Um cabaré - os originais, os clássicos - é uma Disneylândia para maiores, um Beto Carrero World para marmanjos e barbados. É um ambiente por cujos palcos transitam apresentações das mais variadas artes cênicas : teatro, dança, drama, música, espetáculos de humor e de ilusionismo etc. E, claro, a justificar toda essa produção artística, todo esse mecenato, muita mulher gostosa. A famosa buceta. Strip-teases às mancheias. Um show de peitos! Como bem resumiu e definiu o genial Juca Chaves, "cabaré é o lugar onde vão se encontrar os meninos maus das famílias boas com as meninas boas das famílias más". O cabaré povoa o imaginário e o cancioneiro popular macho das antigas.
"a luz do cabaré já se apagou em mim, o tango na vitrola também chegou ao fim..."(Um Tango para Teresa; Evaldo Gouveia e Jair Amorim);
"Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher. Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré..." (Mal Necessário; Mauro Kwitko e Ney Matogrosso);
"Todo o cabaré se inflama, quando ela passa. E com a mesma esperança todos lhe põem o olhar" (Quem há de Dizer; Lupicinio Rodrigues);
"What good is sitting alone In your room? Come hear the music play. Life is a Cabaret, old chum, come to the Cabaret." (Cabaret; Liza Minelli);
"E por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher, me ninava cantando cantigas de cabaré." (Minha História; Chico Buarque);
"Cantei, cantei, nem sei como eu cantava assim, só sei que todo o cabaré me aplaudiu de pé quando cheguei ao fim..." (Bastidores; Chico Buarque);
"Sou uma cantora de tango, de rumba e de mambo, o que você quiser. Fui a principal donzela, a vedete dos cabarés." (Cantora de Cabaré; Edvaldo Santana)
"Uma cuba libre treme na mão fria, ao strip-tease da agonia de cada um que deixa o cabaré." (Cabaré; João Bosco e Aldir Blanc);
"Se me der a direção, eu assumo o cabaré. Vou reformar o salão, vai ter oferta de mulher. Vai ter quenga do Japão, do Sudão e de Guiné. E aqui da região as primas lá do café." (Cabaré Globalizado; Falcão)
E, agora, cabaré também é uma marca de cerveja. E das piores. Valha-me Santo Odair José!!!
A cerveja Cabaré é mais uma dessas arapucas da linha Puro Mijo da cervejaria Petrópolis.
Há tempos que vejo dela numa loja de conveniência em que me abasteço e fiquei com curiosidade/vontade de prová-la desde que a vi. Porém, eu não pago nem a pau 5 reais numa latinha de cerveja de 350 ml, o preço praticado pela loja.
Então, no fim de semana passada, fomos para a casa da sogra (e do sogro, também), na cidade mineira de Passos. E bem na esquina, num depósito de bebidas/bar/lanchonete, estava lá o anúncio num banner, que cartaz agora virou banner (fico puto com essas coisas, quase viro o Hulk de tanta raiva) : cerveja Cabaré, 4 por 10 reais. Aí, tive que comprar. Comprei-as.
Com muito esforço, só mesmo para não jogar 10 dez reais ralo da pia abaixo, só mesmo para não ser derrotado por uma cerveja, consegui tomar duas das latinhas. A terceira, dei para a minha esposa (na alegria e na tristeza, ora porra) e a quarta, ofertei para a minha sogra. Inclusive, fica aqui a dica : um fardo de Cabaré quente é um bom presente para se dar para a sogra.
Ruim pra caralho, a Cabaré! E olha que eu não tenho nada contra a Glacial, a Lokal, a Belco etc.
Para tentar dar legitimidade ao produto, o fabricante contratou o cantor Leonardo, notório entornador de cerveja, para ser o garoto-propaganda da marca. É como diz o ditado : cada cerveja tem o Zeca Pagodinho que bem merece.
Mas não tem jeito. A Cabaré é ruim, muito ruim. Horrível. Nem o Leonardo é capaz de salvar. Aliás, muito menos o Leonardo é capaz de salvar a Cabaré. Intragável.
Enfim... a Cabaré é mesmo igual às músicas do Leonardo : tem quem engula.
Cerveja Cabaré e Leonardo. Fuja. Dos dois.