sábado, 29 de setembro de 2012

Selinho No Capeta

Hebe, na mitologia grega, era a deusa da juventude, uma das poucas filhas legítimas de Hera e Zeus, que tinha mais filhos bastardos que jogador de futebol e pagodeiros, somados.
Hebe Camargo, a seu modo, bem encarnou o espírito da Hebe grega. Às custas, claro, de muita cirurgia plástica, terapias ortomoleculares, reposição hormonal e outras tecnologias anti-idade, o que não tem importância nenhuma, cada época tem seus deuses, seus milagres e assombros.
Nunca gostei do programa da Hebe, nunca mesmo, mas reconheço sua importânica para a TV brasileira. Foi apresentadora, atriz, humorista e, quando queria se vingar do público, também se saía de cantora. 
Reza a mitologia da TV que Hebe ajudou o grupo que foi ao porto da cidade de Santos pegar os equipamentos para dar início a primeira rede de televisão brasileira, a Rede Tupi, em 1950.
Porém, eras se encerram, deusas morrem, mesmo as da juventude. Na madrugada de hoje, Hebe se foi.
Foi dar selinho no capeta! 
E já foi recepcionada por Dercy Gonçalves : "Demorou pra caralho, hein, sua filha da puta ?!?!"

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cavalos De Pau

Ele ruiu,
Claro que ruiu.
Em seu lugar,
Não há quem não ruísse
(declarou guerra aos amigos, fundou destilarias com os desafetos);

Ele se anulou,
Claro que se anulou.
Em sua pele,
Não há quem não se extinguisse
(desmatou árvores genealógicas, fundou dinastias bastardas).

Ela tinha o bambolear das galáxias
Que colidem e se comem,
O cheiro dos impérios em ereção.
Mas pior ainda era o rosto,
Ah, o rosto...
Ela tinha o rosto 
Que faz qualquer um construir cavalos ocos de madeira.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Hitler, Um Homem De Deus (E Católico)

Extraído do excelente site Paulopes
"Há quem diga que Hitler era ateu, argumentando que só um descrente poderia ter feito o que ele fez.
Acusação gratuita, de quem só quer provocar?
Talvez nem tanto, porque em 2010, ao visitar a Grã-Bretanha (país que está na vanguarda da secularização), o próprio papa Bento 16 associou o “extremismo ateu” à “tirania nazista que pretendia erradicar Deus da sociedade”. A Associação Britânica Humanista respondeu que atrelar ateísmo ao nazismo é “uma terrível difamação”. O cientista Richard Dawkins afirmou algo no mesmo sentido, ressaltando que Hilter, para todos os efeitos, era católico, porque nunca renunciou ao batismo, além de se referir a Deus em várias passagens em seu livro Mein Kampf.
De fato, no famoso livro de Hitler há várias referências ao divino. Seguem oito delas, na expectativa (talvez em vão) de que, nesse caso, a verdade histórica seja um pouco mais respeitada.
1. Conduta de acordo com o Criador
"Acredito hoje que minha conduta está de acordo com a vontade do Criador Todo Poderoso." (vol. 1, capítulo 2)
2. Agradecimento de joelhos
"Até hoje não tenho vergonha de dizer que, dominado pelo entusiasmo de tempestade e com um coração transbordante, caí de joelhos e agradeci aos céus pela concessão e boa fortuna de viver neste momento." (vol. 1, capítulo 5)
3. Testemunha no Tribunal Divino
"Eu tinha tantas vezes cantado Deutschland über alles (“Alemanha acima de tudo”, em tradução literal) e gritado "Heil” com a total força dos meus pulmões, que me pareceu um ato tardio de agradecimento por me ser permitido servir como testemunha no Tribunal Divino do Juiz Eterno e proclamar a sinceridade dessa convicção." (vol. 1, capítulo 5)
4. Graça do Senhor sorriu
"Mais uma vez as canções da pátria rugiram para os céus ao longo das colunas de marcha sem fim, e, pela última vez, a graça do Senhor sorriu para os seus filhos ingratos. (vol. 1, capítulo 7, em uma reflexão sobre a I Guerra Mundial)
5. Missão do Criador
"Temos de lutar pela existência e o proliferação de nossa raça, das pessoas, pela subsistência de seus filhos e manutenção de nossas ações contra a mistura racial, pela liberdade e independência da pátria, para que nosso povo possa ser estimulado a cumprir a missão que lhe foi atribuída pelo Criador." (vol. 1, capítulo 8)
6. Pecado contra a vontade de Deus
"Em suma, os resultados da miscigenação são sempre os seguintes: (a) O nível da raça superior torna-se reduzida, (b) conjuntos de degeneração física e mental [...]. O ato de tal desenvolvimento é um pecado contra a vontade do Criador Eterno. E, como um pecado, esse ato será vingado." (vol. 1 Capítulo 11)
7. Sacrilégio contra Deus
"Quem se atreve a colocar as mãos sobre a maior imagem do Senhor comete um sacrilégio contra o benevolente Criador e contribui para [sua] a expulsão do paraíso." (vol. 2, capítulo 1)
8. Ouro e Deus
"[...] ouro se tornou hoje o governante exclusivo da vida, mas o tempo virá quando o homem voltará a se curvar diante de Deus." (vol. 2, capítulo 2)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Malásia Lança Cartilha Para Identificar Boiola

