quarta-feira, 28 de maio de 2014

Imagine...

Imagine um cara, um cientista, físico dos bons, dos inigualáveis, daqueles que parecem saídos de um filme de ficção dos anos 50, ou dos laboratórios das páginas de uma HQ de super-heróis, um cara que daria trabalho a Einstein num jogo de trivia, de perguntas e respostas - a vida me concedeu a honraria de conhecer um assim, Robert Lee Zimmerman.
Imagine um cara, maior ainda que o cientista, uma figuraça humana das mais grandiosas, de uma simplicidade diretamente proporcional ao seu conhecimento, das mais despojadas da vaidade e dos ranços comuns ao meio e às pessoas dos quais sempre viveu cercado - no meio acadêmico, a idolatria do próprio umbigo é praticamente um pré-requisito, um item de destaque no curriculum vitae. Zimmerman nem se lembrava de que tinha um umbigo. Disse o grande Augusto dos Anjos : o homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera. Zimmerman era exceção. E nem digo honrosa exceção, afirmo que única. E olha que feras, bestas-feras, nunca lhe faltaram como colegas de trabalho.
Imagine um cara, já do alto de seus 60 anos de idade, em quase todos os dias da semana, ao meio-dia, ao sol a pino, a fazer cooper pelo vasto campus da Universidade, e a seu lado, esforçando-se em acompanhar o ritmo de suas passadas, Tina, sua cadela dobermann. Tina arfava, resfolegava, suava litros pela língua, e a Zimmerman nem lhe alterava a respiração, nem lhe encurvava a postura altiva, um impávido colosso, trajado só com um velho short de pano e um surrado par de tênis Bamba.
Imagine um cara, tímido que só, chegando-se a uma colega de trabalho, pela qual há algum tempo nutria discreto e secreto interesse romântico, e perguntando de chofre, sem preâmbulo nem vaselina : - quer casar comigo? E ante o olhar atônito da colega, tranquilizá-la, com seu sotaque marcadamente ianque : - não, não, não precisa responder agora, vou ali ajustar uns lasers, tabelar uns dados, você fica aí pensando, que eu já volto. A colega, a professora Adelaide, de quem também tive a honra de ser aluno, que não era boba nem nada, claro, aceitou o pedido.
Imagine um cara, ao fim do dia, em retorno ao seu lar, a dirigir seu carro pelas ruas irregulares do campus, uma, já antiga na época, Variant, toda amassada, remendada, de cor indefinível, indecifrável. No banco do carona, do passageiro, a lhe fazer as vezes de co-piloto, a fiel e indefectível dobermann Tina; no banco de trás, a esposa Adelaide.
Imagine um cara, quem sabe da linhagem direta dos irmãos Wright, a alternar-se entre dois campus, localizados em diferentes cidades, e a cobrir a distância entre eles a bordo de um avião monomotor, um simpático teco-teco projetado e construído por ele próprio. O mesmo teco-teco em que, volta e meia, transpunha continentes em visita a seus familiares, nos EUA, e com o qual já realizara diversos pousos de emergência, de aterrissagens forçadas, uma, inclusive, em pleno coração da selva amazônica.
Imagine um cara que nunca soube da existência do chão, do comum, ou, ao menos, que nunca o sentiu sob os seus pés, que sempre levitou por sobre ele feito um trem bala japonês, um cara que sempre mirou o alto e o além.
Imagine - cometa a heresia de tentar imaginar - o mundo imaginado pela mente incomum de Robert Lee Zimmerman :
Imagine um mundo só de voos,
Imagine um mundo sem montanhas altas e nevadas.

(Robert L. Zimmerman foi meu professor de Física entre os anos de 1989 e 1990, na USP - Ribeirão Preto, e foi um raríssimo privilégio ver de perto o funcionamento de uma mente verdadeiramente brilhante; muitas vezes contemplar seu raciocínio e sua lucidez aparentemente caóticos - e só mesmo contemplar, como quem embasbaca frente a uma paisagem expressionista, pois jamais seríamos capazes de alcançá-lo.
Em 06/05/2014, Robert L. Zimmerman, aos 84 anos de idade, em companhia de seu irmão, de 86 anos, colidiu com uma montanha gelada no Parque Nacional de Yellowstone, a bordo de um monomotor Mooney M20C. Devido ao mau tempo, as equipes de resgate só localizaram os corpos hoje, três semanas depois.
E Zimmerman, eu tenho certeza, não vai para o Céu. Sempre esteve por lá.
Robert L. Zimmerman (de colete com padronagem xadrez) e o irmão, Ward H. Zimmerman

terça-feira, 27 de maio de 2014

Pau do Índio

Prosseguindo em minha antropológica jornada pelos rótulos das cachaças do Brasil, deparei-me com um que me fez lembrar de meu primo Leitinho.
O Leitinho é um eterno curioso dos usos e costumes de outros povos. Faz questão, quando viaja em suas férias, de realizar um verdadeiro banho de imersão na cultura das localidades que visita. Informa-se de suas histórias e de seus folclores, confere seus pontos turísticos, prova de suas comidas e bebidas típicas.
Um experimentador por natureza, o Leitinho. Um desbravador.
Em uma de suas recentes viagens, esteve em Manaus (AM) e me enviou de lá algumas fotos de sua peregrinação pelo Brasil equatorial. Duas delas, deixaram-me cabreiro. Em uma, Leitinho está envolto por uma grande e grossa cobra, acredito que uma sucuri, e olha maravilhado para a cabeça do animal. Na outra, aparece todo sorridente, todo alegre e feliz da vida abraçado a um índio velho, um pajé de araque, um silvícola com a maior cara de pilantra, que, entre outras lorotas para enganar turista, disse-lhe conhecer a cura para todos os males, inclusive para a AIDS. Sai fora, pajé de boutique, índio velho de escola de samba, que para rosca frouxa não há cura!
Vendo os semblantes de júbilo e regozijo do Leitinho e do pajé na foto, e sabendo da irrefreável vocação empírica de meu estimado primo, não tenho dúvidas, o Leitinho provou da cachaça mais tradicional do Amazonas, o Pau do Índio.
É, Leitinho... Fosse hoje, o Beyonder jamais o convocaria para uma nova Guerras Secretas.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Chora no Pau

Ontem, pesquisando para escrever a postagem Pituconha, a Cachacinha do Capeta, que diz da tradição nordestina de curtir plantas e bichos na cachaça, fui lembrado de um outro fortíssimo segmento da indústria cachaceira brasileira, o dos rótulos sacanas, de duplo sentido, coisa mesmo de filho da puta.
Selecionei alguns desses rótulos e pretendo, esporadicamente, postá-los por aqui, evidenciando que o que falta ao brasileiro não é a criatividade, isso ele tem de sobra, o que lhe falta é, depois de tida a ideia, trabalhar duro em cima dela, o que nos falta é o empreendedorismo.
Lá vai o primeiro rótulo :
 Pããããta que o pariu!!! Ainda bem que eu só tomo cerveja!!!

