sábado, 30 de dezembro de 2017

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (28)

Roberto Carlos é o Rei. E corno.
Que o bom e velho chifre não se atenta para e nem se deixa pôr cerca por classe social ou título de nobreza.
Arthur era rei! E de Pendragon, o Grande Dragão. E era corno. Enquanto o Rei Arthur estava naquela patacoada de unificar a Inglaterra e ficava tirando espada da pedra, seu primo, Sir Lancelot, o Zé Mayer de Camelot, enfiava a sua Excalibur na rainha Guinevere.
Roberto Carlos é rei! E do iê-iê-iê. E é corno. Enquanto o Rei Roberto fica remoendo a separação, imaginando romanticamente o dia-a-dia da amada, a pérfida se diverte e já não pensa nele. Se diverte e já não pensa em mim... lamenta-se o Rei. Ou seja, dá pra outro e nem diz o nome dele à pessoa errada.
Que chifre, hein, bicho, que chifre...

Se Diverte e Já Não Pensa em Mim
(Roberto e Erasmo Carlos)
De manhã vai pro trabalho
Apressada nem se lembra que eu existo
E na pressa dos seus passos
Pisa o coração de quem sofre com isto
Bate a porta do seu carro, liga o rádio
Canta junto os sucessos do momento
E se esquece que até bem pouco tempo
Me cantava seu amor, seu sentimento

Agitando todo dia
Me deixando cada vez mais esquecido
Usa o fax e o telex
Movimenta-se sensual no seu vestido

Às seis horas ela fala ao telefone
Muda o tom da voz, disfarça num sorriso
Um convite pra jantar
Um lugar aconchegante, depois dançar

Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim
Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim

Posso compreender
Tudo teve fim
Mas essa indiferença
É o que dói demais em mim

Corre a noite, é madrugada
E o meu pensamento aumenta o meu ciúme
Imagino ela dançando
E um outro desfrutando o seu perfume

Eu não quero imaginar o fim da noite
Qualquer coisa a mais eu não suportaria
E prefiro acreditar na ilusão de ela voltar
Mas que ironia

Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim
Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim

Posso compreender
Tudo teve fim
Mas essa indiferença
É o que dói demais em mim

Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim
Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim

Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim
Se diverte e já não pensa em mim
Não pensa em mim, não pensa em mim
 Para ouvir o chifre do Rei, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

Um Dia nas Férias (2)

"Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor.
Vai, recupera a paz perdida e as ilusões
Não espera vir a vida às tuas mãos

 Faz em fera a flor ferida e vai lutar"

Um Dia nas Férias

"O momento chegou! Em seu íntimo, você sabe... pois eu sou sua alma! Não há como escapar de mim. Você é frágil... você é pequeno... você é menos do que nada... uma carcaça vazia... um trapo que não pode me conter! Ardentemente, eu queimo sua pele... e assim brilho cada vez mais belo e feroz! Você não pode me deter... nem mesmo com o vinho... ou com o peso da idade! Você não tem como me deter... e, mesmo assim, ainda tenta... ainda foge! Você tenta me abafar... mas sua voz é débil!"

Diálogo Travado Entre Maria do Rosário e o Assaltante que Levou seu Carro, por Eduardo Affonso

- Perdeu, tia!
 
- O quê queísso? O quê queísso?

  - Isso é um assalto, tia. Entrega logo o celular, a carteira, senão leva chumbo.

- Não mesmo! Isso não é um assalto, isso é uma expropriação, uma distribuição de renda, uma socialização dos bens de consumo.

- Não enrola, tia. Larga a chave e vaza!

- Você é uma vítima da sociedade...

- Vítima vai ser a senhora se não calar essa boca e me entregar o carro.

- ... uma criança!

- Que porra é essa de me chamar de criança? Tá pensando o quê? Tenho 16 anos, uma filha de 3, e 15 passagens pela polícia. Me respeita!

- Você só está fazendo isso porque a sociedade te rejeita porque você é afrodescendente e pela sua orientação sexual.

- Tá loca? Eu sou branco que nem a senhora. E que papo é esse de orientação sexual? Tá me estranhando?

- Você pode se autodeclarar o que quiser, e eu vou respeitar sua opção racial e sua construção de gênero.

- Tia, eu não sei o que a senhora fumou, mas seu fornecedor parece melhor que o meu. Agora me dá o relógio, as jóias...

- Você não merece ser chamado de ladrão, porque só está levando de volta o que te pertence. Tudo isso aqui é seu. Foi comprado - literalmente! - com o seu dinheiro.

- Tia, para com isso que a senhora tá me assustando. Eu podia estar no PT, podia estar de mimimi nas redes sociais, mas estou aqui roubando honestamente. Eu quero o carro para fazer outros assaltos, depois vender tudo e comprar droga. Só isso. Não bota ideologia no meio, que eu sou assaltante e traficante, mas não sou bandido.

- Não é bandido? Então fora do meu carro, agora! Eu ia chamar uma ONG, convocar uma manifestação, criar uma 'rexitegue', fazer coraçãozinho com as mãos e falar "gratidão", mas vou é acionar a polícia! E devolve minha bolsa de grife, meu cartão de crédito e meu 'aifone', seu... seu... seu capitalista, fascista, golpista!

- Tá bom, tá bom, eu levo só o carro. E não precisa cuspir, tia!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Deputada Maria do Rosário Tem o Carro Roubado em Porto Alegre (Ou, Comunismo no Cu de Comunista é Refresco)

