sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Dia Nacional do Visconde de Sabugosa (Ou : Bem Sabemos no Cu de Quem o Sabugo Vai Entrar)

Dilma Rousseff, finalmente, resolveu meter mãos à massa, mostrar a que veio em seu segundo mandato, pôr ordem na casa, acabar com a bandalheira, tirar o país do buraco, mais profundo que o pré-sal, em que o PT o colocou.
Há dois dias, 28/01, Dilma Rousseff assinou a aprovação de quatro projetos de lei, quatro novas e importantíssimas medidas adotadas pela nova gestão de seu governo
Nas duas primeiras canetadas, Dilma assinou os textos das leis que instituem o Dia Nacional da Parteira Tradicional e o Dia Nacional da Vigilância Sanitária. Nas duas outras, as mais importantes, Dilma aprovou duas propostas de sua nova ministra da agricultura, Kátia Abreu. Financiamento para os pequenos e médios produtores? Subsídios para os insumos e maquinários agrícolas? Seguro contra as intempéries do tempo a que estão sujeitos os homens do campo, secas, alagações, geadas? Nada disso. Nada dessas misérias e pequenezas. Dilma aprovou os projetos de lei de Kátia Abreu e instituiu o Dia Nacional do Técnico Agrícola e, até chorei de emoção, o Dia Nacional do Milho!
O artigo 10 do projeto de lei diz : O Dia Nacional do Milho, destinado a estimular e a orientar a cultura do milho, será comemorado anualmente, em todo o território nacional, na data de 24 de maio. 
Agora, acabou. Ficou resolvido o problema da produtividade agrícola brasileira! Com tal homenagem, o milho, com certeza, sensibilizar-se-á e empenhar-se-á em ser mais produtivo, mesmo sem água, fertilizantes, pesticidas ou controle biológico, adequados armazenamento e distribuição; quiçá até mesmo sem ser plantado.
É o Dia Nacional do Visconde de Sabugosa! É a festa da pamonha!
E o sabugo, claro, todos sabemos no cu de quem vai entrar! Com palha e tudo!
Vejam só o tamanho e a bitola do que ainda nos vêm por ai!

E antes que outros gêneros de primeira necessidade comecem a se organizar em ONGs, a se mobilizar em passeatas, marchas etc, a reclamar do favorecimento ao milho, da discriminação e preconceito para com os outros víveres da cesta básica, informo-os da existência de outras importantíssimas datas comemorativas para a comunidade alimentícia.
Acalmem seus ânimos, arroz e feijão nossos de cada dia; serene sua beligerância, macarrão nosso dos domingões em família, vocês também, e mesmo anteriormente ao milho, já foram contemplados, homenageados em publicação do Diário Oficial :
16 de outubro - Semana Nacional do Feijão e Arroz
A data foi proposta e instituida para ser comemorada durante a Semana Mundial da Alimentação, na qual "serão desenvolvidas, prioritariamente, por instituições públicas e privadas, ações de conscientização, sob forma de audiências públicas, sobre a importância desses dois produtos na alimentação humana".
25 de outubro - Dia do Macarrão
Criado pelo deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), em 2014, a proposta foi sancionada sob justificativa de firmar um "compromisso de responsabilidade das empresas do setor para divulgar amplamente a importância do macarrão na cadeia alimentar”. 
Sobre o dia do macarrão, uma observação, a importância do macarrão na cadeia alimentar? Cadeia alimentar, por definição, é uma sequência interligada de seres vivos na qual um se alimenta do outro, sucessivamente. O macarrão foi promovido, por nossos doutos parlamentares, à condição de ser vivo. Pãããta que o pariu.
Convenhamos e pensemos a respeito da parte que nos cabe desse latifúndio de culpas e responsabilidades : com tanta boa vontade política, por que é que o Brasil não vai pra frente?

Prêmio Nobel, por Zé do Blogson

Descobri recentemente - na verdade, foi ele quem me descobriu - o blog Blogson Crusoe, de autoria de um declarado misantropo do qual só sei que se chama Zé, de Belo Horizonte.
No blog, o Zé registra lá seus pensamentos, suas elocubrações, seus insights, as suas sacadas, tudo em textos curtos, leves, claros, concisos, agradáveis de se ler, escritos em bom e correto português (coisa rara na net) e sempre muito inteligentes e espirituosos.
Mas não é que o Zé (nem sei se ele percebeu isso) está a se tornar um bom marretador? Em sua última postagem, Prêmio Nobel, ele marreta, (ainda) com marreta de pelica, a precariedade da educação pública. Eu, que sou do meio, não tenho única ressalva a fazer a seu texto, concordo com tudo e assino embaixo.
Parabéns pelo texto, pela clara visão da realidade.
Em tempo, Zé : fiquei comovido (e não estou zoando, não, gosto pra caralho do que você escreve) com sua ingenuidade ao perguntar ao seu filho se ele tinha visto limite e derivada no colégio. Limite, Zé, é algo com o qual o hediondo e mal-intencionado Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA (somos ou não somos o país da piada pronta?) acabou. Não há mais limites para os adolescentes nas escolas, nem limites comportamentais nem limites morais, e querias os limites da bela matemática? Derivadas, Zé? Essa molecada de hoje não conhece nem as "derivadas" do leite. Se te arriscasses, então, a perguntar pelas integrais (eu cheguei a ver integrais no colégio), verias que eles não suspeitam sequer da existência do arroz integral. 
São os novos tempos, Zé? Sim, são. É a modernidade? Sim, é. São os novos rumos do pensamento? Sim, são. Mas não significa que sejam bons. Não são. E muito menos significa que tenhamos que gostar deles. Não gostamos, Zé.

PRÊMIO NOBEL
Tudo começou por termos ido a um aniversário em um reduto petista, ou melhor, de eleitores da Dilma. Papo vai, papo vem, a certa altura, sem que eu me desse conta, estava envolvido em uma conversa sobre a qualidade do ensino praticado hoje em escolas públicas. Entre outras coisas, comentei que, tempos atrás, tive a sensação de que meus filhos estavam aprisionados pela escola (pública) em que estudavam, pois percebi que a perspectiva de vê-los passar no vestibular era muito pequena, tão baixa era a qualidade da educação por eles recebida. Esse colégio era literalmente (ou quase isso) uma zona! E eu não tinha dinheiro pra colocá-los em escola particular.

Contei também de meu diálogo com o diretor a respeito do “ensino plural”, maluquice ali adotada, que não reprovava ninguém. Esse diretor ficou sorrindo meio constrangido quando lhe disse que o colégio que dirigia estava em total sintonia com as conquistas proporcionadas pela evolução da informática e que era um exemplo de aplicação da realidade virtual. E antes que ele me perguntasse por que, expliquei que em seu colégio estava implantado o ensino virtual, pois os professores fingiam que ensinavam, os alunos fingiam que aprendiam e os pais fingiam que acreditavam nessa merda.

Contei de minha infância mega pobre e de como tinha conseguido o que temos hoje (que não é muito) graças a um ensino de alta qualidade que existiu em algumas escolas públicas, estando a minha nesse grupo. Comentei sobre a necessidade de meter a cara nos estudos para conseguir ter alguma coisa na vida.

