sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo

Acredito nas forças mantenedoras do Universo.
Não confio nelas nem as idolatro,
Tampouco elas necessitam
De minha lealdade ou de meus joelhos dobrados :
Tento tratá-las igualmente.

Acredito na Ação e Reação,
No Princípio de Le Chatelier;
No microátomo que se reproduz
Em macrogigante gasoso,
No Sumo Fractal;
Na gravidade que pari estrelas
E cava a cova do buracos negros,
Na implacável balança do Hidrogênio.

E acredito na Simetria.
Ah, a bela Simetria.
A Simetria é o Supremo Relojoeiro desse Universo.

Mas não me venham, 
Ora essa,
Dizer de meninos-deuses
E felizes anos novos.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Não É Carnaval, Mas É Madrugada (7)

Ela Desatinou
(Chico Buarque)
Ela desatinou, 
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, 
Bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando.

Ela desatinou, 
Viu morrer alegrias, 
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela inda está sambando.

Ela não vê que toda gente
Já está sofrendo normalmente,
Toda a cidade anda esquecida, 
Da falsa vida, 
Da avenida
Onde ela desatinou, 
Viu morrer alegrias, 
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando 
E ela inda está sambando.

Quem não inveja a infeliz, feliz
No seu mundo de cetim, assim,
Debochando da dor, 
Do pecado
Do tempo perdido, 
Do jogo acabado.

Ela desatinou
Viu morrer alegrias, 
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando 
E ela inda está sambando.

Câncer Presidencial

Incompetências à parte, os chefes de Estado sul-americanos são figuras impagáveis, verdadeiros personagens de folclore. Não tivessem os destinos de nações em suas mãos, seriam divertídissimos, esses arremedos socialistas ainda estacionados na década de 1960.
Divertidos e paranoicos. Extremamente paranoicos. Como bem cabe ser a todo ditador que queira consolidar duradoura carreira. O sujeito precisa estar perenemente alerta. Com os dois olhos bem abertos e um terceiro na nuca (que seria, a rigor, um quarto olho; é que do terceiro olho, o do cu, não há registros ou confirmações de funcionalidade visual).
E de tanto procurar conspiração em tudo, esses caras acabam, vez ou outra, acertando alguma. Como já bem disse Raul Seixas (outro paranoico de carteirinha, assumidíssimo), o paranoico foi aquele que sacou. 
E como são, todos esses ditadorezinhos, restos de porra seca do Fidel, carregam consigo aquele ranço da Guerra Fria, CIA, KGB, espionagem, contraespionagem, James Bond etc.
Eles ficam procurando pelo em ovo. Melhor : procurando cabelo na cabeça do Chavéz, do Lula e, em breve, de Cristina Kirchner.
E foi ele, Hugo Chavéz, ontem, que levantou essa lebre : os líderes sul-americanos estariam sendo, de alguma forma, contaminados, ou coisa que o valha, por câncer. Palavras dele, não há como explicar, com base em probabilidades, o que está ocorrendo com os líderes sul-americanos, ou seja, cinco chefes de Estado padecendo do mesmo mal, tumores malignos. 
Além do próprio Chavéz, Lula, Dilma Rousseff, Fernando Lugo (do Paraguai) e, agora, Cristina Kirchner, estariam sendo vítimas de uma estratégia estadunidense para desestabilizar as lideranças sul-americanas. 
Chavéz não sabe bem como isso estaria sendo conduzido. Mas cita, como exemplo de que os norte-americanos seriam capazes de, o episódio na Guatemala durante a década de 1940, em que cidadãos guatemaltecos foram feitos em cobaias num estudo de doenças sexualmente transmíssiveis. Oitenta e três pessoas foram mortas, o caso teve repercussão mundial e, recentemente, o Tio Sam pediu desculpas pelo fato.
Chavéz rende-se à sabedoria, à argúcia e, por que não dizer?, ao vaticínio de Fidel Castro, seu guru espiritual : "Fidel [Castro, ex-líder de Cuba] sempre me disse: 'Chávez tenha cuidado, essa gente desenvolveu tecnologia, atenção ao que te dão para comer e cuidado com uma pequena agulha que te injetem e não se sabe o porquê'", disse o venezuelano. 
No entanto, como todo bom paranoico, é cauteloso em suas acusações : "Em todo caso, repito, eu não estou acusando ninguém, só estou fazendo uso da minha liberdade para refletir e emitir comentários perante fatos muito estranhos e difíceis de explicar", concluiu.
Adorei mais essa teoria da conspiração. Não descarto totalmente tal hipótese, porém a considero muito pouco provável. Não pela incapacidade científica dos EUA de a levarem a cabo, mas pela ingenuidade política caso o fizessem.  É bem sabido, e isso não escapa ao povo de Obama, que a ignorância abaixo da linha do Equador transforma em mártir todo líder morto de forma trágica. Morte por câncer, então, canoniza o sujeito.
Por isso, não acredito que haja uma estratégia estadunidense a minar os lideres sul-americanos. Nesse caso, acho que é só mesmo um puta dum azar probabilístico. Azar nosso, desses tumores terem se manifestado tardiamente. Muito tardiamente.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Macaca Chita, Descanse Em Paz

Quem foi o melhor Tarzan de todos os tempos? 
A Chita, a macaca Chita.
Que nem macaca era, era macaco.
De todas as encarnações do personagem de Edgar Rice Burroughs para o cinema, ninguém foi mais expressivo e melhor ator que o chimpanzé que atendia pelo nome de Chita. Se Tarzan era o homem-macaco, Chita sempre foi o macaco-homem. A Chita era quem dava os toques, quem mexia as cordinhas dos acéfalos Tarzans.
E Chita era macho, sim, senhor. Chita foi o primeiro travesti, a primeira drag queen do cinema. Ou, como preferem as bichonas de hoje, incluso o cartunista Laerte, a primeira crossdresser da Sétima Arte.
Chita atuou em 12 filmes do homem do cipó entre as décadas de 1930 e 1940; pós-aposentadoria, Chita teve vários dublês que prosseguiram nos filmes da sequência da saga.
Morreu, hoje, com 80 anos, por complicações renais. E deixa saudades entre os funcionários do refúgio de animais The Suncoast Primate Sanctuary de Palm Harbor, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, onde vivia desde a década de 1960.
A diretora assistente do refúgio, Debbie Cobb, contou em entrevista que Chita era extrovertida, gostava de pintar com os dedos e de fazer as pessoas rirem. Ela também afirmou que Chita parecia entender dos sentimentos humanos. 
Mas outro funcionário do local , Ron Priest, falou que quando o chimpanzé não gostava de algo, começava a arremessar suas fezes contra as pessoas. E tinha uma potência de arremesso que atingia quase dez metros. Que gracinha de animal!!! 
Prova de seu talento superior aos de seus colegas de filmagem, Chita recebeu, em 2006, aos 74 anos, o prêmio Calabuch por seus méritos artísticos no Festival Internacional de Cinema de Comédia de Peñíscola, na Espanha.
No Brasil, há muito tempo, a macaca já foi agraciada com uma doce homenagem. Desde 1945, a fábrica Olímpica, de Ribeirão Preto (SP), produz as famosas Balas Chita. O produto foi criado pelo espanhol João Rucian Ruiz, projetista das primeiras máquinas a fazerem balas mastigáveis no Brasil. O nome da bala veio da admiração que ele tinha pelos filmes do Tarzan, e o primeiro sabor foi de abacaxi, ananás como vinha grafado no papel. Depois vieram os de menta e uva, jamais superando o primogênito.
É o Ouroboros. É a cobra mordendo o próprio rabo. É a molécula do benzeno. É Kekulé puro.
É uma indústria humana premiando e pranteando um macaco. Macaco que encheu de dinheiro o cu de muito humano.
Daí, minha costumeira pergunta : quem evoluiu de quem? 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Padre Quer Fazer O Teste Da Farinha

