quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Criacionismo Para Ateus, por Reinaldo José Lopes

"Os pontos mais extremos do espectro político e ideológico têm a desagradável tendência de se encontrar, morrendo juntinhos n'um abraço de afogados - se não pelo conteúdo exato do que defendem, ao menos pelo teor estapafúrdio de seus credos.
Cristãos conservadores adeptos do literalismo bíblico (a crença de que cada sílaba da Bíblia é literalmente verdade, em todos os aspectos), por exemplo, acreditam que o ser humano surgiu há poucos milhares de anos, plasmado pela ação direta de Deus, sem qualquer relação com as demais formas de vida, único ocupante do trono da Criação (logo abaixo do Senhor, é claro). Para simplificar, chamemos essa crença de "criacionismo da Terra jovem" (já que seus adeptos tampouco aceitam os 4,5 bilhões de anos da idade real do nosso planeta). 
Absurdo, dirá o leitor. E, no entanto, talvez mordidos por algum tipo de inveja freudiana de seus oponentes da extrema direita, ateus da esquerda radical frequentemente aderem a uma concepção ideológica que, apesar das diferenças superficiais, funcionalmente diz a mesma coisa que o literalismo bíblico. "Tudo no ser humano é construção social", pregam eles. "Não existe natureza humana. Somos infinitamente maleáveis." Que me desculpe a massa de crentes de ambos os lados, mas isso não passa de criacionismo para ateus.
Convém explicar um pouco melhor onde vejo esses dois extremismos se encontrando. Numa palavra (OK, em duas): excepcionalismo humano. Ou seja, a fé segundo a qual o Homo sapiens corresponde a tamanha exceção entre os demais seres vivos que não faria sentido aplicar as mesmas regras que valem para o resto da Árvore da Vida.
Para os criacionistas "de raiz", os da Terra jovem, é por decreto divino que somos esse ser fora de série; para os neocriacionistas ateus, a invenção da cultura humana nos permitiu um ecossistema simbólico de nossa própria lavra, liberto das amarras da biologia. Bastaria apertar os botões certos na hora de configurar nossas estruturas sociais, políticas e econômicas e pronto: felicidade perpétua para nossos semelhantes.
Infelizmente, acreditar nisso faz tanto sentido, do ponto de vista empírico, quanto achar que o Senhor Deus realmente moldou a anatomia adâmica com argila lá pelo ano 4.000 a.C. Nunca é demais lembrar que os mesmos ansiolíticos e antidepressivos capazes de aliviar os males do coração humano funcionam em roedores ou invertebrados; que líderes chimpanzés são capazes de manobras de fazer inveja ao MDB e a Maquiavel; e que aspectos de transmissão cultural estão presentes em espécies de primatas, cetáceos e corvídeos, entre outras criaturas.
Eu poderia passar os próximos séculos citando exemplos aqui, mas a mensagem geral é clara: o excepcionalismo não fica menos absurdo quando ganha versão laica. Ignorar a natureza humana como o fato de que crimes violentos quase sempre são cometidos por homens jovens, independentemente da cultura, por exemplo, como já escrevi neste espaço --pode levar a pontos cegos trágicos quando se tenta enfrentar problemas sociais, um objetivo louvável que não deveria ser exclusividade de nenhuma orientação política. Somos escravos de nossa natureza biológica? Não, lógico. Mas achar que ela pode ser ignorada, em nome de Deus ou da utopia política, é uma ilusão perigosa."

Em tempo : sou ateu, todos que leem o Marreta o sabem, mas sou ateu em um sentido mais amplo, sou descrente não só de forças divinas, também o sou de qualquer ideologia ou sistema político e, sobretudo, descrente do gênero humano. Concordo com cada palavra e frase do autor do texto acima, independente de raça, credo, posição social ou ideologia política, o bicho humano se considera um ser à parte do resto do planeta, um ser que paira acima de todas as leis naturais, que pode fazer do planeta o seu supermercado, o seu bordel, a sua estância de veraneio. Excepcionalismo é um termo excelente. Nós, construtos de Deus? Bobagem. Nós, construtos sociais, de nós mesmos? Bobagem ainda maior.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Direita e Esquerda : Definições

Esta eu recebi de um velho amigo, por e-mail, uma das melhores definições de direita e de esquerda que já vi:
"Um país é de "direita" quando todo o mundo quer se mudar para lá e ele controla a entrada. Um país é de "esquerda" quando todo mundo quer fugir de lá e ele controla a saída."
Na minha imodesta opinião, isto é praticamente tudo o que precisamos saber sobre direita e esquerda.

Contirubições da Esquerda Para a Sociedade Brasileira

Cientificamente Comprovado

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A Volta do JB

O Jornal do Brasil, o famoso JB, um dos jornais mais antigos e  tradicionais do país, volta às bancas de jornais e de revistas após oito anos de ausência em sua versão impressa. Há oito anos a existir apenas na esfera digital e o papel da edição reinaugural, publicada ontem, já tem destino certo : virar jornal pra embrulhar peixe? Porra nenhuma. Antes fosse, que essa é aposentadoria natural dos jornais. Vai virar - já virou - é jornal pra limpar cu, com grandes riscos, aliás, de arranhar e de "assar" o cu do freguês.
É que, logo de cara, resolveu publicar um artigo supostamente escrito pelo condenado Lula, pelo bandidão Sapo Barbudo.
Não bastasse mostrou-se parcial, contraditório e bairrista. Sobre a escolha das autoridades às quais foram solicitados depoimentos sobre a importância da volta do JB às bancas, foi emitida uma nota da redação, "em respeito aos leitores, aos eleitores e aos contribuintes do estado do Rio de Janeiro, o conselho editorial do Jornal do Brasil tomou a decisão de não convidar o ex-governador Sérgio Cabral, preso e condenado por corrupção, assim como o presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Jorge Picciani, acusado e preso pelo mesmo motivo".
Aí, em seguida, publicaram o artigo do Nove-Dedos, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. E o respeito aos leitores, aos eleitores e aos contribuintes de todo o Brasil, cadê?
Mostrando que continua um analfabeto congênito, um asno de teta, Lula começou seu artigo em grande estilo, de fazer inveja a um Machado de Assis, a um Rui Barbosa, a um Joaquim Nabuco
Escreveu Lula já na primeira frase : "Num um país com uma das mídias mais concentradas do mundo..."
Num um? Que porra é essa? Alguém vai ter que chamar a Dilma pra explicar!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Padre Comia o Cu do Capeta