Maria do Rosário (PT - RS) é petista, comunista, leninista, marxista, trotskista, feminista, ativista, pedagoga (aí acabou de fuder), arqui-inimiga do intrépido Jair Bolsonaro e, claro, baranga pra caralho.
Maria do Rosário é aquela que processou - sem sucesso - Jair Bolsonaro por este ter lhe dito que "ela não merecia ser estuprada". Queria que ele dissesse o quê, que ela merecia ser estuprada? 
Maria do Rosário considera as Forças Armadas e Policiais como instrumentos opressores a soldo de um Estado machista, branco, segregador e de elite.
Maria do Rosário teve seu carro roubado. Ops, roubado não, Maria do Rosário teve seu carro expropriado por vítimas da sociedade que portavam uma arma de fogo em luta por igualdade de renda, saúde, educação, segurança e, principalmente, justiça social.
E, agora, quem poderá me defender, ou no caso, defender Maria do Rosário? O Chapolin Colorado, já vestido a caráter, de vermelho? A quem Maria do Rosário recorreu? A quem a comunista, crítica feroz das forças policiais, chamou na hora do aperto? A quem foi pedir penico? A alguma ONG comunista, para que os líderes dialogassem com o companheiro que expropriou a deputada de seu automóvel, bem de consumo que é um dos ícones do capitalismo e do status social? Foi pedir ajuda às milícias do PT? Aos MST, o propalado exército de Stédile? Aos MTST, o movimento dos "trabalhadores" sem teto de Guilherme Boulos, aspirante a ser um novo Lula, um girino do sapo barbudo?
Porra nenhuma. Maria do Rosário foi procurar a polícia para ajudá-la. Foi a PM que Maria do Rosário procurou para registrar boletim de ocorrência e recuperar seu bem material. Foi pedir ajuda aos opressores, aos órgãos de repressão. Que comunista de merda! Que fragilidade de ideais tem a deputada Maria do Rosário.
Bom, mas, pelo menos, o carro da nobre deputada deve ser um modelo popular, né? Acessível à classe trabalhadora eternamente explorada pelo patrão e pelo Grande Capitalismo, um mero instrumento de trabalho, uma necessidade dos moradores de grandes cidades, e não um símbolo de poder e posição social, certo? A deputada deve dirigir o quê? Um golzinho, um celta 1.0? Ou até, talvez, aferrrada que é aos seus ideais comunistas, um Lada, emblema máximo da indústria automobilística russa, correto?
Porra nenhuma, de novo. A deputada estava a bordo de um Citroen Aircross, com preços em torno de 70 mil reais.
Manterá, a deputada, a queixa criminal contra um companheiro injustiçado pela sociedade? Que não teve as mesmas chances de trabalho e ascensão que ela? Que não teve acesso a boas escolas, a boas moradias e a uma vida digna? Claro que vai. Comunismo, comunismo; realidade à parte. Irá doar seu carro - que já foi recuperado pelo 20º Batalhão de Polícia Militar de Porto Alegre - a alguma instituição para a recuperação de infratores, ops, de injustiçados pela sociedade? Será que passou pela cabeça da ex-ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, cargo que ocupou entre janeiro de 2011 e abril de 2014, que os policiais envolvidos na investigação do roubo de seu carro poderiam, eventualmente, ter de confrontar os assaltantes, ops, os expropriadores, e, pecado dos pecados, atirar contra os filhos das putas? Pensou porra nenhuma. Queria o carro de volta. E só. Como qualquer um de nós.
Cadê a consciência social da deputada, quando o assunto é roubo de uma propriedade sua e não de outrem?
Xico Sá, jornalista,  macho-jurubeba e cronista dos bons sobre as dores do amor e do chifre, nos dá a receita infalível para destruir o amante. Xico Sá recomenda ao corno, ao infeliz em cuja testa o destino achou por bem parafusar objetos pontiagudos, que faça uma viagem de alguns dias, que dê todo o tempo do mundo à traidora e ao amante, que deixe que eles durmam e acordem juntos por vários dias seguidos, que tenham seus problemas, que enfrentem juntos uma TPM, que sejam presenteados com o dia-a-dia, com a rotina. Em pouco tempo, segundo o cronista, o amante baterá à porta do corno para lhe devolver a mulher. Ou seja, amor com amor se destrói.
Receita análoga vale para destruir um comunista. Comunista com comunismo se destrói. Basta que o comuna tenha que realizar a justa divisão de rendas e de patrimônios - de sua renda e de seu patrimônio, e não os do Estado, mantidos com o dinheiro público - para que, instantaneamente, ele se esqueça de Marx, de Engels, do proletariado, da revolução, das massas organizadas, da luta de classes, da emancipação dos trabalhadores, da desigualdade social, dos oprimidos, do regime burguês etc etc.
E chame a polícia. Na maior cara de pau! Sem a menor vergonha na cara!

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Defunto Caguete

Tá faltando defunto vivo na praça!  A violência em terras de Cabral está tão grande que agora deram até para matar quem já está morto!
Criminosos invadiram o velório de Anderson da Silva, 22 anos, que estava a ocorrer em uma residência no bairro Sapiranga, em Fortaleza (CE). O grupo arrastou o caixão até a rua e ateou fogo ao cadáver.
Imagens, é claro, foram gravadas e as informações passadas às autoridades, que já estão a conduzir as buscas pelos autores do crime, cabendo as investigações à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Divisão de homicídios? O cara já tava morto! Será que é isso o que, juridicamente, é chamado de homicídio duplamente qualificado?
A ação incide em crime de vilipêndio de cadáveres e prevê pena de um a três anos, além de multa.
Suspeita-se que o mesmo grupo que o matou a tiros em 25 de dezembro tenha agora tacado fogo no presunto, para se assegurar de que o danado estava mesmo morto. O tal Anderson deve ter sido um sujeito muito querido em vida, muito gente boa. 
Pode ser também que os incendiários sejam amigos do defunto a assegurar o último desejo do morto, o de ser cremado. Mas o mais provável é que o malandro fosse do time da entregação, que tenha caguetado os amigos para a polícia, que o bicho esticado na mesa fosse dedo nervoso.
É o defunto caguete! Valha-me São Bezerra da Silva!

Defunto Caguete
(Bezerra da Silva)
Mas é que eu fui num velório velar um malandro
Que tremenda decepção
Eu bati que o esperto era rife ilegal,
Ele era do time da entregação
O bicho esticado na mesa
Era dedo nervoso e eu não sabia
Enquanto a malandragem fazia a cabeça
O indicador do defunto tremia

(Refrão)

Era caguete sim!
Era caguete sim!
Eu só sei que a policia pintou no velório
E o dedão do safado apontava pra mim
Era caguete sim!
Era caguete sim!
Veja bem que a polícia arrochou o velório
E o dedão do coruja apontava pra mim

Caguete é mesmo um tremendo canalha
Nem morto não dá sossego
Chegou no inferno, entregou o diabo
E lá no céu caguetou São Pedro
Ainda disse que não adianta
Porque a onda dele era mesmo entregar
Quando o caguete é um bom caguete
Ele cagueta em qualquer lugar

(Refrão) 

Para ouvir o velho Bezerra, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Farinhas do Mesmo Saco, ou Mesmas Farinhas Colocadas em Sacos Diferentes?

Caso se mantenham os prognósticos para o pleito presidencial de 2018, os brasileiros terão a tarefa de decidir entre dois extremistas, Lula e Bolsonaro, um de extrema-esquerda e o outro de extrema direita.
Condutas iguais - mesmo radicalismo, xiitismo - em defender pontos de vista e ideologias diametralmente opostos, certo?
Porra nenhuma, pelo visto. 
Um relatório do Exército, de 1989, cita Lula e Bolsonaro como dois lados da mesma moeda, quase que almas gêmeas.
Sobre Lula, o relatório fala sobre a fraude que o sapo barbudo e sua quadrilha, o PT, sempre foram, fala sobre a notícia plantada, pelo próprio PT, de que Lula foi convidado para visitar a China e a União Soviética na época. No relatório fica evidente que o próprio partido forjou a informação a fim de que ela fosse divulgada pela imprensa.
Sobre Bolsonaro, que ele é um Lula de farda. O relatório mostra que Bolsonaro cresceu como sindicalista dentro do Exército e fez sua carreira política calcado num discurso em prol da classe militar, sobre a questão salarial dos oficiais de carreira. Uma vez deputado, nunca fez porra nenhuma pelos seus eleitores. Assim como Lula.
Sem contar que, em meados desse mês, um recorte do jornal "O Estado de São Paulo", de 4 de setembro de 1999, veio à tona no mar infinito da net e revelou um Bolsonaro, à época, simpatizante declarado do regime de Hugo Chavez. Disse Bolsonaro ao Estadão, em 1999, sobre a ditadura vermelha chavista : "É uma esperança para a América Latina e gostaria muito que essa filosofia chegasse ao Brasil. Acho ele ímpar. Pretendo ir a Venezuela e tentar conhecê-lo. Quero passar uma semana por lá e ver se consigo uma audiência".
Será Lula um ditador de macacão de operário? Ou Bolsonaro um sindicalista comuna encostado de farda verde-oliva?
Farinhas do mesmo saco, ou mesmas farinhas colocadas em sacos diferentes?