Um Dia na Vida (2)

Tem um cara que, em todas as sextas-feiras e sábados, ao anoitecer, no lusco-fusco, aguarda pela esposa sentado à soleira de um salão de cabelereiras próximo ao meu apartamento - pelo que pude concluir, ela trabalha no estabelecimento.
Até há algum tempo, ele tava sempre de bermuda, chinelão e com um latão de cerveja na mão, a tornar menos fastidiosa a sua espera. 
Coincidia de eu passar, por essa mesma hora, pela outra calçada, de volta do mercado, abastecido também de minhas cervejas, a me tornarem menos fastidioso para os que comigo convivem.
Ele ia esperando pela esposa, esvaziando sua lata e observando o movimento. Passava um carro, ele observava, seguia-o com os olhos; uma motocicleta, ele observava; um cachorro, ele observava; uma gostosa, ele comia com os olhos. Observava tanto que observava até a mim.
Sempre que eu passava a carregar minhas sacolas, ele, do outro lado da rua, soltava um "oi", ou um "oba", ou um "tá bom?" e erguia a lata de cerveja, com o braço a meio pau, a modo de cumprimento. Eu respondia com um "oba", ou com um "tudo bem?", e correspondia ao seu aceno com um menear de cabeça; às vezes, com outro aceno, quando uma de minhas mãos se encontrava livre das compras do mercado.
O cara sumiu da frente do salão por um bom tempo. E voltou há umas poucas semanas. Continua a esperar pelo término do expediente da esposa em todos os anoiteceres das sextas e dos sábados; porém, sumiram-lhe a bermuda, o chinelão, a lata de cerveja. Camisa e calça sociais, sapatos engraxados e um telefone celular, um desses de última geração, são a sua nova estampa. O cara não observa mais nada. Absorto, absorvido, abduzido pelo celular.
Passa um carro em alta velocidade, ele não observa; uma motocicleta com o escapamento aberto, ele não observa; pode um cachorro confundi-lo com um poste e lhe mijar na perna, ele não observa; passa a gostosa, ele não observa, não mais lhe fareja o cheiro da buceta. 
Dia desses, eu tinha me atrasado um tanto no mercado e o vi já de saída, indo embora com a esposa. Num carro em cuja traseira havia um adesivo : "Eu sou de Jesus".
Agora, quando desço pela rua e o vejo do outro lado, face iluminada pela tela do celular, eu até passo mais rente aos muros das casas, tento até mais me ocultar por detrás das árvores nas calçadas, imiscuir-me às suas sombras.
Vai que ele me perceba e me acene com suas novas roupas, seu novo vício, sua nova fé? Com o que poderei lhe acenar em retorno ? Com a benga. Só poderá ser com a benga.

domingo, 25 de maio de 2014

Pituconha, a Cachacinha do Capeta

São famosas as cachaças nordestinas que trazem os mais variados exemplares da fauna e flora curtidos em seu interior, em conserva, por assim dizer. Cada aditivo, garantem os produtores, conferem não só um gostinho peculiar como também propriedades terapêuticas e curativas à cachaça, algumas mesmo força e virilidade, contribuem para a paudurescência do bebum.
Tem cachaça com cobra curtida, com caju, com escorpião, com jurubeba, com lagartixa, com casca de jatobá, com lacraia, com casca de ipê roxo, com lagarta do coqueiro, com barbatimão, com caranguejo, e uma infinidade de outras ervas e bichos.
Agora, a população do município pernambucano de Cabrobó, mostrando-se profunda conhecedora da lei da conservação das massas de Lavoisier - na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma -, inova no ramo das cachaças medicinais e lança a, já sucesso de vendas, Pitúconha, um marinado da famosa cachaça da marca Pitú com raízes de maconha em infusão.
O rótulo nem tenta disfarçar o conteúdo, já informa logo de cara : aguardente de cana adoçado com raiz de maconha. Na parte de baixo, obedecendo fielmente aos preceitos do código de defesa do consumidor, lista os ingredientes : destilado fermentado de mosto de cana-de-açúcar e raiz de maconha. E ainda, preocupada com a saúde dos pés inchados, dos pudins de cachaça, tranquiliza seus consumidores : Não contém glúten.
Acontece que a pequena cidade de Cabrobó fica encravada no famoso "Polígono da Maconha", o maior plantation de marijuana do Brasil, quiçá do mundo. Após cada operação policial de erradicação e queima de alguma plantação, os discípulos de Lavoisier entram em ação e dão um destino mais nobre às raízes da planta, que ficam lá, enterradas, abandonadas, uma vez que só a parte aérea dos pés de maconha - caule e folhas - é queimada. As pessoas recolhem as raízes e as vendem para os produtores da Pitúconha, o saco de 30 kg sai por R$ 100,00.
A Pitúconha é comercializada livremente nos pés-sujos de Cabrobó e também pode ser degustada acompanhada de um bom espetinho vendido em carrinhos espalhados pela cidade. O cara vai, come lá um espetinho de gato, ops, de calango, e toma uma talagada da Pitúconha. A dose individual sai por R$ 1,00 e a garrafa, R$ 30,00.
A reportagem da Folha de São Paulo conversou com um servidor público que, para aumentar seus parcos rendimentos, já vende a cachacinha do capeta há 5 anos, ele diz que chega a comercializar 6 garrafas por fim de semana em seu carrinho de espetinhos : “Já virou souvenir. Tem um pessoal do banco que compra de carrada. O pessoal tem muito interesse de conhecer. Houve até um leilão na capital. Saiu por R$ 200″, afirma.
Mas, enfim, a cachacinha do capeta é ilegal ? A verdade é que Pitúconha tem colocado a polícia e a justiça numa sinuca de bico, num verdadeiro nó górdio. Segundo a Polícia Federal, ainda não há clareza sobre a situação legal da bebida. Se a lei fosse levada ao pé da letra, seria crime, porém, uma perícia feita pela PF no ano passado indicou concentrações muito pequenas de THC (tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha, nas raízes. “A lei não especifica a quantidade de THC. A questão é de ordem prática: a concentração é muito pequena. Não existe uma repressão sistematizada até hoje”, diz o delegado Carlo Correia, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Pernambuco.
E o povo é tão descarado que o delegado conta que as pessoas chegam a pedir raízes de maconha para os policiais envolvidos nas operações, segundo elas, para tratar de dor na coluna, problemas de estômago e asma.
De qualquer forma, caso você vá a turismo à pequena Cabrobó, resolva experimentar sua bebida típica e seja abordado por um policial, basta sair à francesa, ou melhor, a la Bezerra da Silva, é só dizer ao representante da lei : - vou me servir, mas não vou emborcar agora.

sábado, 24 de maio de 2014

Antepasto de Berinjela

Pode,
O cristão vegetariano,
Comungar?
Se fartar e se lambuzar
Do corpo e do sangue do Cristo?
Ou a ázima hóstia
Se transubstancia, também,
Em carne de soja?
Em tofu?
Em antepasto de berinjela?

