domingo, 30 de agosto de 2015

A Praça

É que hoje acordei bucólico. Campestre, pastoril. Um Dirceu de Marília. Um velho deus Pã barrigudo a correr pelos bosques da Arcádia e a farejar olorosas e peludinhas bucetinhas de ninfas.
A Praça
(Ronnie Von)
Hoje eu acordei
Com saudades de você
Beijei aquela foto
Que você me ofertou
Sentei naquele banco
Da pracinha só porque
Foi lá que começou
O nosso amor...

Senti que os passarinhos
Todos me reconheceram
E eles entenderam
Toda minha solidão
Ficaram tão tristonhos
E até emudeceram
Aí então eu fiz esta canção...

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...

Beijei aquela árvore
Tão linda onde eu
Com o meu canivete
Um coração eu desenhei
Escrevi no coração
Meu nome junto ao seu
Ser seu grande amor
Então jurei...

O guarda ainda é o mesmo
Que um dia me pegou
Roubando uma rosa amarela
Prá você
Ainda tem balanço
Tem gangorra meu amor
Crianças que não param
De correr...

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...

Aquele bom velhinho
Pipoqueiro foi quem viu
Quando envergonhado
De namoro eu lhe falei
Ainda é o mesmo sorveteiro
Que assistiu
Ao primeiro beijo
Que eu lhe dei...

A gente vai crescendo
Vai crescendo
E o tempo passa
E nunca esquece a felicidade
Que encontrou
Sempre eu vou lembrar
Do nosso banco lá da praça
Foi lá que começou
O nosso amor...

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...(2x)

sábado, 29 de agosto de 2015

Pezinho de Caralho

O gênero Nephentes abriga inúmeras espécies de plantas carnívoras, sendo que as mais comuns são aquelas cujas folhas das extremidades dos ramos se diferenciam e se enrolam em forma de jarro e se tornam uma arapuca e um "estômago" em que insetos e mesmo pequenos anfíbios e aves são capturados e digeridos. As Nephentes são, portanto, as grandes comedoras do reino vegetal.
Recém-descoberta nas selvas do Cambodja, uma singular espécie de Nephentes levou ao extremo a fama de comedor do seu gênero, tornou-se literalmente seu membro mais insigne.
É a Nepehentes holdenii, a planta-pênis do Cambodja, como vem sendo chamada. Segundo as pesquisadoras responsáveis pela descoberta, a planta-pênis pode atingir a envergadura de 30 cm e nasce e cresce fácil em qualquer terreno quente e úmido. Era o minímo esperado, ora. De que valeria ser o correlato fotossintetizante do Kid Bengala se tivesse dificuldade de crescer, de vicejar e pulsar em terreno encharcado?
Os minimamente iniciados e versados nos meandros de Darwin devem estar a se perguntar que conjuntos de fatores ambientais e mutações e recombinações gênicas se aliaram para desembocar em tão pujante espécie. Alguns, sobretudo mulheres da ciência e bichanas acadêmicas, à vista de tal espécime, têm dificuldades de se manter fiéis ao seu pragmatismo, começam a considerar a hipótese da planta-pênis ser produto do Design Inteligente.
Pois digo que nem Darwin e muito menos design inteligente, esse criacionismo disfarçado. A Evolução trabalha duro há pelo menos 3,5 bilhões de anos, incessantemente, noite e dia, sem sábado, domingo nem feriados. Ora, de vez em quando ela também precisa se divertir! A Nephentes holdanii é uma troça, uma zombaria, uma patuscada da Evolução.
Olha a cara da japinha!!! Não sabe se vai sentar agora ou se vai mandar embrulhar pra levar pra casa. Tá é pegando uma muda. Para plantar um verdadeiro jardim do Éden!
Isso me lembrou de uma piada que ouvi num velho LP de vinil do Costinha, O Peru da Festa, um dos maiores humoristas que o Brasil já teve, bem como um grande dum filho da puta. Conta-nos Costinha :
"Todos os dias, ao anoitecer, quando não havia mais literalmente viv'alma no pequeno cemitério da cidadezinha do interior, a viúva visitava o túmulo do falecido. Conversava com ele, contava os afazeres e as novidades do dia, reiterava seu amor eterno, dizia que estava com muitas saudades e se aninhava de cócoras ao lado do túmulo e dava uma mijadinha, afinal, cada um chora por onde sente mais saudades. Todo o dia o mesmo ritual. O zelador do cemitério, tarado e filho da puta que só ele, resolveu, então, que iria comer a viúva, que ainda dava uma bela meia sola. Na noite seguinte, enterrou-se ao lado do túmulo, deixou apenas o pau em riste para fora e ficou a esperar a viúva, que não tardou em chegar para ter sua conversa diária com o falecido e logo se acocorar para sua mijadinha. Ao sentir a protuberência contra suas partes baixas, a viúva levou a mão ao cacete do coveiro, apalpou, apalpou e disse : um caralho... se não me falha a memória, isso é um caralho... Sentou-se e mijou como há tempos não fazia. E foi assim, sem tirar nem pôr, ou melhor, tirando e pondo, tirando e pondo, durante um mês. Até que um dia, adoentado, o zelador da cidade dos pés juntos não foi trabalhar. A viúva chegou e nem conversou com o marido, já foi direto se mijar toda. Sentou e sentiu falta da reconfortante presença de todas as noites, tomou-a de assalto um enorme "vazio interior". No escuro, a viúva tateou o terreno com a mão, com a xavasca e até, quebrando o juramento que fizera ao falecido, de que se nunca dele tinha sido, de outro é que não seria, com o cu. E nada achou. Indignada, bradou aos ouvidos daqueles que não podiam mais ouvir : Moleques filhos das putas, arrancaram meu pezinho de caralho que estava crescendo aqui!"
Pããããããta que o pariu!!!