Estava nessa “doutrinação” do bem, quando um adolescente que escutava nossa conversa, comentou que seu professor de filosofia teria colocado a seguinte questão para a classe: o que é mais importante, ter ou ser? Não vou reproduzir o que pensei que diria a esse professor se o encontrasse, porque este é um blog que se dá ao respeito. Mas fiquei surpreso, pois não sabia que hoje se ensina filosofia no segundo grau!

Aqui cabe uma pergunta: e matemática, português, biologia, história ainda são matérias da grade de ensino?  A propósito disso, perguntei uma vez a meu filho mais novo (que fez o primeiro e segundo graus só em escola pública) se ele tinha estudado limite e derivada no colégio. A resposta foi que nunca ouviu falar disso.

Pois bem, no dia seguinte a essa conversa desanimadora, comecei a pensar o que leva um país como este nosso a nunca ter ganho um prêmio Nobel em todo o período de existência dessa premiação. E aí mergulhei no site www.nobelprize.org para ver se achava alguma pista.

Descobri, por exemplo, que entre 1901 e 2014 os prêmios Nobel e de Ciências Econômicas foram concedidos 567 vezes para 889 pessoas e organizações. A curiosidade é que o prêmio de Economia, criado em 1968, não é considerado um Nobel legítimo, pois não faz parte da lista de premiações imaginadas por Alfred Nobel.

Para um portador de TOC como eu, as listas dos ganhadores são um verdadeiro filé. É claro que não vou transcrevê-las, mas essas informações me deixaram matutando. E como sou o rei da teoria “miojo” (aquela que fica pronta em três minutos...), resolvi registrar esses pensamentos, verdadeiros papo cabeça. Vamos lá.

É óbvio que ninguém ganha o Nobel sem merecê-lo, mas eu dividiria essa premiação em três tipos que, à falta de palavras mais adequadas, chamarei de prêmios “Solitário”, “Solidário” e “Coletivo”.

Vamos começar pelo Nobel de Literatura. Em 114 anos de premiação, só em quatro deles o prêmio foi dividido entre dois autores. Curiosamente, em sete anos não houve premiação. Quatro desses anos, sintomaticamente, correspondem à pauleira da Segunda Guerra.

Outra curiosidade é que dos 111 laureados, 77 são de países da Europa (só a França tem onze). Isso me parece coerente com a cultura humanista que imagino ser valorizada naquele continente.

Para ganhar esse prêmio, o autor depende única e exclusivamente de sua  criatividade e inspiração. Por isso eu o imaginei como prêmio solitário, pois não há relação direta entre ele e o estágio de desenvolvimento do país  escolhido. Se não fosse assim, não haveria autores de Madagascar ou da Ilha de Guadalupe, por exemplo. O que entristece é saber que dos quatro premiados na América do Sul, nenhum é do Brasil.

O que chamei de prêmio “solidário” é, lógico, o da Paz. Certamente esse prêmio está muito relacionado à questão dos conflitos armados em áreas conflagradas por rebeliões, guerras e congêneres ou ao devotamento de alguns a causas humanitárias. Já foram concedidas 103 premiações. Pelo menos dezessete delas foram dadas a líderes políticos (Obama, Mandela, Arafat, etc.).

Os prêmios Nobel que eu chamei de “Coletivos” são os restantes: Física, Química, Medicina e o prêmio de Ciências Econômicas. Agora é que vem a viagem na maionese: todos os ganhadores são top de linha quando se avalia o mérito de cada um, pois só há expoente em suas categorias, só feras. Então, porque essa bobagem de Coletivo?

Porque, para mim, os cientistas e pesquisadores que são contemplados precisam de um ambiente que favoreça e seja receptivo às pesquisas que realizam. Não basta apenas ser mega inteligente, pois recursos financeiros, instalações adequadas, equipamentos de ponta são fundamentais. E, acima de tudo, mesmo que não mensurável, também uma sociedade que valoriza o conhecimento, o mérito e o ensino de alta qualidade.

Resumindo: a menos que um gênio nascido aqui trabalhe e pesquise em um dos centros de excelência tecnológica existentes na Europa ou nos EUA, essa premiação continuará a ser por um bom tempo muita areia para o caminhãozinho brasileiro.

Então, voltando ao tal professor de filosofia, se ele quisesse um Nobel, só poderia tentar o da Paz ou o de Literatura. Porque o que faz o mundo avançar (para o bem e para o mal) é o conhecimento técnico de ponta e sua aplicação posterior ao dia a dia. Filósofos, sociólogos e outros profissionais da área de humanas podem explicar e interpretar o impacto das novas conquistas tecnológicas, mas nunca contribuirão diretamente para aumentar a produção de alimentos, por exemplo.

Para finalizar, mais alguns tira-gostos (ou curiosidades):
- Em 1972, Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, chegou a ser indicado para o Nobel da Paz, mas, por considerá-lo comunista, o governo Medici fez campanha na Europa para que essa indicação não vingasse.

- Os Estados Unidos são o país que tem o maior número de premiados – 256 prêmios Nobel. Desses, 89% são pesquisadores. O segundo colocado é a Alemanha.

- Nasceu no Brasil um dos dois cientistas que ganharam o premio de Medicina em 1960. Infelizmente, para nós,  nasceu, pois é inglês da gema (Ainda não foi desta vez!).

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Danilo Gentili Manda Dilma Rousseff ir se Fuder

Ofensa lesa-pátria, faz-se urgente uma CPI do twitter : Danilo Gentili manda a "presidenta" Dilma ir se foder, no twitter. A mensagem carinhosa do humorista foi a reação a uma mensagem de Dilma Rousseff postada no microblog : "O nosso povo votou em nós porque acredita em nossa capacidade e em nossa honestidade de propósitos".
E as falsas indignações começam a pulular na mídia comprada e cooptada : imperdoável desrespeito à máxima autoridade de uma nação soberana, disse um; passou de todos os limites da agressividade, escreveu outro.
Primeiro, Danilo Gentili só verbalizou o desejo de pelo menos metade da população brasileira, Danilo Gentili foi só o avatar dos 50 e tantos milhões de eleitores contrários à Dilma e ao PT, Danilo Gentili foi só o mensageiro. E, em tempos de guerra, o mensageiro não pode ser morto por conta do teor da mensagem; em tempos de guerra, o mensageiro tem passe livre pelos minados campos de batalha.
Segundo, por que desrespeito e agressividade, mandar Dilma ir se foder? Se alguém manda eu me foder, penso : me foder? Foder a mim mesmo? self-fuck (mas sem o pau de selfie, por favor)? E por que não? Vou e toco uma punhetinha, fodo a mim mesmo. No caso de Dilma Rousseff, uma siririca presidencial bem tocada resolveria toda a celeuma.
Mandar Dilma ir se foder, desrespeito e agressividade? Desrespeito e agressividade foram as mentiradas flagrantes da campanha eleitoral da Dilma, desrespeito e agressividade (até beligerância) é mexer nos direitos trabalhistas, que nem são "aquela coisa toda" no Brasil, uma vez que nossas leis trabalhistas - a maioria delas, ao menos - datam da época de Getúlio Vargas, um ditador - sim, Dilma quer arrochar os direitos trabalhistas mais do que um ditador assumido e declarado arrochou.
Desrespeito e agressividade é construir um estádio de futebol de 1 bilhão de reais com dinheiro público e dá-lo de presente ao time do coração do ex-presidente Lula, desrespeito e agressividade é trazer médicos cubanos, que nem são médicos porra nenhuma, muito mal enfermeiros licenciados, e pagar 10 mil reais por cabeça ao Tio Fidel, desrespeito e agressividade é uma democracia ajudar no financiamento da ditadura cubana. Desrespeito e agressividade é o mensalão, é o petrolão, e sabe-se lá mais quantos "ãos" ainda virão (que, no Brasil, corrupção não se faz discreta e modesta, e sim sempre no aumentativo), quantos ainda estão escondidos, quantos em andamento?
"Vai se fude!", disse Danilo Gentili. Talvez, haja vista à constante cara de azedume da presidenta, seja disso que Dilma Rousseff esteja a precisar um bocadinho. Relaxar e gozar, com também lhe recomendaria sua ex-partidária Marta Suplicy.