A Caneca do Azarão

Certa vez, quebrou-lhe a asa
Ficamos engaiolados ao chão
Os dois.
Pus-lhe tala, gesso, cola branca
E uns dias de repouso.
Voltamos Ícaros às prova de Sol
Os dois.

Noutra vez, atacou-a legião de fungos
Azulamos, acinzentamos, gorgonzolizamos
Os dois.
Tratei-lhe com salmoura, peróxido de hidrogênio
Hipoclorito e a pus a quarar
Desemboloramos
Os dois.

Fustiga-a a idade
As cores baças e macilentas
Seu fundo craquelado
Esfarelento
Solo de semiárido infértil
Os dois.
Irrigo-a todas as noites
Dou-lhe soro caseiro
Fitoterápicos
Florais de bach da flor do lúpulo
Tornamo-nos
Lama, lodo, mangue
O barro primordial e amorfo, não moldado e assoprado.

Antes isso, antes ela
Que definhar
Que esturricar os sonhos
Que tornar ao pó
E ganhar uma casa popular num paraíso sem pecados -
A pureza e a invulnerabilidade são os maiores dos castigos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Silvio Santos é Coisa Nossa... Mas que vai, vai, mas que vem, vem

Aproveitando a estratosférica (e mais do que merecida e justificada) popularidade de Sílvio Santos, o patrão mais famoso do Brasil, o SBT anunciou o lançamento de uma linha de produtos com bordões populares do empresário. As frases são propriedades registradas do canal, e os itens serão vendidos exclusivamente no site da empresa, explica Fernanda Brozinga, executiva de licenciamento do SBT.
São camisetas, canecas e capas para celulares com frases icônicas do homem do baú : ma...ma...ma...muito bom! quem quer dinheiro? mas quem é que eu vou chamar... vem pra cá, vem pra cá.
Tem até camiseta estampada com o emblemático e fálico microfone ao peito. Sempre em riste, apesar dos 83 anos do apresentador e das más línguas dizerem que a pipa do vovô não sobe mais.
Até eu vou querer!!!

A Cruz e a Espada

Gostaria de dizer - de poder dizer, sinceramente - que é trabalhar, cuidar do filho, das gatas, da casa, que me faz cansar e ofegar, encontrar-me em cacos ao fim da noite; seria, ao menos, um cansaço útil. Mas não.
É o cansaço que sempre tive do mundo - nasci com ele - aliado à musculatura já decrépita de minhas mais de quatro décadas - um Atlas reumático e artrítico.
O fato é que, ao fim do dia, quando posso relaxar por uns momentos e fazer algo por mim, não há disposição para mais nada. Não consigo me concentrar em uma leitura, sequer em um filme mais longo. O máximo que dou conta é de apagar as luzes da casa, sentar-me à sacada com um belo dum canecão de cerveja e ouvir uma musiquinha. E como também não tenho mais paciência (ou ânimo) de ficar escolhendo entre meus CDs o que vou ouvir, costumo sintonizar no canal de músicas da TV a cabo, alterno-me entre três de suas estações, MPB, Rock Brasil e Anos 80.
Ontem, dei sorte. Mal acabara de me sentar no escuro e a estação Rock Brasil me estilingou nos ouvidos a canção A Cruz e a Espada; terceira faixa, lado A, do LP Revoluções por Minuto (1985), do grupo RPM.
A Cruz e a Espada é o Paulo Ricardo em sua melhor forma, em seu apogeu, na ponta dos cascos, mijando contra o vento. Na época, Paulo Ricardo foi muito mais que um vocalista de uma banda de sucesso. O cara era uma força da natureza, um elemental, Apolo e Dionísio amalgamados. Era o cara que todo cara queria ser e o cara para quem toda mulher queria dar.
Em suma, resumindo, condensando e concentrando : A Cruz e a Espada é Paulo Ricardo nos tempos em que ele comia a Luciana Vendramini.
O LP Revoluções por Minuto está no meu pódio dos anos 80, no meu panteão do que se convencionou chamar de rock Brasil.
Em primeiríssimo lugar, está o LP Dois, da Legião Urbana, uma obra-prima. Depois, em segundo lugar, todos juntos e misturados, estão : As Aventuras da Blitz (1982), da Blitz; Maior Abandonado (1984 ), do Barão Vermelho; A Revolta dos Dândis (1987), do Engenheiros do Hawaii; Cabeça Dinossauro (1986), dos Titãs; Batalhão de Estranhos (1984), do Camisa de Vênus; Cantando no Banheiro (1983 ), do Eduardo Dusek; Nós Vamos Invadir a sua Praia (1985); Capital Inicial (1986), do Capital Inicial; Cidades em Torrente (1986), do Biquíni Cavadão; O Rock Errou (1986 ), do Lobão; Nosso Louco Amor (1983), da Gang 90; e alguns outros que, provavelmente, estou a cometer a injustiça da fraca memória.
A Cruz e a Espada é de uma tristeza belíssima; difusa, não obstante, contundente, lancinante. É a inocência e a ingenuidade perdidas - havia um tempo em que eu vivia um sentimento quase infantil, havia o medo e a timidez, todo um lado que você nunca viu -, a inocência e a ingenuidade que tiveram que ser perdidas, postas de lado, no mínimo, camufladas - outra criança adulterada pelos anos que a pintura escondia (nunca entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas acho bonito pra cacete, e o bonito, muitas vezes, não é para ser entendido, não se presta a essa função, só à de ser bonito).
Há, ainda, uma bela versão da música gravada ao vivo com a participação especial de Renato Russo.
A Cruz e a Espada
(Paulo Ricardo/Luiz Schiavon)
Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu nem conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

Agora eu vejo,
Aquele beijo era o fim, ah era o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E nunca mais, nunca mais, ou...

