, dona de casa, comerciante, pedreiro, advogado, aposentado etc.
Eis a verdadeira "aquela que matou não só o guarda" : cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer. A cerveja serial killer. Com quatro mortes já comprovadas e mais dezesseis internados já no bico do corvo.
Uma grande duma cagada, duma displicência, dum descaso, que, certamente, jamais serão punidos adequadamente, fez com que lotes e mais lotes do sacrossanto líquido fossem contaminados com as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol, compostos de ação anticongelante muito usados como aditivos em combustíveis automotivos em lugares de climas frios, em lubrificantes, na produção de cosméticos etc.
Na indústria cervejeira, podem ser usados - embora o uso do etanol puro ou do propilenoglicol sejam mais costumeiros - como aditivos da água que circula pelas serpentinas responsáveis pelo resfriamento da cerveja. "Para a cerveja chegar perto da temperatura de 0º C, precisamos que a serpentina esteja a -5º C ou -6º C. Com a água pura, ela congelaria, por isso colocamos algum tipo de aditivo, um anticongelante", explica Carlo Lapolli, presidente da Abracerva (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal). Mas, conclui Lapolli, "o anticongelante com a água gelada vai passando por serpentinas ao redor do tanque, não há contato direto com a cerveja".
Neste caso, houve. A intoxicação pelo dietilenoglicol e pelo monoetilenoglicol causa a Síndrome Nefroneural, cujo quadro de sintomas abarca náusea, vômito, dor abdominal e, finalmente, insuficiência renal e alterações neurológicas.
Agora começo a entender o porquê do meu amigo Jotabê, o ermitão de Belo Horizonte, de quem tenho a impressão de já ter sido um cara muito bom de copo, de já ter tomado muita Belorizontina em copo Nadir Figueiredo, ter decidido, "de uma hora pra outra", se tornar um abstêmio e, assim, ter permanecido, já há vários anos : sobrevivência. Jotabê, que não é bobo nem nada, decidiu que é melhor ser um sóbrio vivo do que um bebum morto. Mais liso que um bagre ensaboado, Jotabê não dá ponto sem nó, não bate prego sem estopa.
Antes que algum maledicente, que algum boca de urubu, diga que eu também logo encontrarei a minha nêmesis em uma latinha de boa e barata, me adianto ao agourento : muitos dos lotes contaminados eram de cervejas artesanais da cervejaria Backer, cervejinhas gourmet para degustador fazer bico e ir treinando a beiça pra mais tarde chupar rola. Minhas boas são baratas, sim. São pobres, porém limpinhas.
Fica, então, a dica para os suicidas deste meu Brasil dantes mais varonil. A sua passagem desta para pior, para o colo do capeta, não precisa ser traumática, violenta, ou espetaculosa. Não precisa se jogar do alto de um edifício nem cortar os pulsos nem meter um balaço calibre .38 na têmpora nem bater as botas em convulsão e babando feito cachorro louco por overdose de barbitúricos.
A sua voluntária partida para a terra dos pés juntos pode se dar de forma zen, relaxada, alegre, festiva, com música, churrasco e amigos entornando muita cerveja Belorizontina. De preferência num domingão, que é pra não ter que pegar no batente na segunda braba.
American IPA Pele Vermelha, cerveja artesanal, outro produto da Backer contaminado. A ampola de 600 ml não sai por menos de vinte e tantos contos.