Que Diferença do Cristão o Ateu Tem?

Luis Gonzaga, o Gonzagão, há tempos perguntava : que diferença da mulher o homem tem? E ele mesmo respondia : espera aí que eu vou dizer, meu bem, é que o homem tem cabelo no peito, tem o queixo cabeludo e a mulher não tem.
E que diferença do cristão o ateu tem? Ei-la:

Adiando

Você merece
Ouvir poucas e boas,
Muitas e más.
Mas deixo para amanhã
(tudo pode ser deixado para amanhã,
inclusive o amanhã).
Adio o meu ódio
E trepamos novamente.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Paróquias de Deus, Consulados do Capiroto

Tenho cá pra mim que a Igreja Católica foi fundada por uma elite de degenerados inteligentíssimos. Justamente para sacralizarem suas perversões, cometerem suas devassidões e atrocidades - guerras santas, genocídios, sevícias, torturas, sodomia, pedofilia, orgias e putarias em geral - em nome de Deus e não incorrerem na justiça dos homens.
A exemplo, só para me valer de um assunto sempre em pauta, nunca tive notícia (posso estar enganado) de um padre pedófilo que tenha sido julgado pela justiça comum, a dos homens. O safado, quando muito, é julgado por seus pares do clero e, no máximo, afastado temporariamente de suas funções, ou transferido para uma paróquia distante da sua, onde ele é um desconhecido e, portanto, está com a ficha limpa para voltar à ativa (ou à passiva), pois o lobo perde o pelo mas não perde o viço.
Blindados pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, a libertinagem campeia gazela saltitante nos meios sacerdotais, brinca tresloucada pelos campos do Senhor. Comportamentos inadmissíveis e condenáveis pela ética e pela moral da maioria das sociedades civilizadas - uma ética e uma moral hipócritas, é verdade, mas enfim... - encontram aceitação, refúgio e guarida no ambiente clerical, que se torna, então, uma espécie de embaixada do capeta, onde o pervertido vai pedir asilo e imunidade.
Paróquias de Deus, consulados do Capiroto.
Às vezes, parece-me que a igreja surgiu como um reduto de bibas, um local seguro e aprazível para a queimação de rosca. Sim, pois se até hoje o homossexulismo é visto por muitos idiotas como um desvio de conduta, mesmo de caráter, como se coubesse à sociedade o papel de fiscal do cu alheio, imaginemos, então, isso lá pelo século III, IV. Agrupar a bicharada em mosteiros fortificados sob a égide e o beneplácito de Deus talvez tenha sido a opção mais viável para botar o fiofó para jambrar. E das mais inteligentes, devo admitir.
Não me deixa mentir, ou ao menos não me refuta, a diocese italiana de Albenga-Imperia, nome que, vertido do idioma de Berlusconi para o azaronês, bem pode significar o Império de Todas as Bengas.
Localizada na região de Ligúria, ao norte da Itália, e dirigida há 25 anos pelo bispo Mario Oliveri (70), a diocese de Albenga-Imperia está sob investigação do Vaticano desde o ano passado, encargo dado ao núncio apostólico Adriano Bernardini pelo próprio Papa Chico I.
O bispo Mario Oliveri é acusado de abrigar "padres playboys" em sua diocese, contra os quais pesam denúncias que, ao meu ver, não têm nada de mais, nem sei por que andam a merecer atenção papal : os padres de Oliveri, à noite, findas suas obrigações para com Deus, atuam como barmen na cidade mais próxima, furtam donativos da caixinha de esmolas da igreja para gastarem com garotos de programa, operam em redes de prostituição masculina, muitos têm passado criminoso, tatuam-se e postam fotos nuas em sites gays. Coisinha pouca! Traquinagens, Papa Chico, travessuras de meninos levados da breca.
Deixe de melindres, Papa Chico! A vida sacerdotal é dura e sacrificada. Deixe os meninos se divertirem um pouco. A Igreja Católica já vem perdendo fiéis a olhos vistos pelo mundo inteiro, com essa pegação no pé, com essa ranzinzice do Vaticano, vai começar a perder também sacerdotes.
Bispo Mário Oliveri - que Mário?

Medo da Seca

De lá para cá
De cá para lá
De lá para cá.
Para que tantas oxítonas
Tantas barítonas?
Tanta ânsia
Tanto trânsito?
Para acordar
Entristecer
Trabalhar
Dormir 
Ser feliz
Cagar 
E morrer
Tudo no mesmo lugar?
Como se nunca houvéssemos tentado
Sonhado
Suado?
Como se sempre fôramos
Pedras sozinhas
Chorando no mesmo lugar?