No Brasil, os pais com filhos na faixa etária dos 7 aos 10 anos, matriculados em escola pública, vivem a ameaça constante da liberação do famigerado kit gay. Um material "didático" elaborado por técnicos e pedagogos do MEC, a mando do governo do PT, incluindo vídeos, que ensina passo a passo a criança a virar uma bichona. 
O kit gay ameaça cair sobre as cabeças de nossos infantes desde 2010, fato que só não se sucedeu (ainda) devido à ação sempre vigilante e contundente do intrépido Jair Bolsonaro.
Do outro lado do mundo, o governo da Malásia lança o que poderíamos chamar de o kit antigay. O vice-ministro da Educação, Mohd Puad Zarkashi, elaborou uma cartilha com dicas para a identificação de sintomas de viadagem  ainda na infância, quando o viadinho ainda é novo. A cartilha foi distribuída a 1,5 mil professores malaios, participantes de um congresso para treinamento no uso do material.
Entre os sintomas citados, não há grandes descobertas nem inovações, ei-los:
- ser frequentador contumaz de academias, ter o corpo musculoso e gostar de exibi-lo, de preferência besuntado em óleo;
- usar camisas com golas "V" e sem mangas (rapaz, eu sempre desconfiei das tais golas "V");
- gostar de usar roupas justas e de cores claras, principalmente salmão, pêssego e flamingo (o cara saber que salmão, pêssego e flamingo são cores, já é prova cabal de sua boiolagem);
- gostar de usar bolsas grandes, de desenho mais feminino;
- finalmente, sentir atração por homens.
Pããããta que o pariu! Ter tesão em macho é um sintoma, um indicativo de homossexualidade?
Olha, pai, diz o governo malaio, se um dia você chegar em casa e seu filho estiver com a piroca do coleguinha engatada, isso pode ser um sintoma de homossexualidade. Pode ser?
A cartilha, segundo o governo malaio, se destina a conter o “problema” da homossexualidade; no país, ter relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo, ou mesmo fazer sexo oral, é crime previsto por lei e pode acarretar em até 20 anos de prisão, onde o cara será enrabado diariamente em sua cela.
Kit gay no Brasil e cartilha antigay na Malásia : duas posturas extremas, preconceituosas e tendenciosas, cada uma a seu modo. Duas posturas, principalmente, invasivas na vida pessoal de seus cidadãos, intromissão a que nenhum Estado deveria ter o direito, seja de que regime for, ou que religião professar.
Mas...se tivesse que escolher - e dia menos dia sempre temos que escolher entre dois extremos, o caminho do meio não existe -, optaria por aquela que preserva as minhas pregas, sobretudo as pregas do meu filho.

sábado, 22 de setembro de 2012

Setembrochove

70 dias de uma estiagem quase bíblica, quase uma praga daquelas que só o bondoso Deus sabe enviar para presentear os idiotas que lhe prestam adoração. 
Junte-se, à secura dos céus, uma região extirpada de toda sua mata nativa e um povo chucro que prefere viver devendo as cuecas, morando de favor ou aluguel, vendendo o almoço pra comprar a janta, mas a ostentar seus carrões do ano, e temos Ribeirão Preto : uma franquia do inferno, uma sala VIP do Saara, um McDonald's do Atacama.
Porém, mesmo em meio a uma atmosfera com sinusite, renite e ranhosa, eu me mantive relativamente tranquilo, mesmo em meio a esse cenário de um 2012 dos Maias, eu - quem poderia supor? - mantive a esperança de dias mais úmidos e respiráveis.
Não uma esperança infundada, não uma esperança de cunho religioso, não uma esperança que é o último recurso de quem, simplesmente, nada pode fazer a não ser esperar, esperançar. Nada disso. Minha esperança era muito bem fundamentada, alicerçada em um dos princípios mais irrevogáveis do universo : o mês de Setembro.
Sendo setembro, a chuva viria! Querendo ela, ou não. Querendo os deuses pluviais, ou não. E ela veio. A princípio, timidamente, mais um salpicar que um chover, mas ontem ela caiu plena.
Setembro está acima de todos os quereres cósmicos e cosmogônicos.
Vidas vão e vêm, governos se sucedem, impérios se erigem e derrocam, espécies surgem e são extintas, eras geológicas bailam em círculos, o planeta ora é gelo ora é fogo.
Só há uma única lei universal e irrevogável. Desde a maior bolha Lyman-alpha até o menor neutrino, todos estamos sujeitos a ela.
Só há uma diretriz invariável em todo o universo, até deus, caso existisse, a ela teria de se curvar, dela ninguém escapa : Setembro chove.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Que Fossa, Hein, Meu Chapa, Que Fossa...(11)

Um clássico da cornagem!!!

Boate Azul
(Joaquim e Manoel)
Doente de amor
Procurei remédio na vida noturna.
Como a flor da noite
Em uma boate aqui na zona sul.
A dor do amor é com outro amor
Que a gente cura.
Vim curar a dor deste mal de amor
Na boate azul.


E quando a noite vai se agonizando
No clarão da aurora.
Os integrantes da vida noturna
Se foram dormir.
E a dama da noite
Que estava comigo
Também foi embora.
Fecharam-se as portas
Sozinho de novo
Tive que sair.


Sair de que jeito,
Se nem sei o rumo para onde vou.
Muito vagamente me lembro que estou,
Em uma boate aqui na zona sul
Eu bebi demais
E não consigo me lembrar sequer.
Qual é o nome daquela mulher,
A flor da noite da boate azul.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pequeno Conto Noturno (29)

- Rubens! - chama Bruna com sua voz inconfundível - nem baixo nem soprano.
Rubens tem poucos amigos. Calil, que geralmente está preso por não pagar pensão alimentícia, ou fugindo para não ser, e Bruna, que aparece mais frequentemente, para tomar café ao fim de sua lida na noite, de seu expediente, lá pelas 5 ou 6 da manhã, nunca às duas horas como agora.
- Rubens! - Bruna, de novo.
Rubens abre a porta de entrada do prédio pelo interfone e vai à geladeira se munir de mais cerveja, Bruna bebe bem. Mal chega à sala e ouve a batida de Bruna à porta, batida firme, porém não grosseira - nem Mike Tyson nem Cinderela.
- Noite ruim? - Rubens abrindo a porta.
- Uma merda. A noite tá uma merda, eu tô uma merda, a clientela tá uma merda.
- Achei que você fosse querer uma - Rubens estendendo uma lata de cerveja para Bruna.
- Uma? Eu trouxe um fardo, Rubens, meu bem, mas nesta noite desgraçada nem cerveja gelada eu achei.
- Eu ponho no congelador e você vai bebendo da minha.
- E aí é que eu sempre me fodo, né? Você só compra da mais barata, a minha é decente.
Era verdade, Bruna havia trazido cerveja de boa procedência, porém sem ser afrescalhada - nem Antarctica nem Stella Artois.
- Sabe aquelas noites em que nada funciona? - Bruna já quase terminando a primeira lata e recebendo a segunda da mão do previdente Rubens - Pus um sapato que me aperta o pé, uma calcinha que parece arame farpado no meu rego, a maquiagem ficou parecendo o Bozo, e nem me barbear direito, eu me barbeei.
- Sim, sei como é. Tirando a parte do sapato, da calcinha e da maquiagem.
- Aí, quando um filho da puta quis pechinchar, eu desisti de trabalhar por hoje, declarei a noite uma merda total e vim pra cá.
- E, por acaso, o velho Rubens aqui tem cara de latrina?
- Você, até que não, mas seu apartamento... aqui não tem vaso de flor, não tem móveis, não tem quadros...
- Preciso de pouco, e também ganho pouco.
- Ajustou suas necessidades ao seu salário de fome?
- Não. Sempre precisei de pouco, minha profissão mal remunerada é compatível com isso, além disso, também trabalho pouco.
- E se precisasse de mais, do normal, mudaria de profissão?
- Não, não sei fazer porra nenhuma, se precisasse do "normal", viveria endividado, como a maioria.
- Como nada? Você faz o que faz, não? Leciona e coisa tal.
- É que minha profissão é uma das poucas, se não a única, que permite que incapazes a exerçam, de certa forma, sou mais puto que você.
- Não vem com essa, não. Eu sou muito da competente no que faço, muito da gostosa, e sou muito bem remunerada, Rubens, meu bem. E pega outra lata, que essa não deu nem pro cheiro.
Rubens volta com duas latas.
- Verdade, você é bem melhor paga do que eu, tanto que eu não poderia pagar para ir para cama com você.
- Ir para cama? Trepar, Rubens, trepar. Aliás, se você não fosse tão ortodoxo, tão caretão, hoje eu treparia de graça com você.
Bruna é um intermédio da natureza, um plano esquecido em meio à execução, a natureza a abandonou na fase de acabamento. Bruna nasceu Bruna e Bruno, rebento de Hermes e Afrodite; Hermes/corpo, Afrodite/alma. Mais que se desesperar com a indefinição, Bruna deu graças à chance de escolha, optou por ser Bruna.
- Esta sua oferta me faz concluir que você precisa muito mais de uma boa trepada do que eu.
- É...um bom aconchego, um braço feito em travesseiro, um fim de noite de carinho desinteressado...viriam bem a calhar.
Rubens engole em seco. E depois outra generosa talagada de cerveja.
Bruna é bonita, pensa Rubens, projetou bem o seu corpo, sem faltas nem excessos, peitos nem Pamela Anderson nem Carolina Ferraz. Ela tem as mãos pequenas, o pomo-de-adão mal se adivinha, e Rubens já pegou muita mulher com buços mais espessos que os esparsos pelos faciais de Bruna.
Rubens vai à cozinha e pega mais duas cervejas, agora as de Bruna, já geladas.
Entrega uma long neck a ela, que lhe sorri. Rubens sorri de volta.
E pouquíssimas mulheres, pondera Rubens, pediram-lhe o que Bruna acabou de : carinho desinteressado.
Com olhos de três da madrugada, Rubens olha Bruna e não vê mais nenhuma indefinição, nenhum entremeio.
Vê um belo corpo e muito afeto disponíveis.