Em tempo e voltando ao causo do Seo Orlando : belos fundadores tivemos, Carlota Joaquina, uma biscate, D. João VI, um corno, e o imperador D. Pedro I, nosso libertador, um filho da puta. Pãããããããta que o pariu!!! E vejam só que mocreia, que espanta-caralho era a Carlota. Morrer por causa disso? E olha que o artista responsável pela tela ainda deve ter caprichado muito. Pobre guarda....
E a bisca ainda carrega a foto do corno dentro de uma jóia ao pescoço.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Cerveja-Feira

A Língua é uma entidade viva. Digo da Língua com "L" maiúsculo, do idioma, não do prodigioso músculo bucal que tem 1001 utilidades, prestando-se, inclusive, à fala e à sensação de sabores. A Língua é viva; por conseguinte, mutável, em constante alteração, sujeita ao acréscimo constante de neologismos. 
A rigor, nada contra os neologismos, termos muitas vezes necessários a ajustes e a adequações da Língua às mudanças dos tempos, dos costumes, da sociedade etc. Alguns neologismos, porém, são estupros da Língua, dão me nojo e (quase) vergonha alheia por quem os usa perto de mim. Alguns beiram, mesmo, as raias da viadagem.
Um dos que mais detesto, um dos que mais me provoca ganas de enfiar um dicionário pela boca e uma gramática pelo cu de quem o aplica, é o tal do "sextou". Sextou é o caralho! Transformaram um dia da semana, emblema de uma alforria temporária do expediente profissional diário, em um verbo de biscates, de afrescalhados e de fãs de sertanejo universitário. Sextou!!! Sextou é o cacete!
Mas como quem está na chuva - como disse Vicente Matheus - é para se queimar, e porque a semana - valha-me São Gregório XIII - precisa manter os sete dias bem definidos, resolvi aderir à licenciosidade dos neologismos e criar um em substituição à sexta-feira, que virou sextou....ui ui ui...
Cerveja-feira. Doravante, pelo calendário Azaroniano, a sexta-feira passa a ser cerveja-feira, uma vez que o dia oficial e obrigatório da cerveja. Os outros dias da semana são pontos facultativos de entornar cerveja, que eu, como bom patriota, a todos guardo civicamente, mas a sexta-feira é obrigatória.
Assim, inaugurarei uma nova seção no Marreta, a Cerveja-Feira, na qual, em toda ex-sexta-feira, pretendo postar (até que a preguiça me vença) uma personalidade - ou um personagem, real ou ficticio - de notória afeição pela cerveja, um bebedor de respeito.
Para bem começar a seção, ela, a loira nada gelada Scarlett Johansson, atriz norte-americana de ascendência nórdica. Mostrando que quem sai aos seus não degenera, a bela e apetitosa Scarlett não esconde sua predileção pelo néctar dourado.
Sim, Scarlett entorna tonéis de cerveja feito um guerreiro viking e mantém esse corpo escultural. Qual será a desculpa de vocês, agora, caras barangas e mocreias de plantão, para explicar o barrigão?
Esta, eu tomava no gargalo!!! Pãããããta que o pariu se eu tomava!!!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Tag Bier : o Equilíbrio do Universo foi Reestabelecido