O teste da farinha é um exame famosíssimo (e infalível) para atestar a integridade das pregas do cu, e é usado para comprovar a macheza ou a boiolice do sujeito.
Para quem não sabe do que se trata nem nunca ouviu falar, é mais ou menos assim : quando se tem alguma dúvida sobre a orientação sexual de um homem, coloca-se farinha de trigo numa bacia, fazendo com que atinja uma camada de uns 10 cm de altura. Em seguida, senta-se o examinado na farinha, de forma que o mesmo deixe nela a sua impressão anal para investigação. Conta-se em seguida, no molde farináceo, o número de pregas, que nunca deve ser inferior ao de uma tampinha de garrafa de cerveja. Caso contrário, o analisado demonstrará, de forma inequívoca, que já teve rompida sua prega-mestra e, em muitos casos, várias pregas auxiliares, também.
Agora, um padre espanhol, acusado de ser gay e de manter relações com um seminarista, monta sua defesa com base na premissa do teste da farinha.
O padre espanhol Andreas Garcia Torres, 46 anos, teve uma foto sua vazada na net. Na foto, ele e um garotão seminarista aparecem abraçados, ambos sem camisa. O garotão, com cara de quem acabou de dar uma gozadinha eclesiástica, repousa angelicalmente a cabeça no ombro desnudo do padre.
O padre afirma ser vítima de calúnia, garante ter uma amizade normal com o rapaz e que a ocasião da foto foi a única vez em que esteve com Yannick Delgado, 28 anos; o garotão tem o estereótipo de um garoto de programa, cara de puto, safado, todo sarado e bombadão.
A diocese de Getafe encaminhou o padre para tratamento psiquiátrico e exigiu que ele fosse submetido a exame para detecção de HIV. Sentindo-se humilhado pelas perguntas do psiquiatra, Torres propôs tirar a prova dos nove e demonstrar sua heterossexualidade à igreja : meçam meu cu, ele pediu.
De acordo com Torres, uma medição de seu ânus comprovaria que suas pregas estão todas no lugar, atestaria a pureza de seu rabicó. A ausência de dilatação do roscofe seria a prova cabal de que Torres não é gay.
O padre afirmou confiar no diagnóstico da medição do ânus porque, segundo ele, trata-se de uma técnica cuja eficácia já foi provada em terapia de pessoas que deixaram de ser gays.
O rapaz diz que não sabe como a foto foi parar na net, ele a guardava em seu computador, mas sequer a postou em seu facebook. Ele guardava a foto com muito carinho, por considerar o padre como seu "pai adotivo".
Abaixo, a foto do padre e seu discípulo em total comunhão cristã. Realmente, é muita maldade pensar isso do padre, um foto tão pura e cândida...
 Fonte : paulopes.com.br

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Palavra Tem Poder

Por que nos parece que gritar um belo e sonoro palavrão - um puta que o pariu por exemplo - mitiga a dor de uma martelada no polegar? Ou daquela topada com o dedinho do pé no batente da porta, que insiste em se interpor em nosso caminho?
A resposta é simples : é porque a dor realmente é anestesiada sob a ação de um palavrão; não é psicológico (como nada o é, na verdade).
Pesquisadores da Universidade Keele, do Reino Unido, sob o comando de Richard Stevens, constataram que o nosso organismo libera endorfinas analgésicas ao proferirmos um palavrão. E quanto mais cabeludo o verbo, maior o efeito analgésico proporcionado.
Segundo eles, o xingamento provoca uma resposta emocional que coloca nosso organismo em alerta, como se submetido ao estresse de ter que correr ou lutar. Daí, as endorfinas.
Os voluntários do estudo mergulharam suas mãos em água gelada para testar sua resistência à dor causada pelo frio. Inicialmente, eles foram orientados a repetir uma palavra comum enquanto mantinham suas mãos na água. Quando a coisa começava a apertar, eles podiam gritar um palavrão à sua escolha. O resultado é que conseguiram manter suas mãos na água um pouco além do seu limite.
Mas há um porém. Como todo remédio, o palavrão só deve ser usado quando necessário. É como tomar antibiótico sem precisar : selecionamos as bactérias resistentes e na real necessidade do fármaco, ele não mais pode nos valer.
Os cientistas constataram que o uso indiscriminado do palavrão também torna nosso corpo mais "resistente" às suas ações terapêuticas. Entre os voluntários do estudo,  aqueles que não praticam o xingamento em seu dia-a-dia conseguiram, na média, manter as mãos na água gelada durante 45 segundos a mais que seu limite; os bocas-sujas habituais só suportaram 10 segundos adicionais.
O efeito analgésico do palavrão é quase cinco vezes maior nos bocas-santas que nos bocas-sujas. Ou seja, eu tô fudido. Só a morfina pode me salvar, caralho.
Além do efeito analgésico, e aí é observação minha, um bom palavrão também nos confere maiores força física e habilidades do que normalmente temos. Sei disso porque sou fraco e inábil para a maioria dos trabalhos manuais. Para realizá-los, quando não existe a menor chance de fugir deles, há tempos que uso o que eu chamo de "O Mantra do Cu".
É verdade. Tem lá aquele móvel pesadíssimo, quase um imóvel, um sofá, um armário, uma geladeira etc, que alguém resolve mudar de lugar e seleciona você para fazê-lo. Nessas horas, você tem que mostrar que é homem, que serve pra alguma coisa, e lá vai você. A gente empurra e nada, puxa e nada. Começamos a suar, a bufar, a peidar, e nada. Aí, reúna suas derradeiras forças e grite o mantra : cu, cu, cu. O móvel se move. Eu garanto. Mágica e milagrosamente, ele se move.
O Mantra do Cu serve também para aquelas situações em que você tenha que desempenhar uma tarefa de habilidades manuais, furar alguma parede, serrar alguma madeira, parafusar alguma peça, esses serviços de bricolagem em geral. E que eu detesto.
Ao entoarmos o "cu, cu, cu", tudo se ajusta. O parafuso corre melhor na bucha,  a tinta desliza e cobre com perfeição aquela parede que você tenta pintar há horas, a furadeira chega a achar petróleo na parede de sua sala.
Mesmo sem comprovação científica, eu recomendo : experimentem o poder do Mantra do Cu. E um cu, também.
Fonte : R7 Notícias

Renas do Papai Noel (VIII)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Analfabetos Diplomados