Pãããããããta que o pariu!!! A Igreja Católica inaugura um novo tipo de perversão sexual : a capetofilia. Não bastassem os canalhas dos padres pedófilos, surge agora o padre capetófilo, chegado no fiofó do Demo.
Vade Retro, Satanás? Nada disso. Vem de reto, Satanás!, diz o padre italiano Michel Barone, 42 anos, preso pelo Ministério Público da Itália (não pelo Ministério de Deus, que esse lhe daria facilmente um habeas corpus) sob a acusação de passar a vara em mulheres durante rituais de exorcismo.
Michel Barone (foto ao lado) convencia jovens mulheres de que estavam possuídas pelo demônio e as submetia a ritos diários de "libertação e purificação da alma" nos quais eram violentamente espancadas, insultadas, despidas, forçadas a práticas sexuais pouco ortodoxas, como a sodomia, e obrigadas a dormir nuas com o padre e um amante.
Marie Antoniette Tronconi, advogada responsável pelas investigações, classificou os atos de Michel Barone como "ritos exorcistas medievais e brutais". Além disso, o padre convenceu algumas mulheres a abandonar os tratamentos médicos convencionais que estavam seguindo, tratamentos psiquiátricos, em alguns casos.
Sem querer fazer aqui o papel de advogado do Diabo, no caso, do sacerdote, há de também ser visto o lado do homem de Deus. Michel Barone chegava pro capeta, a ocupar os tenros corpos das jovens mancebas, aspergia-lhe água benta, punha-lhe o crucifixo à testa, rezava umas ladainhas e pajelanças em latim e ordenava : Sai, capeta! E o capeta nem aí. Gargalhava e peidava enxofre pro padre. 
O padre, lógico, não podia permitir que fosse desrespeitado e desacatado em suas funções de preposto do Senhor, não ia levar desaforo para a paróquia de um demoniozinho qualquer e mequetrefe. Não vai sair, não, é? - dava ainda uma segunda chance ao Tinhoso, o padre. Então, virava o capeta e crau! Metia-lhe a rola ungida cu adentro. O meu cajado vai lhe purificar! E o Coisa-Ruim, que não é bobo nem nada, picava a mula. Fugia, literalmente, pro quinto dos infernos.
O padre já vinha comendo cu de capeta há alguns anos, mas a casa caiu para o seu lado com a divulgação da gravação de parte de um exorcismo realizado em uma menina de 14 anos. A gravação foi feita pela irmã da menor e levou à abertura da investigação contra Michel Barone.
O Inferno respira aliviado com a prisão do padre!
No entanto, correm rumores pelos corredores secretos do Vaticano de que um dos capetas exorcizados por Michel Barone se converteu ao Catolicismo, afeiçou-se ao sacerdote e acalenta, hoje, o sonho de ocupar o cargo de coroinha da igreja da pequena província de Caserta.

É a Podridão, Meu Velho (16)

Quando o médico
Comunicou-lhe as notícias de sua em breve Morte,
Ele não se sentiu
Um desempregado da Vida,
Um demitido pela Existência em aviso prévio.
(não perguntou por tratamentos, não enviou currículos, não requereu FGTS, não entrou na Justiça do Trabalho contra deus)

Sentiu-se um aposentado,
Um desobrigado da Vida,
Alguém que já contribuíra com seu tempo de faina
E recolhera,
holerite a holerite,
Sua previdência de alegrias e sofrimentos,
De êxitos e de broxadas.

Não chorou.
Nem se (pré)ocupou
Em redigir uma carta de despedida,
Em lavrar testamento e inventário em cartórios e tabeliões,
Em deixar mala e passaporte prontos para a viagem.

Tinha tido organização demais em Vida;
Desorganizou-se para a sua Morte.

Jogou seus cabides ao chão,
Desempoleirou seus livros da estante,
Desnorteou seus LPs de sua ordem alfabética,
Alforriou e expulsou
Velhas fotos, escritos e lembranças agrilhoados em suas gavetas,
Como quem abre a porta da gaiola e põe a voar o cativo pássaro azul.

Vestiu sua camiseta mais furada e cinza,
Sua bermuda mais gasta e de zíper quebrado,
Seu chinelo de dedos de tiras soltas.
Nem penteou os dentes
Nem escovou os cabelos
E se sentou num buteco.
Pediu da boa e da barata pro Betinho
E ali se ficou. 
Se ficou e se enficou na esquina.
Se ficou a prestar atenção
Nos outros bebuns do bar,
Nos jogadores de sinuca,
No cão vira-latas a desafiar o trânsito,
Na mãe a ralhar com o filho de volta da escola,
Nos sacos de lixo postos às calçadas,
Na saia da moça que passa,
No bem-te-vi que fez o ninho no transformador do poste de iluminação pública,
No mamoeiro que brotou de dentro de um bueiro,
No velho que sai com uma sacolinha de remédios da farmácia,
Na gata de três cores que salta pelo muro e some de suas vistas.

Se ficou a atentar, enfim,
À vida que resolveu não mais lhe prestar atenção,
Pôr-lhe para escanteio.
Resolveu que era muito melhor olhar para a Vida
Quando ela não olhava mais para ele.
Sorriu
E relaxou.

Faz-de-Cotas

Parabéns, M.E.
Ingressaste na USP.
Ingressaste por conta própria,
Não por cotas impróprias.
Não ingressaste via faz-de-conta
Via faz-de-cotas,
Pela cota dos coitadinhos.
Ingressaste por mérito,
Por dedicação,
Ingressaste na raça :
Não por cotas raciais.
Parabéns, menina.
Parabéns pra caralho!!!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Peruca de Buceta (Ou, Cláudia Ohana Fashion Week)

É a caranguejeira na passarela! É a folia no matagal! É o prêt-à-porter da buceta! A coleção outono-inverno da xavasca! A Cláudia Ohana Fashion Week!
A estilista sul-coreana Kaimin, conhecida no métier por vestir nomes como Lady Gaga e Björk, o que, para mim, só faz depor contra ela, lançou uma nova e acachapante tendência nos desfiles da New York Fashion Week 2018 : a peruca de buceta, o mega hair de xoxota, o interlace da xereca, o chenille da perereca, a pantufa da perseguida.
Aliás, lançou nova tendência porra nenhuma. Que na moda, assim como na TV - já dizia Chacrinha, o Abelardo Barbosa, que tá com tudo e não tá prosa -, nada se cria, tudo se copia.
A peruca de buceta está longe de ser novidade. Ela data - fiz uma lúdica pesquisa - do século XVI, dos anos 1500, e era usada pelas putas da época, pelas mulheres da difícil vida fácil. A putada de então precisava manter a virilha sempre depilada para que detectassem precocemente qualquer alteração na região de seus ganha-pãos (ou ganha-paus?), uma mancha suspeita, uma irritação, uma micose, um prurido, um carrapato etc.
Acontecia, porém, que os machos da época eram machos de respeito, machos das antigas, e, como tais, gostavam de se refestelar e de chafurdar num bucetão cabeludo. Muito diferentes dos "homens" de hoje, cheios de frescuras, nojinhos e que têm engulhos frente a uma boa fedegosa peluda, viadinhos disfarçados de machos.
Foram criadas, então, as perucas de buceta, para, ao mesmo tempo, proteger a putada das doenças e agradar ao gosto da clientela.
Tirando proveito da abominável prática atual de passar a máquina zero na perseguida, de escanhoar o capô de fusca, a qual transforma a mulherada em manequins de vitrine de lojas, em bonecas Barbie, lembrando que só quem gosta de Barbie é o Ken, que não tem pinto, Kaimin revive as perucas de buceta. Mas não o faz apenas por questões estéticas, tampouco só por questões mercantilistas. De jeito nenhum. Artista que é artista sempre tem o objetivo de suscitar questionamentos com a sua arte. 
Fá-lo também para levantar debates filosóficos e sociais sobre o papel da vagina nas sociedades contemporâneas : "quero colocar em debate a questão da individualidade e da autoaceitação, normatizando a imagem estigmatizada da vagina". Pãããããta que o pariu!!! Só essa frase é muito mais criativa - e cara de pau - que toda a coleção de perucas de buceta da estilista. 
Abaixo, um dos modelitos da coleção de Kaimin.
A questão da peruca, eu até que entendi, mas que porra é essa saindo do meio da racha, essa estrutura vermelha triangular? Uma quilha? Uma crista? Uma barbatana? Seria o grelo? 
Vade retro, Satanás! Um bucetão de brenha densa e lanosa, eu muito que aprecio, mas, de mulher de grelo duro, eu tô fora! Pããããããta que o pariu!!!