terça-feira, 20 de maio de 2014

ATEA Vira Confessionário De Neoateus, Dos Ateuzinhos De Boutique

Sou ateu desde que nasci, ateu de DNA, e tenho quase 50 anos. Com certeza, nesse tempo todo, muitas pessoas já me olharam torto por conta de minha descrença, já me "discriminaram", já deixaram de ou evitaram ao máximo falar comigo. E daí? Ninguém é obrigado a gostar de mim. E nem eu de todo mundo. 
Se uma pessoa, ou o grosso de uma sociedade, não aceita o fato de alguém ser ateu, o problema é com eles, eles é que têm algo mal resolvido. Não vou deixar - nunca deixei - o problema deles se tornar o meu. E nem vou ficar me lamentando, choramingando pelos cantos por não ser aceito. Ateu de verdade tá cagando um balde para a aceitação dos crentes religiosos.
Hoje, há uma nova geração de ateus - falsos ateus - que vive a reclamar da "discriminação" que sofre. Esses neoateus, esses ateuzinhos de boutique, são muito dos ofendidinhos, dos melindrosos, como toda essa nova geração politicamente correta. Ora, quando você assume uma posição diferente da maioria, é claro que a maioria vai lhe excluir, vai afastar você do convívio dela. Querem ser diferentes, porém, com a aprovação e a admiração dos iguais. Com o beneplácito do bando. Lamento informá-los, isso não vai acontecer. Nunca.
O bando não simpatiza com os que lhe são anômalos. Pudera. Se o bando se permitisse infiltrar e contaminar por quem pensa e age diferente dele, em pouco tempo, é óbvio, sua integridade de grupo estaria comprometida. Ou seja, o bando acabaria. Acabaria o aconchegante reduto dos descerebrados. O bando, instintiva e imediatamente, detecta o diferente e o  bota para fora a pontapés. Preconceito e discriminação? A natureza humana, simplesmente. Agora, se não aguentam o tranco de ser ateu, que virem logo evangélicos, dentro de um templo, ninguém lhes discriminará, todos os chamarão de irmãos.
Digo tudo isso porque o feicebúqui da ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) se transformou num autêntico confessionário para os neoateus chorarem as suas pitangas, um genuíno muro das lamentações.
Uma das jovens que postou seu desabafo no feicebúqui da ATEA conta que tem sido vítima de intolerância religiosa na escola depois que revelou sua condição de ateia, e que sua própria família tenta forçá-la a se reconverter ao cristianismo. "Isso me conforta", disse. É ou não é exatamente a mesma fala de um religioso que acabou de sair de sua igreja? Será que a farsa dos neoateus é clara só para mim?
Outra neoateia, ex-espírita, relata que sua família também quer levá-la de volta ao centro espírita e que, nas redes sociais, muitos a excluíram de suas listas de "amigos". Nossa!!!! Aí, realmente, a coisa é grave, excluíram-na do feicebúqui. Parece que hoje ser excluído de uma rede social é condenação perpétua ao divã de um analista. Ela diz que deixa de se sentir sozinha quando entra na página da ATEA, pois encontra outros iguais a ela. De novo, não é a mesma coisa que as multidões se irmanando em transe alucinatório nas igrejas e templos? 
Uma outra, só para citar mais um exemplo, também diz que frequenta a página para não se sentir só e acha que os ateus precisam ser mais unidos. Como em um rebanho, né?
Ateus se unirem? Encontros nacionais de ateus? Para quê? Para não rezar? Para não louvar a deus, para discutir a inexistência dele? Patético! Reunião de ateus é uma das maiores idiotices de que já ouvi falar, um puta dum contrassenso. Ou, como bem diria nosso estimado ex-presidente Lula, é uma tremenda duma babaquice.
Explico : o crente, por mais burro que ele seja (e ele o é), reúne-se em torno de algo, de uma crença, de um objeto que ele julga existente e palpável. E esses ateuzinhos de boutique? Reúnem-se em torno do nada, do vazio, da descrença. E, acreditem, ter a descrença como elemento agregador é coisa das mais tristes que há. Ser ateu é conviver com o vazio, não é querer dar um sentido a ele, muito menos cultuá-lo como se fosse a um deus, que é o que fazem esses neoateus em seus encontros.
O ateu verdadeiro é um solitário por natureza, ou não é dos legítimos. Ora, o verdadeiro ateu não precisa nem da companhia de deus, por que cargas d'água, então, precisaria da companhia de outros ateus?
Se você se diz ateu, mas tem uma grande ânsia de encontrar e se congregar com outros a quem julga seus iguais, acredite : você não é ateu porra nenhuma. Você é um tremendo dum religioso enrustido. Sai do armário, meu amigo. Procure logo uma igreja, que é o local ideal para as vítimas, para os perseguidos, os coitadinhos de plantão. E deixem de macular o bom nome dos verdadeiros ateus.
Fonte : Paulopes

Volto ou Não Volto? - Arnaldo Jabor

Jabor, irretocável! 
“Volto ou não volto? Fico aqui no meu banheiro pensando, diante de espelhos sem fim. Quantos Lulas refletidos ao infinito! É como se fosse um povo de lulas. Isso! Eu sou o povo. Sou um fenômeno de Fé. Quanto mais me denunciam, mais eu cresço. Eu desmoralizei escândalos, vulgarizei alianças, subverti tudo, inclusive a subversão. Eu tenho o design perfeito para isso. ‘Lula’ é um nome doce, carinhoso, familiar. ‘Lula’ é fácil de entender. Agora, aqui sozinho, Marisa está dormindo, posso me analisar. Volto ou não volto?
“Ai que saudades das mãos da rainha Elizabeth — eu beijei sua mão com um vago perfume de verbena. Ai que saudades dos tempos em que eu posava com outros presidentes, com o Obama me puxando o saco dizendo que eu era o ‘cara’. Como era bom ver intelectuais metidos a besta me olhando com fervor, me achando o símbolo do futuro, como se eu tivesse uma foice e martelo na mão. Comi várias professoras da universidade; eu era um messias para elas, que nunca tinham visto um operário a não ser o encanador de seus banheiros. E os banqueiros e os empresários que tinham medo de mim, mas se ajoelhavam por grana do BNDES, enchendo o partido com dinheiro para campanhas?
“Mas está na hora de decidir. Tenho de ser cruel comigo mesmo. Vamos lá. Ninguém está vendo. Autocrítica: a verdade é que eu nunca me interessei pelo bem do povo. Essa visão de um operário pensando no país é uma imagem romântica de pequenos burgueses. Operário quer é subir na vida. Fui mestre nisso. Eu odiava o calor daqueles tetos de Eternit na fábrica, aquela cachaça morna na hora do almoço.
“Aquele torno que cortou meu mindinho foi minha primeira grande sorte (tem gente que até acha que eu mesmo cortei...). Virei líder sindical. Foi a sorte grande. Sem dedo, descobri a massa. A massa operária se postava diante de mim e eu, com meus olhos em fogo, vi o mar de gente na greve dos metalúrgicos e tive a luz de berrar: ‘Vocês me dão o posto de comandante das negociações com os patrões?’
“Foi um mar de vozes: ‘Sim! Lulaaa!’ Naquele momento, eu vi que chegaria à presidência. Eu vi a facilidade de convencer o povão de fazer o que eu quisesse. Depois, os evangélicos descobriram o mesmo, mas eu fui pioneiro. Aliás, me baseei no Jânio Quadros, com vassoura e caspa artificial. Ele foi o criador da política do espetáculo. Eu era bonitinho, boas sindicalistas eu papei... Era fácil, não precisava nem cantar. Mas, sejamos sérios. Ali, no espelho, me vejo multiplicado e tenho de decidir.
“Que é melhor para mim? Os caras falam: ‘Volta, que o povo quer!’ E eu? Será que me interessa?
“Será que vai ser bom para minha imagem no futuro? Porque hoje minha imagem está joia. Ganho 400 paus por palestra, vou ao exterior e falo qualquer coisa, eles me amam a priori, eu, um herói operário.
“Os franceses e outros babacas, bisbilhoteiros das ‘revoluções’ tropicais, jamais entenderão o que tive de fazer para crescer no poder.
“Jamais entenderão as sujeiras que tolerei para manter as mãos limpas, como me dei bem com os 300 picaretas que denunciei antes e que depois foram minha tropa de choque. Jamais entenderão que eu nunca soube de nada, sabendo de tudo...
“Foi aí que se fez a luz! Eu entendi que se eu quisesse fazer reformas, mudanças radicais, eu perderia meu poder de messias. Eu vi que o verdadeiro Brasil é o PMDB e os corruptos todos. Tudo foi construído assim, por séculos, nesse adultério entre a grana pública e privada. Só a corrupção move o país. Mantive o legado do FHC e chamei-o de herança maldita... FHC não sabia falar com o povão... Ele fez tudo e não é nada, eu não fiz nada e sou tudo. Também nunca entendi por que os tucanos não defenderam o governo dele. Nem ele.
“Quando vi que era a ‘estratégia do medo’, caí matando.
“Me aproveitei do Plano Real e depois disse que eu é que fizera a queda da inflação. E agora a porra está voltando...
“Até o Roberto Jefferson me deu sorte, me ajudou muito denunciando os babacas dos comunistas que me atazanavam desde o inicio. A Marisa dizia: ‘Essa gente não presta...’ E eu não ouvia... Veio o Jefferson (obrigado, Roberto...), expulsa os bolcheviques da minha cola e eu pude inventar a nova ideologia: um grande balé na mídia para manter o povo feliz. Eles pensavam: se ele chegou lá, nós também podemos...Ele é ‘nóis’. Não entendo como o FHC não teve a grandeza nem de um ‘populismozinho’.
“Tudo tão simples; basta falar como eles, falar de futebol, fingir de vítima, injustiçado por ter origem humilde, dividir o mundo em ricos e pobres, mentir estatísticas numa boa, falar do futuro.
“Depois, espelho meu, tive mais sorte. Começou o surto dos emergentes. Como entrou grana aqui! Gastei tudo para consolidar meu poder. Mas chega de saudade; a realidade é: afinal, volto ou não volto?
“O perigo é eu voltar e ter de lidar com a cagada que eles fizeram. Essa Dilma e o Mantega... Porra...
“Já pensou? Ter de acordar cedo, beber meu uísque 30 anos só de noite... E aguentar o Berzoini, o Rui Falcão, falando como se morassem na URSS... E pior é que os comunas vão ficar mais assanhados, mais ‘aloprados’ ainda. Vão querer mais ‘bolivarianismo’. Já me aporrinharam e fu*&ram tudo com o mensalão... Eu bem que avisei: ‘Vão com menos sede ao pote!...’ Só fizeram merda e depois tive de me virar, dizer que não sabia. Só me encheram o saco. Mofem na Papuda.
“Se eu voltar, vou ter de satisfazer essa laia. Vou ter de reprimir a mídia. Disso até gosto, para assegurar minha bela imagem no futuro.
“Será que vale a pena botar em risco minha imagem?
“E tem mais: minha maior descoberta foi que o Brasil não tem conserto. É impossível governar. A política não rola mais. É um parafuso espanado. Se os tucanos ganharem, vão se fu*&er também.
“Minhas imagens: quantos lulas refletidos nos espelhos...
“‘Lula! Que você está fazendo aí, trancado?’ ‘Já vou, Marisa; porra, não posso nem ir ao banheiro?’
“Isso, espelhos meus! Batam palmas para mim! Milhares de ‘eus’ me aplaudindo! Obrigado, meu povo!
“E aí? Volto ou não volto?”