Depois de provar da boa, dinamarquesa e não tão barata cerveja Faxe, uma aflição, uma inquietude se fez em mim. Uma urgência a ser satisfeita a bem do equilíbrio cósmico, da compensação Universal : descobrir e provar duma nova boa e barata para equilibrar os pratos da balança do Caos e da Ordem.
O Universo, ele próprio preocupado e abalado com a discrepância de eu ter gasto mais que dois reais com uma cerveja - dissonância espaço-temporal que poderia pôr em risco a Realidade corrente e todas as Realidades que desta poderão se ramificar -, em seu próprio socorro, veio ao meu.
Ontem, saí de casa sem nem suspeitar que meus passos, se não totalmente guiados pelo Universo, seriam levados por ele a uma mudança no meu caminho, para corrigir o desvio de meu ato impulsivo, impensado e perdulário de ter comprado a Faxe. O Universo cuida dos seus. E, principalmente, de si mesmo.
Precisei ir até a escola de meu filho para pegar um declaração de matrícula do ano de 2020, documento necessário à renovação do cartão do transporte público que lhe dá direito à meia passagem. Caminho obrigatório até a escola : passar pelo centro velho da cidade.
Evito o centro. Só passo pelo centro se estritamente necessário, se não houver rota alternativa possível. Um show de horrores, o centro. Um povo feio, chucro, fudido, gordo, desdentado, sorridente e barulhento. Ambulantes, pedintes, viciados em crack, distribuidores de panfletos, estátuas vivas, vendedoras de chip de celular de voz esganiçada, chineses a dominar o segmento das lojas de R$ 1,99, matilhas de pombos pestilentos a se alimentar dos restos e da sujeira humana. Tudo e todos se comunicando num dialeto, num subidioma que, muito vaga e injustamente, pode ser associado à última e bela Flor do Lácio.
Uma edição revista e ampliada da Divina Comédia, de Dante, fosse lançada, um décimo círculo infernal, obrigatoriamente, teria de lhe ser acrescido : o centro de Ribeirão Preto.
E, ontem, fui e voltei por ele. Quase que invariavelmente, vou pela rua General Osório e volto pela Mariana Junqueira. Mas, ontem, quando dei por mim, e vejo agora que já era o Universo em busca do equilíbrio perdido, estava a voltar pela São Sebastião, rua paralela e alguns quarteirões acima das supramencionadas, logradouro pelo qual pouco transito e, por consoante, pouco conheço de seus comércios. A certa altura da São Sebastião, meus olhos foram atraídos para uma pequena filial da rede de supermercados Dia. Imediatamente, como se plantado na minha cabeça, um pensamento me veio : já que estou aqui, não custa entrar e ver se acho alguma boa e barata.
Entrei e nem precisei procurar muito. Entrei e parecia que ela tinha sido posta ali somente para ser encontrada por mim. Entrei e lá estava ela : Tag Bier.
Tag Bier Cerveja puro malte. De R$ 2,19 por R$ 1,89. Uma puro malte do naipe da Petra, da Cacilidis, da Império, da Bohemia e outras que tais não saem por menos que R$ 2,59, nos mercados aqui da cidade. Peguei a lata e tentei ler as letras pequenas do rótulo lateral, as informações sobre teor alcoólico, o seu local de fabricação, a cervejaria responsável etc. Tentativa vã sem meus óculos de leitura, minhas muletas para meus paralíticos cristalinos, o viagra dos meus cansados olhos.
Era barata, na certa. Mas seria boa? Aí é que entra meu espírito indômito de explorador do desconhecido, de desbravador de novos territórios. Decidi dar, sem medo, este tiro no escuro. Comprei meia dúzia. Pu-las a gelar e provei. Uma cármica satisfação me dominou : era boa, excelente. E barata. E as engrenagens do Universo estavam a girar novamente em perfeita comunhão.
Satisfeitas minhas urgência e aflição, pus meus óculos e li as referências na lata. Não à toa era boa e barata. Tinha pedigree. Produzida pela tradicional e respeitável cervejaria Casa di Conti, também responsável pela outra puro malte boa e barata 1500, já mostrada aqui no blog : Cerveja 1500, Uma Descoberta. Produzida com as águas puras e cristalinas de Socorro (SP), estância mineral do Circuito das Águas Paulista.
E não sou só eu que a achei boa, o site Brejas.com.br lhe dá uma nota 2,4 (de um máximo de 5,0) de avaliação geral, a mesma nota que concede à Bohemia. E o inusitado site - descobri-o ontem - Cerveja Bosta, muito mais ao meu estilo, falando muito mais a minha língua, que não dá conceitos numéricos às cervejas analisadas, mas as classifica simplesmente em Cerveja Boa, ou Cerveja Bosta, carimbou-lhe a primeira opção.
Mas o mais importante : o equilíbrio cósmico foi reestabelecido; a Faxe, só um desprezível ponto fora da reta. A Realidade e o Multiverso podem dormir tranquilos. O Azarão voltou às boas e baratas. Ainda não será desta feita que uma onda de antimatéria nos varrerá.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Uma Vodka com Freddy Krueger e com a Loira do Banheiro