"Nove em cada dez alunos da oitava série de escolas públicas não sabem fazer contas com centavos". Essa foi uma das constatações de um estudo feito para a UOL Educação tendo por base os resultados da Prova Brasil de 2009 - e acreditem, de lá para cá, a coisa piorou ainda mais.
A Prova Brasil trabalha com quatro conceitos classificatórios : abaixo do básico, básico, adequado e avançado. 89,4% dos alunos do último ano do ensino fundamental estão agrupados nos "abaixo do básico" e "básico".
E por que a falsa surpresa e a, mais falsa ainda, indignação? E por que seria diferente?
Nem vou falar da famigerada Progressão Continuada, não por enquanto.
Direi de uma nova atribuição ganha pelos professores da rede pública de uns anos para cá. O professor foi alçado à função de educador. Do dia para noite, chegaram-nos com essa novidade. Mais que professores, os senhores são educadores doravante. 
Atribuição que não pedimos, mas que, a bem da verdade, também não nos foi imposta. Ninguém, e aqui faço uma mea culpa pela classe, reagiu contrariamente a ela. Muito pelo contrário, a maioria sentiu-se valorizada com a nova denominação, sentiu-se socialmente mais útil, a maioria abraçou efusivamente essa nova empulhação do governo, recebeu a novidade de braços - e, principalmente, de pernas - abertos.
Há quarenta anos, quando eu esquentava os bancos escolares, a maioria de nós já vinha educada de seus lares, que vestir e prover sustento não são suas únicas funções; não eram, pelo menos. Sabíamos nos comportar em ambientes outros, o mundo não era uma extensão de nossa casa (muito menos a escola como querem os filhos das putas dos peidagogos), havia um comportamento para cada ambiente. Até nas casas de nossos avós, éramos mais respeitosos. Que dirá, então, na escola.
Chegávamos à escola já tornados em gente pelos nossos pais. Cabia a cada professor apenas transmitir seus conteúdos específicos. E cobrá-los. Cobrá-los em provas e sabatinas, que isso de avaliações diversificadas é conversa para peidagogo se masturbar. Simples e fácil, sem teorias peidagógicas libertinas. Simples, fácil e, sobretudo, funcional. Podem não acreditar, mas saíamos do primeiro ano do, na época, grupo escolar plenamente alfabetizados, e sabendo todas as tabuadas do 2 ao 10 (a do 9 era foda).
Hoje, o aluno chega um verdadeiro bicho do mato na escola. Achando que a sala de aula é uma continuação de sua casa. Para ele, passar de sua casa para a escola é a mesma coisa que passar de seu quarto para cozinha, ou para o banheiro.
Chegam sem a mínima noção do ambiente em que estão, sem nenhum limite, até sem hábitos de higiene pessoal. Num Estado próximo ao ideal, ao justo, esses pais seriam chamados, levariam uma camaçada de pau, e submetidos a cursos de como educar seus filhos. No nosso, é mais fácil eximir os pais de qualquer responsabilidade e jogar nas costas do professor, ops,  do educador.
Resumindo, o cara não é mais professor de Química, Física ou Geografia. Primeiro, ele tem que domar a turba, civilizar a horda. Depois, se sobrar um tempinho, ele dá lá um pouco de seu conteúdo, e sem grandes rigores na cobrança, por favor. Priorizar o conteúdo já é um ato herético há muito tempo nas escolas públicas.
Só nisso, no adestramento do aluno, o ex-professor já gasta tempo precioso de sua disciplina, não há como cumprir o mínimo. Para arrematar (já estavam sentindo falta dela, né?), entra a Progressão Continuada, que, na prática, torna legalmente criminosa a retenção do aluno até a sétima série do ensino fundamental, quando o sujeito já contabiliza seus 13, 14 anos. Ou seja, ele nunca precisou estudar, não adquiriu o hábito de estudo; e não vai adquirir nunca mais.
Transformar os professores em educadores, com os aplausos dos mesmos, foi uma jogada de gênio do governo. E, desgraçadamente, o governo sempre pode contar com a burrice professoral para o êxito de seus ardis. O governo não é incompetente como muitos ainda querem acreditar. Ele é competentíssimo, sabe exatamente o que quer formar nas escolas. Saber fazer conta para quê? Entregar panfletos, ser vendedor de celular e tv a cabo, caixa de supermercado? O governo sabe exatamente o nicho do mercado de trabalho para o qual ele vai preparar mão de obra.
O uso da calculadora já foi liberado há décadas em sala de aula, o próprio professor fazendo uso dela.
Os resultados da Prova Brasil ainda são muito bons. Aguardem quando esses alunos de hoje, esses analfabetos diplomados, tornarem-se pais. Aguardem para ver os resultados produzidos pelos filhos deles. Guardem suas lágrimas, que hoje elas são justas, mas não imprescíndiveis. Logo, serão.
E parabéns a todos os professores desse Brasil varonil que abraçaram a "causa" de educadores. A merda continuará a ser despejada sobre vossas cabeças. Os governantes continuarão a pôr a opinião pública contra vocês, prosseguirá imputando-lhes a culpa pela falência do ensino. Como sempre fez. No entanto com um diferencial : daqui em diante, ele terá um bom bocado de razão.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Bukowski - O Amor É Um Cão Dos Diabos

Outra cama
outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu
à última
e à outra antes dela…
é tudo tão confortável -
essse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…
após ela sair você se levanta e usa
o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e
dorme mais uma hora.
quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente
quer funcione, quer não.
você dirige até a praia e fica sentado
em seu carro. é meio-dia.
- outra cama, outras orelhas, outros
brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos
               cores, portas, números de telefone.
você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais
sensato.
você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.
---------------------------------------------------------------------
Todas as vitimas...
eu disse então a ela na cama
depois de voar todo o caminho
até ali
eu disse a ela na cama
em seguida,
”não tem como voltar atrás,
você sabe, é danado
de ruim…”
e era
contudo eu fiquei 2 ou
3 dias
e então ela me levou
ao aeroporto
o cachorro no
banco de trás
aquele cachorro que tinha vivido
conosco
naqueles poucos
anos.
eu saí
disse a ela
”não entre”,
o cachorro pulou pra cima
e pra baixo,
ele sabia que eu estava indo embora,
assanhei seu pêlo,
ele lambeu em torno
do meu rosto.
que merda.
inclinei-me para dentro
segurando minha mala,
ela me deu um
beijinho de adeus,
então eu me virei e
caminhei para o
guichê do aeroporto
onde o controlador
destacou a
outra metade do meu bilhete de ida
e volta.
“fumante ou não-
fumante?”, o funcionário
perguntou.
“bebedor”, eu
respondi.
recebi meu bilhete de embarque
e caminhei até
o portão
me sentindo mal
por todos
que eu conhecia
que não conhecia
que ia
conhecer.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Renas Do Papai Noel (VII)