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Azarãotur

Para você que ainda não se decidiu pelo destino de suas próximas férias, aqui vai uma dica que poderá ajudá-lo em muito : um planisfério que literalmente mapeia a distribuição demográfica de peitões e peitinhos ao redor do mundo.
Verde claro - A cup (peitos ridiculamente pequenos)
Azul - B Cup (peitos pequenos)
Amarelo - C Cup (peitos médios)
Laranja - D Cup (peitões)
Vermelho - larger than D Cup (úberes)
Confesso que me surpreendi, sempre pensei que, na média, a americana tivesse as melhores tetas do planeta, mas não; na eterna rivalidade entre capitalismo e comunismo, a velha Rússia levou a melhor dessa vez. 
Agora, se seus recursos financeiros não lhe permitirem uma viagem à Rússia, na América do Sul, as vizinhas Colômbia e Venezuela são as melhores opções. E passe longe da Bolívia e, nem precisava dizer, do Peru.

Jumentrô do Lula

Pela primeira vez, acho que vou concordar com alguma coisa que o ex-presidente Lula disse. 
Durante o 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas (e nem chamaram o Marreta), Lula se declarou de saco cheio com o falatório em torno das estações de metrô que deveriam praticamente desembocar nas entradas dos estádios da Copa.
Palavras do companheiro Lula : "Nós nunca tivemos problemas para andar a pé. Vai descalço, de bicicleta, de jumento, vai de qualquer coisa... Acha que estamos preocupados. 'Ah, turista tem que ter metrô que leve até dentro do estádio. Que babaquice é essa? Temos que dar para essa gente garantia de assistir ao jogo, comer nossa comida, ser bem tratado bem nos nossos hotéis... É isso que temos que ter com orgulho".
Rapaz, claro que ele está tirando o rabo do PT da reta, toda a verba para as tais estações deve ter saído dos cofres públicos e nada de metrô aparecer, mas não é que, do jeito torto dele, ele está corretíssimo? Metrô tem que ter é para o sujeito que acorda cedo e vai ao trabalho ou à escola. E não tem. Pra turista ver jogo de futebol? Porra nenhuma que tem. Não vai ter metrô nem pra inglês ver. Nem pra italiano nem pra espanhol nem pra alemão nem pra sueco... O Lula tá certo. 
Vai de ônibus, de táxi, a pé, ou mesmo, como bem sugeriu Lula, de jumento; sobretudo de jumento, ou seja, autotração. É o Jumentrô! É o Lula inovando na engenharia de transporte e tráfego urbano, o Jumentrô do Lula. E ainda dizem que o cara é ignorante, analfabeto.
Como de praxe, o governo federal investiu muito mal nessas obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo. Há uma opção muito mais barata que ampliar metrô, ruas, avenidas etc. O governo poderia ter importado da China a ideia do riquixá, a ideia e o próprio riquixá. Que é aquela carrocinha puxada por um chinês com capacidade para duas pessoas se acomodarem. 
Era só mandar vir alguns milhares de riquixás da China e pôr o pessoal que vive às custas de cesta básica, bolsa-isso, bolsa-aquilo, bolsa-aquiloutro, em uma missão das mais patrióticas, levar a passeio de riquixá o turista estrangeiro. Que, no fim das contas, é isso o que o brasileiro faz desde os tempos de Cabral, carregar estrangeiro nas costas. E faz com muito gosto, com um sorriso desdentado nos lábios.
Se o riquixá fosse adotado, não seria necessário cavar túnel para metrô nem construir nenhuma obra bilionária nem desapropriar famílias de suas residências para ampliação da malha viária. E ainda o riquixá é muito mais ecológico, não consome recursos naturais não-renováveis, não polui. 
Quer dizer, é mais ou menos ecológico... quer dizer, quase não polui. Se acontece o que aconteceu com o português que entregava leite de carroça, teríamos sérios problemas ambientais, um desastre ecológico sem precedentes mundiais.
Diz que o português entregava, todas as manhãs, o leite de seus fregueses montado numa carrocinha puxada por um jumentinho, companheiro seu de décadas. Um dia, o jumento morreu e o português, sem grana para comprar outro, estava a reclamar do infortúnio para o seu amigo Joaquim. Joaquim sugeriu que Manuel mesmo puxasse a carroça, tomasse o lugar do jumento, uma vez que a carroça era de pequeno porte. Algum tempo depois, os amigos se reecontraram e Joaquim perguntou a Manuel se ele já se habituara a puxar a carroça. Manuel respondeu-lhe : - puxar a carroça é fácil, ó pá, o que eu não consigo é me acostumar a cagar andando.
Deixemos de babaquice, companheiros.

domingo, 18 de maio de 2014

Nebacetin ou Na Bucetinha?

