quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Segura na Mão de Deus, Segura na Mão de Deus...

Nunca fui um apreciador de futebol; logo, nunca fui um apreciador de Dom Diego Maradona, o futebolista. Mas sempre fui fã de carteirinha do Maradona, o mito. Do Maradona, o provocador, o gozador, o sacana, o peladeiro das antigas. Do Maradona, o Mão de Deus.
Maradona era o último remanescente do jogador macho das antigas, daqueles que xingavam o juiz na cara, coçavam o saco e cuspiam no gramado. Sujeito que veio dos campinhos de futebol de várzea e não das afrescalhadas escolinhas de futebol e dos anabolizados centros de treinamento.
Uma das histórias mais espirituosas e hilárias já acontecidas no futebol teve a mão de Maradona (e portanto a de Deus) por detrás. 
Vinte e quatro de junho de 1990. A Argentina bateu o Brasil por 1 a 0. Eliminou o Brasil já nas oitavas de final e se classificou para as quartas de final da Copa de 1990. Num lance do jogo, Ricardo Rocha derruba o argentinho Troglio no gramado. O lateral-esquerdo brasileiro Branco, sedento pelo calor que fazia, aproveitou para pedir água aos argentinos que entraram em campo para socorrer Troglio. Foi quando a genialidade de Maradona entrou em ação. Como todo goleador que se preza, Maradona estava ali só de olho, só na "banheira", esperando sua chance. Ao ouvir o pedido de Branco, reza a lenda que Maradona mandou o massagista Miguel di Lorenzo, o Galíndez, trocar as garrafas em que os argentinos estavam bebendo e dar uma diferente a Branco, uma com água "batizada". Com água que canarinho não bebe, mas se beber assovia o Hino Nacional de trás pra frente e de frente pra trás. A água dada a Branco por ordens de Maradona estava "batizada" com um calmante, um tranquilizante ou coisa que o valha. Daí em diante, Branco jogou o resto da partida grogue, grogue, trá-lá-lá de tudo. Foi a partida mais calma que Branco já jogou. Branco só ficou sabendo da pegadinha do Maradona três meses depois, pelo zagueiro argentino daquele jogo, Ruggieri. Depois, outros jogadores confirmaram a história. O próprio Maradona, décadas depois,  confirmou, às gargalhadas, a tramoia em entrevista a um programa argentino de esportes. Sacanagem do Maradona? Não! Burrice do Branco, porra, de pedir água pros argentinos!!! Sensacional, o Maradona! Um filho da puta das antigas.
Muitos creditam a decadência da carreira de Maradona aos seus problemas com drogas e mulheres. Problemas? Como disse Keith Richard, dos Rolling Stones, "eu nunca tive problemas com as drogas, sempre tive problemas foi com a polícia". É o caso de Maradona, porra! Maradona, feito o magnata norte-americano de quem eu me esqueci o nome, gastou grande parte de sua fortuna com drogas e mulheres; o resto, ele desperdiçou.
E hoje, morreu Maradona, o mito. O futebolista há muito já estava. Morreu de parada cardiorrespiratória, aos 60 muito bem vividos anos. Maradona havia passado por uma delicada cirurgia no início desse mês, para drenar um hematoma, um coágulo cerebral. E acho que foi isso que acabou provocando a morte a curto prazo do gênio da pelota. Dadas as proporções dos cérebros dos jogadores de futebol, o médico, ao tentar drenar o coágulo, acabou drenando foi o cérebro todo. Jogar futebol sem cérebro não só é possível como é praticamente um pré-requisito, mas respirar, manter os movimentos involuntários do músculo diafragma, não.
Morreu Maradona, o Mão de Deus.
Morreu Maradona, o mito. Agora, ele vai virar santo. Queira a Igreja Católica canonizá-lo ou não, logo, logo, São Dieguito estará a operar milagres e prodígios. Aliás, santo é o caralho! Que santo é o baixo clero do Céu. Maradona vai chegar no Céu e dizer que joga melhor que Deus.
Diego Armando Maradona
1960 - 2020

10 comentários:

  1. Azarão, acompanhei futebol até meados dos anos 90; lia a Placar, ouvia as resenhas e jogos ainda no radinho AM/FM porém, nem pra goleiro tive jeito. O jeito era curtir e sofrer com os jogos e resultados. Nessas, sempre via o Don Diego em campo pelo campeonato italiano e nas narrações impagáveis do Silvio Luiz pela bandeirantes e , perdoe-me pela redundância mas o Maradona em campo, era outro nivel mesmo; o cara desequilibrava qualquer jogo, levou um time de 'operários' da bola ao campeonato mundial de 1986; na copa seguinte (1990), despachou o Brasil (que dominava o jogo mas nada de gols...) numa única jogada e, de novo, levou nas costas um time ainda pior que o anterior à final, vencida pela Alemanha com gol de pênalti meio mandrake. No Napoli (ITA) virou idolo popular e líder de um time também limitado e sem glórias a campeonatos nacionais e uma copa uefa em 1989. Jogadas lindas, polêmicas; enfim, um boleiro das antigas. Não concordo com as suas loucuras extra campo, muito menos com as ideologias que defendeu; prefiro lembrar do camisa 10 que tomava meio mundo de porrada mas se reerguia e enfurecia ainda mais os que tinham que marcá-lo. Com um tanto mais de disciplina, Poderia ter jogado até o final dos anos 90 mas as escolhas que fez na vida cobraram o preço. Fico triste porque boleiros raiz como ele estão raros e com isso, só ganha o futebol chato, burocrático, de resultados (combinados?) e fotinhos para instagram.

