terça-feira, 9 de novembro de 2010

ENEM 2010

O ENEM deu chabu. Mais uma vez. Ano passado, a prova vazou; esse ano, confusão no gabarito.
Incompetência! Pura  incompetência e/ou descaso das partes envolvidas na elaboração das provas.
A Justiça Federal determinou a suspensão do ENEM 2010 e uma juíza cearense deferiu o pedido, ou seja, foi criada uma jurisprudência e a decisão terá efeito para todo o Brasil. A Justiça Federal e a juíza Carla Miranda de Almeida Maia agiram acertadamente, muito acertadamente.
Pessoalmente, não reconheço a importância do ENEM, por mim seria extinto, nunca teria sido criado, mas o fato é que foi dada relevância nacional à prova, passando ela a afetar a vida de todo estudante brasileiro, o que torna um completo e imperdoável absurdo essa sucessão de erros em sua elaboração.
Recebi um e-mail de uma pessoa a quem muito prezo e que ainda tem ilusões esquerdistas e vermelhóides, aquela velha lenga-lenga sobre um mundo de iguais oportunidades para pobres e ricos, onde idealmente nem haja pobres e ricos e blá-blá-blá, blá-blá-blá e blá-blá-blá, mas, paciência, de quem gostamos, tomamos a incoerência como ingenuidade.
O conteúdo do e-mail é um texto atribuído a Paulo Henrique Amorim, em que o jornalista, há muito já vendido aos bispos da Igreja Universal, fala mal do jornal "A Folha de São Paulo", criticando a abordagem feita ao ENEM. Na opinião do autor - e, lógico, na de quem me enviou -, está havendo um barulho excessivo em torno do acontecido, apenas uma ínfima porcentagem dos estudantes foi prejudicada (e se o filho dele estivesse entre esses?), e todo o alarido seria um conluio entre A Folha e o governo Serra para desmoralizar o governo federal, o PT. A culpa, agora, passa a ser de quem divulga a cagada e não do cagão, não de quem a cometeu. Como na Antiguidade era morto o mensageiro caso o teor da mensagem não agradasse ao destinatário.
O texto segue em sua imbecilidade alegando que A Folha e o Serra são contra o ENEM porque ele valoriza e dá acesso para o pobre às Universidades Públicas. Idiotice pura! Fala típica de quem sempre foi elite e se declara pelos pobres, típico vermelhóide de buteco.
Nenhuma prova, por mais rasa que seja, e o ENEM é raso, é capaz do milagre de favorecer o detentor de menor conhecimento, o pobre no caso; nenhuma prova é capaz de barrar o possuidor de mais informações, o rico no caso. Qualquer aluno meia-boca de qualquer escola particular meia-boca tem mais chances no ENEM que um bom aluno de uma escola pública. O ENEM continua valorizando o mais endinheirado, como sempre foi. Só pensa diferente quem não vivencia o meio estudantil em seu dia-a-dia. Ou quem é muito burro.
Sou contra o ENEM, sou contra a nota do ENEM ser adotada como única referência no ingresso a uma Universidade Federal. E minha oposição nada tem a ver com a classe social daqueles a quem o ENEM supostamente colocaria nas Universidades - não nasci rico, longe disso; não sou rico hoje, longe disso, também.
Sou contra o ENEM porque ele dará acesso, isso sim, ao idiota, ao despreparado. O cara resolve, lá na prova do ENEM, uma questão do cálculo de consumo elétrico de sua casa e pronto, tá feita a mágica. É dito ao sujeito que ele sabe Física e que ele pode ir pegar sua vaga numa Federal. Se o destino dele for um curso das chamadas ciências humanas, ainda poderá conseguir acompanhar o currículo com algum esforço, visto que é uma área de pura elucubração, de punheta mental. No entanto, ingresse ele num curso de exatas e estará fadado a abandoná-lo; nas primeiras derivadas, integrais polares, de linha etc etc, o cara pede arrego.
Repito, não é questão de classe social. Meu primeiro ingresso no ensino superior se deu numa Federal (veterinária, curso que não concluí), em 1985. Na época, o despreparado não tinha acesso e ponto final, fosse qual fosse seu estrato social. Conheci pessoas cujo poder aquisitivo lhes deu a chance de fazerem cursinho por dois anos, três anos, e mesmo assim não ingressaram na Pública. O medidor do ingresso era o preparo. E muito justo e lógico que o seja. Todo país que se pretenda desenvolvido precisa de uma alta elite intelectual, que produza conhecimento e tecnologia. É óbvio que a grande maioria não é boa candidata a compor a elite intelectual do país; professar que todos podem ser iguais se tiverem iguais oportunidades é bem coisa de humanista bêbado.
Sou pelo fim do ENEM, sim. Pelo acesso, às Universidades Públicas, que ele dá ao idiota, ao inepto. 
Seja ele rico ou pobre.

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