Texto de um de meus alter egos, de uma dimensão vindoura, de dias de um futuro esquecido, Antenor Barbeiro:
Aprendi o ofício de barbeiro aos 11 anos, levado por meu velho pai, um portuguesão bronco de Cascais, à barbearia de um patrício seu, o seo Afonso.
Apesar de ser comerciante de confortáveis posses e ter tido condições de bem manter os três filhos longe da faina, meu pai fez questão de que todos aprendessem um ofício, como se dizia à época. Eu fui ser barbeiro, o do meio, alfaiate, e o caçula, que começou como office boy, acabou concursado pelo Banco do Brasil.
Que dizia meu finado e já decomposto pai - que ouviu do pai dele, que ouviu do pai do pai dele, que ouviu do pai do pai do pai dele, que deve ter ouvido do primeiro macaco de nossa árvore genealógica - que cabeça vazia era oficina do diabo.
Eu não tive filhos para transmitir-lhes o atávico conhecimento, mas acho que é isso mesmo. Hoje, vejo essa meninada à toa por aí - diz que tem até uma lei que proíbe menino de trabalhar -, vagabundeando pelas ruas, pelas praças, pelos shoppings, sem nenhuma obrigação a cumprir, com uma vida que é só facilidades, confortos e liberdades. E como eles aproveitam esse vidão que lhes caiu dos céus? Vão fumar maconha! Ou dar o rabicó!
Não sou homem de muitas letras, a muito custo terminei o antigo grupo, mas tenho certeza de que muito da droga e da perobagem que aí estão têm a ver com a vida mansa dessa garotada. A vida na flauta deixa o gajo frouxo das vontades - e aí a droga entra -, e frouxo das pregas - e aí todo mundo sabe o que entra, pois não?
O que estou a dizer é que de petiz me fiz homem em ambiente de trabalho árduo e cansativo, exclusivamente masculino, chucro, de assuntos e conversas de baixo calão. E barulhento. Muito barulhento. Sobretudo barulhento.
Há dias em que encerro o expediente com os ouvidos exaustos, extenuados - muito mais fatigados que minhas varicosas pernas, que meus braços e que minhas mãos, já há décadas tortas e deformadas pelo empunhar da tesoura, pente e navalha. E só. Que aqui não tem isso de secador de cabelo, não. Aquele vento quente na nuca e atrás da orelha não é coisa de barbeiro, é de cabelereiro.
O ouvido é que mais sofre. Ninguém percebe isso, mas o ouvido é que não tem descanso em nenhum momento. As pernas, a gente se senta, estica-as um pouco, feito um lutador de boxe cansado, e volta para o round seguinte. Os olhos, secos, vermelhos, ardidos, a gente fecha um tantinho e o escuro lhes serve de hidrantante e analgésico; até o nariz, saturado dos cheiros do talco Ross, da espuma de barba Bozzano e da aqua velva Williams, a gente pode tapar e conceder-lhe breve descanso de sua labuta.
Os ouvidos, não. Por mais que se tente isolá-los das conversas altas da freguesia, um fiapo de som, de barulho, sempre consegue lhes invadir. O ouvido nunca para de ouvir. O ouvido não tem  aqueles 15 minutos de descanso para ir ao banheiro, tomar um café, pitar um Minister ou um Vila Rica.
De vingança, feito funcionário que deseja ser demitido, o ouvido começa a mal trabalhar, começa a sabotar seu trabalho. E nem digo de ficar surdo. Só de pirraça, o ouvido começa a embaralhar as palavras à nossa volta, mistura-as no meio do caminho para o cérebro.
Pega uma palavra que um fala aqui, uma que outro fala ali, outra que outro diz acolá, vai quebrando e misturando as sílabas, distorcendo tudo, formando palavras que nunca foram ditas - e tudo de sacanagem, tudo de putaria.
Dia desses, tive que ir ao centro velho da cidade. Aquilo é um horror, uma bagunça só, uma sujeira de dar desgosto, um povo feio e mal-educado, e barulho pra tudo quanto é lado : carros, músicas saídas dos alto-falantes das lojas, os berros dos vendedores ambulantes etc etc. 
De repente, ouvi :  - duas chupetinhas por 10 "real", duas chupetinhas por 10 "real". Olhei e vi que o anúncio provinha de uma moça, uma jovem na faixa dos vinte e poucos anos, com um traje colorido berrante, havia um logotipo à esquerda e à altura do peito de sua blusa, que o véio, sem óculos que estava, não consegui ler. Andei mais uns quarteirões e de novo : - duas chupetinhas por 10 "real", duas chupetinhas por 10 "real". Outra moça, de mesmo biótipo que a primeira, de mesmo  uniforme. Mais algumas esquinas e outra vez : - duas chupetinhas por 10 "real", duas chupetinhas por 10 "real". Aí, o véio não resistiu. Cheguei mais perto para conferir a generosa oferta. Não era nada daquilo. Era o ouvido pregando peças no véio. As moças eram promotoras da operadora de celulares Tim, e o que elas diziam era : dois chips da Tim por 10 "real", dois chips da Tim por 10 "real" Uma pena. O véio achou que ia se dar bem naquele dia.
Pior foi na semana passada. Apareceram uma coceiras, umas inflamações no pau do véio, e lá fui eu ao médico. Dermatite de contato, o doutor diagnosticou. O pau fica lá à toa o dia todo, num lugar quente, úmido, esfregando a cabeça na cueca, vai ferindo e dá essas infecções. "Mas o tratamento é muito simples, seo Antenor", disse o médico, "é só passar na bucetinha, de oito em oito horas, durante uma semana".
Passar na bucetinha? E onde o véio ia arrumar uma bucetinha para passar o pau a cada oito horas? Além disso, desde quando passar o pau numa bucetinha cura alguma coisa? Antes pelo contrário. O véio, quando não era véio, já pegou muita moléstia de bucetinhas, muita gonorreia, que era doença à toa, curava fácil com penicilina.
Olhei espantado para o médico e perguntei : passar o pau onde, doutor? "Não é onde, seo Antenor, é o quê", respondeu. Tirou tubinho de amostra grátis da gaveta e me esclareceu : "o senhor vai passar essa pomada aqui, Nebacetin. Nebacetin de oito em oito horas." 
Nada de na bucetinha. De novo o ouvido me sacaneando. De novo eu perdendo a chance de me dar bem. Homessa! 
Comecei a ficar ressabiado. Seria o tal do Alzheimer, que na minha época era chamado de caduquice? Estava pensando seriamente em consultar um médico da cabeça, fazer um eletro da cachola. Foi quando contei esses causos para o dr. Edson, freguês antigo, doutor dentista. O dr. Edson é formado pela USP, em uma das primeiras turmas, e é um craque em palavras cruzadas, vive com um caderninho delas nas mãos. E ninguém sabe mais das coisas que doutor formado na USP e que um aficcionado em cruzadas.
Primeiro, o dr. Edson riu a se valer das minhas histórias; depois, disse que eu não tava gagá coisa nenhuma, não ainda, não por isso. Falou que isso era cacofonia. Acontece quando a junção de duas sílabas, uma no final da palavra e outra no início de outra, se encontram, se encavalam e resultam um "som desagradável", acabam formando outra palavra, às vezes de baixo calão. E deu-me alguns outros exemplos : a boca dela, desculpa então, uma mão, o albúm dela etc.
- Êêê, seo Antenor - disse o dr. Edson -, quer dizer, então, que o senhor achou que fosse se dar bem, né? Duas chupetinhas por 10 reais. E que fosse chegar na farmácia com receita médica para uma bucetinha três vezes ao dia?
- Pois é, doutor, mas a culpa não é minha, não é? É da tal cacofonia.
- Isso não é cacofonia, não, seo Antenor, é taradice, mesmo. É excesso de testosterona guardada no saco.
- Quem me dera, dr. Edson, quem me dera. Há muito se foi o tempo em que eu mijava contra o vento. Hoje, eu só acerto o dedão do pé.