    Sobre gastar grande parte da fotuna com mulherio, bebidas e desperdiçar o resto: já li algo há tempos que esta máxima é do George Best, jogador inglês do Manchester United, acho que dos anos 1970. É só a versão que conheço.

    Forte abraço, velho! Gostei muito do texto. Futebol era uma das alegrias e reduto dos machos das antigas e até isso estão, descaradamente, nos tirando. Sei que futebol não te interessa mas creio que tem(os) como espremer um texto legal sobre o tema (o fim do futebol raiz e o macho das antigas). Quem sabe?

    Cássio - Recife/ PE.

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    1. Sem dúvidas, meu caro, embora de fato o futebol não me atraia, reconheço e tenho grande respeito pelo talento de Maradona, talento natural, não desses idolozinhos fabricados de hoje em dia. Ontem, ouvi na rádio CBN um comentarista dizendo que Maradona ganhou sozinho a Copa de 86; achei um pouco de exagero na hora, mas agora você também confirma.
      O Maradona foi o Cassius Clay do futebol; ou, se quisermos que o Pelé o seja, Dieguito foi o Mike Tyson, outro talento natural indomável. Aliás, não sei se você gosta de luta de boxe, mas Tyson vai lutar contra Roy Jones Jr.; Tyson tem 54 anos e Roy, 51. A luta será transmitida pelo canal Combate e pela Rede Globo, depois do Supercine, na madrugada do sábado para o domingo.
      Quanto ao texto sobre o fim do futebol raiz e o macho das antigos, gostei do "tem(os)", quem sabe não o escrevemos em parceria?
      Abraço.

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    2. Nao sabia dessa luta. To por fora do mindo do boxe atual. Nas antigas, Via o Hector Macho Camacho nos anos 90 e curtia demais as presepadas dele. Já o Tyson, assisti algumas nos anos 80 e puta merda, mesmo pela tv, o cara dava medo. Não tenho como fundamentar bem mas acredito que muita gente graúda perdeu dinheiro com as lutas dele; o cara moía todo mundo mundo rapidinho. Aquela estória do estupro, pra mim, foi pura armaçao pra tirar o Tyson de circulaçao. Pelo saudosismo, acho que vou conferir essa luta no sabado.

      Cássio - Recife/PE

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    3. O "estupro" foi uma puta duma armação. Na época, o Holyfield estava sendo fabricado para ser o novo campeão dos pesos-pesados; fabricado mesmo, ele era peso cruzador e ganhou peso e músculos em "laboratório", mas claro não ganhou a "pegada" de um peso-pesado natural, não teria chance nenhuma contra Tyson, que estava no auge; Tyson acabaria com ele no primeiro round. Como derrubar um macho das antigas invencível como Tyson era na época? Fácil : armar para ele uma arapuca de buceta. Foi o que fizeram e ele caiu.

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  2. "Eu gastei 50% do meu dinheiro com álcool, mulheres e jogatina, a outra metade eu desperdicei."
    W.C. Fields
    .
    “Gastei muito dinheiro em bebida, mulheres e carros rápidos. O resto eu desperdicei”.
    George Best
    Outras frases de George Best:
    "Se eu tivesse nascido feio, vocês não ouviriam falar de Pelé. Dou-me muito bem com as garotas, gosto de diversão e de aproveitar o dinheiro que ganho. Por isso, não me dedico inteiramente ao futebol(...). Por isso, poderia ser melhor que Pelé, se quisesse"

    "Em 1969, eu abandonei as mulheres e o álcool. Foram os piores 20 minutos da minha vida"

    "Dizem que tentei dormir com sete Misses Mundo. Não é verdade. Foram só quatro. As outras três é que vieram atrás de mim"

    "Eu costumava sonhar que driblava o goleiro, parava a bola em cima da linha, me agachava até ficar de joelhos e aí empurrava a bola para dentro do gol. Na final da Liga dos Campeões de 1968, quase fiz isso, mas não tive coragem. Meu técnico teria um ataque cardíaco"

    "Se você me fizesse escolher entre driblar quatro jogadores e marcar um gol de 30 jardas [27 metros] contra o Liverpool ou ir para cama com a Miss Universo, seria uma escolha difícil. Felizmente, fiz os dois"

    "Odeio táticas, elas me aborrecem. O que me importa são meus dribles. Chego a sonhar com eles".

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  3. Olha, nunca fui fã do sujeito. Esnobe, arrogante e, sobretudo, defensor hipócrita de regimes totalitários. Mas, claro, jogou muito e basta uma breve pesquisa para rever belíssimos ataques do tampinha.
    Sobre seu estilo de vida: viveu como quis e, realmente, isso não é da conta de ninguém. Obviamente, toda conduta humana está sujeita a críticas. Mas ele nunca ligou para isso. Nisso, temos algo em comum: também não ligo.
    Teve um vidão. Morreu sessentão mesmo abusando de sexo (certamente sem proteção), bebidas e drogas. Ganhou muita grana de a gastou bem.
    Morreu e ficará, para sempre, na História.
    Abraços!

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    1. Pois é, eu nem quis tocar no aspecto de comunista lambedor de saco do Fidel que ele era, só mesmo nas suas presepadas. Mas os dois, Maradona e Fidel, devem estar lá agora, no inferno, degustando um bom rum e fumando uns charutões cubanos junto com o capeta. Se bobear o Doutor Sócrates também tá junto.

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    2. O Capiroto não é amigo de ninguém. Devem estar com um maço de charutos double corona no redondo. Ou a garrafa de rum. Ou ambos!

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