Ligeira Crônica Solar (3)

Férias. O que em nada altera o seu período de sono, de desligamento do mundo, de paz. Sempre teve muito poucos períodos de paz. Seja dia útil, inútil, segunda-feira, sábado ou domingo, dia santo ou profano, ele sempre dorme pouco, sempre é ejetado cedo da cama, tanto faz se se deita às 20h ou às tantas da madrugada.
Deficiência de melatonina, o hormônio que induz a sonolência e promove a transição entre a vígilia e o sono, a nossa versão neuroquímica da areia soporífera de Sandman, o nosso João Pestana? Nada disso. Nada tão bioquímico ou filosófico. A Vida, simplesmente - em toda a sua complexidade. A Vida sempre arrumou jeito de dar os olhos dele - fatigados e natimortos - à luz, pari-los à ainda quase luz da manhã, luz de abajur de peixe abissal. A Vida sempre arrumou maneira de pôr pulgas e percevejos no sono dele (e, às vezes, até o Gilliard); por zombaria, escárnio, ou sádica diversão, ou meramente por falta do que fazer da vida.
Férias. Ele se põe de pronto antes do cocoricó do rádio relógio, antes que qualquer outro da casa. 
Infunde e coa o café - arqui-inimigo de Morpheus -, acorda a esposa, abre a porta entre a sacada e a sala, acorda e alimenta os gatos, prepara o leite achocolatado, acorda o filho. Esposa sai para o trabalho, leva consigo o filho, reiniciaram-se as atividades da escolinha.
Férias. Fica sozinho. Sozinho, mas não ainda em férias, em ócio. Que, para ele, férias é ócio, é inatividade, é lagartear. Vai ao mercado, à quitanda, à padaria, ao banco, limpa a casa, apronta a comida do dia, cumpre rapidamente - não obstante, com muita eficiência - com os rituais da Vida, reza, niilista dissimulado, a cartilha da Vida, presta suas reverências à Ela, seus salamaleques, presta-Lhe seu tributo, sua submissão, infla o ego da Vida, para que Ela, ao menos nas férias, dê-lhe momentos para viver. Terá duas ou três horas.
Senta-se à sacada, liga o toca-CDs à extensão, escolhe aleatoriamente, feito um periquito de realejo, um CD (todos piratas) de sua coleção de quase duzentos, acondicionados em uma caixa de tênis, pega das palavras cruzadas, coloca a contragosto os óculos, usa-os há dois anos, o viagra para suas vistas broxas, e se põe a relaxar.
Falta algo. Decide, então, adiar a execução, marcada para as 21h do dia, das quatro latas de cerveja a aguardar no corredor da morte do congelador. Escuta Sérgio Sampaio, completa uma Cruzada, entorna uma lata; Ângela Ro Ro, um Duplex, e mais meia lata; Alcione, acende um incenso de canela, uma Sem Diagonal, mata a lata.
Observa a rua dez metros abaixo, o mundo não em férias. Carros passam em profusão. Passam mais carros que gente. Mais carros que pássaros, que cachorros, que ratos, que Testemunhas de Jeová. E quando, eventualmente, passa uma gente, nem é gente, é organismo a carregar telefones celulares, smartphones, i-pads, i-pods, a hipnotizá-los os olhos, a abafarem-lhes os ouvidos, a vibrar-lhes no cu. E quando passa gente, nem é mais gente, são vetores da praga tecnológica, arautos da Matrix, são Aedes Aegyptis a transportar a dengue, barbeiros a fazer carreto para o Trypanossoma, porcos choferes de praça para a tênia. E quando passa gente,  nem é mais gente, são eletrodomésticos, utilitários.
Escuta Arnaldo Brandão, gabarita um Diretão, deslacra mais uma lata; Capital Inicial, Sudoku, tiro de misericórdia na terceira lata. Vontade de mijar,  urgência, em verdade; que nada na vida é vontade, sim urgências. Deságua no vaso de boldo. Nitrogênio. Nutriente. Que lhe retornará em forma de chá ou macerado, quando seu fiel fígado, em dias de preguiça (ou de férias) resolver não dar conta do batente.
Escuta Adoniran, uma Silábica, abre a quarta e última lata; Raul Seixas (óbvio), uma Temática, e fim da última lata, e nem é meio-dia. Mune-se, então, de generosa e quase pornográfica dose de whisky, sem gelo, paraguaio legítimo fraternalmente presenteado por velho e fiel amigo. Ergue o copo contra o Sol, a maremotear o oceano primordial âmbar que é seu conteúdo, confronta o Sol, ergue um brinde à Via-láctea, às nebulosas, aos buracos negros, ao Big Bang. Emborca tudo de um só gole.
Vai para a cama - ainda desarrumada (ou arrumada ao sono) -, a janela do quarto que não foi aberta, o ar que não foi trocado, o colchão sabendo a roncos, a apnéias, a sonhos e pesadelos, a ereções involuntárias e desperdiçadas. Deita-se. Dormir. Nem que sejam uma ou pouco mais horas. Deita-se. E, lógico, não adormece.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mimetismos (13)