sábado, 17 de maio de 2014

Nescachaça

Depois - muuuiiiito depois; aliás, já não era a hora - dos úteis e práticos leite e café, desponta no mercado um novo produto no setor dos liofilizados, dos solúveis, a birita em pó.
É a Nescachaça!
Acaba de ser aprovado, pelo Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau, dos EUA, o Palcohol, a birita em pó. Segundo o fabricante, o álcool em pó é encapsulado molecularmente, e produz um drinque alcoólico quando misturado com água. Entre as opções, o Palcohol tem vodca, rum e mais duas outras bebidas alcoólicas, além de quatro coquetéis: Cosmopolitan, Mojito, Powderita e Lemon Drop.
Para a sua efetiva comercialização só faltam ajustes de caráter técnico-burocrático, parece que o teor alcoólico expresso no rótulo - 58% em pó e 12% depois de diluído a 100 ml - não condiz com o real. Frescura, pura frescura. Alguém acha que bêbado se importa com uns porcentinhos a mais ou a menos?
Mas parece que o produto não é novidade, na Alemanha já existe um produto similar, o Subyou, e na Holanda, o Booz2go
No entanto, não há previsão para a chegada do produto ao Brasil, nem mesmo manifestações de interesse por parte da empresa estadunidense de por aqui comercializá-lo. E nem precisa. Quero que os estadunidenses dissolvam seu Palcohol, congelem-no e enfiem em vossos estrelados e respectivos cus. Que, pra tomar cachaça, o brasileiro não precisa da ajuda de ninguém, não precisa importar tecnologia.
Corre pela internet uma receita de como fazer o seu próprio mé em pó. Receita que, nunca me esquecendo do caráter de utilidade pública do Marreta, ajudarei a divulgar agora. 
O segredo é você usar um produto na forma de pó que absorva o álcool e continue a ser um pó. E isso existe? Sim, e é de fácil obtenção. É a maltodextrina, uma forma hidrolisada do amido; em suma, um carboidrato composto por moléculas de glicose, encontrado em farmácias ou lojas de suplementos alimentares.
De posse da maltodextrina e, lógico, da cachaça que quer tornar em pó, um bom rum, por exemplo, é só ir adicionando lentamente a bebida ao pó branco, pode-se usar um liquidificador para a mistura ficar mais homogênea. Quando a mistura começar a formar grumos, pelotas, o que significa que o pó já está saturado, adicione mais um pouco do pó para eliminar os grumos e seu mé em pó está pronto. A receita que corre pela net sugere 50 ml de bebida destilada para 150 g do pó. Depois é só acondicionar a birita em pó em envelopes ou saquinhos plásticos e carregá-la, segura e discretamente, para onde julgar que ela lhe será de grande urgência.
É o soro caseiro do bebum!!! O bebum começou a ficar desidratado, é fácil. Esteja onde estiver, sem que ninguém suspeite de que ele vai dar uma boa duma talagada, ele abre seu envelopinho de soro caseiro, dissolve e emborca. Pronto, tá reidratado, tá calibrado.
O autor da receita só não recomenda fazer a birita em pó com a cerveja ou outras bebidas mais diluídas. Seria preciso uma quantidade muito grande de maltodextrina e o teor alcoólico final seria muito baixo. Também o cara querer fazer cerveja em pó, é de cagar. Cerveja é praticamente água. Fica parecendo aquela velha piada do cientista português que inventou a água em pó, a solução para o problema das regiões assoladas pela seca. Bastaria colocar o produto português em um copo e, obviamente, adicionar uns tantos mililitros de água. Sem graça pra cacete!
Há um enorme leque de usos cotidianos para a birita em pó. 
Aniversário de crente. Quem é que nunca caiu numa arapuca desta, aniversário de crente? É festa de camelo, ninguém bebe. Numa dessa, o bebum não se aperta, tira sua dose de rum em pó (acredito que aqueles saquinhos plásticos para xup xup sejam bem adequados para o acondicionamento), mistura com coca-cola e tem uma bela e redentora cuba libre. Aliás, coca-cola, não. Baré cola, que crente compra é baré cola. Umas três ou quatro cubas e o bebum canta até o "derrama, senhor, derrama, senhor, derrama sobre ele o seu amor", na hora do parabéns a você.
Cafezinho na casa da sogra. Numa grande xícara de café, jogue a sua dose de whisky em pó e terá um reconfortante café irlandês. Se a sogra estranhar e quiser especular, saber o que é, sogra sempre especula, basta dizer que é um adoçante especial, receitado pelo seu médico.
No trabalho. De uns tempos para cá, virou moda, por incrível que pareça, uma moda boa, as pessoas carregarem garrafas com água em seus locais de trabalho, os chamados squezzes. É só você dissolver o pó de sua preferência e ir consumindo ao longo de sua faina diária. O serviço sai até melhor, ou, pelo menos, mais divertido.
Pode ser consumido também in natura. Lembram do Dip n' Lik, o pirulito em pó anunciado pelo Bozo? Era um saquinho com açúcar colorido e aromatizado que vinha com uma haste de plástico junto. A criança lambia a haste plástica, enfiava no açúcar e lambia de novo, enfiava e lambia. O produto virou "maldito" depois de boatos que diziam que ele continha um pouco de cocaína, como forma de viciar as crianças. Pois então, o bebum pode colocar o mé em pó num saquinho de Dip n' Lik e ir se embriagando de forma lúdica, recordando-se da doce e perdida infância.
Pois fica aqui a dica do Azarão. Devem existir inúmeras outras aplicações da birita em pó, é só usar a imaginação, que, aliás, funciona bem melhor depois de umas doses. Se pensar em  alguma outra, conte para mim.
Fonte : HypeScience

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Bukowski

notificação

cidadãos do mundo
eu renuncio a vocês.

eu renunciei
há muito tempo.
mas isto é uma notificação
formal
eu contra
vocês
uma ordem de
restrição.

fodam-se
ressequem
desapareçam.

não venham até
minha porta
com pizza
bucetas
ou ofertas de
paz.