O (Nada) Admirável Mundo Novo

Em o Admirável Mundo Novo, seu autor, Aldous Huxley, retrata uma sociedade altamente tecnológica. E completamente imbecilizada. Em 1984, George Orwell, mostra um Estado britânico absolutista e totalitário que impõe seu domínio pelo terror e repressão. O mundo de Huxley é igualmente absolutista e totalitário, mas nele as pessoas não se apercebem disso, o controle é exercido pelo entretenimento e o prazer. Muito mais sábios, os ditadores de Huxley.
Por mais difícil que seja se libertar de um Estado opressor, sempre existirão pessoas tentando, querendo. E quem quer se livrar de um Estado onde a ordem é diversão e prazer? No mundo de Huxley, as atividades individuais (ficar um tempo sozinho, lendo, falando com seus botões) não são incentivadas, e seus "praticantes" são vistos com desconfiança. 
Há um departamento do governo especializado em criar atividades coletivas de recreação, tudo deve ser feito em bando. Tudo é festa no mundo de Huxley, tudo é oba-oba. Huxley inventou (ou anteviu, como todo bom profeta) o "ficar", tão em moda entre os adolescentes de hoje, e também entre uns adultos anacrônicos e idiotas. Alguém que saísse por duas ou três vezes consecutivas com a mesma pessoa, já era visto com maus olhos.
Há castas no mundo de Huxley (como em todos os mundos), e cada  uma delas é condicionada a pensar que cumpre sua função, ensinada a valorizar seu cotidiano (por pior que ele seja), a não querer nada que não tenha, é adestrada para pensar que é tão importante e imprescindível ser um delta (uma espécie de um favelado analfabeto) quanto um alfa (a casta dominante).
E se tudo falhasse - se alguém, em algum momento dessa agitação toda, dessa proposital falta de tempo imposta às pessoas, ainda arrumasse um tempinho para respirar sozinho, pensar um pouco, e fosse tomado por dúvidas e inquietações -, havia o SOMA. 
O soma era a droga perfeita, o sujeito tomava e todas suas inquietações e angústias se esvaíam. Os governantes bem sabem que é da superação das dificuldades que vem o crescimento do sujeito, é aguentar e digerir a porrada que vai fazer dele um homem. Drogue-o e tire dele a dor. E o amadurecimento. E, em alguns casos, a genialidade. Veja trecho abaixo:
“O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não tem medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice, não tem esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E se acaso alguma coisa andar mal, há o soma”. 
Segundo definição do presidente lá deles, o soma tem "todas as vantagens do Cristianismo e do álcool; nenhum dos seus inconvenientes".  Uma droga que não traz a ressaca nem a culpa cristã. Alguém consegue imaginar maior primor? 
Esse rápido e incompletíssimo (quase leviano) apanhado que fiz do livro, escrito em 1932, lembra a alguém de algum outro "mundo"? De alguma outra época?
Hoje, todas as frustações são proibidas. A tristeza é vista como chatice e mau-humor; o senso crítico, como rabugice. Ficar triste e puto da vida não são doenças, ainda mais num mundo como o atual. Antes pelo contrário, são sinais de plena saúde mental. O adolescente fica triste, a mãe não quer nem conversa, dá-lhe psicólogo, psiquiatra e tarja preta. Aí, a mãe também se frusta por não dar conta do filho; tarja preta pra ela também.
Todo crescimento é acompanhado de mudanças, e mudanças nos deixam inquietos e apreensivos, é normal. É normal que soframos com essas inquietações e aprendamos a contorná-las. É o que antigamente costumávamos chamar de amadurecimento. 
Hoje, o corpo continua a crescer e a mente é poupada das angústias que isso traz; é "poupada" também do aprendizado. Resultado : gerações cada vez mais frouxas, incapazes de digerir qualquer porrada ou contratempo (o que, na minha época, chamávamos de o grandão e bobão). Ideais para qualquer governante deitar e rolar.
Tudo isso porque li, agora, que uma nova droga está prestes a ser lançada no mercado, no mercado legal, o mercado médico e farmacêutico : o hormônio oxitocina. Conhecida como o "hormônio do amor", a oxitocina é um neurotransmissor que dá sensação de prazer a certas áreas cerebrais. Ela está relacionada ao prazer feminino e também é liberada em grandes quantidades na hora do parto e da amamentação.
Segundo estudo da Universidade de Concordia University, no Canadá, a inalação, via spray, desse hormônio pode ajudar uma pessoa tímida a se sentir mais extrovertida. Ele torna as pessoas mais abertas, sociáveis e melhora a autopercepção quando se está na companhia de outras pessoas, altera a forma como os sinais sociais no entorno externo são processados, codificados e interpretados. 
Ou seja, dá uma dopada no sujeito e faz com que ele veja o mundo e a si mesmo de outra forma, fica mais confiante, mais certo de suas qualidades (muitas vezes, inexistentes); o cara é um zé mané, a oxitocina faz ele pensar que é o Brad Pitt e "cura" sua timidez e outras "fobias sociais". E o que é melhor (olha o soma aí), até agora não foram constatados efeitos colaterais nos grupos submetidos ao estudo.
Os resultados estão sendo comemorados como um avanço da medicina psiquiátrica.
Sim, um avanço. Mais um avanço rumo à extinção da têmpera humana que nos trouxe das cavernas até aqui. Mais um avanço rumo ao fim da macheza e da paudurescência. Um avanço rumo à extinção.
Fonte : Zero Hora

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Johnnie Walker X João Andante

O imperialismo britânico continua!
A holding (sei lá que porra é isso) inglesa Diageo, detentora da marca do uísque Johnnie Wlaker no Brasil, abriu processo administrativo no INPI contra a cachaça mineira João Andante (na minha opinião, João Andarilho ficaria melhor).
A marca Johnnie Walker está avaliada em US$ 3,5 bilhões. A cachaça João Andante tinha uma produção mensal de meras duzentas garrafas, elevada para mil com a publicidade gerada pelo processo inglês.
A holding inglesa alega que, apesar de existirem algumas diferenças entre as figuras nos rótulos, João Andante é a tradução literal de Johhnie Walker e evidencia a intenção de criar uma "versão local" da marca. Os mineiros se defendem dizendo que o Walker do uísque nada tem a ver com andar ou caminhar, é o sobrenome do lorde. E a mineirada tá certa. 
O personagem Fantasma - o espírito que anda, aquele do anel de caveira, símbolo do imperialismo britânico na Índia - é um nobre inglês que ficou preso numa ilha após um ataque de piratas que provocou o naufrágio de seu barco, e ali estabeleceu sua base de combate ao crime marítimo, sua bat-caverna. E claro, fez-se soberano sobre uma tribo local de pigmeus. Mr. Walker era o nome que ele assumia quando tinha que ir ao continente.
O uísque traz aquela figura planetariamente conhecida, um empertigado e pedante lorde inglês, de chapéu coco, bengala, fraque, botas equestres, e aquele andar com as costas curvadas para frente e a bunda empinada; de onde adveio o termo lordose aplicado à similar patologia de desvio de coluna.
O João Andante parece o Dom Quixote. É a figura de um velho matuto, chapéu de palha, costas meio encurvadas, capinzinho no canto da boca, botas gastas e a clássica trouxinha carregada ao ombro na ponta de um cajado. Além disso, eles andam em diferentes direções. Enquanto o inglês está indo, o mineirim, mais esperto, já está voltando.
É muita filha-da-putice dos ingleses. Se bem que isso de "traduzir" marcas pode ser muito perigoso, e me lembra uma história contada por Juca Chaves, na década de 1970, quando de sua estada em Portugal para uma temporada de apresentações. Conta-nos, o menestrel, que os portugueses tinham a mania de a tudo traduzir, inclusive os patrocinadores da fórmula 1. Goodyear era ano bom; Firestone, fogo na pedra; e Pall Mall, o caralho maldito.
E é isso.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pastor Faz Abaixo-Assinado Contra O Gordo