Nesses quase 6 anos de A Marreta do Azarão, recebi toda a sorte de comentários por parte dos meus fiéis ou eventuais leitores. Teve de tudo, elogios,críticas, xingamentos, pragas rogadas etc; fiz mesmo algumas e boas amizades virtuais.
De uns meses para cá, porém, o campo de comentários do blog também tem se prestado a palco - até a púlpito, eu diria - de desabafos, de relatos de vidas outrora desencaminhadas e hoje reconduzidas a bons trilhos, de verdadeiros testemunhos - pasmem - de conversão religiosa e sexual.
Há um anônimo que, volta e meia, vem aqui desafogar seus sentimentos, exprimir suas dúvidas e angústias existencias e me pedir conselhos. A mim, chama de Mestre Azarão; de si, diz apenas que é um ex-boiola. Ou seja, é um prosélito do amor à xavasca e às próprias pregas, um invertido convertido, e muito divertido!
Reproduzo aqui o último comentário dele, letra por letra, vírgula por vírgula, na postagem Mimetismos (12):
"Meste Azarão, aqui estou eu novamente. Gosto de me abrir com você. Essa seção do seu blog é muito interessante, já que mostra coisas diferentes mas que são parecidas. Ex baitola que sou, faço de tudo para não ter recaídas evtrilhar o caminho do pecado. Acontece que outro dia, um irmão da igreja me presenteou com a novidade do momento, que é o pau de selfie. No começo gostei muito, visto secvtratar de um pau robusto, ágil e sempre em riste. Mas com o passar dos dias, aquele pau foi entrando na minha mente e, durante meus sonhos, se transformou em um belo pênis. Aí que agora eu acordo no meio da noite, todo suado e pensando nele O meu pastor disse que pau de selfie é coisa do capeta e que eu deveria dar o pau para ele, para que o pau fosse abençoado. Assim Mestre, gostaria que se posicionasse sobre o pau de selfie e sua opinião: devo dar ou não, o meu pau de selfir para o meu pastor?
Pãããããta que o pariu!!! O Marreta virou agora consultório sentimental da bicharada! Meu fã-clube GLS está prestes a superar o do deputado Jair Bolsonaro.
Não me surpreendeu o gosto do ex-boiola pela seção Mimetismos do blog. Mimetismo não é bem, como ele falou, coisas diferentes mas que são parecidas, está mais para coisas que são semelhantes e em que uma delas se faz passar pela outra, a ganhar vísiveis vantagens por essa imitação, por tal embuste. A exemplo do que falo e em homenagem ao anônimo ex-boiola, que deve ser bem afeiçoado a tal animalzinho, usarei o caso das cobras coral falsa e coral verdadeira : a primeira não é peçonhenta, mas sua padronagem de cores é muito assemelhada à da coral verdadeira, dona de um dos venenos mais poderosos da natureza; logo, na dúvida, possíveis predadores evitam atacar tanto uma quanto a outra, tanto a falsa como a verdadeira.
Não me surpreendeu a manifestação de interesse do meu amigo ex-boiola pela seção Mimetismos do blog; afinal, o que é um ex-boiola, se não um mimetismo batesiano do verdadeiro macho, do macho das antigas? Fisicamente, macho e boiola são indistinguíveis; assim, basta que o boiola passe a falar, a se vestir, a andar, a gesticular como macho para que a dúvida de quem o vê se instale, o cara é coral falsa ou coral verdadeira? E se o boiola, ainda por cima, arruma uma mulher -  namorada, esposa etc -, o mimetismo batesiano se completa. É o cordeiro em pele de lobo. É o que antigamente se chamava de Denorex, parece, mas não é.
Não sei, obviamente, quem é meu anônimo amigo ex-boiola, mas pouco a pouco, a cada novo comentário, ele vai revelando, não sei se intencionalmente ou não, pistas de sua identidade.
Além de ser evangélico - e percebe-se o grande apreço recíproco entre ele e seu pastor -, deu-me claras pistas, nesse comentário, sobre a designação religiosa a que pertence, à qual se converteu a bem de suas pregas.
Sob que nova pele se ocultaria um declarado entusiasta do mimetismo e da camuflagem? Sob que nova égide se apresentaria quem muito se aconchegou à colorida bandeira GLS? Pensei, repensei, matutei e descobri!!! As semelhanças são desconcertantes e inequívocas! Meu amigo ex-boiola, provavelmente, pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular, e é um mestre do mimetismo batesiano. Confiram :
Bandeira GLS 

 Bandeira da Igreja do Evangelho Quadrangular 

Um abraço, quadrangular amigo ex-boiola!!! Continue a passar sempre por aqui e a me brindar com seus divertidos e espirituosos comentários. Em tempo, já resolveu se vai dar seu pau de selfie ao pastor?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Criança do Pôster

Tava pensando, dia desses, 
No que teria acontecido pra que eu tenha me tornado EU. 
Em como cheguei a esse ponto, 
O que murchou? 
Onde minha meada se fez desencontro? 
O que feneceu? 

Foi quando vi aquele pôster antigo!  

Pensava, cá comigo, 
Onde minha alegria teria capitulado, 
O que degringolou? 
Como cheguei a tal estado?  

Foi quando vi aquele pôster há tempos escondido!  

Pensava, assim meio entretido, 
Em onde meu ânimo teria se rendido, 
O que gangrenou? 
Como atingi essa total falta de sentido?  

Foi quando vi aquele pôster sabendo à naftalina e pó!
 
Pensava, por pensar, nessa minha sina só 
Tentando achar a rachadura por onde minha força escorreu, 
O que definhou? 
Onde tudo se escondeu?  

Foi quando vi aquele meu pôster de criança!  

E já estava lá essa minha face. 
De descaso e desesperança. 
Nada em mim se estragou, 
Nada se desvirtuou, 
Nada apodreceu : 
Aquela criança do pôster 
Há muito já era EU !

sábado, 24 de janeiro de 2015

A Recente História do Brasil

Não consegui identificar o nome do cartunista, mas é genial, uma perfeita síntese dos últimos 20 anos de nossa história. Desgraçadamente.

Peitões Contra o Machismo. Ou a Favor?

Nesta última terça-feira, 20/01, um delicioso protesto tomou conta das areias do Posto 9, o ponto mais famoso da praia de Ipanema. O protesto teve como objetivo chamar a atenção para o machismo e a falta de liberdade das mulheres que, segundo as protestantes, ainda persistem em pleno século XXI.
E para combaterem aqueles que as veem como meros objetos sexuais, como meros depositários de seu prazer, meros estojos para caralhos, elas, numa atitude das mais intelectuais e reflexivas sobre a questão, mostraram os peitos. Sacolejaram as tetonas ao sol de rachar mamona do meio-dia. 
Foi a segunda edição do Topless in Rio! Entre outras coisas, as participantes - sete mulheres que posaram de seios de fora e oito apoiaram vestindo uma blusa com uma foto de seios à mostra - pleitearam (ou será peitearam?) a aprovação legal da prática do topless em praias cariocas, veto que, de acordo com elas, é mantido por questões machistas, de que querer coibir a liberdade feminina.
Discordo. Que machista não gosta de ver um belo par de peitos livre, leve e solto? Que porco chauvinista não se delicia à visão de dois roliços e suculentos melões?
Não sou machista, sou macho. Ao menos, assim me considero. Tanto que, aqui em casa, a dona de casa sou eu. Sou quem me incumbo da grande maioria das tarefas domésticas, faxina, preparar comida, fazer a feira etc. Mas se a existência do machismo garantir mais protestos como este, garantir mais shows de peitos à milanesa, eu vou acabar me convertendo ao machismo.
Meninas peitudas, portadoras dos manjares dos deuses, o machismo não tem nada a ver com a proibição da exibição de seus belos corpos, esse falso moralismo, essa hipocrisia toda, tem um fundo, acreditem, muito mais religioso, essa merda do cristianismo. E, claro, inveja das barangas que não podem exibir suas muxibas em público.
Jamais um homem, machista ou não, oporia-se à aprovação do bronzeamento tetal. As fotos abaixo, tiradas no local do protesto, bem corroboram o que eu digo.
Vejam com que alegria e amistosidade o banhista saúda e, claramente, dá o maior apoio às manifestantes. Cadê o machismo querendo proibir o topless, meninas?
Vejam mais esta. Os banhistas seguem em cortejo as manifestantes, parece mesmo que fazem um cordão de isolamento, protegem a retaguarda delas e garantem a pacificidade do protesto. Vejam a alegria e a concordância da molecada. Reparem no cara mais ao canto esquerdo da foto, com a mão na braguilha, deve estar de pau duro, o filho da puta! 
Repito, não é o homem quem atravanca a liberdade da mulher, é a própria mulher, é a eterna inveja feminina que sabota a luta pela liberdade das tetas. Uma das participantes, a funkeira Renata Frisson, a Mulher Melão, sofreu duras críticas do público feminino presente - sim, das mulheres; dos homens,  nenhuma reclamação ou objeção- , foi acusada de exibicionismo, de querer aparecer, mas ela disse que não está nem aí para as, literalmente, despeitadas. Peito é tabu, e tem que ser liberado, afirmou a Mulher Melão. Concordo com ela. Eu e todos os machos, machistas ou não, do planeta.
É o feminismo encruado, recalcado, cabeludo no sovaco e de peitos caídos que impede o topless  no Brasil, e não o machismo liberal. 
Mulher Melão (ou melões?), na dela, protestando pela liberação do topless, envaidecida pelos olhares e babas masculinos e cagando e andando para as críticas femininas. Algumas insistentes ainda dirão, isso aí é silicone puro. Por dentro, pode até ser, até acho que é. Mas e por fora? Por fora é carne e peitos, dos bons.
Protestem mais mulherada! Endureçam, siliconem a luta por seus direitos. O Marreta do Azarão as apoia. Incondicionalmente.