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Recesso de Natal

Volto(?), quem sabe, com mais textos depois do Natal. Ou não, caetaneamente.
Deixo-vos, nesse ínterim, com meu presentinho ao pé da árvore.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Instantâneos De Um Remoto e Saudoso Passado (14)

Ah, saudades... Dos tempos em que os substantivos eram exatos, em que podiam nomear, sem medo, os seres aos quais se referiam. Ah, saudades... Dos tempos em que os adjetivos eram espelhos fidedignos do que qualificavam, dos tempos em que não podiam ser processados por revelar a verdadeira natureza e particularidades do substantivo ao qual serviam de apêndice.
Saudades dos tempos em que podíamos dar nomes aos bois. Saudades dos tempos em que bandido era adjetivado de bandido. Saudades dos tempos em que o politicamente correto não havia ainda silenciado as opiniões, calado os espelhos, castrado a gramática.
Saudades dos tempos em que os direitos humanos não eram extensivos e aplicáveis às bestas feras, dos tempos em que bandido bom era mesmo bandido morto. E não feito em celebridade das redes sociais. Saudades dos tempos em que os policiais davam um "sumiço" na bandidagem. E não posavam felizes ao lado do filho da puta para uma selfie.
Alguém consegue imaginar uma manchete dessa hoje em dia? Iriam presos o dono do jornal, o editor, o repórter, o fotógrafo, o revisor, o motorista do caminhão que distribuiu o jornal para as bancas e o jornaleiro. Todo mundo iria preso. Menos o bandido. Menos o vagabundo.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Macarrão à Azaronesca

Em tempos pródigos em Masters Chefs e outros big brothers culinários, o Azarão resolveu sair da despensa e revelar ao mundo os seu dotes gastronômicos.
Trago-vos, sem maiores delongas, o Macarrão à Azaronesca, prato de acentuada inspiração na cozinha italiana, uma combinação única, um amálgama e uma síntese de minhas ascendências da Calábria.
Não pensem, contudo, que, por isso, o Macarrão à Azaronesca seja um prato regional, uma receita caseira herdada da nona, ou comida servida em self services e botecos pé-sujos.
O Macarrão à Azaronesca é iguaria de alto refinamento, conhecida nos principais polos gastrônomicos mundiais, por outros nomes, claro. Em Paris, não há bistrô que não traga em seus menus a Le merville pâtes du Malheureux; em Madri, as dançarinas de flamengo tocam castanholas e gritam olé para El espagueti del Malasuerte; em Tóquio, a japonesada arregala os olhos de prazer ao levar os pauzinhos à boca com o Macaron do Azaron, né?; em Berlim, os chucrutes levantam seus canecões de cerveja e saúdam em uníssono a Pasta Heil, Azarrrrron!
À receita, pois :
Macarrão à Azaronesca
tempo de preparo : 1h30
dificuldade : médio
rendimento : 8 a 12 porções

Ingredientes
- 250 g de macarrão parafuso tricolor
- 1 brócolis ninja médio (300-400g)
- 2 gomos grandes (3 se o cozinheiro for viado) de linguiça calabresa defumada
- 3 dentes não cariados de alho 
- 1 caixa de tomates-cereja
- 1 maço de manjericão fresco, ou 10 g do desidratado
- 4 latas de cerveja.

Modo de preparo
- Cozinhar por 8-10 minutos o macarrão em água com sal e óleo. O amido e o glúten da massa compõem a base da receita, dando o toque aveludado, macio e aconchegante do prato - uma pantufa para paladares carentes. E tem que ser obrigatoriamente o macarrão tipo parafuso tricolor, esse é um item insubstituível. Isso porque um bom prato deve falar ao maior número possível dos nossos sentidos. As voltas do parafuso são sequências matemáticas de Fibonacci - nos toca o intelecto - e as cores sortidas do macarrão dão um toque lúdico ao prato, um sabor de infância, de lápis de cor e de gizes de cera;
- O brócolis, cozido no vapor, traz o verde à construção do prato, permeando-o com o frescor e a leveza de um passeio matutino pelos campos bucólicos da alma e das papilas gustativas. Acrescentá-lo picado ao macarrão;
- Cortar a linguiça calabresa em rodelas grossas e, depois, em cruz e fritar os pedaços na própria gordura. A linguiça agregará o sabor, a sustância e o brilho da gordura ao prato, além de também imprimir uma certa rusticidade, um elemento de macheza, uma paudurescência, uma assinatura masculina ao produto final. Juntar a linguiça ao macarrão e ao brócolis e reservar a gordura liberada;
- Descascar alho, picar alho, socar alho, fritá-lo na gordura da linguiça e juntar tudo ao macarrão, ao brócolis e à linguiça, incorporando à receita as suas propriedades medicinais, seu luxuoso odor e protegendo contra o mau-olhado;
- Acrescentar os tomates-cereja, que irão equilibrar a arquitetura do prato com sua acidez discreta, passivo-agressiva;
- Espalhar, feito folhas caducifólias de inverno, o manjericão, que trará ao prato ares mediterrâneos e elementos antioxidantes, fazendo um contraponto a um possível excesso de gordura da linguiça.
- Por fim, é só misturar tudo. De preferência com as mãos. Dê preferência às mãos.
Como bem se pode ver, o Macarrão à Azaronesca é um prato que transcende o gourmet, um prato que, muito mais que várias camadas de sabor, apresenta uma hierarquia de sabores, cores, odores e texturas.
E as quatro latas de cerveja, poderão perguntar os mais metódicos, onde entram na receita? São pro cozinheiro ir bebendo durante a hora e meia de preparo do prato, ora porra!
Apesar da notoriedade internacional do prato, existe ainda uma barreira de preconceito muito grande contra a gastronomia brasileira. O Macarrão à Azaronesca nunca foi laureado com nenhum dos principais prêmios da cozinha internacional. Nunca ganhei uma estrela de Michelin. Só uma do PT.
Pããããããata que o pariu!!!!

em tempo : os que gostaram do Macarrão à Azaronesca poderão também se interessar pela Sopa de Tomates do Azarão.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

FEBRIL

Minha cabeça está a prêmio,
Meu pescoço, por um fio.
Tudo trava,
Calo toda palavra
E vou dormir febril.
 
Minha corda é sempre bamba,
Meu caminho, escorregadio.
Tudo é confusão,
Sufoco toda emoção
E vou dormir febril.

Meus dias são sempre escuros,
Minhas noites, desvario.
Tudo embriaga,
Anestesio cada chaga
E vou dormir febril.

Minha lógica não tem forma,
Meu pensamento, doentio.
Tudo é desatino,
Sem controle, alucino
E vou dormir febril.