Um pastorzinho de merda, desses que andam por aí, um tal Renê de Araújo Terra Nova, do Ministério Internacional da Renovação, criou um abaixo-assinado na internet em que exige a retratação de Jô Soares, Moraes Moreira e Tom Zé por uma piada feita com a bíblia. A "heresia" teria acontecido no programa do gordo de 17 de novembro de 2011.
Um dos entrevistados - provavelmente Moraes Moreira - revelou que os integrantes do grupo Os Novos Baianos faziam cigarros de maconha com páginas da bíblia, enrolavam o fininho nas folhas santas. Diante do quê, Jô Soares teria comentado que a bíblia realmente tem mil e uma utilidades.
Foi o que bastou para revoltar o pastorzinho de merda, e aproveito para pedir desculpas pela redundância, todo pastorzinho é um merda.
E qual o problema? Eu mesmo, em 1992 ou 1993, hospedado certa vez num desses hoteizinhos baratos, fui acometido por uma daquelas caganeiras das boas durante a madrugada, e descobri-me num banheiro sem papel higiênico. Não havia o que fazer. Hotel barato não tem telefone no quarto para ligar para a recepção. E ainda que tivesse, eu deixaria um rastro de bosta pelo caminho entre o banheiro e o telefone.
Foram-me providenciais algumas sacras páginas daquelas bíblias de Gideão, aquelas de capa azul, que todo pardieiro tem em seu criado-mudo. E que eu havia levado comigo para dar uma lidinha durante o cagote, sem palavras cruzadas que eu estava. Nem lembro qual foi o santo apóstolo que me valeu. Ora, a biblia não socorre os aflitos? Poucas pessoas são mais aflitas que um sujeito todo embosteado.
O pastor embasa seu pedido de retratação alegando que "A Bíblia é o Livro Sagrado da Nação Brasileira", e que assinar o abaixo-assinado é "um ato que deve ser compartilhado por todos os que temem a Deus e zelam pela Sua Palavra". Livro Sagrado de quem, pastor cara-pálida? Meu é que não. 
Ofensa seria se alguém que considera a bíblia como sagrada, fumasse maconha em suas páginas, ou limpasse o cu como eu fiz. Para quem não a considera, ela é só mais um livro. Escrito e impresso por homens. Impresso aos milhões por dia, saídos de uma gráfica como qualquer outro produto consumido pelas pessoas, em nada diferente de copos descartáveis para café, por exemplo.
Quer dizer que não pode fazer piada com a bíblia? Que ofende? Então vejamos :
 - A igreja católica, na Idade Média, vendia indulgências, qualquer crime ou pecado era passível de perdão, desde que adequadamente pago aos cofres do clero. E cada delito tinha um preço, havia uma tabela de indulgências. Crimes de furto, roubo ou incêndio, a exemplos, custavam 133 libras e 7 soldos ao sujeito; se deflorasse uma virgem, um sacerdote ficava 2 libras e 8 soldos mais pobre, e a lista de canalhices se estendia, e era longa.
- A igreja católica, ainda, foi pródiga na venda das relíquias sagradas. Os idiotas dos fiéis compravam os pregos com os quais Cristo foi crucificado, o ovo da pomba do espírito santo, o pó que constituiu Adão, lascas da Arca de Noé, e até o prepúcio do menino Jesus. Não sei como nenhum padre da época pensou em vender o hímen de Maria, leiloar o cabacinho da virgem.
- Hoje, as evangélicas superam as católicas em muito com sua criatividade. Pastores andam por entre seus fiéis com aquelas máquinas de débito de cartões eletrônicos; alguns permitem que o fiel programe seu dízimo em débito automático; há os drives-thru da oração, guaritas que ficam ao lado dos templos e pelas quais os fiéis sem tempo para entrar na igreja passam com seus carros e recebem uma benção expressa do pastor; há as poderosas meias consagradas do Pastor Valdomiro Santiago (só R$ 153,00 o par); e o meu preferido, o spray Mata-Capeta, criação insuperável do pastor Silas Malafaia, o sujeito dá uma borrifadinha com o spray e tudo quanto é capeta sai do corpo dele (R$ 100,00 a lata, que garante ter conteúdo para expulsar o capeta de até vinte pessoas).
Duvidam? Fucem pela internet e confirmem.
Isso é fazer piada com a bíblia e o sagrado. Esses caras são os verdadeiros humoristas. Perto deles, Jô Soares é café pequeno. Eles fazem mais do que simplesmente humor com a bíblia. Eles escarnecem da cara do estúpido que frequenta suas igrejas. Fazem muito pior.
Esse pastorzinho, um ilustre merda desconhecido, está querendo se promover (e à sua igreja) às custas de pessoas verdadeiramente talentosas. Tom Zé, um gênio.

Renas Do Papai Noel (VI)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Jesus Cristo, O Filho Do Boto

A lenda do boto amazônico é uma das mais conhecidas de nosso  rico e (injustamente) desprezado folclore. Resumindo, conta-se que o boto, em noites de lua cheia e quando está a acontecer festas nas comunidades ribeirinhas, emerge das águas na forma de um belo homem, muito bem trajado com seu impecável terno branco e sempre usando um chapéu, que lhe cobriria o orifício que os botos têm na cabeça, única parte dele que não sofre total transmutação.
O safado, muito bom de papo e dança, acaba por seduzir a mais bela donzela da aldeia, leva-a para as águas rasas de um banco de areia, passa-lhe a vara e a abandona grávida. Na Amazônia, a paternidade de filho de pai desconhecido é atribuída ao boto. Está cheio de filho de boto por lá, e as criancinhas carregam essa pecha pelo resto da vida, fulano é filho do boto.
Do jeito que as coisas andam chatas no mundo de hoje, devem até existir ONGs de defesa aos filhos do boto, contra preconceito, discriminação e bullying. Os filhos do boto sofrem uma zombaria das mais injustas. Afinal de contas, um deles é idolatrado e tem seu nascimento festejado em todo o mundo ocidental : Jesus Cristo.
Jesus Cristo também é filho do boto.
Reza o mito que Maria fora entregue com 12 anos de idade a José, um viúvo e  já um ancião para os padrões da época. José não só vivera A.C. como também A.V. (antes do viagra), portanto é bem plausível que Maria nunca tenha sido tocada por ele como mulher. Outros, mais românticos, dizem que, dada a diferença de idade, José tinha por ela um amor filial, que a teria tomado em sua guarda como quem adota um filho.
Mas o tempo passou. Maria, já com 16 anos, idade em que a vontade é maior que qualquer caráter, ouviu um sussuro à sua janela, José estava fora, um trabalho em outra cidade. Era uma voz que lhe elogiava a beleza e doçura. Voz que se revelou um anjo, quando perguntado de sua identidade. Um anjo que trazia um segredo do Senhor para Maria, e para sabê-lo, bastaria ela abrir-lhe a porta. Maria abriu e o anjo entrou com tudo. Nessa noite, Jesus foi concebido.
José retorna à casa e encontra Maria embuchada, que se saiu belamente bem com a história do Anjo da Anunciação. Anjo lazarento que não deixou uma única penugem de sua asa para Maria corroborar seu relato. Muita confiança na boa-fé do corno José.
O Anjo da Anunciação é o Boto de Deus! É o Carlos Alberto Riccelli do Senhor!
Muitas vezes,  já imaginei a surpresa e o dilema de José.  Acreditar, ou não, nesse 171 da Maria sobre o Anjo da Anunciação? Tornar-se, ou não, o santo padroeiro dos cornos? Mas nunca tinha imaginado, admito, a reação de Maria ao saber da indesejada e ilícita gravidez.
Uma Igreja, pasmem, imaginou por mim e afixou cartazes em seus quadros de aviso que estão dando o que falar. Os cartazes pregados na Igreja de São Mateus, na Nova Zelândia, mostram uma Maria segurando um teste de gravidez com um resultado rosa-positivo, uma Maria assustada, perplexa.
A igreja justifica dizendo que a ideia é “evitar o sentimento e a banalidade” e “provocar uma faísca de pensamento e conversa”. "O Natal é real. É sobre uma gravidez real, um mãe de verdade e uma criança. É sobre ansiedade, coragem e esperança verdadeiras", disse o vigário Glynn Cardy, da igreja de Auckland. Ele explica que a gravidez inesperada de Maria teria sido chocante. Afinal, ela era pobre, solteira e jovem. “Ela, certamente, não foi a primeira mulher nessa situação e nem a última”, contextualiza o vigário.
Mas é isso mesmo! Nada é real. Tudo é mito. Tudo é lenda. E todo sincretismo deve ser tolerado e bem-vindo.
Festejemos o Natal e a avelã nossa de cada dia. Festejemos o Papai Noel da Coca-Cola. E Jesus Cristo, o Filho do Boto.
Abaixo, o boto :