Mimetismos (12)

Gato da raça Sphynx
Gollum, o hobbit mais macho da Terra Média. Nunca vi ninguém guardar melhor o seu anel, zelar com tanto empenho pelo seu "precioso". Gollum é macho das antigas e não feito aqueles elfos todos esguios e longilíneos, suaves e delicadinhos, loiríssimos e metrossexuais.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A marcha na França e a quermesse na Bolívia informam: é de dois séculos a distância entre a Brasília de Dilma e Paris; por Augusto Nunes

dilma-posse-evo
Dilma Rousseff está em casa, informa a foto que a mostra no meio dos convidados muito especiais que baixaram em La Paz, nesta quinta-feira, para celebrar o início do terceiro mandato de Evo Morales. Depois de três semanas de sumiço, a presidente reapareceu ao lado do anfitrião na fila do gargarejo, com o sorriso de aeromoça que exonera a carranca em momentos festivos. Dilma ressurgiu vestida de Dilma: terninho verde-brilhoso discordando da calça preta que realça o andar de John Wayne.
O rosto risonho não rima com o braço erguido e o punho cerrado. No Brasil, isso é coisa de mensaleiro a caminho da Papuda. Nos grotões infestados de órfãos da União Soviética, ainda é a saudação dos revolucionários a caminho do paraíso socialista. O gesto beligerante é repetido por Morales, pelo equatoriano Rafael Correa e seu terno de atropelado e por um Nicolau Maduro fantasiado de comunista russo que vai dinamitar o trem do czar.
Poupada de mais um fiasco em Davos, longe da zona conflagrada por apagões, inflação em alta, PIB em baixa, tiroteios no saloon governista, fogo amigo do PT, revelações da Operação Lava Jato, delações premiadas e delatados em pânico, fora o resto, a supergerente de araque desencarnou para que Dilma pudesse incorporar a Doutora em Nada. Dispensada por poucas horas da missão de desgovernar o Brasil, sobrou-lhe tempo para resolver os problemas do mundo trocando ideias idênticas com o Lhama-de-Franja e o herdeiro de Hugo Chávez.
Antes que a quermesse terminasse, a trinca feriu de morte o imperialismo ianque, esmagou o capitalismo predatório, expulsou os europeus colonialistas, exterminou a elite golpista, prendeu a burguesia ─ e ficou de completar o serviço no próximo encontro. É compreensível que nenhum dos que aparecem na foto acima tenha dado as caras na imagem abaixo.
chefes de estado- charlie
Aparecem na foto alguns dos governantes de 40 países que neste 11 de janeiro, em Paris, abriram de braços dados a marcha dos indignados com o ataque terrorista ao Charlie Hebdo. Como os demais tripulantes do barco do primitivismo, Dilma está fora do retrato. Enquanto 3,5 milhões de manifestantes protagonizavam a mais portentosa declaração de amor às liberdades democráticas, a presidente descansava no Palácio da Alvorada. O Brasil foi representado pelo embaixador na França.
“Não houve tempo para preparar a viagem”, desconversou o chanceler oficioso Marco Aurélio Garcia. O governo soube da manifestação na quinta-feira. Em poucas horas, o avião presidencial teria chegado ao destino. Pode-se deduzir, portanto, que a ausência que preencheu uma lacuna não foi determinada pela geografia ou pela duração do voo. Caso a medida utilizada tenha sido o estágio civilizatório, Dilma fez muito bem em ficar por aqui. A França é muito longe.
A declaração de guerra ao ao terror ─ o mais perigoso inimigo das modernas democracias do século 21 ─  é uma perda de tempo para a mulher que não perde por nada uma reunião dos cucarachas estacionados no século 19. O fundamentalismo islâmico é primo do socialismo bolivariano. Com Dilma no Planalto, a distância entre Brasília e Paris é de dois séculos.

Botox na Perereca ( Ou : As Xavascas de Dorian Gray)