Meu filho - feito toda criança - sonha o tempo todo; acordado e dormindo. Dormindo, às vezes, os pesadelos o assediam. Comumente, ele se debate, chuta o ar, grita e consegue espantar os maus sonhos por conta própria. Quando são mais insistentes - e talvez mais aterradores -, os pesadelos, quando mais difíceis de expulsar, feito assentamento do MST, ele acorre à minha cama, com seu inseparável e surrado travesseiro e pede por socorro, por proteção.
Abro espaço para ele na cama. Vou, equilibrista, para a borda da cama. Ele se aconchega de costas para mim. Abraço-o, para-raios dos pesadelos dele. Em segundos, ele respira em sono profundo, como não tivesse acordado há instantes. Ah, o sono fácil das crianças.
E se sou eu quem acordo de um pesadelo? Para a cama de quem corro? Se, hoje, eu sou o pai? Se, hoje, minha condição de filho é apenas condição biológica de eu ter que ter nascido de alguém, não mais condição de sobrevivência? Se, hoje, minha condição de filho é mera ata empoeirada em algum cartório de registros? A que pai, eu grito? A que pai, eu me aconchego? Que pai é a sentinela do meu sono?
Deve ser aí que entra Deus. O Pai inventado por filhos desmamados a contragosto, o Pai inventado para lhes mimar pelo resto de suas vidas.
Acordar assustado, em sobressalto, suando frio, vendo assombrações de dias passados, espíritos de saudade decompostos, Loiras do Banheiro e Freddys Krueger e chamar por Deus? Onde fica o quarto de Deus, para que eu possa para lá correr e pedir beirada na cama? Acordar apavorado, taquicárdico e gritar por um Pai que, no sexto dia, saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou? Gritar por um pai imaginário? Oniausente? No RG da humanidade, deveria constar : pai desconhecido.
Melhor me levantar em silêncio. Sem alarde nem viadagens. Para não acordar esposa e filho. Ir para a sacada do apartamento. Servir rodadas de vodka regadas a rock nacional dos '80 a tocar quase que inaudível no meu velho toca-CDs.
Rodadas de vodka para mim, para minhas assombrações, para meus duplos etéricos putrefatos (minhas máscaras em ruínas), para a Loira do Banheiro sentada no meu colo a alisar meu pau e para o insone Freddy Krueger, a picotar o gelo e a fatiar rodelas de limão.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Faxe : Boa, Dinamarquesa e Não Tão Barata

Volta e meia, meu olhar cruzava com ela no supermercado, por entre as prateleiras. Embora seja casado, nunca me furtei, discretamente, de apreciar sua bela estampa, suas formas roliças, voluptuosas, a sugerir delícias ocultas. Para me complicar ainda mais, soube-a dinamarquesa. Ah, a mítica das nórdicas... Uma Valquíria de compleição rija e bem torneada.
Hoje, arrisquei-me. Aproximei-me dela - nunca estivera tão perto. Toquei-a. Olhei-a de frente, a fiz girar vagarosamente, olhei-a por trás, gostei tanto mais. Sabia que tal fraqueza, que tal ousadia, não me sairia barato. Ignorei o custo : comprei-a.
Cerveja Faxe. Dinamarquesa, o hidromel dos vikings, o combustível das tavernas escandinavas. Um litro do mais puro néctar do malte e do lúpulo. Um litro! Há tempos a paquerava e, hoje, decidi comprá-la. R$ 19,90. Sacrifiquei um mico-leão-dourado.
Janeiro já é mesmo o Mês do Terror para um sujeito "seguro" feito eu. É IPTU, é matrícula da escola do filho, é material escolar, são os livros didáticos, é uma das minhas filhas felinas que teve de ser submetida a uma histerectomia, é a segunda parcela do 13º e o terço de férias indo ralo abaixo. Falido por mil, pensei, falido por mil e um. Não serão R$ 19,90 que me deixarão mais pobre, ou mais nababo. E também para queimar certas línguas maledicentes que rondam o Marreta a lançar fake news a respeito de uma suposta sovinice etílica de minha parte.
A cerveja é boa. Muito boa. Brônzea. Amarga. Cerveja de macho. Nada de retrogosto frutado e outras viadagens. Cerveja de pedreiro, como se dizia antigamente.
Não tenho exatamente uma coleção de latinhas de cerveja, mas mantenho uma meia dúzia de marcas cujos desenhos dos rótulos me agradam. Guardarei o super latão da Faxe. Ainda mais por ser de uma edição especial para colecionadores. Na frente (como mostrado na foto acima), a logomarca da Faxe; atrás uma bela pintura a retratar o interior de uma taverna nórdica, uma pintura ao melhor estilo das capas de A Espada Selvagem de Conan, um monte de bêbados encharcados de cerveja e, a dançar sobre o tosco e curtido balcão, uma delícia ruiva de belas madeixas e fartos peitos.
A própria Sonja, a Ruiva!!!
Rebola, safada!!!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