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Corujex, as Corujas-Pavão

Sou visto muitas vezes como um sujeito ranzinza, conservador, mesmo reacionário. E tendo em vista a atual conjuntura do país, na qual ser moderno é ser idiota, indisciplinado, semianalfabeto, viciado em celulares, zumbi sem personalidade conectado dos pés à cabeça e ao cu a traquitanas eletrônicas, digo que tenho orgulho de que por um fóssil me tomem.
Sem que isso seja um impeditivo, aprecio certas manifestações artísticas de cunho marginal, underground, ou pelo menos certas manifestações artísticas que em suas origens, que lá em seus primórdios, tiveram um caráter marginal e underground, pois o mercado e o establishment rapidamente a tudo cooptam, mercantilizam e domesticam.
Gosto muito do grafite. Meu primeiro contato com ele se deu através das figuras de um dos pioneiros da arte no Brasil, o italiano Alex Vallauri, pintadas nas paredes do SESC - Ribeirão Preto; isso lá na saudosa década de 1980. Tanto que, ainda adolescente - prepotente, inocente, puro e besta - e animado pelas imagens de Vallauri, quis também produzir as minhas. Muni-me de cartolinas, papéis-cartão, papéis-carbono e estiletes para confeccionar meus moldes vazados : mais uma pretensão facilmente posta abaixo pela falta de talento.
Não há uma cena grafiteira significativa e consistente aqui em Ribeirão Preto. Não ao menos pelas ruas por onde ando, e eu, como não dirijo automotores, não tenho nem CNH, ando pra caralho. Conheço bem as ruas do centro, de uns quatro bairros adjacentes e de um mais periférico, e nada de grandes expoentes do grafite por seus muros. Aliás, não é só o grafite que carece de representantes : não há nenhuma cena cultural sólida, seja em que área for, na grande e burra Ribeirão. Culturas de destaque aqui são somente duas : a da cana-de-açúcar e a do rodeio e do sertanejo universitário. No mais, alguns grupelhos que organizam uns saraus aqui, umas mostras ali, uma exposição acolá; muito mais para fazer pose e encher a cara de birita que para qualquer outra coisa. Convivi um tempo nesse meio, sei do que falo, meninos.
Assim, sendo eu também um provinciano - se não em mentalidade, mas com certeza geográfico, pois morei praticamente toda a minha vida aqui, e ninguém consegue se elevar muito acima do meio em que vive -, jamais pude imaginar a magnitude que a arte do grafite atingiu nos grandes centros; magnitude não só em qualidade como também em dimensões físicas.
Estive na cidade de São Paulo há quatro meses. Na volta, pela tal avenida 23 de maio, surpreendi-me com o que vi, fiquei atônito e embasbacado. Sou um cínico, na acepção grega da palavra, da corrente filosófica fundada por Antístenes, que pregava a renúncia aos desejos criados pela civilização e denunciava as frivolidades da sociedade através do deboche e do escárnio por suas convenções. Por isso, quando digo que algo me surpreendeu é porque me surpreendeu mesmo!
De uma hora para a outra, a paisagem dura e claustrofóbica do concreto dos paredões e dos viadutos se transfigurou. O cinza e o fuliginoso foram soterrados por uma avalanche de arte urbana, o grafite. Não esse grafite que, acredito, a maioria de nós esteja acostumada a ver : muito mais inscrições tribais que arte, muito mais toscos desenhos rupestres que produto verdadeiramente pensado e elaborado, e a ocupar poucos metros quadrados aqui e ali.
Nada disso. Paredões de dezenas de metros de comprimento por cinco, seis, dez metros de altura feitos em tela, e com qualidade técnica e criativa diretamente proporcional às dimensões físicas, se não, muitas vezes, superando-as. Não tenho como descrever. As tais mil palavras que, diz o populacho, equivalem a uma imagem, nesse caso, se revelam ainda mais anêmicas e ineficientes. Só mesmo vendo. A quem interessar um vislumbre do que digo, pesquise por um grafiteiro chamado Kobra.
O grafite aqui na cidade é pobre em quantidade e paupérrimo em qualidade. Resume-se ao que eu já disse, rabiscos e pichações, letras umas mais esticadas e pontiagudas, outras mais atarracadas e gorduchas, outras disformes e inintelígiveis, inscrições muito parecidas com a época em que o ser humano não havia desenvolvido efetivamente a linguagem escrita - nossa maior tecnologia.
Há, não obstante e ainda bem, uma doce exceção a esse primitivismo e rusticidade. De uns tempos para cá, alguns muros da cidade - e tenho a sorte de passar por três deles a caminho do trabalho - começaram a servir de ninhos para coloridas e graciosas corujinhas, assinadas por Lola.
À cata de imagens das simpáticas corujinhas para colocar nessa postagem, descobri que Lola é tatuadora de profissão e, ao que me pareceu, nas horas vagas enfeita a cidade com suas Corujex, nome dado por ela aos seus rebentos.
Mas a impressão que tenho, que as Corujex me passam, é que são muito mais que simplesmente corujas que caíram numa lata de tinta, ou em várias. As Corujex (aqui assumo, por conta e risco, que Corujex tenha plural invariável, pesquisei pra caralho sobre plural de palavras terminadas em "x" e nada de conclusivo encontrei) são o resultado do cruzamento entre uma coruja e um pavão.
As Corujex, as corujas-pavão, são uma mistura de mau-agouro com festa de aniversário. São confluências do luto com o carnaval. Híbridos do breu com a aurora. Transgênicos da Lua com o arco-íris.
Têm umas que até se arriscam de ponta-cabeça. Um quê de morcego, talvez?

sábado, 22 de agosto de 2015

Atlântida

Bom seria estivesse aqui, amigo 
Ou pelo menos à distância míope de um aceno: 
Nem beberíamos 
Nem conversaríamos 
Nem lamentaríamos nossas desditas. 
Bastaria-nos a proximidade. 
Mas você está em suas nuvens, 
Penteando suas asas vestigiais e implumes, 
E eu imerso em minha Atlântida paralítica, 
Deixando meu escafandro asmático enferrujar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Loch Ness

O meu pensamento assim se comporta: 
Neblina, colóide branco cegante, 
Névoa infiltrável. 
Do tipo de onde saem os monstros, 
De onde suporam os estripadores. 
Abandono meu pensamento 
Pra receber um beijo seu: 
Gosto. Sinceramente gosto. 
Mas não entendo mais o que ele pode querer me dizer. 

O meu humor, a mim, assim se reporta: 
Nitrogênio e breu rarefeitos em meu ar, 
Útero cistoso, esponjoso. 
Do tipo onde nadam deformidades, 
De onde vêm a furo os suicidas. 
Disfarço meu humor 
Pra retribuir o beijo seu: 
Você gosta. Sinceramente gosta. 
E ainda acha que entende o que ele quer lhe dizer.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Soneto do Desprevenido

Eu lhe amo porque de me defender não houve jeito,
Amo porque de evitar não houve intenção, não houve intento
Porque quebrou o velocímetro em meu peito,
Fui multado porque, às suas placas, aos seus radares, eu não estava atento.

