Era certo que um dia você viria.
E você veio.
Ver se de sangue e dor
Meu peito ainda anda cheio.
Veio e – estupor! – nem mesmo fóssil de qualquer dor.
Veio e – quem diria? – nem mesmo resto seco de qualquer sangria.
Não encontrou nem mesmo mais em meu peito
Naquele peito, o ninho morno de estrume que lhe acolhia.
Era certo que chegaria o dia em que você surgiria.
Era certo que chegaria o dia em que você surgiria.
O dia não chegou
E ainda assim você surgiu.
Ver se em cadeados e tuberculose
Meu sorriso se consumiu.
Surgiu e –decepção! – nem sinal de seu grilhão.
Surgiu e – nem creu em sua vista – encontrou os tubérculos floridos em tulipas.
Encontrou meu sorriso, mas ele nem lhe percebeu
Nem sentiu seu cheiro, o meu sorriso
Sorriso que era o seu travesseiro e seu esgoto.
Era certo que um dia você voltaria
Era certo que um dia você voltaria
E, cão faminto, você voltou
Ver se meus ossos ainda estavam onde você os enterrou.
Voltou e – quase caiu das pernas! – estava vazia a sua caverna
Voltou e – quis seus olhos vazados por espetos – havia saído para passear, o meu esqueleto.
Não encontrou meu crânio: sua lanterna,
Meu fêmur: seu amuleto
Nem mesmo minha caixa torácica: seu escudo e alvo principal de sua traição.
Veio para aumentar minha hemorragia,
Veio para aumentar minha hemorragia,
Reforçar minhas amarras, cariar meu sorriso,
Roubar minhas flores
E parasitar o último tutano de meus ossos.
Saiu anêmica, com bolas de ferro nos pés,
Extirpada de seus molares,
Sem cor, seiva, nem perfume:
Totalmente desnutrida.
Muito bom... Gostei muito.
ResponderExcluir