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Qual é o pH do Cu?

Ah, a Ciência! Sempre trabalhando em prol das grandes questões que afligem a humanidade! A cura do câncer? Da AIDS? Do Alzheimer? Do unheiro? O controle da emissão de poluentes? O aquecimento global?
Nada disto. Que todas estas são questões menores, de pouca, ou mesmo de nenhuma, relevância.
A vanguarda da pesquisa científica, hoje, seja concentra em algo muito maior, o controle de pH do cu! Pããããta que o pariu!!!
Nunca me ocorreu, inclusive, que cu pudesse ter pH. Até hoje. Hoje, estava a esperar a minha vez na fila do mercado e a moça à minha frente colocou um fardo enorme de papel higiênico na esteira do caixa, papel Higiênico Neve - leve 16, pague 15. Olhando para a moça, magra que só um varapau, era difícil imaginar que pudesse sair tanta bosta dela a ponto de usar aquilo tudo. Mas o que me mais me chamou a atenção foram duas informações do rótulo do fardo de papel : O único com a tecnologia Dermacare. Mantém o pH natural da pele.
Da pele? Um eufemismo do caralho! Melhor, um efemismo do cu! Da pele? Não deixa de ser, é verdade. Mas o papel higiênico é feito para passar onde? No rosto, nas mãos, nas pernas? Não! É feito pra passar no cu! Então, a tal tecnologia Dermacare mantém natural é o pH do cu! Então, nem é tecnologia Dermacare. É Dermacu!
Já tinha visto papel higiênico com as mais diversas fragrâncias - lavanda, pinho, jasmim -, com as mais variadas texturas - desde o "lixa" até o "com a maciez do pêssego - , os com vitamina E e até o papel higiênico preto, o qual suscitou uma outra questão : E pra ver se o cu está limpo? Mas este estourou todas as minhas escalas, a de pH, e sobretudo a de expectativa em relação a futilidade da espécie.
Tendo que esperar o lento andar do caixa, e sem nenhuma peituda por perto pra dar uma "bisoiada", pus-me a pensar, qual será o pH natural do cu? Já ouvi falar de cu doce. Porém, nem o doce nem o seu oposto, o acerbo, o amargo, são medidas de acidez ou de basicidade. 
Também há o cu azedo, e aí a coisa começa a ter algum sentido. Azedo é ácido. O limão é azedo por conta do ácido cítrico, o vinagre, do ácido acético etc. E o que seria, então, um cu básico? Um com todas as pregas no lugar e que, de tempos em tempos, se oferecesse em sacríficio a uma rola? Um cu basiquinho. Só de vez em quando. Só pra variar. E o cu neutro? Deve ser aquele cu que não se envolve com nada. O cu indiferente. O cu que tá cagando e andando.
E mais : como os cientistas determinaram e estabeleceram o pH normal, médio, natural do cu? Como foram coletados os milhares e milhares de dados necessários à conclusão de uma pesquisa? Que tipo de gente se voluntariou como cobaia à tal pesquisa? O cus tiveram seus pH medidos com papéis indicadores de tornassol ou do universal? Ou com pHmêtros, aparelhos dotados de roliços e vítreos eletrodos que se inserem no meio a ser determinado? E se, para a alegria da bicharada, foi usado o pHmêtro, foi usado o pHmêtro ANALógico ou o digital? O "digital" deve ter sido a preferência.
Eis o mais novo prodígio da Ciência. Einstein, Darwin, Mendeleiev e Newton devem estar a rolar em suas tumbas. A rolar de rir.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Pequeno Conto Noturno (70)