domingo, 16 de setembro de 2012

Vaca Bêbada

Se eram tempos de vacas magras ou gordas, não me lembro. Sei que eram tempos de vacas pretas, os fins da década de 70 e começos da de 80, eu com uns 10 anos de idade.
A vaca preta foi a grande pedida de vários verões, era carne de vaca em qualquer sorveteria da época. Consistia em duas ou três bolas de sorvete de chocolate servidas em uma taça alta de vidro grosso e acompanhadas de uma garrafinha de coca-cola - sim, a boa, velha, clássica e esverdeada garrafa de 200 ml, que refrigerantes em lata ou não existiam, ou eram raros.
A pessoa ia adicionando, aos poucos, a coca-cola ao sorvete, mexia com uma colher de haste longa e tomava a mistura pelo canudinho. A reboque do sucesso da vaca preta, veio em seguida a vaca malhada - sorvete de flocos com guaraná.
Ambiciosos que só o cão, os sorveteiros viram a salvação da lavoura neste inusitado ramo da pecuária bovina, e resolveram tirar o pé da lama, começaram a inovar. E, então, deu-se a desgraça. Como sempre acontece quando os clássicos começam a ser popularizados e, por consequência, subvertidos.
Surgiram a vaca amarela - creme e fanta laranja -, a vaca roxa - ameixa e fanta uva -, e a surreal vaca verde - pistache com soda limonada. Já era a transgenia se infiltrando sub-repticiamente no cotidiano. Foi o fim da era das vacas. A coisa caiu no descrédito.
Agora, décadas depois, as vacas geladas dão sinal de vida. 
A rede de hambúrguer norte-americana Red Robin Gourmet Burgers criou o Octoberfest Milkshake, um milkshake de cerveja que mistura a bebida com baunilha e caramelo, ou seja, uma vaca preta à base de cerveja, a vaca bêbada. 
A rede de lanchonetes espera que sua "invenção" caia no gosto do público cervejeiro na próxima Octoberfest.
Não sei lá para aqueles lados, pelas terras do Tio Sam, mas por aqui acredito que a beberagem não lograsse êxito, não vingasse. Cervejeiro que é cervejeiro, macho que é macho, nem gosta de doce, de caldinhas, de baunilha etc, quanto mais misturá-los à sua sagrada e ritual bebida.
Aqui no Brasil, no máximo, ela seria pedida por aquelas mocinhas metidas a recatadas e pudicas, aquelas fresquinhas que adoram encher a cara, mas não assumem, elas pediriam a vaca bêbada em substituição aos seus pedantes coquetéis de frutas. A vaca bêbada poderia também encontrar larga aceitação entre os metrossexuais e outras tribos de viadinhos modernos, talvez entre velhinhas jogadoras de bingo. E só.
Entre os verdadeiros bebedores de cerveja, jamais. Quem é que pode imaginar aquele cara barrigudo, com o short deixando o rego à mostra, mascando um naco de torresmo e...tomando cerveja por um canudinho?
É muito bicha pro meu gosto, como diria o saudoso Costinha.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

30ª Bienal De São Paulo (Ou : As Olimpíadas dos Caras de Pau)