Eu lhe amo porque nunca pensei em lhe amar,
Houvesse pensado, teria me precavido.
Amo porque não consigo deixar de lhe amar
Porque não fui pai desse amor recém-nascido.

Eu lhe amo porque nunca imaginei que você viesse,
Amo-lhe como fosse a última da espécie,
Porque há muito queria amar sem porquê.

Eu lhe amo sem tempo, sem hora, sem ponteiro
Amo-lhe sem maquiagem, amo sua cara saída do travesseiro
Amo porque você é você.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Soneto do Olfato

Esboço de barba a agulhar o rosto
Sou um velho decrépito de 30 e poucos anos
Não mais afeito aos prazeres mundanos
E não há outro tipo de prazer que o já acima exposto.

É que o desejo pelo prazer vem do cheiro.
São fundamentais a estampa, o paladar, a voz, o tato
Porém, todo o conjunto queda não houver beneplácito do olfato
O odor da pele é juiz e veredicto derradeiro.

As mulheres de minha idade ou pouco mais, cheiram a gavetas fechadas
A neuroses e irritantes notas de naftalina desafinadas
Aterrorizam o desejo, só atraem compaixão.

E o cheiro das mais novas
Ah! A fragrância e os olores das mais novas...
As mais novas fedem à traição.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Barrichello na Manifestação Pelo Impeachment

O Clã de Um Homem Só

Engana-te
- o que não é incomum -,
Não tiro das pedras
Inspiração.
Nem leite.
Como também não a extraio
A inspiração
Do peito
Uma vez que igualmente pedra
Monolito de sílex paleolítico.
O que arranco do peito
A duras marretadas
São fagulhas,
Centelhas, faíscas
Para acender minha fogueira.
Que não é para o  bando
Que é flama particular e intransferível
Que levemente fosforece e amorna
Apenas a mim e à minha toca.
E mantém à distância segura
Pernilongos e tigres-de-dentes-de-sabre.
Sou meu próprio clã
E totem.

domingo, 16 de agosto de 2015

Pequeno Conto Noturno (55)

Três e dezoito da manhã, Rubens vê no visor do caixa do supermercado 24h, e passa por ele com 4 latões de cerveja, para bem acabar a madrugada e se garantir umas precárias horas de sono conturbado.
Avista Valéria a uns 5 ou 6 caixas de distância do que está. Ela ainda não o viu. E Rubens pretende chegar até ela sem que isso aconteça, de surpresa, invisível. O que é fácil para ele.
Rubens tem um poder quase que mutante de se tornar invisível, de passar despercebido. Em parte - em uma pequena parte - porque não possui nenhum atributo físico que atraia olhares cobiçosos, Rubens é mesmo feio; em parte - em uma pequena parte - porque se traja sempre com cores neutras de padronagem lisa, preto, cinza, azul-marinho, marrom, meio que se camufla à triste paisagem, Rubens não veste outdoors vermelhos com inscrições douradas; mas, principalmente, Rubens deve seu dom de invisibilidade ao fato de que não é aquele cara que faz com que alguém, ao sair de casa para seus afazeres e atribulações diárias, pense : que puta saudade do Rubens, como seria bom encontrá-lo por acaso no supermercado, no banco, na padaria. Ninguém nunca está pensando em encontrar Rubens : fica fácil se tornar invisível. E ele prefere assim.
Cá entre nós, e que Rubens não nos ouça, ele acredita que prefere assim, mas não tem parâmetros para tal certeza. Nunca foi de outro modo.
Para Rubens, só existem dois tipos de amor, paixão ou como quer que as pessoas chamem a tais brutais reações químicas dos corpos. O amor que acontece, que se realiza, que constrói fortificações, ergue cidadelas com fossos e pontes levadiças em torno dos amantes; que depois são tomadas, invadidas e saqueadas pelos pequenos e insuportáveis defeitos de cada um, pela rotina e pelo tédio ("se esse amor, ficar entre nós dois, vai ser tão pobre, amor, vai se gastar...") e, finalmente, capitulam feito impérios decadentes. E o amor que não acontece, que fica só na intenção, no terreno das ideias, incubado, juntando pó e mofo, fermentando, e que acaba por explodir em pútrida pústula, um furúnculo que vem a furo, um tubérculo no pulmão, uma flor negra de Pasteurella pestis, um sarcoma de Kaposi.
Do segundo tipo, o amor entre ele e Valéria.
O mercado oferece três tipos de bebida quente como cortesia aos seus fregueses, disponíveis em garrafas térmicas à saída do último caixa : uma com chá, outra com café sem açúcar e outra com café com açúcar. Rubens se serve de dois pequenos copos, um com açúcar e o outro sem, e com eles se aproxima de Valéria, que só dá por Rubens quando ele está bem às suas costas, à distância em que ele planejou mesmo que ela o percebesse, à distância que ele quis se fazer visível.
Nem Rubens nem Valéria dizem nada. Rubens estende, então, os dois braços em direção à Valéria, o café sem açúcar na mão esquerda, o com açúcar na direita, mostrando a ela suas opções.
- Qual você prefere? - pergunta Rubens, levantando ligeiramente a mão esquerda em relação à direita - Sem açúcar e com afeto, ou - baixando a mão esquerda e erguendo mais a direita - com açúcar e sem afeto?
Valéria, calada (Rubens não ouvirá a voz dela hoje), pega o café da mão direita de Rubens e volta a ensacar as suas compras.
Eles ainda não estão prontos para ter qualquer tipo de conversa. Rubens segue e entra de novo no mercado. Vai pegar mais dois latões. A madrugada será mais longa do que ele havia imaginado. Mesmo que o sol raie - e ele sempre raia, indiferente - em seu horário habitual.