E Bolsonaro Disse : Faça-se a Luz!

Cada Presidente da República sabe bem o gado que tange. Dá para o gado que o pôs no Planalto o que o gado o elegeu para ganhar.
Lula e sua versão quase mulher, Dilma Rousseff, passaram quatro mandatos presidenciais enchendo os buchos verminosos dos encostados deste nosso Brasil dantes mais varonil. Encheram os estômagos de seu gado sem, no entanto, dar-lhes trabalho ou ocupação, que também ninguém é de ferro, né?
Jair Bolsonaro, não diferente de qualquer outro que já tenha envergado a faixa presidencial, também atenderá às súplicas de seu gado, de seu rebanho, do rebanho de cristãos, sobretudo os evangélicos, que viram nele, literalmente, um Messias.
E qual é a maior aspiração de um evangélico? Ver a Luz!!! Conhecer a Luz!!! E na falta da Luz Divina, os líderes evangélicos se contentam mesmo com a Luz Elétrica, bem baratinha, de preferência.
Visando o anseio de seu gado, Bolsonaro disse : - Faça-se a Luz!!!
E a Luz se fez; ou, ao menos, está a ser preparada. Bolsonaro pretende subsidiar a conta de energia elétrica de todos os templos religiosos, mas a medida, claramente, favorecerá sobremaneira os evangélicos.
A pedido de Bolsonaro, uma minuta de decreto foi elaborada pelo Ministério de Minas e Energia e encaminhada à pasta da Economia, que, a priori, rejeita mais esta safadeza religiosa, rejeita uma medida que é avessa à agenda do ministro Paulo Guedes, defensor da redução deste tipo de benefício. Mas o Ministério de Minas e Energia diz que o assunto segue em avaliação.
É o dízimo elétrico!!! Pããããããta que o pariu!!!
Será que com o subsídio da conta de luz, que reduzirá os gastos de funcionamento das igrejas, os pastores também darão um subsídio no dízimo de seus fiéis? Aliviarão um pouco a tosquia de suas acéfalas ovelhinhas? Darão um desconto na paga de cada crente?
O caralho que darão!!! O subsídio da conta de luz, caso aprovado, só deixará mais luminosas e resplandecentes as contas bancárias dos pastores. E estarão certos, os pastores, em não aliviarem as suas ovelhas de carga. Pastor rico e feliz é fiel fudido e mais feliz ainda. Pois, para os crentes, a prosperidade de seu pastor é indicativo da predileção de Deus por ele e por sua congregação, é a prova de que são guiados por um verdadeiro escolhido do Senhor. Todos ficam felizes.
Menos eu. Que passarei, via o sequestro de meus impostos, a também bancar mais este tipo de vagabundo, fora os vários outros tipos que nossos impostos já sustentam.
Quem vai gostar da notícia é o meu velho amigo Marcellão, comedor e putanheiro das antigas recém-convertido a uma destas igrejas neopentecostais, a Igreja da Quadratura do Círculo Triangular, ou coisa que o valha..
Marcellão é lulista roxo, de carteirinha, paga o maior pau pro Sapo Barbudo, mas, desta feita, terá que dar o braço a torcer para Bolsonaro. Caso a patifaria do dízimo elétrico seja aprovada, Marcellão terá de incluir o Presidente em suas preces diárias ao Todo-Poderoso, terá de pedir a Deus que proteja e bem conserve Bolsonaro, este ser iluminado, este Presidente de Luz.
E que ninguém mais diga que Bolsonaro é um sujeito chucro, bronco, iletrado. Bolsonaro é, antes pelo contrário, um autêntico Iluminista.
Olha aí, Marcellão : derrama, Senhor, derrama, Senhor, derrama sobre ele o Seu amor...