Meu coração é pantanoso,
Meu peito, terreno baldio.
Tudo é tristeza,
Foge de mim toda a beleza
E vou dormir febril.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Cristo do Cu Oco

Uma cápsula do tempo é um recipiente destinado a armazenar informações de uma determinada época e concebido com o intuito de que possa ser encontrado, aberto e decifrado pelas gerações futuras - mais um indício do medo patológico que o ser humano tem da morte, outra tentativa de se eternizar no planeta, um retrato da pretensão humana em pensar que sua vida é mais significativa para o Universo que a de um inseto, a de uma ameba, a de um meteoro que se consome e se vaporiza em brilho, a de uma subpartícula com um nanossegundo de prazo entre o primeiro choro e o último suspiro.
As cápsulas do tempo podem ser intencionais, as fabricadas por seres humanos, ou não intencionais, as fabricadas pela natureza, classificadas, nesse caso, em paleontológicas - um fóssil, por exemplo - e arqueológicas - vestígios de antigas civilizações extintas, como a de Pompeia que foi soterrada e preservada pelas cinzas incandescentes do vulcão Vesúvio.
A primeira cápsula de tempo de que tomei conhecimento, uma intencional, e que muito me impressionou à época, foi através de um velho livro de história do colegial. A empresa estadunidense Westinghouse, para dar mostras e provas da qualidade de seus produtos, criou um artefato feito de uma liga de níquel e prata com propriedades semelhantes às do aço leve e com uma durabilidade infinitamente maior, segundo a empresa. A cápsula foi enterrrada como parte do evento Exposição Mundial de Nova Iorque de 1939 e tem sua "exumação" prevista para o ano de 6965, ocasião na qual, garante a empresa, o artefato estará intacto. Seu conteúdo consta de prosaicismos : um carretel de linha e uma boneca, um livro que descrevia a cápsula e os engenheiros responsáveis por sua criação, um frasco de sementes de culturas de alimentos básicos, um microscópio e um microfilme com instruções para uma possível reprodução futura do material gravado.
A agência espacial americana, a Nasa, também tem várias cápsulas do tempo "enterradas" no espaço sideral, a Voyager e as Pioneer 10 e 11, carregando informações que o americano considera relevantes sobre o ser humano e suas civilizações.
Não é preciso, no entanto, acesso à altas tecnologias para fazer a sua cápsula do tempo, para deixar seu recado e seu imprescíndivel legado para as gerações futuras. Praticamente qualquer coisa pode ser reutilizada e convertida em uma cápsula do tempo. Um garrafa, uma mala velha, uma caixa de sapatos, uma lata de tinta ou de leite em pó, um cofre, o fundo falso de uma gaveta. Ou, um blog. O Marreta mesmo, embora não tenha havido (e nem haja agora) a intenção de, não deixa de ser uma cápsula do tempo. A maioria das pessoas, contudo, espalha suas cápsulas do tempo pelo planeta na forma de filhos - as proles são cápsulas do tempo com informação sobre o DNA das espécies.
E se você fosse um padre espanhol do século XVIII e quisesse esconder uma mensagem secreta destinada às futuras gerações? O que usaria como sua cápsula do tempo? Algum dos objetos litúrgicos, um cálice, um turíbulo, uma galheta, uma âmbula? Pouco prudente. Confeccionados, muitos deles, com metais nobres, sempre foram alvo da cobiça de ladrões e a cápsula do tempo do padre teria duração por demais efêmera. O mais provável é que o padre escondesse as revelações de sua época ou num compartimento oculto no altar, ou num nicho de difícil acesso da arquitetura da igreja, ou ainda dentro do oco de alguma imagem feita de gesso, madeira ou cerâmica.
Uma imagem sagrada, uma estátua de madeira representando Jesus Cristo, foi o recepiente usado por Joaquín Mínguez, capelão da catedral do Burgo de Osma, em 1777, como sua cápsula do tempo, o receptáculo no qual o religioso acondicionou um manuscrito de sua autoria e o remeteu para o futuro.
A descoberta se deu por acaso, por uma empresa de restauração que estava a dar um trato, uma guaribada na estátua de nome Cristo del Miserere e despertou a atenção de historiadores.
A maior surpresa nem se deu exatamente pela descoberta do manuscrito, afinal, como afirma Efrén Arroyo, historiador e membro da Fraternidade da Semana Santa de Sotillo de la Ribeira, não chega a ser incomum a descoberta de documentos escondidos em velhas estátuas religiosas. O espanto se deu pelo inusitado da localização do documento : Joaquín Minguéz ocultou o seu manuscrito na bunda de Jesus, no fiofó do Nazareno, lá onde o sol não bate.
Pããããããta que o pariu!!! Isso nem é mais uma cápsula do tempo. É um supositório do tempo!!!!
Eu já tinha ouvido falar em santo do pau oco. Em Cristo do Cu Oco, é a primeira vez.
E o que contêm os manuscritos do capelão? Que informações aterradoras e hacatômbicas justificariam a violação da dignidade e da hombridade do Filho de Deus? Que segredos de tais gravidade e relevância mereceriam ser guardados assim, a sete pregas? O sentido da vida? Revelações pré e pós-apocalípticas? O nome do Anticristo?
Nada disso. O fiofó do Cristo rodou por nada, por bobagens, trivialidades. Os manuscritos trazem o nome do escultor da estátua, o nome do rei de então, Carlos III, as culturas agrícolas da região (trigo, centeio, cevada, uva), as doenças mais comuns da época (como malária e febre tifoide), os entretenimentos mais populares (carteados, jogos de bola e jogos de bar) e outros fatos do cotidiano. O objetivo do padre não foi revelar segredos ocultos do Cristianismo, só deixar um instantâneo de seu tempo para a posteridade. E enfiou tudo no cu de Cristo.
Primeiro, Cristo foi traído por seu amigo, humilhado e chicoteado em via pública e morto por crucificação ao lado de ladrões; agora, Cristo é arrombado, tem suas pregas rompidas. E tem cristão que ainda espera a volta do Filho de Deus, que acredita em seu retorno.
Sei não, mas eu, no lugar dele, não voltava nunca mais. Passaria longe desse planetinha de merda. E com a bunda virada pro lado do Sol.
Pããããããããta que o pariu!!!

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Nascimento de Jesus é Fake News

O nascimento de Jesus é Fake News! Esse é o conteúdo de um dos outdoors da já tradicional campanha de natal (ou antinatal) dos AA, nos EUA.
E não! AA não são os alcoólicos anônimos ianques. É a associação American Atheists, e fake news é o termo em inglês que designa notícias inventadas que causam uma grande confusão sobre os fatos básicos dos eventos do cotidiano.
Segundo o AA, o outdoor, que já causou revolta e ódio sanguinário nas comunidades cristãs de Tulsa e de Oklahoma City, não é desrespeitoso, pois o nascimento de Jesus é mesmo fake news, que não há na Bíblia sequer a menção de que Jesus tenha nascido no dia 25 de dezembro em um bercinho de sapé e que os reis magos fossem três, e que a própria Igreja Católica já admite isso.