sábado, 15 de agosto de 2015

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (18)

O corno é um missionário, um abnegado, um reformador de almas. O corno tira a vaca das ruas, das sarjetas, da vida fácil. O corno dá um lar para a puta, conserta-lhe os dentes, cura-lhe as doenças venéreas, matricula-a num supletivo para a puta aprender a ler, dá-lhe a oportunidade de se tornar uma dona de casa, uma mulher de família, até o seu sobrenome o corno dá para a puta.
Mas não tem jeito. Quem nasceu com o gene da biscatice não se emenda, não consegue passar a vida sentando em única piroca. O corno não deve se considerar um perdedor, mas deve desistir da luta. Afinal, mesmo paciência e testa de corno têm limites. 
É fazer como fez Zeca Pagodinho, é chegar para a moça tão dada e dizer : vai vadiar!
Vai Vadiar
(Zeca Pagodinho)
Eu quis te dar um grande amor
Mas você não...se acostumou
A vida de um lar
O que você quer é vadiar

Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar (vai vadiar)
Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar

Agora não precisa se preocupar
Se passares da hora
Eu não vou mais lhe buscar
Não vou mais pedir
Nem tampouco implorar
Você tem a mania de ir pra orgia
só quer vadiar
Você vai pra folia se entrar numa fria
Não vem me culpar, vai vadiar!

Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar (vai vadiar)
Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar

Quem gosta da orgia
Da noite pro dia não pode mudar
Vive outra fantasia
Não vai se acostumar
Eu errei quando tentei lhe dar um lar
Você gosta do sereno e meu mundo é pequeno
Pra lhe segurar
Vai procurar alegria
Fazer moradia na luz do luar, vai vadiar!

Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar
Vai vadiar, vai vadiar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

General Mourão - A Frase da Semana

"As mesmas pessoas que chamam os presidentes militares de ditadores, chamam Fidel Castro de presidente."

Punheta no Mundo Animal

Grande parte do desenvolvimento de nossa inteligência, garantem os evolucionistas, deu-se graças à aquisição de uma ferramenta até hoje única na natureza, a mão com polegar oponível ou opositor, ou seja, um dedo que se dobra em oposição aos demais, permitindo que nós, humanos, sejamos capazes de segurar e manipular objetos como nenhuma outra espécie. Nenhuma outra estrutura criada pela evolução é tão complexa e eficiente quanto a mão humana, quando o assunto é manipular objetos e, posteriormente, modificá-los.
De posse dessa inédita e exclusiva ferramenta, o Homo Sapiens se pôs a matutar sobre maneiras de como utilizá-la, começou a quebrar a cabeça para encontrar serventias para ela. E foi de tanto pensar em usos para o seu polegar oponível que o seu cérebro começou a desenvolver novos processos e caminhos cognitivos, que, assim como o polegar oponível, também são exclusivos da espécie humana.
Foi o polegar oponível que tirou o homem das cavernas e o tornou capaz de construir pirâmides, erguer e destruir impérios e chegar à Lua. Muito mais importante que todos os feitos anteriores, foi também o polegar oponível que tornou o ser humano apto a tocar a boa e velha punheta, a bronha, capacitado a descascar o inhame, descabelar o palhaço, esgoelar o bem-te-vi, depenar o sabiá, espancar o macaco, envernizar o pescoço da girafa.
Em função do ser humano ser o único animal que possui o polegar oponível, até hoje eu pensava que ele também fosse o único animal capaz do famoso cinco-contra-um, da mariquinha-maricota-com-a-direita-com-a-canhota. Afinal, imagine-se, meu amigo, tentando tocar um punhetão sem o uso de seu polegar. Pensava...
Acontece que a natureza não tem predileção por esse ou por aquele filho. A natureza não deixa seus rebentos na  mão, mesmo aqueles que nem têm mão, ou pelo menos não as têm com o salvador polegar oponível.
Várias outras espécies também desfrutam dos prazeres do onanismo, entre elas :
1) Os macacos, é claro, nossos parentes mais próximos. A punheta foi observada em mais de 80 espécies de primatas, entre macacos e lêmures. Apesar de não terem o polegar oponível, eles compensam tal ausência usando as duas mãos no ato;
2) Os golfinhos. Sim, o simpático Flipper também é chegado numa boa bronha. Na hora do aperto, eles esfregam a pistola em qualquer coisa que estiver disponível, paredes de tanques (se estão em cativeiro), outros animais, quaisquer objetos firmes que encontrem no fundo do mar etc. O golfinho, como visto, além de punheteiro também é um encoxador;
3) Os elefantes. O gracioso Dumbo não é portador apenas de uma grande tromba, ele possui também um baita dum caralhão cujos movimentos consegue controlar graças a um forte conjunto de músculos na base do saco. Assim, ele se masturba golpeando repetidamente seu pênis ereto contra a barriga;
4) As morsas, aquelas "focas" com dentões e bigodões, o Leôncio do desenho do Pica-pau. Os machos conseguem esfregar as patas dianteiras ao longo do eixo de seu pau surpreendemente grande e são capazes também de autofelação, ou seja, de pagar um boquete para eles mesmos; vai dizer que você nunca pensou nisso?;
5) Os esquilos. Os frenéticos Tico e Teco são dos maiores maníacos sexuais da natureza. Os machos se masturbam em todas as épocas do ano, mesmo na época de reprodução, quando as fêmeas estão no cio e a punheta poderia ser dispensada. Mas aí é que eles se masturbam pra valer. A bióloga Jane Waterman, da Universidade de Manitoba, no Canadá, a primeira a quantificar este comportamento, sugere que os machos que têm muitas companheiras masturbam-se imediatamente após o sexo para evitar de pegar e espalhar infecções sexualmente transmissíveis;
6) Os morcegos. Os morcegos machos, feito as morsas, também são capazes de se satisfazer com o uso da própria língua, um autoboquete, a qual também podem usar para satisfazer a fêmea. Aliás, o morcego é o único macho do reino animal que prefere quando a fêmea está menstruada. Machos de morcegos vampiros já foram flagrados dando prazer oral a machos de morcegos frugívoros e recebendo de volta, também. Não é à toa aquela velha desconfiança que recai sobre o Batman.
7) Os pinguins. O Happy Feet também não tem nada de puro e inocente. Eles se agarram a pedras, como se elas fossem uma fêmea, e realizam os mesmos movimentos de cópula, chegando a ejetar seu sêmen sobre a terra ou o gelo.
Comportamentos autoeróticos também foram observados em menor grau em alguns répteis como iguanas e tartarugas. A natureza, sem dúvida, é uma grande duma putaria.
Taí o macaquinho tocando uma, provavelmente em "homenagem" à Chita.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Pastel de Feira : A Minha Comida Japonesa Preferida