Há assuntos que costumeiramente eu pulo durante minha leitura dos jornais - cada vez mais rápida e sem paciência, devo confessar -, esportes, horóscopo, colunas sociais, previsão do tempo, economia, guerras, obituários, programação da TV, e tudo relacionado à tal arte contemporânea.
Arte pela qual já manifestei todo o meu apreço na postagem, Bienal : Vá, Mas Não Me Chame.
Por alguma razão, hoje, folheando rapidamente a Folha de São Paulo durante meu intervalo no trabalho, deparei-me com as 28 principais obras da atual Bienal de São Paulo, e não mudei de página. Por alguma razão afastada de qualquer racionalidade, fui dar uma olhada nos Fídias, Michelângelos, Caravaggios, Renoirs, Van Goghs, Rodins e Rembrandts dos tempos modernos, risíveis tempos.
Uma das obras de destaque da 30ª Bienal de São Paulo é a que coloco logo abaixo. Ela está exposta imediatamente ao fim da rampa que dá acesso ao primeiro andar da exposição, ou seja, é a primeira coisa que o amante das artes vislumbra ao iniciar sua maratona cultural.
A obra "articula a figuralidade do som e a sonoridade da imagem", explica David Moreno (EUA), o autor da obra. Sem dúvida, ele deu uma bela de uma obrada. Figuralidade do som e sonoridade da imagem...puta que o pariu.
Será que o sujeito acredita mesmo nisso? Houvesse uma Bienal do Cara de Pau, ele seria um sério candidato a primeiro prêmio, aliás, todos seriam, a Bienal do Cara de Pau terminaria empatada. Em uma Olimpíada do Cara de Pau, as artes plásticas levariam medalha de ouro, de cabo a rabo.
E esta tela é apenas o começo, o cartão de visitas da exposição, passando por ela e adentrando-se o recinto, coisa pior sempre vem.
Ocorreu-me que mais do que um cartão de visitas, esta tela é uma advertência. Advertência ao incauto visitante pouco acostumado ao mundo das "artes", àquele que está ali de gaiato, que foi porque os jornais noticiaram, que foi com os amigos, ou, ainda, que foi para tentar impressionar - e comer - um novo flerte, uma nova paquera metida a "cabeça".
É a este inocente desavisado que a tela quer alertar, aqui é o último ponto seguro, grita a pintura, se passar daqui, será por sua própria conta e risco. Se essa obra pudesse ser traduzida para palavras, elas certamente seriam : perdei, ó vós que aqui entrais, toda a esperança.
E ela, a tela, não está brincando, a Bienal tem ainda coisa pior, muito pior. Duvidam? Para verem as outras obras, basta clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO, se tiverem coragem.
Mas inspirado pela maciça exposição a tanta cultura, pelo ar seco que sequestra meu oxigênio e provoca alucinações de anoxia, e em homenagem a um primo meu, Marcelo, o famoso Leitinho, aficcionado pela arte contemporânea, quase um mecenas, dei vazão a toda minha sensibilidade plástica e compus a obra abaixo.
Ela retrata a palatabilidade do cheiro e a olfatabilidade do gosto, representadas claramente pela lenta decomposição de uma banana prata transgênica, a denunciar a pequenez de tudo o que se julga definitivo. 
 Esta é para você, Leitinho. Pãããããta que o pariu!!!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Inferno Não É Aqui : Mudou-Se Para Latitudes Mais Amenas

15 h. Inverno. O ar esfola narinas, lábios e ânimos. 40º C, medidos na estação experimental, fora da urbe; temperatura bem maior, sabe-se lá quanto, no coração do dragão, na cloaca da metróple, no beijo no asfalto.
15% de umidade relativa do ar, mal há lugar para o ar, uma massa coloidal branca toma conta da atmosfera e dos horizontes, um fantasma que veste lençol cancerígeno, um ectoplasma que não é nuvem, não é fumaça, não é vapor; é cortina plástica daquelas de chuveiro, mofada, de mau-gosto, a sufocar respirações.
As ruas, a cidade, não são mais lugar para gente. São para as crias tecnológicas das gentes. As cidades são berçários e playgrounds para as máquinas das gentes.
Tento atravessar uma avenida, não vejo outra pessoa em minha condição. Todos estão dentro de suas máquinas, todos estão enmaquinados. Parece que estou na Lua, todos estão isolados em suas roupas espaciais, suas roupas motorizadas de metal, plástico e hálito de fumante inveterado. Parece que estou na Lua, já que o ar parece me faltar. Atravessar a avenida será um insignificante passo para a humanidade, mas um gigantesco e milagroso passo para este homem.
Não há faixas de segurança, os semáforos piscando entre o verde, o amarelo e o vermelho são apenas precoces luzes de Natal. O tráfego é um único verme, longo e ininterrupto. Desvio-me dele, driblo-o, consigo transpor a avenida, talvez haja melhor ar na outra margem : não há.
Ladeira íngreme, uma subida quase anaeróbica; os olhos ardendo e o repuxar nas panturrilhas que se fodam, chego em casa.
Meus planos : uma chuveirada fria, sentar pelado no chão da sala, sob o ventilador em velocidade que faria decolar um fokker, e saborear um almoço fresco e frugal, uma salada de rúcula com pimentão amarelo, tabule, água com gás, gelatina para sobremesa; em seguida, uma rápida e mexicana siesta antes de reassumir minhas obrigações (e prazeres) paternais.
Que nada :  cozinha, área de serviço e sacada forradas por fuligem de queimadas de cana-de-açúcar, revestidas de cinzas de um carnaval sem Pierrot, sem Colombina, sem lança-perfume, sem máscara negra, cinzas que não se prestam a funerais nem à fênix, cinzas de um churrasco de carne de segunda regado a muito pagode e música baiana. Sorte teve Pompeia.
O ar, aquela bolha de ar que eu tinha guardado, feito um peixe Betta,  para quando chegasse em casa, também já havia se transformado em asma.
Sem o quê, limpo a casa, varro, socorro o chão com panos úmidos de algodão, dou de beber ao assoalho sequioso, dou uma chuva fina ao meu pé de boldo, e um laguinho entre ardósias para minhas gatas.
O apetite desapeteceu, o tempo, para a ligeira siesta , perdeu a hora.
Ligo num canal de notícias, saber sobre a previsão do tempo, mais esperançar do que propriamente saber. Nada de novo, quadro climático inerte para, no mínimo, as próximas duas semanas. Reportagem do programa sai às ruas, colher opiniões da população. Repórter idiota, porém gostosinha, abre o microfone ao populacho, revoltadíssimo. Alguém tem que fazer alguma coisa, brada o povo sem ar e sem água nas torneiras, isso não pode ficar assim, é um absurdo, todos pagam seus impostos e ninguém toma uma atitude.
Quem o povo espera que faça alguma coisa? O síndico, o prefeito, deus?
Ninguém pode fazer nada, seus filhos das putas. Foram vocês que desmataram os últimos resquícios de vegetação nativa em torno da cidade, foram vocês que transformaram a região num imenso mar de cana, quiçá maior que o de Sargaços.
Não é o usineiro quem queima a cana e põe lenço com clorofórmio nas fuças da cidade. São vocês, seus filhos das putas, que optaram por andar de carro em lugar de respirar. Ninguém pode fazer nada. Só vocês, e é aí que estamos mesmos fudidos. Vendam seus carros, passem a andar a pé, de bicicleta, de transporte urbano, de carroça puxada a jegue, ou seja, com autotração.
Vender o carro? Ir de bicicleta ao trabalho? Ir a pé ao supermercado da esquina?
Mais fácil rezar ao deus apache da chuva. Que bons cristãos, os brasileiros são, mas um sincretismozinho canalha e hipócrita vem bem a calhar na hora do aperto.
Chegará a hora, seus filhos das putas, em que terão de decidir entre passear com seus carros ou respirar, passear com seus carros ou beber água - será um decisão dificílima para muitos, muitos morrerão sufocados e desidratados antes de tomá-la.
O filho chega à casa e já se lança ao chão recém limpo, aos seus afazeres, às sua obrigações de criança sem obrigações, rola e ri. Nada sabe do tempo desértico, da névoa seca no ar, do aquecimento global, da escassez de água, de deuses apaches da chuva. E saber nada é de tudo o ele que necessita saber.
Olho-o, e começo até a respirar melhor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Comida Saudável x Comida Gostosa. Vai Ficar Com Qual?