Uma coisa é o ser humano querer se tornar mais longevo e alcançar vetusta idade a gozar de boa saúde e qualidade de vida; outra (e muito diferente) é querer durar tanto quanto um patriarca bíblico - um Noé, um Matusalém etc - e aparentar ter sempre a idade do menino Jesus.
Mesmo na primeira situação, a pesar bem os pensamentos, não vejo muito sentido. Prolongar ainda mais a permanência de cada pessoa na face da Terra, para quê? Somos mais de 7 bilhões, e logo, logo, o planeta não dará mais conta de nosso perdulário consumo de seu sangue, de seus recursos naturais. Não dará mais conta de nós, ou nos dará as contas - torço pela segunda opção. Mas, enfim, nesse primeiro caso, é só o bom e velho instinto de sobrevivência a falar mais alto, é só a ativação em looping do primeiro comando programado em nosso DNA, do nosso primordial ditame biológico, sobreviver a qualquer custo.
Todavia, na segunda situação, a dos que querem se tornar idosos (no sentido literal, cheios de idade), mas que não querem envelhecer, a dos que passam estupidamente a se devotar ao culto da eterna juventude ao invés de aprenderem a lidar com a decadência do corpo, tomarem conhecimento das cada vez maiores debilidades e, de posse dessa consciência, quando possível, transformarem suas limitações em trunfos, o quadro que se instala não só beira as raias do ridículo, ultrapassa-as.
No segunda situação, a dos velhinhos garotões e das velhinhas periguetes, a questão não é ditada pelo instinto de sobrevivência, sim pela pouca inteligência, sim pela vocação humana ao rídiculo, ao burlesco, ao caricato - outro forte comando programado no DNA da espécie.
É cada vez mais comum - e triste - ver idosos a trajar bonés, bermudões cujos cós deixam as cuecas à mostra, tênis coloridos e fosforescentes; tem um aqui perto de casa que, volta e meia, desce o quarteirão a bordo de um skate (é verdade), e se a molecada chama ele de "tio", ele xinga, desce do skate e vai tirar satisfações. É cada vez mais comum - e igualmente triste - ver senhoras, já sexagenárias ou mais, com cabelos tingidos - multicoloridos, azul, verde, laranja - à parecença de uma cacatua daltônica e/ou psicodélica, a exibir tatuagens nos ombros, espáduas, tornozelos, dorso e peito do pé, e a trajar roupas que, na certa, surrupiaram do guarda-roupa da netinha biscate.
São os jovens da terceira idade, dizem. São sinais de que suas almas não envelheceram, são sinais de jovialidade. Pelo contrário, são claras evidências, isso sim, de avançada senilidade, da total perda de noção do espaço e do tempo que ocupam, é a caduquice que campeia, o Alzheimer que já lhes bate às portas.
E é do Reino Unido, terra do corno Charles, o duque da Cornualha, que nos chega a mais recente novidade estética no quesito velhinhas periguetes : a cirurgia de rejuvenescimento vaginal.
O programa "This Morning", da emissora britânica ITV, está a promover uma espécie de reality show de xavascas murchas e desbeiçadas, no qual as participantes inscritas se submetem a um tratamento para rejuvenescimento da vagina, ao vivo. Sim, ao vivo e a cores. O telespectador desavisado está lá, a zapear, e, do nada, sem mais avisos, dá de cara com um maracujá de gaveta achando que vai voltar a ser pêssego.
Entre as participantes, uma mulher de 74 anos, que namora um homem 30 anos mais novo : "As mulheres são pressionadas a ter um rosto jovem em todas as idades, mas nós nos esquecemos das nossas vaginas. Pensamos que uma depilação à brasileira resolve. Quando saí com o meu primeiro namorado mais novo, olhei para baixo e percebi a vagina com rugas e ressecada", disse. 
Os procedimentos estéticos envolvem a aplicação de um mix de ingredientes com ajuda de um pincel: óleo de coco, vitamina E, mel e clara de ovo.
Pãããããta que o pariu!!! É o dia de princesa da buceta! É a hidratação da perseguida! É o lifting da xoxota! É o peeling da perereca! É o botox na botocuda! Será que tem lipoaspiração também? Reparo de lábio leporino? Lipoescultura? Tirar gordura dos culotes e injetar nos grandes lábios, deixá-los tais e quais à boca da Angelina Jolie?
Pããããta que o pariu!!! São as xavascas de Dorian Gray!!!
"Para ser bem honesta, estou me sentindo mais quente do que de costume. Então acho que está funcionando de alguma forma", comentou a septuagenária após a aplicação. A velhinha tá é com o famoso calor na bacurinha! Papai, ai que calor, calor na bacurinha! Grande Maria Alcina!
A ideia para o programa nasceu da enorme e crescente demanda de britânicas que acorrem  aos consultórios de cirurgia plástica em busca da vagina perfeita.
Essa história me lembrou de uma ex-inspetora de alunos da escola em que leciono. Mulher mais alegre, não me lembro de ter visto, despachada, desapegada de frescuras e de falsos pudores e moralismos, divertidamente desbocada (mas sempre se dando muito ao respeito e nunca faltando com o mesmo a ninguém), de riso tonitruante e até assemelhada fisicamente com a Dercy Gonçalves. 
Mesmo aposentada, volta e meia, aparece lá na escola, jogar conversar fora, rever os amigos, vender cosméticos etc. Numa dessas, estávamos eu e outro professor no estacionamento da escola. Ela chegou e já veio nos abraçar, rindo e falando alto. Falou que fizera pequenas correções faciais, que dera uma esticada na cara para tirar os pés de galinha, reduzira olheiras e papada, soerguera um pouco os cantos da boca.
Então, o outro professor, muito mais antigo de casa que eu e com muito mais intimidade com ela, puxou-a a um canto e perguntou, ao pé do ouvido, se ela tinha dado também uma guaribada na perseguida. Risos desbragados, de fazer inveja à Fafá de Belém, e ela, recomposta, respondeu que não. Para quê?, disse. Só quem vê a "menina", sou eu mesma e o meu marido, e o véio tá com glaucoma!!! Mais gargalhadas! O véio tá com glaucoma... tá certa, ela. Recauchutar a xavasca, para quê? Só quem passa por lá é o pau, e ele até que tem um olho, mas é cego, porra!!! É como diz um amigo meu : que me interessa beleza interior, se meu pau é cego?
Aí está, a turma da xoxota recauchutada, da xereca meia-sola. 

Em tempo : não quero menosprezar a especialidade médica da cirurgia plástica, tampouco as habilidades artesanais, de verdadeiros Rodins, dos cirurgiões, mas rejuvenescer uma buça é relativamente fácil. Quero ver é tirar as rugas do meu saco!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (10)

Mais um típico caso do corno que se apaixona por uma dama da noite, por uma mulher da vida. E esse data das antigas, da época das serestas, de quando o compositor tinha que saber escrever e o cantor, cantar. Essa é do insuperável boêmio Adelino Moreira, imortalizada no vozeirão de Nélson Gonçalves; na minha opinião, o Frank Sinatra brasileiro, ou melhor, o Frank Sinatra é que foi o Nélson Gonçalves dos ianques.
Na canção Meu Vício é Você, o corno vai cantando e decantando as "qualidades" da mulher amada. Chama-a de bonceca de trapo, de pedaço da vida (isso é bonito pra caralho), de farrapo de gente que vive só pra pecar, diz que a quer com todos os vícios, embora saiba que o corpo dela seja o prenúncio do mal (quem é que escreve assim hoje?). Declara-se sabedor de que a amada é dada à boemia, à esbórnia, à orgia.
Mas frente às razões do coração que a própria razão desconhece, o corno seresteiro capitula, joga a tolha no ringue do brio e da dignidade : "Aceito seus erros, pecados e vícios, pois, na minha vida, meu vício é você".
É o corno consciente, sabe que os pequenos vícios são perdoados frente aos vícios maiores. E que vício mais capital que o de ser corno? E é também o corno compartilhador, é o corno que sabe que, muitas vezes, é melhor comer doce de leite em dois do que uma lata de bosta sozinho.
Deixo-vos com uma das grandes pérolas (e agora falo sério) do cancioneiro popular.
Meu Vício é Você
(compositor : Adelino Moreira; intérprete : Nélson Gonçalves)
Boneca de trapo, pedaço da vida
Que vive perdida no mundo a rolar
Farrapo de gente que inconsciente
Peca só por prazer, vive para pecar

Boneca, eu te quero com todo pecado
Com todos os vícios, com tudo, afinal
Eu quero esse corpo que a plebe deseja
Embora, ele seja prenúncio do mal

Boneca noturna que gosta da lua
Que é fã das estrelas e adora o luar
Que sai pela noite e amanhece na rua
E há muito não sabe o que é luz solar

Boneca vadia de manha e artifícios
Eu quero para mim seu amor, só porque
Aceito seus erros, pecados e vícios
Pois, na minha vida, meu vício é você.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Coitadinho Que a Dilma Quis Salvar

Repito e enfatizo : jamais vi consciência classista tão grande como a dos bandidos brasileiros. Daí, o asilo dado pelo PT ao italiano Cesare Battisti, condenado em seu país à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas; em 2010, Lula negou a extradição de Battisti, que hoje deve estar por aí, a curtir as belezas naturais do Brasil, no maior dolce far niente. Battisti integrava a organização Proletários Armados pelo Comunismo; impressão minha ou algo aqui lembra Partido dos Trabalhadores, Movimento dos Sem-Terra etc? 
Depois de Battisti, outra vergonha internacional, a tentativa de intervir na soberania nacional da Indonésia para livrar a cara de um traficante, Marco Archer Cardoso Moreira, de quem a maioria dos brasileiros ficou com o maior dó, com a maior peninha, aposto que teve quem rezou por ele, não duvido que novenas tenham acontecido em pedido de sua graça.
Para mim, Marco Archer Cardoso Moreira, executado na Indonésia por tráfico de drogas no domingo passado, era só um zé mané, um carioca esperto, garotão de praia, querendo tirar uma chinfra de traficante e que se fudeu, entrou de gaiato no navio. Porra nenhuma! O cara era traficante das antigas. Há 25 anos que viajava pelo mundo a carregar sua muamba. O cara era bandido grande e tarimbado. Talvez daí o enorme empenho do PT em livrar o cu dele da reta. 
Para quem ainda está com dó do coitadinho, para quem ainda acha que, independente do crime, nada justifica tirar a vida de alguém, leia a matéria que reproduzo abaixo, copiada do site Pragmatismo Político.