Conheceram-se - Rubens e Silvana - em um momento de gravidade zero de suas vidas, num momento de espera em consultório médico, de coma induzido, de deixar estar para ver como é que fica, de deixar a indefinição definir-se por si. Conheceram-se - Rubens e Silvana- num momento de "quase" de suas vidas. Ele, quase num casamento; Ela, quase num divórcio.
Conheceram-se e reconheceram-se. Quiseram. Precisavam. Estavam precisados de se reconhecer. Há momentos em que a busca por um lago de Narciso, ainda que ele seja mera poça de lama, se faz mais premente que a pela fonte de Ponce de León.
Suas ideias se esbarraram, derrubaram café umas nas outras, desculparam-se e embaraçaram-se. Emaranharam-se. Os novelos de Ariadne de cada um - cada um fugindo (só para se enfurnar ainda mais) de seu dédalo, de seu quase - se enroscaram, perderam ainda mais os fios de suas meadas, mas consideraram que as tinham achado. Acima dos dois novelos enamorados, a tecerem futuros e tecituras, o gato cínico do Destino batia, estapeava e os jogava de  um lado para o outro.
A fala de um, ora completava, ora antevia, ora ecoava, a fala do outro. Clichês sobrepondo-se a clichês (filmes de guerra e canções de amor), Rubens sabia. Marionetes bem ensaiados, os dois, Rubens sabia. Cérebros em rara e sagrada comunhão, Silvana pensava. Intelectualidades nômades e sedentas que, final e merecidamente, se encontram oásis uma da outra, e se fundem e copulam e geram maravilhas, Silvana pensava.
Trocavam olhares em código Morse e e-mails criptografados, que ela, em arroubos quixotescos de quem mal escreve mas bem ama, pensara até em transformar num livro, o rebento bastardo e retardado deles dois.
Haviam, no entanto, ter que definir os seus "quases". Silvana optou por divorciar-se do "quase" em que estava e recuperar a sua liberdade - liberdade, para Silvana, é se lançar a esmo a uma outra sucessão de incertezas, a uma coleção de outros "quases". Rubens optou por contrair matrimônio (só no civil) com o seu "quase", fazer do quase a sua definitiva liberdade - liberdade, para Rubens, não é voar sem rumo nem bússola nem local de pousada; liberdade, para ele, é ser dono das chaves da própria gaiola.
Ela não gostou da opção dele. Sentiu-se, possivelmente, usada, iludida, lograda. No que tinha certa razão de suspeita. Rubens nunca tivera tesão fisico por Silvana. Ou a teria traçado já na primeira noite em que ela confessara-lhe seu interesse. Mas, por outro lado - egoísmo, teu nome é Humano -, não queria abrir mão da boa companhia de Silvana, de sua conversa divertida. Pensou que a simetria das ideias e a convivência poderiam trazer o desejo carnal (por isso, deu trela à Silvana). Não trouxeram.
Daí em diante, Silvana buscou atazanar e fuder com a vida de Rubens de todas as maneiras escusas que foi capaz de imaginar. Quase conseguiu. Quase. E como esse "quase" deve ter lhe amargado a amarga e recalcada alma... Rubens deu um basta. Sem aviso prévio. Demissão por justa, porém , não revelada, causa. Da noite para o dia, do hoje para o amanhã, passou a ignorá-la (por força das circunstâncias, viam-se em todos os dias). Passou a não olhar para ela e a nem lhe dirigir a palavra mesmo nas vezes - foram poucas depois que ela percebeu a nova postura dele - em que ela tentara conversar, buscara por respostas para a súbita mudança de comportamento.
Ela nunca soube a razão do ostracismo definitivo em que Rubens a jogara, nunca soube qual fora o estopim da explosão final. E esta foi a vingança de Rubens. Deixá-la sem saber. Sem respostas.
Anos se atropelaram sem que Rubens e Silvana se vissem. Até hoje. Madrugada. Silvana, a entrar na loja de conveniência de um posto de combustíveis, pagar pelo álcool colocado no carro; Rubens, de costas para a porta, no caixa, a pagar por mais um latão de cerveja, pelo álcool colocado em si mesmo - derramar cachaça em automóvel, é a coisa mais sem graça de que eu já ouvi falar, já disse Raul.
Silvana resolve se arriscar:
- Rubens? - mais um chamamento, um apelo, que uma pergunta?
Ele se vira, a vê e resolve recompensar o risco por ela corrido, responde:
- Ainda.
- Bebendo, a uma hora desta?
- Abastecendo, a uma hora desta?
- Um café, um capuccino, será que pode ser?
- Sem açúcar e sem afeto?
- Nunca vai me dizer, né? Nunca vai dizer o que de tão grave, ou transformado em tão grave por você, eu fiz para você virar de vez as costas para mim. Deve ter tido uma gota d'água, uma gota d'água que fez transbordar o seu copo de rum.
Rubens gostou da imagem evocada, mas manteve a altivez, deu um gole no latão.
- Ou uma chuva de gotas d'água, um toró delas.
- Nunca vou saber, né?
- Não.
- Um resumo da ópera, pelo menos...
- Você nunca entendeu a brincadeira.
- A brincadeira?
- É.
- O nosso amor a gente inventa pra se distrair, foi isso, Rubens?
- Exatamente isso.
- Filho da puta!!!
- Exatamente isto e não entendo por que isto seja algo vil, condenável em última instância e punível em praça pública.
- Usa a outro como distração e não vê o mal nisto?
- E também me deixo usar como distração. Não entendo como algo feito a propósito de distração, de entretenimento, possa ser torpe ou ofensivo. Pelo contrário. Ser distração para ou de alguém deveria ser tomado como o mais alto dos elogios, como uma condecoração, uma honraria de Estado.
- Que porra é essa, Rubens?
- Passávamos por uma fase de merda em nossas vidas, não era?
- Era.
- E quais eram os únicos momentos que faziam nosso dia valer cada uma de suas penas e de seus suores, quais eram os únicos instantes em que não pensávamos em lançar mão do cianureto e a da estricninca escondidos em nossos armários? Não eram feitos, esses fugazes átimos, justamente do amor que inventávamos para nos distrair?
- Você inventava, seu desgraçado, eu te amava de verdade.
Rubens dá mais um gole no latão. Conversar com Silvana dá um gosto a mais à cerveja.
- Então, no seu caso, Silvana, você é que era a invenção que o Amor criava para se distrair. A distração é a mais nobre e vital das atividades humanas. A distração é o que escolhemos fazer no tempo livre que temos, é o que escolhemos fazer quando, simplesmente, poderíamos não fazer nada. Dizem que, um homem, se conhece por seu hobby, por seu passatempo. O passatempo de um sujeito é o amor que ele inventa pra se distrair. É no passatempo que ele passa o dia todo a pensar, a ansiar pela hora. É para o passatempo que ele não vê a  hora de correr. É pelo passatempo que ele suporta a vida e se faz, até,  mais eficiente e competente em logo cumprir com os afazeres e os enfadonhos do dia. Ser o passatempo de alguém deveria figurar no pódio dos elogios, com direito a hasteamento de bandeira e execução do Hino Nacional. Eu escolhi você para passatempo, e tentei me fazer em palavras cruzadas pra você. Você queria, contudo, que nos transformássemos na merda oficial um do outro, no mesmo tipo de merda do qual fugíamos quando estávamos juntos, brincando.
- Você inventou isso tudo agora, né, Rubens? Ou já tinha tudo isso inventado e ensaiado há tempos, para quando, num possível, ainda que improvável reencontro, voltasse a falar comigo. Sabe a impressão que tenho, Rubens? Que você vive a criar enredos, scripts, cenas e encenações para as mais diversas situações que possam lhe ocorrer, falas e diálogos para todos os possíveis e imagináveis encontros que possa ter em suas caminhadas. Para cada pessoa que você gostaria de reencontrar, ou de não, você já tem um roteiro pronto e acabado, pronto para ser filmado, sob sua batuta e direção. Você se caga de medo do acaso, Rubens. Se caga de medo de ser pego desprevinido, sem algo inteligente e espirituoso para dizer, sem uma frase de efeito para impressionar.
Rubens seca o latão, vai até a geladeira da loja, pega mais um, paga-o à gostosinha do caixa, sai pelas portas de vidro e ganha as ruas.
Silvana segue atrás.
- Rubens, seu filho da puta, vai me dar as costas de novo, é?!?! Rubens, caralho, ainda não terminei com você! Rubens! Rubens! Rubens...
Rubens, já do outro lado da avenida, embrenha-se pela escadaria da praça escura e entorna o latão. Os gritos de Silvana, comungados aos lamentos dos motores e das buzinas e dos gatos no cio do fim da madrugada, são música que os seus ouvidos não querem mais ouvir.
Há muito que perdeu o interesse por vãos filósofos e suas (peri)patéticas filosofias.