Há cerca de uma década - possivelmente um pouco menos -, de um lustro - possivelmente um pouco mais -, a cidade de Ribeirão Preto foi tomada por uma profusão de restaurantes de culinária japonesa. Só no bairro em que resido, contei oito; num trecho de pouco mais de dois quarteirões de uma rua no centro da cidade por onde passo a caminho do trabalho, mais quatro; nas páginas amarelas da lista telefônica, parei de contar quando cheguei aos cinquenta. Uma verdadeira invasão dos sabores do Sol Nascente. Um Pearl Harbor de sushis, sashimis, tempuras, shoyus e outras bombas de sódio.
Minha esposa adora comida japonesa; eu como, não é minha preferida, mas eu como, afinal, japonesa eu como de qualquer jeito. Só que não! Só que não é culinária japonesa porra nenhuma! Desafio qualquer um a encontrar um japonês no comando da cozinha de um restaraurante japonês - pelo menos aqui em Ribeirão, e acredito que isso seja extensivo ao estado de SP no geral.
Não há um único par de olhinhos puxados a fatiar postas de salmão ou a enrolar algas em rolinhos de arroz, não há um só súdito de Hirohito. Só tem cabra da peste! A culinária japonesa foi encampada, expatriou-se e naturalizou-se nordestina. Tem muito mais nordestino destrinchando e fatiando salmão e atum que fazendo sarapatel ou costurando bucho de bode. E com destreza até superior à do japonês.
Não é de surpreender. Na falta dos lendários samurais, cujos descendentes poderiam transferir a habilidade no manejo da katana de seus ancestrais para o corte de peixe e à extração cirúrgica da glândula de veneno do baiacu, temos o não menos lendário Virgulino Ferreira, o Lampião, cujos descendentes transpuseram a perícia, a ligeireza e a malandragem do manejo da peixeira, a katana da caatinga, de seus ancestrais para a precisão e a delicadeza necessárias à culinária japonesa, e dela se apropriaram. Aliás, eu duvido que algum samurai conseguisse enfrentar um ás da peixeira e sair da contenda com as tripas dentro do bucho.
Então, não há, Azarão, alguém poderá perguntar, no Brasil, a autêntica cozinha japonesa? Sim. Há. A genuína cozinha japonesa ainda resiste bravamente num último front gastronômico, num último xogunato de opsofagia : as barracas de pastel das feiras livres! O pastel de feira é a verdadeira comida japonesa. E é a minha preferida - claro que a Sabrina Satto também viria bem a calhar e seria muito bem-vinda.
Faço agora o desafio inverso : andem pelas feiras livres de SP e tentem encontrar uma única barraca de pastel que não seja chefiada por um japonês. Inclusive, eu suspeito que exista uma espécie de CRJ - um Conselho Regional de Japonês -, que obrigue a presença de pelo menos um japonês em cada barraca de pastel; o dono da barraca pode nem ser oriental, mas para obter alvará de funcionamento etc tem que pôr um japonês lá, tem que contratar um. Feito são obrigatórias, a exemplos, a presença de um farmacêutico em uma farmácia, imposta pelo CRF, mesmo que ela seja alopática e só venda às vistas de receita médica, ou a de um veterinário, conquista do CRV, em todo pet shop, ainda que lá só se venda ração, xampu e se ofereça apenas serviços de banho e tosa.
Desde já, fica a dica do Marreta para os machos que me leem : quando você estiver com o filme queimado com a digníssima esposa etc, quando a coisa não estiver boa para o seu lado, surpreenda sua companheira e limpe a sua barra, chegue pra ela e diga que vai levá-la para comer uma comida japonesa. Ela vai ficar toda empolgada, primeiro porque é moda e mulher adora moda, segundo porque restaurante japonês é caro pra caralho e mulher gosta de coisa cara, o gosto pode ser uma bosta, mas se for caro, ela come e lambe os beiços. Aí, você pega e a leva para comer um pastel na feira. Sai muito mais barato, meu amigo.
Quando estou de férias, levo sempre meu filho para comermos um belo dum pastel numa feira livre próxima de nossa casa. Há quatro barracas de pastel nessa feira, e eu já experimentei as quatro, sendo que a melhor é a mais modesta delas, uma que fica bem num dos extremos da feira, quase sem nenhum movimento, com uma japonesa e sua filha no atendimento. Excelentes pastéis. Sequinhos. Genorosos recheios. Há os clássicos e indefectíveis de carne e de queijo e também outros sabores menos usuais. Um muito bom de calabresa acebolada, um apetitoso de escarola e bacon e o insuperável e imbatível pastel de bacalhau. 
Uma delícia o bacalhau da japonesa. Molhado e suculento sem ser empapado; salgadinho na medida certa. Tem vezes que vem até com uns pentelhos no meio!
Pããããta que o pariu!!!!!
Pastel de feira, garantido, né?