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Rascunhos De Um Ateu

Há um blog, o Rascunhos De Um Pagão, cujas páginas visito regularmente e nas quais aprendi fatos curiosos e interessantes da cultura pagã. Simpatizo muito com seu autor, Beto Quintas, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente. Passa-me a impressão de ser um daqueles caras cheios de histórias, com quem eu seria capaz de passar horas bebendo e conversando.
Em um de seus mais recentes posts, porém, cometeu um pequeno deslize, inadvertido com certeza. Ele toma três experiências pessoais de, digamos, quase-morte como ponto de partida e segue daí com suas considerações e pareceres sobre um possível além-vida.
Num dado momento, ele diz que "os ateus tem uma vantagem prática, eles simplesmente aceitam o fato, sem especular com o além". Não é verdade. Nada mais equivocado. Especulamos, sim. Não nos preocupamos, o que é muito diferente.
É um erro achar que o ateu não acredita em nada, que nega a tudo. Acreditamos, possivelmente, na maioria das coisas que a maioria acredita. Só não acreditamos em deus. Apenas rejeitamos o conceito do deus feito em figura, antropomorfizado, ou zooantropomorfizado (egípcios e alguns indianos).
Não negamos - os ateus sérios e pensantes -, de forma alguma, a existência de forças inimaginavelmente superiores a nós e às quais estamos à mercê. Porém são as forças investigadas sobretudo pela Física, nada de sobrenatural. Elas são inúmeras, e seu conjunto é que rege e mantém nosso Universo em funcionamento. Seria burrice negá-las. Somos só ateus, não burros.
Somente rejeitamos a humanização de cada uma dessas forças na figura de um deus (nas culturas politeístas), ou, pior, na figura de um único deus  que as congregue (nas monoteístas). Não obstante, toda mitologia, unicamente como um exercício da imaginação humana, também nos interessa.
Em relação à morte e a um pós-vida, não somos muito diferentes. Também especulamos sobre a possibilidade de outros planos de existência, mas sem nenhum misticismo - a Teoria das Cordas, da Física, prevê, se não me engano, onze dimensões.
O que é a vida? O que faz que um ser seja vivo? Estruturalmente falando, não há nenhuma diferença entre um corpo morto agora e vivo há cinco minutos. A diferença é que a energia que o animava se foi, parou de ser gerada, ou coisa que o valha. Se querem chamar a essa energia de alma, espírito, anima etc, pouco me importa.
O fato é que sabemos, de novo pela Santa Física, que a energia não pode ser criada nem destruída, mas, camaleoa errante, pula de sítio para sítio travestida em suas mais diferentes formas. 
Óbvio que essa energia que nos move não se extingue quando desocupa nosso corpo. Agora, se ela mantém algum tipo de consciência do que um dia "foi", se ela vai para níveis mais superiores, ou inferiores, de energia, se ela vai reencarnar futuramente em outro corpo, já é outra história. São outras histórias.
O ateu também acredita na "eternidade" dessa energia. Também cogitamos sobre seus possíveis destinos. Só não nos preocupamos com o céu e o inferno; se há uma continuidade, ou não, da vida, nos é indiferente. E se nos é indiferente, poderiam perguntar alguns, porque especular sobre? Simples : porque é legal cogitar, pensar. E salutar.
Aos que se interessam pelas mitologias de outras culturas, há bons textos no Rascunhos de um Pagão. E aos cada vez mais raros admiradores do belo sexo (que é o feminino, quero deixar bem claro), há também, do mesmo autor, o blog Paganismo e Tattoo, um deleite para os olhos. Pagãos, cristãos ou ateus.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Renas Do Papai Noel (V)

João Pereira Coutinho - Homofobia Não é Crime

Coluna publicada na Folha de São Paulo, 13/12/2011

"É um erro comum: alguém escreve sobre o julgamento de Oscar Wilde em 1895 e o apresenta como o momento infame em que a sociedade vitoriana resolveu reprimir "o amor que não ousa dizer seu nome".
Admito que essa versão faça as delícias das patrulhas, para quem Wilde virou mártir, ou santo. Mas, ironicamente, a perdição de Wilde não começou com a intolerância da sociedade vitoriana.
Começou quando o próprio decidiu limpar o seu nome das acusações "homofóbicas" do marquês de Queensberry, pai do seu amante Lord Alfred "Bosie" Douglas.
Se Wilde tivesse ignorado um mero cartão pessoal do marquês, onde este tratava o escritor por "sodomita", jamais teria ido parar na prisão de Reading Gaol.
Mas Wilde, em gesto inusitado para seu temperamento irônico, não gostou que se dirigissem a ele como homossexual. Partiu para a Justiça, processando o marquês.
Foi no decurso do julgamento que o jogo virou e Wilde, de alegada vítima, passou a réu. Sobretudo quando a defesa do marquês resolveu arrolar como testemunhas alguns rapazes que tinham sido, digamos, íntimos de Wilde.
A Justiça não gostou e condenou o escritor. Não porque ele era homossexual, entenda-se -a "buggery", mais do que um desporto, era até uma forma de iniciação entre "gentlemen" nos colégios de Eton ou na Universidade Oxford. Mas porque agitara as águas de forma demasiado ruidosa numa sociedade que gostava de manter os seus vícios em privado.
Hoje, a condenação de Wilde pode parecer-nos de uma hipocrisia sem limites. Não nego. Mas existe uma outra moral na história: valerá a pena criminalizar a homofobia, como Wilde tentou fazer ignorando os conselhos dos seus amigos próximos, quando se despertam no processo outros abusos inesperados?
Marta Suplicy entende que sim e, em artigo nesta Folha, defende lei para criminalizar o "delito".
Infelizmente, a sra. Suplicy confunde tudo na discussão do seu projeto: homofobia; crime homofóbico e medicalização da homossexualidade. Como diria um contemporâneo de Wilde, Jack, o Estripador, vamos por partes.
Começando pelo fim, ninguém de bom senso defende que a homossexualidade é uma doença mental. Não é preciso consultar a Organização Mundial da Saúde para o efeito. Basta olhar para a história da espécie humana -e, mais ainda, para a diversidade do mundo natural- para concluir que, se a homossexualidade é loucura, então boa parte da criação deveria estar no manicômio.
De igual forma, ninguém de bom senso negará que persistem crimes medonhos contra homossexuais, seja no Brasil ou na Europa, porque os agressores, normalmente homossexuais reprimidos, não gostam de se ver no espelho.
O problema está em saber distinguir o momento em que uma aversão se converte em crime público. Porque a mera aversão não constitui, por si só, um crime.
Por mais que isso ofenda o espírito civilizado de Marta Suplicy, é perfeitamente legítimo que um heterossexual não goste de homossexuais. Como é perfeitamente legítimo o seu inverso.
Vou mais longe: no vasto mundo da estupidez humana, é perfeitamente legítimo não gostar de brancos; de negros; de asiáticos; de portugueses; de brasileiros; de judeus; de cristãos; de muçulmanos; de ateus; de gordos ou de magros. A diferença entre um adulto e uma criança é que o adulto entende que o mundo não tem necessariamente de gostar dele.
O que não é legítimo é transformar uma aversão em instrumento de discriminação ou violência. Não porque isso seja um crime homofóbico. Mas porque isso é simplesmente um crime.
E os crimes não têm sexo, nem cor, nem religião. Se Suplicy olhar para a estátua da Justiça, entenderá que os olhos da figura estão vendados por uma boa razão.
Pretender criminalizar a homofobia porque não se gosta de ideias homofóbicas é querer limpar o lixo que há na cabeça dos seres humanos. Essa ambição é compreensível em regimes autoritários, que faziam da lavagem cerebral um método de uniformização. Não deveria ser levado a sério por um Estado democrático.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Legalização Da Pedofilia