Mimetismos (28)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A Quarta-Feira de Cinzas do Ex-Boiola

Um dos hits de carnaval do Marreta foi justamente a postagem O Carnaval do ex-Boiola, contando até agora com 107 visualizações e uma meia dúzia de comentários. Menos do próprio ex-boiola. Eu sabia que o ex-boiola não veria a postagem durante o carnaval, ocupado que estava dando assistência a dois machos, mas tinha certeza de que, na Quarta-Feira de Cinzas, ele apareceria por aqui, ressurgiria das cinzas, ou, neste caso, nas Cinzas.
Num comentário, como sempre, divertidíssimo, ele conta que seus dias de folia de Momo foram além de suas expectativas, que o trenzinho da alegria fez a festa nas ruas e praias do Guarujá.
Agora, já no aguardo do próximo fevereiro, ele terá o merecido descanso da Quarta de Cinzas, até porque ele queimou tanto a rosca que só o que sobrou dela foram mesmo as cinzas. Com vocês, o ex-boiola:
"Querido e venerado Mestre Azarão! Essa sua postagem, sinceramente, nem sei se mereço tanto. Não a tinha visto antes por falta de tempo. A coisa pegou aqui no Guarujá! O meu crush se saiu muito bem. Agora posso falar melhor dele. É o Diguim, DJ novinho que embala as festas do meu bairro. Antes de irmos para o carnaval de rua, Diguim colocou varias marchinhas no nosso AP. Que delícia...todos tiveram seu momento de locomotiva e de vagão. A bebida rolou solta e meu cuzinho também. Não me lembro direto do que fiz ou do que deixei de fazer. Só sei dizer que foi bom e que, a partir de agora, conto os dias para o próximo carnaval. E aquele convite ainda está de pé, amado e querido Mestre".

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Deus Cego de Mia Couto

Se você nunca leu Mia Couto, providencie! Sua prosa é poesia líquida e fluida. Um regato de água fresca e corrediça que faz cócegas por entre os dedos dos pés de quem nela se sentar à beira : passa um seixo rolando, uma alga a boiar, um mergulhão, um lambari-de-rabo vermelho e, de repente, uma poesia de Mia Couto. Sua prosa é um campo repleto de minas terrestres de poesia. Você vai andando e, de súbito, pisa numa mina escondida nas linhas de sua prosa, e, BUM, detona um pequeno poema de Mia Couto. Pode ser um parágrafo inteiro, ou uma frase, ou uma única palavra - Mia Couto é exímio em criar neologismos que são poemas de uma única palavra.
Mia Couto é moçambicano, biólogo e escritor. Autodefine-se : “Sou um branco que é africano; um ateu não praticante; um poeta que escreve em prosa; um homem com nome de mulher; um cientista que tem poucas certezas sobre a ciência; um escritor em terra de oralidade”.
Sobre Deus, Mia Couto diz : “assim esteve deus em minha vida: primeiro, ausente; depois, desaparecido!"
E também escreveu o poema abaixo.
Avesso bíblico
No início,
já havia tudo.

Mas Deus era cego
e, perante tanto tudo,
o que ele viu foi o Nada.

Deus tocou a água
e acreditou ter criado o oceano.

Tocou o chão
e pensou que a terra nascia sob os seus pés.

E quando a si mesmo se tocou
ele se achou o centro do Universo.
E se julgou divino.

Estava criado o Homem.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

As Elocubrações de Jotabê (Ou : Cultura Pouca é Bobagem)

Resolvi transformar o comentário do meu ilustríssimo e ilustrado amigo virtual Jotabê, feito na postagem O Carnaval do Ex-boiola, em uma postagem à parte por um simples motivo : porque ele é genial.
Jotabê relaciona Winston Churchill, Caetano Veloso e Johnny Hooker. Uma das relações feitas por Jotabê, a dos versos "e a gente se pega, se borra e se morde", do Johnny Hooker e com os versos "a gente se olha, se beija, se molha", do Caetano, eu tinha percebido. Do resto, nem supunha.
Com vocês, Jotabê, o Millôr Fernandes do Blogson Crusoe :

"Eu sou chegado a jogos de palavras, reciclagem de frases e expressões. Essa música tem uma reciclagem de um verso do Caetano, que reciclou no título uma frase do Winston Churchill. E o nome do cantor, por sua vez, é uma adaptação-homenagem ao bluesman John Lee Hooker. Muito Legal.

Churchill: Blood, Sweat and Tears
Caetano: Rain, Sweat and Beer (Chuva Suor e Cerveja)
Verso do Caetano: A gente se olha, se beija, se molha
Verso do Johnny Hooker: E a gente se pega, se borra e se morde
Quanto ao ex-boiola, acho seus comentários divertidíssimos. Talvez o “ex” não se refira à aposentadoria da “seção rosquinha”, mas a exagerado, excitado, excelente, exemplar, excomungado, excuso, excludente, exangue, exclusivo, exegeta, exigente, exibido, exilado, exímio, expedito, exorcista, “extc.”. Talvez ele seja apenas um experto boiola, um experimentado boiola, mas nunca um exúbere boiola."

Exúbere? Pãããããta que o pariu! Quem é que sabe o que é exúbere? Eu não sabia. Fui ao dicionário, o famoso pai dos burros. Exúbere : aquele que foi desmamado, desleitado.
Superou-se, Jotabê!

Sundown é Puta que o Pariu!