Tirar Porta dos Fundos do ar é tudo o que o Porta dos Fundos quer

O texto a seguir é o melhor que já li a respeito da turminha de filhinhos de papai escrota que atende pelo nome de Porta dos Fundos. O texto é da brilhante autoria de Flávio Morgenstern, do blog Senso Incomum. O texto é relativamente longo, para os padrões da internet, mas vale cada linha. Reproduzo-o na íntegra, inclusive com as imagens originais. Quando eu crescer, quero escrever assim.

"Mais do que um filme, o lixo estúpido feito para estúpidos do Porta dos Fundos é um experimento social para pintá-los como arautos da liberdade de expressão. A última coisa que um Duvivier é."


"Sem querer dar spoiler, mas no filme Se7ven – Os Sete Pecados Capitais, dirigido pelo esplêndido David Fincher, o assassino serial “John Doe” (Kevin Spacey), que mata segundo os sete pecados capitais, se entrega quando ainda só descobriram 5 crimes. A última morte (ira) dar-se-á quando o detetive David Mills (Brad Pitt) descobrir qual é a sexta vítima. Ao invés de matar seguindo todos os 7 pecados capitais, John Doe deixa uma dificílima escolha para o policial evitar que seu trabalho se concretize. Logo um policial completando o trabalho de um assassino que vive de símbolos.

Se o filme é genial, esta dura escolha é colocada de forma muito mais burra por gente de moral e inteligência limitada como a turma do “Porta dos Fundos”, ao fazer “seu especial de Natal” (se é que podemos assim chamar) “A Primeira Tentação de Cristo”. Ninguém viu, a não ser gente que quer lacrar (e que aplaude não por achar as piadas engraçadas, mas simplesmente pelo prazer de escarnecer de “inimigos”). Mas o “filme” do Porta dos Fundos é, na verdade, um experimento social.

Tudo foi cirurgicamente montado única e exclusivamente para ser censurado. O único – reitere-se: único – objetivo do Porta dos Fundos, que definitivamente não era fazer humor (quem ri desses retardados?), era serem tirados do ar. Enquanto isso não ocorresse, não haveria motivo para a mera existência de Gregório Duvivier ir a seu caríssimo estúdio e fingir que tem amigos ou sócios por seu talento, e não por seu caríssimo sobrenome.

Se a direita cresce com grandes homens exemplos de virtude e coragem (de Carlos Magno a Churchill, de Charles Martel a Donald Trump), a esquerda cresce posando-se de vítima injustiçada de supostos “opressores” (da luta de classes de Karl Marx às teorias de “repressão sexual” de Wilhelm Reich, do anti-colonialismo de Frantz Fanon ao feminismo de Judith Butler). Não à toa, pratica os maiores genocídios da história, tratando suas vítimas como “opressores” que finalmente foram justiçados.

No Brasil, ninguém lembra da Coluna Prestes, por exemplo – mas trata-se como heróis os terroristas e totalitários socialistas que fizeram guerrilha armada por “lutar contra a ditadura”. Como um esquerdista tem um pensamento binário (você consegue imaginar Jean Wyllys entendendo Robert Musil?), se os guerrilheiros estavam lutando contra uma “ditadura”, logo, eram arautos da liberdade, puro êxtase de libertação, gente que nunca pegaria em armas a não ser sendo obrigada.