Psicólogos e psiquiatras são duas das grandes pragas da humanidade, duas "profissões" a serem extirpadas juntamente com os pedagogos, sociólogos, assistentes sociais e outros. Mas os psicólogos e psiquiatras são os piores, são eles, sob o manto de uma falsa ciência, que formulam as teorias que os outros (pedagogos etc) irão usar, são eles que fornecem a munição travestida de ciência.
O cara só mexe com louco. Logo, daí a pouco, tudo pra ele passa a ser normal, e ele vai criar um absurdo qualquer para provar a normalidade da aberração. Como possui o título de doutor, o mundo faz reverência para as suas sandices.
Reproduzirei abaixo uma matéria publicada no blog Sociedade Planeta Ateu, traduzida do francês état du monde état d'être, que trata de uma conferência de psicólogos e psiquiatras realizada em Baltimore (USA) em agosto desse ano.
Nessa conferência, os chamados profissionais da saúde mental apresentaram a pedofilia como um comportamento "normativo" e legítimo. Segundo eles, os pedófilos teriam um amor sincero pelas crianças, como o amor que heterossexuais e homossexuais adultos têm entre si.
Esse "argumento" é muito parecido com o usado para tirar o homossexualismo do Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (MDEDM) em 1973. Pouco mais de três décadas depois, o homossexualismo é exaltado como algo lindo e maravilhoso, até uma conquista social. Daqui a 10, 15 anos (as coisas andam mais rápidas hoje em dia), será a pedofilia a ser legalizada. 
Já têm alguns anos que percebi a iminência disso. Já conversamos muito sobre o assunto, eu e mais um colega de trabalho. Só não imaginamos que as incursões para normalizar a pedofilia seriam tão rápidas.
Você que, hoje em dia, aplaude as conquistas homossexuais, leva seus filhos para verem parada gay etc, não vai poder reclamar quando, daqui a alguns anos, um tarado filho da puta comer o cu do seu filho ou filha. Vai ter que ficar quietinho, sabendo que contribuiu em muito para isso. Abaixo o texto:

"Uma conferência realizada em Baltimore, em 17 de Agosto deste ano, pela APA - American Psychological Association, considerou o comportamento pedófilo como algo politicamente correto. Psiquiatras e profissionais de saúde mental, representando instituições como Harvard e Johns Hopkins, buscaram apresentar a pedofilia com uma exposição simpatizante e favorável.
Argumentos:
Os palestrantes falaram para os 50 participantes presentes sobre temas que variavam desde a noção de que pedófilos são “injustamente estigmatizados e demonizados” pela sociedade até a ideia de que “as crianças não são inerentemente incapazes de dar consentimento” para fazer sexo com um adulto.
Na discussão também houve argumentos de que o desejo de um adulto de ter sexo com crianças é “normativo” e que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (MDEDM) ignora o fato de que os pedófilos “têm sentimentos de amor e romance por crianças” do mesmo jeito que adultos heterossexuais e homossexuais têm sentimentos românticos uns pelos outros.
Ué? Não foram os mesmo argumentos usado para desclassificar o homossexualismo das MDEDM em 1973? É, irmãos... como o grande e imortal irmão ateu, Friedrich Engels, sugeria numa carta (de 22 de Juhnho de 1869) enviada ao camarada, igualmente ateu, grande e imortal, Karl Marx, parece que há mesmo alguma associação entre "uranianismo" (homossexualismo) e pederastia. Não estranhe se daqui a pouco a pedofilia virar algo legalizado e estimulado como é hoje o homossexualismo.
Eles sabem que para possuir o futuro, precisam possuir a mente das crianças. Daí, grupos como B4U-ACT, a Gay, Lesbian and Straight Education Network, a Planned Parenthood e organizações semelhantes, utilizam as instituições acadêmicas, desde as pré-escolas até as faculdades de pós-graduação, para fazer lavagem cerebral e doutrinar. Qualquer semelhança com o Kit Gay daqui do Brasil, não é mera coincidência.
Depois de considerar a pedofilia algo "natural", dizer que "é de nascença", que "está no gene", a pessoa não tem culpa porque é uma "predestinação" e blá, blá, blá, lutarão por impedir as pesquisas científicas que apontam tal comportamento como doença. Tal qual fizeram com o homossexualismo que como consequência da desclassificação do MDEDM, o debate sobre o homossexualismo e os muitos danos documentados associados ao comportamento homossexual foi censurado. Em suma, estão querendo dizer a mesma coisa que disseram com relação ao homossexualismo: “pedofilia é uma orientação sexual”.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pondo A Capa De Molho

Às vezes, é de bom tom
- e augúrio -
Pôr a máscara a desinfetar.
Lavar o disfarce,
Pô-lo a secar, quarar e engomá-lo,
Dar-lhe ares de pele ressurrecta.

Nesse interím,
Sentar com uma boa caneca de cerveja na mão
E esperar,
E torcer.
Torcer para suportar o incômodo de minha própria nudez
E a repulsa ao meu rosto totalmente iluminado.