Tradução da legenda sob a foto da loira mocreia : Esta mulher tem 51 anos. Seu nome é Gillian McKeith, a guru da saúde que professa a abordagem holística entre saúde e alimento, com muitos exercícios, e dieta rica em frutas e outros vegetais orgânicos. Ela recomenda dieta vegetariana e limpeza de cólon.
Tradução da legenda sob a foto da morena gostosa : Esta mulher também tem 51 anos. Ela é Nigella Lawson, uma chefe de cozinha que fuma, bebe, come carne, manteiga, e sobremesas consideradas "insaudáveis".
Para quem não conhece, Nigella Lawson é uma chefe de cozinha inglesa, gostosíssima, escritora de vários livros de culinária, todos com receitas consideradas, hoje, politicamente incorretas, ou seja, receitas com gosto, com textura, que enchem os olhos e a boca - atualmente, tudo o que é gostoso é considerado politicamente incorreto.
Suas receitas são generosamente calóricas, não economizam carboidratos nem gorduras, não têm nada de diet ou de light, nem de fibras nem de omêga 3 etc, têm é de "sustância", têm é de fazer correr água pelos cantos da boca, feito a própria Nigella.
Com Nigella não tem complicação, suas receitas são de fácil e rápida execução, você não precisa ser um gourmet nem um cozinheiro francês afrescalhado para bem prepará-las; não incluem ingredientes exóticos e caros, tudo é feito com o que qualquer um possui na dispensa de casa. E tudo explicado por Nigella com muita simpatia, carisma, sensualidade e...peitões.
A delícia Nigella e suas deliciosas receitas podem ser vistas nas sextas-feiras, às 10:30h, no canal GNT, com reprises aos domingos, às 13:00 h.
E aí? Você é um daqueles ecochatos, adeptos do vegetarianismo, dos orgânicos, do café sem cafeína, do leite desnatado, da carne e do leite de soja, da lasanha de berinjela, da bolacha de água e sal sem sal, e outras "saudabilidades"?
Então, tá! Fica com a Gillian McKeith, a loira vegetariana e de cu limpinho.

domingo, 9 de setembro de 2012

Viadagem Mata Mais Que Tabagismo

É o que afirmou o líder do Lobby Cristão Australiano, Jim Wallace.
Palavras do conterrâneo de Mel Gibson : "Fumar é mais saudável que a vida resultante de casamento gay. Acho que vamos dever uma grande desculpa aos fumantes diante das estatísticas de saúde da comunidade homossexual, com a expectativa de vida do sexo masculino reduzida em 20 anos. A expectativa de vida dos fumantes é reduzida em 10 anos".
Ou seja, fumar reduz a vida do sujeito em dez anos, dar a bunda, em 20 anos. Dar a bunda e fumar aquele cigarrinho pós-coito, então...
A declaração é mais uma das tentativas desesperadas e insanas de certos grupos cristãos conservadores em inibir a expansão dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Óbvio que fumar reduz a expectativa de vida, assim como dar a bunda, também. E beber. E escalar o Himalaia. E atravessar a rua. E comer lanche do McDonald's. E esquecer data do aniversário de casamento. 
Aliás, como todo e qualquer vício e/ou atividade prazerosa. Pelo simples fato de que essas pessoas estão usando o corpo, estão pondo a máquina para trabalhar ao seu limite. E corpo muito usado, desgasta mais cedo, claro. Qual a vantagem em se morrer com 80 anos todo conservadão? Ser doador de órgãos para um outro velho de 90 anos? O negócio é gastar o corpo, mesmo.
Se dar a bunda mata mais cedo, não coibamos o ato; pelo contrário, o incentivemos. E ao tabagismo. E a toda e qualquer atividade insalubre. Chega de geração saúde. Instituamos a geração insalubre.
Já são 7 bilhões de pessoas no planeta, as projeções mais otimistas (negativamente falando) são de 9 bilhões para 2020.
Não dá mais para ficar pregando uma vida que conduza a pessoa aos cem anos, tem que morrer logo, desocupar o lugar.
O problema é que os porras desses cristãos só rezam, e isso não desgasta o corpo; mata o cérebro, é bem verdade, mas é plenamente possível viver acéfalo por décadas e mais décadas, ou a população do mundo não teria chegado aos 7 bilhões.
O que esse líder australiano precisa é fumar um charutão cubano gigante e sentar na embalagem metálica, de mesma geometria, que acondiciona o produto. Não que eu tenha algum desses dois vícios, mas não fico enchendo o saco de ninguém, pelo menos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Ótimo (E Ateu) Belchior

Jornal Blues (Uma Leve Canção de Escárnio e Maldizer) 
(Belchior)
Nesta terra de doutores, magníficos reitores, leva-se a sério a comédia!
A musa-pomba do Espírito Santo - e não o bem comum! - Inspira o bispo e o Governante.
Velhos católicos, políticos jovens, senhoras de idade média,
- sem pecado abaixo do Equador - fazem falta e inveja ao inferno de Dante.

Tão comum e tirar-se daqui qualquer coisa que eu também tiraria o chapéu a vontade.
Aos cidadãos respeitáveis, donos de nossas vidas, pais e patrões do país.
Mas em vez tiro o lenço... Não para enxugar, portuguesmente, a saudade...
Mas pra saudar num Ciao!
Quem me expulsa de casa!
Dar um "viva, excelência!" E tapar o nariz!

Não, não quero contar vantagem mas já passei fome com muita elegância.
E uns caras estranhos - ordens superiores! Já invadiram minha casa... Mas com muito respeito!
Diabo de profissão! Ganhar com o suor de meu gosto o bendito pão e o gim das crianças!
Noblesse oblige! Eu talvez seja o cara que você ama odiar, inimigo do peito!

Cá em casa quem morre se torna querido, tido e havido por justo e inocente.
Mas pode ir tirando o cavalo da chuva que eu não vou nessa de morrer só para agradar vocês.
Aluno mal comportado, pela regra da escola,devo ser reprovado...sumariamente

Mas não faz mal.
Deixo os louros ao poeta!
Lauras é o que me importa!
Quero o meu dinheiro no fim do mês!