É o “pecado original” da história brasileira. Sem ditadura, sem apelo para a esquerda. Como se os militares transformassem uma democracia em uma ditadura simplesmente porque Marighella pensava demais nos pobres e oprimidos.

O que a turminha do Porta dos Fundos, com a inteligência somada perdendo para a de uma lesma, conseguiu ao ter atendido pela lei (juridicamente coerente) um pedido de retirada do ar de sua diarréia coletiva em forma de filme? Posarem de “oprimidos”. Esses riquinhos sem mais o que fazer.

Jornais, que nunca usam a palavra censura para falar do politicamente correto, de páginas e perfis derrubados, do policiamento da linguagem que proíbe até um termo como “bicha” ou “viado” nas redes sociais (não reproduza), de repente martelam a cada 5 minutos, em qualquer canal, que o Porta dos Fundos foi “censurado”. Oh, pobrecitos.

A Rede Globo, que nunca cita o nome de um concorrente, citou o nome do CQC para comparar o ato do desembargador ao de quando julgou Bolsonaro (sempre ele no meio). De repente, pararam de tratar as decisões da Justiça como a mais fina letra da lei do Estadodemocráticodedireito. Imagens do “atentado” ao Porta dos Fundos passam tantas vezes em uma hora na televisão que se tem a impressão de que vivemos num país sem assassinatos (defendidos pela esquerda) para serem exibidos.

E, mais importante (já que cada vez menos alguém se importa com a grande mídia): o especialzinho de Natal do Porta dos Fundos que ninguém quis ver (quem acha graça em Porchat e Duvivier, for God’s sake?) agora tem propaganda gratuita mais ou menos 25 horas por dia. O famoso efeito Streisand. Eric Hoffer, em seu clássico The True Believer, sabe que massas crescem ao serem proibidas. Bastaria dizer que o comunismo está proibido no Brasil para o PCdoB quintuplicar os filiados no dia seguinte e ostentar orgulhoso que é o grande partido comunista do Brasil (e não que “comunismo nem existe, é paranóia do Olavo de Carvalho”, e disfarçar o nome para “Movimento 65”, como faz agora).

Não à toa, se a empresa estava decadente em buscas no Google, foi saírem do ar que as buscas dispararam sky high.

Buscas no Google pelos fracassados do “Porta dos Fundos”


Você acha que o Porta dos Fundos não calculou exatamente isso, ao catarrar um suposto “filme” para blasfemar Jesus exatamente no Natal? Ou fez isso pensando em, vamos ver, talvez humor? Talvez pensando na graça das piadas! O Porta dos Fundos!!

Blasfêmias contra Jesus têm uma tradição história. O Porta dos Fundos segue Herodes, o primeiro a querer blasfemar contra Jesus. O Novo Testamento inteiro tem um blasfemador contra Jesus praticamente a cada capítulo. De Agostinho a Shakespeare, de Gil Vicente a Dostoievsky, as pessoas admiráveis da humanidade ficaram do lado do salvador. De Nero a Hitler, de Calígula a Mao Tsé-tung, os vagabundos e bandidos sempre escarneceram do corpo de Cristo pregando orgias no lugar.

A única “novidade” de mongolóides como Duvivier, Porchat et caterva é usar linguagem identitária: Scorcese, fruto da revolução sexual, foca visualmente na tentação da luxúria de Jesus, descrita no livro de Nikos Kazantzákis (mesmo estratagema de Je vous salue, Marie, de Godard). Porta dos Fundos, tão original quanto a prostituição (e com tão poucas diferenças desta última), retira o talento e coloca ideologia de gênero no lugar.

Aliás, Porta dos Fundos é o exemplum maximum do que é a esquerda do século XX em comparação a Fritz Lang ou Charles Chaplin: a retirada do talento e a substituição pela ideologia da modinha. Qualquer um pode chamar tais artistas comunistas do passado de gênios, ao menos tecnicamente. Como rir de um Porchat ou Duvivier, que só sabem fazer esquerdistas descerebrados se sentirem representados por esquerdistas descerebrados riquinhos, crendo que algum dia crescerão como eles?