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Poema Sujo

Hoje não vou nem mesmo me banhar 
Quero feder à heresia 
A esgoto lançado ao mar 
E assim devo me deixar. 
Já que não sou mesmo de nenhuma utilidade 
Pra que toda essa limpeza, 
Toda essa vaidade? 
Nada mais de polir a casca 
E o interior a se desmanchar. 
Que se igualem, pois, os dois 
Que seja tudo única sujeira 
Um único queloide. 
Já que não tenho mesmo nenhuma serventia 
Pra que tanto zelo, 
Tanta assepsia? 
Nada mais de semblante amável 
E um coração que só sabe odiar. 
Serei completo ódio 
E darei estetoscópios ao mundo 
Pra que ninguém deixe de meu ódio escutar. 
Já que não sirvo mesmo pra nada 
Pra que desalojar a imundície, 
Por que não deixar o sebo criar camada? 
Nem a remela dos olhos, hoje, vou tirar 
Vou deixar minha fedentina 
Qual grudenta serpentina 
Em seu perfume do Boticário se enroscar. 
Deixar-me criar fungo 
Crescer craca no dorso 
Leucemia em tudo que é osso 
Raspar essa minha pele de carnaval. 
E já que não sou mesmo de nenhuma função 
Pra que tanta higiene, 
Tanta dedetização? 
E esperar... 
Um motivo, 
Uma necessidade, 
Uma vida, 
Uma nova era glacial.  

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Calor na Bacurinha

Bacurinha
(Maria Alcina)
Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaia pai so é na minha

E la de trás da minha casa tem um pezinho de limão
e la de traz da minha casa tem um pezinho de limão
essa bichinha se lava é com uma barra de sabão

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaia pai so é na minha

E la de trás da minha casa tem um pezinho de limão
e la de traz da minha casa tem um pezinho de limão
quem chama isso bacurinha nunca viu um fui capão

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

E la de traz da minha casa tem um pé de muzumbe
E la de traz da minha casa tem um pé de muzumbe
eu tenho essa bacurinha e eu não do ela a você

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

E meus amigos é cidadão todos me presti atenção
E meus amigos é cidadão todos me presti atenção
Vou pega essa porquinha e vou bota ela junto aquele
barrão


Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

E meus amigos e cidadão arreparo o meu repente
e meus colegas e cidadão arreparo o meu repente
eu tenho essa bacurinha e não do a qualquer gente

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

Ai lá de traz da minha casa tem um pé de desencano
Ai lá de traz da minha casa tem um pé de desencano
A bichinha esta zangada e parece que tá suando

Papai ai qui calor
calor na bacurinha
calor não é na tua aiaiai pai so é na minha

Anagrama Herege

Essa eu recebi por e-mail - sim, eu ainda uso e-mails. Se algum amigo quiser falar comigo, me mandar algum recado, ou ele me telefona (telefone fixo, nunca tive celular), ou me manda um e-mail (redes sociais? um sujeito antissocial como eu?). E já fui pior. Durante os quatro anos em que morei sozinho, fora de minha cidade natal, nem telefone fixo eu tive. 
Eu só atendia por cartas, que, para quem não sabe, é uma folha de papel pautada e escrita a mão, dobrada e colocada dentro de um envelope, que é uma espécie de saquinho retangular de papel, levada a uma agência dos correios, pesada em uma balança de um prato só para que seja determinado o valor da tarifa e, finalmente, selos de valor correspondente são colados ao envelope, no lado do destinatário, que é a pesssoa a quem a carta é endereçada, e não do lado do remetente, que é quem está a enviá-la, sendo que selos são pequenas estampilhas adesivas, geralmente de papel, utilizadas para comprovar o franqueamento de objetos postais ou o pagamento de prestação de serviços postais, normalmente ilustrados com motivos de cunho artístico, histórico e cultural. Sou do tempo do "tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado e rotulado se quiser voar".
Como percebem, eu melhorei muito de uns tempos para cá, estou muito mais condescendente para com a espécia humana; na verdade, desisti dela.
Ao e-mail : ele consta de um anagrama muito bem sacado. Anagramas são palavras ou frases formadas pelo rearranjo das letras de outra palavra ou das palavras de outra frase. Roma e amor é um exemplo clássico de anagrama. Iracema e América, caminho e minhoca, armário e romaria, são outros exemplos.
Podem conferir, para não acharem que é embromação de ateu que não tem o que fazer da vida. Eu conferi. São as mesmas 10 letras, um "J", dois "E"s, dois "S"s, um "U", um "T", um "M", e dois "A"s. Mas sendo um  anagrama é uma via de duas mãos, uma faca de dois gumes, tanto pode servir para pregar a descrença, a secularização, como para promover o proselitismo, tanto para dizer da farsa e do vazio do mito de Cristo como para dizer que dentro de cada ateu há uma fé incubada, prontinha para se alastrar, infectá-lo de cabo a rabo.
De qualquer forma, sei lá se Jesus te ama, mas o certo é que eu não.