Será? Não serão apenas calúnias e maledicências do AA com vistas a chamar a atenção para a associação e arrebanhar mais uns membros e contribuintes? No fim das contas, uma igreja atrás de donativos como qualquer outra, o AA? Afinal, não é porque é ateu que é, necessariamente, honesto.
E já falei por aqui algumas vezes : uma coisa é se reunir e se congregar em torno de uma crença, ainda que ela seja absurda e improvável, outra coisa, muito pior, é se reunir em torno de uma descrença, feito essas associações de ateus.
Sou ateu. Mas trato com muito mais atenção esses mórmons, ou testemunhas de Jeová, que, vez por outra, me abordam na rua - acho que tenho cara de quem precisa ser "salvo" - do que certamente trataria se abordado por uma associação de ateus. Fosse, tenham certeza, os mandaria tomar no cu! Ao menos, os adeptos das seitas citadas, lá na cabeça deles, acreditam mesmo que estão tentando acrescentar algo à vida dos que abordam, proporcionar alguma espécie de conforto. O proselitismo ateu, por outro lado, busca apenas suprimir, extirpar, sem deixar nada em troca no lugar.
Ateu de verdade, ateu das antigas, não quer fundar associações, não quer congregar nada, não quer se reunir, quer é sossego, quer isolamento. Porque, na verdade, em grande parte dos casos, as pessoas pensam que vão a uma igreja por causa de Deus. Porra nenhuma. Vão porque temos (a maioria de nós, pelo menos) genes para o gregário. Fisicamente fracos e incompententes que somos - se comparados a outros animais -, o gregarismo garantiu a sobrevivência da espécie; o apreciar viver em bando, anulando sua identidade em troca de maiores chances de sobrevivência, foi a chave do sucesso evolutivo do Homo Sapiens.
Na maior parte dos casos, as pessoas vão às igrejas não à procura de Deus, sim à procura de outras pessoas que creiam no mesmo Deus que elas, vão à procura de identidade e identificação, vão porque gostam da companhia dos outros do bando, apreciam a comunidade, a amizade e as tradições que acompanham a religião.
Mas voltando às vacas magras, será mesmo fake news o nascimento de Jesus? Fui pesquisar e encontrei "fatos", acredito, desconhecidos até pela maioria dos católicos. O nome do site é - e não tô de sacanagem - O Consolador!
As informações retrocedem a galhos mais antigos da árvore genealógica de Jesus, aos seus avós maternos, Joaquim e Ana. Diz o Consolador que Joaquim era um judeu de posses (há algum que não seja?) e que, em dado momento, foi proibido de realizar doações ao templo e aos pobres por um sacerdote de nome Reuben, por conta de, Joaquim, nunca ter gerado nenhum rebento - era oco, Joaquim. Ao invés de ficar feliz da vida, afinal, iria economizar uns bons trocados, Joaquim caiu em profunda tristeza e decidiu jejuar por 40 dias e 40 noites em uma montanha deserta, dizendo a si mesmo: "Não voltarei ao lar nem pra comer ou beber, até que o senhor venha visitar-me. As minhas orações me servirão de bebida e comida aqui no deserto".
Durante o jejum de Joaquim, o casal, ele na montanha e ela em casa, recebe a visita de mensageiros de Deus, de anjos. O que visitou Ana lhe disse : "Ana, Ana, o senhor ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás a luz a um filho. E o fruto do teu ventre será conhecido em todo mundo". Os dois que visitaram Joaquim : "Joaquim, o senhor ouviu tuas preces, desce daqui e vai a Ana, tua mulher, porque ela conceberá em seu ventre".
Ou seja, parece que os anjos eram meio que a internet de Deus naquela época, o whatsapp do Senhor. Deus já tinha wi-fi instalado por todo o cosmos, mas só ele tinha a senha. Joaquim desceu da montanha, deu uma metida na Ana e, logo, nasceu Maria, mãe de Jesus.
Aos três anos de idade, Maria foi levada a um templo judaico e lá deveria permanecer até os seus 12 anos, idade em que os pais deveriam buscá-la, antes de suas primeiras regras menstruais. Acontece que Maria, ao chegar a essa idade, já se encontrava orfã. Para passar a batata quente às mãos de outro, os sacerdotes reuniram os viúvos da região e, através da orientação de um anjo, José foi eleito para recebê-la como esposa. Agora, o anjo virou agenciador de menores.
Ou seja, José já era um velho quando tomou Maria por esposa, não dava no couro e, portanto, Maria permaneceu mesmo virgem. José, no entanto, em certa feita, precisou se ausentar do lar para ir trabalhar e, foi aí, que entrou em cena o anjo Gabriel, que há muito estava de olho na bucetinha virgem de Maria, só esperando o corno baixar a guarda. O anjo Gabriel, agora assumindo o papel de alcoviteiro, mandou o 171 mais famoso da história ocidental e anunciou a Maria a sua concepção através da intervenção do Espírito Santo.
Ao voltar, o corno José encontrou a esposa já no sexto mês de gestação e, injustamente, pôs em xeque a lealdade e o cabacinho da esposa. O que fazer? Simples. Manda vir outro anjo! Outro mensageiro de Deus fez uma visita a José e esclareceu a situação. Conformado o corno, a gestação de Maria correu e se concluiu de forma tranquila. E ponto.
Fake news? Onde? Tudo tão bem explicado e provado. Realmente má-fé da American Atheists. Blasfêmia da mais torpe e baixa. Falta de Deus no coração. A história não tem furo nenhum, nenhuma inconsistência, nenhuma passagem duvidosa. Tudo dentro do palusível, da mais perfeita razoabilidade. Eu boto fé.
Pãããããããta que o pariu!!!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Todo Castigo Pra Corno é Pouco (27)

Genival Lacerda é paraíba masculino, cabra macho, sim, senhor. E, também, corno. Que o velho chifre não poupa ninguém, tampouco faz distinção de macheza, sotaques, regionalidades ou ritmo musical.
Genival Lacerda é, ou foi, corno, como nos relata no antológico forró "Radinho de Pilha". O paraíba vai pra cidade do Rio de Janeiro, trabalha duro como servente de pedreiro, faz serão, deixa de fumar, economiza, compra e manda um radinho de pilha (o que hoje seria o equivalente a um iphone) pro seu bem, que ficou em sua terra natal à espera de seu regresso. Esperando, sim, porém, não morta. E o que o corno descobre quando torna à sua terra? Que o rádio que ele deu pra ela, ela doou pra alguém. Ela deu o rádio e nem lhe disse nada, ela deu o rádio.
Genival Lacerda, o famoso Seo Vavá, é corno, mas não é manso, é dos brabos, é dos que saem dando chifradas em todo mundo. Ele alerta, prepara o terreno pro acerto de contas com a infiel : eu sou honesto, sou trabalhador, mas não gosto de deboche com a minha cara, não vou enfeitar boneca pros outro brincar, ninguém vai pintar o sete com esse pau de arara.
E não é corno de ameaçar, mas de cumprir com o que promete, é corno da mão pesada, de descer o sarrafo, é corno Lei Maria da Penha : eu não tolero tanto desaforo, tem mulher que só aprende quando o couro desce, pra gente ficar em paz, eu vou lhe dar uma sova, pois o rádio que eu comprei todo mundo já conhece.
Genival Lacerda está certo. Quando ele deu o radinho de pilha pra ela, só cabia pilha pequena, palito. Agora cabe pilha média e corre na cidade que tem cara enfiando até pilha grande.
Dá-lhe, Senador!