Mas que poeta idiota!
Canções tão tocantes dão sempre uma nota raramente vulgar!
Atentado à Moral e aos Bons Costumes, lapido diamantes, não falsos brilhantes.
Kitsch elegante que te mente elegantemente!
Oh! Abre alas que eu quero passar!

There's no business like soul business! There's no Political solution, meus caros estudantes!
Tá todo mundo comido, lavado, passado, bronzeado... Ora, muito obrigado!

Só eu não venço na vida, não ganho dinheiro, não pego mulheres, não faço sucesso!
O velho blues me diz que, ateu como eu, devo manter os modos e o estilo...Réu confesso!
Eles vão para a glória sem passar pela cama...
Ou jesus não me ama ou não entendo nada do riscado!

Não toques esse disco! Não me beijes, por favor!
Meu professor de filosofia me dizia que eu viveria sempre adolescente
Hoje, qualquer mulher, assim que me abandona, já me tem por durão, mesmo sabendo que mente.

Desculpem! Infelizmente não sou à prova de som, nem de amor... de amor...
de amor...de amor....de amor... de amor... de amor... de amor... de amor ...

Belchior, o bigode que canta. Um dos grandes gênios da MPB.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Neil Armstrong Ou Capitão Nemo?

Neil Armstrong, oficialmente o primeiro homem pisar na superfície lunar, morreu aos 82 anos em 25 de agosto deste ano.
Estranhamente, o homem que vivia com os olhos nas estrelas, e que também fez toda uma geração voltar as vistas e as esperanças para o espaço, será sepultado no mar. A informação é do porta-voz da família Armstrong; detalhes do sepultamento e a data não foram divulgados.
Que sacanagem com o defunto! Só pode ser coisa de algum cunhado.
O cara realizou o maior voo já alçado por um ser humano, aproximou-se mais do Sol que Ícaro, e suas asas resistiram. Agora, será enterrado em catacumba abissal. Puta desrespeito para com o defunto.
Querem sepultar Armstrong no mar? Que seja, então, no Mar da Tranquilidade.
O Mar da Tranquilidade é a região lunar onde a Apollo 11 fez seu pouso, e foi Armstrong que a assim batizou.
Querem jogar o astronauta ao mar? Que seja, então, no Mar da Tranquilidade.
Em respeito ao finado. E à poesia.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ateus São Beligerantes, Diz Padre Azevedo Jr.

O padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. (o figura da foto ao lado), da arquidiocese de Cuiabá (MT), está a advertir seus fiéis para que tomem cuidado ao debaterem a teoria da evolução com um ateu. E desde quando algum fiel religioso debate alguma coisa com alguém? O crente não debate nada, ele crê cegamente em tudo; no máximo, o que ele chama de debater ou argumentar é ficar vomitando versículos e mais versículos da bíblia para cima de seu interlocutor, como se estes fossem verdades científicas estabelecidas. Não são.
O padre Azevedo recomenda aos seus fiéis que não sejam ingênuos, pois seu interlocutor pode ser um "ateu beligerante", que defende agressiva e ofensivamente a evolução das espécies de Darwin. Segundo o padre, os católicos não têm dificuldades em analisar as duas hipóteses científicas sobre a criação do mundo - a evolução e o design inteligente. Os católicos, diz ele, são capazes de bem conviver e considerar as duas hipóteses, dando ao seu rebanho um caráter tolerante e conciliador.
Primeiro, o padre demonstra total ausência do mais rudimentar conhecimento científico :  a evolução das espécies não é uma hipótese, é uma teoria, já testada e comprovada. O design inteligente, por sua vez, nem pode ser considerado uma hipótese, é apenas o criacionismo disfarçado de ciência. Hipótese é uma suposição passível - e possível - de ser verificada empiricamente. Como verificar se um deus, ou um arquiteto inteligente como quer o design inteligente, foi o criador de tudo o que se vê? Nem hipótese esta merda é.
Segundo, ainda que fosse, crentes analisando hipóteses científicas? Passemos para a próxima piada, por favor, e que seja mais engraçada.
Terceiro, uma vez tendo cagado, o padre senta em cima e espalha : confunde criação do mundo com evolução das espécies. Origem do mundo (e da vida) é assunto muito distinto da evolução das espécies.
Não obstante, a tal declaração - que ateus são beligerantes ao defenderem o bom e velho Darwin -, dita por quem a disse, por um padre, tem lá sua lógica, seu fundamento. Dita por qualquer outro, nem mereceria atenção, mas proferida por um representante da igreja católica, é um caso a ser considerado.
Se um padre falou que nós, ateus, somos beligerantes, talvez, um pouco, até o sejamos. Afinal, se há um assunto do qual a igreja católica tem pleno conhecimento, é da beligerância. Se há um especialista supremo do uso da beligerância na defesa de suas crenças, este é a igreja católica.
Claro que vou enfiar o dedo, mais uma vez, no feridão da Inquisição e sua Santa Fogueira, que nem era a pior parte da história. A fogueira era a cadeira elétrica da época, ou seja, tão-somente o instrumento usado no cumprimento da sentença de morte do herege. Antes de chegar às labaredas, o herege passava por um longo processo "jurídico", tão ou mais doloroso que a própria fogueira.
O Tribunal do Santo Ofício recebia uma denúncia - feita por um vizinho filho da puta e cagueta, por uma mal-amada qualquer, ou mesmo pelos padres das paróquias em cujos cofres o sujeito não tivesse depositado o devido dízimo - e convocava o herege à sua santa presença.
Uma vez lá, ele ficava à mercê dos inquisidores da igreja, que o submetiam a uma extensa e cansativa arguição para tentar comprovar os pecados de que ele era acusado, geralmente envolvimento com Satã e/ou práticas obscenas. Caso não houvesse sucesso, caso o herege não admitisse os atos pelos quais era acusado, ou que os admitisse, mas não os considerasse como pecados, a estratégia dos inquisidores mudava radicalmente.
O herege era levado às catacumbas das igrejas e submetido a sessões de tortura. O objetivo era expulsar o demônio do corpo do sujeito e permitir que ele revelasse a verdade. Os instrumentos usados nessas torturas são capazes de fazer corar de vergonha o mais cruel dos ditadores.
Dei uma rápida pesquisada e achei mais de 30 tipos de instrumentos de tortura utilizados pela igreja católica para conseguir a confissão e admissão de culpa do herege. Abaixo, cito e descrevo rapidamente os cinco mais recorrentes.
1) O Arranca-seios : para ser usado em hereges do sexo feminino, era uma espécie de fórceps metálico cujo desenho permitia que fosse ajustado aos seios da herege. Seu uso era simples, e consistia em esquentar o aparelho numa fogueira, prendê-lo no seio exposto da vítima, e depois arrancá-lo, ou de forma rápida ou muito lentamente, dependendo do intuito do inquisidor. Em seguida, a mulher era deixada a sangrar para que morresse de hemorragia, ou que fosse levada a loucura pela dor;
2) A Serra : o herege era pendurado nu e de ponta-cabeça numa trave, de pernas abertas. Uma grande serra, manuseada por dois inquisidores, um de cada lado, começava a fender o herege pelo cu, seguia serrando pelo abdômen e continuava até onde o cara aguentasse sem confessar. Ser posto de ponta-cabeça fazia com que o sangue descesse todo para o cérebro, o que impedia o herege de desmaiar durante a tortura;
3) O Berço de Judas: peça metálica em forma de pirâmide sustentada por hastes. A vítima, sustentada por correntes, é colocada nua com o cu sobre a ponta da pirâmide. O afrouxamento gradual ou brusco da corrente manejada pelo executor fazia com que o peso do corpo pressionasse e ferisse o ânus, a vagina, cóccix ou o saco escrotal. Pelo visto, a padraiada tem mesmo uma fixação por cu, tudo queima-roscas enrustidos;
4) O Quebrador de Joelhos : aparelho simples composto por placas paralelas de madeira unidas por duas roscas. À medida que as roscas eram apertadas pelo executor, as placas, que podiam conter pequenos cones metálicos pontiagudos, pressionavam os joelhos progressivamente, até esmagar a carne, músculos e ossos. Esse tipo de tortura era usualmente feito por sessões. Após algumas horas, a vítima, já com os joelhos bastante debilitados, era submetida a novas sessões.
5) A Mesa de Evisceração : o herege era preso sobre a mesa de modo que mãos e pés ficassem imobilizados. O carrasco, manualmente, produzia um corte sobre o abdômen da vítima. Através desta incisão, era inserido um pequeno gancho, preso a uma corrente no eixo. O gancho (como um anzol) extraía, aos poucos, os órgãos internos da vítima à medida que o carrasco girava o eixo.
Havia, já à época, a delação premiada. Se o herege denunciasse mais umas tantas pessoas durante a tortura, era-lhe concedida uma execução menos cruel.
Depois de tudo isso, vem o cara de pau desse padre Azevedo dizer que os ateus é que são beligerantes.
Eu, beligerante? Ora, padre, vá tomar no cu!!!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Igreja Aracnídea (Ou : Rezemos À Grande E Peluda Aranha)

