sábado, 6 de julho de 2019

RECESSO PARLAMENTAR

Há vinte e dois anos que venho me esquivando com sucesso, mas agora se acabaram tanto a minha sorte quanto os meus subterfúgios : vou ter de encarar uma semana na praia.
Não gosto de praia. Nem como paisagem. Nem como fundo de tela de computador. Que dirá, então, como espaço de convívio humano, de interação e de lazer. Não gosto da proximidade dos corpos, da intimidade obrigatória, da promiscuidade forçada, do exibicionismo.
Não gosto de praia. Aliás, nunca entendi o fascínio que o mar exerce sobre o grosso das pessoas, uma imensidão de água, e só. Talvez o fato da vida ter surgido no mar explique um pouco tal atração, talvez a procura inconsciente e atávica pelo velho berço, pelo útero primevo, sei lá. Ou, o mais provável na minha opinião, as pessoas gostam tanto de praia pelo mesmo motivo que gostam tanto de Coca- Cola : publicidade maciça e subliminar. Indiscutível que a praia é item de consumo dos mais desejados.
Prefiro montanhas. Isolamento. Frio. Pessoas vestidas, andando a uma distância civilizada umas das outras. Aquecendo-se cada qual à órbita de seu próprio sol, de sua própria praia com lareira.
Mas a esposa gosta e há tempos que não vai, e o filho não conhece e anseia por.
Então, vamos a la playa! Não digo onde para evitar o assédio dos paparazzi.
Não bastasse, viagem de avião. Com duas ou três escalas no caminho. Me cago de medo de avião. E quanto mais escalas, mais pousos e decolagens, mais possibilidades de extravio de bagagem, mais chances de dar merda, mais eu me cago. Sempre tenho comigo a máxima que garante a "segurança" do avião : é mais pesado que o ar, funciona com motor à explosão e foi inventado por um brasileiro. E querem mesmo que eu fique tranquilo? 
Mas vamos a la playa
Tentarei me divertir. Pelo menos, não atrapalhar a diversão dos outros. Ver quem gostamos se divertindo, não é, per si, uma diversão à parte? Um prazer não egoísta? Só pra variar?
Mas eu não gosto mesmo de praia. Lembro de que, quando eu tinha meus 10, 12 anos, meu pai era sócio do SESC e, por vezes, nas férias de janeiro, íamos a uma colônia de férias em Bertioga. A colônia, além da praia bem em frente, oferecia várias outras atividades, gincanas, salas de jogos, quadras esportivas, uma pequena sala de cinema e até uma biblioteca. Eu pouco via a praia, só sob intimação e coerção paterna/materna. Preferia ficar na biblioteca. Lembro de ter lido Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra e Moby Dick, além da coleção quase completa de Asterix, nessas minhas idas à praia.
Eu ir à praia é a mesma coisa que viado ir à zona. Não temos muito o que fazer por lá.
Ficaremos por lá de sete a catorze do corrente mês. É o recesso do Marreta. Se lá pelos dias quinze, dezesseis, dezessete, eu não der notícias aqui é que o avião caiu.
E não esperem de mim presentes nem lembrancinhas, camisetas com o nome da cidade e aquelas esculturas de aves feitas com conchinhas.
Pãããããããta que o pariu!!!

6 comentários:

  1. Esse título e as lamentações são uma provocação, mesmo que involuntária. Pelas reclamações que faz contra praia, areia, "promiscuidade" e "exibicionismo", o título deveria ser "Recesso pra lamentar". Fui.

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    1. Você pode nem acreditar, mas o trocadilho "pra lamentar" me ocorreu.

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  2. Resumindo: se fudeu, kkkkkkkkk

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  3. Rapaz, nesse frio? Talvez dê sorte e nem veja areia e ondas. Tome umas caipirinhas, do contrário. O mar fica bom.

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  4. Seja bem vindo de volta amigo.....e vamos marcar a cachaçada aqui em casa para o próximo final de semana.....avisa aí se der....ou se deu já....afinal, praia, corpos desnudos e muita cana....vai saber

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