domingo, 9 de agosto de 2015

Pinto Brochado

Quem passa por aqui de vez em quando sabe que sou professor, que leciono para o ensino médio e blá-blá-blá. A lista com os resultados do Enem de 2014 foi publicada nesta semana e lá fui eu ver a colocação alcançada pela escola em que leciono - baixei-a na forma de uma planilha de excel, o que simplifica em muito a busca. Do total de 15.640 escolas avaliadas pelo exame, ela ocupa a 7527ª posição. Meio que no meio do ranking. Atingiu a média geral de 507,77 pontos num total de 1.000 possíveis. De novo, meio que no meio. E restringindo cada vez mais o universo de comparação, para que posições relativas (e reconfortantes para o conformismo e para a preguiça) sejam calgadas, ela ficou em 6º lugar entre as escolas públicas estaduais da cidade; fomos terceiro lugar há dois anos e quarto no ano passado.
Mesmo frente ao declínio, tendo em vista de se tratar de uma escola pública de um estado, São Paulo, cuja principal diretriz pedagógica é a promoção automática do aluno - seja ele um gênio ou um semianalfabeto -, o resultado foi considerado satisfatório pelos professores, coordenadores etc. Tendo em vista de se tratar de uma escola que, embora pública, atende a uma clientela de classe média, que come três vezes por dia, que tem sua casa digna para morar, que tem todos os dentes na boca, que é corada e bem nutrida, que tem seus tênis caros pra caralho e seus inúteis celulares de último tipo etc, eu considero que o resultado poderia ter sido bem melhor. Mas, enfim, nem é essa a questão ou o motivo desta postagem.
Acontece que eu tenho sérios problemas com rankings, as listas de classificação. Não me basta saber em que colocação está minha escola, ou a minha cidade, ou minha classificação num concurso, ou, se eu torcesse para algum, a colocação do meu time no campeonato. Quero - tenho - que saber também dos outros listados. Acho que sou uma espécie de mexeriqueiro estatístico.
Claro que não olhei cada uma das quinze mil e tantas escolas, aí já seria compulsão das brabas. Mas fui brincando com a lista na tela do computador, fui rolando-a, para cima e para baixo, aleatoriamente, uma espécie de roleta-russa de nossa miséria educacional, e lendo os resultados das escolas em que parava.
Quando, na posição de número 8.530 do ranking, sediada na cidade mineira de Unaí, surge à minha frente a E.E. Domingos Pinto Brochado. Pãããããta que o pariu! Pinto brochado! Tão de sacanagem! Pelo menos, os pais que batizaram seu rebento com a fatídica combinação de sobrenomes. Qual dos sobrenomes será o advindo da mãe? Ou o pequeno Domingos herdou o pinto brochado exclusivamente do pai, que herdou do avô, do bisavô etc? É de surpreender que os pinto brochados tenha gerado descendência.
Em idade escolar, um nome deste foi uma irremovível folha de caderno afixada às costas do menino Domingos, daquelas em que se escrevem, me chutem, passem a mão na minha bunda etc. Tá vendo só, caro Jotabê? E você se queixando do seu Botelho Pinto.
Não sei qual foi a contribuição de Domingos para seu município nem de que área ele foi emérito representante para receber a comenda de ter seu nome a estampar um estabelecimento educacional. Talvez um político, um prefeito que muito tenha trabalhado e feito pelos concidadãos, ou um médico que dedicara seus dons de esculápio aos desvalidos, ou ainda um valoroso professor.
Se for o último caso, espero que ele tenha exercido o outrora nobre ofício em priscas eras, décadas de 50, 60, no máximo 70. Hoje, um professor Pinto Brochado não aguentaria uma semana em sala de aula, com duas, ficaria louco, com três, seria afastado por depressão e síndrome do pânico, ao fim do mês, pediria exoneração.
E para o alunos da escola Pinto Brochado, então, principalmente para os meninos? Imaginem o menino, em plena adolescência, fase da afirmação de sua masculinidade (ou não), indo de casa para a escola, ou voltando da escola para casa, andando pelas ruas de Unaí a envergar orgulhoso o uniforme de sua escola, a camiseta geralmente branca com o brasão da instituição (nem quero pensar no que há desenhado no brasão) e, em letras garrafais, possivelmente azuis, escrito : Pinto Brochado. Pããããta que o pariu!!! Não há autoestima que resista! Não há psicólogo que dê conserto ao menino! Não há livro de autoajuda que o socorra.
Sou pelo tradicional. Sou a favor do uniforme obrigatório, e dos completos, sapatos, meias, calças e camisa. Sou a favor das salas serem organizadas em filas no pátio e cantarem o Hino Nacional ao início de cada dia letivo. Sou a favor do aluno ficar em pé à entrada do professor em sala de aula. Sou a favor até que lhe batam continência. Nesse caso, contudo, meu apreço pela disciplina vai para as picas. Eu não só apoiaria como também organizaria um motim contra o uso do uniforme. Consegue se imaginar a andar por aí com um Pinto Brochado estampado no peito?
Tendo isso em vista, até que a Pinto Brochado não está tão lá embaixo no ranking, não está tão "caida" assim.
Alíás, essa coisa de nomes constrangedores me lembrou de uma estória. O cara se chamava Francisco Bosta e, obviamente, não via a hora de atingir a maioridade e mudar o nome. Vinte e um anos completados, o cara correu a um cartório e foi informado de que a mudança era possível, sim. Mas havia, claro, um longo trâmite a ser seguido (e, claro, várias taxar a se pagar, que é apenas a isso que se presta a burocracia). Ele tinha que preencher um requerimento, protocolar, reconhecer firma etc etc etc e trazer duas testemunhas, convivas seus de longa data, que atestassem situações constrangedoras por ele sofridas. Porém, assim que ele preencheu o primeiro campo do requerimento, o do nome atual, o tabelião imediatamente o interrompeu. Em vista daquele Francisco Bosta, o tabelião lhe disse que, nesse caso, iria dispensar Francisco Bosta dos morosos caminhos legais, pois a necessidade, mais que isso, a urgência da mudança era inequívoca. O tabelião abriu uma gaveta à altura de seu peito e retirou o formulário final da mudança de nome, para lavrar e oficializar a nova identidade de Francisco Bosta.
- Pois não, seo Francisco Bosta, como o senhor quer passar a se chamar e a ser chamado a partir de agora? - perguntou o tabelião. 
- Pedro Bosta!