 
Muito bom !!!

Fellini, Perde Longe; Dali, Choraria De Vergonha

"Pegar rabeira" é uma antiga prática urbana ainda muito corriqueira nos dias de hoje. Consiste em um moleque de bicicleta agarrado à parte traseira de um ônibus ou caminhão em movimento, indo a reboque deste, viajando clandestinamente, sem pagar passagem nem frete.
O risco inerente a esta aventura é evidente, basta que o veículo dê uma freada mais brusca para que o rabeirista estoure as fuças na carroceria, ou que execute uma virada repentina ou um desvio abrupto para que o bicicleteiro seja jogado para fora da rua, de encontro à calçada e aos pedestres, ou em um muro, parede ou grade.
Aí hoje, eu estava num cruzamento no centro da cidade, a esperar o semáforo ficar vermelho para os veículos, quando um ônibus passou por mim em velocidade nada comedida, e na sua traseira, um rabeirista. Um paraplégico.
É isto mesmo! Um paraplégico - um cadeirante, como são chamados hoje em dia - a pegar rabeira num coletivo. A cadeira de rodas dele não era dessas comuns, não. Tinha rodas com um design todo aerodinâmico, toda cheia dos guéri-guéris. Nem sei se existe, mas me pareceu um tipo de cadeira de rodas de corrida.
E o cadeirante não se fazia de rogado. Com a grande força que os paraplégicos possuem nos braços, ele ficava fazendo zigue-zagues com a cadeira, que deve ser lá uma espécie de manobra radical entre os cadeirantes. Será que rabeira de cadeirante já se tornou uma modalidade paraolimpíca?
Puta que o pariu! Um paraplégico pegando rabeira! O mundo não vai acabar, ele já acabou. Só não fomos avisados.
Com os imensos e devidos respeito e admiração que tenho pelos mestres surrealistas, devo dizer que eles estão obsoletos. Há muito foram ultrapassados. Pela própria realidade.
E é isso. Comentar mais o quê? Se há algo para, declaro-me incapaz de. 

O Bullying Produtivo (Ou : A Saudável Rejeição Social)

