A rotina mata todo e qualquer tesão. Até o de dar as minhas lúdicas caminhadas. Cumprir sempre os mesmos trajetos, ver sempre as mesmas paisagens e construções, desanima e acaba por minar a tão difícil de manter disciplina, acaba por dar munição à convidativa preguiça, sobretudo em período de férias.
Por isso, apesar de manter inalterado o destino final de minhas andanças, o tenho alcançado por rotas paralelas, alternativas, e adotando a mesma prática no retorno ao meu ponto de origem.
Numa dessas variações de rota, passei por uma dessas garagens que negociam carros usados. E dei de cara com isso :
Seminovo zero?!?!? Pãããããta que o pariu!!! Propaganda enganosa? Nada disso. Até porque nada é enganoso hoje em dia, o falso é a nova verdade. Isso é puro Orwell! Valha-me São 1984!!!
Isso é uma pérola da novilíngua! Uma gema preciosa do duplipensar! Da aceitação simultânea de dois conceitos mutuamente contraditórios e excludentes. Aliás, duplipensar, não. Que Orwell, como tudo, também já caiu em obsolescência, também precisa passar por um upgrade. O seminovo zero é um triplipensar.
Só o seminovo, per si, é um duplipensar : como algo pode ser meio novo, usado e novo ao mesmo tempo? E usado, novo e zero km, então?
Não faço ideia dos rumos dos rumos que o mundo está a tomar, mas sei que não gosto deles.
Seminovo zero km. Daqui a pouco, vou passar em frente à porta da zona e e ler : "cabacinhos semivirgens zero kct.
Pãããããta que o pariu!!!
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