quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Cerveja-Feira (77)

Morder-se-ão, todos vós, da mais bíblica inveja, ó cervejeiros das antigas, butequeiros raiz deste nosso Brasil dantes muito mais varonil!

Como todos os que acompanham o blog e, agora, também o meu canal no You Toba, estão cansados de saber, eu sou um ferrenho e arraigado devoto, defensor e propagador da Palavra da cerveja boa e barata. Porém, o que eu achei hoje nem é boa e barata : é boa e baratíssima. Baratérrima, como diriam os afrescalhados de plantão.

Hoje ainda é quinta-feira, mas como amanhã, por motivos que não vêm ao caso, não haverá aulas na escola em que leciono, resolvi promover a quinta já a sexta-feira e me permitir a esse agrado, tomar umas a partir dessa bissexta data.

Então, dirigi-me à loja de conveniência em que costumo me abastecer para comprar minha Lokal, a R$ 1,99 a lata de 350 ml. Pois já estava eu a aguardar na fila, quando percebi um burburinho diferente saído das bocas dos velhos aposentados e bebuns que estão sempre por lá. Alguns, eu até conheço de vista, de trocar uma ideia na fila do caixa. 

Havia tido a impressão de escutar um dizer de uma cerveja a R$ 1,00. Cheguei-me a ele sem muita fé nem esperança, confesso. Minha descrença, no entanto, foi recompensada.

O posto estava vendendo a cerveja Crystal de 350 ml por um real a latinha. Estranho, comentei com o velho, eu sempre olho todas as geladeiras em busca de ofertas e nem vi a Crystal aqui hoje. Abaixando o tom de voz, ele me segredou que ela estava sendo vendida na surdina pelo gerente da loja, pois estava com a data de validade expirada há 5 meses e não ficava exposta ali. A gente falava com o gerente, pagava a fatura no caixa e retirava pelos fundos da loja.

Valha-me São Al Capone!

Interessei-me de imediato. 
Porém, senti também um leve estremecimento, um leve titubeio em consumir uma cerveja vencida há cinco meses; medrei-me um pouco, ainda que um ato inconsciente, um reflexo.

Que porra é essa, Azarão? Gritei, internamente, comigo mesmo. Cadê o velho Azarão, macho das antigas? Que porra de medinho é esse, estilo geração Z? Vira homem, caralho!!!

Mais que uma oportunidade financeira sem-par, aquela Crystal vencida há 5 meses era um chamado a um duelo, um tapa dado com uma luva em minha cara. Um desafio para o meu estômago de avestruz e para o meu fígado de gambá.

Lembrei-me do verso da bela letra de nosso Hino Nacional : verás que um filho teu não foge à luta. Também do célebre e imortal ensinamento de Rocky Stallone : "Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em frente".

Saí da fila, recoloquei as latas de Lokal na geladeira de onde as havia tirado e fui ter com o gerente no balcão do café e do pão.
Meio ressabiado, perguntou-me como eu soubera daquilo. Apontei para o velho que me contara. Conhece ele há muito tempo? Vixe - menti -, quase uns 30 anos. O rapaz tranquilizou-se, eu viera bem recomendado. Orientou-me como o velho já me explicara.

Passei no caixa, pedi à moça que cobrasse dois fardos da cerveja "especial" (senha usada para designar o lote vencido), peguei a nota, rumei para os fundos da loja e, lá, mediante a apresentação do pagamento, saí com meus dois fardos de Crystal.


Um achado!!! 
Cerveja das antigas com preço das antigas! Do século passado!
Pãããããããta que o pariu!!!

Estou na terceira latinha, agora. E, por enquanto, tudo bem. Tomando uma, ouvindo uma musiquinha, relendo Guerras Secretas, meus mísseis Bic balísticos em riste, as estroboscópicas luzinhas de Natal já a pirilampear pelas fachadas dos prédios.
Vamos ver como estarei amanhã.

Prosit!!!

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