quinta-feira, 9 de março de 2023

O Louco da Praça

Acredito que todos conheçam a figura universal do louco a pregar em praça pública. Do menor vilarejo à mais monstruosa metrópole, o louco está lá, a discursar nas praças, às árvores, aos pombos e aos bustos em bronze.
A fazer suas profecias apocalípticas, a recitar evangelhos, a prever castigos divinos e a vociferar pragas e maldições sobre a humanidade.
A grossa maioria dos passantes não lhe apercebe mais que a um banco quebrado da praça, que a um canteiro malcuidado, que ao lixo ao chão. Alguns zombam e riem do louco. Outros ainda dedicam um milésimo de segundo de seus tempos para pensarem sobre as causas, sobre os atropelos da vida que puderam tê-lo reduzido àquela situação, condoem-se rapidamente dele.
Mas o louco da praça continua lá, falando a todos e a ninguém.  Inebriado de sua própria voz. E se um dia o louco cair em si? Perceber que ninguém lhe dá ouvidos? Sua voz e suas crenças lhe bastarão?
Neste momento, eu estou em sala de aula. Falando a todos e a ninguém. Lisossomos, mitose, Darwin, níveis tróficos, genes alelos.  Dizem e significam tanto e nada quanto qualquer evangelho.
Neste momento, eu estou em sala de aula. Eu sou o louco da praça. Mais desequilibrado que ele : sei que ninguém me dá ouvidos.

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