Radinho de Pilha
(Genival Lacerda)
Fui pra cidade do Rio de Janeiro
Trabalhei o ano inteiro e fiz até serão
A vida do Paraíba não foi brincadeira
De servente, de pedreiro pra ganhar o pão

Fiz economia, deixei de fumar
Comprei um rádio de pilha e mandei pro meu bem
Fiquei muito revoltado quando regressei
O rádio que eu dei pra ela, ela doou pra alguém

Mas ela deu o rádio
Ela deu o rádio e nem me disse nada, ela deu o rádio
Ela deu, sim, foi pra fazer pirraça, mas ela deu de graça
O rádio que eu comprei e lhe presenteei

Ela deu o rádio e nem me disse nada, ela deu o rádio
Ela deu, foi pra fazer pirraça
Ela deu de graça
O rádio que eu comprei

Eu sou honesto, sou trabalhador
Mas não gosto de deboche com a minha cara
Não vou enfeitar boneca "pros outros brincar"
Ninguém vai pintar o sete com esse pau-de-arara

Eu não tolero tanto desaforo
Tem mulher que só aprende quando o coro desce
Pra gente ficar empate, eu vou lhe dar uma sova
Pois o rádio que eu comprei todo mundo já conhece

Ela deu o rádio
Ela deu o rádio e nem me disse nada, ela deu o rádio
Ela deu, sim, foi pra fazer pirraça, mas ela deu de graça
O rádio que eu comprei e lhe presenteei

Ela deu o rádio e nem me disse nada, ela deu o rádio
Ela deu, sim, foi pra fazer pirraça
Ela deu de graça
O rádio que eu comprei e lhe presenteei
Para ouvir Radinho de Pilha, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O Samba do Padreco Doido

Reginaldo Manzotti. Eis a bola da vez da cristandade alegre e festiva. Eis o novo queridinho da ala católica da chamada renovação carismática. Manzotti, padre e, também, lógico, cantor é o novo hit do lucrativo segmento fonográfico dos cantores de Cristo - e os direitos autorais vão pra quem, é o Espiríto Santo quem os recolhe? Padre Manzotti já vendeu CD pra caralho! Deve ter ganhado sei lá quantas Hóstias de Ouro e Hóstias de Platina.
Mais um boçal fantasiado de padre. Mais um idiota ordenado e ungido por Deus. Deus os adora, os idiotas. Ou não os faria em tão grandes quantidades.
Padre Manzotti não fala nada com nada, não rima lé com cré, chama Jesus de Genésio, uma insanidade só. Seus pronunciamentos são o samba do crioulo doido, ops, do padreco doido. Manzotti é a personificação da Torre de Babel. Por isso, faz tanto sucesso, causa tanto furor. O padre tem mais de 6 milhões de seguidores, só no feicibúqui. Os idiotas se reconhecem e se congregam. E, verdade seja dita sobre eles, são unidos, têm fortíssimo espírito corporativista.
E o padre Manzotti não vem para conciliar, para pregar a paz entre os homens de bem, vem para deflagar conflitos. Não carrega em suas mãos o evangelho do Filho, o do, ainda que falso e hipócrita, perdão, o da tolerência; empunha, sim, a espada flamejante do Pai, o sanguinário, genocida e hecatômbico do Velho Testamento. Não vem em procissão nem em novena, vem em fanática Cruzada. O alvo do ódio de Manzotti : os ateus.
Manzotti mira seu crucifixo giratório contra os ateus e sai atirando. Manzotti quer ver o Demônio - tomaria um café com rosquinhas com ele -, mas não quer ver um ateu. Sorte que a mira do padre, assim como a doutrina que segue, é míope e vesga, e, suas balas, de festim. Seus "argumentos", risíveis, patéticos, de dar dó
Vamos a alguma pérolas do Padre Manzotti, colhidas pelo excelente site Paulopes. É de matar o Padre Vieira de inveja.
"O ateísmo é o culpado pela degeneração da política brasileira e pela perda de prestígio da Igreja Católica."
Bom, como diria Jack, o Estripador, vamos por partes : o ateísmo culpado pela degeneração da política brasileira. Bom, sei de uma fortíssima bancada evangélica - cristãos iguais ao padre -, sei de inúmeros deputados que, quando frente às câmeras de TV, declaram seu voto, em fundamentais questões da nação, em nome de Deus e sei da bancada ruralista, aqueles sujeitos com chapéus de cowboy, com seus conceitos medievais de tradição, família e propriedade e seus cintos com fivelões gigantes com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, o que me leva a crer que a bancada ruralista também seja uma espécie de bancada católica. Mas uma bancada ateia, ou ateísta? Nunca ouvi falar.
Fui pesquisar. Colher dados, não crenças. Uma pesquisa feita entre a última leva de parlamentares, entre a cambada que foi eleita no pleito de 2015, quando da posse de seus cargos, revelou o seguinte resultado : dos 421 deputados, de um total de 513,  que responderam ao questionário proposto, 300 (71,2%) se declararam católicos. Outros 68 (16%) afirmaram ser evangélicos, oito (1,9%) disseram ser adeptos do espiritismo e apenas um deputado (0,23%) afirmou ser judeu. Outros 14 (3,3%) afirmaram ser cristãos, mas não especificaram se seguem alguma religião. Dois (0,47%) disseram seguir todas as religiões, enquanto 19 (4,51%) alegaram não pertencer a religião alguma. Dos 513 deputados, 101 não responderam sobre o tema.
Cadê os ateus aos quais se refere Padre Manzotti? Cadê a poderosa e possuída pelo demônio bancada ateísta? Aliás, a maioria da corja é católica, a mesma religião professada por Manzotti. Se a degenaração da política, como quer o padre Manzotti, está ligada à religiosidade, ou, no caso, à falta dela, ela não foi perpetrada pelos ateus; antes pelo contrário, a putaria é comandada por uma malta de homens tementes a Deus, homens com Deus no coração.
E sorte do padre que a política brasileira não seja orquestrada por ateus. Fosse, não haveria, logo de cara, já no enunciado do primeiro artigo da Constituição Federal, os seguintes dizeres : “Todo o poder emana de Deus, que o exerce de forma direta e também por meio do povo e de seus representantes eleitos, nos termos desta Constituição”. Não se veriam mais crucifixos expostos em repartições públicas. Não teria sido aprovado o ensino religioso confessional nas escolas públicas. E, principalmente, o padre Manzotti teria que pagar pesados impostos sobre a arrecadação de sua igreja, onerosos tributos sobre a lã tosquiada de suas ovelhas.
Os ateus responsáveis pela perda de prestígio da Igreja Católica? Padre Manzotti tá muito doido. Deve tá bebendo o sangue de Cristo com prazo de validade vencido. Tá misturando o vinho da missa com catuaba selvagem. Será que o desprestígio da Igreja Católica não teria mais relação, entre outros, com o fato da Igreja acobertar padres que manifestam carnalmente o seu cristão amor espiritual pelas criancinhas, padres abusadores e estupradores de meninos? Não são ateus que passam a vara na molecada dentro da sacristia, ou do confessionário. Não teria, a perda de prestígio da Igreja Católica, mais relação, só a citar outro e último exemplo, com a eleição de um Papa outrora integrante da Juventude Hitlerista, os efebos do Adolfinho?
Outra pérola do padre : "as faculdades são fábricas de ateus."
De ateus? Dados o sucateamento - planejado - da educação brasileira, o assistencialismo barato das cotas e dos créditos educativos (dinheiro que deveria ser empregado na criação de novas faculdades públicas e não ser apenas mais um modo do dinheiro público chegar às mãos dos empresários privados da educação) e à facilitação quase que promíscua do acesso do despreparado às hostes universitárias, as universidades estão a se tornar verdadeiras fábricas de idiotas, uma produtiva e fordista linha de montagem de imbecis graduados. Mas de ateus?
Algumas universidades públicas, a USP, a exemplo, transgredindo a laicidade do Estado prevista na Constituição, cede espaços em suas dependências para reuniões de grupos de estudos bíblicos. Li uma reportagem, creio que datada de 2012, com dados de que, naquele ano, 78%  dos alunos doutorandos em Biologia Evolutiva, na abertura de suas teses, agradeciam o sucesso de suas empreitas a Deus e, depois, aos pais. O cara se doutora em Biologia Evolutiva e agradece a Deus? Um dos dois livros sagrados, o sujeito não compreendeu direito, ou a Bíblia, ou A Evolução das Espécies, de Charles Darwin. Ou, muito provavelmente, os dois.
Eu passei mais tempo - muito mais tempo - dentro de universidades que a média do cidadão comum. Passei por duas faculdades antes de, finalmente, para alívio de meus pais (e de Deus?), me graduar na terceira. Foram quase 12 anos de vida acadêmica, durante os quais conheci, além de mim, se muito, mais uns três ou quatro ateus. Cadê a tal fábrica de ateus? Antes fossem.
Seguindo com o seu samba do padreco doido, assumindo ares de paranoia, ele diz que é por isso que existem tantos botecos em torno das PUCs, a formar, talvez, na cabeça do padre, uma espécie de cerco à católica universidade, a montar tocaia para desvirtuar os pios e crentes alunos. Botequins demolindo religiões, vocações e igrejas? Mais fácil o inverso, igrejas expulsando botecos, as igrejas de todos os bêbados. Como se deu com o injustiçado Araújo, dono do Bar do Araújo. Ora porra, existem botecos em cada esquina desse país. No bairro em que moro, a exemplo, há um boteco bem ao lado de um asilo, ops, de uma casa de repouso para idosos, que velho, agora, não é mais velho, é uma pessoa com um superávit de anos. O que pretendem os ateus donos de tal boteco, levar os velhinhos para o mau caminho, fazer com que dilapidem suas pensões e aposentadorias com pinga? Há outro perto de um pet shop. Embebedar, e fazer com que se amotinem contra seus donos, poodles, pinchers, pugs, shitzu e outros cachorrinhos de viados?
Trocaram a hóstia do padre Manzotti por comprimidos de ecstasy, ou de LSD. Só pode ser. Pãããããta que o pariu!
Só a título de curiosidade, o padre Manzotti deveria fazer um levantamento de quais são as percentagens de universitários e de frequentadores de boteco entre os seus mais de 6 milhões de seguidores. O resultado iria surpreender o padre. 