é tarde demais.

a música
congelou no
ar
castrada pela
ausência de sua
presença.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Por Este Preço, Eu Só Dou Aula

O estado de São Paulo, o mais rico da 7ª nação mais rica do mundo, responsável por 1/3 da arrecadação nacional, paga aos seus professores ingressantes, aprovados em concurso de provas e títulos etc, a nababesca quantia de R$ 10,52 por hora/aula. Considerando que o professor ingressa com uma jornada inicial de 20 aulas semanais e que o salário mensal é calculado em cima de 4,5 semanas, o noviço no magistério terá um rendimento bruto de R$ 946,80. Bruto. No ano seguinte, o professor pode ampliar sua carga horária até um máximo de 40 aulas semanais, passando a receber a faraônica monta de R$ 1894,12 mensais. Aí é que o cara não sabe mesmo o que fazer com tanto dinheiro.
Os dados são do próprio site da Educação do Estado de São Paulo :
"Os docentes da rede estadual de ensino paulista recebem atualmente um salário-base 59,5% superior ao piso nacional atual. Um professor de educação básica que leciona no ciclo II do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, com jornada de 40 horas semanais, tem hoje um salário-base de R$ 1.894,12, ou seja, 59,5% maior do que os R$ 1.187,97 definidos atualmente na Lei do Piso para todas as Unidades da Federação."
Perceberam que o estado ainda se jacta de pagar tão mal para os seus professores?
Não tenham dúvidas : não há menor valor por hora trabalhada que o pago a um professor público.  Pensem no quanto vale a hora da pessoa que corta o seu cabelo, a do último chaveiro, encanador ou eletricista de quem vocês tenham feito uso, a da diarista que limpa seus apartamentos em três ou quatro horas, e terão a real dimensão do que digo. Aliás, lápis, caderno e borracha são mais caros que o professor; o professor é o material escolar mais barato que existe. Só chinês trabalhando na fábrica da Nike ganha menos, se é quê.
E aí, a cada concurso realizado, a cada ingresso de nova safra docente, não demora e já começa a conversa costumeira, não demora e o governo tira o seu rabo da reta e coloca no do - adivinhem?- professor. Começa a noticiar que o professor é malformado, é incapaz; na verdade, ele usa o termo não capacitado, mas quer dizer a mesma merda.
Primeiro, se ele é malformado, é porque, em grande parte, graduou-se numa dessas faculdades de beira de estrada, numa dessas arapucas de curso superior, que funcionam com a aprovação do MEC. Aliás, bons tempos os das faculdades de beira de estrada, hoje, são virtuais, nem existem. Que tal o governo federal ser mais rigoroso na autorização da abertura de cursos superiores, sobretudo os tais à distância? Mas aí como é que ficam as pagas de favores, o toma lá, dá cá entre políticos e grandes empresários da educação? Como é que fica o leitinho das crianças?
Segundo, se o professor, aos olhos do Estado, é um incapaz, como é que ele foi aprovado num concurso realizado pelo próprio Estado? Qual é a do Estado? Primeiro me dá o emprego e depois me chama de inútil? Que tal, então, concursos mais severos, mais específicos, mais direcionados em cobrar o conhecimento que o Estado julga tornar alguém capaz? Que tal contratar professor para ser professor, e não babá de uma geração de filhos cuja educação os pais terceirizaram para o Estado?
Acontece que por novecentos reais por mês não dá pra selecionar muito, né? Não dá para dar uma peneirada minimamente decente. Profissionais bem e malformados existem em todas as áreas, mas quem vocês acham que um salário de menos de mil reais atrai? A nata da categoria? A elite?
Vai ser professor, hoje, o cara que ou é muito idealista (e são cada vez em menor número, pudera) ou o cara que não conseguiria ganhar os mesmos quase mil reais varrendo rua, ou catando latinhas para reciclagem, ou sendo flanelinha, ou fazendo malabarismos no sinal.
E a coisa já chegou a um ponto - e ainda piorará muito - em que ter o professor malformado em sala de aula nem é o pior; o pior é que, em certas disciplinas, não existe nem o malformado. Ou alguém acha que o sujeito que vai ser professor porque tem preguiça de ser flanelinha se formará em quê, em Química, Física? O cara vai é fazer pedagogia! Ou outra formação em Humanas, que, embora uma área de indiscutível relevância, como Letras, História, Geografia, teve, nos últimos tempos, sua importância canalhamente reduzida a cursos de dois ou três anos, e tudo à distância, um prato cheio para o vagabundo.
Há uma falta absurda de professores de química, física e ciências, mesmo dos malformados.
Então, o governo, como sempre não disposto a resolver efetivamente o problema, surge com mais uma de suas gambiarras ; inventou as disciplinas correlatas e afins.
O cara tem licenciatura plena em Matemática, curso que conta com x horas de Física em seu programa. Pronto, problema resolvido : automaticamente, o cara vira professor de física na falta de um licenciado específico. O sujeito tem habilitação plena em Biologia, curso que conta com x horas de Física, de Química e de Matemática em seu programa. Pronto, de novo : resolvida está a falta de licenciados específicos em tais disciplinas.
O governo anda a pegar professores a laço, está tentando aproveitar ao máximo o que tem nas mãos, usar, de todas as maneiras possíveis e inventáveis, os loucos que ainda se dispõem a ser professores. Faz o que faz e reclama de uma suposta falta de capacitação docente?
Diálogo durante uma atribuição de aulas, hipotético, mas perfeitamente plausível :

Diretor da escola : - O senhor tem licenciatura plena em Biologia, certo?"
Professor :  - Isso.
Diretor da escola :  - Também dá Física?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá matemática?
Professor : - Dou.
Diretor da escola :  - Dá ciências?
Professor : - Dou.
Diretor da escola : - Dá química?
Professor :  - Dou.
Diretor da escola :  - Dá a bunda?
Professor : Daria... mas não por esse preço.

Por esse preço, meus amigos, eu só dou aula. Por esse preço, não pinto uma parede, não troco uma tomada, não faço uma faxina.