Quem era Marco Archer, o brasileiro executado na Indonésia
Jornalista que entrevistou Marco Archer durante 4 dias na prisão na Indonésia traça o perfil do brasileiro que foi fuzilado no último sábado por sentença judicial
marco archer
Marco Archer
O repórter Renan Antunes de Oliveira entrevistou Marco Archer em 2005, numa prisão na Indonésia. Abaixo, seu relato:
O carioca Marco Archer Cardoso Moreira viveu 17 anos em Ipanema, 25 traficando drogas pelo mundo e 11 em cadeias da Indonésia, até morrer fuzilado, aos 53, neste sábado (17), por sentença da Justiça deste país muçulmano.
Durante quatro dias de entrevista em Tangerang, em 2005, ele se abriu para mim: “Sou traficante, traficante e traficante, só traficante”.
Demonstrou até uma ponta de orgulho: “Nunca tive um emprego diferente na vida”. Contou que tomou “todo tipo de droga que existe”.
Naquela hora estava desafiante, parecia acreditar que conseguiria reverter a sentença de morte.
Marco sabia as regras do país quando foi preso no aeroporto da capital Jakarta, em 2003, com 13,4 quilos de cocaína escondidos dentro dos tubos de sua asa delta. Ele morou na ilha indonésia de Bali por 15 anos, falava bem a língua bahasa e sentiu que a parada seria dura.
Tanto sabia que fugiu do flagrante. Mas acabou recapturado 15 dias depois, quando tentava escapar para o Timor do Leste. Foi processado, condenado, se disse arrependido. Pediu clemência através de Lula, Dilma, Anistia Internacional e até do papa Francisco, sem sucesso. O fuzilamento como punição para crimes é apoiado por quase 70% do povo de lá.
Na mídia brasileira, Marco foi alternadamente apresentado como “um garoto carioca” (apesar dos 42 anos no momento da prisão), ou “instrutor de asa delta”, neste caso um hobby transformado na profissão que ele nunca exerceu.
Para Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, o outro brasileiro condenado por tráfico, que espera fuzilamento para fevereiro, companheiro de cela dele em Tangerang, “Marco teve uma vida que merece ser filmada”.
Rodrigo até ofereceu um roteiro sobre o amigo à cineasta curitibana Laurinha Dalcanale, exaltando: “Ele fez coisas extraordinárias, incríveis.”
O repórter pediu um exemplo: “Viajou pelo mundo todo, teve um monte de mulheres, foi nos lugares mais finos, comeu nos melhores restaurantes, tudo só no glamour, nunca usou uma arma, o cara é demais.”
Para amigos em liberdade que trabalharam para soltá-lo, o que aconteceu teria sido “apenas um erro” do qual ele estaria arrependido.
marco archer
Marco Archer, nos tempos de voo livre
Na versão mais nobre, seria a tentativa desesperada de obter dinheiro para pagar uma conta de hospital pendurada em Cingapura – Marco estaria preocupado em não deixar o nome sujo naquele país. A conta derivou de uma longa temporada no hospital depois de um acidente de asa delta. Ter sobrevivido deu a ele, segundo os amigos, um incrível sentimento de invulnerabilidade.
Ele jamais se livrou das sequelas. Cheio de pinos nas pernas, andava com dificuldade, o que não o impediu de fugir espetacularmente no aeroporto quando os policiais descobriram cocaína em sua asa delta.
Arriscou tudo ali. Um alerta de bomba reforçara a vigilância no aeroporto. Ele chegou a pensar em largar no aeroporto a cocaína que transportava e ir embora, mas decidiu correr o risco.
Com sua ficha corrida, a campanha pela sua liberdade nunca decolou das redes sociais. A mãe dele, dona Carolina, conseguiu o apoio inicial de Fernando Gabeira, na Câmara Federal, com voto contra de Jair Bolsonaro.
O Itamaraty e a presidência se mexeram cada vez que alguma câmera de TV foi ligada, mesmo sabendo da inutilidade do esforço.
Mesmo aparentemente confiante, ele deixava transparecer que tudo seria inútil, porque falava sempre no passado, em tom resignado: “Não posso me queixar da vida que levei”.
Marco me contou que começou no tráfico ainda na adolescência, diretamente com os cartéis colombianos, levando coca de Medellín para o Rio de Janeiro. Adulto, era um dos capos de Bali, onde conquistou fama de um sujeito carismático e bem humorado.
A paradisíaca Bali é um dos principais mercados de cocaína do mundo graças a turistas ocidentais ricos que vão lá em busca de uma vida hedonista: praias deslumbrantes, droga fácil, farta — e cara.
O quilo da coca nos países produtores, como Peru e Bolívia, custa 1 000 dólares. No Brasil, cerca de 5 000. Em Bali, a mesma coca é negociada a preços que variam entre 20 000 e 90 000 dólares, dependendo da oferta. Numa temporada de escassez, por conta da prisão de vários traficantes, o quilo chegou a 300 000 dólares.
Por ser um dos destinos prediletos de surfistas e praticantes de asa delta, e pela possibilidade de lucros fabulosos, Bali atrai traficantes como Marco. Eles se passam por pessoas em busca de grandes ondas, e costumam carregar o contrabando no interior das pranchas de surf e das asas deltas. Archer foi pego assim. Tinha à mão, sempre que desembarcava nos aeroportos, um álbum de fotos que o mostrava voando, o que de fato fazia.
O homem preso por narcotráfico passou a maior parte da entrevista comigo chapado. O consumo de drogas em Tangerang era uma banalidade.
Pirado, Marco fazia planos mirabolantes – como encomendar de um amigo carioca uma nova asa, para quando saísse da cadeia.
Nos momentos de consciência, mostrava que estava focado na grande batalha: “Vou fazer de tudo para sair vivo desta”.
Marco era um traficante tarimbado: “Nunca fiz nada na vida, exceto viver do tráfico.” Gabava-se de não ter servido ao Exército, nem pagar imposto de renda. Nunca teve talão de cheques e ironizava da única vez numa urna: “Minha mãe me pediu para votar no Fernando Collor”.
A cocaína que ele levava na asa tinha sido comprada em Iquitos, no Peru, por 8 mil dólares o quilo, bancada por um traficante norte-americano, com quem dividiria os lucros se a operação tivesse dado certo: a cotação da época da mercadoria em Bali era de 3,5 milhões de dólares.
Marco me contou, às gargalhadas, sua “épica jornada” com a asa cheia de drogas pelos rios da Amazônia, misturado com inocentes turistas americanos. “Nenhum suspeitou”. Enfim chegou a Manaus, de onde embarcou para Jakarta: “Sair do Brasil foi moleza, nossa fiscalização era uma piada”.
Na chegada, com certeza ele viu no aeroporto indonésio um enorme cartaz avisando: “Hukuman berta bagi pembana narkotik’’, a política nacional de punir severamente o narcotráfico.