Greve de Cu Pelo PLC 122

A coisa pegou fogo de novo. A bicharada em polvorosa, revoltadíssima, o tobete piscando à velocidade máxima. Os evangélicos inflamados, cheios de suas certezas religiosas. 
A bicharada levantando cartazes pela aprovação do plc 122 (um deles dizia que a cada 36 horas um gay é assassinado. Só gays são assassinados nesse país? Vários não gays são assassinados nesse mesmo período de 36 horas. Não é um problema de preconceito, é de segurança nacional); os evangélicos com adesivos pretos de "Não ao plc 122" grudados na boca à guisa de mordaça. Que é o que o plc 122 (o AI-5 gay), na prática, vai fazer, amordaçar toda uma sociedade predominantemente heterossexual. 
Ninguém tem o direito de agredir ninguém, isso é ponto pacífico. Mas tem o direito de discordar, de divergir. E é isso que a bicharada está tentando proibir. Eles que se dizem pela aceitação da diversidade sexual, estão querendo proibir a do pensamento.
O plc 122, se aprovado, tomara que não, não será um escudo para os viadinhos indefesos, será uma metralhadora nas mãos deles . E bicha como metralhadora na mão, já viu, né? Fica louquíssima. O mesmo já aconteceu com o Estatuto da Criança e do Adolescente : hoje, eles mandam nas escolas e em suas casas. Estatutos especiais são perigosíssimos.
Usando os ânimos exaltados como pretexto, Marta Suplicy pediu um adiamento da votação, e a data foi transferida. Ela pediu o adiamento porque percebeu a fragorosa derrota que o plc 122 sofreria caso fosse votado ontem. Marta bem que tentou enganar os evangélicos com aquela conversa pra boi dormir de permitir pregação anti-gay nos templos e igrejas. Felizmente, eles não se deixaram enganar.
Os gays terão que tomar atitudes mais drásticas e radicais se quiserem fazer passar o plc 122. Sugiro que eles sigam o exemplo dos presos políticos, ativistas ambientais, e outros idiotas, que se utilizam da greve de fome como forma de protesto.
A greve gay, porém, deverá abstê-los do que lhes é mais caro. Sugiro que os gays façam uma greve de cu pela aprovação do plc 122. Tranquem o brioco. Só liberem o bufante depois da votação favorável. E deixem o cu lá, piscando e implorando. Deixem o jilozinho ficar desnutrido, quase morrer de inanição.
Afinal, o que mais os gays querem? Se o cara for competente, ele é absorvido prontamente pelo mercado de trabalho (em algumas profissões, é até lhes dada a preferência ), eles já podem se casar legalmente. O que mais? Se é igualdade jurídica o que eles querem, eles já a têm. Querem pôr na cadeia quem os agride? Ora, isso eu também quero, disso, todos deveriam ter  o direito assegurado.
Vai ver que eles querem um reconhecimento público no Diário Oficial da União, receber um diploma de cidadãos especiais, ganhar uma medalha por sentarem na brachola. Querem ser laureados com a comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul porque são hábeis em escorregar no quiabo.
Basicamente, os gays alegam a necessidade de uma proteção especial da lei por se considerarem um grupo em situação de vulnerabilidade. Vulneráveis?
Que me desculpem os mais sensíveis, mas não consigo ver como vulnerável e fragilzinho um cara que aguenta um tarugo de 20 cm no rabo. E sorrindo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Renas Do Papai Noel (III)

Essa perdeu o trenó para o Pólo Norte, tadinha...

Profissão : Bundão

Somos átomos e moléculas. Extremamente complexos, intrincados, evoluídos, e com mania de grandeza. Mas ainda átomos e moléculas.
A capacidade mais notável dos átomos, ao meu ver, é sua habilidade de se combinarem em moléculas cujas forma e estrutura são a mais justa medida à função que irá desempenhar. Cada molécula tem sua especificidade, que é dela e ninguém tasca.
Um dos exemplos mais bonitos disso são os anticorpos, proteínas que combatem os antígenos, agentes estranhos aos organismos : não há anticorpo capaz de combater dois ou mais tipos de antígenos, nem antígeno que possa ser debelado por dois ou mais tipos de anticorpos.
Vivemos num universo fractal, o que vale para o microcosmo se faz conduta obrigatória também para o macrocosmo. Assim como cada molécula têm sua especificidade, cada organismo é único em sua individualidade, compostos de moléculas que são.
Os seres vivos não podem se furtar em obedecer às leis que regem os átomos - nem mesmo o ser humano, o aglomerado de moléculas mais metido a besta que há -, e inúmeros são os exemplos de forma-função. Peixes que se assemelham a algas para serem vítimas mais difíceis e melhores algozes, outros, os abissais, com seus corpos gelatinosos para sobreviver a profundidades cujas pressões esmigalhariam o mais duro dos ossos, insetos que imitam gravetos, flores com pétalas manchadas de forma a parecerem fêmeas de insetos e atrair os machos para que tentem copular com elas, carregando assim o seu pólen, pássaros de mesma espécie e com os bicos diferentes conforme o alimento disponível etc etc.
Isso não acontece com o ser humano, dizem os desatentos, desinformados e seguros de seu "diferencial superior" em relação à natureza que os rodeiam. Idiotas.
Ainda que em menor grau, o fenômeno forma-função se dá entre humanos. Não são apenas nossas habilidades intelectuais a se ajustarem ao nosso ofício, também nossas características físicas. 
O exemplo mais gritante disso é a variante da espécie humana conhecida como Homo Bundus. Tal adaptação ocorre mais comumente em pessoas ligadas à área burocrática e atinge seu ápice evolutivo se for ainda vinculada ao serviço público.
São aqueles espécimes que passam o dia todo sentados e comendo, exigindo um grande esforço de seus glúteos. Em seu socorro, o organismo começa a reforçar o bundão, começa a acolchoá-lo para que melhor suporte o suplício. São aqueles espécimes de bundas elefantinas, visivelmente desproporcionais ao restante de seu corpo - igualmente não pequeno. E quanto mais alta a função ocupada na hierarquia, maior o tempo sentado sem fazer nada e maior o bundão. É uma espécie de calo, acho que podemos considerar o bundão até como uma modalidade de LER, uma lesão por esforço repetitivo.
Desgraçadamente, sempre observei o fato e, para mim, isso já eram favas contadas. Trabalho no serviço público. Dirigentes, supervisores, diretores, coordenadores e que tais, apresentam esse exato e invariável biótipo. A mim, nunca restaram dúvidas sobre essa adaptação lamarckiana.
Ontem, li uma notícia que só veio a confirmar o que eu já sabia. Aliás, como sempre. De uns tempos para cá, a ciência não consegue deixar de não me surpreender.
Uma recente pesquisa da Universidade de Tel Aviv (Israel) "descobriu" que ficar muitas horas sentado faz a bunda crescer. Segundo eles, a explicação é simples : "o sujeito sentado por longo período aumenta em 50% os depósitos de gordura na região glútea. Em prolongado tempo sem atividade física, as células pré-adiposas tendem mais facilmente a se transformar em células de gordura. Elas migrariam pelo corpo, através dos músculos, e ficariam depositadas nos glúteos."
E não adianta aposentar e achar que vai voltar a ter bundinha. Uma vez instaladas, as células adiposas não mais arredam pé dali. É uma herança laborial. Só para constar, o trabalho  foi publicado na revista "American Journal of Physiology - Cell Physiology".
A inexorável forma-função se impõe, sim, aos seres humanos.
Eu sempre soube !!!
É por essas e por outras que todo cuidado é pouco na hora de escolher o urologista que irá perscrutar nossa indefesa próstata.