sábado, 25 de novembro de 2017

Dilma Rousseff Declara : Sou uma Workalcoholic (Ou, Eu Bebo, Sim, e Vou Vivendo)

Decifrada, enfim, embora sempre tenha estado evidente, a origem do Dilmês, um subdialeto de nossa tão maltratada língua criado pela ex-presidanta (agora só anta) Dilma Rousseff.
Decifrada, enfim, a fonte de toda a inspiração para o léxico do Dilmês, sua etimologia hermética, sua estrutura intrincada de frases, regências e concordâncias desconexas e ininteligíveis, seu discurso entrecortado por longas pausas - como se houvesse um atraso entre o envio da informção do cérebro e o recebimento do estímulo pelo genioglosso, estiloglosso, palatoglosso e hioglosso, os músculos da língua, um delay entre pensamento e fala -, seu palavrório trôpego e bêbado.
Aliás, decifrada a origem do Dilmês, não. Revelada. Que há certos códigos de linguagem que não tem Champollion que dê conta. Que há certas criptografias que só mesmo o criador para quebrar os seus segredos.
É a própria Dilma Roussef que, enfim, revela à nação que ajudou a saquear e a levar para o buraco da recessão como criou seu próprio idioma.
Aos que estavam sentindo falta das pérolas verbais da ex-presidanta (agora só anta), àqueles que já estavam destreinados da gramática e se esquecendo da correta pronúncia do Dilmês, Dilma Rousseff volta à cena para matar as saudades e os presentear com uma videoaula inédita do Dilmês, uma aula de conversação nível avançado. Uma aula magna de Dilmês. E, por tabela, revelar a origem do subdialeto.
Em entrevista a um repórter de Portugal - sim, porque, no Brasil, ladrão de dinheiro público não vai pra cadeia, vai passear na Europa (por que não vai passear na Venezuela, a desgraçada?) -, Dilma mostra que aperfeiçoou ainda mais o seu Dilmês, que até o globalizou, incorporando-lhe termos estrangeiros.
A ex-presidanta (agora só anta) começou a entrevista inventando histórias que nunca aconteceram, puros delírios de grandeza de comunista que foi desmascarada e enxotada do poder. Disse que, quando estava afastada, mas ainda era presidanta, embora não exercesse mais oficialmente a função para qual foi eleita (e quando ela a exerceu?), era obrigada a cumprir expediente no Palácio "do" Alvorada (e não "da"), um local sempre ornado por muitas flores. E que, logo após o seu afastamento, para debochar ainda mais dela, para chutar cachorro morto, as flores do Palácio "do" Alvorada, foram retiradas, confiscadas. E por quem? Pelos golpistas, claro!
Pããããããta que o pariu! Fiquei imaginando Temer e a alta cúpula do PMDB se esgueirando pelas dependências do Palácio "do" Alvorada, protegidos pela calada da noite, todos vestido de ninja, a arrancar, roubar e confiscar as flores, deixando a vida da ex-presidanta (agora só anta) menos colorida e perfumada.
Dando sequência ao seu delírio, Dilma Rousseff disse ao já atônito repórter português que não ficou, porém, muito tempo sem as suas flores. Sensíveis e solidárias às suas tragédia e humilhação, multidões de mulheres acorreram ao Palácio "do" Alvorada levando vasos, buquês e ramalhetes de flores em substituição às que lhe foram usurpadas, junto com o seu poder, pelos golpistas. Só faltou cantar Para Não Dizer Que Não Falei das Flores, do Vandré, outro ícone dos comunas.
Nessa altura da entrevista, o repórter, basta olhar para o semblante do sujeito, já havia desistido de entender qualquer coisa. Só não tirou o microfone da boca de Dilma Rousseff por educação, por ética profissional. Antes o tivesse feito. Ou não. Ou não haveria o encerramento com chave de ouro. Ou Dilma Rousseff não teria nos servido a sua pièce de résistance.
Para coroar seu discurso, seu grandiloquente pronunciamento em Dilmês, Dilma disse que "era dita (e não tida) como uma mulher que tinha uma mania, era obsessiva-complusiva por trabalho, tinha, era uma workalcoholic!" Sou uma workalcoholic! - jactando-se ao repórter.
Pããããããta que o pariu!!!! Alguém deve ter "soprado" para ela a palavra workaholic - do inglês, viciado em trabalho - e ela traduziu para o Dilmês, virou workalcoholic. Trabalho bêbado! Traduzida do Dilmês para o português, assim fica a declaração de Dilma Rousseff : - Sou uma trabalhadora bebum!!!
Revelando, de quebra, como eu disse no começo da postagem, a origem do abjeto e indecifrável dialeto : Dilma trabalhava bêbada! O tempo todo! Workalcoholic que se declara! Aliás, trabalhadora? Tá bom. Dilma tem-se mesmo em alta e irreal conta, megalomania típica de comunistas com aspirações a ditadores
Pudera. Quem sai aos seus, não degenera. Fiel discípula de seu mentor e antecessor Lula, o sapo barbudo, o seboso de Caetés, o Nove-dedos, Dilma deu continuidade não apenas à ideologia e ao modo de governo de seu preceptor - formação de quadrilhas, saques e rapinas do erário público -, mas também mimetizou-lhe em seus hábitos pessoais. E entrou na cachaça! 
Aí, o repórter não aguentou. Encerrou a entrevista e ainda ironizou : "muito bem falado, Dilma." É a vingança do português. É o português fazendo piada com o brasileiro. Aliás, o brasileiro mesmo se fez essa piada de mau-gosto, Lula, Dilma e toda a corja do PT.
Devo, muito a contragosto, nesse caso, assumir a minha concordância com Dilma Rousseff. Se eu pudesse ser também um workalcoholic, trabalharia muito mais feliz, sofreria muito menos no carregar de meu fardo, no cumprir de minha faina, as horas de trabalho passariam céleres. Mas, infelizmente, trabalhar bebum parece ser, como tantos outros, foro privilegiado concedido apenas aos políticos desse país.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Aprendiz de Jardineiro