“Ora, em todo lugar do mundo existem leis para serem quebradas”, me disse, mostrando sua peculiar maneira de ver as coisas: “Se eu fosse respeitar leis nunca teria vivido o que vivi”.
Ele desafiou o repórter: “Você não faria a mesma coisa pelos 3,5 milhões de dólares”?
Para ele, o dinheiro valia o risco: “A venda em Bali iria me deixar bem de vida para sempre” – na ocasião, ele não falou em contas hospitalares penduradas.
Marco parecia exagerar no número de vezes que cruzou fronteiras pelo mundo como mula de drogas: “Fiz mais de mil gols”. Com o dinheiro fácil manteve apartamentos em Bali, Hawai e Holanda, sempre abertos aos amigos: “Nunca me perguntaram de onde vinha o dinheiro pras nossas baladas”.
Marco guardava na cadeia uma pasta preta com fotos de lindas mulheres, carrões e dos apartamentos luxuosos, que seriam aqueles onde ele supostamente teria vivido no auge da carreira de traficante.
Num de seus giros pelo mundo ele fez um cursinho de chef na Suíça, o que foi de utilidade em Tangerang. Às vezes, cozinhava para o comandante da cadeia, em troca de regalias.
Eu o vi servindo salmão, arroz à piemontesa e leite achocolatado com castanhas para sobremesa. O fornecedor dos alimentos era Dênis, um ex-preso tornado amigão, que trazia os suprimentos fresquinhos do supermercado Hypermart.
Marco queria contar como era esta vida “fantástica” e se preparou para botar um diário na internet. Queria contratar um videomaker para acompanhar seus dias. Negociava exclusividade na cobertura jornalística, queria escrever um livro com sua experiência – o que mais tarde aconteceu, pela pena de um jornalista de São Paulo. Um amigo prepara um documentário em vídeo para eternizá-lo.
Foi um dos personagens de destaque de um bestseller da jornalista australiana Kathryn Bonella sobre a vida glamurosa dos traficantes em Bali — orgias, modelos ávidas por festas e drogas depois de sessões de fotos, mansões cinematográficas.
Diplomatas se mexeram nos bastidores para tentar comprar uma saída honrosa para Marco. Usaram desde a ajuda brasileira às vítimas do tsunami até oferta de incremento no comércio, sem sucesso. Os indonésios fecharam o balcão de negócios.
O assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio Garcia, disse que o fuzilamento deixa “uma sombra” nas relações bilaterais, mas na lateral deles o pessoal não tá nem aí.
A mãe dele, dona Carolina, funcionária pública estadual no Rio, se empenhou enquanto deu para livrar o ‘garotão’ da enrascada, até morrer de câncer, em 2010.
As visitas dela em Tangerang eram uma festa para o staff da prisão, pra quem dava dinheiro e presentes, na tentativa de aliviar a barra para o filhão.
Com este empurrão da mamãe Marco reinou em Tangerang, nos primeiros anos – até ser transferido para outras cadeias, à espera da execução.
Eu o vi sendo atendido por presos pobres que lhe serviam de garçons, pedicures, faxineiros. Sua cela tinha TV, vídeo, som, ventilador, bonsais e, melhor ainda, portas abertas para um jardim onde ele mantinha peixes num laguinho. Quando ia lá, dona Carola dormia na cama do filho.
Marco bebia cerveja geladinha fornecida por chefões locais que estavam noutro pavilhão. Namorava uma bonita presa conhecida por Dragão de Komodo. Como ela vinha da ala feminina, os dois usavam a sala do comandante para se encontrar.
A malandragem carioca ajudou enquanto ele teve dinheiro. Ele fazia sua parte esbanjando bom humor. Por todos os relatos de diplomatas, familiares e jornalistas que o viram na cadeia de tempos em tempos, Marco, apelidado Curumim em Ipanema, sempre se mostrou para cima. E mantinha a forma malhando muito.
Para ele, a balada era permanente. Nos últimos anos teve várias mordomias, como celular e até acesso à internet, onde postou algumas cenas.
Um clip dele circulou nos últimos dias – sempre sereno, dizendo-se arrependido, pedindo a segunda chance: “Acho que não mereço ser fuzilado”.
Marco chegou ao último dia de vida com boa aparência, pelo menos conforme as imagens exibidas no Jornal Hoje, da Globo. Mas tinha perdido quase todos os dentes em sua temporada na prisão, como relatou a jornalista e escritora australiana. No Facebook, ela disse guardar boas recordações de Archer, e criticou a “barbárie” do fuzilamento.
Numa gravação por telefone, ele ainda dava conselhos aos mais jovens, avisando que drogas só podem levar à morte ou à prisão.
Sua voz estava firme, parecia esperar um milagre, mesmo faltando apenas 120 minutos pra enfrentar o pelotão de fuzilamento – a se confirmar, deixou esta vida com o bom humor intacto, resignado.
Sabe-se que ele pediu uma garrafa de uísque Chivas Regal na última refeição e que uma tia teria lhe levado um pote de doce-de-leite.
O arrependimento manifestado nas últimas horas pode ser o reflexo de 11 anos encarcerado. Afinal, as pessoas mudam. Ou pode ter sido encenação. Só ele poderia responder.
Para mim, o homem só disse que estava arrependido de uma única coisa: de ter embalado mal a droga, permitindo a descoberta pela polícia no aeroporto.
“Tava tudo pronto pra ser a viagem da minha vida”, começou, ao relatar seu infortúnio.
Foi assim: no desembarque em Jakarta, meteu o equipamento no raio x. A asa dele tinha cinco tubos, três de alumínio e dois de carbono. Este é mais rijo e impermeável aos raios: “Meu mundo caiu por causa de um guardinha desgraçado”, reclamou.
“O cara perguntou ‘por que a foto do tubo saía preta’? Eu respondi que era da natureza do carbono. Aí ele puxou um canivete, bateu no alumínio, fez tim tim, bateu no carbono, fez tom tom”.
O som revelou que o tubo estava carregado, encerrando a bem-sucedida carreira de 25 anos no narcotráfico.
Marco ainda conseguiu dar um drible nos guardas. Enquanto eles buscavam as ferramentas, ele se esgueirou para fora do aeroporto, pegou um prosaico táxi e sumiu. Depois de 15 dias pulando de ilha em ilha no arquipélago indonésio passou sua última noite em liberdade num barraco de pescador, em Lombok, a poucas braçadas de mar da liberdade.
Acordou cercado por vários policiais, de armas apontadas. Suplicou em bahasa que tivessem misericórdia dele.
No sábado, enfrentou pela última vez a mesma polícia, mas desta vez o pessoal estava cumprindo ordens de atirar para matar.
Foi o fim do Curumim."