A Hidra de Lerna era um monstro mitológico com 9 nove cabeças de dragão, que, quando decepadas, regeneravam em uma ou duas novas; além disso, a cabeça central possuía o dom da imortalidade. Irmã do cão Cérbero (de três cabeças) e da Quimera (com uma cabeça de leão, uma de bode e outra de dragão) - família boa, esta -, a Hidra foi a segunda das doze incumbências impostas a Héracles, que deu lá o seu jeito de matá-la.
Havia também, ainda na mitologia grega, o gigante Argos, de cem olhos (fora o do cu). Nada escapava de sua vigilância titânica. Isso porque enquanto cinquenta de seus olhos dormiam, os outros cinquenta observavam. Não é para menos que Hera, a primeira-dama do Olimpo e deusa padroeira das cornas gregas, designou-o pessoalmente para proteger a ninfa Io da piroca toda-poderosa de Zeus, maridão de Hera e o maior comedor de todas as mitologias.
Hoje, há monstros muito piores, aberrações muito mais perigosas. Da mestiçagem bastarda entre a Hidra de Lerna e o gigante Argos, nasceu o politicamente correto, leviatã nada mitológico de incontáveis cabeças e infinitos olhos, todos do cu.
Suas cabeças e olhos compõem uma onipresença nunca antes instalada na história humana. O monstro vigia, cerceia, censura, formata pensamentos. E os que não consegue enquadrar, decreta como incorretos, para depois puni-los.
Várias são as cabeças peçonhentas desta desgraça. A da ecologia hipócrita, a da igualdade entre os desiguais, a da justiça social às custas de quem trabalha e em prol do vagabundo, a da inclusão do incapaz, que só excluiu os mais aptos, e outras tantas que marreto incessantemente aqui. Marretar, eu marreto, mas elas se regenaram, lembram?
Agora, está em evidência, feito uma dessas subcelebridades, a cabeça do politicamente correto que vigia os casos de bullying, ou o que o politicamente correto define como bullying. O bullying é a prática perpetrada pelos valentões da escola contra grupos de indivíduos mais fracos, em uma relação desigual de poder.
Não vou negar que o bullying exista, ele existe. Mas é de um único tipo : bullying é quando dois ou três fortões se unem e dão porrada no fracote. Isso é bullying. E ponto. O resto é frescura.
Apelidos, provocações, um grupo não aceitar alguém que é estranho aos seus gostos e costumes etc, não têm nada de bullying. É normal e perfeitamente saudável. Driblar estas pequenas adversidades e se adequar a cada ambiente que frequenta faz parte da construção da personalidade do sujeito.
Definir isto como bullying é mais uma das estratégias do politicamente correto para formar gerações de pessoas sem a menor fibra, incapazes de se defenderem sozinhas, sujeitos frouxos eternamente presos à barra da saia da mamãe.
Quando eu estava em idade escolar, já fui chamado por todos os apelidos possíveis e imagináveis que podem ser atribuídos a um magrelo franzino e raquítico. Pau de virar tripa, vara de cutucar estrela, cotonete (sim, além de magro, cabeçudo), pinto de macaco, tarzan depois da gripe etc. Claro que isso não me enchia de alegria, mas eu era magro, muito magro. Hoje, tenho um índice de massa corporal de 20,8, o que ainda é bem magro; aos 15, 16 anos, eu já tinha praticamente a altura que tenho hoje, e uns 15 quilos a menos. Se os apelidos não eram elogiosos (e que apelido é?), eram ao menos verdadeiros. Dizer a verdade é bullying? Não, claro que não. Mas para o politicamente correto, é. Quanto mais factível e inegável o que se diz, mais taxado de incorreto e preconceituoso ele é.
A outro exemplo, nas aulas de educação física, quando os times iam ser montados, eu era um dos últimos a ser escolhido, se não o último, muitas vezes nem era, ficava de fora. Bullying? Porra nenhuma. Eu era (sou) muito ruim em futebol ou em qualquer outro esporte. Por que seria bullying não escolher alguém que levaria seu time à derrota? O que se tem que entender é que toda e qualquer atividade inclui uns e exclui outros. Não tem nada de violência nisto.
Mesmo na atividades acadêmicas, nas quais eu era considerado bom, poucos grupos me escolhiam para um trabalho de pesquisa, eu não partilhava daquele sentimento de coletividade, nunca gostei da história de cada um ficar com uma parte da pesquisa, nunca confiei minha nota a ninguém. Claro que os outros alunos percebiam essa minha resistência e, lógico, não me escolhiam. Não raras vezes, fazia o trabalho sozinho. Bullying? Claro que não. Eu até preferia assim.
Que direi, então, das festas? Na época, eram comuns as tais brincadeiras dançantes. Óbvio que nunca fui convidado para uma delas. Bastava olhar para mim e ver que não havia a menor possibilidade de eu ter alguma habilidade de dança. Bullying? Exclusão? Rejeição? Porra nenhuma. Mais uma vez, apenas outro caso de minha falta de aptidão a um certo ambiente e atividade. Nada de mais.
Repito : bullying é porrada, é espancamento, é agressão física à covardia. E é caso de polícia, de registrar queixa, de chamar a juízo os valentões ou seus responsáveis legais. Não é para ficar sendo debatido por psicólogos empoados, pedagogas encruadas ou assistentes sociais condescendentes.
Por acaso, será que esses poucos exemplos que citei de minha passagem pela escola (poderia citar muitos outros) me traumatizaram, prejudicaram minha habilidade social, minha inteligência emocional ou qualquer outra merda dessas? Claro que não. Pelo contrário, muito pelo contrário.
A cada "exclusão", a cada "rejeição" sofrida, eu ficava ainda mais convicto e orgulhoso do que eu era, do que eu pensava e gostava. Eu nunca quis ser bom de bola, nem ficar dançando em festinhas, muito menos pertencer a algum bando.
Eram atividades que, na verdade, em muito me desagradavam, e que eu desprezava. Ora, ser rejeitado por um mundo com o qual eu não possuía nenhum tipo de afinidade, não teve nada de traumático, teve de fortalecedor.
Muito do conhecimento que tenho hoje, adquiri por conta desse meu isolamento do mundo. Com 10, 12 anos, eu já gostava muito mais de livros que de gente; dependendo do livro e da pessoa, gosto mais até hoje.
Tendo que viver num mundo pouco habitado, num universo quase particular, sem poder contar com a cumplicidade e a força do bando, eu me desenvolvi muito mais como indivíduo do que a grande maioria. Eu lia mais, ilustrava-me, pensava mais, olhava mais para mim, fiz-me dono de um razoável autoconhecimento, tornei-me muito mais criativo. Ou, talvez, já fosse mais criativo, e era isso o que tornava insuportável o mundo comum.
Sofrer bullying (palavra e conceito que nem existiam à época) sempre foi de grande utilidade para mim, sempre me foi muito produtivo.
E não é que agora um estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, concluiu que a rejeição social pode inspirar o pensamento criativo em humanos? Exatamente o que eu sempre soube.
A conclusão, porém, é válida aos indivíduos que já se sentem excluídos e diferentes do resto da sociedade, diz Sharon Kim, a coordenadora do estudo. Que se sentem diferentes, não, digo eu, que são mesmo diferentes. Diferentes e superiores.
“Para as pessoas que já se sentem separadas da multidão, a rejeição social pode ser uma forma de validação”, diz Sharon Kim. “A rejeição confirma a pessoas independentes o que elas já sentem sobre elas mesmas: que não são iguais aos outros. Isso leva a uma maior criatividade”, afirma.
Então, se o mundo o rejeita, sorte sua, amigo. Aproveite e vá estudar, aprimorar-se. Aproveite o sossego que o mundo lhe concede para tornar-se ainda mais superior a ele. Se esse mundo idiota que aí está não lhe quer por companhia, não fique pelos cantos chorando as pitangas, dando uma deprimidinho : alegre-se. Festeje a sua exclusão.
Em tempo : gostaram das histórias da Hidra e de Argos? Não pensem que as aprendi jogando bola nas aulas de educação física.

domingo, 2 de setembro de 2012

Uma Elegia À Cláudia Ohana (7)

"- Vamos entrar...
- Não tenho tempo!
- O que é que houve?
- O que é que há?
- O que é que houve, meu amor, 
você cortou os seus cabelos?
- Foi a tesoura do desejo, 
desejo mesmo de mudar."