De que serve a Ciência, quando se possui a sagaz percepção, o aguçado instinto de observação e a fina lógica dedutiva acerca do funcionamento do Universo do Azarão?
Por inúmeras vezes, aqui no Marreta, denunciei os atrasos da Ciência oficial dos homens em relação às minhas descobertas. Por inúmeras vezes, mostrei que a Ciência só agora começa a constatar tudo aquilo que há tempos sei e apregoo. A poucos exemplos do que falo e a quem interessar possa, uns links de postagens antigas sobre : 
Agora, a Universidade de Southern Queensland, da Austrália, vem na maior cara de pau do mundo dizer que descobriu que deixar a barba crescer traz benefícios à saúde de quem a cultiva. De novo, nada de novo para mim. Sei disso há 10, 11 anos.
Sob vários aspectos, o ano de 2007 foi dos mais atribulados e traumáticos para mim; por conta de todos os seus percalços e agruras, descuidei um pouco da aparência e, quando percebi, minha barba tinha ultrapassado o estágio de uma tênue sombra na face, havia se tornado, livre de meus domínio e censura, em uma verdadeira brenha de pelos grossos, densos e desgrenhados, a crescer sem rumo nem bússola, indômita e revolta.
Apercebi-me, de início, apenas do aspecto estético que ela promovera. Eu ficara com um ar ainda mais vetusto e austero, ainda mais temerário. A barba preenchera os vazios do encovado do meu rosto magro e macilento, tornara-o mais robusto e intimidador. Gostei.
Com o tempo, fui notando outros efeitos produzidos pelo uso corrente da barba, efeitos secundários, de longo prazo e que iam muito além do imediatismo da aparência.
Percebi, por exemplo, que uma coceira desgraçada e cotidiana que me acometia o nariz, uma alergia provocada por poeira, cheiro de gente e poluição, havia minorado, mesmo extinta na maioria dos dias. Mais : por andar muito sob o sol, eu vivia com os lábios secos e rachados, que, não raro, eram palco propício à erupção de vesículas herpéticas; pois o uso continuado da barba deu fim à secura dos lábios e há anos não tenho uma recidiva da herpes labial. Outra : devido ao mesmo calor desta sucursal do inferno onde moro, o suor, muitas vezes, sobretudo na região do pescoço, causava irritações e vermelhidões; nos períodos mais quentes, eu vivia todo empipocado. Isto também se foi. Sumiu.
E vêm, agora, esses australianos bisonhos, esses comedores de cu de canguru, dizer que descobriram os benefícios da barba? Vejamos o que eles descobriram, vejamos se foram além de mim. Concluíram os jogadores de bumerangue :
- a barba, a depender do tamanho e da espessura dos pelos, pode agir como um protetor solar com fator de proteção 20;
- barbas longas, a ponto de cobrir partes do pescoço, é capaz de mitigar ataques de tosse e reduzir o risco de inflamações na garganta (além, é claro, de atuar como cobertura e camuflagem para certos hematomas de infidelidade);
- a barba rejuvenesce a cútis facial, pois a protege contra o sol e o vento, mantendo-a hidratada por mais tempo.
Cadê as novidades? Mas o que a pesquisa não revela é que, para o sujeito usufruir dos benefícios de uma cobertura pilosa facial, a barba tem que ser barba de verdade. Uma basta cerca viva. Barba de macho. De macho das antigas. Tem que ser barba que cresce livre e solta, feito cavalo selvagem, feito pelo de saco. Barba de cossaco. De russo da Sibéria. De homem das montanhas. Das cavernas.
Não pode ser barba aparada e retocada semanalmente na barbearia, ou, pior, na Barber Shop. Sim, porque, agora, depois da tentativa malograda de tentar banir mais esse símbolo da masculinidade com a invenção do metrossexual, o viadinho vaidoso, resolveram mudar de tática, decidiram embichar a barba e a viril profissão de barbeiro. Barbeiro virou barber stylist e barbearia, barber shop. É a barba gourmet!
Tem que ser barba Bin Laden. Não pode ser barba gourmet toda desenhadinha, com formas geométricas milimetricamente simétricas. Não pode ser barba tratada com cera de abelha orgânica, com géis de aloe vera e loções tônicas de óleo de gengibre e limão siciliano. No máximo, aceita-se o bom e velho Aqua Velva azul para cauterizar os cortes da navalha. Não se enganem, o cara que faz a barba em barber shops também barbeia o cu, à rola, a golpes de piroca.
Ainda tem mais na pesquisa dos australianos, que foi justamente o primeiro benefício que percebi ao deixar crescer minha barba. O bigode atua como uma barreira e um filtro contra bactérias, fungos e ácaros trazidos pela poeira, reduzindo sintomas de alergias e até de asma.
Além do quê, o bigode também é excelente para ser enroscado e trançado com os pelos de um bom bucetão não depilado - nossos pelos vão se enroscar num tricô esquisito... Também, findo o intercurso carnal, é recomendável não lavá-lo, para carregar consigo, pelo longo do dia, um bigode cheiroso, um sachê de buceta. Como também constataram, antes dos australianos e até mesmo antes de mim, os integrantes da Banda Velhas Virgens. Em seu álbum Reveillon, de 2001, eles gravaram e cunharam esta preciosidade musical que lhes apresento, Homem do Bigode Cheiroso.
Homem do Bigode Cheiroso
(Paulo de Carvalho)

Êêta homem do bigode cheiroso!
Êêta homem do bigode pra cheirar!
Êêta homem do bigode cheiroso!
Dê cá um cheiro e tente adivinhar.

Que cheiro é esse, diga lá, Geni:
"É o cheiro mais estranho que eu já vi"
Que cheiro é esse, diga lá, Aretha:
"É tão gostoso, isso é coisa do capeta"

Que cheiro é esse, venha cheirar!
Só tem esse cheiro quem já esteve lá
Num jardim de mato preto e chão molhado
Que não se acaba quanto mais eu lavo.

Êêta homem do bigode cheiroso!
Êêta homem do bigode pra cheirar!
Êêta homem do bigode cheiroso!
Dê cá um cheiro e tente adivinhar.

Que cheiro é esse, diga lá, Carlota:
"É um cheirinho que nunca se esgota"
Que cheiro é esse, diga lá, Zilu:
"É um cheirinho que eu só sinto em tu"

Que cheiro é esse, venha cheirar!
Só tem esse cheiro quem já esteve lá
Num jardim de mato preto e chão molhado
Que não se acaba quanto mais eu lavo

Êêta Homem do Bigode Cheiroso
Êêta Homem do Bigode Sssssssh
Êêta Homem do Bigode Cheiroso
Dê cá um cheiro e tente adivinhar

Que cheiro é esse diga lá Geni:
"Ë um cheiro lá da casa do xixi"
Que cheiro é esse diga lá Aretha:
"É tão gostoso isso é cheiro de buceta"

Que cheiro é esse, venha cheirar!
Só tem esse cheiro quem já esteve lá
Num jardim de mato preto e chão molhado
Que não se acaba quanto mais eu lavo.

Êêta homem do bigode cheiroso!
Êêta homem do bigode pra cheirar!
Êêta homem do bigode cheiroso!
Dê cá um cheiro e tente adivinhar.

Que cheiro é esse diga lá Carlota:
"É um cheirinho que vem lá da xoxota"
Que cheiro é esse diga lá Zilu:
"É um cheirinho de pertinho do cu"

Que cheiro é esse, venha cheirar!
Só tem esse cheiro quem já esteve lá
Num jardim de mato preto e chão molhado
Que não se acaba quanto mais eu lavo.

Êêta Homem do Bigode Cheiroso!
Êêta Homem do Bigode pra cheirar!
Êêta Homem do Bigode Cheiroso!
Êêta Homem do Bigode pra cheirar!
Êêta Homem do Bigode Cheiroso!
Êêta Homem do Bigode pra cheirar!