Uma vez iniciado em seus códigos, a identificação e o apego a ela, à palavra escrita, foram imediatos e irreversíveis. Desenvolvi, ou, o mais provável, dado o instântaneo da empatia, aflorou em mim um enorme apreço, desvelo e devoção à palavra escrita, aos seus caracteres mágicos.
Desenhista frustrado que sou - incapaz desde sempre de transformar uma ideia em uma ilustração, de dar corpo pictórico a um desencarnado pensamento -, a palavra escrita, muito possivelmente, se achegou a mim como um substituto possível ao desenho, uma forma mais capenga de dar forma à ideia, um prêmio de consolação.
Sempre gostei, desde o momento em que aprendi a juntar minhas primeiras letras e sílabas, de ver uma ideia minha tomar forma , um pensamento meu fixado no papel, embalsamado e conservado na forma da palavra escrita, feito borboleta rara e colorida espetada por um alfinete em uma prancha de isopor e a decorar a sala de estar de um mórbido colecionador.
Sou um mórbido colecionador e empalador de minhas próprias palavras. Como às borboletas, mantenho-as espetadas em pontas de tungstênio de Bic Azul. Gosto, amiúde, de relê-las, de apreciá-las, lambê-las, minha própria cria.
Uma vez tendo trilhado, feito um romeiro, o suave caminho da cartilha Caminho Suave, a palavra escrita se tornou em fotografia de minha voz e pensamento tímidos, introvertidos. E tenho álbuns e mais álbuns de fotografias guardados em pastas de plástico, dentro de gavetas com esferas de naftalina por guardiãs. Cada escrito, cada texto, uma velha fotografia. A minha velhice maior nem se vê em minhas faces, se vê na minha escrita, na minha caligrafia - hoje menor, menos inteligível, de inclinação cansada, como quem não vê a hora de chegar o fim da página, da linha.
Cada ideia fixada em palavra escrita, uma cápsula do tempo com minha voz mantida em animação suspensa, uma reserva criogênica de meus pensamentos. Reler um escrito é como pôr para tocar na vitrola um LP com minha própria voz, quiçá um 78 rotações no gramofone.
Uma vez ordenado e consagrado em aprendiz de jardineiro da última flor do Lácio, não me recordo de nenhuma época, fase, momento ou circunstância de minha vida em que eu não estivesse a portar um lápis, uma caneta, um caderninho, um livro, um gibi, uma palavra cruzada.
No primário, eu era muito bom nos ditados e sempre tirava "A" em composição, o que hoje chamam de redação, e, os mais viados, de produção textual.
Olhando minha vida em retrospectiva, que é a diversão predileta de todo velho, me lembro de que sempre escrevi, constantemente. Gostava de caçar e capturar insetos nos terrenos baldios, depois, eu os desenhava em um caderno e escrevia suas características; tinha outro caderno no qual eu escrevia o nome de todo filme a que assistia e fazia minhas considerações sobre, minhas críticas pueris; em outro, fazia o mesmo com cada livro que lia como tarefa escolar; mantive, durante muito tempo, diários, meus muros das lamentações (alguns sobreviveram e os guardo até hoje). Escrevi cartas. Durante uns tantos anos, dada a ocupação profissional de meu pai, que nos levou a morar em várias cidades, escrevi centenas de cartas a amigos distantes (guardo ainda muitas das respostas que recebi). Fui redator e editor do jornal universitário O Pasquímico, cuja publicação sobreviveu a um único número e que foi pior e mais violentamente recebido pela comunidade acadêmica da Quimica -USP - Ribeirão Preto do que a revista Charlie Hebdo pelo estado islâmico.
Então, em 1989, e eis o motivo dessa postagem e de todo esse prolegômeno e lenga-lenga, eu pari um escrito que foi, por falta (ou desconhecimento) de melhor palavra, meu primeiro poema, poesia, ou coisa que os valham. Tenho para com eles, os meus poemas, o mesmo método que tinha para com os besouros que capturava, os filmes a que assistia etc. Escrevo-os em cadernos que sempre carrego comigo, depois os passo a limpo em uma folha ou de sulfite, ou de caderno, numero-os, dato-os e os empacoto. Embora, tenha relaxado, nos últimos tempos, no trabalho de passá-los a limpo. Eles chegaram a uma quantidade que eu jamais suporia quando do primeiro. Os já passados a limpo, o último com data de 24/05/2014, somam 689 poemas; tenho, portanto, ainda uns três anos de poemas dormindo em meus cadernos, esperando ganhar sua forma definitiva. Não sei se cheguei a mil. O dia em que fizer o meu milésimo poema, aposento-me. Igual ao Pelé.
Perguntaram-me, então, recentemente, acredito que aqui mesmo no Marreta, se eu lembrava do meu primeiro poema. Pergunta que trazia clara a enrustida vontade da pessoa ver o tal. Por pura preguiça de fuçar o meu baú, desconversei : disse que sim, que me lembrava dele, mas que não era nada que valesse a pena ser lido, menos ainda publicado.
Hoje, talvez por falta de assunto, resolvi publicá-lo aqui, a minha primeira obra, a Carta de Caminha de minha carreira literária - pãããããããta que o pariu.
Antes de expô-lo à apreciação e, possivelmente, ao escárnio dos leitores do Marreta, tenho que dar, para uma melhor compreensão, alguns esclarecimentos prévios do poema ao qual intitulei : V.
O V, nesse caso, assume várias conotações, conformações e configurações geométricas e espaciais. O poema surgiu por conta de um senhor de um pé na bunda que levei de uma namorada, de uma ingrata (ingratidão, teu nome é mulher) de nome Vanessa. Na época, eu tinha acabado de ler a fantástica minissérie em quadrinhos V de Vingança, de Alan Moore (sim, o filme V de Vingança é baseado na minissérie e, obviamente, mil vezes inferior a ela) e também, intelectual que me julgava, andava às voltas com os poetas concretos. Dessa mixórdia total, mais o pé na bunda e mais o sempre inspirador chifre, nasceu V.
O poema conta com 5 estrofes de cinco versos cada uma - V é cinco em algarismos romanos -, dispostas no papel a formar um outro V, quando lidas diagonalmente para baixo da primeira até a terceira e subindo, depois, pela quarta e quinta. Vários "Vês" dentro de "Vês". Fractais de "Vês".
Um puta dum poema cheio de presunção e de afetação. Uma viadagem só.
Tirei uma foto dele, pois não consegui reproduzir a disposição das estrofes aqui no texto, foto que não está das melhores, mas acredito que, com algum esforço, esteja no limiar do legível.