Porta dos Fundos não quis fazer ninguém rir (mesmo porque o único motivo que temos para rir é dos Portas dos Fundos, e não de suas piadas). O grupo, esquerdista em tudo, quer só posar de vítima. E agora, esses energúmenos, estúpidos, cretinos e, pior de tudo, comunistas farão como a esquerda desde a ditadura: se pintarão como os grandes arautos da liberdade de expressão no Brasil. O que eles não são.

Faça uma piada chamando um homossexual de “bichinha” do lado da turma do Porta dos Fundos para vê-los falando em “limite do humor” no segundo seguinte. Faça uma piada com gorda para observá-los de camarote dizendo que isso não é piada, é ofensa. Faça uma piada com Marielle Franco para testemunhar os mais desfrangalhados faniquitos sobre racismo, machismo, tem que processar, que falta de respeito. Ué, com Jesus pode, por que não com Marielle? Só porque na última cena a comunista do PSOL vai arder no inferno por toda a Eternidade ao invés de ressuscitar?

Como seria legal Dante escrevendo a Divina Comédia dando nomes aos bois no Brasil atual, não?

Aliás, experimente chamar um pedófilo de pedófilo perto dessas pessoas para ver o que acontece. Mesmo que você não chame: só pergunte o que um pedófilo é, e os amiguinhos do Porta dos Fundos vão te lembrar que Jesus é zoável, já pedófilos merecem respeito e lei pesada contra seus críticos. E, claro, vão lembrar do Peladão do MAM quase esfregando o mangalho na cara de criancinhas para dizer que você que está praticando censura!

O que é preciso fazer com um experimento social coprofágico como o Porta dos Fundos é lhe tirar a autoridade. É pesar no único órgão do corpo a que dão importância além do ânus: o bolso. É fazê-los perder totalmente a sua influência. É boicotar todos os seus anunciantes – e boicote nível americano, pesado, citando as marcas que anunciam no Porta uma a cada dia nas redes sociais, fazendo campanha contra seus produtos por financiarem o Porta dos Fundos.

É cancelar o pagamento do Netflix (veja quantas séries há nos concorrentes enquanto a plataforma não resolve parar de tomar o seu dinheiro para te tratar igual puta, que pode ser cuspida depois de arrombada). É tratar vermes como Gregório Duvivier, Fábio Porchat e seus asseclas não mais como influenciadores – se podem escarnecer de Jesus, eles podem ser tratados alguns níveis abaixo, não? Onde trabalham? Tire o dinheiro dos seus patrões.

E, claro, agora está liberado fazer piada com tudo – mas sobretudo com tudo o que a esquerda trata como mais sagrado do que uma hóstia ou o túmulo de suas mãezinhas, como gays, macumbeiros, feministas, gordas e qualquer um protegido contra um suposto “discurso de ódio”.

Além de boicote organizado, de fazer as vendas de toda empresa ligada ao Porta dos Fundos ir pro buraco em questão de um mês (a começar pela Netflix – sem sacrifício, não há resultado), é hora de fazer cada esquerdista e cada defensor do “especial de Natal” chorar sangue quando abrir sua caixa de comentários. Agora pode. Agora pode tudo. Melhor começar um regime e evitar a AIDS.

É isso o que o Porta dos Fundos é: um experimento social, não humor. Trata-se de poder, de mostrar quem manda, quem pode e quem não pode. O que esquerdistas querem é poder te tratar como pulga, e ai de você se tratá-los como pinchers. Eles querem tudo, inclusive te censurar, e depois dizer que lutam contra a censura. São comunistas como todos os outros. E comunista bom, querido Porta dos Fundos, é comunista que sabe voar do helicóptero.
Ou acharam essa piada muito ofensiva? Ah, vocês não ressuscitam no terceiro dia, né?"