Para ouvir a música Homem do Bigode Cheiroso, é só clicar aqui, no meu bigodudo MARRETÃO.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

O Carnaval do Ex-Boiola

O ex-boiola - ele assim se autodefine - é um dos leitores mais assíduos e antigos do Marreta; pelo menos, dos mais antigos que deixam registros de suas passagens por aqui, os comentários. E os comentários do ex-boiola, para mim, são um capítulo à parte do blog, talvez, um dia, eu até os transforme em uma série de postagens. São comentários escrachados, desbocados - nunca desrespeitosos -, espirituosos e engraçadíssimos. Morro de rir com eles. Sem contar que ele sempre destina a mim tratamento de alta distinção, só me chama de Mestre.
Pelo que conta, ele era um - é claro - boiola! Um boiola que, em certo momento da vida, sabe-se lá por quê, cansou-se de dar tratos às pregas, de queimar a rosca, de dar ré no quibe, de cagar pra dentro, de morder a fronha, de beijar pra trás, de tomar bolada no queixo, cabeçada no céu da boca e umbigada na testa. Virou homem. Machão. Hétero pra caralho. Casou com mulher e tudo.
Porém, como diz o Chico, "E um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que se chamava carnaval, o carnaval, o carnaval...". Assim, como ninguém é de ferro, uma vez ao ano, o ex-boiola, que segura a franga e faz greve de cu e jejum de rola de janeiro a janeiro tem os seus dias de alegria fugaz, de ofegante epidemia, tem o seu carnaval.
Em todos os carnavais, o ex-boiola, com a permissão e o salvo-conduto da compreensiva esposa, se desveste da fantasia de macho, reassume a pele que habita e se entrega de cu e alma à folia de Momo, cai de boca e de bunda nas delícias do maior folguedo do país. : queima, assa, frita, torra, calcina e carboniza a rosca. Sempre em companhia de seu macho comedor, o Renatão, o ex-boiola esbalda-se vendo a mangueira entrar e atravessar em evolução a sua avenida, o seu sambódromo.
Em carnavais passados, o ex-boiola e o Renatão foram esquentar a bunda nas águas termais e medicinais - reparadoras de pregas - de Caldas Novas. Neste ano, o destino turístico do sazonal casal será outro : irão salgar e empanar os cus nos mares e nas areias do Guarujá. E o itinerário do alegre casal não é a única novidade. Contou-me, o ex-boiola, que a festa, neste ano, será celebrada a três, o Renatão, ele e mais um crush que ele arrumou. Um crush? Crush, para mim, sempre foi aquele antigo, saboroso e saudoso refrigerante de laranja, que fazia companhia, na época, em todos os bares, lanchonetes e supermercados, aos também clássicos Gini (de limão) e Grapette (de uva) - hei, Bete, vamos tomar um grapette?
Achei estranho o ex-boiola e o Renatão levarem uma garrafa de Crush para passar o carnaval com eles. É verdade que o roliço e robusto "casco" do refrigerante não lhes seria de total inutilidade, mas achei estranho. Resolvi pesquisar. Vi na net que crush, na gíria atual, é uma pessoa com quem se mantém um relacionamento eventual, sem grandes compromissos ou vínculos, uma paixonite, um ficante, um peguete. Então, entendi. O ex-boiola e o Renatão levarão um peguete para animar o seu carnaval, para melhor esquentar os seus tamborins.
Ex-boiola, Renatão e Crush? Quem fará as vezes da Colombina, do Pierrot e do Arlequim neste festivo trio? É o trem da alegria (ou o trem fantasma, sei lá), composição férrea da qual, garantiu-me o ex-boiola, ele será a locomotiva. O ex-boiola, inclusive, generoso, solícito e dado que só ele, convidou-me a compor tal comboio, assegurou-me que eu teria o lugar cativo e inalienável do último vagão, aquele que em todos engata.
Declinei do convite. Agora, como agradecimento à sincera e desinteressada oferta, deixo aqui uma sugestão para incrementar e abrilhantar a trilha sonora do Trenzinho do Ex-Boiola. Além, é claro, da clássica e insuperável, da hors concours A Cabeleira do Zezé, recomendo um frevo do viadíssimo e genial Johnny Hooker, Desbunde Geral. 
Desbunde Geral é a sua cara e a do Renatão, ex-boiola! Uma putaria só!
Bom carnaval, meu caro! Que Momo e Baco protejam e resguardem suas pregas.
Desbunde Geral
(Johnny Hooker) 
Quando chegar fevereiro eu quero ser carnaval
Meu corpo no seu, no desbunde geral
Geral! Geral!

Vem a noite inteira descendo ladeira no maior festival
E a gente se pega, se borra e se morde
No chão de estrelas
Que o meu corpo receba o desbunde geral
Geral! Geral!

Vem! Vem!
Que meu corpo agora é todo carnaval
Vem! Vem!
Quem não bole se sacode no desbunde geral
Geral! Geral!

Vem balançando a bandeira,
Levantando poeira no maior festival,
O futuro é agora e a vida não freia
Tenha fé n'amor, creia na vida futura
E desbunde a geral, geral!

Vem! Vem!
Que meu corpo agora é todo carnaval
Vem! Vem!
Quem não bole se sacode no desbunde geral
Geral! Geral!

Vem a noite inteira descendo ladeira no maior festival
E a gente se pega, se borra e se morde
No chão de estrelas
Que o meu corpo receba o desbunde geral
Geral! Geral!

Vem! Vem!
Que meu corpo agora é todo carnaval
Vem! Vem!
Quem não bole se sacode no desbunde geral
Geral! Geral!

Quando chegar fevereiro eu quero ser carnaval
Meu corpo no seu, no desbunde geral
Geral! Geral! 
Para ouvir a música e assistir ao clipe de Desbunde Geral com o desbundadíssimo Johnny Hooker, é só clicar aqui, no meu poderoso MARRETÃO.

em tempo : lanço-lhe aqui um desafio, meu amigo, se me mandar uma foto dos três em plena folia, garanto que publico aqui no Marreta.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Bandeira Vermelha em Pele de Bandeira da Paz

O lobo se enverga em terno de cordeiro para melhor trucidar e se banquetear das ovelhinhas, organizações criminosas se vestem com legendas de partidos políticos para melhor dilapidar o erário público, o safado se faz de morto para comer o cu do coveiro, Madalenas se arrependem ao longo de toda a História para evitar o apedrejamento e a execração pública, criminosos se tornam em pastores evangélicos para reduzir o tempo de suas penas e terem uma nova profissão ao saírem do xilindró.
E o PT, agora, estanca e descolore e dissimula o vermelho sanguinolento de sua bandeira e a acena com o branco da paz para os magistrados verde-amarelos : "bandeira branca,amor, não posso mais...", clamam Lula e o PT ao valoroso Exército de Toga que os está jogando, um a um dos vermelhos, não nos porões escuros da Ditadura, mas sim nos transparentes calabouços da Justiça.
Comunistas, embora digam o oposto, adoram uma Ditadura, pois contra ela são justificáveis o seu único modo de agir : a violência, a subversão, a clandestinidade, o terrorismo e a formação de quadrilhas como meios para um maquiavélico fim maior. A liberdade e a democracia? Porra nenhuma! Uma outra ditadura, a deles.
Contra uma Ditadura, o comunista a tudo pode, tira onda de herói. E contra uma Justiça democrática? Contra esta, o comunista não tem argumento nem armas, nada pode, a não ser esbravejar, cuspir bravatas e ameaçar que vai pôr fogo no país com um exército de desdentados armado de facões, foices e enxadas; aliás, ferramentas todas novinhas, exibindo o brilho com que saíram da loja de ferragens, uma vez que nunca usadas no batente, sedentas muito mais do sangue e do suor do que pelejaram por suas posses do que por terra para cultivar. E contra uma Justiça democrática, o que pode o comunista? Nada. Só ser tosquiado de seu paletó de cordeiro e exposto como o bandido que sempre foi. A Ditadura é o Sol Amarelo para o comunista; a Justiça democrática e não aparelhada, a sua kryptonita.
O PT, após sucessivas derrotas na Justiça e sinais desfavoráveis vindos do Supremo, em um ato de rendição, acena a sua agora bandeira branca ao Judiciário brasileiro por achar que os constantes ataques da Orcrim ao juiz Sérgio Moro, o Eliot Ness brasileiro, tenham criado um corporativismo entre os juízes colegiados, um sentimento revanchista que os esteja prejudicando nos processos - inúmeros e infinitos - em que são réus. Na visão do PT, não são eles que são bandidos, os juízes é que são parciais. A sigla decidiu baixar armas e evitar provocações na tentativa de recriar um ambiente mínimo de diálogo com o STF, última trincheira em que pode investir para evitar a prisão e a inelegibilidade do ex-presidente Lula.
Corporativismo? O que estamos a ver, ultimamente, é o Judiciário, talvez como em nenhum outro momento da História, trabalhando arduamente e cumprindo dignamente com o seu dever, justificando seus soldos e seus auxílios-isso, auxílios-aquilo.
Para o comunista, no entanto, trabalho sério e cumprimento do dever é corporativismo. Honrar pela labuta o cargo para o qual foi empossado, às vistas do comuna, é revanchismo. Para os quadrilheiros do PT, o Judiciário falar a mesma língua é que é formação de quadrilha.
Trabalho e cumprimento do dever são estratégias de guerra que não constam da cartilha trotskista-leninista-bolivarianista, são artefatos de tecnologia milhares de anos à frente dos do arsenal vermelho, são armas contra as quais Lula e PT não têm defesa.
Por isso, agora, hastearam a bandeira branca em seu navio pirata. Por isso, agora, se acovardaram e estão a pedir penico. Só que esta - mais esta - safadeza petista de nada valerá, vai dar com os burros n'água, com os petistas n'água. Os sinais do enjaulamento do Sapo Barbudo, ou, ao menos, de sua inelegibilidade, são claros, inequívocos e, arrisco-me em dizer, irreversíveis.
Carmen Lúcia, presidente do STF, órgão ao qual Lula recorrerá em terceira instância, declarou que rever a sentença de Lula seria apequenar o Supremo Tribunal Federal; um atrás do outro, pedidos de habeas corpus preventivos para Lula vêm sendo negados.
O encarceramento e/ou banimento político de Lula decretará, também, o fim do PT como um partido político influente nos destinos da nação. O bater final do martelo - o da Justiça democrática, não o da bandeira da URSS -, a confirmar a sentença de Lula, será o desligar dos aparelhos que mantêm o PT ainda vivo. Será a eutanásia do partido.
Por isso, estão com o cu na mão! Por isso, a bandeira vermelha em pele de bandeira de paz. Se bem que a bandeira petista está mais para amarela que para branca ou vermelha. O PT arregou frente à Justiça. Capitulou e amarelou frente a um real - ainda que incipiente e necessitando de retoques e arte-final - Estado democrático de direito.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Aniversário do Marreta do Azarão

A sabedoria popular - graduada e diplomada ou pelo Mobral, ou pelo Madureza, ou pelo supletivo, ou, ainda pior, por uma faculdade à distância - professa horrores e impropérios a respeito do "filho do meio", aquele que não teve a atenção exclusiva dada pelos pais ao primeiro filho, que não recebeu todos os cuidados e zelos dedicados ao irmão mais velho, motivados até pela inexperiência e insegurança dos pais de primeira viagem, e que quando, com a crescente independência do primogênito, viu se aproximar a sua vez de ser o "queridinho" dos pais, foi surpreendido pelo nascimento do caçulinha. E o filho do meio ficou... no meio. Sem mar nem porto. A sabedoria popular, nos seus dias menos maledicentes, diz que o filho do meio é "problemático".
Nesse caso, a Ciência Oficial dos homens, da qual desconfio cada vez mais, corrobora a sapiência inculta das massas. A psicologia catalogou os "sintomas" mais comuns aos filhos do meio e deu-lhes status de uma síndrome. A Síndrome do Filho do Meio.
Que merda de nome. Nem mesmo um nome todo pedante e pomposo, exalando a erudição, de raízes gregas, feito complexo de Édipo, de Sísifo ou de Promoteu, se preocuparam em dar às angústias do filho do meio. Nem esse desvelo tiveram para com ele. Depois reclamam que o filho do meio seja problemático.
Pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), analisaram dados de irmãos americanos e dinamarqueses e registraram até que o filho do meio, na maior parte das vezes, tem entre 25% e 40% mais chances de terem problemas na escola. Eles também têm maior tendência à delinquência e a terem complicações com a lei no futuro. Ou seja, problemáticos.
O Marreta do Azarão é o meu filho do meio, mais novo que minhas duas gatas, que contam com 10 anos cada uma, e mais velho que meu filho, que completou oito anos no ano passado. O Marreta é o autêntico filho do meio. Revoltado, neurótico, cabeça-dura e boca suja que só ele.
As mais velhas são as mais independentes, a elas basta a caixa de areia sempre limpa, o prato abastecido de ração e a vasilha, de água fresca. O resto é com elas. O mais novo é o que consome os maiores tempo, atenção e energia. Não lhe chega água e pasto, ele requer e exige outros tipos de sustento, é levar à escola, acompanhar nas tarefas, estudar junto para as provas, ficar de olho para que não se envolva em acidentes caseiros, vigiar se escovou os dentes ou se tomou banho direito, acompanhá-lo nas suas brincadeiras, ter a pachorra de repetir mil vezes por dia as mesmas ordens e recomendações, corrigir um ou outro comportamento inadequado etc etc.
O pouco tempo que sobra - quando sobra, quando sobra e não estou tão exaurido que a única coisa que posso fazer com esse tempo é dormir -, assumo a culpa, é o que eu dedico ao filho do meio, o Marreta. Que, talvez por pirraça, por picuinha, por uma espécie de vingança em se saber preterido, é o mais enjoado dos filhos para "comer". Não aceita outro alimento que não ideias e pensamentos. Vive - ou, no caso, nos últimos tempos, subsiste - deles, e só deles. Anda meio desnutrido, ultimamente. Anêmico, raquítico. Mea culpa! Mea maxima culpa! Não venho sendo capaz de lhe oferecer um cardápio variado e balanceado de ideias e pensamentos. Só o arroz-com-feijão requentado de sempre.
Mas o fato é que, apesar dos pesares, a pesar os não-pensares, o Marreta continua aqui. Há nove anos. Nove anos se passaram de seu primeiro choro, de seu primeiro berro, de seu primeiro resmungo mal-humorado. Anêmico, desnutrido e meio desanimado, sim. Não obstante, de Marreta em riste! Sempre!